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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ


CURSO BACHARELADO EM DIREITO

BRENDA STEPHANY RESQUE TRINDADE

O DANO EXTRAPATRIMONIAL E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA A PARTIR DA REFORMA TRABALHISTA: A tarifação da dor do
Empregado

BELÉM
2018
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ


CURSO BACHARELADO EM DIREITO

BRENDA STEPHANY RESQUE TRINDADE

O DANO EXTRAPATRIMONIAL E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA A PARTIR DA REFORMA TRABALHISTA: A tarifação da dor do
Empregado

Trabalho de Curso (TC) apresentado como


requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Direito, do Centro Universitário do Estado do
Pará (CESUPA).
Orientadora: Me. Krystima Karem Oliveira
Chaves

BELÉM
2018
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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


Biblioteca do Cesupa, Belém – PA
Trindade, Brenda Stephany Resque.
O dano extrapatrimonial e o princípio da dignidade da pessoa
humana a partir da reforma trabalhista : a tarifação da dor do
empregado / Brenda Stephany Resque Trindade; orientadora
Krystima Karem Oliveira Chaves. – 2018.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Centro


Universitário do Estado do Pará, Curso de Direito, Belém, 2018.

1. Direito do trabalho - Brasil. 2. Relações trabalhistas - Brasil. I.


Chaves, Krystima Karem Oliveira. orient. II. Título.

CDD 342.6
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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, os meus mais sinceros agradecimentos a Deus, uma vez que o


reconheço como Criador e Mantenedor do Universo, O que me manteve firme em toda minha
jornada, mesmo nos momentos mais difíceis, que só eu e Ele – muitas vezes –
compartilhamos. Nesse momento de felicidade, Deus é minha primeira lembrança, e à Ele
sempre as primícias da minha atenção.

Aos meus pais, Silvestre e Danielle Trindade, meus braços fortes, guerreiros,
exigentes e descontentados com a mediocridade. Hoje, minhas conquistas tem quase a
totalidade da contribuição deles, que sempre foram presentes em todos os aspectos da minha
vida e maiores incentivadores da minha felicidade. Só consigo dizer: Obrigada e amo
infinitamente vocês dois.

Não distante, agradeço às minhas irmãs amadas, Bárbara e Glória Trindade, que às
vezes me estressam, entretanto, faz parte da lida diária e a torna mais eletrizante. Apesar
disso, são grandes amigas (as melhores) que Deus me deu, se entristecem com a minha
tristeza e se alegram com a minha felicidade. Só o fato de elas existirem em minha vida, já me
torna uma pessoa muito abençoada.

Aos meus Avós, Antônio Resque, Fátima Silva, João e Raimunda Trindade, João da
Paz e Antônia Carvalho – sim, são muitos – que em cada etapa de minha vida tiveram um
lugar muito especial, sendo fortes auxiliadores e mais do que incentivadores, pois saíram do
campo do desejo e partiram à luta em meu favor. Muito obrigada!

Aos meus demais familiares, que no início de minha jornada, não hesitaram em me
estender a mão, em especial o Tio Trindade e Família, Tio Billynho, Tio Miguel e família.

Agradeço ainda, a uma pessoinha que, além de minha família direta, aguentou muito
dos meus estresses e lamentações, esteve ao meu lado em muitos momentos especiais e não
me deixou desanimar em nenhuma circunstância, Obrigada David Ramos, por ser essa pessoa
incrível que me cativa todos os dias.

Às pessoas com quem convivi durante o caminho das pedras: Chiara, amiga mais que
especial e superparceira; Nathália, a primeira amiga que o Cesupa me deu; Gege Leite, que
apesar de ter mudado de turno eu ainda a amo; Clovys, o rapaz mais gentil do Cesupa;
Evandro, bem louco, mas é gente boa; Daniela, linda e muito inteligente; e Julia a professora
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dos quinze minutos que antecediam a prova. Obrigada por tornarem meus dias mais felizes,
apesar das brigas por causa dos trabalhos, graças à deus não nos matamos e hoje estamos
felizes pelo fim desse ciclo e o início de outro que Deus nos concederá grandes vitórias. Amo
vocês!

Por fim, mas não menos importante, agradeço à minha Orientadora Krystma,
professora muito atenciosa, simpática com todos que buscavam auxílio e sempre preocupada
com o desempenho de seus orientandos. Obrigada pelo esforço, professora!
6

“Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e sua justiça, e todas as outras coisas vos
serão acrescentadas.”
Jesus (Mateus 6:33)
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RESUMO

O presente trabalho possui como objetivo uma discussão acerca da parametrização do dano
extrapatrimonial trazido pela reforma trabalhista, qual seja, a Lei n. 13.467/2017, analisando
também a Medida Provisória n. 808/2017. Ao abordar os direitos e garantias fundamentais,
assim como a dignidade da pessoa humana é questionado se seria possível uma tarifação ou
tabelamento para determinar o dano à honra do ofendido. Em contrapartida, é abordada a
arguição da livre atuação do magistrado como o único responsável por estipular o quantum
indenizatório para a dor do empregado e a implicação dessa incumbência. Para embasar os
argumentos levantados são apresentadas leis, doutrinas, direito comparado e jurisprudências
anteriores e posteriores à nova legislação trabalhista, para se chegar ao deslinde de que a
tarifação, com critérios que não levem em conta a condição pessoal do trabalhador, mas
abranjam todos de maneira igualitária, pode ser possível, uma vez é capaz de proporcionar um
atendimento mais imediato ao Princípio da legalidade, e segurança jurídica, bem como retira
do juiz a árdua missão de determinar o valor da ofensa de um empregado, frente o exacerbado
números de demandas existentes na Justiça do Trabalho.

Palavras-Chave: Dano Extrapatrimonial. Indenização. Tarifação. Dignidade Humana.


Reforma Trabalhista.
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ABSTRACT

The present work aims at a discussion about the parameterization of the off-balance-sheet
damage brought about by labor reform, namely Law no. 13.467/2017, also analyzing
Provisional Measure no. 808/2017. In addressing the fundamental rights and guarantees as
well as the dignity of the human being is questioned whether it would be possible to impose a
tariff or tabulation to determine the damage to the offender's honor. In contrast, it is
approached the argument of the free act of the magistrate as the sole responsible for
stipulating the indemnity quantum for the pain of the employee and the implication of this
incumbency. In order to support the arguments put forward, laws, doctrines, comparative law
and jurisprudence before and after the new labor legislation are presented, in order to arrive at
the distinction that the tariff, with criteria that do not take into account the personal condition
of the worker, but cover all of can be possible once it is able to provide a more immediate
service to the Principle of legality, and legal security, as well as removes from the judge the
arduous task of determining the value of an employee's offense, as opposed to the exacerbated
numbers of lawsuits existing in the Labor Court.

Keywords: Extra-financial damage. Indemnity. Charging. Human dignity. Labor Reform.


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Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 10
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO DANO EXTRATPATRIMONIAL ............. 13
2.1 SURGIMENTO HISTÓRICO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL ................................. 16
2.1.1 Progressão do Instituto de Dano Extrapatrimonial no Brasil ................................. 19
2.1.2 Histórico do Dano Extrapatrimonial no Direito do Trabalho................................. 22
3 DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO................................. 26
3.1 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS QUE SOLIDIFICAM O DANO
EXTRAPATRIMONIAL EM MATÉRIA DE DIREITO DO TRABALHO ................................... 27
3.2 FINALIDADES DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES LABORAIS .... 31
3.2.1 Reparação do Dano ao Ofendido ............................................................................... 33
3.2.2 Cunho Pedagógico ao Ofensor ................................................................................... 36
3.2.3 Proporcionalidade e Razoabilidade ao Quantum Indenizatório ............................ 38
3.3 ABORDAGEM JUDICIALIZADA DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS
RELAÇÕES DE TRABALHO ......................................................................................................... 39
3.3.1 Caráter das Decisões Anteriores à Reforma Trabalhistas....................................... 42
4 TARIFAÇÃO NA REFORMA TRABALHISTA: UM PARÂMETRO NECESSÁRIO? ... 47
4.1 AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DA TARIFAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL
NA REFORMA TRABALHISTA .................................................................................................... 50
4.2 APLICAÇÃO DA TARIFAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO
COMPARADO ................................................................................................................................. 54
4.3 PERSPECTIVAS PARA O BRASIL QUANTO A TARIFAÇÃO DO DANO
EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO DO TRABALHO ............................................................. 56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 66
10

1 INTRODUÇÃO

É bem sabido, que as leis trabalhistas foram criadas para, principalmente, oferecer
uma proteção efetiva aos direitos dos trabalhadores, sendo reconhecida como uma classe
hipossuficiente e subordinada ao poder de mando e econômico do empregador, e que ao longo
dos anos, as referidas normas, tem se aprimorado, buscando atender as necessidades mais
essenciais dos indivíduos que estão na condição de trabalhadores.

Atualmente, fora editada, promulgada e publicada a Lei n. 13.467/2017, que trouxera


diversas alterações à principal norma que regula as relações trabalhistas, a Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT), o que acarretara grandes divergências acerca de sua aceitação,
constitucionalidade ou inconstitucionalidade, sobre diferentes pontos alterados pela chamada
reforma trabalhista.

Dentre os vários artigos da CLT que sofreram modificações, a presente monografia


trará destaque à apenas um, que tem sofrido vários debates e tem sido alvo de sérias críticas,
pelo fato de muitos apontarem à ele notável inconstitucionalidade, qual seja, o artigo 223-G,
que fora inserido no título II-A, tratando sobre o dano extrapatrimonial nas relações de
trabalho, e mais especificamente sobre a determinação sobre a tarifação do indenização
oriunda de dano moral, trazida no § 1º do mencionado artigo.

A tarifação ou tabelamento, como é nomeado por alguns, da indenização por danos


extrapatrimoniais – inovação da reforma – tem significativa crítica no sentido de que tal
dispositivo seria inconstitucional por conta de conter desrespeito à dignidade humana do
trabalhador, ao Princípio da proteção e à garantia fundamental de igualdade. Esse
posicionamento majoritário, diz, em suma, que a tarifação quantifica a dor do empregado
levando em consideração as condições pessoais dele, sendo o último rendimento contratual
como parâmetro para estipular indenização, o que representa um ultraje ao Direito de
Igualdade garantido na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).

A minoria dos estudiosos da área defendem e compreendem que a tarifação vem como
um meio de retirar do Poder Judiciário a livre atuação, no sentido de retira do magistrado a
incumbência de quantificar a indenização por danos extrapatrimoniais, posto que realiza,
desse modo, apenas juízo de valor, não transmitindo nenhuma segurança jurídica aos sujeitos
da lide. Acreditam, ainda, que deve haver o repasse de tal responsabilidade a quem possui
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essa competência, qual seja, o Poder Legislativo, gerando assim, uma padronização nas
decisões, sem desigualdade entre elas, sendo para casos iguais, iguais indenizações.

Para tomar um posicionamento final acerca das discussões acima – resumidamente –


relatadas é que a presente monografia preocupou-se em perpassar diversos caminhos
necessários para chegar a um denominador satisfatório.

Fora reservado ao primeiro capítulo a abordagem histórica do dano extrapatrimonial,


sua evolução positiva, bem como a forma com que fora recepcionado no Brasil, seus efeitos e
reflexos para as normas atuais. De igual modo, fora explicitado o surgimento do dano moral e
seu ressarcimento no âmbito de Direito do Trabalho, mais especificadamente, com a Emenda
Constitucional (EC) nº 45/2004, até os dias contemporâneos em que a norma trabalhista
trouxera novo título (II-A) destinado somente ao conteúdo de danos extrapatrimoniais para as
relações trabalhistas.

Já no segundo capítulo foram expostos os direitos, garantias e princípios que


solidificam e justificam a presença do dano imaterial para as questões trabalhistas, assim
como o embasamento teórico que fornece o condão da Justiça do Trabalho ser competente
para julgar conflitos dessa natureza, além de tratar sobre o pensamento majoritário, retratando
a violação à dignidade da pessoa humana, Direito à igualdade e Princípio protetor frente à
tarifação das lesões à honra e integridade física do empregado, fundamentando principais
argumentos usados por quem defende a referida linha de pensamento.

Por fim, preocupa-se em explicitar e justificar os argumentos da minoria, que creem


ser constitucional o entendimento de que o atendimento ao Princípio da Legalidade por parte
dos magistrados gera segurança jurídica para ambas as partes subjugadas ao processo do
Trabalho, assim como, padronizam as indenizações por dano moral, ressarcindo de igual
modo àqueles que sofrem da mesma lesão, sem que haja julgamentos pessoais do magistrado.

O último capítulo também se detém em expor o posicionamento final da monografia,


respondendo à questão se o novo título da CLT (II-A), que trata acerca dos danos
extrapatrimoniais e sua respectiva a tarifação violaria o princípio da dignidade da pessoa
humana, bem como todos os outros princípios satélites que a cercam, incluídos em tais as
garantias constitucionais e princípios de Direito do Trabalho, baseado em doutrinas,
jurisprudências, direito comparado e princípios constitucionais é que se dá a solução à
problemática da monografia.
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No mais, a finalidade é trazer uma visão diferenciada, bem como evidenciar o


pensamento minoritário, num momento em que apenas se ataca a nova norma trabalhista. É de
suma importância estabelecer defesa e paridade de armas para se chegar a uma decisão
definitiva acerca de um assunto, sendo este demasiadamente importante para os trabalhadores
que sofrem ataques a sua integridade, seja física ou psicológica. No fim, o que se busca é o
benefício à classe mais fragilizada de maneira fundamentada e lógica.
13

2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO DANO EXTRATPATRIMONIAL

A priori, se faz mister discorrer no que consiste o dano extrapatrimonial, que também
pode ser chamado de dano imaterial ou até mesmo moral, como é conhecido pelo Direito
Civil.

Cumpre estabelecer que o dano extrapatrimonial vai além da simples interpretação da


palavra, que se revolve à ideia de lesão ao impalpável, ataque à um determinado objeto
imaterial que não possa ser quantificado monetariamente e nem mesmo seja possível
mensurar o abalo sofrido. No entanto, além das descrições, ora debatidas, existem outros
elementos capazes de testificar quando ocorre ou não o dano imaterial, como bem preceituam
Gagliano e Pamplona (2016, p. 109):
O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário,
nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos
afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da
pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua
intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente.
Nesse sentido, entende-se de maneira explícita, que o dano imaterial opera de maneira
íntima e profunda à psique do atingido, pois ainda conforme Gomes (2016) o dano moral deve
atender aos efeitos causados pela lesão que gerou o desconforto psicológico, não devendo
ocasionar nenhum abalo patrimonial, do contrário poderá perder seu caráter extrapatrimonial.

Destarte, expõe de maneira coerente e concordante, Gonçalves (2016), que o dano


moral não é diretamente a dor, a angústia, o desgosto, a aflição, a humilhação, ou o complexo
de sentimentos e emoções que sofre a vítima do evento danoso, posto que esses são estados de
espirito e constituem o conteúdo, ou melhor, a consequência do dano e sua inerência. Alguns
exemplos utilizados, inclusive, pelo referido autor, retratam a dor que experimentam os pais
pela morte violenta do filho, o padecimento de quem suporta um dano estético, a humilhação
de quem foi publicamente injuriado são estados de espírito variáveis em cada caso, pois cada
pessoa sente a seu próprio modo.

Partindo dos pressupostos exprimidos nesses conceitos e modos de aplicação do dano


extrapatrimonial, tem-se, como fora perpassado, que o dano é sentido puramente subjetivo e
tende a mensurar e compensar a dor experimentada pelo afligido.
14

Fomentando as definições e argumentos apresentados, Moraes M. (2003, p. 157)


apresenta suas justificativas como forma de contribuição ao instituto que defende os direitos
personalíssimos do ser humano, no seguinte sentido:

O dano moral é aquele que, independentemente de prejuízo material, fere


direitos personalíssimos, isto é, todo e qualquer atributo que individualiza
cada pessoa, tal como a liberdade, a honra, a atividade profissional, a
reputação, as manifestações culturais e intelectuais, entre outros. O dano é
ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam
na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento,
tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções
negativas.

É válido discorrer, ainda, acerca da natureza jurídica do presente objeto de estudo,


que, em linhas gerais, tem prevalecido o entendimento de que a reparação pecuniária do dano
moral tem duplo caráter: o compensatório para vítima e o punitivo para o ofensor. Ao mesmo
tempo em que serve de conforto, de consolo, ou até mesmo de compensação buscando a
mitigação do sofrimento ocorrido, atua, por outro lado, como sanção ao lesante, objetivando
incorporar fator de desestímulo, a fim de que não volte a praticar atos danosos à personalidade
de outrem, segundo as ideias trazidas por Gonçalves (2016).

Ao passo de aproximar o instituto, ora debatido, do Direito do Trabalho, colacionando


Dallegrave Neto (2007), expõe o que as normas trabalhistas conceituam sobre o assunto, no
sentido de que o dano só é considerado moral quando os efeitos da ação lesiva originam
angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções
negativas, de forma similar ao abordado pelo Direito Civil. Ainda, não há como se negar que
todos esses sentimentos afloram na vítima do acidente e nas doenças do trabalho, por
exemplo, sem contar com inúmeros constrangimentos perante familiares, amigos e a
sociedade em geral em razão da ofensa sofrida na imagem anterior de pessoa sadia e
fisicamente perfeita, persistindo, tais aflições, no tempo e as sequelas são irreversíveis, por
conta desses fatores mencionados a violação à dignidade humana e, por conseguinte, o dano
extrapatrimonial, tornam-se inevitáveis e presumíveis.

Portanto, as normas que regem a relação de emprego e de trabalho existentes na


Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) devem levar em consideração o ponto observado
por Dallegrave (2007), de tratar trabalhadores como pessoas humanas dotadas de direitos de
personalidade e de dignidade humana, que como pessoas físicas, podem sofrer abalos ou
lesões, conforme exemplo supracitado, qual seja os danos decorrentes de acidente de trabalho.
15

Mais adiante, em sua supracitada obra, Dallegrave (2007), suscita outros elementos
formadores dessa integração do conceito de dano moral e a forma de sua devida
comprovação, que segundo entendimentos jurisprudenciais, vem sido firmada posição no
sentido de que a fixação do dano moral colima compensar a vítima – considerando, para tanto,
a sua condição financeira – e ao mesmo tempo prevenir a reincidência do ato ilícito –
levando-se em conta, a condição financeira do agente de ambos os polos desta ação.

