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FILOSOFIA 11

O Conhecimento – Análise comparativa de duas teorias


explicativas do conhecimento
O Cogito – Como uma intuição racional

O Cogito ( O Eu pensante) emerge como a primeira


certeza de Descartes. A esta Descartes associa a
existência, pois só é possível conceber-se como
pensando se existir (Cogito ergo sum)
O Racionalismo Cartesiano – Tipos de ideias

Adventícias – Surgem do mundo exterior, causadas por


objetos exteriores à mente, por isso são a posteriori,
resultantes da nossa experiência. (ouvir um ruído, ver
a luz, sentir calor

Factícias – São ideia inventadas pela nossa vontade e


imaginação, a partir da associação entre outras ideias
(sereia, unicórnio, cavalo alado)
O Racionalismo Cartesiano – Tipos de ideias

Inatas – Não são causadas por objetos exteriores à


nossa mente, nem são criadas pela imaginação. Nascem
connosco e são constitutivas da nossa racionalidade.

Correspondem a conceitos matemáticos (ex. Número,


triângulo, círculo).

Correspondem a conceitos metafísicos (ex. substância,


verdade e Deus)
A existência de Deus – O Argumento da
Perfeição - Ontológico

 Deus é concebido como um ser que reúne todas as


perfeições no máximo grau possível.
 Ora, segundo Descartes, a existência é uma perfeição,
pois é melhor existir do que não existir.
 Assim, refletindo sobre o conceito de um ser sumamente
perfeito, chegamos à conclusão de que a própria existência é
uma das suas qualidades.
1. Um ser sumamente perfeito tem todas as perfeições.
2. A existência é uma perfeição.
3. Logo, existe um ser sumamente perfeito – Deus.
A existência de Deus – O argumento da marca

1. Tenho em mim a ideia de um Ser Perfeito

2. Essa ideia é um efeito de uma causa

3. Um ser imperfeito não poderia ser causa da ideia de


um Ser Perfeito.

2. A ideia de Ser Perfeito foi causada por Deus.


A Existência de Deus e a
Validação do critério de verdade

 Dado que Deus é sumamente perfeito e bom, não é um ser


enganador:

 Ele seguramente não nos dotou de capacidades


intelectuais para que nos enganemos

 Assim, desde que o sujeito utilize bem as suas


capacidades, chegará à verdade.
 Cada um de nós pode estar certo, então, de que tudo
aquilo que percebe com toda a clareza e distinção é verdade.
Afasta-se assim todo o ceticismo.
Eterna

Res Divina Perfeita

Pensante

Finita
Tipos de
Substâncias Res Cogitans Imperfeita
em Descartes
Pensante

Extensa

Res extensa Imperfeita

Finita
O conhecimento da Realidade Corpórea
(Mundo Físico)

Res Extensa
A propriedade
essencial da
realidade física
é a extensão. O Característic Característic
as subjetivas as objetivas
facto de estar
no espaço nas
suas diferentes Cor
Comprimento
modalidades Odor
Largura
Textura
Altura
O conhecimento da Realidade Corpórea
(Mundo Físico)

Conhecimento das características Subjetivas

As qualidades secundárias, como as cores, os odores,


os sabores, etc., não são propriedades reais dos objetos,
mas o resultado da interação da nossa mente com os
objetos e por isso, sendo subjetivas não permitem a
formação de ideias claras e distintas.
O conhecimento da Realidade Corpórea
(Mundo Físico)

Conhecimento das características Objetivas

As qualidades primárias como o comprimento, a largura


e a altura são propriedades que pertencem realmente aos
objetos, e por isso, sendo objetivas surgem com clareza
e distinção.
Dada a natureza falível do ser humano… Devemos…

1. Privilegiar o rigor racional da matemática e da geometria

2. Guiarmos a nossa razão pelas regras do método


Descartes e as Regras do Método
REGRAS DO MÉTODO

Evidência Análise Síntese Enumeração /


revisão

Não aceitar Dividir cada Começar pelo Fazer


nada como uma das mais simples e enumerações
verdadeiro se dificuldades em fácil de tão completas e
não se partes, para compreender e revisões tão
apresentar à melhor as subir gerais, que
consciência resolver. gradualmente tivesse a
como claro e para o mais certeza de nada
distinto, sem complexo. omitir.
qualquer
margem para
dúvidas.
TEORIA DO ERRO

No erro intervêm:

ENTENDIMENTO Dá ou não o
VONTADE

consentimento
Formula juízos. aos juízos que o
entendimento
formula.
Erramos quando se verifica uma precipitação da vontade –
quando usamos mal a liberdade e damos o consentimento a
juízos que não são evidentes.
Funções Cognitivas da Mente

“As ideias
claras e
distintas são
conhecidas
por intuição.
O que pode ser
corretamente
derivado
daquilo que
conhecemos
por intuição é
conhecido por
dedução.”

