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Material de aquecimento

4 ERROS CLÁSSICOS QUE UM


PSICÓLOGO INICIANTE COMETE
NAS SUAS SESSÕES DE
PSICOTERAPIA
O1
Não coletar dados sobre como foi a
semana anterior do paciente de forma
que isso possa ser medido

O2
Não questionar o paciente sobre eventos ou
coisas que podem acontecer no futuro

O3
Não estar preparado caso o plano de ação
não funcione

O4
Não ter uma estrutura clara para utilizar nas
sessões
ÍNDICE
01
NÃO COLETAR DADOS
SOBRE COMO FOI A
SEMANA ANTERIOR DO
PACIENTE DE FORMA
QUE ISSO POSSA SER
MEDIDO
Nas lives anteriores, eu falei sobre termos
parâmetros para saber onde estamos durante o
tratamento e se estamos próximos ou distantes
de nossa meta de terapia. Com isso em mente,
algumas pessoas podem pensar que um
simples “como foi a semana” é suficiente para
termos estes parâmetros. Apesar de já ajudar
muito, há uma maneira muito mais efetiva.

Ao invés de buscar apenas uma resposta


qualitativa do paciente, perguntando como ele
se sentiu de modo geral durante a sua semana,
é muito importante que a gente tenha uma
emoção ou conjunto de sintomas para serem
avaliados semanalmente e de forma também
quantitativa.

O que seria isso?

Seria utilizar inventários de avaliação do humor


ou simplesmente perguntar de 0 a 10 como foi o
nível de seus sintomas naquela semana que
passou. Sendo 0 não apresentou nenhum
sintoma e 10 o máximo de sofrimento foi vivido
com aquele sintoma.

Ter esses escores semanalmente nos ajuda a


saber como está o andamento da terapia de
uma maneira mais objetiva e ainda comparar o
efeito do uso ou não uso de determinadas
estratégias, e a exposição às mais variadas
situações.

Conseguimos assim, mostrar para o paciente a


sua melhora e o que estamos fazendo juntos
para que esta melhora aconteça e se mantenha.

Se a coleta de dados não acontece desta


maneira, podemos correr o risco de termos
dados vazios, sem entender a diferença de uma
semana “boa” para uma semana “legal”. Fica
então mais difícil de comparar e avaliar o
aumento e queda do humor do paciente e o
contexto dessas alterações em seu humor.
02
NÃO QUESTIONAR O
PACIENTE SOBRE
EVENTOS OU COISAS
QUE PODEM
ACONTECER NO
FUTURO
Quando estamos no início de uma sessão de
terapia, uma das coisas que realizamos é a
Ponte entre as sessões. Na maioria dos casos,
o que vejo é o foco apenas na sessão que se
passou.
A ponte entre as sessões é sim a parte onde
perguntamos para o paciente como foi a sua
semana desde a última vez que nos
encontramos, mas não é apenas isso.
Além de termos informações sobre a semana
que passou, vamos buscar também ligar a
sessão anterior com esta, buscando dúvidas ou
questionamentos que possam ter ficado da
sessão anterior e também vamos ligar a sessão
atual com a sessão futura, buscando coisas que
estão previstas para acontecerem na próxima
semana, antes da sessão seguinte.
Quando não fazemos isso, podemos perder a
oportunidade de discutir um evento
significativo na vida do paciente que está
trazendo ou trará pensamentos e sentimentos
disfuncionais.
Talvez ele não esteja tão incomodado agora
com a apresentação que ele terá na faculdade
na quarta-feira, antes da sessão, mas
conhecendo seu funcionamento, ele pode se
desesperar um pouco alguns dias antes.
Talvez ele não esteja tão preocupado com a sua
saída no próximo final de semana, mas
chegando o momento da baladinha, ele pode
sofrer por não conseguir se segurar com a
bebida.
Tendo então essas situações futuras que vão
ou podem acontecer na vida do paciente, antes
da sessão seguinte, é um meio importante de
termos itens de agenda a serem trabalhados
para ajudar na percepção de sua individualidade
cognitiva e no desenvolvimento de ciclos de
manutenção saudáveis.
Como disse, se não questionamos o paciente
sobre eventos futuros, podemos correr o risco
de perdermos excelentes oportunidades para
trabalhar com seus ciclos de manutenção da
dor e assim, perdemos oportunidades de ajudar
ele a melhorar.
03
NÃO ESTAR
PREPARADO CASO O
PLANO DE AÇÃO NÃO
FUNCIONE
A primeira coisa que você precisa saber sobre
os Planos de ação é que eles nada mais são que
as Tarefas de casa que a TCC é tão conhecida
por realizar.

