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O TEXTO ACADÊMICO

FICHAMENTO
RESENHA

1. FICHAMENTO

1.Objetivos
O fichamento é de grande utilidade nas pesquisas. Permite ao pesquisador ganhar
tempo futuro quando precisar escrever sobre determinado assunto. Atualmente, com o
advento da informática, as fichas podem ser feitas em arquivos próprios no computador.

Os objetivos básicos das fichas são os seguintes:


1.Fichas de catalogações bibliográficas, encontradas em bibliotecas:
a) identificar autor;
b) localizar título;
c) localizar assunto.
Convidamos o estudioso que deseje maiores esclarecimentos sobre esse tipo de ficha a
consultar a obra Organização e administração de bibliotecas, de autoria de Heloísa de
Almeida Prado, Editora Livros Técnicos e Científicos.

1. Fichas resultantes de leituras de pesquisador (fichas de leitura):


a) analisar material colhido na pesquisa (ficha analítica ou de comentário);
b) fazer citação (ficha de transcrição);
c) resumir uma obra ou parte dela (ficha de resumo).

2. Tamanho
Embora possamos utilizar folhas de papel A4 dobradas ao meio ou em quatro partes
iguais e recortadas para utilização como fichas, podemos também comprá-Ias, nas
papelarias, com os seguintes tamanhos:

Pequenas Médias Grandes


7,5cm x 12,5cm 10,5com x 15,5cm 12,5cm x 20,5cm

3. Modelos
As fichas requerem cabeçalho, referências bibliográficas, espaço para o texto (corpo
da ficha) e local onde se acha a obra. As duas linhas iniciais são utilizadas para o cabeçalho
com o título genérico, na primeira linha, e específico, na segunda, que também contém duas
pequenas colunas à direita, para anotar o número do subitem (título específico) e das letras
maiúsculas indicativas das demais fichas. As linhas seguintes são destinadas ao texto (corpo
da ficha) e a última linha serve para a indicação do local onde se encontra a obra.
Exemplo:
O número 2
é referente
ao título
Cabeçalho Fichamento (título genérico) específico
Fichamento de leitura (título específico) 2 A
B,C,D,
Referência MEDEIROS, João Bosco. Redação científica:prática de fichamentos, Quando
bibliográfica trocar a
resumo e resenhas. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.114. ficha,
muda a
letra.

Texto

Local onde
está a obra Biblioteca do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB

Nas anotações em mais de uma ficha sobre o mesmo assunto deve constar
sempre o cabeçalho da primeira ficha.
As obras de métodos científicos de pesquisa apresentam exemplos de fichamento que
incluem as fichas encontradas em bibliotecas. Para o aluno universitário, a prática de
fichamento requer o conhecimento da estrutura e finalidades das seguintes fichas:

♦ Ficha analítica (ou de comentário)

Suponhamos que, após lido o texto abaixo, queiramos comentá-Io em ficha


analítica.

O texto de informação nos interessa de perto por duas razões centrais, a


saber:
1. É o gênero de texto que encontramos mais freqüentemente.A informação -
política, técnica, publicitária, científica, cultural, etc. - ocupa um grande
espaço na vida urbana. Somos bombardeados diariamente por
informações, a partir da presença maciça da televisão, mas não só através
dela; também pelos jornais, revistas, outdoors, livros, aulas. Além disso, a
informação, é claro, não se restringe à escrita — em nossos bate-papos
cotidianos somos grandes consumidores e transmissores de informações
sobre praticamente tudo que nos interessa, da vida em outros planetas à
contratação de um novo atacante no nosso time de futebol.
2. Pelo peso de sua presença, o texto de informação é também aquele que
melhor se presta à sistematização normativa da linguagem escrita. O seu uso
abundante pelos meios de comunicação impressos criou uma referência
poderosa que, sem prejuízo de outras, não pode mais ser desprezada pela
gramática normativa, principalmente nas áreas mais negligenciadas do
estudo tradicional: na noção de texto, na percepção da imensa diversidade
da linguagem e mesmo em aspectos estruturais importantes, como o
conceito de parágrafo. Observe que a gramática normativa limita-se à
sentença; mas na vida real não escrevemos "frases"; escrevemos "textos".
(FARACCO;TEZZA, 2003, p. 179-180.)

A ficha analítica do texto acima seria a seguinte:

Análise TEXTO DE INFORMAÇÃO


FARACCO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Oficina de texto.
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 179-180.

As razões principais do nosso interesse pelo texto informativo são


as seguintes:
1. É o texto mais comum na mídia;
2. É o que mostra à gramática normativa a diversidade da
linguagem escrita e seus importantes aspectos estruturais como,
por exemplo, o conceito de parágrafo.
É relevante, nesse texto, o esclarecimento final de que a gramática
normativa trabalha com a sentença, mas na vida prática não
escrevemos "frases" e sim textos.

♦ Ficha de transcrição

As fichas de transcrição são utilizadas na citação de textos do autor da obra lida que
sejam considerados muito importantes. As frases transcritas devem ficar entre aspas. Se já
houver aspas em palavra ou expressão copiada, as mesmas devem ser transformadas em
aspas simples.
As reticências dentro de parênteses indicam expressões suprimidas na frase. Não é
permitida qualquer alteração do texto original citado. Se houver erro de informação,
ortográfico ou qualquer outra incorreção, deve-se colocar, à frente do trecho citado e entre
parênteses, a expressão (sic), que em latim significa "assim".
Não há necessidade de indicar omissão de texto quando a supressão ocorrer antes
ou após a frase iniciada por letra maiúscula e terminada por um ponto final. Assim, não se
deve usar: "(...) Leitura e escrita são práticas cotidianas de todo o bom escritor. (...)" Use:
"Leitura e escrita são práticas cotidianas de todo o bom escritor."
Atualmente também se usam parênteses com reticências para indicar, abaixo do
texto citado, que foi suprimido um ou mais parágrafos, conforme veremos nos exemplos de
fichas de transcrição a seguir.
♦ Ficha de transcrição com corte intermediário de palavra ou
expressões

Transcrição ÍNDICE
CAMPETTI SOBRINHO, Geraldo. Como produzir o livro jurídico:
preparação de originais, normalização técnica e acesso à
informação. Brasília: Projeto Editorial, 2003. p. 70.

"A maioria das obras técnicas (...) ainda não apresenta esse
importante e indispensável elemento facilitador da recuperação
informacional."

♦ Ficha de transcrição com corte de parágrafo intermediário

Transcrição A DELIMITAÇÃO DO TEMA


PACHECO, Agnelo de Carvalho. A dissertação. 19. ed. São
Paulo: Atual, 1988 (Tópicos de linguagem). p. 21-22.

