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Centro Presbiteriano de Pós - Graduação Andrew Jumper

Junta de Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil

Livro: “A Prática da Conversação Pastoral”

Heije Faber e Ebel Vander Schoot

por

Alcindo Almeida

Resenha apresentada à matéria de Perfil do Conselheiro e Seus

Procedimentos

Professor: Rev. José Cássio Martins

São Paulo

09 de dezembro de 2002
2

1- Referência Bibliográfica:

- Faber, Heije e Ebel Vander Schoot, A Prática da Conversação Pastoral. ( São Paulo:

Editora Sinodal, 1985).

- Nouwen, Henri, A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo – O


Caminho do Coração. ( São Paulo: LOYOLA, 2000).

- Peterson, Eugene, Pastor Desnecessário. ( São Paulo: TEXTUS, 2001).


3

2- Síntese das Principais Idéias:

 Primeira Parte: O método da Conversação Pastoral:

Heije afirma que aquilo que torna atraente e colorida a vida, e inclusive o

convívio é o fato de termos os nossos sentimentos de alegria e tristeza, simpatia, amor e

ódio e de lhes atribuirmos um papel no contato com os semelhantes.1

Ele diz que nas relações, na maioria das vezes, antentamos somente para o

conteúdo das palavras, e nos esquecemos, tanto em relação ao outro como a nós mesmos,

que as palavras têm sua função num contexto de determinados sentimentos.2

Como pastores precisamos de um contato poimênico que possibilite uma

comunicação autêntica da mensagem querigma.

Não podemos esquecer de que não só as palavras têm importância, os

sentimentos são muito importantes.3

Conversação é muito mais importante do que mera troca de palavras e os sentimentos

desempenham um papel decisivo no primeiro contato que temos com os pacientes. 4

( ovelhas)

Heije afirma que é infundado o temor do silêncio no decorrer de uma conversação


pastoral. Calar e ouvir o silêncio de uma pessoa pode ajudar muito. 5 Creio que se lermos o
cap. Solidão: A Fornalha da Transformação do Livro de Henri Nouwen: Entenderemos
perfeitamente o que Heije quer dizer. Henri afirma: O silêncio é muito mais do que a ausência de
fala. Essencialmente, silêncio é ouvir.6
Uma conversação pastoral assemelha-se a um desembarque numa ilha:

deve-se antes de contornar toda a ilha, para ter-se a certeza de escolher o melhor porto.7

As pessoas no processo de aconselhamento, só querem ver alguém disposto

a participar vivamente dos seus problemas e ajuda-las a encontrar uma solução.

1
Faber, Heije e Ebel Vander Schoot, A Prática da Conversação Pastoral. ( São Paulo, Editora Sinodal,
1985), 5.
2
Faber, Heije 6.
3
Faber, Heije, 8.
4
Faber, Heije, 15.
5
Faber, Heije, 16
6
Henri Nouwen, A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo – O Caminho do Coração.
( São Paulo: LOYOLA, 2000), 39 e 40.
7
Faber, Heije, 20
4

No processo de conversação o pastor deve deixar a pessoa falar, falar... para

depois opinar algo.8

Precisamos desfrutar na conversação pastoral de um relacionamento

acentuado, de solitude, abertura com a pessoa, confiança e amor para com ela.

Não podemos nos esquecer de que na conversação pastoral, não se moraliza

em nenhum momento e nem dogmatiza-se. A função na Palavra do profeta de Deus, era

conclamar o povo com amor e não convencê-lo.

- Ouvir e responder na conversação pastoral:

Na conversação pastoral a relação profética é de sujeito para sujeito. O

profeta não é perito ou o que sabe tudo, que observa e trata o outro de cima, ao contrário, é

aquele que vive plenamente com o outro.9

O pastor precisa de um princípio no coração, o de aceitação das pessoas.

Nós as aceitamos em nome do Senhor Deus. Isto com certeza tornará mais fácil a nosso

procedimento com elas. O pastor precisa da consciência de que é um servo de Cristo e a

partir daí, tem a sua missão profética. Assim, ele chama e conclama.10

Uma outra questão importante que Heije trabalha é a necessidade do pastor

ter empatia. Ou seja, sentir em si mesmo os sentimentos do outro. Isto nos servirá de

orientação para lidar com a crise, a aflição e as dores dele.11

Heije nos lembra que no aconselhamento nós não podemos discutir em nenhum momento

com a aconselhado. Quando fazemos isto, deixamos de estar ao lado do outro e acaba a

assistência pastoral por completo12

Heije lembra-nos algo muito importante no aconselhamento pastoral: nós

não somos especialistas, mas servos da grande mensagem do Evangelho do Senhor Jesus.

