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PRINCIPAIS ENFERMIDADES DE CAPRINOS E OVINOS

Segundo Costa (2008), a caprinovinocultura era uma atividade


considerada apenas para subsistência na região nordeste do Brasil, devido a sua
baixa produtividade. No entanto, atualmente, a produção desses pequenos
ruminantes está desempenhando um papel crucial no desenvolvimento da região
nordeste, como uma atividade de grande importância cultural, social e
econômica.
De acordo com Senar (2012), “o Brasil possui condições favoráveis à
exploração econômica de caprinos e ovinos para a produção de carne, leite e
derivados e produtos oriundos das peles”. No entanto, para garantir a
rentabilidade ao produtor, a sanidade do rebanho é um ponto de extrema
importância e necessita de inúmeros cuidados, desde a avaliação do animal, até
a prevenção e tratamento das principais doenças destas espécies.
Desse modo, é de suma importância conhecer as doenças que mais
acometem os caprinos e ovinos, como combatê-las e tratá-las, a fim de
assegurar o desenvolvimento sustentável desses animais.
Conforme Riet Correa et al. (2011), as principais doenças de caprinos e
ovinos no semiárido são: Artrite-Encefalite Caprina (CAE), Ectima contagioso
(boqueira), Raiva, Agalaxia Contagiosa dos Ovinos e Caprinos (ACOC),
Enterotoxemia, Linfadenite Caseosa (mal-do-caroço), Podermatite Infecciosa
dos Ovinos e Caprinos (Foot Rot), Tétano e Coccidiose.
Artrite-Encefalite Caprina (CAE): é uma enfermidade causada por vírus que se
caracteriza por artrite, encefalomielite e pneumonia. A grande maioria dos
animais não apresenta alteração, naqueles que desenvolvem a forma clínica, a
doença se manifesta de quatro formas:
1. Forma nervosa - cabritos entre 2-5 meses apresentam ataxia, paresia e
paralisia, incordenação motora, opistótono, torcicolo e movimentos de
pedalagem.
2. Forma articular - aproximadamente 10% a 25% dos caprinos com idade
superior a 11 meses desenvolvem artrite ou poliartrite que evolui de forma
crônica. No início o animal apresenta dor, mas que desaparece pouco
tempo depois. No entanto, existem casos em que a dor pode reaparecer.
3. Forma mastítica - a inflamação do úbere normalmente é unilateral e evolui
de forma crônica com fibrosamento do tecido glandular, o que dá um
aspecto de úbere endurecido.
4. Forma pneumônica - evolui cronicamente e os animais apresentam tosse,
dispneia, taquipnéia, crepitação pulmonar e emagrecimento progressivo.
A identificação da doença é feita através da imunodifusão em gel de agar (IDGA)
a partir da coleta de soro sanguíneo dos animais dos rebanhos. O teste é de
fácil execução, baixo custo e apresenta ótimos resultados. Não existe um
tratamento eficiente para a doença, ou seja, quando um animal for positivo ao
exame, deve ser retirado do rebanho e sacrificados ou mortos, podendo ser
consumidos desde que não apresentem sinais sistêmicos ou infecção bacteriana
secundária. Para a prevenção recomenda-se a realização de exames a cada
seis meses juntamente ao descarte dos animais positivos. O parto de cabras
positivas ou cabras que cruzaram com animais positivos deve ser assistido para
garantir a separação das crias após o nascimento, pois o aleitamento com
colostro e leite de cabras positivas dissemina a doença.
Ectima contagioso (boqueira): é uma enfermidade causada por um
parapoxvirus da família Poxviridae, altamente contagioso, de distribuição
mundial, que afeta principalmente os ovinos e caprinos lactentes e pós-
desmame, mas também pode atingir os adultos. O contato simples e direto entre
os animais doentes e os animais sadios é capaz de disseminar a doença.
Inicialmente surgem pequenas bolhas com líquido (vesículas) que se rompem e
formam crostas com casca nos lábios, gengivas, bochechas, língua, narinas e
úbere. Para o tratamento, os animais doentes devem ser isolados e podem ser
usadas soluções de sulfato de cobre a 5%, iodo a 10% ou vaselina com fenol a
3% até a cura completa. As infecções secundárias podem ser tratadas com
antibióticos. A principal medida profilática é a vacinação. Além disso, por se tratar
de uma zoonose, os cuidados de proteção devem ser sempre respeitados.
Raiva: É uma doença viral neurológica e fatal que acomete animais e o homem.
É transmitida principalmente pela mordida de animais infectados com o vírus,
como morcego, cães, gatos e raposas. Os sinais mais comuns dessa doença
são paralisia, salivação abundante, olhos arregalados e dificuldade de engolir
água e alimentos. Não existe tratamento e a prevenção é feita através da
vacinação dos animais a partir dos três meses de idade com reforço 30 dias após
e revacinação anual.
Agalaxia Contagiosa dos Ovinos e Caprinos (ACOC): é uma enfermidade
infecciosa causada pela bactéria Mycoplasma agalactiae (mas podem existir
outros agentes causadores envolvidos, determinando diferentes graus de
gravidade da infecção) que acomete os caprinos e ovinos, sendo responsável
por grandes perdas econômicas decorrentes da mastite que reduz
significativamente a produção de leite. Os animais que são infectados
apresentam mastite, poliartrite e ceratoconjuntivite. Para controlar a doença é
necessário o isolamento de animais infectados e a administração de antibióticos
para reduzir a carga infectante. A administração de antibióticos por períodos
curtos (5-7 dias) promove melhora clínica, mas não elimina totalmente a bactéria,
favorecendo a disseminação da doença.
Enterotoxemia: É uma enfermidade causada pelo Clostridium perfringens tipo