"Muitas vezes você receberá, como proposta de redação, temas


muito amplos que precisam ser delimitados.
(...)
Portanto, o tema Poluição deve ser delimitado.
(...)
• Poluição sonora.
• Poluição nos rios.
• Poluição no ar.
• Causas do aumento da poluição no ar da Grande São Paulo.
• A atuação do governo no combate à poluição.
• Poluição e educação."

♦ Ficha de transcrição sem corte

Transcrição ÍNDICE

SQUARISI, Dad. Dicas da Dad: português com humor. Brasília:


Correio Braziliense, 2001. p. 56.
"A polícia bota o suspeito no xilindró. Vem uma ordem judicial. Manda
soltá-Io. É que o sabido entrou com pedido de habeas corpus.
Expressão jurídica, é antiga como andar pra frente. Quer dizer 'que
tenhas o corpo para apresentá-Io ao tribunal'. (sic) Na prática, tem
duas funções. Uma:pôr em liberdade quem estiver ilegalmente preso.
A outra: garantir a liberdade de quem estiver ameaçado de perdê-la.”
Obs.: habeas corpus significa, simplesmente, "que tenhas teu corpo", por isso, o
(sic) após o texto indica que a autora acrescentou, por conta própria, o restante, que,
embora tenha escrito entre aspas duplas, citamos entre aspas simples por já termos
utilizado as aspas duplas na transcrição sem corte do seu texto.

♦ Ficha de resumo

Resumo não é paráfrase (reescrita de um texto, com nossas próprias palavras,


mantendo-se fidelidade às idéias do autor do texto parafraseado), mas utiliza os mesmos
recursos da paráfrase acrescidos da síntese das idéias principais do texto resumido.
Sugerimos ao caro estudante voltar ao capítulo que trata da elaboração da síntese, antes
de proceder ao fichamento do resumo de um texto.

Exemplo de texto para resumo e fichamento:

Das vírgulas
Alguém já disse que se os teoremas da geometria contrariassem os interesses de algum
setor da sociedade, logo surgiriam legiões de matemáticos para refutá-Ios. Como a língua
portuguesa não é nem de longe tão rigorosa quanto a geometria, todos os interessados
acompanham atentamente os trabalhos da Comissão de Redação da Constituinte: às vezes
até por inadvertência dos redatores, um mero aperfeiçoamento de estilo, a supressão de uma
vírgula, que seja, pode ter conseqüências de monta na vida econômica, social ou política do
país.
A referência a uma vírgula não é mera força de expressão. Cito um caso, para
exemplificar: no capítulo tributário, existe um dispositivo que isenta de impostos sobre o
patrimônio e a renda as "entidades educacionais e assistenciais, sem fins lucrativos". Em
beneficio do estilo, e certamente na maior boa-fé, a assessoria da Comissão de Redação
sugeriu a supressão da vírgula após "assistenciais".
Só que, sem vírgula, pareceria que a ressalva "sem fins lucrativos" se aplica só às
entidades assistenciais, tomando qualquer entidade educacional, mesmo com fins lucrativos,
isenta de impostos.

O equívoco foi detectado a tempo e evitado. (...) (José Serra, Folha de S. Paulo, 29/9/88.
In: FARACCO; TEZZA, 2003, p. 105.)

Resumo DAS VÍRGULAS


FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Oficina de textos.
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 105.

Esclarece que a simples eliminação de uma vírgula pode mudar


completamente o significado de um texto, acarretando prejuízos ao
país. Como exemplo, cita o caso da vírgula que, se suprimida do
texto que isenta de impostos sobre o patrimônio e a renda as
"entidades educacionais e assistenciais, sem fins lucrativos",
poderia dar margem à interpretação de que a ressalva somente se
aplicaria a entidades assistenciais, o que tomaria "(...) qualquer
entidade educacional, mesmo com fins lucrativos, isenta de
Impostos".
2. RESENHA

2.1 Conceito
Segundo a NBR 6028/2003 da ABNT, a resenha é o mesmo que resumo
crítico ou recensão. Alguns autores incorretamente classificam-na como resenha
crítica, o que nos parece redundante em relação à norma citada.

Medeiros ensina que a resenha é


[...] um relato minucioso das propriedades de um objeto
ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação
técnica que inclui variadas modalidades de textos:
descrição, narração e dissertação. Estruturalmente,
descreve as propriedades das obras (descrição física
da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra,
apresenta suas conclusões e metodologia empregada,
bem como expõe um quadro de referências em que o
autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta
uma avaliação da obra e diz a quem a obra se destina
(dissertação). (MEDEIROS, 2003, p. 158-159).

2.2 Tipos de resenha

2.2.1 Resenha descritiva e resenha crítica

2.2.1.1. Resenha descritiva

Para Fiorin e Platão (1990, p. 426),


"resenhar significa fazer uma relação das propriedades de
um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos
relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem".
Dessa forma, os autores citados consideram a resenha um texto descritivo. Essa
característica pode prevalecer em uma resenha, visto que o objetivo do redator é transmitir ao
leitor um conjunto de propriedades do objeto resenhado. Todavia, paralelamente à descrição, a
resenha também pode ter parágrafos narrativos, em que sobressaem aspectos relativos ao
espaço e ao tempo que denotam a transformação ou a alteração dos acontecimentos ou da
abordagem de um texto. Finalmente, a resenha ainda pode ter parágrafos dissertativos sobre o
valor da obra, argumentos que comprovem a qualidade do texto ou a ausência dela.
Como pode prevalecer a descrição sobre as outras modalidades discursivas, Platão e
Fiorin salientam que o procedimento do resenhista é seletivo, uma vez que não pode abarcar a
totalidade das propriedades de um objeto (texto, acontecimento). O que apresentar numa
resenha depende da finalidade que se tem em vista, ou mesmo dos tipos de leitor que se
pretende atingir. Pedem os autores que sejam consideradas duas resenhas sobre um mesmo
objeto, o treinamento dos atletas para uma copa mundial de futebol. Uma resenha seria
destinada a uma coluna esportiva de um jornal e a outra, ao departamento médico que integra
a comissão de treinamento. Enquanto o jornalista salientaria as qualidades de um atleta, as
jogadas, os gols; a resenha para o departamento médico se ocuparia de outros fatos e
simplesmente desprezaria os pormenores jornalísticos citados.
Entre os objetos que podem motivar uma resenha, salientam os autores citados: um
jogo de futebol, uma comemoração solene, um romance, uma peça de teatro, um filme.
Na resenha de livros, evidentemente, há aspectos que normalmente não interessam
ao leitor de jornais, como, por exemplo, o custo de produção e os direitos autorais.
A resenha que, além de aspectos descritivos, apresenta julgamento ou apreciação da
obra, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de quem a elaborou é chamada por
Platão e Fiorin de resenha crítica.
A estrutura da resenha descritiva de um texto seria:

□ nome do autor (ou dos autores);


□ título e subtítulo da obra (livro, artigo de um periódico);
□ se tradução, nome do tradutor;
□ nome da editora;
□ lugar e data da publicação da obra;
□ número de páginas e volumes;
□ descrição sumária de partes, capítulos, índices;
□ resumo da obra, salientando objeto, objetivo, gênero (poesia, prosa,
dramaturgia, ensaio literário, político);
□ tom do texto;
□ métodos utilizados (como o autor construiu sua obra);
□ ponto de vista que defende.

