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ENTREVISTA
COM SERGIO BELLEZA
O CLUBE FII ENTREVISTA O CRIADOR DO PRIMEIRO FII BRASILEIRO E RESPONDE PERGUNTAS DOS USUÁRIOS
SERGIO BELLEZA
Acho que sim. Os acontecimentos destes últimos anos foram de
grande efeito na economia como um todo, com graves prejuízos
para quase todos os setores, e o imobiliário de renda, que é o
maior foco de investimento dos fundos imobiliários brasileiros,
não poderia ficar de fora. Acho que houve uma certa precipitação
por parte de investidores, e isso ocasionou uma queda exagerada
nas cotações, mas isto vem se recompondo neste ano de 2016.
CLUBE FII
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Dado estes acontecimentos, o Sr. acha que o mercado de FIIs já
amadureceu ou ainda precisa de mais tempo para amadurecer? Em
que nível de amadurecimento o investidor de FIIs atualmente está
inserido?
SERGIO BELLEZA
Acho que ainda tem bastante para amadurecer mas, sem dúvi-
da, sairemos deste período ruim com muitas lições aprendidas.
O mercado só em alta ou, pior ainda, em períodos de euforia, não
ensina grande coisa, qualquer compra dava certo. Hoje, na rea-
lidade do momento que vivemos, a decisão tem que ser técni-
ca, estudada, analisada. Isto leva a uma especialização, a uma
necessidade de maior transparência nas informações que sem
dúvida colocará o mercado de fundos imobiliários em outro pa-
tamar.
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CLUBE FII
A maioria dos Fundos Imobiliários atualmente são negociados
abaixo do valor patrimonial, isto seria um sinal de distorção irra-
cional? Qual opinião do Sr. quanto estas discrepâncias tão grandes,
que estamos acostumados a nos deparar, entre valor de mercado e
patrimonial? O investidor pode confiar nos dados de valor patrimo-
nial divulgados pelos administradores?
SERGIO BELLEZA
Tem de tudo um pouco. Acho que já tivemos uma discrepância
maior e agora estamos caminhando numa margem compreensí-
CLUBE FII
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Daqui para frente, o que podemos esperar de novidades em relação
a entrada de novos FIIs? O Sr. vê uma tendência de aumento de
Fundos Imobiliários listados na bolsa ou aumento do tamanho dos
Fundos Imobiliários já existentes? É esperado redução da taxa de
juros no Brasil, mas caso isso não ocorra, o Sr. vê espaço para cres-
cimento da oferta de novos FIIs no mercado?
SERGIO BELLEZA
Tão cedo não vejo a chegada de novos fundos, tendo em vista o
cenário recessivo e o patamar ainda muito alto da taxa de juros,
que é o grande predador do investimento imobiliário. Enquanto
esta situação persistir, não vejo possibilidade de muitas novida-
des nesta área.
SERGIO BELLEZA
Depende de como se portarão esses cotistas nas Assembleias. Se
eles realmente não quiserem e formarem um bloco expressivo,
não acho que acontecerão essas fusões. Não é nada fácil fazer
uma fusão dessas.
CLUBE FII
O mercado de FIIs é de entendimento muito mais simples do que 06
ao de ações, no entanto, temos apenas 90.000 investidores de
FIIs, contra 500.000 de ações. Como diz o famoso jargão “imóvel
é o investimento preferido do brasileiro”, o Sr. acha que número
de investidores em FIIs tem potencial de alcançar ao de ações?
O que podemos esperar para o crescimento da entrada de novos
investidores de Fundos Imobiliários no Brasil?
SERGIO BELLEZA
Primeiro, temos dezenas de anos de mercado acionário no Brasil
e só 10 anos, ou menos que isso, de um mercado um pouco mais
expressivo de fundos imobiliários. Relembrando, lançamos o pri-
meiro fundo em 1994, com foco em investidores institucionais; a
partir de 1999/2000, começamos a trazer as primeiras pessoas fí-
sicas, alvo principal de fundos como o FINANCIAL CENTER (hoje
Rio Bravo Renda Corporativa) e do SHOPPING HIGIENÓPOLIS.
Mas o mercado só deslanchou, mesmo, com o advento do pacote
tributário de 2006 que isentou de IR os rendimentos pagos às
pessoas físicas. Isso, mais o aquecimento da economia no início
desta década é que começou a criar uma base acionária mais ex-
pressiva. Mas ainda estamos longe de termos a penetração junto
aos investidores que poderemos ter, basta ver que o lançamento
do BB PROGRESSIVO II praticamente dobrou o número de cotis-
tas que havia no mercado até então. Isso prova que nem começa-
mos a popularizar, ainda, este tipo de investimento.
Agora, lembro ter lido uma entrevista, por volta daquela época,
do presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto, de que o único
fato que havia trazido pessoas físicas com expressão àquela Bol-
sa nos últimos anos foram os lançamentos dos fundos imobiliá-
rios.
