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PSICOLOGIA E RELIGIÃO
(James Hillman)
Por
às exigências da disciplina
do
DEZEMBRO DE 2002
2
RESENHA
I) BIBLIOGRAFIA:
1
HILLMAN, James. Uma busca interior em psicologia e religião. Pág. 21.
2
Ibid, pág. 22.
3
Ibid, pág. 36.
4
Neste sentido Hillman diz que não adiante haver conflito entre teologia e psicologia na
luta pela alma. Ambas tem seu papel e sua relevância no cuidado da alma. Hillman ao
abordar a alma no campo analítico, mostra a importância do inconsciente e os meios de
perscruta-lo. Atos falhos, sonhos, associação livre são instrumentos da psicanálise que
podem descortinar o “iceberg” do inconsciente. Diante desta viagem a interioridade
humana, se encontra complexos, recalques, profundas emoções, que servem como
diagnóstico de uma alma triste e vazia. Não há como negar que alma está
profundamente ligada às emoções. E dentro desta dimensão a religiosidade tem um
lugar importante na vida afetiva das pessoas. Para Hillman, o pastor pode se aproveitar
de alguns recursos da psicanálise, no sentido de aprofundar-se mais na interioridade
humana. Por exemplo, Hillman sugere que os pastores valorizem mais os sonhos. 7 O
autor sugere que sejamos “amigos do sonho”. Nada é mais nosso do que nossos próprios
sonhos... Esta amizade propiciará uma clarificação maior dos nosso conflitos
mergulhados no inconsciente.
Concluindo este capítulo, Hillman faz um paralelo entre a alma e sua relação
com a psicologia e a teologia. Hillman afirma que a preocupação religiosa torna-se uma
manifestação espontânea de cada um de nós, quando a alma é reencontrada. 8 Ou seja, a
mera religiosidade sem o aprofundamento da alma pode torna-se uma “camisa de força”
terrível, alienando e cauterizando consciências e roubando a perspectiva de vida
espiritual e afetiva. Na busca pela alma, Hillman indaga se a prioridade é da psicologia
ou da religião. Neste aspecto ele afirma que para a psicologia, o que vem primeiro é a
alma, depois a religião. Mesmo assim, a alma não atinge a plenificação sem concretizar
o seu envolvimento religioso.9 A conclusão que Hillman chega diante deste
questionamento é que a redescoberta da alma através do inconsciente resulta num
interesse ao mesmo tempo teológico e religioso.
Creio que como pastores, a alma é um assunto que gira tanto no aspecto
dogmático, teológico, como também no aspecto emocional, psicológico, intrínseco a
vida e a felicidade. Cabe a nós, refletirmos no tema, usando todos os meios possíveis
para propiciar saídas aos conflitos humanos, a começar dos nossos..
7
ibid. pág. 60
8
Ibid, pág. 66.
9
Ibid., pág. 67.
6
17
Ibid, pág. 103.
18
Ibid. pág. 108.
9
Hillman faz um paralelo entre a relação da anima com a religião, dizendo que a
“anima” expressa nossa capacidade de responder e de interiorizar, como também nos
mostra formas de desdobramento de nossa vida religiosa. Se a imagem da minha alma
for jovem demais, ou então muito fria ou materialista, ou ainda muito crítica, é certo
que haverá distorções correspondentes em minha vida religiosa. 19 O que Hillman diz faz
sentido quando olhamos para o embrutecimento de alguns líderes eclesiásticos, que
necessitam desesperadamente em descobrir sua “anima”, visto que desprezam um lado
do qual são tão carentes para se encontrarem com a linguagem do afeto e do amor.
Hillman diz que para nos aproximarmos da feminilidade interior, é necessário
avaliarmos nossas emoções e estados de ânimo. O inconsciente desvenda por meio de
sonhos, fantasias e emoções expressões de nossa interioridade. O lado feminino é visto
em atitudes como autopiedade, sensibilidade, sentimentalismo, consciência de
fraqueza, desânimo e depressão. Esses tipos de emoções realmente diminuem a
eficiência de um homem, assim como discutir e brigar quase sempre diminui a
capacidade feminina de criar relacionamentos. Apenas em situações íntimas, é que os
homens conseguem revelar essa feminilidade, esse aspecto sensível, delicado e até
mesmo suscetível.