8
Faber, Heije, 22
9
Faber, Heije, 27.
10
Faber, Heije, 31.
11
Faber, Heije, 32.
12
Faber, Heije, 38.
5

Então, como pastores, sofremos com os pacientes, agimos com amor. Ouvimos de maneira

comprometida.13

A nossa relação deve ser caracteriza pela amor. Assim, as nossas palavras

são pronunciadas numa certa relação caracterizada pelo amor. Isto é estar ao lado do outro.

Isto é parte do processo de aceitar o outro de maneira calorosa.

O amor sincero é o meio de ajuda no nosso trabalho pastoral.14

Heije afirma que amar ao outro e obediência à nossa missão deverão ser

nossas linhas mestras.

Algumas atitudes são extremamente importantes no aconselhamento

pastoral:

1. Reflexão empática;

2. O pensar;

3. O sentir atenciosamente com o outro.

Poimênica consiste naquela comunhão com o outro que ajuda a possibilitar

a decisão de fé.15

Na relação pastoral, no aconselhamento, precisamos ouvir a nós mesmos e

depois ao outro. Precisamos de humildade, força, obediência e amor para confrontarmos as

pessoas que aconselhamos.16

- Problemas Metódicos:

Precisamos expressar simpatia na nossa voz, pois isto é uma fator

importante no aconselhamento pastoral. Depois, precisamos aprender a ouvir o que o outro

está dizendo.17

13
Faber, Heije, 39.
14
Faber, Heije, 41.
15
Faber, Heije, 44.
16
Faber, Heije, 45.
17
Faber, Heije, 49.
6

Uma ação importante é fazer com que os outros percebam que nós

pensamos e vivemos os problemas deles.18

Uma das marcas no aconselhamento é estar ao lado do outro

permanentemente.19

- Aspectos teóricos da conversação pastoral:

- Counseling = aconselhamento na conversação pastoral

Nós como conselheiros somos responsáveis pelo bem estar espiritual

daqueles que nos são confiados pelo Senhor.20

No conseuling, temos que ouvir e refletir com o outro sem autoritarismo. Pois, o

aconselhamento sempre será uma ocasião para proclamação, consolo, admoestação, isto

num sentido autenticamente pastoral.21

Proclamar não é disparar palavras sem relevância, mas é estar ao lado do

outro e entrar em comunicação autêntica com ele. Para isto acontecer, é necessário

compreender o outro de maneira paciente e intensivamente, nas suas dificuldades e

problemas. É uma audição ativa.22

Como conselheiros, precisamos dar oportunidade para o outro desabafar.

Precisamos de tolerância total.23

- A aceitação:

Uma outra atitude importante da nossa parte é que devemos aceitar o outro

com ele é. Isto sem emitir qualquer espécie de juízo com ele. Nós somos servos que estão a

disposição de consolar qualquer um em qualquer situação.24

18
Faber, Heije, 63.
19
Faber, Heije, 82.
20
Faber, Heije, 92.
21
Faber, Heije, 93.
22
Faber, Heije, 93.
23
Faber, Heije, 95.
24
Faber, Heije, 97.
7

Para isto acontecer, precisamos ver as pessoas à luz de Cristo. O amor de

Cristo noa ajuda a concretizar a liberdade na conversação, isto ajudará ao outro a fazer um

juízo correto de si mesmo.25

- Misericórdia Profética:

O nosso contato pastoral deve levar as pessoas ao arrependimento, a

admoestação e a promissão do consolo e perdão. A lembrança no nosso coração é o Senhor

Jesus Cristo, que ia onde as pessoas estavam e as aceitava com graça, amor e misericórdia

sem preconceitos.26 ( Exemplo: mulher samaritana )

A advertência para nós é que: sem a aceitação, toda a conversação não

passará de mera doutrinação. A proclamação pressupõe fazer causa comum e vivência

solitária. Esta proclamação ocorre no ato de fé, no risco com o qual pessoas se apegam a

uma verdade, e que transcende a todas as possibilidades humanas.

