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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A Psicomotricidade na Escola: Sua Relevância no Processo de Escolarização

Rosiney Aparecida Travaglia Gomes

Nilza Sanches Tessaro Leonardo

RESUMO

O presente artigo é resultado de estudos e trabalhos realizados durante o Programa


de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE, o qual teve por
objetivo contribuir com a formação e instrumentalização dos professores da
Educação Especial e do Ensino Fundamental da rede pública de ensino do Estado
do Paraná. O intuito foi de que estes profissionais pudessem realizar uma reflexão
sobre sua prática pedagógica, aprimorando-a, e com isto pensar em uma educação
contextualizada, planejada, significativa, organizada, que possibilite apropriação dos
conhecimentos científicos. Isto é, uma educação de qualidade que promova
desenvolvimento e a humanização do sujeito. A formação teórico-pedagógica
aconteceu por meio da leitura de textos que contemplaram a temática da
Psicomotricidade e sua relevância para o processo de escolarização, bem como
textos de autores que abordaram sobre a Psicologia Histórico-Cultural, a qual tem
como principal representante Vygotsky, em cuja perspectiva o homem é visto e
compreendido dentro de um contexto sócio-histórico. A formação prático-pedagógica
aconteceu por meio de oficinas que envolveram a confecção de jogos coletivos e
individuais, os quais tiveram como objetivo instrumentalizar os professores de forma
que pudessem desenvolver atividades em sala de aula que promovam o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos alunos. Assim sendo,
concluímos que esta implementação contribuiu para a formação profissional dos
participantes, sobretudo para desmistificar velhas concepções arraigadas na cultura
dos mesmos, mostrando a importância do trabalho da Psicomotricidade voltado para
o pleno desenvolvimento do sujeito numa visão Histórico-Cultural.

PALAVRAS–CHAVE: Psicomotricidade, Escolarização. Humanização.

INTRODUÇÃO

Este trabalho teve a pretensão de aprofundar os estudos sobre a relevância


da Psicomotricidade no processo de escolarização, e sobre a Psicologia Histórico-
Cultural. Isto nos permitiu compreender a importância de um trabalho voltado à
Psicomotricidade que contemplasse o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores por meio de jogos. Também teve por finalidade contribuir com a formação
continuada e com a prática profissional de professores, fornecendo subsídios que
possibilitassem conhecimentos sobre o processo de aprendizagem e
desenvolvimento humano, tendo como foco principal um ensino de qualidade na
escola pública.
Sob a orientação da Professora Drª Nilza Sanches Tessaro Leonardo – UEM
o trabalho foi iniciado com a leitura de vários autores tais como: Le Bouch (1986),
Oliveira (1997), Negrine (2001), Alves (2008), Fonseca (2004 e 2010), Vygotsky
(2010), Wallon (2010), entre outros.
Os cursos de formação geral e específica oferecidos pela Universidade
Estadual de Maringá – UEM, durante o ano de 2013, as leituras já citadas, a
capacitação para professores-tutores oferecida pela SEED, por meio dos CTRES e
dos Núcleos Regionais e as orientações da Professora Orientadora, forneceram
subsídios para a elaboração do Projeto de Implementação Pedagógica na Escola.
Também forneceram subsídios para a orientação da coordenação do Grupo
de Trabalho em Rede (GTR), como na elaboração do material didático e a
Implementação Pedagógica na Escola Professora Lídia Cetuco Kosudi – Educação
Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade de Educação Especial do município
de Astorga, por intermédio de Curso de Extensão oferecido pela UEM.
O GTR – Grupo de Trabalho em Rede se constituiu em uma das etapas de
formação continuada para professores, sendo apresentado a um grupo de 17
(dezessete) professores da rede estadual de ensino do Estado do Paraná, de
diversas localidades, os quais tiveram a oportunidade de analisar, discutir e
contribuir com sugestões sobre o Projeto e o Material Didático elaborado para a
Implementação Pedagógica na Escola.
A outra etapa consistiu na docência de um curso de formação continuada
para professores que atuam na Educação Especial e no Ensino Fundamental no
município de Astorga, que contou com a participação de 14 (quatorze) profissionais
da educação. Este curso teve como enfoque principal a conscientização dos
professores sobre a relevância da Psicomotricidade no processo de escolarização
sob o olhar da Psicologia Histórico-Cultural. Buscou-se, com este trabalho, realizar
junto aos professores grupos de estudos, utilizando textos que abordavam a teoria
Histórico-Cultural, como também autores que tratavam sobre a Psicomotricidade, os
quais fizeram com que os participantes pensassem, refletissem sobre sua práxis
profissional.
Paralelamente ao aprofundamento teórico, foram realizadas oficinas com o
intuito de instrumentalizar a práxis pedagógica dos professores cursistas, por meio
de atividades práticas envolvendo a confecção de jogos pedagógicos, individuais e
coletivos, propiciando condições aos professores para que, em sala de aula,
desenvolvam atividades com os alunos que promovam o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores tais como: atenção, concentração, memória,
raciocínio entre outras. O aprofundamento teórico unido às atividades práticas
proporcionaram aos professores momentos de reflexão e um repensar sobre o papel
do educador no processo de ensino-aprendizagem e da importância da
Psicomotricidade em toda a trajetória de escolarização do sujeito.