Esses são os elementos que compõem uma resenha descritiva. É de salientar que,
normalmente, as resenhas publicadas em periódicos não apresentam apenas a característica
descritiva; elas manifestam apreciações e julgamentos sobre as idéias e pontos de vista
defendidos pelo autor. Exemplos de resenha descritiva:

1º Exemplo

Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos (218 páginas), de


Eni Puccinelli Orlandi, publicado (2001) pela Editora Pontes de Campinas, é
uma obra composta de 13 capítulos. Entre eles, ressaltam-se: Análise de
discurso e interpretação; A escrita da análise de discurso; Os efeitos de lei tura na
relação discurso/texto; O estatuto do texto na história da reflexão sobre a
linguagem; Do sujeito na história e no simbólico; Ponto final: interdis curso,
incompletude, textualização; Boatos e silêncios: os trajetos dos sentidos, os
percursos do dizer; Divulgação científica e efeito leitor: uma política social urbana;
A textualização política do discurso sobre a terra.
A obra da Profa. Eni Puccinelli tem como objeto o discurso e seu
funcionamento, área da qual jamais se afastou, como se pode verificar pelas
dezenas de textos que publicou. Procura, na obra atual, dar resposta às
questões "o que é texto?", "como se textualiza um discurso político, um discurso
jurídico, um discurso científico?", "como os boatos funcionam no espaço social e
político?" Ocupa-se a autora das diferentes maneiras pelas quais os sentidos são
constituídos, são formulados e circulam. Essas maneiras de constituição dos
sentidos são decisivas para a relação do homem com a sociedade, a natu reza e a
história. O texto é o momento fundamental da significação em que o sujeito, ao
dizer de um modo e não de outro, define a maneira como o sen tido faz sentido
não apenas para ele mesmo, como também para os outros, para a sociedade
em que vive.
A autora adota a perspectiva da Análise de Discurso de linha francesa,
como o leitor pode verificar pela bibliografia utilizada, pelos posicionamentos e
pelos conceitos de que se vale para explicar o discurso. A análise de discurso
concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade
natural e social. E é essa mediação, que é o discurso, que torna possível a
permanência e a continuidade, o deslocamento e a transformação do homem e
da realidade em que vive. Entre outros, o leitor vai deparar com autores cita dos
como Courtine, Ducrot, Maingueneau, Pêcheux. Considera a autora, antes de
tudo, a Análise de Discurso uma disciplina da interpretação. Trabalha não só a
textualização do político, mas também a política da língua que se materializa no
corpo do texto, ou seja, na formulação, por gestos de interpretação que tomam
forma na textualização do discurso. Interessa-se pela determinação histórica dos
processos de significação, pelos processos de subjetivação, pelos processos de
identificação e de individualização dos sujeitos e de constituição de sentidos, assim como
por sua formulação e circulação.

O resenhista pode iniciar seu texto de variadas formas:


□ informar o leitor quem é o autor da obra; nesse caso, pode colher essas
informações nas orelhas ou na quarta-capa do livro; às vezes, essas
informações podem ser obtidas de uma apresentação feita ao livro por
terceiros; catálogos da editora. Para discorrer sobre um autor, a estrutura é
a seguinte: o que faz, onde atua, titulação acadêmica, obras publicadas;
□ apresentar brevemente o conceito do objeto do livro, esclarecendo o leitor
sobre a área que o assunto cobre, sua importância, em que pé se encontra
o desenvolvimento científico ou das pesquisas na área;
□ contar uma passagem da vida do autor, como o conheceu, uma palestra em
que o resenhista esteve presente;
□ discorrer sobre a expectativa da publicação, número de meses ou ano sem
que o autor não publicava; última publicação, relevância de suas idéias
para o meio;
□ relacionar idéias atuais com antigas já publicadas em outros livros;
reformulações que ocorreram, transformações, progressos.

Como o leitor pode perceber, o resenhista precisa ter conhecimentos na área: saber onde
pisa, quem são os autores que publicam sobre o assunto, estágio atual da pesquisa. Não se
pede a uma pessoa que não conheça crítica literária, por exemplo, para resenhar um ensaio
literário sobre Machado de Assis. Não obstante isso, o aluno de qualquer curso deve iniciar-se na
prática da resenha para, paulatinamente, adquirir habilidade para vir a escrever resenhas
sobre a área de sua especialidade. Deve dominar a estrutura da resenha; saber que resenha não
é resumo da obra, nem transcrição de trechos. Deve ter habilidade para argumentar e esquecer
tanto os elogios sem fundamento, como a crítica descabida. Deve ter bom-senso para ficar
eqüidistante dos posicionamentos rígidos, das mesquinharias que aviltam o trabalho alheio.
Um exemplo: com freqüência, podem ser encontradas nos jornais e revistas resenhas que
comentam sobre deslizes de traduções. Muitas vezes, são minúcias tão insignificantes ou um
número tão pequeno de problemas que se nota ausência de equilíbrio na crítica. Tanto o
elogio quanto a crítica devem ficar restritos à obra e jamais atingir o autor.
2º. Exemplo:

Ingedore G. Villaça Koch oferece a seu público leitor mais uma obra que
trata de texto e linguagem: Desvendando os segredos do texto, de 168 páginas,
publicado em 2002 pela Editora Cortez, de São Paulo. A obra é composta de duas
partes e 11 capítulos, assim distribuídos: Concepções de língua, sujeito, texto e
sentido; Texto e contexto; Aspectos sociocognitivos do processamento textual;
Os segredos do discurso; Texto e hipertexto; A referenciação; A progressão
referencial; A anáfora indireta; A concordância associativa; A progressão textual;
Os articuladores textuais. Finalmente, em epílogo, apresenta "Lingüística textual:
quo vadis?"
Em Desvendando os segredos do texto, a Profa. Ingedore baseia-se
em pesquisas recentes que desenvolve no Instituto de Estudos da Linguagem da
Unicamp.
O objeto da obra da Profa. Ingedore é a reflexão sobre a construção
textual dos sentidos. Ela que sempre se ocupou da Lingüística Textual, examina,
neste livro, as atividades de referenciação, as estratégias de progressão textual, os
processos inferenciais envolvidos no processamento dos diferentes tipos de
anáfora, os recursos de progressão e manutenção temática, de progressão e
continuidade tópica e o funcionamento dos articuladores textuais. Assim, ocupa-se
da articulação entre os dois grandes movimentos cognitivo-discursivos de
retroação e avanço contínuos que orientam a construção da trama textual.