Descartes
Fundacionalismo racionalista de Descartes

Ideias inatas – conhecimento claro e distinto


Principais verdades:
- a existência do pensamento traduzida no cogito;
- a existência de Deus, ser perfeito
- a existência de corpos extensos. (o mundo físico exsite)
O fundamento do conhecimento encontra-se no Cogito,
enquanto crença básica e primeira verdade, e noutras ideias
claras e distintas da razão, obtidas de modo intuitivo e em
que se apoia também a dedução .

Todavia, este fundamento do conhecimento depende


daquele que é o princípio de toda a realidade: Deus.
Objeções a Descartes

1. Objeção contra os cenários céticos extremos

a. Posso estar sob a influência do génio maligno


b. Se não sei se estou sob a influência do génio maligno,
então não sei se tenho duas mãos.
c. Logo, não sei se tenho duas mãos.

Considera-se que as consequências deste cenário cético


são tão improváveis que o melhor será raciocinar de
modo inverso
Objeções a Descartes

1. Objeção contra os cenários céticos extremos

a. Sei que tenho duas mãos.


b. Se estivesse sob a influência de um génio maligno não
saberia que tinha duas mãos.
c. Logo, sei que não estou sob a influência do génio
maligno.

Este argumento é válido e, ao contrário do anterior não


conduz a uma conclusão contraintuitiva.
Objeções a Descartes

2. Objeções ao argumento da Marca

Contrariamente ao que pensa Descartes, há quem defenda


que:
• Causas mais simples podem originar realidades mais
complexas.

• Podemos formar a ideia de um ser perfeito, por oposição


à ideia de imperfeito, sem que isso implique a existência
de um ser perfeito e que tenha sido esse ser a causar a
ideia de perfeito.
Objeções a Descartes
3. Exclusivista – Desvalorização da experiência e das
perceções sensíveis
• Sendo um filósofo racionalista Descartes, não atribui
importância à experiências ou aos dados dos sentidos
para se obter um conhecimento autêntico.
Um homem íntegro não é obrigado a ter visto todos os livros
nem ter aprendido cuidadosamente tudo o que se ensina nas
escolas; e seria mesmo uma espécie de defeito em sua
educação se houvesse empregado tempo em demasia no
exercício das letras. Há muitas outras coisas a fazer durante
sua vida.
Descartes
Objeções a Descartes
3. Exclusivista – Desvalorização da experiência e das
perceções sensíveis
Essa desvalorização pode ser facilmente percebida se nos
recordarmos do seu propósito inicial:
Encontrar os princípios, a base para um conhecimento
sólido

Esse pilar surge no Cogito – Que é uma intuição racional e a priori

Tal como o Cogito não resulta dos dados dos sentidos,


todos os princípios claros e distintos, apenas poderão ser
captados por via racional.
Objeções a Descartes

4. – Dogmatismo

• O Dogmatismo de Descartes evidencia-se pelo facto do autor


sustentar que, não só podemos ter uma conhecimento sobre
o mundo, como também somos capazes de obter
conhecimento sobre realidades metafísicas, como por
exemplo Deus. Muitos autores pensam, a propósito deste
tema, que a ideia de Deus pode ser pensada…

…Mas não pode ser conhecida!

O que torna inútil o facto de querermos encontrar argumentos


racionais que provem a sua existência
Objeções a Descartes – 5 O Círculo Cartesiano
Descartes defende que:
Podemos estar certos de que aquilo que percebemos
clara e distintamente é verdade porque Deus existe. (A
existência de Deus, como garante do conhecimento)

Este raciocínio é circular porque: Podemos estar certos de


que Deus existe porque isso é uma ideia clara e distinta e
as ideias claras e distintas são confiáveis porque Deus
existe.