O sentido de prevenir a reincidência, acima citada, é melhor desenvolvido no decorrer


da mesma obra, quando claramente é abordado o reconhecido caráter pedagógico da
reparação civil, qual seja, o ato de sancionar o que deu causa ao dano para que não volte a
recair no mesmo erro lesivo aos direitos de personalidade de outrem:

Da mesma forma, a indenização do dano decorrente da prática de assédio


moral e sexual – porque diretamente imbricado à dignidade do homem – há
que ter função não apenas compensatória em relação à presumida dor moral
da vítima, mas também um papel pedagógico, acoimando o assediante em
valor que o desestimule a reincidência do ato ilícito. (DALLEGRAVE
NETO, 2007, p. 292)
Já, para Cassar (2014) o dano extrapatrimonial é aquele que atinge de maneira
negativa elementos relacionados com a capacidade laborativa do empregado, tais como a
reputação conquistada no mercado, o profissionalismo, a dedicação, a produção, a
assiduidade, dentre outros elementos que podem ferir a dignidade da pessoa humana no
ambiente de trabalho. Ou seja, o atentado a vida e a honra do trabalhador no meio em que
exerce suas funções laborais, ou em razão deste, que o faça sentir-se diminuído e lesado nesta
esfera de atuação, pode impedi-lo de uma ocupação profissional no mercado de trabalho, por
exemplo.

Todas as situações, ora descritas, acarretam grande atentado aos direitos


personalíssimos, bem como a dignidade humana do trabalhador, indivíduo que se encontra em
situação desvantagem em relação ao empregador, que em contrapartida é a pessoa que, em
regra, possui maior poderio econômico, o que estabelece vasta desigualdade entre empregado
e empregador, aumentando as chances de ocorrerem diversos tipos de violações à dignidade e
a integridade do prestador de serviço.

Em suma, resta claro as motivações que fizeram com que o Direito do Trabalho
detivesse interesse para tratar sobre o instituto do dano extrapatrimonial, posto que – como
demasiadamente fora mostrado - a relação trabalhista envolve em um dos polos, pelo menos,
pessoa física, dotada de direitos personalíssimos e passíveis de sofrerem lesões, sejam físicas,
16

sejam psicológicas, e como adiante será desbravado, as normas trabalhistas abarcarem tal
matéria é perfeitamente cabível e concordante com os princípios que garantem proteção aos
trabalhadores.

2.1 SURGIMENTO HISTÓRICO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL

Considerando que todas as coisas existentes tiveram, em algum momento, sua gênese,
não seria diferente quando se trata de institutos de Direitos personalíssimos, que tutelam as
lesões causadas ao indivíduo enquanto pessoa humana, e que atacam diretamente a sua
dignidade, o que fora conceituado, anteriormente como sendo dano extrapatrimonial.

Partindo ao primeiro registro, de que se tem conhecimento, tratando sobre a


reparabilidade do dano extrapatrimonial, surge, conforme explica Valentim (1964, p. 81), o
“Código de Hamurabi foi o primeiro na história em que predominam ideias claras sobre
direito e economia”, tal Código faz diversas referências à reparabilidade civil, como hoje é
conhecida, porém àquela época era apenas um meio para propor justiça à casos que ainda não
haviam solução, como reparar um dano causado a honra da pessoa, por exemplo.

Conforme Gagliano e Pamplona (2016), ainda, o princípio geral desse regramento era
de que “O forte não prejudicará o fraco”, demonstrando, assim a preocupação para auferir ao
lesado uma reparação equivalente ao seu dano sofrido, ao mesmo tempo que explicita a
condição dos mais favorecidos e menos favorecidos frente a sociedade. O que implica
diretamente na relação de trabalho, por exemplo, há um superior (empregador) e o indivíduo
sujeitado às condições impostas para manter seu sustento, uma equiparação ao forte e o fraco,
e na medida que o empregador se sobrepõe ao empregado e acaba por lhe causar dano, este é
passível de reparação.

Portanto, entende-se que a reparação pecuniária era dada como forma de punição, e
segundo o entendimento de Silva (1974) a forma de penalidade de pagar quantia certa e
determinada convergida em favor da vítima, sendo esses preceitos a primeira forma de
compensação econômica registrada acerca do dano extrapatrimonial.

Adentrando a um avanço na legislação, como assim determina Gangliano e Pamplona


(2016), em que não se daria mais o ressarcimento do dano por meio de outra lesão ao a quem
auferiu, originalmente, o dano – como havia, para muitos casos, essa possibilidade no Código
17

de Hamurabi – com a vinda do Código de Manu a reparação passou a ser somente em


pecúnia.

O avanço trazido pelo Código de Manu, como Reis (1995) assevera, que fora
suprimida a violência física, que estimulava nova repreensão igualmente física, gerando daí
um ciclo vicioso, ou seja, a ofensa não era mais indenizada por outra ofensa, entretanto, foi
resolvido se utilizar de um valor pecuniário para tal compensação, perfazendo a alusão jocosa,
mas que retrata uma realidade na história do homem, na qual o bolso é a parte mais sensível
do corpo humano, produz o efeito de obstar eficazmente a ação ou reincidência do
delinquente.

Passando a outro ordenamento de grande influxo, o Alcorão e a Bíblia que trazem


ideias de reparação de lesões ao direito de personalidade, como Gangliano e Pamplona (2016)
demonstram, que vê-se, também seus muitos preceitos, explicitamente inspirados no Código
de Hamurabi, conduzindo ao entendimento de lesão à imagem e a honra, elementos esses –
como já mencionados e fundamentados – que se violados, incorporam o instituto atualmente
conhecido como dano moral, mas que à época era apenas um meio de garantir o bom
funcionamento do direito intrínseco ao homem.

Na Grécia antiga, tem-se uma contribuição importantíssima para evolução do preceito


ora arguido, conforme disposto abaixo:

As leis gregas outorgavam ao cidadão e aos seus respectivos bens a


necessária proteção jurídica, além de fixarem que a reparação dos danos a
eles causados assumiria sempre um caráter pecuniário, afastando a vingança
física e pessoal como forma de satisfação. [...]
Já o próprio Homero, na Odisseia (rapsódia oitava, versos de 266 a 367),
refere-se a uma assembleia de deuses pagãos, pela qual se decidia sobre
reparação de dano moral, decorrente de adultério. Hefesto, o marido traído,
surpreendeu, em flagrante, no seu próprio leito, a infiel Afrodite, com o
formoso Ares. Tendo o ferreiro Hefesto reclamado aos deuses uma
providência, estes condenaram Ares a pagar pesada multa, informação esta
que, mesmo mitológica, já demonstra o hábito da compensação econômica
pelos danos extrapatrimoniais. (GANGLIANO E PAMPLONA, 2016, p.
114-115)
Tendo consciência de que esta medida vem sendo tomada desde longínquos períodos e
que a Grécia Antiga, mesmo por meio de mitologias, tenha se posicionado acerca deste
assunto contribuíra com pensamento e moralidade da época, posto que exercia imperiosidade
sobre a sociedade, segundo a influência cultural dessa civilização que fora marcante, na
medida em que proporcionaram o surgimento de legislações de grande conteúdo político-
filosófico, como aconteceu na antiga Roma. (REIS, 1995).
18

Isto posto, revolve-se ao Direito Romano, direito este que revolucionou os


pensamentos das eras acimas citadas, e como preceitua Tartuce (2014), a lei de dano moral
tem origem no Direito Romano, no momento em que a responsabilidade objetiva (sem culpa)
constituía a regra, quando o causador do dano condenado conforme as normas estabelecidas
na Lei das XII Tábuas (popularmente conhecida como “olho por olho e dente por dente”). Em
decorrência disso, se observou grandes injustiças, do modo experimental, sendo realizadas,
por esta razão disso foi adicionado o elemento culpa somente na Lex Aquilia, trazendo a ideia
do dever indenizar mesmo a culpa mais leve.

A diferenciação entre “pena” e a “reparação”, entretanto, somente começou


a ser esboçada ao tempo dos romanos, com a distinção entre os delitos
públicos (ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem) e os delitos
privados. Nos delitos públicos, a pena econômica imposta ao réu deveria ser
recolhida aos cofres públicos, e, nos delitos privados, a pena em dinheiro
cabia à vítima. [...]
É na Lei de Aquília que se esboça, afinal, um princípio geral regulador da
reparação do dano. Embora se reconheça que não continha ainda “uma regra
de conjuntos, nos moldes do direito moderno” era sem nenhuma dúvida, o
germe da jurisprudência clássica com relação à injúria, e “fonte direta da
moderna concepção da culpa aquiliana, que tomou da Lei Aquília o seu
nome característico”. (GONÇALVES, 2016, p. 25)

Conforme ainda afirma Tartuce (2014) foi a partir do Direito Romano, por meio da
Lei Aquília, normatizando acerca da culpa e reparação proveniente desta, passando a ser regra
em todo o Direito Comparado, que exercera fortes influências sobre as codificações privadas
modernas, como o Código Civil Francês de 1804.

Tomando por base os estudos apresentados por Gonçalves (2016), que reafirmando as
alegações de Tartuce, disserta que o Direito Francês, por meio de seu Código Civil, mais tarde
conhecido como Código de Napoleão, aperfeiçoara as ideias do Direito Romano,
estabelecendo – de maneira nítida – certos princípios que impactaram de maneira positiva
outras sociedades da época, como direito à reparação sempre que houvesse culpa, ainda que
leve, a separação definitiva da responsabilidade civil da penal, a existência de culpa contratual
de quem descumpre as obrigações acordadas em contrato, dando origem a uma
responsabilidade que tem como pressuposto a negligência ou imprudência, não o crime, nem
mesmo delito.

Assevera ainda, que a noção de culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e
culpa contratual foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos artigos
1.382 e 1.383. Sendo assim, a responsabilidade civil se funda na culpa, foi a definição que
partiu daí para inserir-se na legislação de todo o mundo. Por conseguinte, observou-se a
19

extraordinária tarefa dos tribunais franceses, atualizando os textos e estabelecendo uma


jurisprudência digna dos maiores encômios.

Tem-se que após diversas normas de Direito versando acerca do dano


extrapatrimonial, este adveio, como forma de evolução, das fontes acima citadas, eclodindo
de diversas maneiras em vários lugares do mundo, chegando à Portugal, que mais tarde
colonizaria o Brasil, e, por meio de suas normas, influenciaria fortemente a criação jurídica do
referido país.

A saber, as Ordenações do Reino, que vigoraram no Brasil colonial já traziam


resquícios de todas as normas que ao longo do tempo foram estipuladas – em se tratando de
dano moral – mas que confundiam a reparação, pena e multa, mas que simbolizaram um
início de conteúdo a ser trabalhado num futuro país que dali surgiria. (GONÇALVES, 2016).

Portanto, após reiteradas normas versarem sobre o instituto que trata sobre direito
personalíssimo, todos os feitos são encaminhados, de maneira longa e gradual, até que se
chegue a um país de pouco desenvolvimento, de surgimento recente e que após muitos anos
de luta e progresso criaria normas que atendessem a todas as esferas do Direito, incluindo o
direito a reparação do dano extrapatrimonial.

2.1.1 Progressão do Instituto de Dano Extrapatrimonial no Brasil

Após dissertação acerca da evolução histórica à nível mundial, cabe a investigação


acerca do surgimento e da evolução do dano extrapatrimonial no Brasil. Conforme as
informações trazidas por Gonçalves (2016), o primeiro Código Criminal, datado de 1830, teve
sua origem no Brasil império, que abordava matéria tanto de Direito Penal, quanto de Direito
Civil, fundado em sólidas bases da justiça e equidade, previa a reparação natural, sempre que
possível, ou a indenização, a transmissibilidade do dever de reparar bem como o crédito de
indenização aos herdeiros, dentre outros direitos e deveres de cunho civil, relacionados a
responsabilização.

Somente com o advento do primeiro Código Civil Brasileiro, em 1916, as redações


dos arts. 76, parágrafo único, 79 e 159, proporcionaram as primeiras defesas da tese de
reparabilidade do dano extrapatrimonial (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2016),
conforme segue abaixo os referidos dispositivos (BRASIL, 1916):
20

Art. 76. Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo
interesse econômico, ou moral.
Parágrafo único. O interesse moral só autoriza a ação quando toque
diretamente ao autor, ou à sua família.
[...]
Art. 79. Se a coisa perecer por fato alheio à vontade do dono, terá este a ação
pelos prejuízos contra o culpado.
[...]
Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a
reparar o dano.
Neste sentido, resta comprovado que o Direito Civil passou a ocupar o conteúdo sendo
o portador de seu estandarte, e dando progressão e evolução aos seus conceitos, como ainda
assevera Beviláqua (1943, p. 319), ainda sobre o Código Civil de 1916:

Em meu sentir, o sistema do Código Civil, nas linhas gerais, relativamente


ao ponto questionado, é o seguinte: a) Todo dano seja patrimonial ou não,
deve ser ressarcido, por quem o causou, salvante a excusa de força maior
que, aliás, algumas vezes não aproveita, por vir precedida de culpa. É regra
geral sujeita a excepção; b) Com razão mais forte, deve ser reparadoo damno
proveniente de ato ilícito (artigos 159 e 1.518); c) para reparação do damno
moral, aquelle que se sente lesado dispõe de acção adequada (artigo 76,
parágrafo único); d) Mas o damno moral, nem sempre, é ressarcível, não
somente por não se poder dar-lhe valor econômico, por não se poder apreçá-
lo em dinheiro, como ainda, porque essa insufficiência dos nossos recursos
abre porta a especulações deshonestas, acorbetadas pelo manto de
sentimentos affectivos. Por isso, o Código Civil afastou as considerações de
ordem exclusivamente moral, nos casos de morte e lesão corpóreas não
deformantes (artigos 1.537 e 1.538); e) Attendeu, porém, a essas
considerações, no caso de ferimentos, que produzem aleijões ou
deformidades (artigo 1.538, parágrafos 1º e 2º); tomou em consideração o
valor da affeição, providenciando, entretanto, para impedir o arbítrio, o
desvirtuamento (artigo 1.543); as offensas à honra, à dignidade e à liberdade
são outras tantas formas de damno moral, cuja a indemnização o Código
Disciplina; f) Além dos casos especialmentes capitulados no Código Civil,
como de damno moral resarcível outros existem que elles remette para o
arbitramento, no artigo 1.553, que se refere, irrecusavelmente, a qualquer
modalidade de damno, seja patrimonial ou meramente pessoal.

É inegável que após o CC/1916, sobrevieram várias leis que trataram sobre o mesmo
tema, como por exemplo, o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei n. 4.117, de 27 de
agosto de 1962); o Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965); a Lei de imprensa,
que atualmente encontra-se revogada (Lei n. 5.250, de 9 de fevereiro de 1967); a Leis dos
Direitos Autorais (Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de 1973).

Todas as mencionadas leis dataram de época anterior a presente Constituição Federal


de 1988, e que após, surgiram outras, como: o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.
21

8.069, de 13 de julho de 1990); o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11 de


setembro de 1990). Discorre-se, ainda sobre tais informações:

Apesar das ilustres vozes discordantes, prevaleceu, portanto, no direito


brasileiro, num primeiro momento, a tese proibitiva da ressarcibilidade do
dano moral, admitindo-a somente em hipóteses especiais expressamente
previstas no Código Civil ou em leis extravagantes.
Somente, o fato, com a promulgação da vigente Constituição Federal, em 5
de outubro de 1988, é que se pode falar, indubitavelmente, da ampla
reparabilidade do dano moral no direito pátrio, pois a matéria foi elevada ao
status dos “Direitos e Garantias Fundamentais” (Título II da CF/88).
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2016, p. 120).

O sabido é que a Constituição de 1988 veio dar fim na resistência à reparação do dano
moral, que outrora existira. Ocorre que a argumentação utilizada na época, que não haveria
princípio geral que norteasse o referido instituto, desaparece, passando, a reparação de dano
moral, a integrar definitivamente o direito positivo vigente. Com a posição tomada pela
Constituição Federal o princípio da reparação do dano moral encontrou alicerce, que o inseriu
em canonicidade do direito positivo, tornando-se ainda um princípio de natureza cogente o
que estabelece a reparação por dano moral no direito vigente no Brasil, obrigatório para o
legislador e para o juiz e para todos aqueles que estão abaixo da lei. (PEREIRA, 1992).

Posteriormente a vigência da Constituição Federal, surge um novo Código Civil, em


2002, que visa arrematar tudo quanto fora arguido em outras legislações, é ele o possuidor
principal da matéria, seria o alvo das atenções e pesquisas jurídicas quando fosse necessária a
busca desse conteúdo. Reale (1978, p. 176-177), disserta:

Pois bem, quanto a estrutura ou natureza de um negócio jurídico – como


transporte, ou de trabalho, só para lembrar os exemplos mais conhecidos –
implica a existência de riscos inerentes à atividade desenvolvida, impõe-se a
responsabilidade objetiva de quem dela tira proveito, haja ou não culpa. Ao
reconhecê-la, todavia, leva-se em conta a participação culposa da vítima, a
natureza gratuita ou não de sua participação no evento, bem como o fato de
terem sido tomadas as necessárias cautelas, fundadas em critérios de ordem
técnica. Eis aí como problema é posto, com devida cautela, o que quer dizer,
com a preocupação de considerar a totalidade dos fatores operantes, numa
visão integral e orgânica, num balanceamento prudente de motivos e valores.

O atual Código Civil brasileiro reconhece em seu artigo 186 a existência de um dano
extrapatrimonial, “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
(BRASIL, 2002), de sorte que, o artigo 927, reconhece a reparabilidade do referido dano
22

“Aquele que por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002)
adequado em tudo, de forma expressa a legislação civil ao novo perfil constitucional.