1 A aprendizagem e desenvolvimento humano na perspectiva da Psicologia


Histórico-Cultural
Vygotsky (2010, p.94) afirma que: “o aprendizado da criança começa muito
antes de elas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual
a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia”.
Considerando a linha de pensamento de Vygotsky, Palangana (2002, p.163)
diz que: “O papel do social no processo de construção do conhecimento é
extremamente relevante: sua contribuição na constituição das funções superiores do
pensamento é tão profunda e significativa quanto a que se atribui ao sujeito”.
Nesta perspectiva, Wallon (2010, p.35) por meio de suas pesquisas afirma
que:

Em cada idade da criança o meio que a cerca não pode ser o mesmo, uma
vez que este é constituído de agentes motivadores e transformadores que
favorecem as interações da criança, contribuindo para que esta obtenha a
satisfação de suas necessidades.

Assim como Wallon (2010), Vygotsky (2010) atribui à interação social, um


papel importante no desenvolvimento humano, uma vez que este é socialmente
construído. É no meio social que interações significativas devem acontecer,
contribuindo para que o processo de aprendizagem e desenvolvimento ocorra de
forma satisfatória. De acordo com Vygotsky, citado por Rego (2010, p.58),

O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sociocultural


em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica e dialética
através de rupturas e desequilíbrio provocadores de contínuas
reorganizações por parte do indivíduo.
Nessa esteira, Vygotsky (2010) enfoca que o ensino não pode ser definido
apenas sob o prisma do que a criança é capaz de realizar sozinha. Contrapondo-se
à visão maturacionista, enfoca em seus estudos o “nível de desenvolvimento real” e
“o nível de desenvolvimento proximal”. O primeiro diz respeito às conquistas já
efetivadas pela criança, consiste na solução independente dos problemas, engloba
as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas. O nível de
desenvolvimento real caracteriza o nível de desenvolvimento mental
retrospectivamente. O segundo, isto é, o nível de desenvolvimento proximal,
compreende o conjunto de atividades que a criança, com a ajuda de alguém mais
experiente que lhe dê orientações adequadas, consegue resolver. Para Vygotsky
(2010), esse nível de desenvolvimento mental é muito mais indicativo para o
professor no processo de escolarização. A zona de desenvolvimento proximal
caracteriza, também, o desenvolvimento mental prospectivamente. Como salienta
Vygotsky (2010, p.98):

Esta zona permite delinear o futuro imediato da criança e seu estado


dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já
foi atingido através do desenvolvimento, como também, àquilo que está em
processo de maturação. Sendo assim, a zona de desenvolvimento proximal
de hoje, será a zona de desenvolvimento real amanhã.

