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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE BENAVENTE

CURSO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO – CEF


(NÍVEL DE QUALIFICAÇÃO DO QNQ: 2)

521047 - SERRALHEIRO(A) MECÂNICO(A) DE MANUTENÇÃO

MONTAGEM E AJUSTAGEM DE CONJUNTOS MECÂNICOS

UFCD 6635 - CONJUNTOS MECÂNICOS – OPERAÇÕES DE BANCADA

AS FERRAMENTAS MANUAIS

ENG. PEDRO NUNO LAGOS

Outubro de 2020

Versão 1.0
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ÍNDICE

Índice .................................................................................................................................................... iii

Lista de Figuras ..................................................................................................................................... iv

Lista de Tabelas ................................................................................................................................... vii

1 As Ferramentas Manuais ............................................................................................................... 1


1.1 Introdução .............................................................................................................................. 3
1.2 Chaves de Aperto.................................................................................................................... 5
1.3 Alicates ................................................................................................................................. 16
1.4 Martelos ............................................................................................................................... 21
1.5 Tornos de Bancada e Grampos ............................................................................................. 24
1.6 Serras e Lâminas para Corte Manual .................................................................................... 28
1.7 Limas ..................................................................................................................................... 32
1.8 Raspadores, Lixas e Discos de Polir ...................................................................................... 41
1.9 Síntese e Exercícios de Revisão ............................................................................................ 45

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Armários com portas para oficina. (a) Armário de chão. (b) Armário de parede. .................... 3
Figura 1.2 – Armários com gavetas para oficina. (a) Carrinho de ferramentas. (b) Armário de bancada. .. 4
Figura 1.3 – Peças roscadas: parafuso, porca e perno. (a) Representação em desenho técnico. (b)
Exemplos de parafusos. ................................................................................................................................ 5
Figura 1.4 – Chaves com diferentes tamanhos na ponta, comprimentos e formas na haste, [1]. .............. 5
Figura 1.5 – As pontas de chaves mais comuns, são: Phillips, fendas e Torx, (a partir da esquerda). ......... 6
Figura 1.6 – Chave em Z mista, (combina ponta phillips com fendas). ........................................................ 7
Figura 1.7 – Chaves sextavadas. (a) Diferentes tipos de haste. (b) Conjunto de chaves. ............................ 7
Figura 1.8 – Tipos de cabeças de fendas para parafusos. (a) Cilíndrica e de menisco. (b) Lentilha e de
embeber. (c) Tremoço. ................................................................................................................................. 7
Figura 1.9 – Tipos de cabeças de fendas cruzada e sextavada, [2]. ............................................................. 8
Figura 1.10 – Chaves de bocas. (a) Chaves com dois tamanhos. (b) Chave de tamanho único. .................. 8
Figura 1.11 – Chaves de luneta. (a) Pontas com 6 e 12 pontos de contacto com a porca/parafuso. A chave
com 12 pontos pode também ser chamada de chave poligonal. (b) Haste direita e curva, [1]. .................. 9
Figura 1.12 – Chaves mista. (a) Ponta luneta com inclinação fixa e de bocas. (b) Ponta luneta com
inclinação variável e de bocas. ................................................................................................................... 10
Figura 1.13 – Chaves para cabeças de parafuso e porcas do tipo prismáticas. (a) Chave de cachimbo. (b)
Chave de tubos. .......................................................................................................................................... 10
Figura 1.14 – Chaves inglesas. (a) Disponíveis em vários tamanhos. (b) Escala de abertura e parafuso
externo. ...................................................................................................................................................... 10
Figura 1.15 – Modo de utilização da chave inglesa. ................................................................................... 11
Figura 1.16 – Jogo de chaves de caixa e roquete. (a) Chaves de caixa. (b) Roquete e adaptadores. ........ 11
Figura 1.17 – Exemplo de uma chave dinamométrica. .............................................................................. 12
Figura 1.18 – Parafusos com cabeça prismática. (a) Sextavada e sextavada com verdugo. (b) Sextavada
com almofada e quadrada.......................................................................................................................... 12
Figura 1.19 – Cabeças de parafusos e porcas prismáticas. ........................................................................ 13
Figura 1.20 – Chaves meia-lua articuladas. (a) Chave de gancho. (b) Chave de pino. (c) Parafuso da chave
de pino........................................................................................................................................................ 13
Figura 1.21 – Chaves meia-lua. (a) Chaves meia-lua de gancho fixa e articulada. (b) Chaves meia-lua de
pino fixa e articulada. (c) Exemplo de utilização para desenroscar o veio de um torno. ........................... 13
Figura 1.22 – Chave de pinos ajustável. (a) Exemplos de chaves com diferentes estruturas. (b) Exemplos
de utilização da chave num esmeril. .......................................................................................................... 14
Figura 1.23 – Tipos de pontas em chaves de aperto para parafusos de cabeça cilíndrica ou cónica. ....... 14
Figura 1.24 – Exemplos de chaves de aperto. ............................................................................................ 15
Figura 1.25 – Tipos de cabeças de parafusos e de porcas.......................................................................... 15
Figura 1.26 – Tipos de alicates. .................................................................................................................. 16

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Figura 1.27 – Alicates universais. (a) Alicate universal para oficina. (b) Alicate universal para trabalhos de
baixa tensão. .............................................................................................................................................. 16
Figura 1.28 – Alicates de pontas: (a) curvas, (b) redondas, (c) semi-redondas, (d) planas. ....................... 17
Figura 1.29 – Alicates de freios. (a) Pontas direitas. (b) Pontas curvas...................................................... 17
Figura 1.30 – Alicates de pressão. (a) Pontas retas. (b) Pontas curvas. (c) Pontas mistas. ........................ 18
Figura 1.31 – Alicates de pressão. (a) de nariz largo. (b) com estrutura em C. .......................................... 18
Figura 1.32 – Alicate extensivo ou deslizante. ........................................................................................... 18
Figura 1.33 – Alicate de corte diagonal. (a) Alicate para fios ou arames de aço. (b) Alicate para uso em
eletrónica.................................................................................................................................................... 19
Figura 1.34 – Alicate para descarnar. (a) Alicate de corte diagonal. (b) Alicate de descarnar................... 19
Figura 1.35 – Outro tipo de alicates. (a) Alicate de rebites. (b) Alicate para cravar terminais. ................. 19
Figura 1.36 – Exemplos de alicates. ........................................................................................................... 20
Figura 1.37 – Alicates para trabalhos específicos. ..................................................................................... 20
Figura 1.38 – Martelos comuns em oficina. (a) Martelo de bola. (b) Martelo de nylon. ........................... 21
Figura 1.39 – Martelo de borracha. ........................................................................................................... 21
Figura 1.40 – Martelo de esferas. (a) Exemplar. (b) Composição interna da cabeça. ................................ 22
Figura 1.41 – Martelo de madeira. ............................................................................................................. 22
Figura 1.42 – Martelo de cobre. ................................................................................................................. 22
Figura 1.43 – Exemplos de martelos mais comuns em oficina de serralharia. .......................................... 23
Figura 1.44 – Tornos de bancada. (a) móvel. (b) fixo. ................................................................................ 24
Figura 1.45 – Torno de bancada. (a) Fixação com grampo. (b) Mordentes de substituição. ..................... 24
Figura 1.46 – As garras do torno de bancada são o elemento que fica em contacto com as peças
executando o aperto. (a) As garras lisas permitem apertos mais suaves. (b) As garras com serrilha
permitem apertar a peça com maior eficácia. ........................................................................................... 25
Figura 1.47 – Tipos de mordentes macios. (a) Mordentes em cobre. (b) Mordentes em poliuretano. .... 25
Figura 1.48 – Tipos de grampos. Da esquerda para a direita: Grampo em C, Grampo paralelo e Braçadeiras.
.................................................................................................................................................................... 26
Figura 1.49 – Grampos. (a) Grampo com mordentes móveis. (b) Grampo com mordente fixo. ............... 26
Figura 1.50 – Exemplo de um grampo de ajuste rápido. ........................................................................... 26
Figura 1.51 – Exemplos de ferramentas para fixar peças. ......................................................................... 27
Figura 1.52 – Serra manual de fita para metais. ........................................................................................ 28
Figura 1.53 – Características de uma lâmina para uma serra manual. ...................................................... 28
Figura 1.54 – A forma ondulada na disposição dos dentes permite ter uma folga na lâmina durante o
processo de corte. ...................................................................................................................................... 29
Figura 1.55 – Serras manuais. (a) Estrutura de comprimento fixo. (b) Algumas estruturas permitem montar
as lâminas com ângulos variáveis para serrar peças em diferentes direções. ........................................... 29
Figura 1.56 – Segurar a serra mantendo o nível da serra e aplicar pressão apenas no deslocamento frontal.
.................................................................................................................................................................... 30

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Figura 1.57 – Lâminas de serras manuais danificadas. (a) Níveis de desgaste acentuado com a folha
partida. (b) Pormenor dos dentes partidos em fotografia ampliada. ........................................................ 30
Figura 1.58 – Geometria e dimensões iniciais e finais da peça para o corte com serra manual. .............. 31
Figura 1.59 – Partes básicas da estrutura de uma lima. ............................................................................. 32
Figura 1.60 – Tipos e secções mais comuns de limas. (a) Lima plana afunilada. (b) Lima plana paralela. (c)
Lima plana afunilada de corte simples. (d) Lima faca. (e) Lima quadrada. (f) Lima redonda. (g) Lima meia-
cana. (h) Lima triangular. ............................................................................................................................ 33
Figura 1.61 – Da esquerda para a direita: grosa, fresados com dente curvo, de corte duplo e de corte
simples........................................................................................................................................................ 34
Figura 1.62 – Tipos de limas: (a) Lima murça. (b) Lima bastarda. .............................................................. 34
Figura 1.63 – Uma aresta lateral lisa evita o corte em superfícies adjacentes quando se está a limar. .... 35
Figura 1.64 – Fabricantes de moldes ou de joalheria utilizam limas com geometrias especiais para tarefas
de limagem específicas. .............................................................................................................................. 35
Figura 1.65 – Cabos e limas. (a) Zona de encaixe. (b) Ajuste da lima no cabo com aperto. ...................... 36
Figura 1.66 – Métodos para limagem. (a) Limagem para desbaste. (b) Limagem para acabamento. ....... 37
Figura 1.67 – Embutimento. (a) Lima com picadura danificada. (b) Peça riscada por falta de limpeza nas
limas. .......................................................................................................................................................... 37
Figura 1.68 – Limpeza das limas. (a) Escovas de pêlos suaves e duros. (b) Método para limpar as limas. 38
Figura 1.69 – As limas podem ser utilizadas para remover as rebarbas das peças como a que se pode ver
na aresta esquerda. .................................................................................................................................... 39
Figura 1.70 – Exemplos de limas. ............................................................................................................... 39
Figura 1.71 – Método de verificação da planeza de uma superfície com um relógio comparador. .......... 40
Figura 1.72 – Raspagem e polimento. (a) Raspador triangular. (b) As lixas estão disponíveis na forma de
folha e de fita com diferentes dimensões, tipos e tamanhos de grão. ...................................................... 41
Figura 1.73 - Lixadeiras. (a) Lixadeira de cinta horizontal, Optimum MBMS 100. (b) Lixadeira de disco,
OPTIrind TS 305. ......................................................................................................................................... 42
Figura 1.74 – Polimento. (a) Exemplos de pedras abrasivas para desbaste e de ceras. (b) Disco de polir.
.................................................................................................................................................................... 43
Figura 1.75 – Gama de intervalos para o nível de rugosidade média obtida no acabamento superficial em
função dos processos que pertencem à classe de Arranque de Apara e Abrasivos. .................................. 43

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LISTA DE TABELAS

Não foi encontrada nenhuma entrada do índice de ilustrações.

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1 AS FERRAMENTAS MANUAIS

1.1 INTRODUÇÃO
1.2 CHAVES DE APERTO
1.3 ALICATES
1.4 MARTELOS
1.5 TORNOS DE BANCADA E GRAMPOS
1.6 SERRAS E LÂMINAS PARA CORTE MANUAL
1.7 LIMAS
1.8 RASPADORES, LIXAS E DISCOS DE POLIR
1.9 SÍNTESE E EXERCÍCIOS DE REVISÃO

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Identificar as ferramentas manuais que são mais comuns numa oficina de serralharia mecânica;
2. Descrever as características e o modo de aplicação de cada ferramenta apresentada;
3. Descrever e aplicar os princípios de segurança na utilização de cada ferramenta;
4. Escolher a ferramenta adequada para executar as tarefas propostas;
5. Aplicar os procedimentos adequados na utilização de cada ferramenta apresentada;
6. Executar operações de aperto, desaperto, fixação, martelagem, corte, limagem e polimento de modo
a cumprir as especificações indicadas.