A inovação constante do artigo 927 do Código Civil é de suma importância e


representa, sem sombra dúvida, um avanço, em matéria de responsabilidade civil. Pois a
admissão da responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua natureza,
apresenta riscos aos direitos de outrem da forma genérica como consta do texto, possibilitará
ao judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável, formando jurisprudências que
visem a proteção do bem que é impalpável e sensível a todo ser humano, cuja a dignidade e
integridade de ser preservada em grau máximo, sem reservas, de maneira a garantir a boa
qualidade de vida que é visada obter por todas as sociedades que compõe a terra.
(GONÇALVES, 2016).

Para tanto, a garantia de proteção aos direitos personalíssimos, assegurado pela


previsão normativa de reparabilidade aos danos causados a ele, encontra âncora no Brasil,
momento este em que há uma evolução considerável nas normas e aplicações, posto que se
faz necessária, como deveras perpassado, tal regulamentação, uma vez que inibe e previne a
incidência desses danos lesivos. Portanto, a evolução normativa do Brasil, nesse sentido, fora
favorável.

2.1.2 Histórico do Dano Extrapatrimonial no Direito do Trabalho

Inicialmente, é cabível afirmar que houvera um acontecimento que marcou a história


do Direito do Trabalho, no que tange à apreciação do dano extrapatrimonial, qual seja a
Emenda Constitucional nº 45/2004, que determinou grandes alterações a competência da
Justiça Trabalhista, que anteriormente, estava apenas reservada à solução de litígios entre
empregados e empregadores e tão somente a poucas outras demandas, como por exemplo:
casos de trabalhadores avulsos e temporários.

A Emenda Constitucional n. 45/2004 veio introduzir a mais profunda


modificação no Direito Processual do Trabalho – e, indiretamente, também
no Direito Material do Trabalho – ao determinar a competência da Justiça
do Trabalho para “processar e julgar as ações oriundas da relação de
trabalho” (art. 114, I), abandonando as referências a “empregado” (ou
“trabalhador”) e “empregador”, para fixá-la na matéria objeto dos
processos: questões derivadas da relação de trabalho. (GIGLIO, 2005, p.
186)
23

A referida Emenda Constitucional veio justamente instituir e adicionar à competência


da Justiça do Trabalho, aquele que está sendo o alvo da presente monografia, qual seja, o
dano extrapatrimonial ou moral, como também é denominado.

Cumpre frisar que a EC n. 45/2004, traz alterações, especificamente, ao artigo 114 da


Constituição Federal, que dispõe o transcrito abaixo (BRASIL, 1988):

Art. 114 – Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:


[...]
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho.

Conforme preleciona Sangalli (2006), com a ampliação da referida Emenda à


Constituição, estabeleceu novas atribuições, quais sejam o julgamento de ações sobre
representação sindical, indenização por dano moral ou patrimonial resultantes da relação de
emprego e trabalho, para solucionar conflitos de competência, e execução de contribuições
sociais decorrentes das sentenças. A justiça trabalhista ainda obteve a capacidade e
legitimação para julgar mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria de Direito do Trabalho.

(...) O legislador constituinte estendeu a competência da Justiça


Especializada para a solução de outras controvérsias, outros conflitos,
não importando se de outra esfera do direito, mas sim que seja derivante
da relação de emprego. É, porém, da Justiça Laboral a apreciação do
dano moral que decorre da relação empregatícia. (FLORINDO, 1995, p.
319)

Haja vista já existir um entendimento unânime acerca da competência para a


apreciação do pedido de reparação de danos morais e materiais decorrentes da relação de
emprego, constata-se que essa competência pertence de maneira afirmativa à Justiça do
Trabalho, por meio da Constituição do Brasil de 1988. Encontrando por alicerce
fundamental, o arguido no trecho abaixo em que é exposto os motivos pelos quais é
necessário o trato sobres os assuntos advindos da relação de emprego pelo juiz do Trabalho.

Os motivos pelos quais a posição que assumo é favorável à primeira corrente


(pela competência da Justiça do Trabalho) são em suma: [...] b) o julgador
trabalhista está mais afeito à matéria, sendo mais sensível aos problemas da
rotina trabalhista, o que gera a presunção juris tantum de que as decisões
tendam a ser mais acertadas ou adequadas à realidade; c) a adoção deste
critério de competência atende aos princípios da economia e celeridade
processual, pois seria oneroso às partes, além de moroso, esperar o
pronunciamento de dois órgãos jurisdicionais distintos, o que ensejaria, na
prática, a suspensão da demanda na esfera civil até o julgamento no âmbito
24

trabalhista; d) evita-se a ocorrência de decisões conflitantes (SANCHES,


1997, p. 36).

Portanto, existe um marco importante que faz as normas que apresentam o dano
extrapatrimonial pertencerem ao Direito do Trabalho, posto que conforme o artigo 8º,
parágrafo único da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – dispõe que “O direito
comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível
com os princípios fundamentais deste. ” (BRASIL, 1943).

Para Dallegrave (2007), a CLT, no mesmo parâmetro do antigo Código Civil, não se
ocupou detidamente dos direitos de personalidade, com algumas raras exceções à exemplo
da justa causa que viola a honra e a boa fama ou mesmo os casos de vedação à revista íntima
após o expediente. Tudo ficou limitado ao plano meramente patrimonial próprio da época em
que se editou a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943. Mesmo assim, sendo o
empregado necessariamente pessoa física, os direitos de personalidade encontram-se
inevitavelmente em causa em todo e qualquer contrato de trabalho.

Atualmente, estando vigente a reforma trabalhista, com o advento da Lei n. 13.467 de


13 de julho de 2017, tem-se um título especial tratando sobre o referido assunto, qual seja, o
dano extrapatrimonial, conteúdo este objeto alvo dos estudos – ora redigidos – portanto,
pontuando, especificamente no artigo 223-G 1e parágrafos que compõe o título II-A, relativo
ao Dano Extrapatrimonial que já integra a presente CLT (BRASIL, 1943).

1
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
I - a natureza do bem jurídico tutelado;
II - a intensidade do sofrimento ou da humilhação;
III - a possibilidade de superação física ou psicológica;
IV - os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;
V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;
VI - as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral;
VII - o grau de dolo ou culpa;
VIII - a ocorrência de retratação espontânea;
IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa;
X - o perdão, tácito ou expresso;
XI - a situação social e econômica das partes envolvidas;
XII - o grau de publicidade da ofensa.
§ 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos
seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;
II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;
III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
§ 2o Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos parâmetros
estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
§ 3o Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização.
25

No presente texto normativo, tem-se uma das inovações trazidas pela reforma, o artigo
mencionado retrata a tarifação, ou seja, uma forma de tabelar as decisões proferidas acerca
das indenizações por dano extrapatrimonial, tendo por base o último salário recebido pelo
empregado que sofrera a lesão, conforme o parâmetro jurisdicional do que seria um dano de
natureza leve, grave ou gravíssima, para então estipular a indenização pecuniária.

Logo após o início da vigência da reforma trabalhista, foi expedida a Medida


Provisória n. 808 de 14 de novembro de 2017, pelo Presidente Michel Temer, que suprimiu e
alterou o parágrafo primeiro da referida norma, que ademais será analisado, fazendo com que
houvesse mudança no limite da tarifação para reparação do dano moral conforme casos
diferentes do que a reforma propôs. Entretanto, em 23 de abril 2018 a referida Medida
Provisória teve o fim de sua vigência, apesar de tal ocorrido, cumpre destacar abaixo o teor
que vigorou nos cinco meses que precederam a Lei n. 13.467/2017 (BRASIL, 2017):

§ 1º Ao julgar procedente o pedido, o juízo fixará a reparação a ser paga, a


cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a
acumulação:
I - para ofensa de natureza leve - até três vezes o valor do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social;
II - para ofensa de natureza média - até cinco vezes o valor do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social;
III - para ofensa de natureza grave - até vinte vezes o valor do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social; ou
IV - para ofensa de natureza gravíssima - até cinquenta vezes o valor do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
A alteração trazida pela Medida Provisória nº 808/2017, traz, também, suas
implicações, bem como benefícios e malefícios quando se vislumbra a reforma trabalhista,
de modo que será, em itens posteriores, melhor explanado sobre as possíveis consequências
que tal medida trouxera.

Em linhas gerais, resta comprovado, que a competência da Justiça do Trabalho está


expressa no artigo 114 da Constituição Federal, não há mais divergências a serem analisadas
quanto a esse aspecto, apenas será explicitado quanto a nova tarifação estipulada, no que se
refere à infringência dos princípios e normas de Direitos Fundamentais e do próprio Direito
do Trabalho, assim como, analisar a possibilidade de ser um parâmetro fundamental e
concreto para decisões judiciais.
26

3 DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Considerando o histórico relatado, em capítulo anterior, restou explicito que o dano


extrapatrimonial não surgiu da simples ideia ou vontade exclusiva de algum indivíduo,
porém, originado pela intervenção de um superior – por muitas vezes, divindades ou – a
favor dos desfavorecidos, incumbidos de proporcionar a ordem e o bom andamento da vida
em sociedade.

Atualmente, é revelada uma legítima opção intervencionista do Estado, em se


tratando de dano moral, no campo das liberdades individuais e sociais no sentido de,
paradoxalmente, por via de vedações ou de restrições do exercício de certos direitos ou
interesses, sejam materiais ou imateriais, para proteger a sociedade vulnerável contra lesões
ou ameaças provenientes de seus próprios titulares ou de terceiros (VENTURI, 2016).

Notória é a intervenção do Estado nas relações entre particulares, por isso, a relação
trabalhista (empregatícia) é incluída no rol de relações que são normatizas e controladas pelo
referido ente, ressalvando sempre a liberdade dentro dos limites estabelecidos em leis, não
gerando, desse modo, prejuízos a nenhuma das partes abarcadas pela relação de trabalho e
emprego.

Conforme Romita (2017), a intervenção do Estado aplica interferência nas relações


entre particulares, também, sob justificativa que na evolução histórica do Direito do
Trabalho, passou-se gradualmente da necessidade de tutela dos benefícios de natureza
pecuniária ao reconhecimento das consequências derivadas da implicação da pessoa do
trabalhador no desenvolvimento da relação de emprego: se uma das partes, como o
empregador, utiliza somente valores econômicos e bens patrimoniais, a outra, o empregado,
envolve e aplica a própria pessoa, ou seja, suas forças, bem como a integridade física e
psíquica na relação, tendo-se, a partir de então, a necessidade da adoção de um complexo de
garantias particulares atinentes à posição jurídica típica dessa situação.

Para tanto, o Estado, por meio do Poder Legislativo, passara a criar normas que
regem as relações entre particulares, adornando a ela princípios, direcionamentos e,
consequentemente, jurisprudências, aos quais, está intimamente inserida a matéria de Direito
do Trabalho, que conforme supracitado, tem a incumbência de tratar de vínculos entre
particulares, sendo o Estado quem dirige, tal relação, para que não haja abuso de nenhuma
27

das partes.

3.1 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS QUE SOLIDIFICAM O DANO


EXTRAPATRIMONIAL EM MATÉRIA DE DIREITO DO TRABALHO

O primeiro conceito fundamental para se chegar ao cerne da questão trata acerca de


um dos mais nobres e respeitáveis Direito, cabível a qualquer ser humano e qualquer relação,
seja este os Direitos Humanos, encontrados atualmente na Declaração de Direitos Humanos
de 1948 (ONU, 1948), que já em seu artigo primeiro retrata a igualdade e a dignidade
inerentes aos seres humanos, tendo como requisito o nascimento com vida, conforme expõe
de maneira mais fundamentada, Marmelstein (2014), declarando que não há nada que
diferencie um ser humano de outro, nem a cor da pele, nem a condição física, nem status
social ou econômico. Sendo assim, resta claro que não há diferenciação entre pessoas, apenas
tendo por único pré-requisito o nascimento com vida, ou, seja liberdade, igualdade e
dignidade são características inatas ao humano, conforme a declaração dos Direitos Humanos.

Discorre Piovesan (2003), sobre a necessidade de se ter a clara e límpida consciência


de que todo ser humano tem uma dignidade que lhe é inerente, sendo incondicionada, não
dependendo de qualquer outro critério, senão ser humano, propriamente dito. Tendo de ser
difundido o valor da dignidade humana para ser projetado, assim, por todo o sistema
internacional de proteção. Todos os tratados internacionais, ainda que assumam a roupagem
do positivismo jurídico, incorporam o valor da dignidade humana. Devendo ser aplicado
inclusive nas normas trabalhistas de cunho nacional.

Ainda, sobre o Princípio da Dignidade da pessoa humana, assevera Sarlet (2001, p.


60):

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor


do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais
que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência da
vida em comunhão com os demais seres humanos.

No que tange ao Direito do Trabalho e a dignidade, já antes mencionada, vem sendo


prelecionada desde 1789, no artigo XVIII, da Declaração de Direitos do Homem e do
Cidadão, reconhecendo a dignidade do homem, nos que diz respeito a uma relação digna entre
empregado e empregador. Mais tarde, em 1948, é promulgada a atual Declaração dos Direitos
28

Humanos, que em seu artigo 23 (ONU, 1948), versando novamente sobre a dignidade e a
igualdade que devem ser acolhidas ao empregado, em que a este é assegurado igualdade de
tratamento, remuneração igual para igual trabalho desempenhado, dentre outras salvaguardas
garantidas ao trabalhador.

Em âmbito nacional, é indispensável destacar a Constituição da República de 1988


(BRASIL, 1988), que em seu artigo 5º, discorre sobre a igualdade de todos perante a lei,
sendo que a lei será aplicada de igual maneira, dará os mesmos direitos e imporá os mesmos
deveres a todos os cidadãos indistintamente, e o ato normativo será aplicado a população de
maneira neutra, segundo Masson (2017), que institui a aplicação de um princípio
fundamental, o princípio da igualdade, que aparece novamente no artigo 7º do mesmo
ordenamento jurídico, estabelecendo igual tratamento entre trabalhadores.

Em se tratando, ainda, de Direitos Constitucionais que abarcam o Princípio da


igualdade, traz-se o seguinte trecho:

Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um à sua diferença.
Gente não muda. Muda o invólucro. O miolo, igual. Gente quer ser feliz, tem
medos, esperanças e esperas. Que cada qual vive a seu modo. Lida com as
agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é sofrido igual. A
alegria, sente-se igual. (ROCHA, 2004, p. 65)

Ocorre, que não apenas à igualdade o Direito Constitucional se converge, mas para a
desigualdade. Desde tempos pretéritos, é cediço, que não existe a possibilidade de tratar todos
de maneira igual, posto que a sociedade, ao longo do tempo, é composta de diversas pessoas
desiguais, e compostas de condições especiais, na medida de sua individualidade, faz saber,
Fernandes (2017, p. 461-462) em consonância com o que fora exposto:

[...] igualdade é geralmente desenvolvida no significado das expressões


„igualdade na lei‟ e „igualdade perante a lei‟. Enquanto a primeira seria
direcionada ao legislador, a segunda seria dirigida aos aplicadores do direito.
É clássica a posição exarada pelo Ministro Celso de Mello, que em
interessante síntese, explicitou que: „(...) o princípio da isonomia – cuja
observância vincula todas as manifestações do Poder Público – deve ser
considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir
privilégios, sob duplo aspecto: a) o da igualdade na lei e b) o da igualdade
perante a lei. A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade
puramente abstrata – constitui exigência destinada ao legislador, que, no
processo de formação do ato legislativo, nele não poderá incluir fatores de
discriminação responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. (...) A
igualdade perante a lei, de outro lado, pressupondo lei já elaborada, traduz
imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma
legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo
ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo
29

legislador, em qualquer das dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por


ele elaborado e produzido, a eiva de inconstitucionalidade‟.
Entendemos que essa distinção, tão bem exarada por Celso de Mello,
atualmente deve ser relativizada, na medida em que há entendimento, já
consolidado (doutrinário e jurisprudencial), de que a previsão constitucional
da „igualdade perante a lei‟ (princípio da igualdade) tem como destinatários
todos os poderes (legislativo, executivo e judiciário) incluindo, até mesmo,
os particulares nas relações privadas (direitos fundamentais nas relações
privadas).

Conforme acima mencionado, é nítida a ideia de que se faz necessária, para apreciação
da reforma trabalhista o atendimento às igualdades mencionadas, a igualdade da lei e a
igualdade perante a lei, uma vez que na criação da lei n. 13.467/2017 já fora sido determinada
a desigualdade de tratamento entre trabalhadores ao firmar, segundo deveras reiterado, a
tarifação do dano imaterial. Ao aplicar tal lei, o judiciário ainda tem uma vasta
disponibilidade para aplicar a norma trabalhista, podendo ensejar em exageradas
desigualdades e nenhum cumprimento da finalidade de indenização de dano extrapatrimonial,
como será abaixo explicitado.

Partindo a ótica da Consolidação das Leis Trabalhista (BRASIL, 1943), abarcando,


ainda, a reforma trabalhista, tem em seus artigos 5º 2e 461 3a mesma ideia trazida
anteriormente em outros ordenamentos jurídicos já referidos, igualdade entre trabalhadores,
não fazendo distinções de nenhum tipo entre os prestam serviços laborais e exercem a mesma
função, seja tratamento desigual em razão da cor, do gênero, do sexo, da nacionalidade ou até
mesmo da idade.

Nos ditames do mencionado por Martins (2005) apud Jorge Neto e Cavalcante (2010),
tratando sobre o indispensável Princípio do Direito do Trabalho, qual seja, o da proteção,
descreve que o ramo do Direito do Trabalho nasceu e se desenvolveu à mercê de excessivas
explorações dos trabalhadores, principalmente após o surgimento da primeira revolução
industrial, que ocorrera no século XVIII, de onde surgira a descoberta do vapor como fonte de
energia, causando uma grande expansão da indústria e do comércio, com a substituição do
trabalho escravo pelo assalariado. Nesse sentido, o princípio protetor encontra escopo pela
natural desigualdade em que se identifica entre os partícipes da relação de emprego: sendo o
trabalhador, subordinado e hipossuficiente, contratando com o empregador, normalmente de
maior poderio econômico e detentor do mando.

