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BELÉM
2018
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BELÉM
2018
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CDD 342.6
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Silvestre e Danielle Trindade, meus braços fortes, guerreiros,
exigentes e descontentados com a mediocridade. Hoje, minhas conquistas tem quase a
totalidade da contribuição deles, que sempre foram presentes em todos os aspectos da minha
vida e maiores incentivadores da minha felicidade. Só consigo dizer: Obrigada e amo
infinitamente vocês dois.
Não distante, agradeço às minhas irmãs amadas, Bárbara e Glória Trindade, que às
vezes me estressam, entretanto, faz parte da lida diária e a torna mais eletrizante. Apesar
disso, são grandes amigas (as melhores) que Deus me deu, se entristecem com a minha
tristeza e se alegram com a minha felicidade. Só o fato de elas existirem em minha vida, já me
torna uma pessoa muito abençoada.
Aos meus Avós, Antônio Resque, Fátima Silva, João e Raimunda Trindade, João da
Paz e Antônia Carvalho – sim, são muitos – que em cada etapa de minha vida tiveram um
lugar muito especial, sendo fortes auxiliadores e mais do que incentivadores, pois saíram do
campo do desejo e partiram à luta em meu favor. Muito obrigada!
Aos meus demais familiares, que no início de minha jornada, não hesitaram em me
estender a mão, em especial o Tio Trindade e Família, Tio Billynho, Tio Miguel e família.
Agradeço ainda, a uma pessoinha que, além de minha família direta, aguentou muito
dos meus estresses e lamentações, esteve ao meu lado em muitos momentos especiais e não
me deixou desanimar em nenhuma circunstância, Obrigada David Ramos, por ser essa pessoa
incrível que me cativa todos os dias.
Às pessoas com quem convivi durante o caminho das pedras: Chiara, amiga mais que
especial e superparceira; Nathália, a primeira amiga que o Cesupa me deu; Gege Leite, que
apesar de ter mudado de turno eu ainda a amo; Clovys, o rapaz mais gentil do Cesupa;
Evandro, bem louco, mas é gente boa; Daniela, linda e muito inteligente; e Julia a professora
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dos quinze minutos que antecediam a prova. Obrigada por tornarem meus dias mais felizes,
apesar das brigas por causa dos trabalhos, graças à deus não nos matamos e hoje estamos
felizes pelo fim desse ciclo e o início de outro que Deus nos concederá grandes vitórias. Amo
vocês!
Por fim, mas não menos importante, agradeço à minha Orientadora Krystma,
professora muito atenciosa, simpática com todos que buscavam auxílio e sempre preocupada
com o desempenho de seus orientandos. Obrigada pelo esforço, professora!
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“Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e sua justiça, e todas as outras coisas vos
serão acrescentadas.”
Jesus (Mateus 6:33)
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RESUMO
O presente trabalho possui como objetivo uma discussão acerca da parametrização do dano
extrapatrimonial trazido pela reforma trabalhista, qual seja, a Lei n. 13.467/2017, analisando
também a Medida Provisória n. 808/2017. Ao abordar os direitos e garantias fundamentais,
assim como a dignidade da pessoa humana é questionado se seria possível uma tarifação ou
tabelamento para determinar o dano à honra do ofendido. Em contrapartida, é abordada a
arguição da livre atuação do magistrado como o único responsável por estipular o quantum
indenizatório para a dor do empregado e a implicação dessa incumbência. Para embasar os
argumentos levantados são apresentadas leis, doutrinas, direito comparado e jurisprudências
anteriores e posteriores à nova legislação trabalhista, para se chegar ao deslinde de que a
tarifação, com critérios que não levem em conta a condição pessoal do trabalhador, mas
abranjam todos de maneira igualitária, pode ser possível, uma vez é capaz de proporcionar um
atendimento mais imediato ao Princípio da legalidade, e segurança jurídica, bem como retira
do juiz a árdua missão de determinar o valor da ofensa de um empregado, frente o exacerbado
números de demandas existentes na Justiça do Trabalho.
ABSTRACT
The present work aims at a discussion about the parameterization of the off-balance-sheet
damage brought about by labor reform, namely Law no. 13.467/2017, also analyzing
Provisional Measure no. 808/2017. In addressing the fundamental rights and guarantees as
well as the dignity of the human being is questioned whether it would be possible to impose a
tariff or tabulation to determine the damage to the offender's honor. In contrast, it is
approached the argument of the free act of the magistrate as the sole responsible for
stipulating the indemnity quantum for the pain of the employee and the implication of this
incumbency. In order to support the arguments put forward, laws, doctrines, comparative law
and jurisprudence before and after the new labor legislation are presented, in order to arrive at
the distinction that the tariff, with criteria that do not take into account the personal condition
of the worker, but cover all of can be possible once it is able to provide a more immediate
service to the Principle of legality, and legal security, as well as removes from the judge the
arduous task of determining the value of an employee's offense, as opposed to the exacerbated
numbers of lawsuits existing in the Labor Court.
Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 10
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO DANO EXTRATPATRIMONIAL ............. 13
2.1 SURGIMENTO HISTÓRICO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL ................................. 16
2.1.1 Progressão do Instituto de Dano Extrapatrimonial no Brasil ................................. 19
2.1.2 Histórico do Dano Extrapatrimonial no Direito do Trabalho................................. 22
3 DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO................................. 26
3.1 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS QUE SOLIDIFICAM O DANO
EXTRAPATRIMONIAL EM MATÉRIA DE DIREITO DO TRABALHO ................................... 27
3.2 FINALIDADES DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES LABORAIS .... 31
3.2.1 Reparação do Dano ao Ofendido ............................................................................... 33
3.2.2 Cunho Pedagógico ao Ofensor ................................................................................... 36
3.2.3 Proporcionalidade e Razoabilidade ao Quantum Indenizatório ............................ 38
3.3 ABORDAGEM JUDICIALIZADA DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS
RELAÇÕES DE TRABALHO ......................................................................................................... 39
3.3.1 Caráter das Decisões Anteriores à Reforma Trabalhistas....................................... 42
4 TARIFAÇÃO NA REFORMA TRABALHISTA: UM PARÂMETRO NECESSÁRIO? ... 47
4.1 AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DA TARIFAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL
NA REFORMA TRABALHISTA .................................................................................................... 50
4.2 APLICAÇÃO DA TARIFAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO
COMPARADO ................................................................................................................................. 54
4.3 PERSPECTIVAS PARA O BRASIL QUANTO A TARIFAÇÃO DO DANO
EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO DO TRABALHO ............................................................. 56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 66
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1 INTRODUÇÃO
É bem sabido, que as leis trabalhistas foram criadas para, principalmente, oferecer
uma proteção efetiva aos direitos dos trabalhadores, sendo reconhecida como uma classe
hipossuficiente e subordinada ao poder de mando e econômico do empregador, e que ao longo
dos anos, as referidas normas, tem se aprimorado, buscando atender as necessidades mais
essenciais dos indivíduos que estão na condição de trabalhadores.
A minoria dos estudiosos da área defendem e compreendem que a tarifação vem como
um meio de retirar do Poder Judiciário a livre atuação, no sentido de retira do magistrado a
incumbência de quantificar a indenização por danos extrapatrimoniais, posto que realiza,
desse modo, apenas juízo de valor, não transmitindo nenhuma segurança jurídica aos sujeitos
da lide. Acreditam, ainda, que deve haver o repasse de tal responsabilidade a quem possui
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essa competência, qual seja, o Poder Legislativo, gerando assim, uma padronização nas
decisões, sem desigualdade entre elas, sendo para casos iguais, iguais indenizações.
A priori, se faz mister discorrer no que consiste o dano extrapatrimonial, que também
pode ser chamado de dano imaterial ou até mesmo moral, como é conhecido pelo Direito
Civil.
Mais adiante, em sua supracitada obra, Dallegrave (2007), suscita outros elementos
formadores dessa integração do conceito de dano moral e a forma de sua devida
comprovação, que segundo entendimentos jurisprudenciais, vem sido firmada posição no
sentido de que a fixação do dano moral colima compensar a vítima – considerando, para tanto,
a sua condição financeira – e ao mesmo tempo prevenir a reincidência do ato ilícito –
levando-se em conta, a condição financeira do agente de ambos os polos desta ação.
Em suma, resta claro as motivações que fizeram com que o Direito do Trabalho
detivesse interesse para tratar sobre o instituto do dano extrapatrimonial, posto que – como
demasiadamente fora mostrado - a relação trabalhista envolve em um dos polos, pelo menos,
pessoa física, dotada de direitos personalíssimos e passíveis de sofrerem lesões, sejam físicas,
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sejam psicológicas, e como adiante será desbravado, as normas trabalhistas abarcarem tal
matéria é perfeitamente cabível e concordante com os princípios que garantem proteção aos
trabalhadores.
Considerando que todas as coisas existentes tiveram, em algum momento, sua gênese,
não seria diferente quando se trata de institutos de Direitos personalíssimos, que tutelam as
lesões causadas ao indivíduo enquanto pessoa humana, e que atacam diretamente a sua
dignidade, o que fora conceituado, anteriormente como sendo dano extrapatrimonial.
Conforme Gagliano e Pamplona (2016), ainda, o princípio geral desse regramento era
de que “O forte não prejudicará o fraco”, demonstrando, assim a preocupação para auferir ao
lesado uma reparação equivalente ao seu dano sofrido, ao mesmo tempo que explicita a
condição dos mais favorecidos e menos favorecidos frente a sociedade. O que implica
diretamente na relação de trabalho, por exemplo, há um superior (empregador) e o indivíduo
sujeitado às condições impostas para manter seu sustento, uma equiparação ao forte e o fraco,
e na medida que o empregador se sobrepõe ao empregado e acaba por lhe causar dano, este é
passível de reparação.
Portanto, entende-se que a reparação pecuniária era dada como forma de punição, e
segundo o entendimento de Silva (1974) a forma de penalidade de pagar quantia certa e
determinada convergida em favor da vítima, sendo esses preceitos a primeira forma de
compensação econômica registrada acerca do dano extrapatrimonial.
O avanço trazido pelo Código de Manu, como Reis (1995) assevera, que fora
suprimida a violência física, que estimulava nova repreensão igualmente física, gerando daí
um ciclo vicioso, ou seja, a ofensa não era mais indenizada por outra ofensa, entretanto, foi
resolvido se utilizar de um valor pecuniário para tal compensação, perfazendo a alusão jocosa,
mas que retrata uma realidade na história do homem, na qual o bolso é a parte mais sensível
do corpo humano, produz o efeito de obstar eficazmente a ação ou reincidência do
delinquente.