Sempre que você sugerir, ou montar


colaborativamente, uma tarefa para seu
paciente, imagine o nível de dificuldade que
você teria em realizar esta tarefa e depois
multiplique esta dificuldade em pelo menos 5x.
Provavelmente é essa dificuldade que seu
paciente vai encontrar. Então, tome muito
cuidado de não exagerar nas tarefas, ir com
calma, um passo de cada vez e fortalecer cada
pequena conquista.

O principal obstáculo que vamos encontrar no


consultório para a realização do plano de ação é
a falta de motivação, para conseguirmos então
ter algum sucesso, uma coisa que temos que
considerar é quebrar as tarefas ao máximo. Ao
definirmos o passo a passo de cada tarefa,
deixamos aquilo muito mais acessível e fácil de
ser completado.

Quando falamos sobre motivação, há grande


chance dos pacientes estarem falando de
motivação em termos de energia. A sua falta de
motivação é uma falta de energia. Uma das
maneiras de motivarmos um pouco mais o
paciente a realizar suas tarefas é buscarmos o
que ele tiraria da realização daquela tarefa.
Quais os benefícios, as vantagens que ele vai
receber quando estiver realizando ou realizar a
sua tarefa?

Se o paciente está se sentido sozinho e uma


das tarefas que vocês combinaram é ele entrar
em contato com um amigo naquela semana, ele
saberá que vai se sentir melhor ao fazer isso e
que fortalecerá a amizade com este amigo pode
ajudar.

Listar então as vantagens ou os benefícios de


determinada tarefa e utilizar isso como
motivação pode ajudar.
Outra cognição muito comum relacionada com
a motivação é o paciente pensar que ele precisa
estar motivado para fazer as coisas. Essa é uma
crença que a maioria das pessoas possuem,
mesmo pessoas não depressivas, e é uma
crença que atrapalha bastante.

Se realmente para realizar qualquer coisa eu


precisasse estar motivado, para eu mexer a
minha cabeça para o lado, eu precisaria estar
motivado, caso contrário, não vou conseguir
fazer isso. E acho que você deve perceber
como isso é totalmente sem sentido.

Não precisamos de motivação para realizar as


coisas. Se ficássemos parados esperando
motivação para fazer tudo, não levantaríamos
da cama pela manhã para estudar ou trabalhar,
não escovaríamos os dentes, alguns não fariam
compras no mercado, e muitos não
cozinhariam, por exemplo.

Se cada um de nós ficássemos aguardando uma


motivação para realizar tudo o que precisamos
fazer durante nossa rotina, poderíamos ficar
aguardando para sempre.

Então, que se exploda a motivação! Apenas Aja!

Se o paciente simplesmente realizar suas


tarefas do trabalho, ele ainda recebe os
resultados disso, mesmo sem uma motivação.
Então, ajude seu paciente a perceber que ter
motivação não importa. O importante é FAZER!

Mesmo quando motivamos o paciente e


destrinchamos bastante o que ele tem que
fazer, o plano de ação pode não funcionar. Por
conta da flexibilidade cognitiva e pelo contexto
de vida de cada paciente, vamos encontrar
obstáculos mesmo que os planos de ação
sejam colocados em prática.

Ter a habilidade de adaptar aquele plano falho


para a individualidade cognitiva e contexto de
vida do seu paciente, é essencial para ser um
bom terapeuta cognitivo.