O resenhista pode perceber que nem sempre se ocupará de todos os elementos


estruturais de uma resenha. Há livros em que comentar a metodologia utilizada é relevante; há
outros em que é preciso discorrer sobre o autor, o progresso, a reformulação de suas ideias, as
transformações; outros em que um comentário sobre a qualidade ou deslizes da tradução é que
é importante. O que é fundamental numa resenha descritiva de um livro é indicar o autor, o
título da obra, a editora, o ano da publicação, os capítulos que compõem o livro (informar o
título de cada capítulo) e um resumo do texto que informe o objeto da obra e o objetivo. E
como foi afirmado: como se trata de um texto descritivo, o resenhista precisa fazer uma seleção
das propriedades do objeto de sua resenha. Jamais poderá abarcar a totalidade delas.

A resenha crítica contém, além dos elementos constantes da resenha descritiva,


comentários sobre as idéias do autor e julgamentos do resenhista sobre as qualidades da
obra.
Para ampliar a habilidade prática de um resenhista iniciante, recomen da-se a leitura
de resenhas que podem ser encontradas em jornais, como Folha de S. Paulo (aos sábados, no
caderno Ilustrada), Jornal de Resenhas, publicado uma vez por mês pela Folha de S. Paulo (em
geral, na primeira quinzena do mês), Jornal da Tarde, revista Cult; Teresa: Revista de
Literatura Brasileira, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (publicada esta última pela
Editora 34, traz ao final um conjunto de resenhas - veja, por exemplo, o n ~ 1, 2000).1 Ao final do
livro Machado de Assis: antologia e estudos, publicado pela Ática (1982), organizado por Afredo
Bosi, José Cados Garbuglio, Mario Curvello, Vantim Facioli, há um conjunto de resenhas de
obras de ensaístas de Machado de Assis. O resenhista iniciante também deve exercitar-se na
leitura e prática de outros tipos de resenhas, como exposição de obras de arte, CD, peça teatral,
espetáculos de dança. Todos esses tipos de resenhas são encontrados com freqüência em
jornais e revistas, alguns com menos qualidade que outros, mas muitos com excelente
desempenho e escritos por renomados professores de várias universidades.
2.2.1.2 Resenha crítica ou científica

Na resenha crítica, como já foi exposto, além dos elementos descritivos e narrativos, há os
dissertativos, a defesa de um ponto de vista, a apresentação de argumentos, provas. Tome-se,
por exemplo, a resenha de um CD de Cássia Eller, publicada na Veja, de 4 de dezembro de
2002. As apreciações ou juízos avaliativos são os seguintes:

"Quando morreu, em dezembro de 2001, Cássia Eller estava empenhada em realizar uma
metamorfose artística. Cansada do rótulo de roqueira barulhenta, ela queria consolidar a imagem
de excelente intérprete, o que de fato era."

Já a primeira afirmação que abre a resenha revela um resenhista (Sérgio Martins)


conhecedor da cantora e de sua obra. Na segunda, o leitor toma conhecimento de que a
cantora não gostava do rótulo de "roqueira barulhenta" e de que "ela queria consolidar a
imagem de excelente intérprete, o que de fato era". Esta última frase revela uma avaliação do
resenhista, um juízo de valor. Para consolidar a imagem de excelente intérprete, lançaria em
2002 um disco com canções inéditas de Chico Buarque, Djavan, Lenine. E faz em seguida nova
avaliação:

"O CD póstumo 10 de Dezembro (o título é a data de aniversário da cantora), que chega às lojas na
semana que vem, é fiel ao desejo de Cássia."

Nova avaliação aparece quando afirma que o CD traz 11 faixas registradas pela artista
em diferentes fases, durante shows ou gravações informais:

"Transformar essas gravações precárias em material audível não foi tarefa das mais fáceis.
A versão de AlI Star, em que uma orquestra acompanha Cássia, é desde logo candidata a
hit"
E mais à frente: "Conseguiram bons resultados em várias faixas."
O conhecimento do resenhista da obra e da cantora aparece em outra parte do texto:
"Podem-se destacar ainda Get Back e Julia, duas covers dos Beatles -um grupo adorado
por Cássia, que tinha um caderno apenas para anotar as letras de suas músicas."
Esses pormenores da vida de um autor, cantor, pintor, dançarino, diretor de um
filme dão credibilidade ao resenhista; mostram que se trata de alguém que dispõe de
conhecimentos para discorrer sobre a obra de um artista ou autor. Em outra passagem da
resenha, afirma que o filho de Cássia Eller e Maria Eugênia Martins, companheira de Cássia
durante 14 anos, "não tiveram coragem de ouvir as músicas do novo disco". E avalia: "De certa
forma, continuam em luto. Para suportar a perda de Cássia e reestruturar-se como família,
estão freqüentando uma terapeuta.
Na resenha crítica, o leitor espera um posicionamento do resenhista; ela não pode
ser fria e distante, temerosa de comprometimento, sob pena de tornar-se um texto indigesto,
desinteressante. Todavia, os juízos avaliativos precisam apoiar-se em fatos, em provas, em
argumentos consistentes. Afirmações genéricas pouco acrescentam, ou revelam desinteresse
em aprofundamento da análise. Os juízos avaliativos também devem ser claros, para que o
leitor possa concluir sobre a validade da aquisição ou leitura da obra. Deve ficar claro para o
leitor se o resenhista adota corno positivo ou negativo os posicionamentos, os conceitos, as
idéias da obra resenhada.
A leitura e a redação de resenhas constituem exercícios que melhoram a qualidade da
leitura e da redação.
Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, em Fundamentos de metodologia
científica (1995b, p. 245), apresentam modelo para a prática de resenhas científicas.
2.3 Estrutura
Escrever uma resenha não é difícil, porém requer atenção do aluno no exercício de
compreensão e critica. O hábito de leitura diária de jornais e revistas, além de bons livros, é
fundamental à criação de idéias. Inclusive porque alguns desses periódicos costumam
apresentar resenhas de obras literárias e outras, o que nos pode proporcionar uma boa noção
sobre esse trabalho técnico.