O pastor está a serviço do Senhor, portanto, deve enxergar as pessoas

sempre na luz do amor divino. 27 Deve aceitar o outro que ele é, e tentando colocar-se

dentro do possível na situação dele. Isto sem qualquer distanciamento, sem moralização no

processo de aconselhamento, sem generalizações.28

Um lembrete importante para o pastor é que ele deve ter a capacidade de

ouvir como uma habilidade que exige uma considerável técnica. Pois, para ouvir é

necessário um comportamento de paciência muito grande.

Não podemos nos esquecer que na conversação pastoral, o conteúdo deve

ser o anúncio do perdão de pecados por meio de Jesus Cristo.29

Como conselheiros, somos aqueles que acompanham as pessoas ao local

onde Deus pretende encontrar-se com ele.30

25
Faber, Heije, 98.
26
Faber, Heije, 98 e 99.
27
Faber, Heije, 100.
28
Faber, Heije, 103.
29
Faber, Heije, 102.
30
Faber, Heije, 104.
8

- Teologia e Psicologia:

Nós como pastores temos o ministério de sermos servos de Cristo. Portanto,

somos servidores da comunidade. Nesta perspectiva, vemos o consulente na luz de Cristo.

Nós como pastores, somos membros desta comunidade. Não só nós podemos ter o serviço

de consolo e terapia, a comunidade também pode desempenhar a função terapêutica, num

sentido da pessoa achar um ambiente de atenção, carinho e desenvolvimento da paz no

coração.31

O aconselhamento tem o seu resultado final quando o pastor desaparecer

como fator determinante na tomada de decisões e o consulente tem a liberdade para diante

de Deus tomar as decisões necessárias na sua caminhada da vida.32

No aconselhamento, somente o amor de Cristo deverá impulsionar-nos na

procura de um relacionamento pastoral.

Geralmente a pessoa procura o pastor porque querem melhorar a vida. E

nesta procura, sente alguma culpa, clara ou obscuramente, tendo assim a consciência de

que ela própria pode modificar algo.33

O nosso papel no aconselhamento pastoral é através do serviço a Cristo,

levar através de uma assistência prestada uma resposta adequada para os problemas

pessoais do outro.34

Como pastores conselheiros, precisamos aprender a penetrar na situação da

pessoa. Isto sem se envolver emocionalmente com ele. Neste ponto, exige-se da nossa parte

um certo conhecimento da Psicologia. Daí, a necessidade de fazermos sempre uma auto –

avaliação. Termos um mentor para nos direcionar na caminhada.35

Sobre esta questão, creio que vale a pena lermos Eugene Peterson quando

ele trata sobre a orientação espiritual.

31
Faber, Heije, 107 e 108.
32
Faber, Heije, 109.
33
Faber, Heije, 112.
34
Faber, Heije, 117.
35
Faber, Heije, 119.
9

Ele diz que orientação espiritual implica em ajudar uma pessoa a perceber o

mover de Deus em sua vida, o que muitas vezes significará dar atenção ao que é tido como

ordinário. Ele diz que os pastores normalmente dão atenção convergente e devota por

pouco tempo e sem planejamento. Ele afirma que direção espiritual é levar a sério, com

atenção e imaginação disciplinada, aquilo que outros tomam como casual. Nomeando,

atentando e conversando, podemos ensinar nossos amigos a lerem o Espírito e não apenas

os jornais36.

E. Peterson chama-nos a atenção da importância da mentoria porque a

prática da orientação espiritual não implica em colocar em as agendas pastorais de

atividades outras das que já fazem habitualmente. Na verdade, para a prática desta tarefa

tão essencial no ministério pastoral, precisamos ter a disciplina em prestar maior atenção

aquilo que temos tido por ordinário e nos tornar sensíveis ao mover de Deus na vida

daqueles que nos cercam.37

 Segunda Parte: De Ebel Van Der Schoot

 Estruturas: Comparação da conversação pastoral com outros tipos de

conversação.