Sobre este aspecto, Palangana (2002, p.153) ressalta que:

As considerações em torno do conceito de zona de desenvolvimento


proximal reafirmam o princípio vygotskyano de que as interações sociais em
geral e, em especial, o ensino sistemático constituem o principal meio
através do qual o desenvolvimento avança.

Vygotsky (2010) mostra que o processo de desenvolvimento progride de


forma mais lenta e atrás do processo de aprendizagem é que o aprendizado é um
aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções
psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas, por isso o
desenvolvimento mental resulta de um aprendizado adequadamente organizado.
Como ressalta Vygotsky (2010, p.102), “o bom aprendizado é aquele que se adianta
ao desenvolvimento”.
Sobre isto Vygotsky afirma:
Embora o aprendizado esteja diretamente relacionado ao curso do
desenvolvimento da criança, os dois nunca são realizados em igual medida
ou em paralelo. O desenvolvimento nas crianças nunca acompanha o
aprendizado escolar da mesma maneira como uma sombra acompanha o
objeto que o projeta. Na realidade, existem relações dinâmicas altamente
complexas entre os processos de desenvolvimento e de aprendizado, as
quais não podem ser englobadas por uma formulação hipotética imutável.
Cada assunto tratado na escola tem sua própria relação específica com o
curso do desenvolvimento da criança, relação essa que varia à medida que
a criança vai de um estágio para outro (VYGOTSKY, 2010, p.104).

Nesta análise de educação, numa perspectiva Histórico-Cultural, Rego (2010,


p.102) afirma que:
A obra de Vygotsky pode significar uma grande contribuição para a área da
educação, na medida em que traz importantes reflexões sobre o processo
de formação das características psicológicas tipicamente humanas e, como
consequência, suscita questionamentos, aponta diretrizes e instiga a
formulação de alternativas no plano pedagógico.

Esta autora expõe, ainda, que:

A presença na escola não é garantia de que o indivíduo se apropria do


acervo de conhecimentos sobre áreas básicas daquilo que foi elaborado por
seu grupo cultural. O acesso a esse saber dependerá, entre outros fatores
de ordem social e política e econômica, da qualidade do ensino oferecido
(Rego, 2010, p.105).

Mediante isto, Rego (2010, p108) assevera:

A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que, partindo


daquilo que a criança já sabe, ela for capaz de ampliar e desafiar a
construção de novos conhecimentos, na linguagem vigotskyana, incidir na
zona de desenvolvimento proximal dos educandos. Desta forma poderá
estimular processos internos que acabarão por se efetivar, passando a
constituir a base que possibilitará novas aprendizagens.

Quando falamos sobre aprendizagem e desenvolvimento no processo de


ensino-aprendizagem, numa abordagem histórico-cultural, é porque acreditamos que
o poder da educação está na transformação, na mudança e no processo de
humanização das pessoas.
Por acreditar na importância do processo de humanização é que se torna
salutar abordar a pertinência da Psicomotricidade na educação à luz da teoria
Histórico-Cultural.