PALAVRAS-CHAVE (KEYWORDS)

acabamento (finishing), abrasivos (abrasives), alargador (reamer), alargamento (reaming), alicates de


corte (side cutting pliers), alicates de corte diagonal (diagonal cutter pliers), alicates extensivos (tongue-
and-groove pliers), alicates universal (slip joint pliers), alicates de pressão (locking pliers), alicates de
pontas (needle nose pliers), bancada (workbench), caçonete (die), chaves de bocas (open end wrenches),
chaves de cachimbo (), chave dinamométrica (), chaves de fendas (straight or slotted screwdrivers),
chaves meia-lua de gancho (hook spanner wrenches), chaves inglesa (adjustable wrenches), chaves de
luneta (box-end wrenches), chave de tubo (), chaves mista (combination wrenches), chaves phillips

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(phillips screwdrivers), chave meia-lua de pino (pin spanner wrenches), chaves sextavada (hex key
wrenches), chaves com haste em z (offset screwdriveres), chaves roquete (socket wrenches), chaves torx
(torx screwdrivers), dentado (tooth set), desandador (straight tap wrench), desbaste (), embutimento (),
entalhe (kerf), escovas de aço (wire bristles), espiga (tang), esquadro (square), grampo de ajuste rápido
(), grampos de barras paralelas (parallel clamps), grampos em C (C-clamps), grampos com dobradiça
(hinged clamps), lâminas de serra (hacksaw blades), limas (files), limagem (filing), limagem para
acabamento (draw filing), limagem para desbaste (straight filing), lixas (), macho de roscar (tap), martelo
de bola (ball peen hammer), martelo de borracha com esferas (dead blow hammer), martelo de couro
(Rawhide), martelo de nylon (nylon hammer), martelo macio (soft face hammer), garras (vise jaws),
mordentes (soft caps), passo de rosca (thread pitch), pedras abrasivas (stone abrasives), pastas abrasivas
(abrasive stones), picadura (file card), polimento (polishing), quadro da serra (hacksaw frame), raspagem
(deburring), rasto, rebarbas (burrs), rosca (thread), roscagem (threading), serra (hacksaw), sobrecarga
(loading), talão (heel), torno de bancada (bench vise), (pinning), (shaping), (coarseness), (face spanner
wrenches).

RECORDA…

Nesta fase, convém recordar os princípios sobre as regras de segurança em oficina e os tipos de EPI’s cuja
utilização é obrigatória, de acordo com as exigências de cada trabalho e em sintonia com o regulamento
interno da escola. Aconselha-se ainda recordar conceitos de geometria, metrologia e rugosidade.

PORTFOLIO

Como este capítulo introduz conceitos fundamentais no começo da aprendizagem de qualquer serralheiro
mecânico, sugere-se aos formandos que têm um espaço próprio de trabalho que documentem através de
fotografia a forma como arrumam a ferramentaria e estruturam a sua oficina, respeitando princípios de
organização, rigor e segurança. Aos que não têm esta oportunidade, sugere-se que elaborem o seu próprio
conjunto de ferramentas e equipamentos para desenvolverem projetos pessoais em casa.

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1.1 INTRODUÇÃO

Uma das qualidades fundamentais que define um bom operador de serralharia mecânica está relacionada
com saber identificar e usar de modo adequado as ferramentas manuais. Este tipo de ferramentas pode
ser necessário nas mais variadas tarefas, desde a fase inicial onde se trabalha ainda com a matéria-prima,
passando pelo ajuste de máquinas-ferramentas para desenvolver operações de fabrico intermédias, pela
sua reparação e manutenção, acabamento de peças, entre muitos outros. Este capítulo providencia uma
breve introdução às ferramentas dando uma orientação sobre os contextos e as formas de utilização bem
como cuidados a observar para as ferramentas manuais mais comuns numa oficina de serralharia.

Numa oficina organizada, as ferramentas devem estar guardadas em locais que as protegem de condições
externas depois de serem devidamente limpas. Para esse fim, existem armários como o da Figura 1.1a
que podem ser constituídos por madeiras ou por metais e que permitem acondicionar as ferramentas em
prateleiras ou em painéis próprios, utilizando a estrutura com suportes adequados para as fixar.

Existem armários de parede como o da Figura 1.1b que também podem ser usados para pendurar certos
tipos de ferramentas. Nestas circunstâncias, por ter menos espaço, é mais comum fazer o armazenamento
mais restrito, pelo tipo de ferramenta, por exemplo, para guardar alguns tipos de chaves. A situação mais
comum, dada a diversidade de ferramentas, é a de ter vários armários dispostos ao longo do espaço.

(a) (b)
Figura 1.1 – Armários com portas para oficina. (a) Armário de chão. (b) Armário de parede.

Nalguns casos, torna-se conveniente para os utilizadores ter algumas ferramentas próximas das máquinas
onde se está a trabalhar ou simplesmente tê-las guardadas em equipamentos móveis. Nessas situações é
habitual recorrer a carros de ferramentas como o que se pode ver na Figura 1.2a. Em situações destas, é
comum que os carrinhos guardem ferramentas próprias da máquina-ferramenta de que estão próximas.
Este tipo de estrutura, por ser móvel, pode também ser utilizada para levar alguns equipamentos que são
necessários para executar trabalhos no exterior. Os carrinhos, sem as rodas, também podem ser dispostos
ao longo da oficina, de acordo com a gestão de espaço pretendida.

Os armários de bancada são constituídos por gavetas e costumam estar próximos das zonas de trabalho,
Figura 1.2b. Este tipo de estrutura, à semelhança do carrinho, tem gavetas com dimensões diferentes o
que permite acondicionar as ferramentas por tipologia, (embora este aspeto dependa sempre do zelo do

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operador…). Em certos casos, podem ser usados como suporte para o tampo de bancada, embora deva
ser considerado que para este tipo de equipamentos existem muitos modelos disponíveis que variam nas
dimensões e materiais constituintes, (influencia a altura da bancada e a robustez da estrutura).

(a) (b)
Figura 1.2 – Armários com gavetas para oficina. (a) Carrinho de ferramentas. (b) Armário de bancada.

Os tampos de bancada costumam ser feitos de madeira com uma espessura elevada para serem limpas
e retificadas sempre que necessário. Todos os trabalhos efetuados nas bancadas devem considerar que a
madeira embebe óleos e resíduos que são difíceis de remover e podem ser facilmente riscadas.

A arrumação e limpeza dão sempre uma boa imagem de uma oficina porque são factores que contribuem
de forma decisiva para a organização e rigor do trabalho. Além disso, permitem ainda aumentar a eficácia
melhorando a dinâmica do mesmo, reduzindo os tempos de produção. No fundo, consegue-se fazer mais
e melhor em menos tempo. Assim, estes conceitos, embora simples, não devem ser desprezados e o seu
respeito e devido cumprimento deve estar sempre presente no desenvolvimento de qualquer trabalho.

Por questões de segurança, todos estes armários costumam ter um mecanismo de fechadura pelo que é
habitual ter as chaves guardadas num local de acesso restrito, (Figura 1.1a). Pela quantidade de armários
que normalmente são necessários numa oficina, é comum que estejam rotulados e as chaves devem estar
devidamente etiquetadas para evitar confusões. Ao operador compete também conhecer a identificação
de cada estrutura para melhorar a eficácia do trabalho.

EXERCÍCIOS 1.1

Q1 – Indica algumas tarefas que conheces por experiência própria onde podem ser usadas ferramentas
manuais. Tenta relacionar com as diferentes fases de produção de uma peça.

Q2 – Identifica os principais tipos de equipamentos utilizados para armazenar ferramentas.

Q3 – Explica os motivos que tornam a arrumação e limpeza aspetos muito importantes a respeitar no
desenvolvimento de um trabalho de serralharia em oficina.

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1.2 CHAVES DE APERTO

A união entre peças pode ser classificada como sendo do tipo permanente ou não permanente. O que as
diferencia tem a haver com a capacidade para desmontar o conjunto sem ter de destruir a união. Um dos
métodos de ligações não-permanentes mais divulgado consiste na utilização de elementos roscados que
podem ser parafusos, porcas ou pernos, (ilustrados por esta ordem, de cima para baixo, na Figura 1.3a).
Os parafusos têm uma constituição que envolve uma zona com uma cabeça, espiga, (que pode ser toda
roscada ou ter também uma parte sem rosca, chamada de liso), e a ponta.

Existem muitos tamanhos e geometrias diferentes de cabeças nos parafusos sendo que estas servem para
encaixar ferramentas manuais próprias, para apertar e desapertar, de modo a ajustar o conjunto. De um
modo geral, os tipos de cabeças dividem-se entre as que têm uma forma geométrica criada por revolução,
(cilíndrica, cónica), com uma cavidade interna para encaixe de uma ferramenta, e as que têm a geometria
externa prismática para encaixe das ferramentas por fora, (Figura 1.3b).

(a) (b)
Figura 1.3 – Peças roscadas: parafuso, porca e perno. (a) Representação em desenho técnico. (b) Exemplos de parafusos.

As chaves são ferramentas manuais muito simples que encaixam nas cabeças dos parafusos para os soltar
ou apertar. Podem ser feitas numa grande variedade de formas nas pontas, onde cada geometria é usada
para um determinado tipo de parafuso. Existem ainda exemplos em que a própria estrutura da ferramenta
é adequada para se conseguir aceder aos parafusos em locais mais complicados, (ver Figura 1.4).

Figura 1.4 – Chaves com diferentes tamanhos na ponta, comprimentos e formas na haste, [1].

As chaves Phillips são utilizadas em parafusos com as cabeças do tipo Phillips. A ponta com a forma em
cruz melhora o encaixe para ajudar a prevenir que a ferramenta escorregue e saia da cabeça do parafuso.

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Existem em vários tamanhos e deve-se escolher a que permite um encaixe confortável, sem ter demasiada
folga para evitar moer a cabeça do parafuso. Quando a ferramenta começa a ficar danificada, é possível
ver as arestas cortadas, de modo que deixam de encaixar na cabeça do parafuso. Quando é a cabeça do
parafuso que fica danificada, esta ganha uma geometria circular e a chave deixa de encaixar para fazer a
rotação. Nestas circunstâncias, é necessário recorrer a outros métodos para conseguir mover o parafuso.
Este tipo de chave também é conhecido como chave estrela e chave de fendas cruzadas.

As chaves de fendas têm uma ponta ampla e plana, e podem ter vários tamanhos para encaixarem no
comprimento e espessura da ranhura no parafuso. Deve-se utilizar o maior tamanho possível na ranhura
para ter a maior área de contacto ao exercer pressão. Quando a chave é demasiado pequena, existe uma
tendência para escorregar para fora da cabeça do parafuso e começa a danificar as arestas nas pontas.

As chaves Torx têm a extremidade com uma geometria que permite ter mais arestas e são muito usadas
em montagens de conjuntos de peças na indústria automóvel e em equipamentos de ferramentas de
corte. Existem em vários tamanhos e têm seis curvas em forma de spline na ponta. Estas chaves devem
encaixar na cabeça do parafuso de modo confortável para não forçar em demasia o metal deste. A Figura
1.5 apresenta imagens destes três tipos de chaves, por ordem respetiva a partir da esquerda.

Figura 1.5 – As pontas de chaves mais comuns, são: Phillips, fendas e Torx, (a partir da esquerda).

A utilização destas ferramentas requer a observação de alguns cuidados que se descrevem no quadro em
baixo, para assegurar o bem-estar de pessoas e equipamentos.

ATENÇÃO!

O operador deve certificar-se de que usa o tipo e tamanho correto de chave nos parafusos para evitar
lesões e não danificar as ferramentas. Não é seguro transportar as chaves no bolso nem utilizá-las nos
equipamentos que têm peças móveis em movimento. As chaves também não são seguras para utilizar
como martelos, cinzéis, nem para raspar. Garantir que a chave está alinhada com o parafuso durante
o aperto/desaperto para evitar que escorregue e provoque lesões no operador ou no equipamento.

As chaves em Z são utilizadas quando não existe muito espaço para aceder aos parafusos com as chaves
tradicionais de haste direita. Estas chaves fazem um ângulo de 90° próximo das extremidades e existem
com diferentes tamanhos e formas nas pontas. A Figura 1.6 mostra uma chave mista (fendas e phillips).

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Figura 1.6 – Chave em Z mista, (combina ponta phillips com fendas).