Estas observações que Hillman faz, nos desafia a conhecer e perscrutar o que há
em nossa interioridade. Muitos pais não compreendem seus filhos adolescentes, pois
não houve acerto com a criança ou adolescente interno; da mesma forma muitos homens
que passam pela crise da meia idade necessitam entender e discernir os sintomas que os
levam a romper com família, sociedade, etc., e isto tem a ver com a descoberta do que
somos interiormente e nossas necessidades. É necessário, neste caso, como afirma
Hillman, uma reorientação do ponto de vista masculino que parece ser o propósito das
emoções femininas que nos deprimem e enfraquecem.20
Hillman aprofunda mais o tema, ao relacionar os símbolos e modelos do aspecto
feminino que aparecem na experiência religiosa. O autor cita exemplos como xamãs,
Hércules; Orfeu; Buda; A cabala judaica; a Mariologia; etc.
O movimento em direção à alma é um movimento de interiorização. Esta
interiorização não deve ser entendida como o interior do homem, mas sim o interior das
coisas, de todas as coisas. Hillman resgata a antiga idéia da anima-mundi, a alma do
19
Ibid, pág. 109.
20
Ibid, pág. 112.
10
mundo, para mostrar que tudo possui alma, que em tudo é possível haver
interiorizações. Cultivar a alma é, portanto, entrar gradualmente em contato com a base
poética da mente, expressão utilizada por Hillman para apontar o caráter imagético do
psiquismo.
Hillman faz uma alusão também aos conflitos encontrados no casamento e na
relação familiar. Temas como intimidade, sexo e paixão, nos leva a refletir no desprezo
ou ignorância quanto aos aspectos pertencentes a “anima” ou ao “animus”. No
casamento, por exemplo, temos a chance de viver a união dos opostos e de cultivar Eros
todos os dias. Hillman afirma que no casamento, duas metades não fazem um inteiro.
Esta afirmação denuncia o conceito que existe em muitas de nossas igrejas, que levam
os jovens a esperar do casamento, o meio pelo qual eles se sentirão “inteiros”. No
casamento, devem se unir pessoas “inteiras” que estejam abertos para uma relação de
troca e afeto. Hillman faz um balanço interessante das responsabilidades e influência do
homem e da mulher na relação. Hillman afirma que a perda da “anima” do homem e os
seus laços maternos ultracompensatórios, bem como o fato de a mulher esconder-se da
feminilidade no envelhecimento, são os fatores que rapidamente ressecam e congelam o
casal em maridos e mulheres pré-fabricados, tão arquetipicamente iguais em todos os
cantos do mundo.21
Toda abordagem levantada por Hillman neste capítulo revela a contundência da
feminilidade interior, a realidade da anima nos principais conflitos e dilemas do ser
humano, conflitos estes que englobam a religião. Cabe aos conselheiros refletirem estas
questões no gabinete pastoral com o coração aberto, partindo das próprias necessidades
que nós “curadores feridos” vivenciamos. Há muitos aspectos no temperamento e na
alma das pessoas, que necessitam de uma leitura mais profunda e significativa quanto as
origens de seus dilemas e conflitos.
21
Ibid, pág. 119.
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ficou difícil associar o tema proposto no capítulo, nas várias idéias desenvolvidas, sem
uma devida estruturação de subtemas.
Em alguns parágrafos, senti um pouco de dificuldade em compreender os
pressupostos levantados pelo autor, principalmente em situações que ele postulava
conceitos de psicologia. Mas de qualquer forma os temas desenvolvidos nestes quatro
capítulos disseminaram idéias interessantes na relação entre teologia e psicologia.
No geral, creio que a proposta de Hillman por uma busca interior no campo da
religião e psicologia, é relevante aos tempos em que vivemos e esta obra deve ser lida e
analisada por conselheiros que postulam trabalhar com pessoas na restauração de seus
conflitos e na busca de uma vida mais plena.
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AGRESTE, Ricardo. Artigo 4 - www.fortunecity.com/victorian/pictureway/147/
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