Conforme ainda afirma Tartuce (2014) foi a partir do Direito Romano, por meio da
Lei Aquília, normatizando acerca da culpa e reparação proveniente desta, passando a ser regra
em todo o Direito Comparado, que exercera fortes influências sobre as codificações privadas
modernas, como o Código Civil Francês de 1804.
Tomando por base os estudos apresentados por Gonçalves (2016), que reafirmando as
alegações de Tartuce, disserta que o Direito Francês, por meio de seu Código Civil, mais tarde
conhecido como Código de Napoleão, aperfeiçoara as ideias do Direito Romano,
estabelecendo – de maneira nítida – certos princípios que impactaram de maneira positiva
outras sociedades da época, como direito à reparação sempre que houvesse culpa, ainda que
leve, a separação definitiva da responsabilidade civil da penal, a existência de culpa contratual
de quem descumpre as obrigações acordadas em contrato, dando origem a uma
responsabilidade que tem como pressuposto a negligência ou imprudência, não o crime, nem
mesmo delito.
Assevera ainda, que a noção de culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e
culpa contratual foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos artigos
1.382 e 1.383. Sendo assim, a responsabilidade civil se funda na culpa, foi a definição que
partiu daí para inserir-se na legislação de todo o mundo. Por conseguinte, observou-se a
19
Portanto, após reiteradas normas versarem sobre o instituto que trata sobre direito
personalíssimo, todos os feitos são encaminhados, de maneira longa e gradual, até que se
chegue a um país de pouco desenvolvimento, de surgimento recente e que após muitos anos
de luta e progresso criaria normas que atendessem a todas as esferas do Direito, incluindo o
direito a reparação do dano extrapatrimonial.
Art. 76. Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo
interesse econômico, ou moral.
Parágrafo único. O interesse moral só autoriza a ação quando toque
diretamente ao autor, ou à sua família.
[...]
Art. 79. Se a coisa perecer por fato alheio à vontade do dono, terá este a ação
pelos prejuízos contra o culpado.
[...]
Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a
reparar o dano.
Neste sentido, resta comprovado que o Direito Civil passou a ocupar o conteúdo sendo
o portador de seu estandarte, e dando progressão e evolução aos seus conceitos, como ainda
assevera Beviláqua (1943, p. 319), ainda sobre o Código Civil de 1916:
É inegável que após o CC/1916, sobrevieram várias leis que trataram sobre o mesmo
tema, como por exemplo, o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei n. 4.117, de 27 de
agosto de 1962); o Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965); a Lei de imprensa,
que atualmente encontra-se revogada (Lei n. 5.250, de 9 de fevereiro de 1967); a Leis dos
Direitos Autorais (Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de 1973).
O sabido é que a Constituição de 1988 veio dar fim na resistência à reparação do dano
moral, que outrora existira. Ocorre que a argumentação utilizada na época, que não haveria
princípio geral que norteasse o referido instituto, desaparece, passando, a reparação de dano
moral, a integrar definitivamente o direito positivo vigente. Com a posição tomada pela
Constituição Federal o princípio da reparação do dano moral encontrou alicerce, que o inseriu
em canonicidade do direito positivo, tornando-se ainda um princípio de natureza cogente o
que estabelece a reparação por dano moral no direito vigente no Brasil, obrigatório para o
legislador e para o juiz e para todos aqueles que estão abaixo da lei. (PEREIRA, 1992).
O atual Código Civil brasileiro reconhece em seu artigo 186 a existência de um dano
extrapatrimonial, “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
(BRASIL, 2002), de sorte que, o artigo 927, reconhece a reparabilidade do referido dano
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“Aquele que por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002)
adequado em tudo, de forma expressa a legislação civil ao novo perfil constitucional.
Portanto, existe um marco importante que faz as normas que apresentam o dano
extrapatrimonial pertencerem ao Direito do Trabalho, posto que conforme o artigo 8º,
parágrafo único da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – dispõe que “O direito
comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível
com os princípios fundamentais deste. ” (BRASIL, 1943).
Para Dallegrave (2007), a CLT, no mesmo parâmetro do antigo Código Civil, não se
ocupou detidamente dos direitos de personalidade, com algumas raras exceções à exemplo
da justa causa que viola a honra e a boa fama ou mesmo os casos de vedação à revista íntima
após o expediente. Tudo ficou limitado ao plano meramente patrimonial próprio da época em
que se editou a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943. Mesmo assim, sendo o
empregado necessariamente pessoa física, os direitos de personalidade encontram-se
inevitavelmente em causa em todo e qualquer contrato de trabalho.
1
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
I - a natureza do bem jurídico tutelado;
II - a intensidade do sofrimento ou da humilhação;
III - a possibilidade de superação física ou psicológica;
IV - os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;
V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;
VI - as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral;
VII - o grau de dolo ou culpa;
VIII - a ocorrência de retratação espontânea;
IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa;
X - o perdão, tácito ou expresso;
XI - a situação social e econômica das partes envolvidas;
XII - o grau de publicidade da ofensa.
§ 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos
seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;
II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;
III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
§ 2o Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos parâmetros
estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
§ 3o Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização.
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No presente texto normativo, tem-se uma das inovações trazidas pela reforma, o artigo
mencionado retrata a tarifação, ou seja, uma forma de tabelar as decisões proferidas acerca
das indenizações por dano extrapatrimonial, tendo por base o último salário recebido pelo
empregado que sofrera a lesão, conforme o parâmetro jurisdicional do que seria um dano de
natureza leve, grave ou gravíssima, para então estipular a indenização pecuniária.