2 A Psicomotricidade e a Educação Escolar


De acordo com Jobim (2008), foi a partir do discurso médico que o tema
psicomotricidade surgiu. Por necessidade de compreensão das estruturas cerebrais
e também para a classificação de fatores patológicos foi que, no século XIX, o corpo
começou a ser estudado, primeiro por neurologistas e posteriormente por
psiquiatras. Em 1870, nomeia-se pela primeira vez a palavra Psicomotricidade, isto
devido à necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos
clínicos.
Segundo Lussac (2008), Henry Wallon, em 1925, foi considerado o grande
pioneiro da psicomotricidade, isto porque Wallon ocupou-se do movimento humano
dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo.
Wallon relacionou o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos
do indivíduo. Para ele, o desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da
oposição e substituição de atividades que precedem umas às outras.
Lussac (2008) cita que entre os anos de 1909 a 1947 aproximadamente,
importantes pesquisadores franceses, tais como Dupré, André Thomas e Saint-Anné
Dargassie, Edouard Guilmain, Julian de Ajuriaguerra, através de seus estudos
contribuíram para o surgimento da Psicomotricidade. Os franceses se
conscientizaram sobre a importância do gesto e pesquisaram profundamente os
temas corporais, iniciaram suas respostas sobre o tônus axial. As maturações, os
reflexos tônicos arcaicos do nascimento e dos primeiros anos de vida, produziram as
primeiras palavras-chave da Psicomotricidade.
Segundo Lussac (2008), estes grupos de pesquisadores franceses, durante
as primeiras décadas do século XX, época da primeira guerra mundial, organizaram-
se em grupos de trabalho, pois era preciso responder às aspirações e necessidades
da sociedade industrial que levava as mulheres ao trabalho formal, deixando as
crianças em creches.
Desta maneira, percebe-se que os estudiosos franceses, no campo da
Psiquiatria e da Psicologia Infantil, tiveram uma importante contribuição na história
da Psicomotricidade em todo o mundo.
De acordo com Jobim (2008), na década de 1970, a Psicomotricidade foi
definida como motricidade de relação. A Psicomotricidade ocupa-se do corpo como
sujeito, dando assim, progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e
ao emocional. À vista disso, o conceito de Psicomotricidade ganhou uma expressão
significativa, uma vez que traduz a solidariedade profunda e original entre atividade
psíquica e a atividade motora. Alves (2011, p.13) complementa afirmando que:

A Psicomotricidade é o corpo, a ação e a emoção. A Psicomotricidade não


deseja ser exclusiva nem pretende solucionar todos os problemas surgidos
e os que podem surgir. Ela necessita da evolução cognitiva, do intelecto, da
expressão e do motor para que possa contribuir na educação do indivíduo
de um modo geral.

Para Boulch (1986, p.25),

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de


base. Ela condiciona todos os aprendizados escolares, levando o sujeito a
tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, situar-se no espaço, a
dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos. A
educação psicomotora deve ser praticada. A educação psicomotora deve
ser considerada como uma educação de desde a mais tenra idade,
conduzida com perseverança permite prevenir inadaptações, difíceis de
corrigir quando já estruturadas.

Refletindo sobre o que acima foi exposto, faz-se necessário que todo o
processo de ensino-aprendizagem seja adequadamente organizado. Um dos mais
importantes mediadores nesta inter-relação é o professor, por isso este deve estar
sempre atento e consciente de sua responsabilidade como educador. Dentre as
inúmeras responsabilidades que lhe competem, uma das mais importantes está
relacionada a despender esforços e energia para ajudar a aumentar e melhorar o
potencial motor, cognitivo e afetivo do aluno.
Sendo assim, é preciso insistir no fato de que Psicomotricidade é um fator
essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança, servindo
de âncora para toda e qualquer aprendizagem.
A Associação Brasileira de Psicomotricidade, no código de ética do
psicomotricista no seu art. 1º diz que:

Art. 1º - A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo, o estudo


do homem através do seu corpo em movimento, em relação ao seu mundo
interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir
com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado
para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua
individualidade e sua socialização. (ABP, 2005).
O meio que circunda o universo da criança precisa, consequentemente, ser
estimulante, para que a mesma possa constantemente colocar em movimento seu
corpo e sua mente, explorando suas próprias capacidades.
Mendonça (2011, p.20), nesta perspectiva aduz:

A Psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o indivíduo com toda sua


história de vida: social, política e econômica. Essa história se retrata no seu
corpo. Trabalha também o afeto e o desafeto do corpo, desenvolve o seu
aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar
sua energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, de
aperfeiçoar o seu equilíbrio. Psicomotricidade é o corpo em movimento
considerando o ser em sua totalidade. Engloba várias outras áreas
educacionais, pedagógicas e da saúde, por ter o homem como objeto de
estudo. O desenvolvimento é crescente tanto no aspecto físico quanto no
intelectual e afetivo, e tudo depende de influências comuns. As diferenças
de ambiente familiar e meio social em que vivem vão definir seu
desenvolvimento.