A estrutura básica de uma resenha contém os seguintes elementos:

1. Referência bibliográfica:
- Autor.
- Título da obra.
- Elementos de imprensa (local da edição, editora, data).
- Número de páginas.
- Formato.
Exemplo:
GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 8.
ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980. 522 p. 14 x 21 cm.
2.Credenciais do autor:
Informações sobre o autor, nacionalidade, formação universitária, títulos, livro ou artigo
publicado.
3.. Resumo da obra (digesto):
Resumo das idéias principais da obra. De que trata o texto? Qual sua característica principal?
Exige algum conhecimento prévio para entendê-Ia? Descrição do conteúdo dos capítulos ou
partes da obra.
4.Conclusões da autoria:
Quais as conclusões a que o autor chegou?

5..Metodologia da autoria:
Que métodos utilizou? Dedutivo? Indutivo? Histórico? Comparativo? Estatístico?
Que técnicas utilizou? Entrevista? Questionários?

6..Quadro de referência do autor:


Que teoria serve de apoio ao estudo apresentado? Qual o modelo teórico utilizado?
7.Crítica do resenhista (apreciação):
Julgamento da obra. Qual a contribuição da obra? AB idéias são ori ginais? Como é o
estilo do autor: conciso, objetivo, simples? Idealista? Realista?
8.Indicações do resenhista:
A quem é dirigida a obra? A obra é endereçada a que disciplina? Pode ser adotada
em algum curso? Qual?
A resenha não é, pois, um resumo. Este é apenas um elemento da
estrutura da resenha. Além disso, acrescente-se: se, por um lado, o resumo não
admite o juízo valorativo, o comentário, a crítica; a resenha, por outro, exige tais
elementos.
Em alguns casos, não é possível dar resposta a todas as interrogações feitas;
outras vezes, se publicada em jornais ou revistas não especializados, pode-se omitir um
ou outro elemento da estrutura da resenha. Numa publicação científica, porém,
observar com rigor os pontos salientados.
Acrescente-se: se bem redigida, a resenha é um valioso instrumento de
pesquisa; se, no entanto, a crítica apresentada é impressionista (gosto/não gosto), a
resenha deixa de ter interesse para o pesquisador.

2.4 MODELO DE RESENHA CRÍTICA

EXEMPLO 1

Referência ANDRADE, Mário de. Querida Henriqueta: cartas de Mário de Andrade a


bibliográfica Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro: José Olympio,1991. 214 p.
Já foram publicadas cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, a Oneyda
Informações Alvarenga (Mário de Andrade: um pouco), a Álvaro Lins, a Fernando Sabino
sobre o autor (Cartas a um jovem escritor), a Carlos Drummond de Andrade (A lição do amigo),
a Prudente de Morais Neto, a Pedro Nava (Correspondente contumaz), a Rodrigo de
MeIo Franco, e Anita Malfatti. Em todas elas, é possível verificar a surpreendente
revelação da personalidade de Mário de Andrade, seus conhecimentos, suas
preocupações, sua dedicação à arte, o entusiasmo com que tratava os escritores
iniciantes.

Em Querida Henriqueta, reunião de cartas de Mário à poetisa Henriqueta Lisboa,


Gênero da Mário é tão generoso quanto o fora em A lição do amigo, tão competente quanto o
obra
fora nas cartas a Manuel Bandeira. A exposição é sempre franca, os temas
abordados variados e a profundidade e o valor humano notáveis. Para alguns,
as cartas de Mário, em seu conjunto, estão no mesmo nível que suas criações
literárias.
É possível ver nas cartas o interesse de Mário pela motivação dos iniciantes,
Resumo ou analisando com dedicação e competência tudo o que lhe chegava às mãos. Há em
digesto
seu comportamento o sentido quase de missão estética. As recomendações são as
mais variadas: ora sugere alterações, ora a supressão, ora o cuidado com o ritmo,
ora com as manifestações de conteúdo cultural. Não é o mestre que fala, mas o
amigo. Não é o professor, mas o artista experiente, que sabe o que diz e por que o
diz, que tem consciência de tudo o que fala, que leva o trabalho artístico muito a
sério. As considerações não são, no entanto, apenas de ordem técnica. Mário de
Andrade, por sua argúcia crítica, penetra na análise psicológica. Assim, examina os
retratos feitos por diversos artistas, como Portinari, Anita Malfatti, Lasar Segall.
Segundo ele, Segall ter-se-ia fixado em seu lado obscuro, quase oculto, malévolo
de sua personalidade.
A relação angustiada do autor de Macunaíma consigo mesmo aparece nas cartas a
Henriqueta Lisboa. Da mesma forma, aparecem o problema do remorso e da
culpa, o cansaço diante da propaganda pessoal, do prestígio, da notoriedade, da
polêmica. Não silencia sequer a análise das relações com a família. Aqui, não é a
imagem de Mário revolucionário e exuberante que apresenta. Não. Também não
há lamentações: tudo é exposto com extrema lucidez quanto às virtudes e defeitos.
Mário abre o coração numa confidência de quem acredita na amiga e nas
relações humanas.
As cartas foram escritas de 1939 a 1945, quando Mário veio a falecer. E são mais
Avaliação do que uma fonte de informação ou depósito de idéias estéticas: são um retrato de
(Apreciação)
seu autor, com suas angústias e expansões de alegria, de emoção e de rigidez
comportamental.