2
Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de sexo.
3
Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo
estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.
30

No limiar desse conflito surge o Direito do Trabalho como um meio de tutelar, criando
normas que visem inibir essa natural desigualdade e, dentro dele, o Princípio protetor busca
auxilia nesse mister, com uma estrutura no interior da ordem trabalhista, com suas regras,
institutos, princípios e presunções próprias, um complexo de proteção à parte mais vulnerável
na relação empregatícia, o obreiro, tendo por único objetivo retificar, no plano jurídico, o
desequilíbrio inerente ao plano fático de contrato (DELGADO, 2014).

Entretanto, é entendimento doutrinário que o princípio da proteção é apenas gênero,


existindo dentro deste conceito, três espécies de amplitude do alcance desse reduto ao
trabalhador, tendo ainda a) a prevalência da norma mais favorável ao trabalhador; b)
prevalência da condição mais benéfica; e c) in dubio pro operário. Todos esses harmonizam
em uma mesma finalidade de oferecer amparo e igualdade ao empregado na relação laboral.
(CASSAR, 2014).

Não obstante o Princípio protetor abarcar um leque extenso de possibilidades de


guarida ao trabalhador, em se tratando das novas normas trabalhistas – a lei n. 13.467/2017 –
converge-se o ponto de conflito diretamente para a ramificação do referido princípio que
aborda a prevalência da norma mais favorável, que sobre uma melhor conceituação assevera
Martins (2005, p. 97):

A aplicação da norma mais favorável pode ser dividida em três maneiras: (a)
a elaboração da norma mais favorável, em que as novas leis devem dispor
de maneira mais benéfica ao trabalhador. Com isso se quer dizer que as
novas leis devem tratar de criar regras visando a melhoria da condição
social do trabalhador; (b) a hierarquia das normas jurídicas: havendo várias
normas a serem aplicadas numa escala hierárquica, deve-se aplicar a quer for
mais favorável ao trabalhador. Assim, se o adicional de horas extras previsto
em norma coletiva for superior ao previsto na lei ou na Constituição, deve-se
aplicar o adicional da primeira. A exceção à regra diz respeito a normas de
caráter proibitivo; (c) a interpretação da norma mais favorável: da mesma
forma, havendo várias normas a observar, deve-se aplicar a regra mais
benéfica ao trabalhador. O art. 620 da CLT prescreve que „as condições
estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as
estipuladas em acordo‟. A contrario sensu, as normas estabelecidas em
acordo coletivo, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas
em convenção coletiva. (grifo nosso)

Resta claro, portanto, que tudo quanto for normatizado em prol do trabalhador ou em
matéria de Direito do Trabalho, seja o dano extrapatrimonial ou qualquer outra matéria, deve
estar consonante com os princípios que regem o tal, visto que as normas devem ser criadas e
regidas para o benefício do indivíduo que empenha suas forças e seu intelecto para um
empregador, que muitas vezes detém forte vantagem econômica e política ao seu dispor, por
31

isso se faz mister a obediência e a submissão a tal princípio antes de qualquer elaboração de
leis que tratam das relações trabalhistas, e para garantia da dignidade desse empregado.

Postas todas essas afirmações, cumpre agora, dispor que o intento de trazer ao Direito
do Trabalho o instituto do dano moral, nada mais visa que a garantia desses direitos a vida do
trabalhador, enquanto subordinado. Faz, também, com que haja algum tipo de coação ao
empregador, para que esse evite causar danos ao psicológico, imagem ou até mesmo
integridade física do empregado. Trazendo também o conceito de Direito a igualdade para que
possa ser demonstrado e mantido o equilíbrio nas relações de emprego e trabalho, condições
essas, que são naturalmente desiguais.

Portanto, cumpre perpassar que o Direito do Trabalho entra em harmonia com os


Direitos Humanos Universais e com os Direitos Fundamentais Constitucionais, para que
possa garantir ao empregado a dignidade de vida em seu ambiente de labor, para que esse
mantenha a sua boa imagem, boa fama, e boa integridade física, bem como, possua condições
respeitáveis de trabalho e foi, justamente, isso que o instituto da reparação do dano
extrapatrimonial veio trazer ao Direito do Trabalho: dignidade, igualdade de tratamento,
valoração e proteção das faculdades e do psicológico do trabalhador.

3.2 FINALIDADES DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS RELAÇÕES


LABORAIS

Após dissertar acerca do conceito, histórico, fundamentos e princípios que baseiam e


justificam o dano imaterial nas relações de trabalho, cumpre, neste momento, dispor acerca de
sua finalidade, ou seja, a função para qual este instituto se converge, tanto para o empregado,
quanto para o empregador. Perscrutar, também, qual o objetivo que a reparação de dano moral
visa atingir, e quais as implicações desses objetivos com a reforma trabalhista (Lei n.
13.467/2017).

Primeiramente, para que haja responsabilização de uma parte para o efetivo


pagamento da indenização de dano moral, é necessário que exista, nas palavras de Santos
(1998), três elementos configuradores do dano extrapatrimonial, sendo: a) ação ou omissão do
agente (ofensor); b) lesão propriamente dita, um resultado que implique em real transtorno
para o ofendido; e c) nexo causal entre o dano e a ação alheia, ou seja, deve existir liame entre
a conduta do ofensor e o resultado que causou lesão ao ofendido.
32

Já Diniz (2007, p. 144), traz mais explicações e esclarecimentos acerca do dano moral
em matéria trabalhista:

O constrangimento ou o dano moral advindos de relações trabalhistas têm


constituído um problema em razão do fato de os ocupantes de cargos de
chefia, técnicos altamente eficientes, terem dificuldade no relacionamento
com os seus subordinados para fiscalizar ou impor disciplina no ambiente de
trabalho, chegando, às vezes, não só a desrespeitar a sua intimidade, sua
saúde físico-psíquica, sua imagem, sua honra ou o seu nome, mas também a
ter conduta discriminatória em razão de sexo, raça, idade ou deficiência
física ou que configure assédio moral.

Ora, havendo a configuração do dano imaterial e preenchendo-se os requisitos acima


apresentados, a lesão é passível de indenização em pecúnia a fim de amenizar a dor
experimentada pelo ofendido decorrentes desses corriqueiros problemas de relacionamento
em que o lado mais forte sempre prevalecerá sobre o mais fraco.

Quanto à indenização e reparação, o que se busca ao se perquirir danos imateriais,


Reis (2000, p. 71) diz:

Há componentes de natureza axiológica, se atentarmos para o fato de que o


ato de reparar ou refazer o patrimônio do ofendido não representa apenas um
dever funcional da responsabilidade civil, especialmente no plano das
indenizações situadas na esfera dos danos não patrimoniais. Aqui, o que se
espera é a dignidade da pessoa ofendida. Nesse caso, a indenização assume
uma importante função em defesa de novos valores.

Portanto, pode-se observar que a finalidade do dano extrapatrimonial é a reparação,


em pecúnia, vez que não é possível retornar o status quo anterior à lesão, posto que se está
tratando de bem personalíssimo, inerente ao ser humano, impossível de haver completa e
plena reparação. Ainda, nesse aspecto, Venosa (2005), argui que a indenização não cumpre
apenas com a finalidade de tentar restabelecer o estado anterior à lesão, mas busca uma
função reparadora no plano dos valores imateriais ou axiológicos.

No entendimento de Oliveira (2006, p.197), traz contribuições sobre algumas


diretrizes estabelecidas para indenização:

a) a fixação do valor a duas finalidades básicas que devem ser ponderadas


conforme as peculiaridades do acidente: compensar a dor, o constrangimento
ou o sofrimento da vítima e combater a impunidade; b) é imprescindível
considerar o grau de culpa do empregador e a gravidade dos efeitos do
acidente ou doença ocupacional; c) o valor arbitrado não deve servir para
enriquecimentos da vítima, nem de ruína para o empregador; d) o
arbitramento deve ser feito com a devida prudência, mas temperada com a
necessária coragem, fugindo dos extremos dos valores irrisórios ou dos
montantes exagerados, que podem colocar em descrédito o Poder Judiciário
e esse avançado instituto da ciência jurídica; deve-se ter em conta a situação
33

econômica das partes, especialmente para que a penalidade tenha efeito


prático e repercussão na política administrativa patronal; f) ainda que a
vítima tenha suportado bem a ofensa, permanece a necessidade de
condenação, pois a indenização pelo dano moral tem por objetivo também
uma finalidade pedagógica, já que demonstra para o infrator e a sociedade a
punição exemplar para aquele que desrespeitou as regras básicas de
convivência humana.

Neste parecer, pode-se observar alguns critérios dispostos no atual artigo 223-G da lei
n. 13.467/2017, com seu caput e incisos, listando doze parâmetros para atuação do
magistrado.

Portanto, observa-se, mediante as contribuições dos doutrinadores, que as finalidades


do instituto de dano imaterial consistem em: reparar o máximo possível do dano sofrido pelo
ofendido, considerando sua condição financeira, a fim de que não venha a enriquecer (sem
causa) com a indenização; a condição financeira do ofensor, uma vez que é injusto reduzir
exageradamente seus bens, a ponto de torná-lo miserável; e essa reparação deve ter,
implicitamente, cunho pedagógico ao ofensor e à sociedade para que previna possíveis casos
de lesões personalíssimas.

3.2.1 Reparação do Dano ao Ofendido

Evidencia-se, de logo, que o bem afligido e cujo o instituto de dano extrapatrimonial


busca proteger é o direito personalíssimo, que segundo Borges (2005), são próprios do ser
humano, próprios da pessoa. Não se tratando de direito à personalidade, mas de direitos que já
decorrem da personalidade humana preexistente advinda com o nascimento com vida. Com os
direitos da personalidade, protege-se o direito à vida, à integridade física e psíquica, à
integridade intelectual, ao próprio corpo, à intimidade, à privacidade, à liberdade, à honra, à
imagem, ao nome, dentre outros. Sendo esses os bens jurídicos mais fundamentais estando
contidos nos direitos da personalidade.

No entanto, se perfaz de difícil percepção a reparação de um direito que é inato ao ser


humano e que envolve elementos subjetivos, contrários ao elemento que concretiza e
materializa a reparação, qual seja, o dinheiro, mas que, no entendimento de Rodrigues (2000,
p. 191) tomam o seguinte direcionamento:

O dinheiro provocará na vítima uma sensação de prazer, de desafogo, que


visa compensar a dor, provocada pelo ato ilícito. Isso ainda é mais
34

verdadeiro quando se tem em conta que esse dinheiro provindo do agente


causador do dano, que dele fica privado, incentiva aquele sentimento de
vingança que quer se queira, quer não, ainda remanesce no coração dos
homens.
A contribuição acima exposta exprime que o dinheiro não solucionará o problema ou
reverterá o dano, no entanto trará a sensação de justiça, de recompensa, de reconhecimento de
que o dano sofrido não passou desapercebido pelos olhos do Estado – principal responsável
em promover a justiça e a igualdade social – ora, em se tratando do sentimento de vingança
que tem o ofendido, este contêm sua revolta quando vê o ofensor pagar pelo mal que realizou
e isso contenta o atingido pelo dano.

Nonato (2004) apud Diniz (2007) contribui dissertando que as tristezas se compensam
ou se neutralizam com as alegrias, entretanto, esses fatores de neutralização não são obtidos
pela via direta do dinheiro, pois não se está dando preço, ou pagando, a dor e a tristeza, mas se
realiza de maneira indireta, ensejando valores econômicos que propiciem ao lesado do dano
imaterial uma sensação de bem-estar ou contentamento. Se mostrando inequívoco que o
dinheiro não possui quaisquer capacidades de eliminar a dor experimentada pelo ofendido,
sendo apenas um lenitivo para o prejuízo sofrido que atenuará a consequência do prejuízo por
ele arcado a partir de uma projeção de melhoria futura com a aquisição de objetos outros que,
indiretamente, poderão lhe trazer prazer e formas diferenciadas de felicidade. Apesar do pleito
pela indenização pecuniária, não há um preço para este tipo de sofrimento. Ele é imensurável.

Gonçalves (2016), ainda coopera no mesmo sentido, fazendo distinção entre


ressarcimento e reparação, no qual diz que ressarcimento é o pagamento de todo o prejuízo
material sofrido, abrangendo o dano emergente4 e os lucros cessantes5, o principal e os
acréscimos que lhe adviriam com o tempo e com o emprego da coisa. Já a reparação vem a ser
a compensação pelo dano moral, a fim de amenizar a dor sofrida pela vítima.

Também sobre reparação, Dias (1997, p 724) expõe sobre as formas de ressarcimento
do dano, ainda asseverando:

De duas formas se processa o ressarcimento do dano: pela reparação natural


ou específica e pela indenização pecuniária. O sistema da reparação
específica corresponde melhor ao fim de restaurar, mas a indenização em
4
Dano emergente é tudo aquilo que se perdeu, importando efetiva e imediata diminuição no patrimônio da
vítima, devendo a indenização ser suficiente para a restitutio in integrum. Ele não será composto
necessariamente somente pelos prejuízos sofridos diretamente com a ação danosa, mas incluirá também tudo
aquilo que a vítima despendeu com vistas a evitar a lesão ou o seu agravamento, bem como outras eventuais
despesas relacionadas ao dano sofrido. (CAVALIERI FILHO, 2005, p. 97)
5
“Consiste, [...] na perda do ganho esperável, na frustração da expectativa de lucro, na diminuição potencial do
patrimônio da vítima.” (NOGUEIRA JUNIOR, 2013, p. 28)
35

dinheiro se legitima, substancialmente, pela consideração de que o dano


patrimonial acarreta diminuição do patrimônio e este é um conceito
aritmético.
Dificultoso e custoso é tratar sobre a reparação sem falar sobre as condições em que a
vítima do dano deve retornar ou se encontrar. Grande parte da doutrina afirma que não deve
haver um enriquecimento sem causa, ou seja, não se deve indenizar o ofendido de maneira
exacerbada, a ponto de o tornar rico, ou em condição financeira superior à que detinha antes
da lesão, e é neste entendimento que Diniz (2007, p. 214) auxilia teoricamente:

[...] se poderá fazer tantas liquidações quantas forem necessárias para


avaliação do dano e fixação definitiva da condenação. Se o dano for
comprovado, ele deverá ser reparado, competindo ao prudente arbítrio
judicial examinar os fatos, apreciar as provas e fixar um valor para
indenização, que nunca representará um enriquecimento indevido. Para
tanto o juiz poderá recorrer ao conselho dos peritos, dos árbitros, às
presunções hominis ou facti, ou melhor, ao que é ditado pelas normas da
experiência sob égide do critério do boni viri. Enfim, deverá empregar,
mesmo que a extensão do dano não fique demonstrada, todos os recursos de
seu prudente arbítrio, examinado indícios e presunções, para fixação do
quantum da indenização a que tem direito a vítima. (grifo nosso)

Da diminuição patrimonial obrigatória para se caracterizar o dano patrimonial extrai-


se o princípio segundo o qual o dano só tem relevância jurídica como fato consumado, isto é,
como resultado final de um processo cujas circunstâncias benéficas (atenuantes) ou
prejudiciais (agravantes) foram levadas em conta. Esta ideia corresponde exatamente à
expressão compensatio lucri cum damno (compensação do lucro com o dano) que é usada em
matéria de responsabilidade civil, quando autor do dano pretende diminuir a indenização que
tem de pagar, sob a alegação de que o fato trouxe, por sua vez, a oportunidade para a vítima e
sua família, de obter vantagens pecuniárias que não ocorreriam sem o evento (SILVA, 1974),
devendo, neste limiar, haver proporcionalidade nas presentes decisões acerca do dano
extrapatrimonial.

Assim sendo, se o interesse moral, ao lado do econômico, justifica a ação, é


óbvio que esse interesse é passível de reparação, embora o bem moral não
seja indenizável, por não se exprimir em dinheiro. Não se paga a dor sofrida,
por ser esta inindenizável, isto é, insuscetível de aferição econômica, pois
seria imoral que tal sentimento pudesse ser tarifado em dinheiro ou
traduzido em cifras de reais, de modo que a prestação pecuniária teria
uma função meramente satisfatória, procurando tão-somente suavizar
certos males, não por sua própria natureza, mas pelas vantagens que o
dinheiro poderá proporcionar, compensando até certo ponto o dano que
lhe foi injustamente causado. (DINIZ, 2007, p. 97) (grifo nosso)
36

É inegável que o sistema personalíssimo ou intrínseco do homem, é merecedor de


proteção jurídica. As lesões injustas aos sentimentos de outrem são por si só indenizáveis e
passíveis de reparação justa, independentemente de qualquer outra repercussão que o ato
lesivo possa ter provocado, seja na esfera pessoal, seja na esfera patrimonial da vítima.
(ANDRADE, 2006)

Em suma, deve-se observar, de forma detalhada, os níveis de reparação de indenização


que o dano moral tem alcançado, uma vez que é necessário equilíbrio, para não auferir um
sistema de loteria para quem obtém sucesso no Judiciário, mas para dar resultado justo aos
que tem sua intimidade e personalidade afligida pelas ofensas a ela direcionada.

3.2.2 Cunho Pedagógico ao Ofensor

Outro aspecto indispensável para muitos doutrinadores é o critério preventivo do dano


extrapatrimonial, que por se tratar de dano irreversível, deve ter, ao máximo, sua incidência
mitigada e seus efeitos amenizados para uma coibição de sua externalização, visando não
somente a prevenção e a inibição do ofensor, mas da sociedade que observa os reflexos dessa
infame.
[...] lembrando que a idéia de reparação é muito mais ampla do que a de ato
ilícito: se este cria o dever de ressarcir, há, entretanto, casos de indenização
em que não se cogita a iliceidade da conduta do agente. Daí temos de cuidar
do assunto tratando primeiramente da reparação originária da culpa e depois
daquela a que é estranha a sua noção. (PEREIRA, 1992, p. 391)

Inafastável, contudo, que a condenação pelo dano moral exerce igualmente importante
papel educativo, dissuasório ou pedagógico no princípio geral do neminem laedere6. Ser
responsável, para a maioria dos cidadãos, não é somente responder por uma grande soma em
dinheiro, mas também por uma contribuição ou garantia social, sendo tal garantia social a
segurança que seu próprio direito será resguardado. Em muitas oportunidades, o ordenamento
explicita essa finalidade: as modalidades de indenização do Código de Defesa do Consumidor
são exemplos característicos. (VENOSA, 2005).