Notória é a intervenção do Estado nas relações entre particulares, por isso, a relação
trabalhista (empregatícia) é incluída no rol de relações que são normatizas e controladas pelo
referido ente, ressalvando sempre a liberdade dentro dos limites estabelecidos em leis, não
gerando, desse modo, prejuízos a nenhuma das partes abarcadas pela relação de trabalho e
emprego.
Para tanto, o Estado, por meio do Poder Legislativo, passara a criar normas que
regem as relações entre particulares, adornando a ela princípios, direcionamentos e,
consequentemente, jurisprudências, aos quais, está intimamente inserida a matéria de Direito
do Trabalho, que conforme supracitado, tem a incumbência de tratar de vínculos entre
particulares, sendo o Estado quem dirige, tal relação, para que não haja abuso de nenhuma
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das partes.
Humanos, que em seu artigo 23 (ONU, 1948), versando novamente sobre a dignidade e a
igualdade que devem ser acolhidas ao empregado, em que a este é assegurado igualdade de
tratamento, remuneração igual para igual trabalho desempenhado, dentre outras salvaguardas
garantidas ao trabalhador.
Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um à sua diferença.
Gente não muda. Muda o invólucro. O miolo, igual. Gente quer ser feliz, tem
medos, esperanças e esperas. Que cada qual vive a seu modo. Lida com as
agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é sofrido igual. A
alegria, sente-se igual. (ROCHA, 2004, p. 65)
Ocorre, que não apenas à igualdade o Direito Constitucional se converge, mas para a
desigualdade. Desde tempos pretéritos, é cediço, que não existe a possibilidade de tratar todos
de maneira igual, posto que a sociedade, ao longo do tempo, é composta de diversas pessoas
desiguais, e compostas de condições especiais, na medida de sua individualidade, faz saber,
Fernandes (2017, p. 461-462) em consonância com o que fora exposto:
Conforme acima mencionado, é nítida a ideia de que se faz necessária, para apreciação
da reforma trabalhista o atendimento às igualdades mencionadas, a igualdade da lei e a
igualdade perante a lei, uma vez que na criação da lei n. 13.467/2017 já fora sido determinada
a desigualdade de tratamento entre trabalhadores ao firmar, segundo deveras reiterado, a
tarifação do dano imaterial. Ao aplicar tal lei, o judiciário ainda tem uma vasta
disponibilidade para aplicar a norma trabalhista, podendo ensejar em exageradas
desigualdades e nenhum cumprimento da finalidade de indenização de dano extrapatrimonial,
como será abaixo explicitado.
Nos ditames do mencionado por Martins (2005) apud Jorge Neto e Cavalcante (2010),
tratando sobre o indispensável Princípio do Direito do Trabalho, qual seja, o da proteção,
descreve que o ramo do Direito do Trabalho nasceu e se desenvolveu à mercê de excessivas
explorações dos trabalhadores, principalmente após o surgimento da primeira revolução
industrial, que ocorrera no século XVIII, de onde surgira a descoberta do vapor como fonte de
energia, causando uma grande expansão da indústria e do comércio, com a substituição do
trabalho escravo pelo assalariado. Nesse sentido, o princípio protetor encontra escopo pela
natural desigualdade em que se identifica entre os partícipes da relação de emprego: sendo o
trabalhador, subordinado e hipossuficiente, contratando com o empregador, normalmente de
maior poderio econômico e detentor do mando.
2
Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de sexo.
3
Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo
estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.
30
No limiar desse conflito surge o Direito do Trabalho como um meio de tutelar, criando
normas que visem inibir essa natural desigualdade e, dentro dele, o Princípio protetor busca
auxilia nesse mister, com uma estrutura no interior da ordem trabalhista, com suas regras,
institutos, princípios e presunções próprias, um complexo de proteção à parte mais vulnerável
na relação empregatícia, o obreiro, tendo por único objetivo retificar, no plano jurídico, o
desequilíbrio inerente ao plano fático de contrato (DELGADO, 2014).
A aplicação da norma mais favorável pode ser dividida em três maneiras: (a)
a elaboração da norma mais favorável, em que as novas leis devem dispor
de maneira mais benéfica ao trabalhador. Com isso se quer dizer que as
novas leis devem tratar de criar regras visando a melhoria da condição
social do trabalhador; (b) a hierarquia das normas jurídicas: havendo várias
normas a serem aplicadas numa escala hierárquica, deve-se aplicar a quer for
mais favorável ao trabalhador. Assim, se o adicional de horas extras previsto
em norma coletiva for superior ao previsto na lei ou na Constituição, deve-se
aplicar o adicional da primeira. A exceção à regra diz respeito a normas de
caráter proibitivo; (c) a interpretação da norma mais favorável: da mesma
forma, havendo várias normas a observar, deve-se aplicar a regra mais
benéfica ao trabalhador. O art. 620 da CLT prescreve que „as condições
estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as
estipuladas em acordo‟. A contrario sensu, as normas estabelecidas em
acordo coletivo, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas
em convenção coletiva. (grifo nosso)
Resta claro, portanto, que tudo quanto for normatizado em prol do trabalhador ou em
matéria de Direito do Trabalho, seja o dano extrapatrimonial ou qualquer outra matéria, deve
estar consonante com os princípios que regem o tal, visto que as normas devem ser criadas e
regidas para o benefício do indivíduo que empenha suas forças e seu intelecto para um
empregador, que muitas vezes detém forte vantagem econômica e política ao seu dispor, por
31
isso se faz mister a obediência e a submissão a tal princípio antes de qualquer elaboração de
leis que tratam das relações trabalhistas, e para garantia da dignidade desse empregado.