Não é para agradar ninguém aqui, mas um site como o Clube FII
faz muito mais pelo mercado do que as entidades envolvidas. Te-
nho total confiança de que este mercado ainda vai crescer muito.
PERGUNTAS ENVIADAS
PELOS NOSSOS USUÁRIOS
SERGIO BELLEZA
Acho, Conejo10, que o BTG vem aprendendo com os erros e acer-
tos cometidos. O episódio da frustrada tentativa de absorver par-
te da BR PROPERTIES por parte do BC FUND, quando alguns co-
tistas bem minoritários se insurgiram e acionaram a CVM foi, de
certa maneira, um divisor de águas. Eu esperaria mais um tempo
para poder obter informações que hoje não tenho, pelo simples
fato de que não as procurei obter, para poder avaliar melhor esta
questão.
SERGIO BELLEZA
LPC, são duas coisas muito diferentes. Nos fundos tradicionais,
com imóveis para renda, o investidor está exposto ao desempe-
nho da carteira de imóveis que faz parte do fundo, tem risco atre-
lado aos negócios a que se propõe o fundo, seja de locação, seja
de incorporação e venda. Já os de renda fixa são formados por
títulos de crédito com lastro em negócios imobiliários.
SERGIO BELLEZA
Eu gosto dos Fundos de Fundos, Mineiro. Acho que trazem gran-
des oportunidades, tem gestão ativa, que me encanta! Sério! Eu
gosto de gestores interessados em aproveitar momentos, situa-
ções, que tragam rentabilidade para seus investidores.
SERGIO BELLEZA
Já cheguei a ter cotas de uns 60 fundos na minha carteira. A maio-
ria tinha muito pouca coisa investido, mais para acompanhar re-
latórios, ir à Assembleias. Depois reduzi drasticamente. Minha
preferência é por fundos de renda frequente, os tradicionais. Não
gosto de Renda Fixa, nunca gostei, trabalho no Mercado de Capi-
tais há 44 anos e nunca me interessei em renda fixa. Os fundos
nos quais concentro meus investimentos são os de logística/in-
dustrial, varejo e escritórios.
SERGIO BELLEZA
lenz, nos anos 2.000 havia uma comissão muito ativa na BOVES-
PA (que ainda não havia se unido à BM&F) que era composta
pelos poucos profissionais que atuavam nestes mercados de in-
vestimento imobiliário, que trabalhavam em prol do crescimen-
to destes instrumentos do Mercado de Capitais, como os Fundos
Imobiliários, CRI´s, CEPACs (desses só eu que falava!).
SERGIO BELLEZA
Maumau, não sei se seria esta a solução. Acho que o certo seria
os administradores fazerem um reagrupamento e acabar com co-
tas de valor unitário baixo. Quando estruturei o primeiro fundo
do Brasil, o Memorial Office, tive vários desafios pelo ineditismo
da coisa, um deles era: qual o valor da cota? E chegamos, eu e os
envolvidos na estruturação ( RMC Corretora, hoje fundida com a
COINVALORES ), à conclusão que R$ 100,00 era um bom núme-
ro. Lembre-se que isto foi há 23 anos atrás! Corrigindo isso pelo
IGP-M daria uns R$ 500,00 de hoje, eu acho. Se tem duas coisas
que eu adoraria poder “ser um ditador” na legislação de fundos
imobiliários é que o valor de emissão da cota jamais poderia ser
abaixo de R$ 100,00 e que a data de distribuição de rendimentos
dos fundos que o fazem mensalmente deveria ser o último dia
do mês. Acho uma grande tolice alguns fundos terem começado
com cotas de R$ 1,00!
SERGIO BELLEZA
Frederico, eu gosto muito do Fundo Imobiliário como plano de
aposentadoria. Principalmente porque nossos fundos são, em
sua grande maioria, conservadores, já que a legislação dos nos-
sos FIIs não permite que eles tomem empréstimos, só investem
recursos que tenham. Mas, como ele distribui quase tudo o que
ganha, o reinvestimento dos rendimentos é o ideal. De fato, al-
guns fundos tem objetivo menos perene, apesar de bem estru-
turados e bem sucedidos. É o caso do Maxinvest, que teve por
objetivo comprar flats na cidade de São Paulo. Este lançamento
foi feito num momento muito oportuno, quando os preços des-
tes imóveis estavam muito baixos. Com o passar do tempo, os
cerca de 700 flats que foram comprados, localizados em mais de
50 prédios diferentes na cidade, se valorizaram bastante, além
de terem gerado uma renda frequente muito boa, pois os dois
fatores fundamentais nesse tipo de negócio, a taxa de ocupação
e o valor da diária subiram bastante. Daí a decisão dos gestores
desse fundo foi, a partir de 2011, vender os flats “na alta”, ten-
do alienado cerca de metade das unidades até hoje, estando as
que restam concentradas em 18 prédios. Pois bem, um caso como
este, apesar de bem sucedido, obriga a quem nele investiu, se
tiver um objetivo de longo prazo, redirecionar os resultados ob-
tidos para um ou mais fundos. Eu não vejo os fundos imobiliá-
rios algo como uma Previdência Privada que você investe e fica
alheio ao que acontece. FII demanda um acompanhamento por
parte do investidor, ler relatórios, ir à Assembleias.