6
Nas palavras de Donnini (2009), o princípio neminem laedere – a ninguém ofender ou lesar – demonstra, com
clareza, a filosofia de Epicuro, que considera o resultado de um compromisso de utilidade, sob a justificativa de
os homens não se prejudicarem uns aos outros. É considerada uma regra de direito natural, enquanto os estoicos
determinavam como regra de vida a observância à razão e à natureza, tal qual a virtude, o Epicurismo propõe a
felicidade, no sentido de bem-estar individual e coletivo.
37

Indubitavelmente que a função e a dissuasão são importantes, enquanto sejam capazes


de produzir efeitos no íntimo do lesionador, uma vez que concorre para mudança do seu
comportamento ofensivo no que tange à prática de atos antijurídicos. Assim, tendo
conhecimentos antecipado das consequências que seu ato danoso irá causar, bem como dos
inevitáveis resultados sobre outra pessoas e patrimônio, o agente ofensor avaliará o seu
comportamento antissocial, no sentido de agir em contrário a sociedade, refreando-se,
evitando novas ofensas à outrem. (REIS, 2000)

É evidente, contudo, que esse aspecto dissuasório ou pedagógico, embora


muito importante em alguns segmentos sociais, não é o principal quanto a
natureza da indenização.
Não se identifica, em princípio, esse aspecto dissuasório, com o aspecto
didático ou pedagógico. A condenação por dano imaterial pode incutir no
sentimento social o caráter de ilicitude em determinada conduta, mormente
quando esse aspecto não é muito conhecido no meio social. Para que essa
finalidade pudesse ser atingida plenamente, há a necessidade de que, de lege
ferenda, permita-se ao julgador determinar a publicação da sentença em
veículo que atinjam determinados segmentos mais ou menos amplos da
sociedade, como consectário da condenação. Nem sempre a imprensa noticia
decisões importantes e, quando o faz, peca com frequência por não informar
corretamente. (VENOSA, 2005, p. 283).

Nesse sentido, fica exposto a real intenção de tornar pública a decisão que condena em
indenização por dano extrapatrimonial para que a sociedade vislumbre o que acarreta o
desrespeito aos direitos do outro, ou até mesmo daquele que está em condição inferior, no
entanto, infelizmente, essa notícia não é tão popular e não é veiculada de maneira correta,
muito se propaga dos deslizes do instituto, por conta disso que quando vem à mente o
sofrimento moral, quase de imediato pode-se chegar à conclusão de o quanto aquele
sofrimento pode trazer em dinheiro.

Ocorre que a sociedade como um todo está deturpando o instituto de dano imaterial e
sua respectiva reparação, fugindo do que fora planejada para ela e buscando abrigo em
vantagens econômicas do que pode proporcionar, esquecendo que ofendido pode atuar em
campo de ofensor em determinado momento da vida, como o contrário também perfaz
verdade.

A maneira como a reforma trabalhista, em sua lei n. 13.467/2017, traz em seu texto, no
capítulo dos danos extrapatrimoniais, art. 223-G, § 3º, a exposição dos efeitos da reparação
para a sociedade, é quando estipula o dano em dobro, no seguinte modo “na reincidência entre
partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização”, tal dispositivo é uma
38

maneira de coibir a atuação do ofensor novamente, não deixando de agir com caráter
pedagógico, educativo e preventivo. (SOUZA JUNIOR et al, 2017)

Portanto, o que pode se extrair, é que o caráter pedagógico deve incidir não apenas no
agente lesivo, o indivíduo que causa a dor ou sofrimento a outrem, mas a sociedade, que serve
de expectantes para os acontecimentos que envolvem dano e efeito, para que desse modo,
possam estar cientes que toda lesão tem uma consequência proporcional, afastando-se cada
vez mais do anonimato nas decisões e na ocorrência desse mal.

3.2.3 Proporcionalidade e Razoabilidade ao Quantum Indenizatório

Em se tratando de proporcionalidade e razoabilidade na estipulação do valor para fins


indenizatórios, tem-se que a indenização em geral, por danos materiais ou não, possui em si
própria um conteúdo que sobeja, ou mesmo, se desloca da simples reparação do dano.
Costuma-se afirmar que a indenização, qualquer que seja sua natureza, nunca representará a
reparação efetiva e nem perfará perfeita recomposição de algo que se perdeu, mas mero
lenitivo para a perda, seja esta de cunho material ou imaterial, assim sendo, sob certa visão, a
indenização pode representar mais ou menos o que se perdeu, mas nunca exatamente aquilo
que se perdeu. O ideal da chamada justa indenização é sempre buscado, mas raramente ou
quiçá nunca atingido. Por isso que se trata mesmo de um ideal. O sentido axiológico da
indenização será mais ou menos amplo se mais ou menos amplo for o aspecto moral
envolvido. (VENOSA, 2005)

Desta forma, levantado a discussão acerca da reparação de um dano, Santos (1998, p.


92) contribui no seguinte sentido:

Não seria razoável, nem jurídico (Princípio da Razoabilidade que informa o


Direito do Trabalho, e a vedação do enriquecimento sem causa), entretanto,
afastar-se a plena reparação do dano, quando o valor ultrapasse a um mês de
salário ou aos créditos trabalhistas do empegado especialmente se verificar-
se o dano (furto, sabotagem, vandalismo, apropriação indébita etc.) que
prescinde de acordo para que o desconto se viabilize.

Nas palavras de Venosa (2005), em muitas situações, cuida-se de indenizar o inefável.


Não é também qualquer dissabor comezinho da vida que pode acarretar a indenização. Aqui,
também é importante o critério objetivo do homem médio, o bônus pater famílias: não se
levará em conta o psiquismo do homem excessivamente sensível, que se aborrece com fatos
39

diuturnos da vida, nem o homem de pouca ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre
às rudezas do destino. Nesse campo, nunca há fórmulas seguras para auxiliar o juiz. Cabe ao
magistrado sentir em cada caso o sentimento da sociedade que o cerca. O sofrimento como
contraposição reflexa da alegria é uma constante do comportamento humano universal.

O sentimento do magistrado que resulta na estipulação da indenização acarreta risco e


disparidades no momento da aplicação da condenação por danos morais, vez que dependendo
do seu estado de espírito e até a compaixão por determinado ofendido é que se dará a
compensação pelo sofrimento experimentado estando o juiz passível de conceder um valor
exagerado ou mínimo em terreno de atuação em que não existem parâmetros, tudo se resume
à sua própria opinião e julgamento de valores.

Nesse sentido é que a norma trabalhista, advinda com a reforma, tentou, mesmo que
de maneira rude, suavizar o encargo do magistrado inserindo critério matemático – exato –
para mensuração subjetiva, ao determinar o art. 223-G da lei n. 13.467/2017, o regramento
busca o equilíbrio nas decisões judiciais e descentralizar o juiz como detentor do dever de
auferir reparação à dano extrapatrimonial de maneira exata a recompor a integridade e
dignidade desse ofendido. (MARTINS; SILVA, 2017)

Conclui-se, no entanto, que o critério de atendimento aos Princípios da razoabilidade e


proporcionalidade não garantem ao lesionado reparação justa ou o mais próximo disso, vez
que não há parametrização para impor o ressarcimento do dano, apenas o entendimento do
magistrado cumpre a árdua missão de determinar uma reparação, que a seu ver pareça justa.
Por conta disso, a nova norma trabalhista traz em seu teor regras específicas que descentraliza
a figura do juiz como o único detentor e aplicador da reparação ao dano extrapatrimonial na
esfera trabalhista.

3.3 ABORDAGEM JUDICIALIZADA DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NAS


RELAÇÕES DE TRABALHO

Desde muito tempo, tem-se acolhido e abraçado a ideia de que se opta pela ampla
liberdade do juiz para fixar o quantum condenatório. Salientando, inclusive, que se o valor
arbitrado for considerado insatisfatório ou excessivo, as partes ainda poderiam expor sua
irresignação a uma instância superior, revisora da decisão prolatada, por força do duplo (quiçá
40

triplo ou quádruplo, se contarmos a instância extraordinária) grau de jurisdição.


(GANGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003)

Martins e Silva (2017, p. 57) conceituam os sistemas de quantificar o dano


extrapatrimonial e se chegar a uma reparação, como exposto abaixo:

Há diversas formas de se quantificar os danos extrapatrimoniais, sendo que


dois sistemas tratam do tema.
Por meio do “sistema tarifado” se pode fixar um valor único, um valor
mínimo, ou, ainda, um valor mínimo e um valor máximo a serem observados
pelos órgãos julgadores nos casos de reparação por danos morais.
Este sistema se opõe ao denominado “sistema aberto”, por meio do qual
incumbe ao julgador aferir, com base no seu livre convencimento, no
princípio da restauração justa e proporcional, bem como na análise do caso
concreto, o valor da reparação correspondente.

O que a reforma trabalhista proporciona não é uma completa limitação à atuação e


livre convencimento do magistrado, mas a um critério de estipulação do valor da indenização
decorrentes de danos extrapatrimoniais, em que o juiz quem determinará e examinará a dor
experimentada pelo ofendido e a que grau ela corresponde, tendo feito isto, conforme o grau
enquadrado ao caso se chegará à um valor “x” que será o quantum que o ofendido receberá
como forma de compensação.

Tratando do tema, o Tribunal Superior do Trabalho, no julgamento do agravo de


instrumento n. 1224791.2014.5.15.0062, já havia mencionado que o sistema adotado pelo
ordenamento jurídico brasileiro era o sistema aberto traduzindo-se o dano moral em lesão a
atributos íntimos da pessoa, conforme deveras dissertado, sobre os quais a personalidade é
moldada, de modo a atingir valores juridicamente tutelados, cuja mensuração econômica
envolve critérios com embasamento objetivo, em conjunto com os subjetivos, sobretudo,
quando não for possível aferir a extensão do dano, como, por exemplo, nos casos de dano
moral a pessoas privadas de capacidade de autocompreensão, ainda, coma chegada da
Constituição Federal de 1988, não restam dúvidas de que são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, sendo assegurado o direito a indenização por dano
material ou moral decorrente de sua violação, inviabilizada a tarifação nas indenizações por
dano moral, confere-se prevalência ao sistema aberto, mediante o qual o julgador está
autorizado a fixar o valor da reparação de forma subjetiva, mas sem desprezar critérios
objetivos, conforme balizas preestabelecidas.
41

A dosimetria do quantum indenizatório guarda relação direta com o princípio da


restauração justa e proporcional, nos exatos limites da existência e da extensão do dano
sofrido e do grau de culpa, sem descartar a situação econômica de ambas as partes.

Como se vê, o julgador deve seguir algumas diretivas oriundas da ordem


jurídica, tendo como norte a lógica do razoável. Não há dúvida que o melhor
critério para arbitrar o dano moral é aquele em que o magistrado coloca-se
no lugar da vítima, supondo que o acidente de trabalho tenha ocorrido com
ele próprio ou, se isso não for possível (diante de circunstâncias relativas ao
sexo e à idade da vítima), o julgador deve imaginar que o acidente tenha se
dado com alguém muito próximo como, por exemplo, o seu pai, filho ou
cônjuge. Somente assim, aplicando-se o princípio da investidura fática, é que
o valor arbitrado chegará próximo ao valor justo. (DELLEGRAVE NETO,
2007, p. 246-247).

O critério acima estabelecido pode auxiliar em alguns casos, o que ocorre em verdade,
é que devido o imenso fluxo de demandas, e muitas vezes demandas repetitivas, torna-se
quase impossível analisar todos os casos e promover análise demorada em cada um, o que
sucede no plano factual é uma mera vista aos autos, em muitos casos, pelos magistrados e a
expedição da sentença que reconhece ou não o direito à indenização por dano moral e o seu
valor.

Por conta disto, torna-se utópico levantar discussão acerca da atuação minuciosa do
magistrado, vez que não pode ser depositado em uma só pessoa o dever de reconhecer e
determinar o dano moral e sua indenização, bem como criar critérios de compensação, uma
vez que o juiz possui o encargo apenas de julgar e não de criar novos procedimentos ou lei,
por isso que o legislador editou no texto da CLT normas de parâmetro à esse instituto.

Indubitavelmente, que os valores arbitrados deveriam ser individuais, entretanto, o que


não pode ocorrer é serem admitidos padrões de comportamento em pessoas diferentes, pois
cada ser humano tem seu próprio modo de sentir, havendo assim, uma universalidade de
formas de reagir de cada indivíduo. Nesse sentido, é importante que o juiz conheça o perfil
pessoal da vítima para que possa avaliar corretamente a extensão do dano. Sem o
conhecimento da estrutura psicológica dos agentes envolvidos, o simples conhecimento do
fato motivador da indenização dará um parâmetro incorreto ao julgador e agravará o risco de
uma sentença injusta. Entretanto, a norma é indispensável para nortear o procedimento de
quem julga para que padronize o modo de estipular o dano e garantir máxima igualdade à
sociedade e trabalhadores.
42

3.3.1 Caráter das Decisões Anteriores à Reforma Trabalhistas

Em momento anterior a Lei n. 13.467/2017, que tarifou o dano extrapatrimonial, não


existiam normas que estabelecessem critérios de aplicação de reparação pecuniária, e a falta
de legislação específica nessa problemática gerara decisões díspares e incongruentes. De
qualquer modo, a tarifação ou qualquer outro estudo matemático não é critério adequado para
danos morais em geral, porque impede a atuação da distribuição da Justiça. Como é ainda
nova a disseminação dessa modalidade de indenização em nossos tribunais, chegar-se-á,
certamente, em breve tempo, como previu Venosa (2005), o balizamento razoável imposto
pela própria jurisprudência, como, por exemplo, o dano corporal fisiológico, como já ocorre
nos acidentes de trabalho.

Mediante a mencionada dificuldade de estimação pecuniária do dano moral, Diniz


(2007) tem um pensamento desarrazoado em relação aos outros doutrinadores, em que ela
opta pela estipulação para critério de tarifação do dano imaterial, justificando que diante da
disparidade de julgados, o mais sensato seria que houvesse uma disciplina legal prescrevendo,
para impedir excessos, uma indenização tarifada em salários mínimos, atendendo as
peculiaridades de cada caso ou a fixação de teto mínimo e teto máximo para determinação da
quantia indenizatória.

Em concordância com o mencionado acima, acredita-se que deve haver uma


padronização desse critério de aplicação do dano extrapatrimonial, entretanto, deve-se usar
uma medida única e não medidas variáveis em detrimento de condição pessoal, a sugestão de
Diniz (2007) traz como baliza o salário mínimo, a proposta da Medida Provisória n. 808
recaiu no parâmetro do Regime Geral da Previdência Social, ora, esses dois mencionados
seriam quantidade imutáveis, que apenas iriam variar de acordo com o nível de lesão
experimentada pelo ofendido, critério este que ficaria a cargo do magistrado.

A falta de tabelamento desse dano, gerou desconforto em outros autores, arguindo,


também, nesse a Comissão Especial da Câmara dos Deputados apud Martins e Silva (2017, p.
47), cumprindo ainda destacar que tal comissão fora responsável pelo Projeto de Lei nº
6.787/2016, que se transformou no PLC nº 38/2017, e mais tarde na atual reforma trabalhista:

A ausência de critérios objetivos e o alto nível de discricionariedade


conferidos ao magistrado na fixação judicial dessas indenizações trazem
insegurança jurídica, lesando a isonomia de tratamento que deve ser dada a
todos os cidadãos. Não é raro que se fixem indenizações díspares para lesões
similares em vítimas diferentes. Do mesmo modo, são comuns indenizações
43

que desconsideram a capacidade econômica do ofensor, seja ele o


empregado ou o empregador, situação que se mostra agravada no caso dos
empregadores, porquanto ações de prepostos podem gerar valores que
dificultem, ou mesmo inviabilizem, a continuidade do empreendimento.
Diante desses fatos, estamos propondo a inclusão de um novo Título à CLT
para tratar do dano extrapatrimonial, o que contempla o dano moral, o dano
existencial e qualquer outro tipo de dano que vier a ser nominado. A
inserção desses dispositivos na CLT evitará que tenhamos decisões díspares
para situações assemelhadas, como temos visto com alguma frequência em
nosso Judiciário. Acreditamos que essa medida facilitará a atuação dos
magistrados do trabalho, que terão critérios objetivos para definir o valor da
indenização, sem que tenham a sua autonomia decisória ferida.
Entretanto, em ausência da efetiva norma que tabelasse a atuação do magistrado o até
então, longínquo estabelecimento de regra que combinasse a previsão de limites
indenizatórios suficientemente altos com a fixação de exceções que possibilitassem a
flexibilização da regra, admitindo a elevação dos montantes indenizatórios quando
demonstrado que o ofensor obteve ganhos financeiros superiores com o ato ilícito ou que os
valores preestabelecidos não seriam suficientes, no caso concreto, para exercer as funções de
retribuição e dissuasão. Uma norma como essa, se bem elaborada, constituiria, na verdade,
um reforço à finalidade dissuasória do instituto, uma vez que a indicação dos valores a que
estariam sujeitos os ofensores exerceria considerável força intimidadora em relação a maioria
das pessoas, enquanto a cláusula de exceção constituiria um acréscimo de coerção em relação
aos demais potenciais ofensores, se essas se tratassem de parâmetros capazes de alcançar a
finalidade do dano moral. (ANDRADE, 2006)

Já para Bernardo (2005), com a tarifação se teria um quadro com um legislador


atônito, sempre pesquisando o surgimento de novas espécies de dano não regulamentadas e
um magistrado cingido às situações-tipo, deixando de indenizar situações que claramente
ofendessem a dignidade da pessoa humana, pelo simples fato de não constarem da tabela, ou
viveria em função de perscrutar a os casos particulares para se adequar à todas as hipóteses, o
que se perfaz em utopia.

Porém, Theodoro Junior (2001, p. 29) levanta a seguinte questão, acerca da referida
tarifação:

Se a vítima pudesse exigir a indenização que bem quisesse e se o juiz


pudesse impor a condenação que lhe aprouvesse, sem condicionamento
algum, cada caso que fosse ter à Justiça se transformaria num jogo lotérico,
com soluções imprevisíveis e as mais disparadas. Onde estaria, então, o
amparo que a Constituição assegurou ao princípio da legalidade? Onde iria
amparar o princípio do tratamento igualitário de todos perante a ordem
jurídica?
44

De fato, é necessário a garantia de um escopo em que se possa firmar certeza, e para


alguns doutrinadores, a saída era estabelecer critérios de julgamento para o magistrado, qual
seja, a tarifação, para a geração de decisões igualitárias, entretanto, recai-se no erro de não
“tratar os desiguais como desiguais” (Op. Cit.)