As chaves sextavadas com forma hexagonal são utilizadas em alguns tipos de cabeças de parafusos e de
tampas, e costumam ser comercializadas em conjuntos de ferramentas com diferentes tamanhos para a
ponta, tal como na forma da haste. Assim, existem com a forma em L para alcançar parafusos com acessos
mais complicados e também com haste em forma de T para melhorar a pega e o movimento de rotação.
Algumas terminam com a ponta arredondada para encaixar melhor nos parafusos, ficando com aperto e
menor tendência para escorregar. Na Figura 1.7 podem ver-se diferentes tipos de conjuntos de chaves.

(a) (b)
Figura 1.7 – Chaves sextavadas. (a) Diferentes tipos de haste. (b) Conjunto de chaves.

As cabeças de parafusos cujo aperto é feito com a chave de fendas têm forma de revolução e uma fenda
onde entra a chave. As cabeças com fenda não se utilizam para parafusos de grandes dimensões, pois o
aperto é pouco eficaz para diâmetros nominais superiores a 20 (mm). De acordo com a norma NP-155
(1968), podem ter as diferentes formas que a Figura 1.8a a c representam. Assim, podem ser cabeças do
tipo: cilíndrica, de menisco, de lentilha, de embeber e de tremoço.

(a) (b) (c)


Figura 1.8 – Tipos de cabeças de fendas para parafusos. (a) Cilíndrica e de menisco. (b) Lentilha e de embeber. (c) Tremoço.

Os parafusos com cabeça cilíndrica utilizam-se frequentemente com a cabeça protegida no interior de
uma caixa, enquanto os parafusos com cabeça de menisco ficam normalmente salientes, pois o abaulado

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da cabeça torna-os menos agressivos. Os parafusos com a cabeça de tremoço utilizam-se praticamente
nas mesmas condições do que os com cabeça de menisco. As cabeças de embeber e de lentilha ficam
total ou parcialmente embebidas na peça utilizando-se em ligações em que se pretende um aspecto mais
cuidado. As cabeças de tremoço e de embeber são muito frequentes em parafusos para madeira.

Figura 1.9 – Tipos de cabeças de fendas cruzada e sextavada, [2].

Além das cabeças de parafusos com fenda simples, utilizam-se também com certa frequência cabeças de
parafusos com a mesma geometria, mas com uma fenda cruzada para as chaves phillips ou com a cabeça
de caixa que pode ter diversas formas, sendo as mais correntes a forma sextavada e a torx, (Figura 1.9).

Alguns tipos de chaves foram desenvolvidos para ajustar parafusos e porcas roscadas com as cabeças de
geometria quadrada ou hexagonal. Há uma grande variedade de ferramentas e o serralheiro deve saber
escolher e usar cada uma destas corretamente, sem danificar o equipamento nem provocar lesões.

As chaves de bocas são utilizadas em trabalhos leves e têm duas garras paralelas para encaixar numa
cabeça com forma quadrada ou hexagonal. Algumas destas chaves, posicionam as garras com um ângulo
de 15° para facilitar o acesso em espaços apertados e em vez de um movimento contínuo, a chave pode
ser liberta do encaixe no limite para permitir nova rotação. As chaves de bocas agarram o parafuso apenas
com duas superfícies e têm tendência para escorregarem quando é aplicada muita força. As chaves têm
diferentes tamanhos normalizados e também são conhecidas por chaves de anel aberto. A Figura 1.10a
mostra o exemplo de um conjunto de chaves deste tipo com diferentes tamanhos em cada extremidade.
Por vezes, utilizam-se chaves de bocas só com um tamanho, como na Figura 1.10b.

(a) (b)
Figura 1.10 – Chaves de bocas. (a) Chaves com dois tamanhos. (b) Chave de tamanho único.

As chaves de lunetas são utilizadas quando se pretende aplicar um momento torsor maior no parafuso.
A extremidade desta chave envolve completamente a cabeça do parafuso ou da porca, dando mais área

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de contato e prevenindo que a chave escorregue ou saia do encaixe. Como estas enclausuram o parafuso,
têm de deslizar ao longo da cabeça desde o topo. Estas chaves estão disponíveis em modelos de 6 ou 12
pontos, (ver a Figura 1.11a).

(a) (b)
Figura 1.11 – Chaves de luneta. (a) Pontas com 6 e 12 pontos de contacto com a porca/parafuso. A chave com 12 pontos pode
também ser chamada de chave poligonal. (b) Haste direita e curva, [1].

O modelo de 6 pontos proporciona melhor contacto com o parafuso e há menos hipótese de escorregar
ou de arredondar os cantos da cabeça, mas pode ser mais difícil de encaixar no parafuso quando existe
pouco espaço. O modelo de 12 pontos pode ser colocado no parafuso em mais posições de encaixe do
que o anterior e pode ser usada em parafusos de cabeça quadrada, tornando-a mais versátil. Estas chaves
também são conhecidas como chaves de anel fechado, sendo que o modelo de 12 pontos também pode
ser chamado de chave poligonal. Alguns modelos destas chaves têm uma haste plana, como as da Figura
1.11a, mas outras têm uma haste curva, Figura 1.11b.

O operador deve observar os alertas mencionados no quadro em baixo antes de usar este tipo de chaves.

ATENÇÃO!

Certificar que a chave encaixa no parafuso ou na porca de forma justa. Sempre que possível, puxar a
chave na direcção do operador de modo a que se escorregar, não se lesiona a mão. Não se deve colocar
nenhuma extensão na chave para aumentar o momento quando o parafuso ou a porca resiste à saída.
Não se deve martelar a chave e quando se puxar, manter uma posição estável e equilibrada para evitar
demasiado esforço nas costas, cair ou atingir alguma coisa no caso do parafuso ou da porca se soltar
de repente. Por vezes, um pequeno empurrão ou esticão a partir de uma posição de equilíbrio produz
um efeito no parafuso ou porca, em que ultrapassa o emperro e facilita a sua libertação.

Existem muitos tipos de chaves mistas, mas as mais comuns têm uma ponta em boca e outra em luneta
do mesmo tamanho por versatilidade. Algumas podem ter a ponta luneta ligeiramente inclinada para
facilitar o acesso a parafusos que estejam numa posição recôndita e outras têm ainda a ponta luneta com
um mecanismo articulado que permite ajustar esse mesmo ângulo, (Figura 1.12a e b).

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(a) (b)
Figura 1.12 – Chaves mista. (a) Ponta luneta com inclinação fixa e de bocas. (b) Ponta luneta com inclinação variável e de bocas.

A chave de cachimbo também é utilizada em parafusos do mesmo tipo, mas como tem um encaixe que
envolve totalmente a cabeça, permite diminuir a tendência para o escorregamento da chave. Esta chave
tem ainda a haste em curva que pode facilitar em certas situações o acesso a parafusos e porcas, (Figura
1.13a). A chave de tubos apresenta as mesmas características, mas, ao contrário da anterior, costuma ter
uma haste reta, (Figura 1.13b).

(a) (b)
Figura 1.13 – Chaves para cabeças de parafuso e porcas do tipo prismáticas. (a) Chave de cachimbo. (b) Chave de tubos.

A chave inglesa é uma ferramenta versátil, mas deve ser ajustada de forma apropriada para encaixar no
parafuso à justa, para evitar danos e lesões, (ver a Figura 1.14a). Existem chaves com tamanhos diversos,
baseados no comprimento do cabo que permitem ter uma abertura entre garras com limites variáveis. As
chaves inglesas agarram no parafuso da mesma forma que as chaves de bocas, de modo que também
estão sujeitas a que as garras deslizem. Aliás, estas têm ainda mais probabilidade de fletir as garras devido
à falta de uma garra fixa num dos lados.

(a) (b)
Figura 1.14 – Chaves inglesas. (a) Disponíveis em vários tamanhos. (b) Escala de abertura e parafuso externo.

Alguns dos modelos podem ter o ajuste da abertura entre as garras numa posição central, (Figura 1.14a)
enquanto outros têm numa posição lateral, (Figura 1.14b). Nalguns casos, pode haver também uma escala
que permite saber a abertura definida nas garras, o que se pode verificar útil a partir do conhecimento da
geometria da cabeça do parafuso para um ajuste mais rápido, (Figura 1.14b).

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Figura 1.15 – Modo de utilização da chave inglesa.

Quando se utiliza este tipo de chave, a garra fixa deve ficar do lado superior, onde a força aplicada é maior.
Deste modo, a garra móvel fica mais protegida, evitando que a abertura seja alterada ao longo da rotação,
(Figura 1.15). A utilização da chave inglesa requer alguns cuidados devido ao risco de escorregamento.

ATENÇÃO!

É importante configurar a chave de modo que encaixe de forma justa no parafuso e rodar na direção
do operador com a garra móvel na posição indicada na Figura 1.17, para evitar lesões se a ferramenta
escorregar. Este procedimento também protege a chave ao diminuir os esforços no elemento roscado.

As chaves de caixa são feitas com a forma de um encaixe tal como a ponta de uma chave de lunetas, num
cilindro oco numa extremidade e um furo quadrado no outro extremo para prender na ponta do roquete,
(Figura 1.16a). O roquete consiste numa haste sólida, normalmente, com um punho recartilhado na ponta
para segurar e encaixe em forma de cubo com esferas na outra, que é usado para transmitir força à chave
de caixa ao rodar o punho, (Figura 1.16b).

(a) (b)
Figura 1.16 – Jogo de chaves de caixa e roquete. (a) Chaves de caixa. (b) Roquete e adaptadores.

Estas chaves têm a vantagem de não precisar de serem removidas do parafuso cada vez que se dá uma
volta. As chaves de caixa podem ter formas de 6 ou 12 pontos de contato tal como as chaves de lunetas,
(Figura 1.11). O tamanho é identificado pelo quadrado, tal como ¼”, 3/8”, ½”, ¾”, embora existam alguns
redutores que podem ser utilizados para ajustar às chaves de caixa. O tamanho da chave tem de coincidir
com o tamanho do punho. Existem muitos acessórios disponíveis para permitir que a chave alcance locais
de difícil acesso. A Figura 1.16b mostra alguns punhos das chaves roquete e respetivos acessórios. Estas
chaves também podem ser utilizadas para efetuar o aperto de porcas com geometria prismática.

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Existem algumas situações em que a força de aperto exercida entre os elementos roscados precisa de ser
controlada por questões de integridade nas peças e, por conseguinte, segurança. O aperto das juntas das
cabeças dos motores ou o aperto das mós na esmeriladora são alguns exemplos onde é necessário ter
este cuidado e controlo. Nestes casos, utilizam-se chaves dinamométricas como a da Figura 1.17.

Figura 1.17 – Exemplo de uma chave dinamométrica.

Realiza a Pesquisa 1.1 para ver este tipo de chaves muito especial e amplamente utilizada na mecânica.

PESQUISA 1.1

Observa o vídeo presente no link apresentado em baixo e responde às questões propostas.

QUESTÃO: Descreve a forma como as chaves são constituídas, os elementos e como se utiliza. Como se
mede e regula o aperto? Quais são as unidades? O que significam? Como se faz a leitura da escala?

SUGESTÃO: Identifica mais alguns casos onde se utilize esta ferramenta.

As cabeças dos parafusos cujo aperto se faz com estas chaves são prismáticas, podendo assumir de acordo
com a NP-155 (1968) as seguintes formas representadas pelas Figura 1.18a e b: sextavada e quadrada.
Destes, os parafusos com cabeça sextavada são de utilização mais corrente, empregando-se menos os de
cabeça quadrada. A norma internacional ISO 1891:1979 também contém as especificações relativamente
a este tipo de cabeças de parafusos. As dimensões das cabeças quadradas estão regulamentadas de modo
a que as chaves de bocas consigam encaixar em duas arestas opostas.

(a) (b)
Figura 1.18 – Parafusos com cabeça prismática. (a) Sextavada e sextavada com verdugo. (b) Sextavada com almofada e quadrada.

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Os tipos de porcas que se enquadram nesta situação, estão identificados na Figura 1.19.

Figura 1.19 – Cabeças de parafusos e porcas prismáticas.

Os parafusos roscados com grandes dimensões costumam ter furos próprios que são usados para encaixar
chaves adequadas para os fazer rodar, em vez das cabeças. As chaves meia-lua têm uma haste, um braço
em arco e terminam com um gancho que contorna o parafuso para encaixar nas ranhuras, (Figura 1.20a).
Alguns modelos têm uma articulação que permite ajustar o comprimento do arco, enquanto outras são
fixas. Algumas chaves meia-lua têm um parafuso no lugar do gancho que pode ser substituído quando se
parte ou desgasta, (Figura 1.20b). Esse parafuso tem a ponta em forma de pino e ajusta simplesmente na
chave pela rosca, (Figura 1.20c). O nome costuma ser simplificado consoante se utiliza gancho ou pino.