Van Der Schoot afirma que um fator comum em todos os tipos de

conversação é a preocupação por soluções de dificuldades, levando em conta os aspectos

sociais e psicológicos dentro dos limites dos objetivos colocados.38

A condução psicologicamente responsável de uma conversação é de enorme

significado para a conversação pastoral.39

- Peculiaridades da conversação pastoral:

36
Eugene Peterson - Pastor Desnecessário. ( São Paulo, TEXTUS, 2001), 137 à 139.
37
Eugene Peterson, 140 e 141.
38
Faber, Heije, 130.
39
Faber, Heije, 135.
10

O caráter específico da conversação pastoral reside no fato de todas as

questões, com as quais se envolve uma pessoa no dia a dia da sua vida, inclusive as

corriqueiras, serem confrontadas com o Evangelho e analisadas à luz da fé.40

As pessoas devem ter confiança e segurança quando iniciam o processo de

aconselhamento conosco. Tudo isto na luz de Deus Pai.41

- A Comunhão da Comunidade:

Van Der Schoot chama-nos a atenção para algo extremamente relevante

para a nossa comunidade. Ele diz: “Como membros da comunidade, como pastores,

devemos levar as pessoas da sala pastoral para a vida entre os irmãos e irmãs. Portanto,

quanto melhor funcionar a comunhão da comunidade, tanto menos necessidade haverá de

uma conversação pastoral pessoal”.42

- Confissão e Absolvição:

Precisamos ouvir a confissão de culpa de alguém e lhe transmitir a palavra

de perdão somente pelo nome de Cristo Jesus.43 Desta maneira veremos as pessoas tendo

alívio e esclarecimento das suas crises e culpas.

A confissão pode ter a função de superar a solidão, especialmente aquele

que é conseqüência do pecado.

O diálogo confissão poder ajudar as pessoas a superarem o acanhamento, a

escravidão e o encadeamento. Uma pessoa sem confissão pode viver um sentimento de não

saber ser livre.44

Somente num ambiente de amor da parte do pastor pela ovelha é que ela tem

a possibilidade de progredir.
40
Faber, Heije, 137.
41
Faber, Heije, 142.
42
Faber, Heije, 146.
43
Faber, Heije, 152.
44
Faber, Heije, 153.
11

Temos que levar as pessoas a entender que só o perdão de Deus pode

restaurar, santificar e tornar possível o impossível. A maior culpa humana está no fato de

os homens não se deixarem amar pelo Pai, razão pela qual falham em amor o seu

semelhante e ao próprio Deus.45

- Técnica de Conversação Pastoral

- Diversas formas de conversação psicológicas e o seu significado para a

conversação pastoral:

Na conversação pastoral o pastor ajuda o outro a aprender a ver a sua vida à

luz de Deus. E nesse processo, muitas vezes o homem não só perdeu o contato com Deus,

mas também consigo mesmo e com o próximo.

Então, na conversação pastoral ajudamos esse homem a reencontrar o

correto relacionamento consigo mesmo, com os semelhantes e com Deus.46

A conversação diminui a tensão e encoraja as pessoas para o futuro.47

A nossa tarefa pastoral específica é conduzir as pessoas à fé e nelas

preservá-las. E ajudá-las a verem-se na luz divina. Devemos levar as pessoas a tornarem-se

discípulas do Senhor Jesus Cristo e viver como filhos do Pai.48

3- Apreciação:

45
Faber, Heije, 156.
46
Faber, Heije, 163.
47
Faber, Heije, 165.
48
Faber, Heije, 186.
12

Na leitura deste livro percebi o quão valioso e profundo é o trabalho de

aconselhamento pastoral na vida das pessoas que nos cercam em nossa comunidade.

Creio plenamente que de fato, a nossa tarefa pastoral específica é conduzir

as pessoas à fé e nelas preservá-las. Creio que precisamos urgentemente como pastores da

nossa comunidade ouvir as dores, os traumas, as dificuldades das pessoas e a cada dia da

nossa caminhada pastoral, ajudar as pessoas verem-se na luz divina, descobrirem-se como

pessoas que são amadas e acolhidas pelo Pai. Como Van Der Schoot diz: “Devemos levar

as pessoas a tornarem-se discípulas do Senhor Jesus Cristo e viver como filhos do Pai”.

Se tivermos consciência desta profunda responsabilidade pastoral como

pastores servos, ganharemos a confiança e a segurança no trabalho pastoral que tanto a

nossa comunidade necessita nos dias de hoje.

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