Mas ao grado da era anterior à reforma, o entendimento era que as decisões dos juízes
deveriam estar em consonância com o conteúdo da consciência jurídica geral, com o espírito
do ordenamento, que é mais rico que a disposição normativa, por conter critérios jurídicos e
éticos ideias jurídicas concretas ou fáticas que não encontram expressão na norma de direito.
(DINIZ, 2007)

Para fomentar o aludido acima, se faz mister expor três decisões de 1º grau de
jurisdição em que houveram o julgamento sobre o mesmo dano, qual seja, dano moral em
razão de doença ocupacional equiparada a acidente de trabalho, em decorrência perda auditiva
de grau moderado à severo devidamente atestado por perícia médica e por fim, a terceira
decisão de grau leve também atestada em perícia, e suas respectivas indenizações, eis os
dispositivos das sentenças, sendo por primeiro o dispositivo da sentença do processo n.
0000975-13.2011.5.04.0030, do TRT da 4ª região, estipulando indenização pela perda
auditiva em grau moderado à severo:

DISPOSITIVO. DIANTE DO EXPOSTO, extingo o processo com


resolução de mérito, com fulcro no artigo 269, IV, do CPC, quanto à alegada
doença ortopédica. Julgo PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos
deduzidos na inicial para condenar a reclamada TAP Manutenção e
Engenharia Brasil S/A a pagar ao reclamante Jandir Brustolin o que for
apurado em liquidação de sentença, acrescidos de juros e atualizados
monetariamente, segundo critérios e limites definidos na fundamentação,
relativo à indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais). (grifo nosso).
Pertencente ao mesmo Tribunal Regional do Trabalho, encontra-se o dispositivo da
decisão de 1º grau, indenização em decorrência de perda auditiva em grau moderado à severo,
contido no processo n. 0020581-24.2015.5.04.0406:

DISPOSITIVO. Ante o exposto, decide-se, na forma da fundamentação,


julgar PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados para
condenar a reclamada RANDON S.A. IMPLEMENTOS E
PARTICIPAÇÕES a pagar ao reclamante CLOVIS NUNES DA SILVA as
seguintes parcelas: a) R$ 6.000,00 a título de indenização danos morais;
[...] (grifo nosso)
45

Por fim, o processo n. 0052700-31.2008.5.04.0811, do TRT da 4ª região, traz o seu


dispositivo e estipulação de indenização por dano moral em razão de doença ocupacional
equiparada à acidente de trabalho, sendo perda auditiva em grau leve, no seguinte quantum:

DISPOSITIVO. Ante o exposto, não pronuncio a prescrição do direito de


ação do autor; no mérito, julgo parcialmente procedentes os pedidos
formulados por Adroaldo Vargas de Almeida contra União; condeno a
reclamada, respeitados os limites e critérios da fundamentação, a pagar com
juros e correção monetária o que segue:
a) R$ 10.000,00 a título de indenização por danos morais [...]. (grifo
nosso)
No que tange as sentenças apresentadas, pode-se observar, em primeiro lugar, a
diferença entre os valores estipulados para indenização, uma vez que os valores recebidos por
aqueles que tiveram perda auditiva de natureza moderada à severa entraram em grande
discrepância, sendo uma indenização no valor de quinze mil reais e outra de seis mil reais,
considerando que foram lesões idênticas e julgadas em varas de um mesmo Tribunal não
haveria razão para obterem resultados tão distintos.

Outro aspecto está no fato de que a indenização do dano de perda auditiva de grau leve
excedeu os que foram considerados de moderados à severo pelos peritos, ou seja, era menos
gravoso que os outros casos das decisões apresentadas, entretanto, houve uma maior
compensação pecuniária, sob um aspecto de proporção entre dano e indenização.
Justificando, mais uma vez, que a falta de parâmetro também acarreta desigualdade e
injustiça.

Inegavelmente, há um certo nível de desajuste ao se aplicar o quantum indenizatório,


uma vez que faz parte de um conceito muito amplo depositado nas mãos dos magistrados para
que decidam o quanto cada indivíduo merece como compensação da ofensa sofrida, ao passo
que a edição da Lei n. 13.467/2017 não é unicamente formada de malefícios à ordem social e
a jurídica, entretanto, foi uma medida de trazer igualdade ao instituto das indenizações por
danos imateriais, no entanto, esses fatos não impedem que a nova CLT se aperfeiçoe e alcance
o objetivo pensado pelos legisladores.

Por fim, questiona-se, como deve ser o proceder do magistrado? No entendimento de


Moraes M. (2003), deve-se seguir determinados critérios preestabelecidos na lei, na doutrina
ou na própria jurisprudência, os quais deverão nortear a (complexíssima) tarefa de quantificar,
nos seus mais diversos aspectos, os danos à pessoa humana, qual seja, uma tarifação. Por
outro lado, e mais relevante, os critérios de avaliação usualmente aceitos, embora não sejam
46

critérios legais, apresentam-se como lógicos devendo, porém, ser sempre explicitados de
modo a fundamentar adequadamente a decisão e, assim, garantir o controle da racionalidade
da sentença.

Ao analisar o cenário atual da reparação por danos extrapatrimoniais, a conclusão é


que por mais que a intenção de se alcançar um resultado justo aos ofendidos, pelos
magistrados, a realidade é que o atendimento a esse quesito nunca será preenchido de maneira
satisfatória, uma vez que não é encontrada consonância na justiça brasileira. A tarifação,
portanto, pode ser um caminho – apesar de precisar ser adaptado e moldado às necessidades e
exceções que cada caso apresenta – para se chegar o mais próximo de uma igualdade e
satisfação com a recompensa pelo dano sofrido, para tanto, é necessário retirar a negatividade
e olhar com bons olhos ao Título II-A do novo regramento trabalhista.
47

4 TARIFAÇÃO NA REFORMA TRABALHISTA: UM PARÂMETRO


NECESSÁRIO?

Conforme deveras fora perpassado, a tarifação do dano extrapatrimonial trazido pela


Lei nº 13.467/2017 trouxe grande reboliço aos juristas que atuam em âmbito trabalhista, bem
como trouxera novamente a questão do tabelamento para compensação da dor humana – que
já houvera sido tratada desde a Lei de Imprensa – a questão divide os pensamentos
doutrinários em que muitos julgam ter sido uma solução para extrema liberdade dos
magistrados em determinarem a reparação dos danos morais e, por outro lado, para muitos
fora um atentado a dignidade humana do trabalhador.

Nas palavras de Souza Junior et al (2017, p. 134), recorda-se a situação de fixar


indenização por danos imateriais, anterior à reforma trabalhista:

O tema, de fato, sempre suscitou acirrada polêmica, haja vista de


inexistência de previsão legal específica a respeito. Por conta disso, doutrina
e jurisprudência compreenderam que a tarifação de reparação por danos
extrapatrimoniais deve ser feita segundo o prudente arbítrio do juiz, de
acordo com as peculiaridades do caso concreto, atentando, a um só tempo,
para as funções compensatória e pedagógica da reparação e para os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sempre recordando que a
técnica reparatória não pode servir ao propósito de mero enriquecimento
pessoal da vítima, nem pode perder sua capacidade de instigar séria reflexão
ao ofensor. A conjugação sábia e fundamentada de todos esses fatores deve
conduzir, portanto, as condenações justas e razoáveis, na perspectiva de cada
situação concreta, evitando-se, assim, tanto condenações pífias como
condenações exorbitantes.

Os autores supramencionados entendem que os critérios de fixação dos danos


extrapatrimoniais devem ser estipulados com base nos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, todos esses conforme o livre julgamento do magistrado, em que segundo
suas percepções pessoais, sentiria a dor do ofendido, por empatia, e determinaria o quantum
equivalente para compensar essa lástima.

Ocorre que os parâmetros para balizar o valor de indenização plainam sobre uma
vastidão de sentimentos que alternam de magistrado para magistrado, pois assim como
nenhum ofendido é igual ao outro no quesito sentir determinado trauma de qualquer espécie,
nenhum magistrado é semelhante ao outro no que tange ao julgamento, nem mesmo, ter
percepções intimas ao caso de cada dano que se apresente a ele corriqueiramente. Por isso,
deve-se afastar a penumbra que paira sobre a tarifação e o estabelecimento de critérios para se
48

aproximar de uma justa indenização, que estabeleça algo mais concreto e proporcione
segurança jurídica tanto para o ofensor e muito mais para o ofendido.

E no que tange a segurança jurídica das normas, Canotilho (1995, p. 380) preceitua:

(1) estabilidade ou eficácia ex post da segurança jurídica: uma vez


adoptadas, na forma e procedimento legalmente exigidos, as decisões
estaduais não devem poder ser arbitrariamente modificadas, sendo apenas
razoável alteração das mesmas quando ocorram pressupostos materiais
particularmente relevantes. (2) previsibilidade ou eficácia ex ante do
princípio da segurança jurídica que, fundamentalmente, se reconduz à
exigência de certeza e calculabilidade, por parte dos cidadãos, em
relação aos efeitos jurídicos dos actos normativos. (grifo nosso)

Sendo assim, os efeitos da norma devem ser conhecidos e assegurados aos cidadãos
indistintamente, ao passo que tal garantia deve ser estipulada de maneira prévia, ou seja, na
elaboração da norma pelo Poder Legislativo e não na aplicação da mesma pelo Poder
Judiciário, o que acaba por causar uma instabilidade nas decisões, dando margem a nefasta
arbitrariedade que é completamente prejudicial ao sistema de justiça, e o dano que seria
apenas em uma relação de ofensor e ofendido toma proporções maiores, quais sejam,
instabilidades jurídicas para toda sociedade.

No mesmo sentido, Bobbio (1995, p. 40) assevera, tratando sobre a necessária


submissão do magistrado ao ordenamento jurídico legitimamente instituído:

Assim, segundo Montesquieu, a decisão do juiz deve ser uma reprodução fiel
da lei: ao juiz não deve ser deixada qualquer liberdade de exercer sua
fantasia legislativa, porque se ele pudesse modificar as leis com base em
critérios equitativos ou outros, o princípio da separação dos poderes seria
negado pela presença de dois legisladores: o verdadeiro e próprio e o juiz
que poria sub-repticiamente suas normas, tornando assim vãs as do
legislador. [...] A subordinação dos juízes à lei tende a garantir um valor
muito importante: a segurança do direito, de modo que o cidadão saiba com
certeza se o próprio comportamento é ou não conforme a lei.

O critério normativo, conforme o trecho supramencionado, deve afastar o critério


equitativo do magistrado, fazendo com que o cidadão submetido a uma lide não dependa
unicamente de um parecer ou discricionariedade do juiz competente para sua causa, mas
saiba, previamente e de maneira certa, acerca dos riscos e dos direitos que o acolhe.
Demasiadamente inseguro é estar sobre a égide de outro ser humano, sem existirem
parâmetros que delimite a atuação do julgador na árdua função de decidir acerca do futuro –
que pode ser incerto sem as devidas normas – de uma pessoa que já se encontra em situação
de fragilidade almejando por justiça.
49

Divergindo da ilimitada ação do magistrado acerca do dano moral, a tarifação veio a


fim de servir como parâmetro legal para nortear os passos do julgador, evidentemente
alicerçado sobre os mais nobres princípios constitucionais, e que segundo Coitinho (2012)
consiste em um sistema, através do qual, o legislador assume o papel de estabelecer os casos
em que o dano moral se produz, e um valor para cada caso, ou seja, um tabelamento, sendo a
fixação, prevista em lei, de um piso mínimo e um teto máximo para pagamento de
determinadas infrações, de modo que o juiz fica adstrito a tais valores sempre que fixe o
montante do ressarcimento.

Entretanto, a definição trazida acima, traz enorme rigidez ao transcrever o significado


de tarifação, em que conforme o art. 223-G, § 1º da vigente CLT, não retrata o piso mínimo
para cada grau de intensidade, apenas cumpre delimitar o teto máximo que a indenização por
danos imateriais pode alcançar, conforme a sua respectiva gravidade atestada. Para tanto, se
utiliza da expressão “até” para informar o limite máximo do valor que poderá ser indenizado.

Ainda é conjecturado que “o puro e simples arbitramento judicial desapegado de


qualquer parâmetro poderia levar às injustiças, considerando a hipótese do juiz julgar casos
semelhantes de maneiras muito distintas” (COITINHO, 2012, p. 350), fomentando a ideia
aqui apresentada de que não estipular um critério gera injustiças entre as decisões proferidas a
diferentes ofendidos pelo mesmo dano.

Por outro lado, doutrinadores da área trabalhistas discordam da ideia de que a


existência de critérios seja necessária, como Casagrande (2017, p. 93):

Porém, muito mais grave e inconstitucional do que a instituição em si de um


sistema de tarifação do dano moral é a sistemática de “cálculo” adotada na
Reforma Trabalhista. Ainda que venham a ser superados os precedentes
acima referidos e considerada constitucional a tarifação de danos morais,
defendemos aqui que há outros óbices constitucionais insuperáveis para a
manutenção do sistema instituído pelo legislador, pois a utilização do salário
do empregado como parâmetro para fixação do montante indenizatório
colide com diversas normas da Constituição, especialmente aquelas que
decorrem do princípio da isonomia.

O que se vislumbra acima é o a discussão sobre a (in) constitucionalidade do art. 223-


G da CLT, que determina limites pecuniários para indenização por lesões ao bem
personalíssimo, como dantes retratado, doravante, não apenas está retratado nesse artigo,
como baliza severa a obrigatoriedade e proceder dos magistrados, entretanto, cumpre
estabelecer que os critérios mencionados nos incisos do referido artigo não são taxativos,
apenas exemplificativos para nortear a aplicação ou não da reparabilidade.
50

Além do mais, cabe arguir acerca do Princípio da Legalidade trazido pelo Direito
Constitucional, qual seja, a base dos demais direitos brasileiros, que trata da seguinte maneira:

O art. 5°, II, da Constituição Federal, preceitua que ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal princípio
visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies
normativas devidamente elaboradas conforme as regras de processo
legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois
são expressão da vontade geral. Com o primado soberano da lei, cessa o
privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei.
Conforme salientam Celso Bastos e Ives Gandra Martins, no fundo, portanto,
o princípio da legalidade mais se aproxima de uma garantia constitucional do
que de um direito individual, já que ele não tutela, especificamente, um bem
da vida, mas assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunções que
lhe sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei, pois como já
afirmava Aristóteles, "a paixão perverte os Magistrados e os melhores
homens: a inteligência sem paixão - eis a lei" (MORAES A., 2003, p. 54)

Combatendo as críticas realizadas pelos doutrinadores quanto à quantificação do dano


moral pelo legislador, sim, é ele o responsável de gerar a garantia fundamental da lei, que
serve de proteção dos particulares contra os poderes (superiores) do Estado, impede também o
uso arbitrário dos poderes do judiciário sobre indivíduos que dele necessitam para resolver
seus litígios. Para tanto, é uma garantia fundamental a normatização dos bens jurídicos,
incluindo nessa esfera os bens personalíssimos.

Portanto, será ao mais explanado os possíveis impactos e impressões trazidas pela


reforma trabalhista no âmbito dos danos extrapatrimoniais, bem como o alvo que deseja alçar,
no mais, a análise da atuação do magistrado frente ao princípio da legalidade.

4.1 AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DA TARIFAÇÃO DO DANO


EXTRAPATRIMONIAL NA REFORMA TRABALHISTA

O sentimento de injustiça, após a vigência da Lei nº 13.467/2017 pairou sobre a classe


trabalhadora e a todos, que mesmo indiretamente, estão interligados a ela, por conta do medo
do desconhecido, medo do que pode acarretar a tarifação da indenização do dano
extrapatrimonial previsto no artigo 223-G, § 1º, da referida legislação, em razão do
inexplorado critério aparado pela norma e não mais ao bel entender, considerado razoável e
proporcional, do magistrado.

O primeiro pensamento que vem à mente, quando se levanta a discussão do dano


extrapatrimonial da reforma trabalhista, é o trazido por Casagrande (2017, p. 98):
51

No caso da regulamentação do dano moral na Reforma Trabalhista, a lei


claramente dá um tratamento diferente para pessoas que estão sob mesma
condição de fato e de direito, estabelecendo o seguinte: quem ganhar salário
menor, terá reparação menor, ou em outros termos, terá “proteção da lei” em
menor grau. Ou então, seria mais preciso dizer, “não terá igual proteção da
lei”. Isto nada mais é do que uma forma de segregação. Não é uma
segregação pela raça, cor, gênero ou nacionalidade: é uma segregação pela
renda, pois quanto mais pobre o trabalhador, menor a reparação a ele devida.
Os trabalhadores são “iguais” em seus direitos à reparação extrapatrimonial,
mas “separados” - por faixa de renda - na hora de distribuição da justiça.

Por essa mesma razão é que fora proposta ao Supremo Tribunal Federal uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5870) pela ANAMATRA – Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho – que ainda aguarda julgamento, para tornar
inconstitucional o dispositivo da reforma trabalhista que prevê a quantificação e teto para os
danos imateriais decorrentes da relação de trabalho.

Perfaz grande impossibilidade pensar em dano extrapatrimonial da reforma trabalhista


sem hastear a problemática do último salário percebido pelo ofendido como critério para
estipular o teto máximo da indenização. Por conta disso Souza Junior et al (2017, p. 138),
também critica a atuação do legislador ao estabelecer tal parâmetro:

Apesar de tudo isso, o legislador celetista promove inaceitável tarifação


prévia da reparação por danos extrapatrimoniais na seara trabalhista. Ora, a
total discricionariedade do legislador é tão lesiva quanto a total
discricionariedade do julgador. Reputando-se válido tal regramento,
doravante os trabalhadores serão os únicos cidadãos brasileiros cuja
dignidade terá um preço fixado em lei, assemelhando-se a uma simples peça
de engrenagem empresarial, cujo custo econômico é previamente conhecido.
Trata-se de medida, ademais, que promove absurda coisificação do ser
humano, dando preço àquilo que, por natureza, só pode ter dignidade, à luz
da consagrada filosofia kantiana.