(a) (b) (c)


Figura 1.20 – Chaves meia-lua articuladas. (a) Chave de gancho. (b) Chave de pino. (c) Parafuso da chave de pino.

A Figura 1.21a mostra chaves meia-lua de gancho e a Figura 1.21b mostra chaves meia-lua de pino com
diferentes tamanhos no arco e na haste, fixas e articuladas. Umas têm o gancho como parte da própria
estrutura e outras um pino móvel para utilizar nas circunstâncias e forma adequada. A Figura 1.21c mostra
um veio roscado com um diâmetro elevado, de modo que em vez de ter cabeça onde encaixem as chaves
tradicionais, tem furos na parede lateral para encaixar o gancho ou pino deste tipo de chaves.

(a) (b) (c)


Figura 1.21 – Chaves meia-lua. (a) Chaves meia-lua de gancho fixa e articulada. (b) Chaves meia-lua de pino fixa e articulada. (c)
Exemplo de utilização para desenroscar o veio de um torno.

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Além destas chaves, existem ainda umas chaves de pinos como as que se podem ver na Figura 1.22a. Este
tipo de ferramenta tem o mesmo propósito da chave anterior e pode ter uma geometria muito variável.
Existem modelos com uma estrutura rígida de haste única que na extremidade tem os pinos colocados na
ponta de um arco em meia-lua. Por outro lado, existem modelos mais flexíveis, compostos por dois braços
unidos por uma articulação. Este mecanismo permite ajustar a abertura para o diâmetro pretendido, por
conseguinte, a distância entre os pinos, tal como se fosse um compasso.

(a) (b)
Figura 1.22 – Chave de pinos ajustável. (a) Exemplos de chaves com diferentes estruturas. (b) Exemplos de utilização da chave
num esmeril.

As chaves de pinos encaixam nos furos do parafuso quando estão dispostos na face ou no topo do mesmo.
A Figura 1.22b tem uma aplicação que costuma surgir em oficina, para a substituição de mós num esmeril.

Para consolidar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios apresentados em seguida.

EXERCÍCIOS 1.2

Q1 – Explica a diferença entre ligações permanentes e não-permanentes e dá um exemplo de cada.

Q2 – Indica as possíveis geometrias das cabeças dos parafusos e as chaves para cada uma das situações.

Q3 – Identifica os tipos de pontas de chaves apresentados na Figura 1.23.

Figura 1.23 – Tipos de pontas em chaves de aperto para parafusos de cabeça cilíndrica ou cónica.

Q4 – Observa as imagens apresentadas na Figura 1.24 e identifica as chaves de aperto.

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(a) (b) (c) (d)

Figura 1.24 – Exemplos de chaves de aperto.

Q5 – Descreve as principais diferenças, vantagens e desvantagens entre as chaves de bocas e lunetas.

Q6 – Observa as imagens de parafusos e porcas representadas na Figura 1.25 e identifica-as.

(a) (b) (c) (d) (e)

Figura 1.25 – Tipos de cabeças de parafusos e de porcas.

Q7 – Indica alguns exemplos em contexto de oficina, onde a chave de gancho pode ser utilizada.

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1.3 ALICATES

Os alicates são usados na mecânica para uma grande variedade de tarefas, mas maioritariamente para
segurar ou cortar elementos. Existem diversos tipos de alicates, e cada um tem as suas tarefas específicas
para utilizar. Os alicates não existem para substituir as chaves de bocas pelo que não devem ser usados
para aperto/desaperto, e alguns vêm equipados com uma aresta de corte que pode ser usada para cortar
fios. A Figura 1.26 mostra exemplos de alicates que podem ser encontrados numa oficina de mecânica.

Figura 1.26 – Tipos de alicates.

Em seguida, apresentam-se alguns dos alicates mais comuns em oficina com maior pormenor. O alicate
universal é utilizado para muitas situações em que é necessário segurar ou dobrar peças. Alguns têm um
mecanismo simples que lhes permite abrir um pouco mais as garras para poder agarrar peças de maiores
dimensões, (Figura 1.27a). Estes alicates costumam ter também umas arestas para cortar fios ou arames
de pequena espessura, tipicamente até diâmetros de 2,5 (mm). Para executar trabalhos em baixa tensão,
deve-se utilizar alicates universais próprios que incluem um isolamento para proteger o operador em caso
de acidente, (Figura 1.27b).

(a) (b)
Figura 1.27 – Alicates universais. (a) Alicate universal para oficina. (b) Alicate universal para trabalhos de baixa tensão.

Os alicates de pontas também costumam ser utilizados de forma regular na mecânica, havendo de vários
tipos. As garras destes alicates são específicas e podem estreitar ao longo do comprimento à medida que
se aproximam da extremidade, para permitir que segurem peças pequenas. Alguns alicates têm as pontas
curvas para chegar a locais apertados, (Figura 1.28a), enquanto outros têm pontas redondas para segurar
peças cilíndricas com uma ponta no interior, (Figura 1.28b). Outros podem ter as pontas semi-redondas
ou pontas planas, consoante estreitam ou mantêm a largura das garras, (Figura 1.28c e d).

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(a) (b)

(c) (d)
Figura 1.28 – Alicates de pontas: (a) curvas, (b) redondas, (c) semi-redondas, (d) planas.

Estas ferramentas podem ser usadas para tirar aparas, quando não houver elementos em movimento por
perto. De referir ainda que existem ferramentas equivalentes a estas para trabalhos em eletricidade.

ATENÇÃO!

Os alicates de pontas nunca devem ser usados próximos de máquinas com elementos em movimento.

Existem ainda alguns alicates que foram desenvolvidos para executar algumas tarefas específicas. Assim,
há o alicate de freios ou pinos que tem precisamente uns pinos nas pontas para se poder manusear peças
com furos conjugados como anéis de retenção, (Figura 1.29). Entre este tipo de alicates existem variantes
com as pontas direitas ou pontas curvas, à semelhança do que se viu nos alicates anteriores.

(a) (b)
Figura 1.29 – Alicates de freios. (a) Pontas direitas. (b) Pontas curvas.

Quando é necessário ter alicates com uma capacidade de aperto maior para agarrar e que liberte as duas
mãos, são usados alicates de pressão, (Figura 1.30). Estes, são configurados para a abertura das garras
ao rodar um parafuso no cabo. A seguir, podem ser usados nas peças em trabalho com aperto ao fechar
as alavancas. Estes alicates têm um mecanismo que mantém a posição de aperto de modo que o utilizador
não precisa de estar sempre a exercer força. O alívio é feito ao pressionar uma alavanca no cabo.

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(a) (b) (c)


Figura 1.30 – Alicates de pressão. (a) Pontas retas. (b) Pontas curvas. (c) Pontas mistas.

Entre este tipo de alicates, existem algumas variantes para adaptar o trabalho às necessidades específicas.
Assim, alguns têm uma geometria reta nas garras (Figura 1.30a), outros têm uma geometria curva, (Figura
1.30b), e outros têm garras curvas e retas (Figura 1.30c). Estas configurações permitem ajustar o alicate
à secção da peça e ao apoio a que se pretende estabelecer a fixação. De modo a aumentar o comprimento
das garras numa das dimensões, para permitir aumentar também a área de contato com as peças e, assim,
melhorar o aperto, existem ainda modelos com pontas largas (Figura 1.31a) e com estrutura em C, (Figura
1.31b), semelhante a alguns grampos.

(a) (b)
Figura 1.31 – Alicates de pressão. (a) de nariz largo. (b) com estrutura em C.

Por vezes é necessário ter um alicate com capacidade para segurar peças com dimensões elevadas. O
alicate extensivo ou deslizante tem um sistema composto por um parafuso que desliza para diferentes
posições alterando a capacidade de abertura das pontas. Este mecanismo permite o ajuste para várias
gamas de aperto enquanto as garras se mantêm paralelas entre si, (Figura 1.32). Este alicate também
costuma ser chamado de alicate de ajuste rápido.

Figura 1.32 – Alicate extensivo ou deslizante.

Os alicates de corte diagonal são usados para corte de fios com diâmetros pequenos, tipicamente até 1,5
a 2 mm. Existem alicates mais pequenos deste tipo para usar em eletrónica no corte de fios e pinos. A
aresta inclinada permite facilitar o acesso à zona onde se efetua o corte, (Figura 1.33).

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(a) (b)
Figura 1.33 – Alicate de corte diagonal. (a) Alicate para fios ou arames de aço. (b) Alicate para uso em eletrónica.

Alguns destes alicates são muito pequenos para serem utilizados no contexto de eletrónica, para cortar
as pernas dos componentes depois de serem soldados a placas de circuito impresso.

Os alicates de corte têm garras rectas e largas e para o corte e furos com diâmetros fixos e pensados para
serem usados para descarnar cabos facilitando bastante esta tarefa. Alguns, perto do cabo, têm também
uma região mais estreita que pode ser usada para o corte, (ver Figura 1.34a). Existem alguns modelos de
alicates específicos para descanar fios, como é o caso do alicate mostrado na Figura 1.34b.

(a) (b)
Figura 1.34 – Alicate para descarnar. (a) Alicate de corte diagonal. (b) Alicate de descarnar.

Deve-se selecionar o ponto onde se pretende o corte e quando as garras fecham, ficam separadas por
uma distância que é complementada pelo núcleo do fio com a parte condutora. A seguir, basta puxar o
alicate para a extremidade do fio e o plástico protetor sai com o alicate.

(a) (b)
Figura 1.35 – Outro tipo de alicates. (a) Alicate de rebites. (b) Alicate para cravar terminais.

Existem ainda alguns alicates para outras funções. A Figura 1.35a mostra um alicate de rebites para ser
usado com rebites rápidos na fixação de elementos e na Figura 1.35b pode ver-se um alicate para cravar
terminais, muito usado em trabalhos na eletricidade.

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Para consolidar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios apresentados em seguida.

EXERCÍCIOS 1.3

Q1 – Descreve a principal diferença entre os alicates para uso em mecânica e eletricidade.

Q2 – Observa as imagens apresentadas na Figura 1.36 e identifica os alicates.

(a) (b) (c) (d)

Figura 1.36 – Exemplos de alicates.

Q3 – Quais são as diferenças, vantagens e desvantagens entre os alicates de pontas e de pressão?

Q4 – Quais são os tipos de alicates que se utiliza para manusear os anéis de retenção?

Q5 – Existem alguns alicates para funções muito específicas como os que se encontram representados
na Figura 1.37. Identifica cada um e descreve resumidamente para que servem.

(a) (b)

Figura 1.37 – Alicates para trabalhos específicos.

Q6 – Qual é a principal vantagem de utilizar um alicate de descarnar em vez de um alicate universal ou


de corte para descarnar fios?

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1.4 MARTELOS

Em mecânica, é comum ser necessário dar pancadas com martelos em peças para obter alinhamento de
pinos, encaixar pinos, marcar objectos, puncionar o centro de furos, entre outros. De um modo geral, são
utilizados os martelos com cabeça em aço endurecido. Quando é importante não deixar marcas numa
superfície ou evitar o dano, usam-se martelos com uma cabeça mais macia. Antes de utilizar, os martelos
devem ser verificados por questões de segurança na cabeça e na haste, (ver se estão soltas ou partidas).
Alguns martelos têm as cabeças substituíveis e há para cada tipo vários tamanhos e pesos disponíveis.

Os martelos de bola são fabricados numa grande variedade de tamanhos com base no peso da cabeça.
Estes martelos têm duas finalidades, uma vez que a cabeça tem duas pontas para diferentes funções.
Assim, têm uma extremidade plana para martelar, usada para tarefas leves e pesadas, que podem ir desde
a marca com um punção de bico na traçagem até martelar cinzéis. A face redonda pode ser utilizada para
deformar a cabeça dos rebites até alargarem, ou para deformar metais duros, (Figura 1.38a).

(a) (b)
Figura 1.38 – Martelos comuns em oficina. (a) Martelo de bola. (b) Martelo de nylon.

Os martelos de nylon são usados quando se pretende ter uma superfície suave e mais resistente ao
desgaste das pancadas, (ver Figura 1.38b). Os martelos de nylon tendem a ressaltar depois de martelar,
ao contrário do martelo anterior e as pontas desenroscam para efetuar a troca. Os martelos de bola e de
nylon são os martelos de uso mais comum numa oficina.

Os martelos de borracha são usados para acertar nas superfícies que podem ser facilmente danificadas
pelos martelos duros, (ver Figura 1.39). Estes, também podem ser usados quando é necessário posicionar
peças, como no alinhamento de alguns equipamentos antes do aperto final para maquinagem ou para
obter precisão na montagem e ajuste de alguns componentes. Este tipo de martelo tem um ressalto mais
acentuado do que os anteriores.

Figura 1.39 – Martelo de borracha.