1. Justifica a proposição de que Deus existe a partir do seu


critério de verdade
2. Justificar o seu critério de verdade a partir da proposição
de que Deus existe
Consequências da Objeção do O Círculo Cartesiano

Aceitando esta objeção, o Cartesianismo fica:

1. Sem conseguir provar a existência de Deus – pois é


preciso que essa ideia seja clara e distinta, contudo,
apenas Deus pode ser fundamento dessa clareza e
distinção…

2. Não consegue provar a verdade daquilo que percebemos


clara e distintamente, que só pode ser fundamentado
com a ideia de Deus…

O Seu fundacionismo fica sem fundamentos…


O Empirismo de David Hume
O Empirismo de David Hume
Os Conteúdos da Mente
São as impressões que causam
as ideias ou, pelo contrário, as
ideias que causam as
impressões? 
Conteúdos da Mente: Impressões e Ideias

Contudo…
O Empirismo de David Hume – ideias e Impressões
Primeiro uma impressão atinge os
nossos sentidos e faz-nos perceber
calor ou frio, sede ou fome, prazer ou
dor de qualquer espécie. Desta
impressão a mente tira uma cópia, a
qual permanece depois de desaparecer
a impressão: é o que
denominamos ideia. Esta ideia de
prazer ou de dor, quando regressa à
alma, produz novas impressões de
desejo e aversão, de esperança e
medo, que podem propriamente
chamar-se impressões de reflexão,
porque derivam dela.
( Tratado da Natureza Humana, p. 36.)
O Empirismo de David Hume – ideias e Impressões

Impressõe Impressõe
s de ideias s de
sensação reflexão
Conteúdos da Mente

Impressões Ideias
Perceções (pensamentos)

maior Grau de força, menor


Impressões de sensações nitidez e
vivacidade São as representações
decorrentes dos sentidos das impressões, ou as
(cores, sons, odores… e os suas imagens
As ideias derivam enfraquecidas
estados de prazer e dor. das impressões, Exemplo: a memória
são cópias delas: da cor de uma flor.
Impressões de reflexão PRINCÍPIO DA
sentimentos, emoções e CÓPIA
paixões como amor e ódio,
orgulho e humildade, ira,
benevolência, esperança,
medo e desejo Não existem ideias
inatas.
Ideias simples e as Ideias complexas

Se as ideias são cópias das


impressões, como explicar as ideias
em relação a objetos que não possuem
uma correspondência real?
Todas as ideias simples
são cópias das nossas
impressões

Da associação de ideias simples,


mediante a imaginação,
formamos ideias complexas

Todas as ideias complexas podem


ser decompostas em ideias
simples
Hume - as ideias complexas
Impressões e Ideias Simples e Complexas

Impressões e Ideias Simples


As impressões e ideias simples são indivisíveis, isto é, não
podem ser decompostas em mais simples e são, por isso, as
unidades cognitivas mais básicas com que a mente trabalha

Impressões e Ideias complexas


As ideias e as impressões complexas, pelo contrário, podem ser
decompostas em impressões e em ideias simples. Assim, a
impressão e a ideia de Lisboa ou de uma maçã são complexas, uma
vez que podem ser decompostas numa miríade de impressões e
de ideias simples, mas a impressão e a ideia de escarlate são
simples porque não podem ser decompostas em outras mais
simples.
O Princípio da Cópia
Como sustenta Hume esta tese?
Hume fornece-nos duas razões:

1- Precedência das impressões


Todas as nossas ideias simples no seu primeiro aparecimento derivam de
impressões simples que lhes correspondem e que elas representam
exatamente. Hume - Tratado da Natureza Humana, p. 32.

Na nossa mente, ocorrem sempre as impressões


simples e só depois as ideias que lhes correspondem
O Princípio da Cópia
2-Sem sensação (impressão) não existirão ideias

Se acontecer, devido a algum defeito orgânico, que uma pessoa seja incapaz
de experimentar alguma espécie de sensação, verificamos sempre que ela é
igualmente incapaz de conceber as ideias correspondentes. Um cego não pode
ter a noção das cores, nem um surdo dos sons. Hume – Investigações sobre o
entendimento humano

Um invisual de nascença, sem que tenha recebido a


impressão de azul, nunca saberá (formará a ideia) de azul
O Princípio da Cópia – Argumento do Cego
O Princípio da Cópia - Consequências

Tese empirista fundamental: Todo o conhecimento acerca do


mundo tem origem na experiência e é limitado àquilo de que
temos experiência.