De fato, o critério de utiliza-se do último salário contratual recebido pelo ofendido não
foi uma saída plausível para resolver o problema da única exclusiva atuação do magistrado,
por conta disso, foi promulgada, pelo Presidente da República a Medida Provisória nº
808/2017 que teve sua vigência ocorrida entre 14 de novembro de 2017 à 23 de abril de 2018,
nesses aproximados 5 meses, alterando o teto instituído no § 1º do art. 223-G, utilizando-se do
limite do Regime Geral da Previdência Social7.

7
§ 1º Ao julgar procedente o pedido, o juízo fixará a reparação a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos
seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - para ofensa de natureza leve - até três vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social;
II - para ofensa de natureza média - até cinco vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social;
52

Ora, tal medida cumpriu em estabelecer uma parcela imutável e igual para todas as
fixações de indenizações provenientes de danos imateriais, qual seja, os benefícios do Regime
Geral da Previdência Social, em que tal regime consiste no teto que um assegurado pela
autarquia federal responsável pela seguridade e assistência social poderá receber à título de
aposentadoria, em que o valor, atualmente se encontra num montante de R$ 5.645,81 (cinco
mil e seiscentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um centavos).

A proposta trazida pela Medida Provisória nº 808/2017 neutralizou a crítica de que


para trabalhadores de diferentes salários e idênticas lesões haveria distinção entre o valor de
compensação para dor por eles experimentadas, como os diversos exemplos que aqui foram
expostos.

Ter um valor fixo como parâmetro, ou seja, não mutável conforme as condições
pessoais do lesado, diminui as desigualdades, entretanto, ainda não consegue sanar o
problema do cunho pedagógico. Ora, o que significa três vezes o valor do Regime Geral da
Previdência Social para um empregador reclamado que tem uma empresa multinacional
estipuladas em bilhões de reais, para o caso de algum dos seus empregados sofrer uma lesão
de natureza leve? Ou ainda, quão significativo é cinquenta vezes a quantia do Regime Geral
da Previdência Social para o pequeno empreendedor ou microempresário, quando o seu
funcionário sofre lesão de natureza gravíssima? Não estaria além de sua capacidade e estaria
se tornando pesado demais o critério estabelecido em lei, chegando até a não cumprir com o
objetivo determinado?

Em verdade, qualquer das hipóteses há um enfretamento com uma série de conflitos e


problemáticas, sendo uma saída provável para este último estipular, normativamente,
exceções e alternativas para condições específicas como o microempresário e empregador de
empresas multinacionais.

Entretanto, o legislador celetista não teve a intenção de alcançar uma igualdade nos
critérios, uma vez que não houve a incorporação da Medida Provisória à CLT, a impressão
que transmitiu fora de que seria uma válvula de escape de uma forte denunciação da classe
trabalhadora ao instituto de dano moral no âmbito trabalhista, pós-reforma trabalhista, em que
os ânimos com a mudança indesejada estariam aflorados, para que não houvesse uma rejeição

III - para ofensa de natureza grave - até vinte vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social; ou
IV - para ofensa de natureza gravíssima - até cinquenta vezes o valor do limite máximo dos benefícios do
Regime Geral de Previdência Social. (grifo nosso)
53

exacerbada fora publicada a Medida Provisória como artimanha para desviar os olhares do
parâmetro do último salário contratual recebido pelo lesionado, e criando discussões como as
acima apresentadas e a que se faz seguir, de que a tarifação seria inconstitucional:

Registre-se, também, que o critério utilizado pelo legislador trabalhista


(salário contratual do ofendido) revela-se, em si, desarrazoado e injusto. Se
dois trabalhadores exercem a mesma função, ganham o mesmo salário e
ambos ficam tetraplégicos no mesmo fatídico acidente de trabalho, sendo um
deles publicamente assumido sedentário e outro publicamente reconhecido
esportista amador, certamente, por razões óbvias, haverá extensão
diferenciada de danos extrapatrimoniais, sendo que o exclusivo critério
salarial para ambos não atenderá com justiça a situação concreta de cada
qual. Logo, o preceito celetista em foco também é inconstitucional sob o
prisma do princípio da proporcionalidade. (SOUZA JUNIOR et al, 2017, p.
138-139)

Ainda sobre entendimento de Souza Junior et al (2017) declara que o incrível desatino
científico demonstrado pelo legislador celetista foi o de fixar como fator determinante o
quantum indenizatório de danos extrapatrimoniais, num referencial exclusivamente
econômico a saber o “salário contratual do ofendido”. Isso significa que a Lei nº 13.467/2017
implementou paradoxal sistema ressarcitório em que a tutela jurídica de interesses
extrapatrimoniais é prévia e abstratamente tarifada por um inflexível critério patrimonial
pessoal, independente da concreta extensão do dano e das particularidades do caso concreto.

Atina-se sobre os comentários tecidos por Coitinho (2012, p. 358), a concordância no


aspecto de relevância das condições pessoais ao organizar parâmetros sobre a indenização por
danos extrapatrimoniais:

Um dos critérios que se reputa da mais alta valia e de decisiva apreciação


para determinação do quantum da indenização por danos morais é o critério
pessoal. A análise das condições pessoais, e, portanto, subjetiva das partes
envolvidas. Ofensor e ofendido, na generalidade dos casos que se
apresentam ao Judiciário, são diferentes. Em alguns casos, inclusive,
diametralmente, diferentes.

Uma falta apresentada na norma do art. 223-G da CLT foi não haver estabelecidos
critérios mais específicos em consideração as condições pessoais, especiais ou diferenciadas
de cada caso, por óbvio, é impossível a letra da lei prever hipóteses para todos os casos
existentes aos que dela se utilizarão, entretanto, promover algum dispositivo que deliberasse
discricionariedade ao magistrado em casos extremados seria uma solução para o problema da
condição especial. E nesse aspecto é que se expõe o trecho abaixo:

Ao julgar, o magistrado deve ter liberdade para decidir da melhor forma


possível o caso concreto que lhe é submetido. Lembramos aqui que não se
54

pode confundir arbítrio com arbitrariedade. O arbítrio é uma liberdade


condicionada pela lei. É a lei que traça os lindes, dentro dos quais o
magistrado poderá se locomover. Fora desses lindes o magistrado estará
incorrendo em abuso, o que pode e deve ser evitado. Portanto, o arbítrio é
inevitável, mas a arbitrariedade, sempre um mal que pode e deve ser
extirpado. (COITINHO, 2012, p. 327-328) (grifo nosso)
Portanto, resta claro que atuação do magistrado deve ter como escopo a legislação,
antes de livre convencimento, o seu arbítrio deve ser norteado, sempre, pela norma transcrita
legitimamente pelo Poder Legislativo, qual seja, o verdadeiro competente para traçar
regramentos e procedimentos, em que o julgador deve estar condicionado e focado na função
de aplica-los, não devendo haver confusão entre as funções ora descritas, de legislador e
julgador. Para tanto, se faz necessária uma norma que alcance a realidade factual em que o
magistrado atua, do contrário, será pouco provável sua aplicação ao caso concreto.

4.2 APLICAÇÃO DA TARIFAÇÃO DO DANO EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO


COMPARADO

De modo a demonstrar que o sistema tarifário do dano extrapatrimonial não se


restringe apenas ao Brasil, e sim, sofre influências de outros ordenamentos, que por vezes
obtiveram o êxito esperado, é que se traz esta breve exposição de alguns exemplos de
territórios que abarcaram tal instituto, recentemente trazido pela Lei nº 13.647/2017, mais
especificamente, no § 1º, do artigo 223-G.

O primeiro direito estrangeiro listado é um que há muitos séculos, desde a instituição


do Brasil, vem exercendo influência na cultura, língua, credo e inclusive, na esfera jurídico
brasileira, qual seja, o país Portugal.

Além do que, no direito português, quanto as normas reparabilidade de danos


imateriais, embora não haja uma normatização muito fechada para o estabelecimento do valor
dos danos morais, existe uma interessante Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de
Trabalho e Doenças Profissionais, promulgada pelo Decreto-Lei nº 341, de 30 de setembro de
1993, essa tabela, tendo por base estudos científicos acerca da perda da capacidade de
trabalho em virtude de cada lesão, estabelece parâmetros variáveis que servirão de base para o
julgador na hora de fixar o montante da indenização. (BATISTA, 2014).

Ou seja, o julgador de Portugal também possui um parâmetro de fixação do dano


extrapatrimonial para determinadas situações, como pode-se observar abaixo:
55

Por fim um julgado recente bastante interessante que estipula indenização


por danos imateriais decorrentes de um fato que levou a pessoa a estar no
limiar entre a vida e a morte, sujeitando-se a reiterados e dolorosos
tratamentos médicos, além de ter ficado com sequelas graves. O caso
número 133/10.5TBSTS.P1.S1 foi julgado em 22 de janeiro de 2015 pela 2.ª
Secção do Supremo Tribunal de Justiça. Segundo o Supremo Tribunal de
Justiça, trata-se de um caso que exige uma indenização não inferior a €
40.000,00 (quarenta mil euros): I - A indemnização por danos não
patrimoniais, no caso de alguém que esteve entre a vida e a morte e foi
sujeito a reiterados e dolorosos tratamentos médicos tendo ficado com
graves sequelas, não deve ser inferior a € 40 000. II - A restituição do que
houve sido prestado a título de reparação provisória, nos termos dos arts.
388.º, n.º 3, e 390.º, n.º 2, do CPC, sendo ilíquida parte da indemnização, só
deverá ser feita no apuramento final, quando esta parte se tornar líquida, isto
sem prejuízo de se fazer, desde logo a imputação para determinar o valor do
excesso a atender nesse apuramento final. III - Aquele que procedeu à
reparação provisória não incorre em juros de mora. Ainda que alguns casos
sejam inusitados, com pedidos aparentemente fora da lógica indenizatória,
percebe-se que o nexo causal entre o fato e sua consequência é o principal
elemento a ser considerado. Em existindo este liame busca-se quantificar o
montante a ser arbitrado como compensação ao dano existente. Ainda que
não sejam em valores milionários, percebe-se que são valores
significativamente superiores aos encontrados no Brasil. Mas, também
conservadores e limitados aos casos fáticos. (MODRO, 2015, p. 94-95)

Como pode-se observar, mesmo havendo um sistema tarifário para algumas


circunstâncias, em Portugal, os valores de compensação à dor do lesado, chegam a ultrapassar
os valores que são recebidos no Brasil, como sinal de que o tabelamento não é sinônimo de
desvalorização da dor humana.

Além disso, diferentemente do Brasil – com a Lei nº 13.467/2017 – em Portugal se


estabelece limite mínimo de indenização, ou seja, como uma premissa, um referencial para se
tomar por base e somente o valorizar em caso de grave e excepcional lástima experimentada
pelo ofendido, o que se dá no Brasil é a estipulação de um teto, limitando o máximo que um
trabalhador pode receber. Essa limitação se torna, portanto, o alvo das críticas tecidas contra o
instituto de dano extrapatrimonial das relações trabalhistas.

Já no Reino Unido se observa a seguinte situação:

No direito comparado, podemos observar que alguns países já adotam certos


critérios de fixação de valores. No direito inglês, existem as tabelas
elaboradas pela Judicial Studies Board (Conselho de Estudos do Poder
Judiciário), chamadas de Guidelines for the Assessment of General Damages
in Personal Injury Cases (Diretrizes para Avaliação de Danos Gerais
Decorrentes de Acidentes Pessoais). Tais tabelas fornecem parâmetros
indenizatórios para todos os tipos de danos corporais, a partir de precedentes
judiciários, sugerindo valores mínimos e máximos dentro dos quais o
julgador poderá transitar. O Judicial Studies Board é um conselho
responsável pelo treinamento e aperfeiçoamento do Poder Judiciário do
56

Reino Unido, um corpo independente e muito prestigiado no direito


britânico. Tal tabela é utilizada com grande frequência na resolução dos
casos submetidos ao Poder Judiciário local. O próprio sítio eletrônico do
Poder Judiciário da Inglaterra e País de Gales (Judiciary of England and
Wales) faz referência ao guia elaborado pelo Judicial Studies Board. A título
de exemplo, o valor da indenização por causa de paralisia do tipo paraplegia
é tabelada em um mínimo de £120,000 e máximo de £155,000. Também
devemos fazer referência à existência de um Judicial Studies Board for
Northern Ireland, que é semelhante ao existente no Reino Unido, mas com
abrangência à Irlanda do Norte. O referido conselho também edita tabelas
para resolução de conflitos relativos a danos corporais e morais.
(BATISTA, 2014, p. 162-163) (grifo nosso)

O que se pode vislumbrar, portanto, é que países mais desenvolvidos que o Brasil,
estipulam o parâmetro de fixação do dano imaterial a determinadas situações, entretanto,
semelhante ao Brasil, estipulam um mínimo e/ou máximo em que possa haver a atuação do
magistrado em atendimento aos critérios subjetivos que a legislação não é capaz de prever,
complementando, o julgador, a ausência da atuação da lei nos casos que se apresentam à ele.

Em suma, é precipitado afirmar, com firme certeza, sobre um futuro insucesso do


instituto, ora debatido, vez que em decorrência de experiências que logram êxito é falacioso
sustentar que no Brasil o instituto não será capaz de suprir as necessidades e as lesões
personalíssimas dos ofendidos.

4.3 PERSPECTIVAS PARA O BRASIL QUANTO A TARIFAÇÃO DO DANO


EXTRAPATRIMONIAL NO DIREITO DO TRABALHO

Frente aos inúmeros desafios e conflitos antes apresentados, provenientes da tarifação


do dano extrapatrimonial do art. 223-G da CLT, cumpre estabelecer que se abrirá novo espaço
para as descobertas que esse complexo instituto trará, entretanto, cumpre aqui estabelecer os
objetivos que tem alcançado e alguns exemplos de como tem sido aplicado na realidade dos
fatos in concreto. Isto posto, é que se conseguirá chegar mais próximo de uma conclusão da
verdadeira atuação dos parâmetros de quantificação da indenização para as lesões imateriais,
uma vez que se trata de campo inabitado.

Observe-se, ainda, que se algum critério discriminatório coubesse na fixação dos


danos morais, só haveria alguma racionalidade, ou razão de existir, se a intenção do legislador
fosse exatamente a oposta – a de proteger aqueles que se encontram em situação de maior
vulnerabilidade, ou seja, legislar para impedir abusos por parte dos magistrados.
57

Evidentemente, quanto menor a capacidade econômica do empregado, maior sua submissão


ao poder diretivo do empregado e menor a possibilidade de resistência, situação em que o
magistrado nem sempre consegue reverter e que somente a lei teria esse condão de
proporcionar, o máximo possível a suavização desta vulnerabilidade. (CASAGRANDE,
2017)

No mesmo sentido, assevera Ferreto (1996, p. 406-407):

Há necessidade, também, com vistas à tranquilidade que deve impetrar na


sociedade e a garantia contra excessos, de que se estabeleçam parâmetros
legislativos específicos tarifando entre um máximo e um mínimo o valor
indenizável do dano moral, hipóteses de incidência, definindo-se critérios
objetivos para sua quantificação, fatores de conveniência e possibilidade de
ressarcimento, como o fazem os diplomas legais antes mencionados e
algumas legislações de outros países para que não fiquem as partes adstritas
ao subjetivismo do julgador, sua maior ou menor impressionabilidade pelo
fato, suas vivências e experiências pessoais, nem sempre são boas
conselheiras, podendo recair-se no arbítrio, que não corresponde ao melhor
caminho para se fazer uma boa e efetiva justiça.

A exposição supramencionada nada mais disserta sobre os excessos do magistrado,


que por vezes pode tender ao lado que mais tem capacidade de promover boa tese (defesa),
mais recursos para se valer de aparato técnico, qual seja, a parte reclamada, que em quase
todas as vezes, assume o papel de ofensor, fazendo com que o ofendido tenha desvantagens
nos aspectos técnicos, informacional e, principalmente, econômico.

Mais uma vez, reafirmando o que deveras fora perpassado, a jurisprudência abaixo
deixou explicita a ideia de que o capítulo do dano extrapatrimonial veio somente para
contribuir e expandir os cabimentos do dano imaterial na vivencia do trabalhador, servindo de
instrumento, que possa ser manuseado pelo magistrado, no sentido de dar a ele larga atuação
norteado pelo parâmetro estipulado em norma trabalhista. O julgador não mais estar a vaguear
sem um referencial.

EMENTA: DANOS MORAIS. A análise dos pedidos de indenização de


danos morais antes da vigência de Lei 13.467/2017 tinha como fundamento
o artigo 5º, X, da CF/88 e os artigos 186 e 927 do Código Civil. Com a
reforma trabalhista, o legislador dedicou o Título II-A da CLT
exclusivamente ao dano extrapatrimonial, caracterizando e alargando as
hipóteses de sua incidência. No mesmo título, as reparações foram
graduadas de acordo com sua natureza em leve, média, grave e
gravíssima, fixando-se parâmetros para nortear os Magistrados na
análise dos pedidos. Não obstante, ainda prevalece o entendimento de que
mero dissabor, desconforto emocional, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano extrapatrimonial. (TRT-3 - RO:
58

00114989720165030075 0011498-97.2016.5.03.0075, Relator: Convocada


Maria Raquel Ferraz Zagari Valentim, Quinta Turma) (grifo nosso)8

No entanto, o que muito se discute é que a mudança do parâmetro – do princípio da


razoabilidade e proporcionalidade para tarifação determinada em lei – fará com que haja
diminuição das novas decisões em relação às anteriores a reforma trabalhista, no que tange a
compensação em pecúnia, e quanto a isto, ataca as jurisprudências abaixo elencadas:

EMENTA: [...] DANOS MORAIS. ATRASO NO PAGAMENTO DOS


SALÁRIOS E DAS VERBAS RESCISÓRIAS. O atraso no pagamento de
salários compromete a regularidade das obrigações do trabalhador, sem
falar no seu próprio sustento e de sua família, criando um estado de
permanente apreensão e angústia, de forma a configurar o dano moral.
Ademais, a reclamação em análise versa sobre um incontroverso e
inaceitável atraso de mais de nove meses no pagamento das verbas
rescisórias, fato este que longe de configurar mero dissabor, certamente
gerou ao empregado abalo psíquico passível de indenização. Para o
arbitramento do quantum indenizatório, devem ser observados os
parâmetros introduzidos pela Medida Provisória nº 808/2017,
publicada em 14/11/2017, uma vez que o direito à indenização
extrapatrimonial apenas foi reconhecido nesta decisão, ou seja, após a
publicação da referida MP. In casu, entende-se que o abalo psicológico
experimentado pelo Reclamante é de natureza leve, impondo-se limitação
da indenização ao teto de três vezes o limite máximo dos benefícios do
Regime Geral da Previdência Social, nos termos do inciso I do § 1º do art.
223-G da CLT. Assim, entende-se razoável o importe de R$ 2.000,00 para
reparar o dano moral experimentado pelo empregado, valor este em
consonância, ainda, com outras decisões desse colegiado. (TRT-11 RO:
00022031220165110011, Relator: JOSÉ DANTAS DE GOES, Gabinete
do Desembargador Jose Dantas de Goes) (grifo nosso)9

EMENTA: [...]DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.