Entenda então que não são todas as


estratégias que funcionarão para todas as
pessoas, e que você precisa estar pronto para
utilizar outras estratégias ou adaptar as
estratégias que já existem.

Para fazer isso, você precisa se aprofundar e


entender muito bem os 4 pilares essenciais da
TCC (Modelo Cognitivo, CMD, EGD, TCEI) e os
princípios das 3 grandes técnicas da TCC
(Questionamento Socrático, Experimento
Comportamental e Cartão de Enfrentamento).

Tendo tudo isso bem estruturado na sua


cabeça, fica muito mais fácil entender o que o
paciente precisa e como realizar adaptações
sem perder o objetivo de cada estratégia.
04
NÃO TER UMA
ESTRUTURA CLARA
PARA UTILIZAR NAS
SESSÕES
Falarei mais detalhadamente sobre a estrutura
das sessões Treinamento em Terapia Cognitiva,
mas para que você tenha uma ideia de como
funciona esta estrutura e algumas coisas que
podem atrapalhar o uso dessa estrutura, vou
falar um pouco sobre ela agora.

Toda sessão de terapia cognitiva possui um


começo, meio e fim.

No começo das sessões, nós cumprimentamos


o paciente, fazemos uma ponte com a sessão
anterior, restabelecemos a relação, revisamos
a tarefa de casa, ou plano de ação, verificamos
o humor e coletamos informações para a
agenda da sessão.

No meio da sessão, selecionamos um dos itens


da agenda, coletamos mais dados do item
selecionado, montamos um modelo cognitivo
do item, talvez até um ciclo de manutenção da
dor, planejamos uma estratégia,
implementamos a estratégia e avaliamos quão
eficaz ela foi.

Um resumo então é feito do que foi discutido e


aprendido pelo paciente, e um plano de ação é
criado colaborativamente, para reforçar o que
foi aprendido ou para implementar estratégias
que precisam ser utilizadas fora da sessão. O
Plano de ação é desenvolvido em todas as
sessões, ou pelo menos na maioria, e é ele que
ajudará o paciente a aprender a TCC colocando
em prática no seu dia a dia.

No final da sessão, pedimos um feedback (da


conduta do terapeuta e da sessão), fazemos um
resumo da sessão como um todo e finalizamos
o plano de ação da semana.

Bom falar que a maioria dos pacientes


aprendem facilmente a estrutura das sessões e
não veem problema nenhum em aplicá-las,
basta você psicoeducá-lo sobre a importância
da estrutura e ir passando por cada item juntos
na primeira sessão de tratamento.

Mesmo que em muitos casos não tenhamos


problemas de implementação, podemos
precisar adaptá-la para alguns casos, seja pelo
funcionamento ou transtorno do paciente, seja
por necessidades externas como tempo
disponível para sessão, frequência do
tratamento, etc.

A estrutura ajuda o paciente a saber o que


esperar de cada sessão de terapia, a focar nas
prioridades e atingir os resultados mais
rapidamente. Ainda assim, é comum muitos
terapeutas terem pensamentos automáticos
em relação à estrutura das sessões que os
impedem de aplicá-la.

Alguns pensamentos mais comuns são:

“Eu acho que deveria apenas deixar o paciente


falar de maneira aberta”

“Ele vai se sentir invalidado.”

“Se eu estruturar a sessão eu posso perder algo


importante”

“Não consigo estruturar a sessão.”

“Os pacientes não vão gostar”

“Não devo interrompê-lo.”

“O paciente se sente mais compreendido


quando ele solta tudo o que precisa”

Aqui, podemos cair facilmente na ideia de que a


Escuta Acolhedora é o melhor caminho para um
tratamento, mas precisamos entender que a
Escuta Guiada da Demanda é o melhor caminho
para que tenhamos um plano efetivo de
tratamento.

Se você passar a sessão inteira sem uma


estrutura e o paciente conseguir falar tudo o
que ele quer, no final da sessão, o paciente
pode se sentir melhor (ou pior - já que ele pode
ficar falando apenas coisas negativas durante
toda a sessão).