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Martelos de borracha com areia ou esferas são martelos suaves habitualmente usados para assentar
peças nas prensas de alguns equipamentos ou outros acessórios de fixação. A cabeça contém areia ou
esferas metálicas para absorver a energia da pancada e evitar que esta ressalte. Assim, grande parte da
energia proveniente do impacto é transmitida à peça diminuindo a restituição elástica. As Figura 1.40a e
b mostram um martelo deste tipo e um esquema do interior da cabeça.

(a) (b)
Figura 1.40 – Martelo de esferas. (a) Exemplar. (b) Composição interna da cabeça.

O martelo de madeira é também um dos martelos que se insere na categoria de macio. A cabeça destes
martelos é feita a partir de couro enrolado ao qual se dá a forma. Como este material é inerentemente
macio e compressível, estes martelos têm pouco ressalto após a pancada, Figura 1.41).

Figura 1.41 – Martelo de madeira.

Alguns martelos têm a cabeça feita a partir de metais mais macios como o bronze e o cobre. Estes martelos
são uma opção a ter em conta para uma pancada intermédia entre aquelas que não deixam marca como
os martelos de nylon e a pancada dura dos martelos em aço que deformam as peças. Podem ser utilizados
em trabalhos pesados, mas aumentam o risco de danificar a peça e são mais caros, (ver a Figura 1.42).

Figura 1.42 – Martelo de cobre.

Uma vantagem dos martelos não-ferrosos, (nylon, borracha, madeira, ...), é a de que não produzem faísca
quando atingem outros objetos metálicos. No caso do martelo de cobre, como o material é dispendioso,
este tipo de ferramenta não é muito comum em oficina e deve ser bem estimado. A utilização de martelos,
à semelhança das ferramentas anteriores, também deve ser acompanhada de regras de segurança.

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ATENÇÃO!

Deve-se utilizar sempre equipamento de protecção individual como os óculos e as luvas ao utilizar os
martelos. Os martelos não devem ser usados uns contra os outros porque podem partir e libertar lascas
para os arredores. Garantir uma distância segura para pessoas e equipamentos durante o manuseio.

Para aplicar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios propostos no quadro em baixo.

EXERCÍCIOS 1.4

Q1 – Explica a diferença entre utilizar martelos duros e macios. Dá exemplos para cada um dos casos.

Q2 – Observa as imagens apresentadas na Figura 1.43 e identifica as ferramentas.

(a) (b) (c) (d)

Figura 1.43 – Exemplos de martelos mais comuns em oficina de serralharia.

Q3 – Descreve as diferenças entre utilizar um martelo de esferas e um martelo de borracha.

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1.5 TORNOS DE BANCADA E GRAMPOS

O torno ou prensa de bancada é um equipamento utilizado para segurar as peças com firmeza para que
o utilizador possa executar operações como limar, serrar entre outras. As prensas devem ser montadas
com algum aperto numa mesa de trabalho estável e a uma altura confortável para diminuir a fadiga no
trabalhador. A manivela da prensa não deve ficar estendida para uma zona de passagem quando se faz o
aperto. Não se deve usar o martelo nem qualquer outra ferramenta para aumentar o aperto. Algumas
prensas têm uma pequena bigorna atrás das garras para leve martelagem.

O torno ou prensa de bancada móvel tem uma base para rodar e apertar na posição desejada, afim de
melhorar a posição de trabalho. O aperto é feito manualmente, pelo que não se deve usar o martelo nem
outra ferramenta para apertar o grampo (Figura 1.44a). O torno de bancada fixa é colocado numa posição
na bancada e permanece fixo. Normalmente são feitos em ferro fundido e fixos à mesa com três parafusos
combinados com porcas, (Figura 1.44b).

(a) (b)
Figura 1.44 – Tornos de bancada. (a) móvel. (b) fixo.

Existem ainda alguns tornos de bancada mais versáteis que podem ser utilizados para executar trabalhos
leves, pois a sua fixação à mesa é feita através de um grampo, (sendo por isso mais fácil de se soltar da
mesa do que os anteriores). Estes tornos podem ser deslocados para pontos diferentes consoante o local
onde se pretende usar ou ser desmontados depois de terminado o trabalho, (Figura 1.45a).

(a) (b)
Figura 1.45 – Torno de bancada. (a) Fixação com grampo. (b) Mordentes de substituição.

As garras da prensa são as superfícies que fazem o aperto, feitas em peças normalmente substituíveis,
presas por parafusos ou por intermédio de pinos. Estes elementos também são amplamente conhecidos

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como mordentes. Os mordentes são fixos às mandíbulas do torno, e constituem as peças que ficam em
contato direto com as peças, sendo fundamental dedicar atenção ao tipo de mordentes que existem e ao
seu estado de conservação, (Figura 1.45b).

As garras em aço duro são usadas quando se precisa de um aperto forte para segurar a peça. Estas garras
estão disponíveis com estrias retas ficando um aspeto liso na face (Figura 1.46a), superfícies serradas ou
rugosas (Figura 1.46b), e ainda existem garras ou mordentes do tipo macio ou suave. Com o aperto nestas
garras, normalmente as peças com superfícies de precisão elevada, (onde se pretende ter no fim um bom
acabamento superficial) ficam com marcas, e, portanto, danificadas.

(a) (b)
Figura 1.46 – As garras do torno de bancada são o elemento que fica em contacto com as peças executando o aperto. (a) As garras
lisas permitem apertos mais suaves. (b) As garras com serrilha permitem apertar a peça com maior eficácia.

As garras ou mordentes macios são obtidos normalmente a partir de umas capas que deslizam para cobrir
as garras de origem do torno. Estes ajudam a evitar, até certo ponto, que se danifique a superfície da peça
durante o aperto e podem ser feitas em diversos materiais, como o alumínio, cobre, borracha, madeira,
plástico, entre outros. A Figura 1.47a mostra exemplos de mordentes em materiais macios montados no
torno de bancada, (cobre e poliuretano). É muito comum serem aproveitados alguns “restos” de trabalhos
em chapa metálica para fazer mordentes para tornos, normalmente em alumínio. A Figura 1.47b mostra
mordentes em poliureteano.

(a) (b)
Figura 1.47 – Tipos de mordentes macios. (a) Mordentes em cobre. (b) Mordentes em poliuretano.

Em certas ocasiões, é mais útil ter um sistema de fixação móvel em vez dos tornos de bancada que são
fixos. Existem muitos tipos de grampos que o serralheiro pode usar quando executa trabalhos de bancada
para, por exemplo, apertar peças de modo a que sejam maquinadas todas de uma vez, (Figura 1.48).

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Figura 1.48 – Tipos de grampos. Da esquerda para a direita: Grampo em C, Grampo paralelo e Braçadeiras.

Os grampos em C, como o próprio nome indica, têm uma estrutura em forma de C e um parafuso para
prender a peça. Este conceito é robusto e útil quando se precisa de um aperto forte. O tamanho da garra
e comprimento da garganta são usadas para determinar o tamanho do grampo, (Figura 1.48, à esquerda).

(a) (b)
Figura 1.49 – Grampos. (a) Grampo com mordentes móveis. (b) Grampo com mordente fixo.

Outros grampos podem ter duas barras ou apoios paralelos e são úteis em aplicações mais leves tal como
para segurar peças pequenas ou delicadas. Estes grampos podem ter as duas barras móveis com ajuste
feito por dois parafusos paralelos para ajustar a distância entre as garras e apertar as peças (Figura 1.49a).
Este tipo de grampo dificulta o encosto na mesa para efetuar a fixação porque diminui a zona de contato
entre os apoios e a peça. Outros grampos podem ter a barra superior fixa e deslizar a de baixo ao longo
da estrutura para prender a peça com o parafuso, (Figura 1.49b).

Figura 1.50 – Exemplo de um grampo de ajuste rápido.

Os grampos com dobradiça são menos comuns e têm duas garras de aperto com uma dobradiça. Usa o
parafuso para forçar as garras a fechar, fazendo o aperto, (Figura 1.48). Os grampos de ajuste rápido vão
sendo cada vez mais comuns e consistem numa estrutura semelhante à do grampo tradicional ilustrado
na Figura 1.50, mas utilizando materiais mais leves, como os polímeros, e um mecanismo de fecho mais
prático do que o parafuso com a rosca.

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EXERCÍCIOS 1.5

Q1 – Os tornos podem ser utilizados como ponto de apoio para martelagem? Justifica.

Q2 – Observa as imagens apresentadas na Figura 1.51 e identifica as ferramentas.

(a) (b) (c) (d)

Figura 1.51 – Exemplos de ferramentas para fixar peças.

Q3 – Quais as principais vantagens e desvantagens de utilizar um grampo em vez do torno de bancada?

Como já foi dito anteriormente, uma das principais qualidades que define um bom operador de serralharia
mecânica está relacionada com o saber identificar e utilizar de modo adequado as ferramentas manuais.
Para isso, é também necessário adquirir experiência na escolha de fabricantes de ferramentas e começar
a desenvolver um certo relacionamento de confiança nas ferramentas que se utiliza. Nesse sentido, realiza
a Pesquisa 1.2 para dar início a uma base de dados de fabricantes de ferramentas. Esta base permite ter
acesso rápido às ferramentas que se pretendem, bem como aos parâmetros que as definem e a conhecer
rapidamente as inovações que chegam ao mercado.

PESQUISA 1.2

A Wurth é uma empresa multinacional dedicada a várias áreas de negócio e uma das suas atividades é
o comércio de ferramentas manuais. Em baixo, encontra-se o link que encaminha para o site nacional.

https://www.wurth.pt

QUESTÃO: Consulta o site e descarrega para um dispositivo pessoal de armazenamento os catálogos


relacionados com as ferramentas manuais.

SUGESTÃO: Pesquisa sobre outras marcas de fabricantes e/ou retalhistas de ferramentas manuais.

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1.6 SERRAS E LÂMINAS PARA CORTE MANUAL

As serras manuais são equipamentos simples e portáteis usados para operações de corte leve e pouco
rigoroso. Por vezes, usar uma serra para cortar é mais rápido, fácil ou conveniente do que usar uma serra
automática ou mecânica. As serras são constituídas por três partes essenciais: a lâmina, cabo e o quadro.
A maioria dos quadros podem ser ajustados para diferentes comprimentos de lâminas, (Figura 1.52). Para
esse efeito costumam ter uma parte deslizante que permite ajustar o comprimento da estrutura.

Figura 1.52 – Serra manual de fita para metais.

A maior parte das lâminas de serra manuais para os metais tem uma espessura de 0.025’’ e altura de ½
polegada (“inch”). As lâminas são classificadas pelo comprimento e pelo número de dentes por polegada
(“teeth per inch”- TPI, ou dente por polegada - dpp ). Para efetuar um determinado corte, deve-se escolher
uma lâmina que tenha pelo menos sempre três dentes em contato com a peça no corte com a serra para
evitar que prendam ou partam durante o movimento de avanço.

A Figura 1.53 mostra três exemplos de lâminas para serras manuais onde se pode ver algumas diferenças.
As lâminas variam no TPI desde 24 a 32, de modo que esta última tem muito mais dentes definidos ao
longo do comprimento. As dimensões são as mesmas, com um comprimento de 300 (mm) mas o material
da sua composição é bem diferente. A lâmina do meio é constituída por aço-carbono, sendo normalmente
a mais barata e a que deve ser usada com velocidades mais baixas. A lâmina de baixo é constituída por
um aço rápido, (HSS – “High Speed Steel”), que por ser um metal com elevada resistência ao desgaste,
pode ser usada com velocidades mais altas e costuma ser mais cara. A lâmina de cima é bi-metálica e
conjuga os dois metais anteriores. Assim, tem o corpo em aço carbono para manter um custo baixo e tem
os dentes em aço rápido para ter o corte mais eficaz.

Figura 1.53 – Características de uma lâmina para uma serra manual.

Para evitar que a lâmina fique presa na peça, os dentes são desfasados de um lado ao outro num padrão
que representa o tipo de dentado. Isto resulta num corte ligeiramente mais grosso do que a espessura da

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lâmina. O pequeno encaixe produzido no início, que permite introduzir a lâmina sem que esta deslize para
fora da peça, chama-se de entalhe. A maioria das lâminas têm um padrão ondulado nos quais os dentes
progressivamente alternam num padrão suave para a direita e para a esquerda, (Figura 1.54).

Figura 1.54 – A forma ondulada na disposição dos dentes permite ter uma folga na lâmina durante o processo de corte.

Existem outros tipos de disposições para os dentes que serão abordados quando se introduzirem as serras
mecânicas e os respetivos tipos de lâminas. A lâmina deve ficar montada com alguma tensão. Esse ajuste
pode ser feito regulando o parafuso do quadro, (Figura 1.55a).