Oliveira (2005, p.9) acredita que:

A Psicomotricidade auxilia e capacita melhor o aluno para uma melhor


assimilação das aprendizagens escolares, por isso procura trazer os seus
recursos para dentro da sala de aula, tanto no âmbito da educação quanto
da reeducação psicomotora. Um bom desenvolvimento psicomotor
proporciona ao aluno algumas capacidades básicas a um bom desempenho
escolar, dando-lhe recursos para que se saia bem na escola, aumentando
seu potencial motor. A psicomotricidade, pois, se caracteriza por uma
educação que se utiliza do movimento para atingir outras aquisições mais
elaboradas, como as intelectuais.

Dentro deste contexto Rocha (2011, p.58) afirma que:

A Psicomotricidade pode se utilizar de jogos, dinâmicos, atividades livres


e/ou direcionadas para trabalhar as áreas psicomotoras que são: Equilíbrio,
Coordenação Motora Global ou ampla, Coordenação Motora Fina, Esquema
Corporal, Lateralidade, Estrutura Espacial, Estrutura Temporal, Ritmo,
Percepção, Atenção, Concentração, Memória (tais nomenclaturas vão variar
de acordo com o teórico estudado.

Sendo assim, acredita-se que o educador, para tornar a aprendizagem mais


eficaz, deva levar para a sala de aula atividades lúdicas, que estimulem o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores e assim possa proporcionar
momentos de apropriação mais agradáveis.
Para Machado e Nunes (2011, p.20), o mundo lúdico é um mundo em que a
criança está em constante exercício. É o mundo da fantasia, da imaginação, do faz
de conta, do jogo e da brincadeira. Podemos dizer que o lúdico é um grande
laboratório que merece toda atenção de pais e educadores de uma forma geral, pois
é por meio dele que ocorrem experiências inteligentes e reflexivas, praticadas com
emoção, prazer e seriedade. Sobre isto, Kyrillos e Sanches (2011, p. 159) expõem
que:

A partir do potencial lúdico, por meio de brincadeiras e jogos, a criança vai


estruturando e construindo seu mundo interior e exterior que, apesar de se
manterem individualizados, deverão estar sempre inter-relacionados na
busca de maior e mais harmônica e interação com o ambiente.

Dentro deste enfoque Machado e Nunes (2011, p.23) ressaltam que “na
atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade e o que dela
resulta, mas também a própria ação, o momento vivido”. Negrine (2001, p. 28 e 29)
complementa expondo que “a atividade lúdica serve de mediação entre o mundo
relacional e o mundo simbólico, mundos nos quais se inserem todo o
comportamento humano”.
Para Negrine (2001, p.32), “o comportamento lúdico não é herdado e sim
adquirido por meio de aprendizagem. Essa aprendizagem não acontece só na
escola, mas também em todos os ambientes que possam gerar mediações
pedagógicas”.
Em contrapartida ao pensamento de Negrine, Kyrillos e Sanches (2011,
p.158) afirmam que:

A escola é uma instituição social onde a criança passa a maior parte do seu
dia e, portanto, deve ser ela a proporcionar para seus alunos a integração
de todo conhecimento que eles receberem em nível: corporal, mental,
emocional e social, trabalhando o aluno como um ser multidimensional,
onde a sua motricidade interage de forma complexa com as capacidades
cognitivas, sociais e afetivas.

Pode-se perceber, desta maneira, que dentro deste contexto atividades


lúdicas podem proporcionar a integração entre a motricidade do indivíduo e suas
capacidades cognitivas, sociais e afetivas.
Dando continuidade a estas reflexões, Finck (2007, p.110) afirma que “o
lúdico tem grande valor educativo e pode ser utilizado como um dos recursos
didáticos no processo de ensino aprendizagem, contribuindo com o desenvolvimento
de atividades didático-pedagógicas”.
Em seus estudos sobre a importância da ludicidade na educação, Finck
(2007, p.112) ressalta que:

(...) a ludicidade possibilita a organização dos diferentes conhecimentos


numa abordagem metodológica com a utilização de estratégias
desafiadoras. Assim o aluno se sente mais motivado para aprender, pois
tem mais prazer em descobrir e o aprendizado é permeado por um desafio
constante.