Postas todas essas afirmações, cumpre agora, dispor que o intento de trazer ao Direito
do Trabalho o instituto do dano moral, nada mais visa que a garantia desses direitos a vida do
trabalhador, enquanto subordinado. Faz, também, com que haja algum tipo de coação ao
empregador, para que esse evite causar danos ao psicológico, imagem ou até mesmo
integridade física do empregado. Trazendo também o conceito de Direito a igualdade para que
possa ser demonstrado e mantido o equilíbrio nas relações de emprego e trabalho, condições
essas, que são naturalmente desiguais.
Já Diniz (2007, p. 144), traz mais explicações e esclarecimentos acerca do dano moral
em matéria trabalhista:
Neste parecer, pode-se observar alguns critérios dispostos no atual artigo 223-G da lei
n. 13.467/2017, com seu caput e incisos, listando doze parâmetros para atuação do
magistrado.
Nonato (2004) apud Diniz (2007) contribui dissertando que as tristezas se compensam
ou se neutralizam com as alegrias, entretanto, esses fatores de neutralização não são obtidos
pela via direta do dinheiro, pois não se está dando preço, ou pagando, a dor e a tristeza, mas se
realiza de maneira indireta, ensejando valores econômicos que propiciem ao lesado do dano
imaterial uma sensação de bem-estar ou contentamento. Se mostrando inequívoco que o
dinheiro não possui quaisquer capacidades de eliminar a dor experimentada pelo ofendido,
sendo apenas um lenitivo para o prejuízo sofrido que atenuará a consequência do prejuízo por
ele arcado a partir de uma projeção de melhoria futura com a aquisição de objetos outros que,
indiretamente, poderão lhe trazer prazer e formas diferenciadas de felicidade. Apesar do pleito
pela indenização pecuniária, não há um preço para este tipo de sofrimento. Ele é imensurável.
Também sobre reparação, Dias (1997, p 724) expõe sobre as formas de ressarcimento
do dano, ainda asseverando:
Inafastável, contudo, que a condenação pelo dano moral exerce igualmente importante
papel educativo, dissuasório ou pedagógico no princípio geral do neminem laedere6. Ser
responsável, para a maioria dos cidadãos, não é somente responder por uma grande soma em
dinheiro, mas também por uma contribuição ou garantia social, sendo tal garantia social a
segurança que seu próprio direito será resguardado. Em muitas oportunidades, o ordenamento
explicita essa finalidade: as modalidades de indenização do Código de Defesa do Consumidor
são exemplos característicos. (VENOSA, 2005).
6
Nas palavras de Donnini (2009), o princípio neminem laedere – a ninguém ofender ou lesar – demonstra, com
clareza, a filosofia de Epicuro, que considera o resultado de um compromisso de utilidade, sob a justificativa de
os homens não se prejudicarem uns aos outros. É considerada uma regra de direito natural, enquanto os estoicos
determinavam como regra de vida a observância à razão e à natureza, tal qual a virtude, o Epicurismo propõe a
felicidade, no sentido de bem-estar individual e coletivo.
37
Nesse sentido, fica exposto a real intenção de tornar pública a decisão que condena em
indenização por dano extrapatrimonial para que a sociedade vislumbre o que acarreta o
desrespeito aos direitos do outro, ou até mesmo daquele que está em condição inferior, no
entanto, infelizmente, essa notícia não é tão popular e não é veiculada de maneira correta,
muito se propaga dos deslizes do instituto, por conta disso que quando vem à mente o
sofrimento moral, quase de imediato pode-se chegar à conclusão de o quanto aquele
sofrimento pode trazer em dinheiro.
Ocorre que a sociedade como um todo está deturpando o instituto de dano imaterial e
sua respectiva reparação, fugindo do que fora planejada para ela e buscando abrigo em
vantagens econômicas do que pode proporcionar, esquecendo que ofendido pode atuar em
campo de ofensor em determinado momento da vida, como o contrário também perfaz
verdade.
A maneira como a reforma trabalhista, em sua lei n. 13.467/2017, traz em seu texto, no
capítulo dos danos extrapatrimoniais, art. 223-G, § 3º, a exposição dos efeitos da reparação
para a sociedade, é quando estipula o dano em dobro, no seguinte modo “na reincidência entre
partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização”, tal dispositivo é uma
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maneira de coibir a atuação do ofensor novamente, não deixando de agir com caráter
pedagógico, educativo e preventivo. (SOUZA JUNIOR et al, 2017)
Portanto, o que pode se extrair, é que o caráter pedagógico deve incidir não apenas no
agente lesivo, o indivíduo que causa a dor ou sofrimento a outrem, mas a sociedade, que serve
de expectantes para os acontecimentos que envolvem dano e efeito, para que desse modo,
possam estar cientes que toda lesão tem uma consequência proporcional, afastando-se cada
vez mais do anonimato nas decisões e na ocorrência desse mal.
diuturnos da vida, nem o homem de pouca ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre
às rudezas do destino. Nesse campo, nunca há fórmulas seguras para auxiliar o juiz. Cabe ao
magistrado sentir em cada caso o sentimento da sociedade que o cerca. O sofrimento como
contraposição reflexa da alegria é uma constante do comportamento humano universal.