SERGIO BELLEZA
mancho, como eu disse acima pro Frederico, gosto muito do FII
como reserva para aposentadoria, mas reinvestindo os rendi-
mentos. Sem dúvida, pelo menos para mim, é um Investimento
de médio e longo prazo, mais para longo. Acho que precisamos
de mais fundos, mas principalmente de fundos maiores, com
mais imóveis, com diversificação de risco representada por vá-
rias fontes de receita. Isso implica em multiplicidade de inquili-
nos, de geradores de receita. Outro ponto é sair um pouco dessa
concentração regional, só dá imóvel paulista ou carioca. Alguma
variação nos industriais/logística. Tem coisa boa pelo Brasil afo-
ra e isto pode atrair investidores de outros lugares do país.
SERGIO BELLEZA
Baroni, nosso mestre! Vamos lá: não me preocupa muito a va-
cância, ainda mais porque, na maioria dos casos, os imóveis que
fazem parte das carteiras de fundos de tijolo, como você os deno-
mina, são de grande qualidade. Claro que temos um ou outro tipo
MACAÉ, que é extremamente arriscado, pois se uma Petrobrás
não o quiser mais, dificilmente será ocupado, mas não são regra
geral. Sobre os fundos de papel não tenho muito o que contribuir,
pois nem olho para eles, devo admitir. Não gosto de Renda Fixa,
nunca trabalhei com isso. O risco está diretamente ligado à qua-
lidade da estruturação que foi feita, se houve preocupação em
mitigar riscos de crédito, se o risco é pulverizado (exemplo, uma
carteira com muitos mutuários que compraram imóveis finan-
ciados por esta estrutura) ou concentrado (o fundo investe em
papel ou poucos papéis gerados por um fluxo de recebíveis con-
centrado num único devedor, típico de contratos built to suit).
Tem que investigar bastante para se conhecer o real risco de um
fundo desses. Por fim, quanto ao mercado de Fundos de Fundos,
sem dúvida nossos poucos e não muito grandes fundos não são o
melhor tabuleiro para se jogar com fundos desse tipo, mas já dá
para começar. Isso vai evoluir, vai crescer.
SERGIO BELLEZA
Concordo com você, Francisco. Eu prefiro Valor de Mercado (nú-
mero de cotas X cotação em Bolsa) como critério para cobrança
de taxa de remuneração de gestores.
SERGIO BELLEZA
Centurio, vou tentar situar melhor esta história: no final da dé-
cada de 90 um grupo italiano chamado PERINI tinha fábricas
em Lucca, na Itália, e em alguns outros locais, e Joinville era um
deles, sob a denominação de Indústria Metalúrgica Fabio Perini.
Este grupo foi comprado por um grupo alemão. Por seu lado, o Sr.
Fabio Perini decidiu convidar investidores europeus a viabilizar
um business park na mesma região pois lhe chamou a atenção o
vigor da cidade, mas também como foi difícil, custoso e demora-
do fazer sua fábrica ali. Sua ideia foi: vão ter muitas indústrias,
nos próximos anos, precisando se instalar em Joinville; vamos
facilitar a vida deles produzindo instalações modernas, sem que
necessitem perder tempo com isso nem investir em unidades
próprias.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
RODRIGO CARDOSO DE CASTRO ( SÓCIO FUNDADOR CLUBE FII )
Em nome do Clube FII, eu gostaria de agradecer por ter concedido a
sua entrevista e por favor deixe suas considerações finais.
SERGIO BELLEZA
Uma coisa que vem se comprovando cada vez mais é que o inves-
timento em fundos imobiliários é bem mais envolvente do que
os outros que conheço. É interessante observar como os investi-
dores, especialmente Pessoas Físicas, se envolvem com o dia-a-
-dia destes fundos. Não se tem notícias de cotistas de fundos de
ações ou renda fixa que acompanhem os ativos investidos pelos
fundos onde aplicam seus recursos ou, menos ainda, que estes
investidores frequentem as assembleias destes fundos. Mas
nos fundos imobiliários a história é outra. Assembleias cada vez
mais disputadas, cotistas querendo mais e mais informações,
blogs e sites como o Clube FII com grande nível de participação. E
a isso está se chamando de “ativismo”. Isto leva administradores
e gestores a praticarem um esforço de relação com investidores
mais eficiente, gera responsabilidade.
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