Essa autora reforça ainda:

A prática pedagógica com um caráter lúdico possibilita também ao professor


organizar as atividades pedagógicas com os alunos de maneira a permitir-
lhes vivenciar as situações de ensino-aprendizagem com seus pares,
elaborando seus conhecimentos, conquistas e dificuldades (FINCK, 2007, p.
112).

Diante das reflexões feitas, constata-se que a ludicidade é um importante


aspecto da psicomotricidade no processo de escolarização, uma vez que o ato de
brincar também deve ser considerado como educativo, dependendo para isto da
visão e mediação do adulto que neste caso específico é o educador.
Percebe-se assim que a Psicomotricidade, aliada ao lúdico, prioriza um
trabalho harmonioso entre corpo e mente, visando com isto ao desenvolvimento e
aprendizagem do indivíduo de forma global, considerando o meio e o papel do
adulto ou de outra pessoa mais experiente como a principal fonte de mediação.
Segundo Oliveira (2005, p.30), o “indivíduo não é feito de uma só vez, mas se
constrói paulatinamente, através das interações como meio e de suas próprias
realizações e, a Psicomotricidade desempenha aí um papel fundamental”.
O trabalho da Psicomotricidade voltado para o pleno desenvolvimento do
indivíduo deve pautar-se na visão de que o homem não nasce humano: ele
humaniza-se ao longo da história, por meio das suas relações com o meio social.

3 Implementação Pedagógica na Escola

Foi desenvolvido um curso de formação continuada de 32 (trinta e duas)