PARÂMETROS DE FIXAÇÃO. Reconhecida a existência de doença
ocupacional, o dano moral é presumido, pois independe de prova, dada a
impossibilidade de concreção. Para o arbitramento do quantum
indenizatório, devem ser observados os parâmetros introduzidos pela
Medida Provisória nº 808/2017, publicada em 14/11/2017, uma vez que
o direito à indenização extrapatrimonial apenas foi reconhecido nesta
decisão, ou seja, após a publicação da referida MP. In casu, a Autora sofre
de moléstias nos ombros e punhos, agravadas pelo trabalho, ocasionando
lesão a direitos de sua personalidade e causando-lhe verdadeira angústia e
sofrimento. Deve-se ponderar, contudo, que a contribuição do trabalho
na doença foi baixa-leve, conforme pontuado pela Perita, além da
possibilidade de recuperação completa da lesão mediante a realização de
tratamento adequado, fatores que autorizam o enquadramento da ofensa

8
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt3.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=196169&p_grau_pj
e=2&p_seq=11498&p_vara=75&dt_autuacao=29%2F01%2F2018&cid=375233 Acesso em: 08/05/2018.
9
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt11.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=42626&p_grau_pj
e=2&p_seq=2203&p_vara=11&dt_autuacao=01%2F08%2F2017&cid=1123671 Acesso em: 07/05/2018.
59

como de natureza leve, impondo-se a limitação da indenização ao teto de


três vezes o valor do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, nos termos do inciso Ido § 1º do art. 223-G da CLT.
Assim, entende-se razoável o importe de R$ 10.000,00 para reparar o dano
moral experimentado pela empregada, valor este em consonância, ainda,
com outras decisões desse colegiado. (TRT-11 00012749720165110004,
Relator: JOSÉ DANTAS DE GOES, Gabinete do Desembargador Jose
Dantas de Goes)10

Ora, como bem informado pelo Desembargador responsável por julgar tais recursos,
as indenizações, que ocorreram pós-reforma trabalhista, utilizando seu critério de tarifação,
ainda estavam consonantes, ou seja, concordantes com o anterior empregado como
estipulação do quantum indenizatório. O que revolve o pensamento de que o art. 223-G,
mais especificamente, o § 1º da CLT, não teve a intenção de modificar ou prejudicar o
ofendido da esfera trabalhista, mas organizar a questão das decisões que estipulavam esse
quantum, não mais os confiando ao estado de espírito do magistrado.

Observa-se, de maneira clara, que é mantido um padrão nas decisões acima


apresentadas, o que acaba gerando uma segurança jurídica para quem pede a reparação do
dano imaterial, e para quem é condenado ao pagamento. Desta feita, é nítido notar que a
tendência de se criar um padrão para a indenização por danos extrapatrimoniais é provável,
Almeida e Almeida (2018, p. 175) ainda vão mais longe, quando afirmam que a tarifação é
constitucional:

A Constituição da República de 1988 reconhece o direito fundamental à


reparação irrestrita e integral dos danos morais (art. 5º, incisos V e X). É
que. Além de estabelecer que os danos morais devem ser reparados, a
Constituição dispõe, expressamente, que a reparação deve ser proporcional
ao dano. Cumpre, então, verificar se a Lei n. 13.467/2017 e a Medida
Provisória n. 808/2017 estão em harmonia com a Constituição, quando
acrescentam à CLT artigo que promove a tarifação da reparação dos danos
morais.

Como antes também desbravado, acerca da obediência rígida e acirrada do julgador e


aos critérios estabelecidos pela norma trabalhista à reparação dos danos extrapatrimoniais,
tal caso concreto também diverge, uma vez que ultrapassa o teto estabelecido, sob a
justificativa de não desfazer a sentença antes proferida, mantendo a situação mais favorável
ao trabalhador:

10
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt11.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=46554&p_grau_pj
e=2&p_seq=1274&p_vara=4&dt_autuacao=19%2F10%2F2017&cid=1123786 Acesso em: 08/05/2018.
60

EMENTA: [...] DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. Ocorrência de falha


por parte da Reclamada que não cuidou de verificar o cumprimento das
normas legais, bem como por parte do autor que adentrou na grade de
segurança sem observar as determinações quanto a existência de riscos,
face aos sensores desligados. Assim, diversamente do alegado pelo autor, o
mesmo, como bem assentado na decisão recorrida, teve culpa concorrente.
A MMª Juíza a quo, quanto ao dano moral, determinou (fls. 205): “Pelo
exposto, julgo procedente o pedido para determinar o pagamento de
indenização compensatória por danos morais no importe de
R$80.000,00, considerando a extensão do dano, a ação omissiva e
negligente da ré, a culpa concorrente do autor, o não enriquecimento
ilícito, e o caráter pedagógico da medida”. Entendo que o valor fixado está
de acordo com o previsto no art. 223-G, § 1º, inciso IV, da lei 13467 de
13/07/2017, verbis:“Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: § 1o Se
julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada
um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário
contratual do ofendido.” O Autor, quando do evento percebia a
remuneração no valor de R$1.244,44, que se multiplicado por 50 daria
um total de R$62.222,00, menor do que o valor fixado pela sentença
recorrida. [...] Assim, nego provimento. (TRT-1 RO:
00025206920135010471. Relator Luiz Alfredo Mafra Lino, Quarta turma)
(grifo nosso)11

Desse modo, é insensato afirmar que o magistrado perde o seu livre convencimento e
fica na esfera da impossibilidade de agir diferente da lei quando o caso em questão traz muitas
especificidades que a lei não consegue abarcar, cabendo então, após as observações aos
critérios estabelecidos, quando insuficientes, o revolvimento aos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade.

Também busca atender, a estipulação da indenização, em não violar os direitos


fundamentais, ora, se a norma for insuficiente para atender às necessidades psicológicas e
honra do ofendido que se encontra em uma situação de profundo abalo, cabe, primeiramente,
em recorrer as normas e garantias constitucionais, em que a vida e dignidade estão no topo
dos direitos personalíssimos ao ser humano.

Para tanto, é que a Medida Provisória nº 808/2017 trouxe ao artigo 223-G, o § 5º, que
versa no seguinte sentido: “Os parâmetros estabelecidos no § 1º não se aplicam aos danos
extrapatrimoniais decorrentes de morte.”.

Reconhecidamente é que se identificou, no teor da Medida, que um dano


extremamente gravoso seria muito difícil de ser mesurado, e não caberia, dependendo do caso
11
Inteiro teor da decisão disponível no site
http://consulta.trtrio.gov.br/portal/processoListar.do;jsessionid=0a01403530d61b6e2ca1930e4348bd67ec59608b
2dcc.e3uMb3eNbxaOe3eOb3qMbNeQai1ynknvrkLOlQzNp65In Acesso em: 09/05/2018.
61

real, nas hipóteses elencadas no § 1º, do art. 223-G. Ocorre que houve uma flexibilização na
letra da Lei, para que inicialmente fosse atendida a norma de garantia constitucional, uma vez
que se trata de sofrimento extremado, que diferentemente das outras lesões que ocorrem com
muita frequência na justiça do trabalho e já existem diversos precedentes em que a norma, ao
estabelecer a tarifação, tomou por parâmetro.

Por conta disto, a norma trabalhista jamais tomará o espaço de importância das
garantias constitucionais, o que facilmente poderá ser flexibilizado frente a casos
excepcionais, como ocorrera no exemplo demonstrado acima.

No entanto, ainda retornando ao que seria um critério igualitário, se faz imprescindível


que seja, tal critério, estipulado por denominador comum para todos quanto se utilizarem do
instituto que protege os bens personalíssimos, por isso, novamente é arguido que o parâmetro
trazido pela Medida Provisória nº 808/2017 obteve posicionamento acertado, uma vez que o
benefício máximo do Regime Geral da Previdência Social é uma baliza igual para todos, o
que não é passível de distinções em razão de condições pessoais. Como demonstra exemplo
abaixo:

SENTENÇA. FUNDAMENTAÇÃO. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. Considerando a responsabilidade da empregadora pelas lesões
sofridas pelo reclamante em virtude da doença ocupacional, entendo
cabível uma indenização por danos morais. No caso, o dano moral decorre
da ofensa à integridade física e psíquica da vítima. Tendo em vista o
transtorno psíquico do autor, com redução de sua capacidade laborativa
para a função que desempenhava de forma permanente, além da dor física
experimentada com a lesão, o abalo à integridade física e psíquica é
presumível (causando sentimentos de dor, tristeza, angústia e sofrimento),
ficando caracterizado o dano moral, gerando o direito à compensação pelo
desgaste, na forma de uma indenização, conforme estabelecem os
arts. 5º, V e X, da CF/88 e 927 do CC. Assim, considerando o nexo de
concausalidade, o porte econômico da reclamada, a extensão dos danos
sofridos pelo obreiro, a função compensatória da reparação (sem gerar
enriquecimento sem causa), o caráter pedagógico da verba, o princípio da
razoabilidade e os demais requisitos previstos no art. 223-G da CLT,
considero a ofensa de natureza leve e arbitro a indenização por danos
morais em valor equivalente a três vezes "o valor do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social" (art. 223-G, §
1º, I, CLT), que corresponde ao montante de R$ 16.937,43 (3 x R$
5.645,81). Diante do exposto, defiro o pagamento de uma indenização, a
título de danos morais, em valor equivalente a R$ 16.937,43. (TRT-21 RT:
0000203-41.2017.5.21.0006. Juíza do Trabalho Lais Manica, Sexta Vara
do Trabalho de Natal, RN) (grifo nosso)12

12
Inteiro teor da decisão disponível no site
https://pje.trt21.jus.br/consultaprocessual/pages/consultas/DetalhaProcesso.seam?p_num_pje=122560&p_grau_p
je=1&p_seq=203&p_vara=6&cid=88699 Acesso em: 09/05/2018.
62

Destarte, grau de natureza leve, se conforme a referida Medida Provisória fosse


fixado, seria igual para todos que a ela necessitassem recorrer, uma vez que o salário que uma
pessoa ganha não é e não pode ser um elemento de mensuração de sua dignidade e isto viola
inclusive a vedação expressa na Constituição (art. 7º, inc. XXXII) de distinção entre trabalho
seja ele manual ou técnico, ou ainda intelectual e entre seus respectivos profissionais, pois,
evidentemente, a posição do trabalhador no mercado de trabalho e na escala salarial depende
de sua qualificação e do tipo de atividade que desempenha. (CASAGRANDE, 2017)

Portanto, não pode o trabalhador ficar à mercê do quanto recebe mensalmente para
medir, em caso de ofensa à sua honra, o preço da sua dignidade, em contrapartida, resta claro
que, sim, faz-se necessária a existência de uma parâmetro que norteie o magistrado, mas que
tal parâmetro seja utilizado de maneira igual a toda classe de trabalhadores, e quando tal
tarifação não for suficiente para anteder o caso concreto de maior complexidade e necessidade
de uma maior compensação que se recorra ao parâmetro antes utilizado, qual seja, os
Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade aplicáveis às decisões judiciais.
63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se propôs a explicitar a maneira como se dá as discussões acerca


da tarifação estipulada no § 1º, do artigo 223-G, da Lei n. 13.467/2017, e estabelecer parecer
razoável conforme os argumentos que foram expostos na monografia em comento.

A partir da investigação das normas que seguem no sentido de complementar o


instituto de dano extrapatrimonial, bem como nos princípios e jurisprudências que foram
extraídas de momento anterior e posterior à reforma trabalhista. Ainda, fora perscrutado, de
forma sutil, acerca do direito comparado, para demonstrar atuação do tabelamento de danos
imateriais na esfera real, os efeitos e como forma de vislumbrar um possível futuro para
referida norma no Brasil.

Basilar para se chegar ao desfecho do presente trabalho, fora analisar o contexto


histórico que gerou o atual instituto de dano extrapatrimonial, mais debatido no primeiro
momento, tendo como principal abordagem a história do referido instituto no Brasil e na
esfera trabalhista, momento este, que evoluiu até instante em que a reforma trabalhista passou
a estar vigente.

É sempre importante frisar, que a gênese e evolução do dano moral é imprescindível


para serem revelados os porquês que fundamentam a existência do instituto, bem como nos
ajuda a entender como se chegara ao aspecto vivenciado hoje, qual seja, o tabelamento do
dano extrapatrimonial.

Para fundamentar o instituto de reparabilidade faz-se mister perscrutar, também, sobre


os princípios que criam a base onde as normas de direito, sob o aspecto do dano moral, irão
ganhar guarida, vez que como já fora visto, o dano imaterial teve como escopo, em primeiro
lugar, a dignidade da pessoa humana, por conta da relação trabalhista abarcar em pelo menos
um dos polos a pessoa física, dotada de direitos e deveres, capacidades cognitivas e um ser
intrínseco passível de sofrer lesões e abalos de diversos âmbitos.

Outra base usada para justificar a aplicação do dano moral, fora o Princípio protetor,
que aufere ao trabalhador máxima proteção de interesses, posto que perfaz o lado mais
fragilizado em uma relação empregatícia. Ainda, foi utilizado o Princípio da Igualdade como
garantia constitucional, no que se refere a reforma, posto que não obedece a tal princípio o
fato da indenização ser estipulada tendo por referencial uma condição pessoal do trabalhador,
64

uma vez que isso geraria diferenciações de quantum indenizatório para idênticas lesões,
fugindo das normas e garantias constitucionais.

Se expôs ainda, o confronto traçado entre tarifação do quantum indenizatório e


dignidade da pessoa humana, qual seja, o trabalhador, por conta de vários pesquisadores da
área concordarem que a nova norma compõe conteúdo inconstitucional, em razão de haver
uma quantificação da dor do empregado e, ainda, tratar como um cálculo uma lesão que ataca
ao íntimo do ser humano, por vezes, ou lhe deixa marcas físicas ou psicológicas por muito
tempo.

O critério defendido por grande maioria, são os que levam em consideração os


Princípios da razoabilidade e proporcionalidade para o juiz do caso determinar o quanto
merece um trabalhador que teve sua honra ou integridade física lesionada, ou seja, reduzindo
o desfecho do processo a uma única pessoa que nem sempre garante resultado satisfatório,
pois em meio a um enorme número de demandas torna-se impossível alcançar a precisa
atenção a cada caso.

Para fomentar tudo quanto fora arguido, expõe-se algumas decisões que estipulam
quantum indenizatório em casos semelhantes e demonstra-se como são divergentes a
sentenças não tarifadas mediante a lei, assim como o livre convencimento do magistrado não
garante resultado justo ou igualitário.

Ainda é analisada a forma com que a norma trabalhista – no que diz respeito ao novo
título de dano extrapatrimonial – é recepcionada, as primeiras impressões que ela causou aos
brasileiros direta ou indiretamente envolvidos com o regramento que norteia as relações de
trabalho. Se chegando à conclusão de que a hostilidade paira sobre os que a analisam,
entretanto, se fez um olha diferenciado, analisando os pontos positivos do tabelamento trazido
pela reforma.

Quanto ao conteúdo do § 1º, do artigo 223-G, da CLT, que aborda a tarifação da


indenização por danos extrapatrimoniais, fora expostos argumentos em sua defesa, sob firmes
alegações que confiar na decisão de uma só pessoa, o magistrado, para determinar o que o
lesionado sente é tão perigoso, ou mais perigoso, que confiar ao Poder Legislativo definir
previamente o valor de uma lesão que visa apenas recompensar ou amenizar os efeitos
negativos trazidos pelo dano.
65

Na intenção de transpor e visualizar um possível futuro para o país, quanto suas


normas trabalhistas de tarifação, usa-se o direito comparado, trazendo países, como Portugal e
Reino Unido, para conjecturar as expectativas esperadas para o Brasil, nos exemplos
demonstrados as experiências de tabelamento lograram êxito, entretanto, diferentemente da
reforma, continham um parâmetro inicial para estipulação de indenização padrão, ou seja, um
valor igual para todos, imutável.

Ainda, para demonstrar que a tarifação não trará mudanças drásticas, cita-se
jurisprudências atuais, pós-reforma, que tem o condão de desmitificar o desconhecido e
demonstrar que o magistrado ainda possui liberdade de atuação.

Ao fim, toma-se entendimento, conforme os fundamentos trazidos, de que a


experiência de tarifação da indenização por danos extrapatrimoniais poderia proporcionar
igualdade nas decisões e maior atendimento ao Princípio da Legalidade, deixando que o Poder
Legislativo assuma sua competência de legislar como representantes do povo, e o Poder
Judiciário passaria a exercer somente seus encargos de aplicar a lei do povo.

A conclusão desta pesquisa não consiste em exaurir as discussões acerca da forma de


reparação por danos extrapatrimoniais, entretanto, de maneira modesta, demonstrar
posicionamento e evidenciar o entendimento minoritário a respeito do assunto aqui retratado.
Mas acerca daquilo que se entende essencial, pretende-se demonstrar completude.
66

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