Então:

Não existem ideias inatas

• A experiência empírica fornece os materiais a partir dos


quais se geram todas as nossas ideias, mesmo as mais
abstratas. (Conforme vimos com a ideia de Deus)
O Princípio da cópia como um princípio de
Significado (critério de sentido)
Tudo aquilo que não possuir uma impressão correspondente,
não será passível de conhecimento. (considerado sem sentido)

Basta que façamos um teste: perguntar que impressão está na


origem da ideia que o termo refere. Se não existir qualquer
impressão, o termo não tem qualquer significado e é, portanto,
ininteligível

Não existe conhecimento sem impressão


prévia!
A ideia de Deus em - Hume
“ (…) ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por mais
compostos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que elas se
resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma
sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à
primeira vista, parecem afastadas desta origem, descobre-se, após
um escrutínio mais minucioso, serem delas derivadas. A ideia de
Deus, enquanto significa um Ser infinitamente inteligente, sábio e
bom, promana da reflexão sobre as operações da nossa própria
mente, e eleva sem limite essas qualidades da bondade e da
sabedoria. Podemos prosseguir esta inquirição até ao ponto que
nos agradar, onde sempre descobriremos que toda a ideia que
examinamos é copiada de uma impressão similar.”
David Hume, Investigação sobre o entendimento humano
A ideia de Deus em - Hume
É impossível provar a existência de Deus, não conseguimos aceder a
uma realidade que está distante daquilo que podemos experienciar

Suspensão do juízo - Ceticismo


As nossas ideias, ou o nosso conhecimento, estão restringidos às
impressões possíveis.
De onde surge então a ideia de Deus?

Através da Imaginação…ampliamos

Bondade Sabedoria Inteligência


Hume e a crítica ao “Ceticismo” Cartesiano

Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou


filosofia, muito recomendado por Descartes e outros como sendo
a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos precipitados.
Este ceticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas
quanto aos nossos princípios e opiniões anteriores, mas também
quanto as nossas próprias faculdades, de cuja veracidade, diz ele,
nos devemos assegurar por meio de uma cadeia argumentativa
deduzida de algum princípio original que seja totalmente
impossível tornar-se enganador ou falacioso. Mas nem existe
qualquer princípio original como esse, […] nem, se existisse,
poderíamos avançar um passo além dele, a não ser pelo uso
daquelas mesmas faculdades das quais se supõe que já
suspeitamos.
D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano,
Hume e a crítica ao “Ceticismo” Cartesiano

A crítica de Hume à dúvida metódica


É inútil querer recorrer à dúvida metódica, para fundarmos o
conhecimento seguro. A utilização da dúvida deixar-nos-á condenados
ao ceticismo
A Clareza e a distinção associadas ao cogito necessitam de ser
validas pela razão…

Contudo, a própria razão também está sob suspeita, (cometemos erros de


raciocínio) assim, esse primeiro princípio não é confiável.

Em síntese apenas poderíamos sair do ceticismo, mediante o uso das nossas


faculdades, contudo, como Descartes as coloca em desconfiança, fica sem
saída.
Ceticismo que Hume propõe
Ceticismo enquanto Exame - Análise
• Ceticismo Moderado

• Análise cuidada de todos os dados de que dispomos, das nossas


ideias de modo a que possamos progredir de forma segura no
nosso conhecimento

E já o sabemos…

Esse progresso no conhecimento terá sempre que estar


assente

Nas nossas impressões


Como é que associamos ideias?
Hume pensa que, embora a
Princípios de Associação

mente, graças à imaginação, seja


Semelhança capaz de associar ideias e
pensamentos muito distintos,
das ideias

como quando pensamos numa


Contiguidade montanha de ouro e assim
produzir ideias que não têm
correspondência na realidade,
Causa e Efeito existem, no entanto, princípios
que regulam a forma como as
nossas ideias se unem entre si. 