Nesse sentido é que a norma trabalhista, advinda com a reforma, tentou, mesmo que
de maneira rude, suavizar o encargo do magistrado inserindo critério matemático – exato –
para mensuração subjetiva, ao determinar o art. 223-G da lei n. 13.467/2017, o regramento
busca o equilíbrio nas decisões judiciais e descentralizar o juiz como detentor do dever de
auferir reparação à dano extrapatrimonial de maneira exata a recompor a integridade e
dignidade desse ofendido. (MARTINS; SILVA, 2017)
Desde muito tempo, tem-se acolhido e abraçado a ideia de que se opta pela ampla
liberdade do juiz para fixar o quantum condenatório. Salientando, inclusive, que se o valor
arbitrado for considerado insatisfatório ou excessivo, as partes ainda poderiam expor sua
irresignação a uma instância superior, revisora da decisão prolatada, por força do duplo (quiçá
40
O critério acima estabelecido pode auxiliar em alguns casos, o que ocorre em verdade,
é que devido o imenso fluxo de demandas, e muitas vezes demandas repetitivas, torna-se
quase impossível analisar todos os casos e promover análise demorada em cada um, o que
sucede no plano factual é uma mera vista aos autos, em muitos casos, pelos magistrados e a
expedição da sentença que reconhece ou não o direito à indenização por dano moral e o seu
valor.
Por conta disto, torna-se utópico levantar discussão acerca da atuação minuciosa do
magistrado, vez que não pode ser depositado em uma só pessoa o dever de reconhecer e
determinar o dano moral e sua indenização, bem como criar critérios de compensação, uma
vez que o juiz possui o encargo apenas de julgar e não de criar novos procedimentos ou lei,
por isso que o legislador editou no texto da CLT normas de parâmetro à esse instituto.
Porém, Theodoro Junior (2001, p. 29) levanta a seguinte questão, acerca da referida
tarifação:
Mas ao grado da era anterior à reforma, o entendimento era que as decisões dos juízes
deveriam estar em consonância com o conteúdo da consciência jurídica geral, com o espírito
do ordenamento, que é mais rico que a disposição normativa, por conter critérios jurídicos e
éticos ideias jurídicas concretas ou fáticas que não encontram expressão na norma de direito.
(DINIZ, 2007)
Para fomentar o aludido acima, se faz mister expor três decisões de 1º grau de
jurisdição em que houveram o julgamento sobre o mesmo dano, qual seja, dano moral em
razão de doença ocupacional equiparada a acidente de trabalho, em decorrência perda auditiva
de grau moderado à severo devidamente atestado por perícia médica e por fim, a terceira
decisão de grau leve também atestada em perícia, e suas respectivas indenizações, eis os
dispositivos das sentenças, sendo por primeiro o dispositivo da sentença do processo n.
0000975-13.2011.5.04.0030, do TRT da 4ª região, estipulando indenização pela perda
auditiva em grau moderado à severo:
Outro aspecto está no fato de que a indenização do dano de perda auditiva de grau leve
excedeu os que foram considerados de moderados à severo pelos peritos, ou seja, era menos
gravoso que os outros casos das decisões apresentadas, entretanto, houve uma maior
compensação pecuniária, sob um aspecto de proporção entre dano e indenização.
Justificando, mais uma vez, que a falta de parâmetro também acarreta desigualdade e
injustiça.
critérios legais, apresentam-se como lógicos devendo, porém, ser sempre explicitados de
modo a fundamentar adequadamente a decisão e, assim, garantir o controle da racionalidade
da sentença.
Ocorre que os parâmetros para balizar o valor de indenização plainam sobre uma
vastidão de sentimentos que alternam de magistrado para magistrado, pois assim como
nenhum ofendido é igual ao outro no quesito sentir determinado trauma de qualquer espécie,
nenhum magistrado é semelhante ao outro no que tange ao julgamento, nem mesmo, ter
percepções intimas ao caso de cada dano que se apresente a ele corriqueiramente. Por isso,
deve-se afastar a penumbra que paira sobre a tarifação e o estabelecimento de critérios para se
48
aproximar de uma justa indenização, que estabeleça algo mais concreto e proporcione
segurança jurídica tanto para o ofensor e muito mais para o ofendido.
E no que tange a segurança jurídica das normas, Canotilho (1995, p. 380) preceitua:
Sendo assim, os efeitos da norma devem ser conhecidos e assegurados aos cidadãos
indistintamente, ao passo que tal garantia deve ser estipulada de maneira prévia, ou seja, na
elaboração da norma pelo Poder Legislativo e não na aplicação da mesma pelo Poder
Judiciário, o que acaba por causar uma instabilidade nas decisões, dando margem a nefasta
arbitrariedade que é completamente prejudicial ao sistema de justiça, e o dano que seria
apenas em uma relação de ofensor e ofendido toma proporções maiores, quais sejam,
instabilidades jurídicas para toda sociedade.
Assim, segundo Montesquieu, a decisão do juiz deve ser uma reprodução fiel
da lei: ao juiz não deve ser deixada qualquer liberdade de exercer sua
fantasia legislativa, porque se ele pudesse modificar as leis com base em
critérios equitativos ou outros, o princípio da separação dos poderes seria
negado pela presença de dois legisladores: o verdadeiro e próprio e o juiz
que poria sub-repticiamente suas normas, tornando assim vãs as do
legislador. [...] A subordinação dos juízes à lei tende a garantir um valor
muito importante: a segurança do direito, de modo que o cidadão saiba com
certeza se o próprio comportamento é ou não conforme a lei.