D, produtor da toxina epsilon. A toxina aumenta a permeabilidade vascular,
sendo que nos ovinos afeta principalmente o sistema nervoso e nos caprinos o
intestino. Os sintomas gerais são a morte súbita, diarreia com sangue e mal
cheiro, dores abdominais, desidratação progressiva e grande debilidade (casos
crônicos). Em casos de evolução lenta da enfermidade, administrar Antitóxico e
Soro Glicosado na veia bem como Sulfas (Sulfatiazol, Sulfamerazina) e
Antibióticos (Penicilina, Cloranfenicol) vias venosas e muscular pode ser
eficiente para o controle. Para a prevenção da doença deve-se realizar a
vacinação dos animais, além de reduzir o teor energético das dietas e evitar
alterações bruscas ou mudanças na rotina alimentar.
Linfadenite Caseosa (mal-do-caroço): é uma doença causada pela bactéria
Corynebacterium pseudotuberculosis (habitualmente encontrada no solo,
esterco e em órgãos infectados, podendo sobreviver no ambiente por longos
períodos), em que os linfonodos externos e internos ficam aumentados de
volume e ocorre a formação de abscessos, dos quais drena secreção purulenta.
A infecção pode ser facilitada quando os animais possuem ferimentos na pele,
no entanto, a pele íntegra também pode ser porta de entrada para a bactéria.
Para o tratamento deve-se isolar os animais com abcessos e fazer a drenagem
do conteúdo. Após o procedimento de drenagem, deve-se fazer a raspagem do
interior do abscesso, a fim de retirar o máximo possível do pus. O local deve ser
limpo diariamente com iodo a 10% e repelente. Além disso, é imprescindível que
o pus seja queimado e os animais fiquem isolados até a cicatrização completa.
Para evitar a contração da doença, deve-se evitar de comprar animais que
possuam caroços ou cicatrizes, além de sempre realizar a inspeção do rebanho.
Podermatite Infecciosa dos Ovinos e Caprinos (podridão dos cascos): é
uma doença que afeta a região do casco do animal, causando inflamação entre
as unhas e apodrecimento. É causada pela associação de micróbios presentes
no animal (Dichelobacter nodosus) e micróbios do ambiente (Fusobacterium
necrophorum) e tem maior ocorrência em época de chuva ou em locais com
maior umidade. Os sinais da doença são a manqueira, difícil movimentação, má
alimentação e aparência de fraqueza. Para o tratamento deve-se separar os
animais doentes dos sadios e realizar práticas como: utilização de pedilúvio,
corte adequado dos cascos e utilização de antibióticos e antissépticos. Em casos
crônicos deve-se descartar o animal.
Tétano: é uma doença causada pela bactéria Clostridium tetani, comum no trato
intestinal de herbívoros cujas fezes podem conter grandes quantidades de
bactérias na forma esporulada. Os animais adoecem quando ferimentos ou
feridas operatórias são expostos às bactérias, sendo a castração e o corte de
cauda com elástico as mais comuns. O tétano é facilmente diagnosticado pelos
sinais clínicos de tremores musculares, trismo mandibular, prolapso da terceira
pálpebra, andar rígido, orelhas eretas e espasticidade generalizada. Para o
tratamento é necessário que obedeça a uma série de princípios para que haja
sucesso:
1. Reduzir os espasmos musculares por meio do relaxamento muscular;
2. Minimizar a ocorrência de úlceras de decúbito, através de uma camada
profunda de serragem ou palha no piso da instalação;
3. Eliminar a infecção através do desbridamento cirúrgico de feridas;
4. Neutralizar a toxina livre que ainda não atingiu os vasos através da
infiltração de 3.000 a 9.000 UI de antitoxina tetânica;
5. Fornecer suporte nutricional e hídrico, controlando a ingestão de
alimentos pelo paciente. A rumenotomia em ruminantes alivia o
timpanismo rumenal e propicia maneira conveniente de administração de
líquidos e alimentos.
Para evitar a doença, é recomendado que se utilize técnicas corretas de
castração e vacinação sistemática do rebanho.
Coccidiose: é uma enfermidade causada por um protozoário do gênero
Eimeria spp. que afeta principalmente cordeiros e cabritos com 1 a 4 meses
de idade em fazendas com grande população confinada e com baixas
condições de higiene. Também conhecida como diarreia de sangue, a
Coccidiose se apresenta com diarreia profusa que pode conter sangue,
desidratação, pelos ásperos, fraqueza, mau desenvolvimento, perda de peso,
febre, emaciação e morte. O tratamento deve ser feito através da reposição
de água e sais, sempre orientada por um médico veterinário. A melhor
profilaxia da coccidiose é a de evitar novas infecções, evitando que os
animais jovens tenham contato com fezes de outros animais. Nesse caso, é
de suma importância que os bebedouros e comedouros sejam instalados da
forma adequada, além de realizar a limpeza correta das instalações,
diminuindo assim a quantidade de oocistos infectantes no ambiente.
Alternativamente podem ser utilizados coccidiostáticos na ração.
REFERÊNCIAS

COLEÇÃO SENAR – 152 CAPRINOS E OVINOS - Manejo sanitário / Serviço


Nacional de Aprendizagem Rural. - Brasília: SENAR, 2012.

COSTA, R. G. et al. Caracterização do sistema de produção caprino e ovino na


região semi-árida do estado da Paraíba. Brasil. Archivos de zootecnia, v. 57,
2008.

RIET CORREA, Franklin; SIMÕES, Sara Vilar Dantas; AZEVEDO, Edísio Oliveira de.
Principais enfermidades de caprinos e ovinos no Semiárido Brasileiro. In: XV Congreso
Latinoamericano de Buiatría/XXXIX Jornadas Uruguayas de Buiatría. Centro
Médico Veterinario de Paysandú 2011.

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