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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
2 Desenvolvimento
Seminus, até em pleno inverno, ao fabricarem vasos de vidro,
os operários permanecem junto aos fumegantes fornos; forçoso é que se
prejudique a acuidade da visão ao dirigi-la constantemente para as chamas
ou o vidro em fusão. Os olhos suportam o primeiro ímpeto incandescente,
mas logo depois choram seu infortúnio, ficam lacrimejantes, debilita-se sua
natural constituição que é aquosa, consumida e esgotada pelo excessivo
4
GALAFASSI, Maria Cristina. Medicina do Trabalho: Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional (NR-7). São Paulo: Atlas, 1998. p. 26.
calor. Por isso experimentam uma insaciável sede, que os incita, de
ordinário, a tomar vinho, que o bebem imoderadamente, e com maior prazer
que a água, pois julgam a água mais nociva que o vinho para quem se
esquenta demasiadamente, seja qual for a causa, e recordam casos
frequentes de insolações em indivíduos que morreram subitamente por terem
tomado bebida fria.” 5
Trabalhar se constitui numa parte importante da vida do ser humano, e vai
além do ganha-pão. Tem a ver com a realização pessoal, com sentir-se útil e
encontrar sentido para os dias. O trabalho dignifica o homem, e é consenso de
muitos psicólogos e estudiosos que o trabalho é essencial para todos nós e temos
que tentar fazê-lo da melhor maneira possível, mas para isso temos que ter a saúde
em pleno estado.
A atenção à saúde dos trabalhadores deve se constituir em uma das grandes
preocupações do empregador, seja pela implantação de ações preventivas, de
manutenção e correção das condições ambientais e seus riscos, bem como nos
procedimentos curativos das doenças e agravos instalados.
É preciso analisar a relação entre o ambiente ocupacional e a relação com as
doenças de trabalho. A identificação dos riscos ocupacionais; a pesquisa sobre os
limites de tolerância à toxicidade dos produtos químicos e das matérias primas
utilizadas em linhas de produção; a análise da própria organização e, das questões
ergonômicas permitem retratar de maneira cada vez mais exata o ambiente laboral
e, antever situações de risco e sua respectiva prevenção e controle. Desta forma, a
análise do processo e do ambiente de trabalho tem que estar invariavelmente
presente no dia-a-dia de uma empresa.
[…] depois de haverem trabalhado durante todo o dia e de terem saído das
oficinas, sentem de noite esses caracteres impressos na sua mente, por
muitas horas, até que as imagens de outras coisas os afastem. Além das
doenças dos olhos, outras calamidades sobrevêm[…] vez que é necessária a
permanência durante todo o inverno em locais fechados em porões,
enquanto secam as folhas impressas, e por que passam desses aposentos
aquecidos para o ar frio do exterior[…] máxime, os que trabalham nas
prensas, porque necessitam realizar grandes esforços com os braços e todo
5
RAMAZZINI, Bernardino, 1700, Doenças do Trabalho.
6
RAMAZZINI, Bernardino, 2000, p.234.
o corpo, não sendo raro que saiam da tipografia molhados de suor, ao
encontro de tais doenças.6
As doenças ocupacionais, ou as condições que as causam, devem ser
identificadas na intenção de sua prevenção, contudo, é de relevante importância
citar que doenças relacionadas ao trabalho tornaram-se uma epidemia a partir da
entrada nos processos produtivos do modelo de acumulação flexível, da
reestruturação produtiva e da terceirização. É um sintoma que expressa um dos
sofrimentos advindos da relação do trabalhador com o trabalho e que já pode ser
considerado uma epidemia da saúde pública.
As doenças ocupacionais são aquelas em que foi demonstrada plenamente
sua relação com fatores causais específicos no trabalho, os quais podem ser
identificados, medidos e, eventualmente controlados. Elas podem ser agravadas,
aceleradas ou exacerbadas por exposições no local do trabalho e podem prejudicar
a capacidade de trabalho, desta forma, quanto mais soubermos sobre o assunto,
mais poderemos prevenir sua aparição.
No geral, há de se fazer uma análise ergonômica do ambiente laboral, como
assinala Gomes no que diz respeito a vários aspectos, tais como, posição forçada
de membros; movimentos corporais inadequados; trabalho em pé; sentado,
inclinado, encurvado, em movimento, carregamento de peso; trabalho em turnos;
jornada de trabalho; tarefas fatigantes, entre outros. 7
O saber empírico dos trabalhadores - saber operário – (Alonso, 2007) é
valorizado em algumas passagens, como no ofício dos fabricantes dos fabricantes
de amido, pois sabedor que amido é corrosivo, o autor observa: Merecem louvores
as mulheres que o misturam à goma arábica com o propósito de impedir que corroa
as roupas.8
Com tudo, em 1984, Schilling propôs uma classificação das doenças
relacionadas com o trabalho em três grupos:
1. Doenças que têm o trabalho como causa necessária (acidentes e doenças
profissionais legalmente reconhecidas);
2. Doenças que têm o trabalho como fator contribuinte, mas não necessário;
7
Gomes,2000, p.303-304.
8
RAMAZZINI, Bernardino 2000, p.141
3. Doenças pré-existentes ou distúrbios latentes, que têm o trabalho como
agravante ou provocador.
As doenças relacionadas ao trabalho, excetuando-se as listadas no número 1 da
classificação anterior, podem se desenvolver completamente sem a influência do
trabalho, portanto, não se equivalem às doenças ocupacionais.
Em seu texto original, Schilling reconheceu que as doenças ocupacionais são
apenas as contidas no grupo 1, onde se encontram as doenças para as quais o
trabalho é obrigatoriamente causa necessária.