Para Hume, formar conhecimentos é associar diferentes ideias,


dessa associação, resultam novas ideias. – Essa associação não é
caótica
Como é que associamos ideias?
Que esses princípios sirvam para conectar ideias
Princípios de Associação

não será, acredito, objeto de muita dúvida. Um


Semelhança retrato conduz naturalmente nossos pensamentos
para o original; a menção de uma divisão numa
das ideias

Contiguidade habitação leva naturalmente a uma indagação


ou observação relativas às demais; e, se
pensarmos num ferimento, dificilmente
Causa e Efeito
conseguiremos evitar uma reflexão sobre a dor
que o acompanha.

Hume, Investigações sobre o entendimento humano

Os princípios de associação de ideias, revelam também um aspeto


importante: Se uma ideia ocorre na nossa mente, uma outra se lhe
associa imediatamente por um destes três processos
Como é que associamos ideias?

Associação de ideias

Semelhança Contiguidade Causa e efeito

Ex: A evocação de uma


Ex: Uma ferida leva-
Ex: O retrato de alguém parte da casa conduz a
nos a antecipar a dor
remete para a pessoa que pensemos noutra
que se segue
divisão
Dois tipos de Conhecimento
Tipos de “O álcool aumenta o tempo de
“ Um casado não é solteiro” Juízos reação dos condutores”

Analíticos Sintéticos

O predicado O predicado é
está contido no acrescentado
sujeito ao sujeito

Explicativos Extensivos
Dois tipos de Conhecimento
Tipos de
Conheciment
o
O facto de as relações de ideias
serem, para Hume, a priori não
significa que sejam inatas como
significava para Descartes. Relações de Questões de
Ideias Facto

As relações de ideias são a


priori, porque uma vez conhecido
(pela experiência, como tudo o Sobre Sobre a
conceitos natureza
resto) o significado dos termos
que entram nelas é possível
determinar, sem recorrer a
qualquer investigação empírica,
o seu valor de verdade. Analítico Sintético
Questões de Facto e relações de Ideias

Exemplos Questões de Relações de


Facto Ideias
Adele é uma cantora francesa X
Fumar faz mal à saúde X
Todas as sogras são mulheres X
Existem milagres X
Deus existe X
Três maças são mais do que duas X

O sol vai nascer amanhã X


As coisas velhas não são novas X
Os planetas têm órbitas elípticas
X
O sábado é o dia favorito dos lisboetas
X
20 é igual a 7 + 7+ 6
X
As estrelas possuem um ciclo de vida
X
Dois tipos de Conhecimento – A bifurcação
de Hume
“Todos os objetos da razão ou investigação humanas podem ser
naturalmente divididos em dois tipos, a saber, as relações de ideias e as
questões de facto”
Hume
Relação de ideias
7-2=5

A negação de uma proposição que exprime uma relação de ideias


implica uma contradição
O Conhecimento de relação de ideias

Conhecimento de Relação de Ideias Sim Não


Traduz uma verdade necessária? X
É demonstrativo de forma a priori? X
A sua validade depende do confronto com a
experiência? X

Refere-se a factos concretos? X


Acrescenta informação sobre o mundo? X
Posso obter esse conhecimento apenas pela
análise de significado ou inspeção de ideias? X
Dois tipos de Conhecimento – A bifurcação
de Hume
“Todos os objetos da razão ou investigação humanas podem ser
naturalmente divididos em dois tipos, a saber, as relações de ideias e as
questões de facto”
Hume
Conhecimento de Questões de Facto
O Calor dilata os corpos

A negação de uma proposição que exprime uma Questão de Facto não


implica uma contradição lógica
O Conhecimento de relação de ideias

Conhecimento de Questões de Facto Sim Não


Traduz uma verdade Contingente? X
É demonstrativo de forma a priori? X
A sua validade depende do confronto com a
experiência? X

Refere-se a factos concretos? X


Acrescenta informação sobre o mundo? X
Posso obter esse conhecimento apenas pela X
análise de significado ou inspeção de ideias?
O conhecimento de relação de ideias
Exemplos
• Três vezes cinco é igual à metade de trinta.
• Nenhum casado é solteiro.

Características
• É um conhecimento a priori, basta a simples análise dos conceitos
presentes numa determinada proposição.

• Possuem uma verdade necessária, isto é, a sua negação implica


contradição

• A sua verdade não depende de nenhum exame empírico ou do


confronto com a realidade
O conhecimento de relação de ideias
Exemplos
• Três vezes cinco é igual à metade de trinta.
• Nenhum casado é solteiro.