Além do mais, cabe arguir acerca do Princípio da Legalidade trazido pelo Direito
Constitucional, qual seja, a base dos demais direitos brasileiros, que trata da seguinte maneira:
O art. 5°, II, da Constituição Federal, preceitua que ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal princípio
visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies
normativas devidamente elaboradas conforme as regras de processo
legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois
são expressão da vontade geral. Com o primado soberano da lei, cessa o
privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei.
Conforme salientam Celso Bastos e Ives Gandra Martins, no fundo, portanto,
o princípio da legalidade mais se aproxima de uma garantia constitucional do
que de um direito individual, já que ele não tutela, especificamente, um bem
da vida, mas assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunções que
lhe sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei, pois como já
afirmava Aristóteles, "a paixão perverte os Magistrados e os melhores
homens: a inteligência sem paixão - eis a lei" (MORAES A., 2003, p. 54)
Por essa mesma razão é que fora proposta ao Supremo Tribunal Federal uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5870) pela ANAMATRA – Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho – que ainda aguarda julgamento, para tornar
inconstitucional o dispositivo da reforma trabalhista que prevê a quantificação e teto para os
danos imateriais decorrentes da relação de trabalho.
De fato, o critério de utiliza-se do último salário contratual recebido pelo ofendido não
foi uma saída plausível para resolver o problema da única exclusiva atuação do magistrado,
por conta disso, foi promulgada, pelo Presidente da República a Medida Provisória nº
808/2017 que teve sua vigência ocorrida entre 14 de novembro de 2017 à 23 de abril de 2018,
nesses aproximados 5 meses, alterando o teto instituído no § 1º do art. 223-G, utilizando-se do
limite do Regime Geral da Previdência Social7.
7
§ 1º Ao julgar procedente o pedido, o juízo fixará a reparação a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos
seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - para ofensa de natureza leve - até três vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social;
II - para ofensa de natureza média - até cinco vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social;
52
Ora, tal medida cumpriu em estabelecer uma parcela imutável e igual para todas as
fixações de indenizações provenientes de danos imateriais, qual seja, os benefícios do Regime
Geral da Previdência Social, em que tal regime consiste no teto que um assegurado pela
autarquia federal responsável pela seguridade e assistência social poderá receber à título de
aposentadoria, em que o valor, atualmente se encontra num montante de R$ 5.645,81 (cinco
mil e seiscentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um centavos).
Ter um valor fixo como parâmetro, ou seja, não mutável conforme as condições
pessoais do lesado, diminui as desigualdades, entretanto, ainda não consegue sanar o
problema do cunho pedagógico. Ora, o que significa três vezes o valor do Regime Geral da
Previdência Social para um empregador reclamado que tem uma empresa multinacional
estipuladas em bilhões de reais, para o caso de algum dos seus empregados sofrer uma lesão
de natureza leve? Ou ainda, quão significativo é cinquenta vezes a quantia do Regime Geral
da Previdência Social para o pequeno empreendedor ou microempresário, quando o seu
funcionário sofre lesão de natureza gravíssima? Não estaria além de sua capacidade e estaria
se tornando pesado demais o critério estabelecido em lei, chegando até a não cumprir com o
objetivo determinado?
Entretanto, o legislador celetista não teve a intenção de alcançar uma igualdade nos
critérios, uma vez que não houve a incorporação da Medida Provisória à CLT, a impressão
que transmitiu fora de que seria uma válvula de escape de uma forte denunciação da classe
trabalhadora ao instituto de dano moral no âmbito trabalhista, pós-reforma trabalhista, em que
os ânimos com a mudança indesejada estariam aflorados, para que não houvesse uma rejeição
III - para ofensa de natureza grave - até vinte vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social; ou
IV - para ofensa de natureza gravíssima - até cinquenta vezes o valor do limite máximo dos benefícios do
Regime Geral de Previdência Social. (grifo nosso)
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exacerbada fora publicada a Medida Provisória como artimanha para desviar os olhares do
parâmetro do último salário contratual recebido pelo lesionado, e criando discussões como as
acima apresentadas e a que se faz seguir, de que a tarifação seria inconstitucional:
Ainda sobre entendimento de Souza Junior et al (2017) declara que o incrível desatino
científico demonstrado pelo legislador celetista foi o de fixar como fator determinante o
quantum indenizatório de danos extrapatrimoniais, num referencial exclusivamente
econômico a saber o “salário contratual do ofendido”. Isso significa que a Lei nº 13.467/2017
implementou paradoxal sistema ressarcitório em que a tutela jurídica de interesses
extrapatrimoniais é prévia e abstratamente tarifada por um inflexível critério patrimonial
pessoal, independente da concreta extensão do dano e das particularidades do caso concreto.
Uma falta apresentada na norma do art. 223-G da CLT foi não haver estabelecidos
critérios mais específicos em consideração as condições pessoais, especiais ou diferenciadas
de cada caso, por óbvio, é impossível a letra da lei prever hipóteses para todos os casos
existentes aos que dela se utilizarão, entretanto, promover algum dispositivo que deliberasse
discricionariedade ao magistrado em casos extremados seria uma solução para o problema da
condição especial. E nesse aspecto é que se expõe o trecho abaixo:
O que se pode vislumbrar, portanto, é que países mais desenvolvidos que o Brasil,
estipulam o parâmetro de fixação do dano imaterial a determinadas situações, entretanto,
semelhante ao Brasil, estipulam um mínimo e/ou máximo em que possa haver a atuação do
magistrado em atendimento aos critérios subjetivos que a legislação não é capaz de prever,
complementando, o julgador, a ausência da atuação da lei nos casos que se apresentam à ele.