Enquanto nas doenças profissionais o laborista está dispensado do ônus
probatório, nas doenças do trabalho ou agravamento das mesmas esse ônus
lhe é obrigatório. Isso porque embora exista a presunção de que ingressou em
perfeitas condições de saúde, ou que apresentava determinada doença que
não o impedia de trabalhar, deverá comprovar ter sido o ambiente laborativo
que fez eclodir ou provocou o agravamento da doença ou perturbação
funcional. É do obreiro o dever de comprovar a impossibilidade de se manter
naquela mesma atividade, sob pena de ver a incapacidade aumentada, com
previsibilidade razoável de sobrevir a incapacitação total e permanente. 9
Os casos das doenças ocupacionais vêm aumentando muito, sendo que
destaco três delas como mais incidentes: a perda auditiva induzida por ruído (PAIR);
a lesão por esforço repetitivo (LER) e as doenças da coluna.
“Entende-se como Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR, uma alteração
dos limiares auditivos, do tipo neurossensorial, decorrente da exposição sistemática
a ruído, que tem como características a irreversibilidade e a progressão com o
tempo de exposição.”10
O PAIR é a diminuição progressiva da audição, decorrente da exposição
continuada a níveis elevados de pressão sonora ou ruídos muito altos. O diagnóstico
desta doença pretende a identificação, qualificação e quantificação da perda
auditiva, e por isso é necessário constatar que o trabalhador foi exposto a níveis
elevados de pressão sonora de intensidade maior que 85dc, durante oito horas
diárias, por vários anos.
9
COSTA, Hertz Jacinto, Op. cit., p 82.
10
MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Op. cit., p. 41.
Podem ser consideradas medidas de controle e conservação auditiva, o
reposicionamento do trabalhador em relação à fonte de ruído, ou mudança de
função, a redução da jornada de trabalho e o aumento do número de pausas no
trabalho e/ou duração das mesmas.
“As Lesões por Esforços Repetitivos – LER- são enfermidades que podem
acometer tendões, articulações, músculos, nervos, ligamentos, isolada ou
associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo na maioria das
vezes os membros superiores, região escapular, do pescoço, pelo uso repetido ou
forçado de grupos musculares e postura inadequada.” 11
As afecções agrupadas nas Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) são definidos como
síndromes clínicas, apresentam dor crônica acompanhada ou não por modificações
objetivas, e resultam do trabalho exercido. A expressão LER/DORT é genérica, o
médico ao diagnosticar deve especificar qual é o tipo de lesão.
As LER/DORT foram reconhecidas como doenças do trabalho em 1987
através da Portaria nº 4.062 do Ministério da Previdência Social, ficando em primeiro
lugar das doenças ocupacionais notificadas à esta entidade até hoje. Elas tiveram
um importante incremento nos últimos 15 anos e são consideradas, por vários
autores, como uma epidemia12. No Brasil, essa expansão começou no início dos
anos 80 no setor de processamento de dados mas, atualmente, é possível encontrar
casos em quase todas as atividades. E a perspectiva é de que se assista a um
crescimento maior nos próximos anos, já que o essencial do trabalho produtivo,
apesar das novas tecnologias, é basicamente o lucro da empresa a todo custo.
“As LER/DORT abrangem quadros clínicos do sistema músculo-esquelético
adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho e não
há uma causa única para sua ocorrência. O principal causador é a repetitividade de
movimentos, a manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado, o
esforço físico, a invariabilidade de tarefas, a pressão mecânica sobre determinados
13
Kourinka & Forcier, 1995).
segmentos do corpo (em especial membros superiores), o trabalho muscular
estático, fatores organizacionais do trabalho e fatores psicossociais.” 13
Sabe-se, portanto, que essas lesões estão relacionadas com as condições de
trabalho, porém, alguns trabalhadores as desenvolvem e outros, que realizam as
mesmas tarefas, não. Pode-se pensar que um trabalhador é fisicamente mais forte
que outro e que é preciso, portanto, fortalecer a musculatura para prevenir estas
doenças, mas as vezes ocorre o contrário. Problemas psicológicos podem tornar os
trabalhadores mais propensos à desenvolverem tal síndrome, mas existem inúmeras
lacunas que poderiam ser preenchidas quando se fala neste assunto.
Considerando a complexidade da origem das LER/DORT, ainda é muito difícil
determinar uma forma definitiva de evitar seu aparecimento, todavia, partindo da
ideia que a causa principal e imediata é o esforço repetitivo, se diminuirmos a
quantidade dessas repetições, é certo que os resultados obtidos serão satisfatórios.
Juntamente com a PAIR e as LER/DORT, os males da coluna são um dos
mais sérios problemas dos trabalhadores. Duas situações caracterizam essa
espécie de enfermidade, sendo o acidente tipo e os “estalos” na coluna. O acidente
tipo envolve uma situação que provoca a incapacidade parcial ou total para o
trabalho. É o caso das fraturas decorrentes sempre de traumas, como por exemplo
quedas. Já os “estalos” na coluna são situações mais difíceis de serem
diagnosticadas, normalmente provocam alterações nas vértebras, comprimindo os
nervos, causando dor intensa e, por consequência, a diminuição da capacidade para
o trabalho.
Quanto às doenças da coluna, é dever de perícia médica estabelecer se
existe relação direta entre o tipo de trabalho exercido e a ocorrência da doença. O
exame clínico e físico é indispensável para a verificação de alterações na coluna.
Visando a prevenção das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalho,
surgiu, por recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que veio a se transformar em
determinação legal no Brasil por meio de Decreto-Lei nº 7.036, de 1944,
determinando em seu artigo 82 que empresas com número maior a 100 funcionários
deveriam possui a CIPA.
13
Kourinka & Forcier, 1995).
8
3 Métodos
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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