ATENÇÃO!

O operador deve ter os cuidados necessários para garantir que não existe contacto entre os dedos e
os dentes da lâmina da serra através do uso de luvas próprias e procedimentos adequados, e utilizar
sempre os óculos. A serragem não deve ser muito rápida nem com demasiada pressão para não partir
a lâmina nem provocar lesões. Aliviar a força exercida no fim do corte para efetuar o regresso da lâmina
ao longo da espessura da peça em segurança.

Para utilizar a serra, deve-se escolher primeiro a lâmina correta para o material a cortar e montá-la com
algum aperto no quadro da serra, com os dentes na direção oposta ao quadro. Se for necessário um corte
mais profundo do que aquele que o quadro permite pela distância da lâmina à estrutura, pode montar-se
a lâmina com um ângulo reto com o quadro, ao deslocar os apoios um quarto de volta, (ver Figura 1.55b).

(a) (b)
Figura 1.55 – Serras manuais. (a) Estrutura de comprimento fixo. (b) Algumas estruturas permitem montar as lâminas com ângulos
variáveis para serrar peças em diferentes direções.

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A peça deve ser montada no torno de bancada, próxima das garras para reduzir as vibrações e o ruído
proveniente do corte. Começa-se por aplicar uma pequena pressão para iniciar o corte. Para evitar que
a lâmina escorregue para os lados, pode ser útil fazer uma pequena incisão ou mover a serra suavemente
enquanto se segura ao lado com o dedo durante o corte para dar estabilidade na trajetória da lâmina.
Depois do corte estar inicializado, é melhor utilizar as duas mãos para serrar. Posicionar uma mão no cabo
e a outra mão na ponta oposta da estrutura.

A serra corta só no movimento frontal, por isso a pressão para baixo deve ser aplicada só nesse instante.
Deve-se fazer entre 40 a 50 deslocamentos frontais da serra por minuto usando o comprimento total da
lâmina. Mantê-la bem posicionada e evitar a torção. Se se partir ou desgastar, o entalhe do primeiro corte
será mais estreito do que o da nova lâmina. O novo corte deve ser iniciado do lado oposto da peça para
evitar que a lâmina agarre e se destrua o dentado. A Figura 1.56 mostra a posição adequada para efetuar
o corte, onde se evidencia a posição horizontal da lâmina. A orientação dos dentes deve estar de acordo
com a Figura 1.56 de modo a garantir que o corte se efetua para a frente e o recuo permite a remoção de
aparas com o alívio da pressão.

Figura 1.56 – Segurar a serra mantendo o nível da serra e aplicar pressão apenas no deslocamento frontal.

Antes de iniciar o corte, deve ser feita uma inspeção ao estado da lâmina para avaliar o desgaste e detetar
a ausência de dentes pois esta ferramenta costuma partir os dentes com alguma facilidade, diminuindo a
eficácia do corte. Nestes casos, se optar por utilizar a lâmina, o movimento deve ser feito de modo a cortar
apenas com o comprimento útil do dentado. Se a opção for mudar a lâmina, deve-se ter em consideração
que a lâmina só corta no movimento frontal, de modo que a posição de montagem tem de ser respeitada.

(a) (b)
Figura 1.57 – Lâminas de serras manuais danificadas. (a) Níveis de desgaste acentuado com a folha partida. (b) Pormenor dos
dentes partidos em fotografia ampliada.

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A Figura 1.57a mostra o exemplo de uma lâmina com marcas bem visíveis de regiões danificadas. Outros
casos requerem uma inspecção um pouco mais cuidada, como no caso da Figura 1.57b para se detectar
a falha entre os dentes. Para consolidar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios seguintes.

EXERCÍCIOS 1.6

Q1 – Quais são as partes constituintes numa serra manual?

Q2 – Quais são as principais características a considerar na escolha de uma lâmina para serras manuais?

Q3 – Descreve as diferenças entre uma lâmina em aço-carbono, HSS e bi-metálica?

Q4 – Descreve como é feita a orientação dos dentes da lâmina e explica os motivos.

Q5 – Indica cinco procedimentos ou cuidados a ter em atenção ao executar o corte manual com serra.

Pratica o corte com uma serra manual desenvolvendo a Atividade 1.1.

ATIVIDADE 1.1

Q1 – Escolhe um bloco de aço, em esquadria com as dimensões de modo a corresponder à Figura 1.58.

𝑎𝑖 = ____ 𝑎𝑓 = ____
𝑎
𝑏𝑖 = ____ 𝑏𝑓 = ____
𝑐𝑖 = ____ 𝑐𝑓 = ____
𝑐

Figura 1.58 – Geometria e dimensões iniciais e finais da peça para o corte com serra manual.

Q2 – Traça um segmento a dividir a peça ao meio com o auxílio de ferramentas próprias e corta-a com
uma serra manual. Efetua a rotação da lâmina para acompanhar a altura da peça se necessário.

Q3 – Junta as duas partes cortadas e mede novamente. Qual a espessura do corpo da lâmina utilizada?
O que concluis a partir dos resultados obtidos?

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1.7 LIMAS

As limas são utilizadas nos trabalhos de bancada para as tarefas relacionadas com desbaste e acabamento
sendo fundamental aprender a usar de forma adequada para os momentos em que limagem é um método
mais prático do que uma máquina ferramenta. As limas estão disponíveis em múltiplas formas, tamanhos
e estilos para diferentes aplicações e podem ser classificadas de acordo com as seguintes caraterísticas: o
comprimento, geometria da secção, tipo de dente e rugosidade.

A Figura 1.59 mostra as partes elementares de uma lima e a forma como o comprimento é determinado.
Assim, numa das extremidades está a haste ou espigão que é a parte da lima que encaixa no cabo. Estes,
podem ser feitos de madeira ou de plástico e a forma afunilada do espigão permite que a lima deslize
para o seu interior até ficar com aperto. O talão é a região do corpo da lima que permanece lisa, ou seja,
ainda não tem dentes definidos. A região do corpo da lima que tem os dentes e onde se vai efetivamente
realizar o corte, chama-se face. Nas zonas laterais da lima, estão as arestas que nalguns casos podem ter
dentes e noutros ser lisas. Na extremidade oposta, está a ponta da lima. O comprimento da lima é medido
desde o talão até à ponta da lima.

Figura 1.59 – Partes básicas da estrutura de uma lima.

Quanto à forma ou geometria da secção, as limas de utilização mais frequente são: plana, faca, quadrada,
redonda, meia cana e triangular. A Figura 1.60 mostra as geometrias da secção nestes casos. A disposição
das fileiras dos dentes pode variar em cada situação, bem como a geometria da ponta da lima. De referir
que existem diferentes comprimentos para cada um deste tipo de limas.

A lima plana ou chata, tem as fileiras dos dentes paralelas entre si ao longo do comprimento e espessura
e podem terminar junto à ponta com uma curvatura, chamando-se lima chata afunilada, (Figura 1.60a e
c). No caso de terminar com a mesma largura, chama-se lima chata paralela, (Figura 1.60b). A zona da
haste permite observar a inclinação que é dada à picadura ou aos dentes, relativamente ao comprimento
e seção da lima. Este ângulo imposto à picadura permite ter um corte mais progressivo, e, portanto, mais
suave. Neste caso, é possível verificar que a grande diferença entre as limas da Figura 1.60a e c está na
picadura onde a primeira tem duas fileiras de dentes, sendo por isso de corte duplo, enquanto a última
tem apenas uma fileira, sendo por isso de corte simples. A lima chata paralela costuma terminar com uma
ponta em forma de V e que permite utilizar esta lima quando se tem que trabalhar faces que formam uma
inclinação deste tipo.

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A lima faca tem as fileiras dos dentes ou grãos paralelos ao longo do comprimento e costumam terminar
com uma ligeira curvatura na ponta. A espessura é variável de modo que a aresta superior é mais larga
do que a aresta inferior. A haste ou espigão pode estar situado em cima, como na Figura 1.60d ou centrada
relativamente ao corpo da lima.

A lima quadrada, tem as fileiras dos dentes com o mesmo tamanho no comprimento e espessura, sendo
curva junto à ponta, (Figura 1.60e). Esta lima é particularmente útil para situações em que se pretende
limar duas faces perpendiculares ao mesmo tempo.

A lima redonda tem as fileiras dos dentes paralelas, com uma geometria circular, ou seja, ficam a toda a
volta da lima e terminam também com uma geometria cónica na ponta, (Figura 1.60f). Esta lima não tem
os dentes em inclinados, (o que daria uma hélice ao longo do comprimento) e é particularmente útil para
trabalhar em faces com curvatura.

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

(f)

(g)

(h)

Figura 1.60 – Tipos e secções mais comuns de limas. (a) Lima plana afunilada. (b) Lima plana paralela. (c) Lima plana afunilada de
corte simples. (d) Lima faca. (e) Lima quadrada. (f) Lima redonda. (g) Lima meia-cana. (h) Lima triangular.

A lima meia-cana tem uma face plana e outra arredondada com um dado raio, terminando junto à ponta
com uma curvatura, (Figura 1.60g). Algumas destas limas têm uma picadura em forma de ziguezague na
face curva. Esta lima também pode ser chamada de lima semiredonda.

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A lima triangular tem três faces planas iguais para efetuar o corte, sendo curva ou afunilada na ponta. A
geometria da seção, triângulo equilátero, implica que as faces têm um ângulo de 60° e também costuma
dar forma à haste, (Figura 1.60h).

As limas estão classificadas em função do corte ou tipo de picadura, (dente). Podem ser de corte simples,
duplo, dente curvo e grosa. As limas de corte simples têm um único conjunto e alinhamento de dentes.
Estes são usados com uma pressão ligeira para obter uma superfície suave e retirar material lentamente.
As limas de corte duplo têm um segundo conjunto de dentes perpendiculares ao primeiro. Podem ser
usadas para se exercer mais pressão do que na anterior para remover metal mais rápido e produz uma
face mais rugosa. As limas com os dentes fresados ou curvos podem ser usadas para limar as superfícies
planas grandes, mas não são muito comuns no campo da mecânica. A lima grosa também não é muito
comum na maquinagem porque foi concebida para remover material com muita rapidez em materiais
suaves como a madeira ou plástico. A Figura 1.61 mostra exemplos de limas com estas classificações.

Figura 1.61 – Da esquerda para a direita: grosa, fresados com dente curvo, de corte duplo e de corte simples.

As limas também são classificadas de acordo com a rugosidade dos dentes. Assim, desde a mais rugosa à
mais suave podem ser do tipo grosa, bastarda, bastardinha ou murça. As limas murças são utilizadas para
produzir as superfícies com o acabamento fino. As limas rugosas são utilizadas para retirar material mais
rapidamente deixando as superfícies com um acabamento grosseiro, (Figura 1.62a e b).

(a) (b)
Figura 1.62 – Tipos de limas: (a) Lima murça. (b) Lima bastarda.

A rugosidade da lima está relacionada com o comprimento da lima. As limas maiores serão tipicamente
mais rugosas do que as limas mais pequenas para a mesma classificação de rugosidade. Por exemplo, uma
lima com 12" e com fileira dupla de dentes será mais áspera do que uma de 8" com fileira dupla de dentes.

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Algumas limas têm uma aresta lateral sem dentes que é chamada de aresta de segurança. Esta previne
que se lime nas superfícies adjacentes como se pode ver na Figura 1.63. Este pormenor é muito relevante
quando se escolhe a lima para o serviço em causa pois previne que se retire material em zonas acabadas.

Figura 1.63 – Uma aresta lateral lisa evita o corte em superfícies adjacentes quando se está a limar.

Existem limas em muitas formas, tamanhos e estilos que não têm classificações standard. As limas-agulha
são muito pequenas e podem ser usadas para limar em zonas de difícil acesso, ter secção variável, e outras
características para chegar a zonas pequenas. A Figura 1.64 contém alguns exemplos destas ferramentas.

Figura 1.64 – Fabricantes de moldes ou de joalheria utilizam limas com geometrias especiais para tarefas de limagem específicas.

Para uma descrição mais detalhada deste tipo de limas aconselha-se a realização de uma pesquisa.

ATENÇÃO!

Utiliza sempre o equipamento com o cabo adequado para evitar o aparecimento de lesões por choque
com o espigão. Não utilizar a lima para remexer nem para martelar porque estas ferramentas são muito
duras e podem partir com facilidade.

Ao escolher limas, as maiores, mais rugosas e de corte duplo são usadas para remover material de forma
mais rápida, enquanto as limas pequenas, finas e de corte simples são usadas para criar superfícies suaves.
Com prática e experiência, será mais fácil perceber qual é a lima adequada para cada situação.