Limitações

Não amplia o nosso conhecimento sobre a realidade, pois não nos dá


novas informações sobre o mundo. Sendo de tipo analítico, este
conhecimento, mantém a sua verdade necessária também porque nada
nos diz sobre a realidade, nem dela depende.
O conhecimento de Questões de Facto
Exemplos
• O Sol vai nascer amanhã
• O calor é um efeito do fogo

Características
• É um conhecimento a posteriori, o seu valor de verdade depende do
teste empírico, da sua adequação à realidade.

• A sua verdade é contingente, isto é, a sua negação não implica


contradição, nem viola nenhum princípio lógico: podemos perfeitamente
supor que o sol não nasça amanhã.

• Este conhecimento dá-nos informações sobre o mundo e só pode ser


obtido através da experiência.
O conhecimento de Questões de Facto
É possível um conhecimento a priori sobre o
mundo e a realidade concreta?

Não!

• O conhecimento da relação de ideias, referem-se apenas as


relações de significado entre os conceitos expressos nas
proposições, por ser analítico, nada expressa sobre o mundo!
“O contrário de toda a questão de facto é ainda possível…Por
conseguinte em vão tentaríamos demonstrar a sua falsidade”
Hume
Quais as razões que conduzem Hume a afirmar que em vão tentaremos
demonstrar a falsidade do conhecimento relativo às questões de facto?

• Apenas o conhecimento de relações de ideias é demonstrável a priori,


dado referir-se a verdades necessárias.
• A verdade das questões de facto é meramente contingente e por isso é
impossível de ser demonstrada a priori.

• Como não implica contradição lógica entre os termos, a proposição “O


sol não vai nascer amanhã” apesar de improvável, tem tanta
veracidade como afirmar que “O sol vai nascer amanhã”.

Assim, na impossibilidade se serem demonstradas a priori, todo o


conhecimento das questões de facto tem que ser verificado pela
experiência
O problema da causalidade
Todos os raciocínios referentes a questões de facto parecem fundar-se
na relação de causa e efeito.
Hume
Para Hume, a relação de causa e efeito está na base do conhecimento das
questões de facto

Esta relação permite estabelecermos previsões e inferências, isto é, de


certas causas antecipamos os seus afeitos e desenvolvemos expetativas que,
como é óbvio, ainda não experienciámos…
O problema da causalidade
Como explicar esta relação?

A causalidade como uma conexão necessária

Tradicionalmente a causalidade é pensada como uma relação


necessária entre uma causa e um efeito. Nesta perspetiva, o primeiro
teria um poder em si capaz de produzir o segundo
A causalidade – Por ser uma relação necessária, a causalidade era
perspetivada como sendo:

A priori – Um princípio da razão humana anterior e independente da


experiência

Estabelecia um nexo lógico entre uma causa e um efeito. Ou seja


perante uma causa, seguir-se-ia necessariamente o seu efeito.
Para além da experiência – O problema da
causalidade
De acordo com Hume, todo o conhecimento acerca do mundo tem a
sua origem na experiência.

Problema: Muitas vezes fazemos afirmações sobre


o mundo que não podem ser justificadas através da
experiência…
Para além da experiência
Exemplos:
Previsão: O Sol vai nascer amanhã
Não tenho sustentação para afirmar isto. O amanhã ainda
não foi observado…
Leis da natureza: Todos os Corvos são negros

Não posso observar todos os corvos que existem…

Explicações causais: Esta barra de metal dilatou por


causa do calor
Os nossos sentidos não nos mostram que a barra dilatou por
ação do calor
O Raciocínio das questões de facto
Observo um raio e antecipo um trovão
Raciocínio Indutivo
• Quais os fundamentos do raciocínio indutivo?

Conjunção constante
Observo regularmente uma conjunção constante entre dois
fenómenos A e B. Dá-se A, espero B.

Princípio da Uniformidade da natureza


Acreditamos que os fenómenos da natureza se comportam de
uma forma uniforme e que por isso, o futuro há-se assemelhar-
se ao passado
Se for justificável, pode sê-lo a priori ou a
posteriori.

Não é justificável a priori, pois não é um


conhecimento de relação de ideias e por isso não é
demonstrável.

Também não é justificado a posteriori, pois não


posso fazer nenhuma experiência sobre o futuro

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