Mesmo se o paciente se sentir melhor


colocando tudo para fora, ele termina a sessão
sem saber o que fazer durante a semana e vai
para casa com os mesmos problemas com que
entrou na sessão.

Queremos aproveitar o máximo de tempo junto


ao paciente. É importante que fique claro que
os pacientes nem sempre sabem o que é ou não
importante para você saber sobre o que
aconteceu durante a semana ou na situação
que ele está descrevendo. E é aqui que a
interrupção ajuda bastante.

Se você não interromper o paciente e


direcionar sua fala com questionamentos,
muito tempo da sessão pode passar sem que
você consiga trabalhar com ele. Sem que você
consiga identificar corretamente seus
pensamentos automáticos disfuncionais, seus
comportamentos compensatórios e outros
dados importantes, que serão discutidos mais à
frente. Assim, acaba evitando um bom trabalho.

Você quer que no final da sessão o paciente


consiga não apenas ter discutido sobre o
problema, mas que ele também tenha a
oportunidade de fazer uma resolução de
problemas, observar e avaliar seus
pensamentos automáticos disfuncionais, e, se
possível, melhorar seu humor. E ainda, sair de lá
com um plano para ser implementado na
próxima semana.

E se Esforçar para manter uma boa estrutura


de sessão vai ajudar nisso tudo.

Quando você interrompe e guia a sessão, você


mostra para o paciente que você, terapeuta,
sabe o que fazer e, muitas vezes, pacientes que
se sentem fora de controle, se aliviam por isso.

Se você perceber então que seus pensamentos


automáticos estão impedindo você de realizar a
estrutura da sessão e de interromper seus
pacientes, avalie e responda aos seus
pensamentos, utilizando a TCC mesmo, para
que consiga experimentar a implementação da
estrutura-padrão na próxima sessão.

Você pode também praticar a estrutura das


sessões em dramatizações com conhecidos e
se propor a estruturar as sessões da próxima
semana como um experimento
comportamental, para testar seus
pensamentos.

Então, a primeira coisa que pode te atrapalhar a


manter uma estrutura é a sua dificuldade de
interromper seu paciente. Outra dificuldade
pode aparecer se você não familiarizou seu
paciente com a Estrutura. Por conta disso,
psiceducá-lo que a TCC possui uma estrutura,
falar sobre a importância dela e também
realizar essa estrutura na primeira sessão de
tratamento, mas explicando cada parte, como
um tutorial, ajudará bastante com isso.

O paciente pode ter também expectativas


irreais sobre como o tratamento funciona. Ele
pode acreditar que irá superar todos seus
problemas apenas estando alí nas sessões
semanalmente e falando livremente. Muitos
pacientes não entendem que para melhorar
eles precisam realizar o trabalho, eles precisam
“colocar a mão na massa” e realmente
investigar e lidar com seus problemas.

Por conta disso é tão importante o trabalho


com as expectativas do paciente e o seu papel
no tratamento. Isso é feito logo no primeiro
encontro com o paciente e vamos reforçando
isso durante todo o tratamento. Quando falar
sobre o primeiro encontro isso ficará mais
claro.

Durante todas as nossas psicoeducações


iniciais com o paciente como das expectativas
da psicoterapia e dele, e de como serão as
sessões, devemos sempre lembrar de buscar o
feedback do paciente quanto a isso. Ele pode
ter crenças bem negativas e exageradas sobre
essas coisas, e você precisa estar ciente delas
para poder lidar com elas durante o processo
de tratamento e/ou para adaptar o tratamento,
inicialmente ou por completo, para que vocês
consigam trabalhar.

Se você perceber que estiver tendo


dificuldades na estruturação das sessões,
verifique se você está interrompendo o
paciente durante a sessão, para coletar os
dados que precisa, se você psicoeducou ele
sobre a estrutura das sessões e do tratamento,
se ele está engajado com o tratamento e se há
alguma coisa que você poderia fazer de
diferente para melhorar a relação terapêutica.

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