COMENTÁRIO SOBRE A RESENHA

Na resenha apresentada, há informações bibliográficas logo no início: nome do


autor, título do livro, local da publicação, editora, ano de publicação, número de páginas.
Falta algum elemento da estrutura da resenha? Quais? São importantes? Devem ser
ressaltados? Por quê? Informações como número de páginas e tamanho físico do livro são
relevantes? Por quê?
Expõe, em seguida, informações sobre várias publicações de Mário de Andrade. Em
vez de optar pela biografia do autor, preferiu elencar obras epistolares. Que você acha disso?
Tal procedimento é correto? Que considerações faria a esse respeito? Ou seria melhor
informar sobre sua vida e sobre sua obra de modo geral? No caso presente, somente os
leitores de Mário saberiam que é autor de obra ficcional? Um leitor desprevenido saberia onde e
quando teria nascido? Essa informação é importante?
A obra caracteriza-se como do gênero epistolar. Não se trata de romance nem de
contos, mas de cartas de Mário de Andrade a uma amiga sua. Você sabe algo sobre Henriqueta
Lisboa? Seria importante ressaltar quem é ela? Ou essa informação é destituída de valor?
As cartas trazem informações sobre poética, o que Mário entende por poesia, sobre
procedimentos, contêm orientações. De modo geral, trata de questões estéticas, fala sobre a
arte. E, assim, o autor da resenha vai resumindo as cartas de Mário que compõem esse
volume.
O resumo da obra (digesto) aparece nos demais parágrafos. O autor preferiu comentar
a obra em sua totalidade a simplesmente resumi-Ia, ou, se quiserem, resumi-Ia, comentando-a.
Em vez de uma abordagem estanque dos elementos de uma resenha, preferiu a dinâmica:
conforme vai apresentando as idéias, vai tecendo comentários. Que você acha deste método?
Você tem uma idéia de que trata o texto, ou simplesmente tem informações insuficientes? Não
seria desejável um resumo, com as informações progressivas, conforme aparecem na obra?
Com base nas informações, é possível identificar real interesse pela obra? As informações
não são excessivamente vagas? Gerais?
A crítica valorativa ou apreciativa do resenhista aparece particularmente no último
parágrafo. Como não se trata de obra didática, ele evitou recomendá-la, mas é claro que,
diante do exposto, os que se interessam pela obra de Mário e, em especial, por sua poética
não podem deixar de lê-Ia.
Há algum valor em recomendar uma obra? O estudioso, através dessa informação,
pode tomar alguma decisão? Você colocaria ou não essa informação numa resenha? Por quê?
Como se verifica, a resenha apresentada, ou arremedo de resenha, é mais crítica que
descritiva. Estruturalmente, deixou de lado alguns elementos que seriam desejáveis a um
pesquisador. No entanto, como exemplificação, foi feita para esclarecer alguns pormenores,
para levar o leitor à reflexão. Seus defeitos podem servir como orientação que predisponha o
leitor a uma prática correta.
MODELO DE RESENHA CRÍTICA

EXEMPLO 2
No modelo abaixo destacamos, apenas para efeitos didáticos, cada parte
componente da resenha. O autor de uma resenha não precisa identificar com títulos as partes
que a compõem.

Referência bibliográfica
FAULSTICH, Enilde Leite de Jesus. Como ler, entender e redigir um texto. 14. ed.
Petrópolis: Vozes, 2001. 120 p.

Credenciais da autora
Enilde é ex-membro da Comissão Permanente de Vestibular da UnB. Também escreveu o
livro Lexicografia: a linguagem do noticiário policial e outras publicações em equipe sobre o
sistema de vestibular da UnB. É Doutora em Filologia e Língua Portuguesa. Leciona Língua
Portuguesa para o curso básico dessa universidade, o que a motivou a escrever esta obra.

Resumo da obra
Informa que produzir texto é tarefa das mais complexas, não existindo, portanto, fórmula
infalível para escrever (assunto). Propõe-se a demonstrar que para a produção de bons textos
é necessário, em princípio, saber ler e saber entender. Somente então se estará preparado
para a recriação, transformando o "velho" no "novo". A escrita deve, pois, ser um ato
corriqueiro no qual se extrapola o conteúdo assimilado pela leitura e outras formas correntes
de informação, como diálogos, e-mails, programas de rádio e televisão.
O objetivo da obra é não somente informar, como também ensinar a entender e ser capaz de
extrapolar as idéias de um texto lido antes da elaboração segura de uma redação (objetivo).
Além de exigir arte, a redação requer, acima de tudo, técnica, ou seja, o conhecimento gradual
do processo de aquisição de idéias e sua transformação criativa no ato de escrever.

Metodologia ou estrutura da obra


De início, a autora explica a importância da escolha do texto cujo assunto seja de interesse do
leitor. Este deve alcançar entendimento do que lê. Nesse sentido, textos de revistas e jornais
costumam proporcionar leitura agradável. Em contraposição, muitas obras especializadas são
de difícil entendimento, requerendo disposição e esforço do leitor para entender seu
conteúdo.
Propõe, então, dois tipos de leitura, para bom entendimento do texto técnico: a informativa e a
interpretativa. A primeira se subdivide em leitura seletiva e crítica; a segunda explora as
capacidades cognitivas propostas por Bloom.
Ao final de cada tipo de leitura informativa, propõe a leitura do texto biográfico sobre
Aleijadinho, em bloco único de idéias desordenadas, para que o leitor faça as devidas
separações em diversos parágrafos e, em seguida, sua ordenação. O exercício seguinte é
sobre leitura interpretativa, com base nas capacidades cognitivas propostas: compreensão,
análise, síntese, avaliação e aplicação, explicadas no capítulo que trata do assunto.
Com base nos estudos e práticas propostas anteriormente, propõe um "plano de texto
expositivo". Demonstra, pela adaptação que faz da dissertação de um aluno, que,
apresentado um tema, pode-se criar "sentenças-tópico" sobre o mesmo e suas idéias
secundárias que estruturarão cada parte do texto. A cada "sentença-tópico" desenvolvida
deve corresponder um parágrafo. Sua conclusão ficaria por conta de comentário, no último
parágrafo, baseado no tema introduzido e nas idéias desenvolvidas em seguida.
A obra apresenta, ainda, mais seis capítulos que dispõem sobre os seguintes assuntos:
palavra e vocábulo como unidades essenciais do texto; produção do texto, em que se
conceituam narração, descrição e dissertação. Esta é enfatizada, definida e aprofundada na
demonstração de sua estrutura expositiva e argumentativa. Finalmente, propõe "recursos
apropriados para elaboração do texto dissertativo", com os quais encerra a primeira parte da
obra.
Na segunda parte, são propostos trabalhos de "sintaxe de construção", uso da vírgula e da
crase. Finalmente, sugere diversos temas para exercícios dissertativos.

Apreciação crítica do resenhista


Ao propor técnicas de leitura e produção de texto, a autora consegue, com rara eficiência e
muita objetividade, oferecer ao interessado idéias muito brilhantes e, sem qualquer dúvida,
muito úteis a todos os que necessitam dominar a leitura técnica para utilizar esse
conhecimento na produção escrita. Ela mesma extrapola os conhecimentos adquiridos de
outros autores citados em seu livro, provando, assim, que só sabemos de fato aquilo que
praticamos.

Indicações da obra
O texto é claro, simples e bastante elucidativo, sendo indicado para estudantes de modo geral
e, em especial, para candidatos a concursos diversos que exijam o domínio das capacidades
cognitivas na leitura e interpretação de textos. Também oferece excelentes subsídios para a
prática de redação e leitura críticas.