Antes de limar, deve-se segurar a peça a uma altura e posição confortável utilizando grampos ou o torno
de bancada. Manter a superfície a limar próxima das garras da prensa para evitar vibrações e ruído, mas
não em demasia para não limar as garras. Sempre que possível, colocar a superfície na horizontal, uma
vez que possibilita um movimento mais natural para o corpo.

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Quando se utilizar uma lima, segura-a com firmeza pelo cabo com uma mão e aperta a ponta com a outra
mão para dar estabilidade. Usa sempre uma lima equipada com um cabo para evitar lesões com o espigão.
Há cabos de enroscar no espigão, enquanto outros são pressionados contra a haste. Para montar a lima
num cabo sem rosca, posiciona-se o espigão no cabo e bate-se no extremo do cabo contra uma mesa de
trabalho. Segurar pelo cabo e não pela lima para evitar cortes. A Figura 1.65 mostra o método adequado
para montar uma lima num cabo sem rosca.

(a) (b)
Figura 1.65 – Cabos e limas. (a) Zona de encaixe. (b) Ajuste da lima no cabo com aperto.

Quando se está a limar deve-se manter os pés afastados ao comprimento dos ombros, e manter os pés
firmes. As limas de corte simples cortam apenas num sentido, quando se movem para a frente, por isso
usar a pressão adequada apenas nesse movimento. No recuo, deve-se aliviar a pressão para poupar a lima
ao desgaste nos dentes. O uso de pressão a mais ou a menos durante o processo, desgasta a ferramenta
prematuramente. Por vezes, há quem esfregue giz nos dentes da lima para evitar que o material se aloje
no interstício entre os mesmos. As limas de corte duplo têm uma picadura com a direção dos dentes
alternados, de modo que permite cortar nos dois sentidos. Assim, quando se utilizam estas limas, deve-
se exercer pressão tanto no movimento de avanço como no de recuo para maximizar a eficácia do corte.

A limagem para desbaste, consiste em deslocar a lima desde a ponta até ao fim da haste ao longo da
superfície na direcção perpendicular às arestas que definem a face, (Figura 1.66a). Este movimento direto
ou frontal permite ter os dentes todos em ação ao longo do comprimento da lima. Para concluir uma peça
nas suas dimensões finais e obter a superfície menos rugosa, deve-se usar uma técnica de limagem para
acabamento. Esta, consiste em mover a lima na direção paralela às arestas que definem a face, (ver Figura
1.66b). Em ambos os casos, deve-se segurar a lima com as duas mãos, uma colocada no cabo e outra na
ponta, e deslocá-la na direção que se pretende aplicando pressão quando se move a lima na direção dos
dentes. De recordar que quando se usa uma lima de corte simples, a lima só corta numa direção e as limas
de corte duplo cortam nas duas direções.

Com o cabo da lima na mão direita, uma lima de corte simples corta quando se desloca para a frente. Com
o cabo na mão esquerda, uma lima de corte simples corta quando recua, (ver a orientação dos dentes).
Quando se faz limagem de lado com uma lima de corte duplo, a lima corta nas duas direcções por causa
dos dois conjuntos de dentes que estão de frente em direcções opostas. Na limagem para acabamento,

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deve-se usar menos pressão para remover material mais devagar, resultando numa superfície com menor
rugosidade. Na limagem para desbaste exerce-se mais pressão para retirar material rapidamente.

(a) (b)
Figura 1.66 – Métodos para limagem. (a) Limagem para desbaste. (b) Limagem para acabamento.

À medida que se usam as limas, os espaços entre os dentes ficam preenchidos com o material que se está
a remover, criando um efeito de sobrecarga. Por vezes, em particular nos metais mais suaves como ferros
macios e alumínio, as partículas do metal removido podem embutir-se ou cravarem-se nos dentes. Este
efeito chama-se embutimento. A sobrecarga e o embutimento têm tendência a ocorrer mais se for usada
demasiada pressão, (Figura 1.67a). Por causa destas situações, deve-se limpar a lima com frequência para
evitar que estas aparas risquem a peça em trabalho e estraguem o acabamento. Se forem visíveis alguns
riscos, é sinal de que a lima precisa de ser limpa, (Figura 1.67b).

(a) (b)
Figura 1.67 – Embutimento. (a) Lima com picadura danificada. (b) Peça riscada por falta de limpeza nas limas.

As escovas são utilizadas para limpar os dentes das limas e podem ter pêlos curtos ou longos, macios ou
metálicos, (ver a Figura 1.68a). Para remover o material, deve-se usar a escova e deslizá-la entre os dentes
da lima empurrando os restos para fora da ferramenta. Deslocar a escova na direção paralela ao ângulo
dos dentes da lima, como se vê na Figura 1.68b. Depois do uso, as limas devem ser limpas e armazenadas
de modo a não estarem em contato com ferramentas que as possam amolgar ou deformar os dentes.

ATENÇÃO!

Não se deve limpar a lima com as mãos nem bater contra a bancada de trabalho ou outra superfície.

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Apesar de ser um trabalho simples, infelizmente acaba muitas vezes menosprezado. É por isso importante
recordar que o trabalho desenvolvido nesta fase está relacionado com o acabamento, o que significa que
se pode arruinar horas de esforço por causa do desleixo na limpeza das ferramentas.

(a) (b)
Figura 1.68 – Limpeza das limas. (a) Escovas de pêlos suaves e duros. (b) Método para limpar as limas.

Cada situação de limagem tem caraterísticas únicas, mas aqui ficam algumas linhas orientadoras para
considerar durante o processo.

▪ Começar com limas mais grossas, (bastardas), e alterar para as mais finas, (murças), à medida que a
peça se aproxima da medida final.
▪ À medida que se lima a peça e esta se aproxima da medida final, deve-se verificar as dimensões com
mais frequência.
▪ Quando se lima na direcção de uma linha de traçagem, começar por verificar as dimensões antes de
chegar a essa mesma linha.
▪ Quando se lima uma superfície perpendicular a uma outra, deve-se usar a lima quadrada para manter
a perpendicularidade. Se não se pretender limar na face que está em contato com a aresta, deve-se
ter o cuidado de escolher a orientação da lima de modo a ter uma aresta lisa.
▪ Pode-se pintar uma superfície com tinta de traçagem e percorrer a face com um relógio comparador.
Os pontos em que a ponta toca na tinta, são pontos mais altos na peça e devem ser limados.
▪ À medida que a peça se aproxima das dimensões finais, pode-se gastar tanto tempo a verificar como
a limar.
▪ Assegurar que são removidas as rebarbas das arestas da peça antes de medir, tanto por questões de
segurança como pela qualidade nas medidas.

A limpeza de rebarbas consiste em tirar as arestas vivas das peças que resultam da operação de corte. A
rebarbagem trata-se de um processo importante no campo da mecânica porque pequenas rebarbas ou
arestas “levantadas” ou repuxadas, podem impedir que o trabalho seja medido com precisão, ou fique
bem preso para efeitos de operações de maquinagem manual. As rebarbas podem ainda provocar cortes
com alguma gravidade ao manusear as peças com as mãos. A lima é a ferramenta mais usada para eliminar
as rebarbas ao ser deslocada ao longo da aresta da peça, numa direção perpendicular ou com uma ligeira
inclinação. Este efeito permite cortar a rebarba em vez de a empurrar e puxar.

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ATENÇÃO!

As rebarbas podem provocar cortes profundos quando se manuseiam peças sem proteções nas mãos.

A Figura 1.69 mostra uma fotografia de uma peça cortada numa serra mecânica, onde se pode ver a aresta
do lado esquerdo com relevo de material.

Figura 1.69 – As limas podem ser utilizadas para remover as rebarbas das peças como a que se pode ver na aresta esquerda.

Para aplicar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios seguintes.

EXERCÍCIOS 1.7

Q1 – Identifica os principais critérios a considerar na escolha de uma lima para uma dada tarefa.

Q2– Quais são as seções de limas mais comuns? Identifica-as na Figura 1.70.

(a) (b)
Figura 1.70 – Exemplos de limas.

Q3 – Como se pode classificar a rugosidade das limas? O que as diferencia?

Q4 – Descreve resumidamente como se deve proceder na limagem para desbaste e acabamento.

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Q5 – Explica em que consiste a limpeza das limas e qual é o procedimento adequado.

Q6 – Qual a relação entre o controlo e verificação das dimensões e a limagem?

Q7 – Explica em que consiste a limpeza de rebarbas e como se executa.

Pratica o processo de limagem executando a Atividade 1.2 descrita em baixo.

ATIVIDADE 1.2

Q1 – Considera o bloco da atividade anterior e efetua limagem de desbaste e acabamento nas faces.

Q2 – Executa o processo de limagem para retirar a capa protetora numa das bases do paralelepípedo.

Q3 – Utiliza um relógio comparador e outros equipamentos para verificar a geometria da peça obtida.
Observa a Figura 1.71 para ver o procedimento.

Figura 1.71 – Método de verificação da planeza de uma superfície com um relógio comparador.

Q4 – Efetua um trabalho estatístico com colegas e determina: média, moda, mediana e desvio padrão.

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1.8 RASPADORES, LIXAS E DISCOS DE POLIR

As operações de corte produzem estrias nas superfícies das peças mesmo quando aparentemente elas
estão perfeitamente lisas. Qualquer processo de corte tem como resultado mais ou menos a mesma coisa:
arestas, rebarbas, cantos “vivos” que, se não forem retirados, poderão gerar acidentes, prejudicar o
alinhamento, o assentamento, o esquadrejamento da peça quando for necessário, fazer a traçagem e/ou
a maquinagem posterior.

Para diminuir os defeitos resultantes da ação da ferramenta de corte, emprega-se a raspagem. Trata-se
de um processo manual de acabamento realizado com o auxílio de uma ferramenta chamada de raspador
(Figura 1.72a). embora possa ser executado também com as limas, (especialmente no corte de rebarbas).

(a) (b)
Figura 1.72 – Raspagem e polimento. (a) Raspador triangular. (b) As lixas estão disponíveis na forma de folha e de fita com
diferentes dimensões, tipos e tamanhos de grão.

Os materiais abrasivos podem ser de origem natural ou sintética e são usados para desgastar a peça, para
produzir uma superfície suave com uma rugosidade média inferior da que se consegue obter na limagem.
Normalmente são usadas para uma quantidade de remoção de material baixa, depois de limar ou na fase
final de maquinagem das peças. Esta etapa é chamada retificação ou polimento consoante a rugosidade
superficial obtida no acabamento das peças.

Por causa da elevada dureza, os materiais abrasivos são úteis para o polimento e para remover rebarbas
em aços endurecidos que são muito difíceis de trabalhar com as limas. O esmeril, óxido de alumínio, e o
carboneto de silício são alguns exemplos de materiais usados como abrasivos. Ao contrário das limas,
estes materiais estão aptos a cortar em qualquer direcção.

Os abrasivos na forma de pano, têm os grãos colados numa das faces do pano flexível. Estão disponíveis
na forma de folha e de fita e ambos têm variantes com grãos de tamanho diferente, (granulometria). A
granulometria refere-se precisamente ao tamanho dos grãos abrasivos. Os números mais baixos, referem-
se a tamanho de grão maiores, logo, mais rugosos. Os números mais altos, referem-se a grãos menores,
mais finos. Os mais rugosos removem o material mais depressa e deixam uma superfície rugosa, enquanto
os mais finos retiram material mais devagar e deixam uma superfície mais suave, (Figura 1.72b).

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A lixagem é um processo que pode ser executado manualmente, mas existem alguns equipamentos que
permitem aplicar os materiais abrasivos num movimento mais regular, nomeadamente, as lixadeiras de
cinto e de disco, (Figura 1.73). Nestes casos, a lixa é posicionada na máquina e colocada em movimento
enquanto o operador desloca a peça sobre a superfície abrasiva. Existem também adaptadores para os
berbequins e rebarbadoras de modo a serem utilizados com lixas de disco, uma vez que o movimento de
rotação é uma caraterística própria destas máquinas. A lixagem manual é um processo mais lento e, por
isso, permite inspeccionar as dimensões com regularidade. A lixagem automática exige concentração do
operador para evitar acidentes, uma vez que normalmente é ele que segura a peça com as mãos em vez
de usar um torno, e a distração ou uma velocidade mais elevada pode remover material a mais.

(a) (b)
Figura 1.73 - Lixadeiras. (a) Lixadeira de cinta horizontal, Optimum MBMS 100. (b) Lixadeira de disco, OPTIrind TS 305.

Realiza a Pesquisa 1.3 para ver o processo de polimento de peças metálicas.