Mais uma vez, reafirmando o que deveras fora perpassado, a jurisprudência abaixo
deixou explicita a ideia de que o capítulo do dano extrapatrimonial veio somente para
contribuir e expandir os cabimentos do dano imaterial na vivencia do trabalhador, servindo de
instrumento, que possa ser manuseado pelo magistrado, no sentido de dar a ele larga atuação
norteado pelo parâmetro estipulado em norma trabalhista. O julgador não mais estar a vaguear
sem um referencial.
8
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt3.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=196169&p_grau_pj
e=2&p_seq=11498&p_vara=75&dt_autuacao=29%2F01%2F2018&cid=375233 Acesso em: 08/05/2018.
9
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt11.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=42626&p_grau_pj
e=2&p_seq=2203&p_vara=11&dt_autuacao=01%2F08%2F2017&cid=1123671 Acesso em: 07/05/2018.
59
Ora, como bem informado pelo Desembargador responsável por julgar tais recursos,
as indenizações, que ocorreram pós-reforma trabalhista, utilizando seu critério de tarifação,
ainda estavam consonantes, ou seja, concordantes com o anterior empregado como
estipulação do quantum indenizatório. O que revolve o pensamento de que o art. 223-G,
mais especificamente, o § 1º da CLT, não teve a intenção de modificar ou prejudicar o
ofendido da esfera trabalhista, mas organizar a questão das decisões que estipulavam esse
quantum, não mais os confiando ao estado de espírito do magistrado.
10
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt11.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=46554&p_grau_pj
e=2&p_seq=1274&p_vara=4&dt_autuacao=19%2F10%2F2017&cid=1123786 Acesso em: 08/05/2018.
60
Desse modo, é insensato afirmar que o magistrado perde o seu livre convencimento e
fica na esfera da impossibilidade de agir diferente da lei quando o caso em questão traz muitas
especificidades que a lei não consegue abarcar, cabendo então, após as observações aos
critérios estabelecidos, quando insuficientes, o revolvimento aos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade.
Para tanto, é que a Medida Provisória nº 808/2017 trouxe ao artigo 223-G, o § 5º, que
versa no seguinte sentido: “Os parâmetros estabelecidos no § 1º não se aplicam aos danos
extrapatrimoniais decorrentes de morte.”.
real, nas hipóteses elencadas no § 1º, do art. 223-G. Ocorre que houve uma flexibilização na
letra da Lei, para que inicialmente fosse atendida a norma de garantia constitucional, uma vez
que se trata de sofrimento extremado, que diferentemente das outras lesões que ocorrem com
muita frequência na justiça do trabalho e já existem diversos precedentes em que a norma, ao
estabelecer a tarifação, tomou por parâmetro.
Por conta disto, a norma trabalhista jamais tomará o espaço de importância das
garantias constitucionais, o que facilmente poderá ser flexibilizado frente a casos
excepcionais, como ocorrera no exemplo demonstrado acima.
12
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt21.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=122560&p_grau_p
je=1&p_seq=203&p_vara=6&cid=88699 Acesso em: 09/05/2018.
62
Portanto, não pode o trabalhador ficar à mercê do quanto recebe mensalmente para
medir, em caso de ofensa à sua honra, o preço da sua dignidade, em contrapartida, resta claro
que, sim, faz-se necessária a existência de uma parâmetro que norteie o magistrado, mas que
tal parâmetro seja utilizado de maneira igual a toda classe de trabalhadores, e quando tal
tarifação não for suficiente para anteder o caso concreto de maior complexidade e necessidade
de uma maior compensação que se recorra ao parâmetro antes utilizado, qual seja, os
Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade aplicáveis às decisões judiciais.
63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outra base usada para justificar a aplicação do dano moral, fora o Princípio protetor,
que aufere ao trabalhador máxima proteção de interesses, posto que perfaz o lado mais
fragilizado em uma relação empregatícia. Ainda, foi utilizado o Princípio da Igualdade como
garantia constitucional, no que se refere a reforma, posto que não obedece a tal princípio o
fato da indenização ser estipulada tendo por referencial uma condição pessoal do trabalhador,
64
uma vez que isso geraria diferenciações de quantum indenizatório para idênticas lesões,
fugindo das normas e garantias constitucionais.
Para fomentar tudo quanto fora arguido, expõe-se algumas decisões que estipulam
quantum indenizatório em casos semelhantes e demonstra-se como são divergentes a
sentenças não tarifadas mediante a lei, assim como o livre convencimento do magistrado não
garante resultado justo ou igualitário.
Ainda é analisada a forma com que a norma trabalhista – no que diz respeito ao novo
título de dano extrapatrimonial – é recepcionada, as primeiras impressões que ela causou aos
brasileiros direta ou indiretamente envolvidos com o regramento que norteia as relações de
trabalho. Se chegando à conclusão de que a hostilidade paira sobre os que a analisam,
entretanto, se fez um olha diferenciado, analisando os pontos positivos do tabelamento trazido
pela reforma.
Ainda, para demonstrar que a tarifação não trará mudanças drásticas, cita-se
jurisprudências atuais, pós-reforma, que tem o condão de desmitificar o desconhecido e
demonstrar que o magistrado ainda possui liberdade de atuação.
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