MODELO DE RESENHA CRÍTICA


EXEMPLO 3

MEMÓRIA — ricas lembranças de um precioso modo de vida

O Diário de uma garota (Record. Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto


que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos
nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias no verão antigo de 41 para
42.
Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário. anotado em um caderno de
capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da
menina, que se propõe a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais
tarde recordar coisas já esquecidas.
O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada
modéstia do texto que ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora a
quem o caderno deveria ser entregue quando acabado.
E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram
muitos. pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-Ieite. Novena,
oTico-Tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo,
sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bem-casados, romances franceses,
comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos, bolinho de legumes, festas de
aniversário, Missa do Galo, carta para a família, dor-de-barriga, desenho de aquarela,
mingau, indigestão... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em
férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião.
Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida
que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato. Entretanto, que, graças à arte de
Julieta escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida.
O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas, por exemplo, o tom autêntico
de .sua linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não
obstante, o sotaque antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários
dominavam os pronomes cujo/a/os/as. conheciam a impessoalidade do verbo haver no
sentido de existir e empregavam. sem pestanejar, o mais--que-perfeito do indicativo quando
de direito...
Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu.projeto gráfico, aos cuidados
de Raquel Braga. Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu
diário e reproduzindo na capa do livro a capa marmorizada do caderno com sua lombada e
cantoneiras imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se casam
tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo uma grande festa para
seus leitores.

Marisa Lajolo Jornal da Tarde. 18jan. 1986.

COMENTÁRIO SOBRE A RESENHA

O texto é uma resenha crítica, pois nele a resenhadora apresenta um breve resumo
da obra, mas também faz uma apreciação do seu valor (exemplo, Iº período do Iº parágrafo,
3º parágrafo). Ao comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor
sobre ela, estabelecendo um paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de hoje
do ponto de vista da capacidade de se expressar por escrito. No último parágrafo comenta o
projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a respeito dele.

No resumo da obra, a resenhadora faz uma indicação sucinta do conteúdo global da obra
(“registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma
adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42”), mostra o gênero utilizado pela
autora (diário) e, depois, relata os pontos essenciais do livro (um rol dos pequenos
acontecimentos da vida da adolescente em férias).

A parte descritiva é reduzida ao mínimo indispensável. Apenas o título completo da obra, a


editora e o nome são indicados.
Estamos diante de uma resenha muito bem-feita, pois se atém apenas aos elementos
pertinentes para a finalidade a que se destina: informar o público leitor sobre a existência e
as qualificações do livro.

TAREFA 1
Identifique, no trabalho a seguir, os itens de uma resenha.

BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita. São Paulo: Ática, 2002. 95p. (Série
Princípios, 12).
Izidoro Blikstein é professor adjunto da Escola de Administração de Empresas de São
Paulo - FGVICAESP; consultor da FAPESP e professor titular de Lingüística e Semiótica da
USP. Publicou oito artigos completos em periódicos, dois livros e ainda orientou mais de dez
dissertações de Mestrado e teses de Doutorado.
Após relatar a história cheia de tropeços de comunicação entre um atrapalhado gerente e sua
sempre prestativa e atenta secretária, Blikstein revela os segredos da comunicação escrita.
Inicialmente, o autor mostra que uma das funções essenciais da comunicação escrita é
provocar uma reação ou resposta em quem recebe uma mensagem, e que escrever bem
implica necessariamente a obtenção de uma resposta correta, ou seja, significa obter a
resposta que corresponda à idéia que temos em mente e desejamos passar ao leitor. A
comunicação escrita deve ser agradável, suave, persuasiva e ainda deve ter como objetivo
tomar comum aos outros o nosso pensamento.
Entretanto, existem interferências que prejudicam a produção da resposta esperada; as quais
podem ser de natureza física (dificuldade visual, má grafia de palavras, cansaço, falta de
iluminação); cultural (palavras ou frases complicadas e ambíguas, diferenças de nível social)
e psicológica (agressividade, aspereza, antipatia), e também são trabalhadas pelo autor no
decorrer da obra.
O livro também aborda alguns aspectos estruturais e funcionais da comunicação definindo
alguns conceitos importantes. Mostra a autêntica estrutura da comunicação formada por
remetente, destinatário e mensagem. Ressalta a importância dos signos e dos códigos na
elaboração de uma mensagem, da codificação e decodificação, assim como o uso correto de
códigos fechados e códigos abertos com o objetivo de obter as
respostas esperadas. Ainda tratando da estrutura da comunicação, Blikstein mostra que a
decodificação (captação do significante e entendimento do significado) depende também do
repertório do indivíduo que recebe a mensagem, ou seja, de sua rede de referências, valores
e conhecimentos históricos, afetivos, culturais, religiosas profissionais etc., e que
desconhecer ou desconsiderar o repertório do destinatário é abrir as portas para os ruídos
que irão abalar a estrutura da comunicação.
O autor mostra ainda que para escrever bem não basta transmitir informações corretas e
claras, é necessário elaborar uma mensagem atraente e capaz de prender a atenção do
leitor. Ressalta a importância de não cansar o destinatário com mensagens repletas de
informações complicadas. Para tanto propõe diminuir um pouco a linearidade da mensagem
escrita evitando a prolixidade e a redundância através do uso de imagens, gráficos,
esquemas e tabelas. Fornece dicas de como planejar a disposição visual do texto para torná-
Io mais chamativo e comunicativo, além das dicas de como envolver psicologicamente
(emocionalmente) o destinatário da mensagem.
A proposta do livro - ensinar técnicas de comunicação escrita — é muito interessante e sem
dúvida alguma extremamente útil a todos que usam a escrita como meio de comunicação.
Ao usar uma história divertida como ponto de partida e exemplo para desenvolvimento do
livro, o autor atiça a curiosidade do leitor e prende sua atenção durante a exposição dos
conceitos fundamentais necessários à boa comunicação escrita, assim como sua
aplicabilidade na construção de mensagens realmente eficientes.
Embora o autor critique com muita propriedade textos redundantes e prolixos, acaba dando
a impressão de cometer essas falhas, ao repetir exaustivamente a história do gerente
atrapalhado e de dedicada secretária como eixo central para exemplificar e explicar a estrutura
de comunicação escrita e os erros comumente cometidos por quem escreve. Entretanto,
nesse caso, a redundância se toma interessante, uma vez que permite ao leitor construir sua
própria teia de comunicação usando os elementos necessários, mas ausentes na
mensagem do gerente.
Ao resumir todas as técnicas e dicas tratadas no livro em um capítulo simples visualmente
criativo, o autor fornece a "receita" para a eficácia da comunicação escrita e ainda brinda o
leitor com um vocabulário crítico de fundamental importância para a compreensão do texto.
O texto é lúdico, simples e bastante informativo, sendo indicado para estudantes do ensino
médio, pré-universitários e universitários que ainda não dominam as técnicas abordadas
nessa obra.
(Colaboração da professora Adrienne de Paiva Fernandes, do Centro Universitário de
Brasília.)
Abaixo apresentamos a você um esquema sobre RESENHA. Preste atenção.