PESQUISA 1.3

Uma das maiores empresas no mundo, fabricante de materiais abrasivos para polimento é a Minnesota
Mining and Manufacturing, mais conhecida por 3M. O link apresentado em baixo acede a um vídeo
oficial da empresa, intitulado "3MTM CubitronTM II Abrasive Belt Line Video", publicado em 29.09.2019.

https://www.youtube.com/watch?v=WShVBQKGqLE

QUESTÃO: A geometria dos grãos é importante para o corte? Os materiais e a composição dos abrasivos
são indicadas para qualquer tipo de material? Explica resumidamente como são feitas as lixas.

SUGESTÃO: Pesquisa sobre a história da marca para ver como a empresa se reinventou no tempo.

As pedras têm grãos abrasivos ligados entre si na forma sólida através de aglomerante. Estão disponíveis
em muitas formas, tamanhos e com diferentes granulometrias também. A Figura 1.74a mostra alguns
exemplos de pedras e pastas com abrasivos. As pastas podem ser colocadas no prato de um equipamento
que lhes confere o movimento de rotação, e, neste caso, o operador segura a peça colocando a face que
pretende polir em contato com a pasta e um disco próprio, (Figura 1.74b).

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(a) (b)
Figura 1.74 – Polimento. (a) Exemplos de pedras abrasivas para desbaste e de ceras. (b) Disco de polir.

A Figura 1.75 regista os níveis de rugosidade média, 𝑅𝑎 , expectáveis para alguns processos de fabrico com
os valores mínimos e máximos. No contexto deste capítulo, importa olhar para os processos de corte com
abrasivos, onde têm especial importância a retificação, (grinding) e o polimento, (polishing).

Figura 1.75 – Gama de intervalos para o nível de rugosidade média obtida no acabamento superficial em função dos processos
que pertencem à classe de Arranque de Apara e Abrasivos.

Deste modo, compreende-se que as especificações introduzidas no desenho para o fabrico de peças são
fundamentais para escolher os processos necessários para alcançar o nível de acabamento pretendido.

Nos processos de corte por arranque de apara com recurso a máquinas-ferrramenta mecânicas, (metal
cutting), o destaque vai para a serragem (sawing), limagem, (shaping), aplainamento, (planing), furação,
(drilling), fresagem, (milling), mandrilagem, (boring), torneamento, (turning), brochagem, (broaching) e
alargamento ou mandrilagem, (reaming). Este tema será desenvolvido em detalhe no módulo UFCD 6615,
quando todos estes processos forem introduzidos.

O processo de retificação, (grinding), também pode ser feito com recurso a uma máquina-ferramenta e
também será discutido no mesmo contexto.

Pratica o processo de lixagem executando a Atividade 1.3 descrita em baixo.

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ATIVIDADE 1.3

Q1 – Efetua o polimento da face limada anteriomente até obter o melhor acabamento possível.

Para aplicar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios seguintes.

EXERCÍCIOS 1.8

Q1 – A raspagem consiste em remover as rebarbas e melhorar o acabamento superficial das peças.


Quais são as ferramentas adequadas para executar este processo?

Q2 – Indica os tipos de materiais mais utilizados para a composição de lixas.

Q3 – Quais são os níveis de rugosidade média que se consegue obter numa peça através do corte com
serra, limagem, lixagem e rebarbagem?

Q4 – Entre a retificação e o polimento, onde se obtém melhor acabamento superficial?

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1.9 SÍNTESE E EXERCÍCIOS DE REVISÃO

O quadro em baixo contém um breve resumo dos conteúdos desenvolvidos ao longo do capítulo.

SÍNTESE

▪ A capacidade para escolher as ferramentas adequadas ao trabalho e executar o procedimento em


segurança é uma característica indispensável para um bom serralheiro mecânico. As escolhas erradas
ou o uso impróprio pode levar ao dano de peças, equipamentos ou provocar lesões, (Cap. 1.1);

▪ O princípio de respeito pela organização, arrumação, estima e limpeza do espaço e das ferramentas
é fundamental para o desenvolvimento do trabalho em segurança, com rigor, atingindo a qualidade
pretendida, com rapidez e baixando os custos de produção, (Cap. 1.1);

▪ Existem vários tipos de chaves adequadas às formas das cabeças de parafusos cilíndricas e cónicas,
que costumam ter ranhuras no interior com especial destaque para as chaves de fendas, phillips, torx
e sextavada. O tamanho escolhido para a execução do trabalho deve permitir que a ponta assente ao
longo de todo o encaixe de forma justa, para exercer força na rotação sem moer o interior da cabeça
do parafuso. Existem algumas variantes para a geometria da haste que facilitam o trabalho em certas
circunstâncias, (Cap. 1.2);

▪ Para os parafusos de cabeça prismática, quadrada ou hexagonal, há chaves de bocas e de luneta que
assentam ao deslizarem pelo exterior e permitem o movimento de rotação que pode ser contínuo se
o espaço permitir. Em alternativa, podem utilizar-se chaves de cachimbo ou de tubos que envolvem
por completo a cabeça do parafuso e por isso têm menos tendência para escorregar. A chave inglesa
tem a extremidade com dimensão ajustável e a chave roquete tem um sistema que permite a troca
da ponta rápida e não precisa de desencaixar constantemente do parafuso para rodar, (Cap. 1.2);

▪ Os elementos roscados com diâmetros muito elevados, não têm cabeças com fendas nem geometrias
prismáticas, mas antes uns furos exteriores, na parede lateral ao longo da periferia da cabeça. Neste
caso, utilizam-se chaves de pinos ou de de gancho para mover o elemento roscado. Este tipo de casos
é comum em máquinas-ferramenta como no torno mecânico horizontal, esmeriladora, …, (Cap. 1.2);

▪ Nos casos em que é preciso controlar a força de aperto entre elementos por questões de integridade
e segurança, utilizam-se chaves dinamométricas que permitem regular o binário aplicado, (Cap. 1.2);

▪ Existem muitos tipos de alicates desenvolvidos com diferentes geometrias para desempenharem as
mais variadas tarefas embora as funções principais sejam agarrar e cortar. Os alicates mais comuns

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são: alicate universal, alicate de pontas, (curvas, planas, redondas), alicate de corte e alicate de freios.
O alicate de pressão permite imobilizar as peças sem ter de estar a exercer força continuamente com
as mãos, constituindo uma alternativa aos grampos. Para aplicação de rebites em processos de união
de peças, existem uns alicates para rebites rápidos, (Cap. 1.3);

▪ Os alicates para trabalhos em eletricidade são diferentes dos utilizados em mecânica porque têm um
revestimento próprio para dar algum isolamento na zona do cabo. Neste campo, existem alicates de
descarnar que são particularmente úteis, (Cap. 1.3).

▪ Os martelos podem classificar-se em martelos duros ou macios. Em mecânica, o martelo duro mais
comum é o de bola e é utilizado para deformar as peças. Os martelos macios de nylon ou de borracha
são úteis para fazer alinhamento e o ajuste de elementos sem deformar. Alguns, têm tendência para
ressaltar no fim da pancada. O martelo de areia ou esferas permite atenuar o ressalto porque estes
elementos absorvem a energia da pancada, (Cap. 1.4);

▪ Os tornos de bancada e os grampos são utilizados para prender peças. Alguns tornos podem rodar
relativamente à mesa e ter zonas próprias para martelagem. Sempre que o acabamento da superfície
for importante deve-se usar mordentes para não deixar marcas. Os grampos exercem uma força de
aperto mais baixa, mas são mais versáteis por não estarem fixos a uma bancada, (Cap. 1.5).

▪ As serras manuais para metais têm uma lâmina com um alinhamento próprio, onde os dentes estão
inclinados para a direita e para a esquerda de modo alternado, (dentado). Por este motivo, o corte
tem a largura maior do que a espessura do corpo da lâmina. Deve haver sempre três dentes em corte,
e a pressão para o corte faz-se no movimento para a frente. Existem lâminas em HSS, bi-metálicas e
aço-carbono que proporcionam caraterísticas e resultados diferentes no corte, (Cap. 1.6);

▪ As limas são classificadas de acordo com o comprimento, a secção, (plana, quadrada, redonda, meia-
cana, triangular, …) e rugosidade ou picadura. Servem para fazer desbaste grosseiro ou fino. As limas
bastardas têm dentes maiores e são utilizadas para remover material de forma rápida. As limas murça
são usadas em corte fino, quando se está próximo das dimensões finais. Ao escolher uma lima deve-
se ter sempre em atenção se as arestas laterais são dentadas, para evitar limar estas faces das peças
inadvertidamente, (Cap. 1.7);

▪ Para desbaste, faz-se limagem numa direção frontal e para obter melhor acabamento, faz-se limagem
numa posição lateral. Deve-se ter atenção aos dentes da lima porque o corte depende de serem limas
de corte simples ou duplo. Com o uso, acumulam material entre os dentes, por isso, devem ser limpas
regularmente com uma escova de aço a passar na direcção dos dentes, (Cap. 1.7);

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▪ As peças provenientes dos processos de corte vêm sempre com estrias nas faces e pedaços de metal
que não foram totalmente cortados, (rebarbas). Para remover as rebarbas e melhorar o acabamento
superficial, pode usar-se os raspadores e as limas, (Cap. 1.7 e 1.8);

▪ Para fazer retificação ou polimento, pode usar-se lixas ou pastas com abrasivos. As lixas são formadas
por grãos abrasivos em óxido de alumínio ou carboneto de silício colados numa folha, cinta ou pedra.
Os grãos variam no tamanho e na geometria, sendo que em geral, quanto menor forem, melhor é o
acabamento resultante. O seu uso para retificação ou lixagem pode ser feito manualmente ou com
equipamentos próprios. Para fazer polimento, (rugosidade na peça de elevado nível), podem usar-se
pastas adiamantadas com discos de polir, (Cap. 1.8);

▪ O nível de rugosidade média obtido numa superfície, depende do processo de fabrico escolhido para
fazer o acabamento da superfície, (Cap. 1.8).

Para consolidar os conhecimentos adquiridos, resolve os exercícios apresentados em baixo.

EXERCÍCIOS DE REVISÃO

1. Indica três regras de segurança a aplicar na utilização de chaves de aperto.


2. Enumera três tipos de pontas de chaves de aperto para parafusos de cabeça cilíndrica ou cónica.
3. Enumera três tipos de chaves de aperto para parafusos de cabeça prismática.
4. Qual é a vantagem de utilizar alicates de pontas?
5. Indica uma vantagem ao utilizar alicates de pressão.
6. Indica duas situações em que se deve utilizar o martelo de bola.
7. Qual é a principal vantagem de utilizar um martelo macio?
8. Em que situação se deve escolher uma chave de luneta em vez de uma chave de bocas?
9. Enumera duas precauções a observar quando se utilizam chaves de bocas ou lunetas.
10. Qual é o procedimento usado para evitar danos nas faces das peças presas em tornos de bancada?
11. Enumera três regras de segurança a respeitar quando se utiliza uma serra manual.
12. Qual é a orientação que os dentes da lâmina de uma serra manual devem ter?
13. Enumera duas regras de segurança a respeitar quando se utilizam limas.
14. Entre a lima de corte simples e a de corte duplo, qual é a que remove material mais rapidamente?
15. Entre a lima de corte simples e a de corte duplo, qual é a que produz um melhor acabamento?
16. Indica dois problemas comuns na limagem que podem ser ultrapassados com a limpeza das limas.
17. Qual é a ferramenta que se usa para limpar uma lima? Descreve o seu procedimento.
18. Quais são os dois tipos de ferramentas com abrasivos que se utilizam em trabalhos de bancada?

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Agora que já foram transmitidos alguns conhecimentos sobre o vasto mundo das ferramentas, crie as suas
próprias experiências em casa desenvolvendo as atividades descritas em seguida.

LABORATÓRIO EM CASA

A proposta para executar em casa é a de construir um painel de ferramentas que sirva de suporte aos
trabalhos de bancada. Desenvolve e executa o projeto, documentando-o de forma adequada para o incluir
no teu portfolio.

Pratica corte com a serra manual em geometrias complexas e trabalha o acabamento superficial de peças
através de limas, lixas e pastas com os discos de polir. Documenta as várias fases do procedimento numa
peça até chegar ao polimento.

Recorre aos conhecimentos adquiridos noutras disciplinas para responder a estas questões.

PARA PENSAR…

A conservação das ferramentas em bom estado é fundamental para a execução de qualquer trabalho com
qualidade. Neste sentido, fica a sugestão para pensar sobre o que é a ferrugem, de que forma se manifesta
e como afeta as ferramentas manuais? Como se deve proceder para a eliminar e quais os procedimentos
adequados para evitar o seu aparecimento? Recorre às aulas da disciplina de Física e Química para tentar
responder a estas questões e experimenta algumas soluções em casa com equipamentos ferrugentos.

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