RESENHA

Referentes Reais Referentes textuais


Sessões Romances
Reuniões administrativas Filmes
Reuniões pedagógicas CDs
Reuniões esportivas Peças de teatro

Há 2 tipos de Resenha
Resenha Objetiva ou Descritiva
Resenha Crítica

RESENHA OBJETIVA ou DESCRITIVA (Vanoye,1985, p.74)

Texto de caráter DESCRITIVO

 Apresenta com precisão e fidelidade os elementos referenciais e suas


inter-relações – informação ‘BRUTA”

 Retrata objetivamente a realidade exterior;

 Seu propósito é levar ao conhecimento dos leitores informações sobre


determinados elementos mais complexos e mais numerosos (palestras,
reuniões);

 Sua função é puramente referencial, centraliza-se no ISSO (3º pessoa


do discurso) (referente);

 Não há a interferência do emissor e seu receptor é “indefinido”;

 Não louva, nem julga;

 Apresenta apenas uma interpretação.

Resenhar não é copiar trechos da obra.

ESTRUTURA DA RESENHA OBJETIVA (para texto) (Platão e Fiorin, 1990,


p.426)
A resenha descritiva consta de:
(A) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:
 Nome do autor (ou autores);
 Título e subtítulo da obra (livro, artigo etc)
 Se tradução, nome do tradutor;
 Nome da editora;
 Lugar e data da publicação da obra;
 Número de páginas da obra;
 Número de páginas e volumes;
 Descrição sumária das partes, capítulos, índices;.
(B) uma parte com o resumo do conteúdo da obra:
 indicação sucinta Do assunto da obra (assunto tratado) e do ponto de
vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom etc)
 Resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.
O resumo é apenas uma das partes que compõe uma resenha.
Não há número definido de parágrafos para uma resenha.

RESENHA CRÍTICA

 Além de todos os elementos presentes na Resenha Objetiva,


acrescenta-se ao texto a defesa de um ponto de vista, argumentos,
provas, avaliações, que conduzem o leitor que expõem e delatam a
presença do emissor no texto.
 Há aqui uma tentativa de convencer o leitor e levá-lo a formar certo
juízo de valor.

“Na Resenha crítica, o leitor espera um posicionamento do resenhista; ela não


pode ser fria e distante, temerosa de comprometim,ento, sob pena de tornar-se
um texto indigesto, desinteressante.”(Medeiros, 2004, p.169)
ROTEIRO PARA ANALISAR UMA RESENHA

Como já é de seu conhecimento uma resenha pode fazer referência a referentes reais (sessões,
palestras) ou a referentes textuais (livros, filmes). Ela também pode ser objetiva(texto
puramente descritivo) ou crítica (presença de opinião/ponto de vista)

Mas como saber se realmente estamos diante de uma Resenha?

Abaixo apresentamos a você uma série de perguntas que visam detectar os aspectos mais
relevantes que devem estar presentes num texto denominado RESENHA. Este roteiro focaliza a
análise de um referente textual, especificamente um livro, portanto os elementos componentes
poderão sofrer algumas alterações, dependendo do objeto resenhado.

Depois de elaborar seu texto, ele deverá responder as seguintes indagações:


Quanto ao conteúdo:
(1) O texto retrata objetivamente a realidade exterior?
(2) O texto apresenta apenas os elementos essenciais? Deixa de lado fatos e/ou idéias
secundárias?
(3) O texto centraliza-se na 3ª pessoa do discurso (ISSO) ?
(4) O texto focaliza apenas o REFERENTE, a função predominante é a REFERENCIAL?
(5) O texto apresenta apenas uma interpretação?
(6) O texto tem caráter descritivo?

Quanto à estrutura
A resenha se compõe de duas partes: a primeira composta de informações sobre o texto, a
segunda do resumo propriamente da obra.
(1) O texto traz informações como nome do autor, título da obra, nome da editora, lugar e data de
publicação (ver relação completa na Apostila página 36/47)?
(2) Há indicação sucinta do assunto da obra e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva
teórica, gênero, método)?
(3) O texto apresenta o resumo da obra?

Se seu texto responder positivamente a 90% destas questões, então você está diante de um
RESENHA muito bem escrita e que obedece aos seus propósitos! Parabéns!
Mas.....se muitas destas perguntas não foram respondidas afirmativamente....CUIDADO, seu texto
deverá sofrer algumas alterações.

Até aqui estamos falando de uma resenha com características descritivas, mas se quiséssemos
torná-la crítica, bastaria selecionar alguns aspectos da obra para analisarmos e apresentarmos
nosso ponto de vista, ou seja, nossa crítica.
Visualmente teríamos um texto assim colocado:
1º parágrafo:
Informações sobre o texto (dados sobre a obra) + realce ao fato e/ou idéia principal de que trata
a obra.

2º parágrafo: Apresentação do resumo propriamente dito.


3‫ ڎ‬parágrafo: (....................................)
4º parágrafo: (.................................................)
5º parágrafo: (.................................................)
Atenção: Não há como definir de quantos parágrafos se compõe uma resenha, pois vai depender de
seu poder de reduzir um texto a ¼ de sua extensão. Um romance de 500 páginas, com certeza,
poderá fazer surgir uma resenha muito maior do que um texto de 10 páginas. Portanto, uma
resenha poderá ter o número de parágrafos que contemplem o ESSENCIAL do texto.

ROTEIRO PARA ANALISAR UMA RESENHA

Quanto ao conteúdo SIM NÃO EM


PARTE
(1) O texto retrata objetivamente a realidade exterior? (Ou seja, não traz
palavras que demonstrem algum tipo de julgamento)
(2) O texto apresenta apenas os elementos essenciais? Deixa de lado fatos
e/ou idéias secundárias?
(3) O texto centraliza-se na 3ª pessoa do discurso (ISSO) ?
(4) O texto focaliza apenas o REFERENTE, a função predominante é a
REFERENCIAL?
(5) O texto apresenta apenas uma só interpretação?
(6) O texto tem caráter descritivo?
(7) O texto traz uma linguagem simples, objetiva?
(8) O texto é claro?
Quanto à estrutura/forma
(1) O texto traz informações como nome do autor, título da obra, nome da
editora, lugar e data de publicação (ver relação completa na Apostila página
36/47)?
(2) O texto apresenta o resumo da obra?
(3) Há indicação sucinta do assunto da obra e do ponto de vista adotado pelo
autor (perspectiva teórica, gênero, método)?
(4) Há adequação de linguagem?O texto é escrito em linguagem padrão?
(5) O texto é coeso, ou seja, há articuladores que mantêm a relação entre as
partes?
(7) As frases são curtas e objetivas?
Caso seja uma RESENHA CRÍTICA:
Quanto à crítica
(1) Foram abordados aspectos relevantes para a crítica?
(2) Há marcas de julgamento no texto?
(3) Percebe-se a presença do emissor no texto?
(4) A crítica é pertinente?

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