horas, distribuídas em 8 (oito) encontros, certificados pela Universidade Estadual de
Maringá – UEM. Contamos com a participação de 14 (quatorze) professores que
atuam no Ensino Especial e no Ensino Fundamental.
No Primeiro Encontro os professores foram recebidos com um café da
manhã. Durante este café foi vivenciada uma dinâmica de integração com o objetivo
de proporcionar situações de empatia, resiliência e familiarização entre os
participantes. Em seguida, foram apresentados aos professores inscritos, de
maneira resumida, os objetivos do estudo e trabalho nas Bases teóricas e filosóficas
da Psicologia Histórico-Cultural, destacando Lev Vygotsky, suas principais ideias:
zona de desenvolvimento real, zona de desenvolvimento proximal, aprendizagem
mediada e também aspectos importantes da psicomotricidade para o processo de
escolarização. Fez-se importante esta apresentação para que os objetivos propostos
fossem atingidos, uma vez que foi disponibilizado aos professores, no site
http://www.ppi.uem.br/Dissert/PPI-UEM_2009_CrisBray.pdf, parte da dissertação de
Cristiane Toller Bray – Queixas Escolares na Perspectiva de Educadores das
Redes Públicas e Privadas: Contribuição da Psicologia Histórico-Cultural (p. 48
a 56); para que estes fizessem a leitura antecipada, análise e síntese escrita do
conteúdo lido.
Para encerrar este primeiro dia foi aberto espaço para discussões e debates
sobre o texto de Cristiane Toller Bray.
No início da manhã do 2º dia, foi aberto o trabalho com os participantes, em
forma de debate e discussão, o texto de Francieli Santos Rossi – Considerações
sobre a Psicomotricidade na Educação Infantil, sendo o mesmo pesquisado no
site www.ufvjm.br/.../Considerações-sobre-a-Psicomotricidade-na-Educa... (p.7 a
10), material este enviado anteriormente aos professores via e-mail, para leitura
antecipada e síntese.
Logo após a exploração do texto, foi servido um lanche aos participantes e na
sequência iniciou-se a oficina de confecção de jogos pedagógicos, cujo enfoque foi o
jogo de bingo e o jogo de memória.
Para a realização desta oficina os professores foram agrupados em equipes
de 4 participantes, cada equipe confeccionou um jogo de bingo e um jogo de
memória, sendo que cada jogo foi relacionado a um conteúdo acadêmico
envolvendo uma disciplina ou para a alfabetização.
Foi disponibilizado aos integrantes das equipes materiais para a confecção
dos jogos tais como: canetas, lápis e cola colorida, cartolinas, folhas de EVA, cola,
tesoura, lápis, borracha, régua, cola quente, revistas para recorte, sulfite entre
outros. Os professores elaboraram um plano de aula, utilizando os jogos
confeccionados. Este plano foi aplicado em sala de aula.
Ao término da confecção, as equipes apresentaram os jogos para todo o
grupo. Os jogos confeccionados foram guardados em uma caixa de materiais
lúdicos. Encerrando as apresentações, foram apresentados outros jogos, tais como:
jogo da forca, Torre de Hanói, jogos de dominó, pega varetas, resta um, banco
imobiliário, quebra-cabeça, Tagran, blocos lógicos e outros. Enfatizou-se neste
momento que a maioria dos jogos pode ser adaptado para os objetivos que o
professor deseja alcançar; com esta demonstração finalizou-se este segundo dia.
Um café da manhã deu início ao 3º encontro com os professores. Em seguida
foi aberto espaço para que os professores compartilhassem suas experiências com
relação à aplicabilidade, em sala de aula, do plano de aula elaborado no encontro
anterior. Logo após iniciaram-se as reflexões por meio de debates e discussões
sobre parte da monografia de Micheline de Lima Tavares - A Psicomotricidade no
Processo de Aprendizagem, a qual foi pesquisada e disponibilizada aos
participantes para leitura antecipada, análise e síntese escrita no site
http://www.avm.edu.br/monopdf/7/Michelline%20De%20Lima%20Tavares.pdf (p.18
a 25).
Na sequência foi solicitado aos professores participantes que se
organizassem em duplas. Foi entregue a cada dupla cópia de duas figuras
aparentemente iguais para que pudessem organizar o jogo dos erros. As duplas
fixaram as figuras em uma base mais firme como cartolina, papel cartão, EVA, e
optaram por marcadores tais como feijão, botões, arroz, bolinha de papel, lantejoula
entre outros. Com isto, as fichas confeccionadas do jogo dos erros podem ser
utilizadas mais vezes, por outros alunos. Foi lembrado aos participantes que até
mesmo este jogo pode ser adaptado, dependendo do objetivo que se queira
alcançar.
Dando continuidade às atividades propostas para este dia, cada dupla de
professores, recebeu a cópia de uma história em sequência. As duplas pintaram as
partes da história e fixaram-nas em uma base mais firme. Para concluir esta
atividade cada dupla escreveu uma pequena história correspondente às partes em
sequência e apresentou ao grande grupo.
Foram disponibilizadas aos participantes, várias revistas de passatempo, para
que observassem a variedade de jogos que podem ser utilizados em sala de aula
com os alunos tais como: caça-palavras, palavra cruzada, labirinto, pinta-pontos,
sudoku, torto, entre outros. Mais uma vez foi lembrado que, usando de criatividade,
o professor pode adaptar qualquer destas atividades a conteúdos de sua disciplina.
Mediante isto, foi solicitado para que organizassem um plano de aula em grupo,
utilizando-se de um destes jogos ou dos que foram confeccionados neste dia.
Os jogos dos erros, as histórias em sequência confeccionadas, as revistas de
passatempo, todos estes materiais foram guardados na caixa lúdica e assim
encerrou-se o 3º dia.
No início do 4º dia, o professor que aplicou o plano de aula elaborado no
encontro anterior em sua sala de aula, fez o relato da experiência vivida junto aos
alunos durante a aplicação do plano, ressaltando os pontos positivos e negativos.
Na sequência, os professores fizeram a reflexão, através de debates e discussões,
de parte da monografia de Micheline de Lima Tavares – A Psicomotricidade no
Processo de Aprendizagem (p. 26 a 38), sendo esta disponibilizada no site
http://www.avm.edu.br/monopdf/7/Michelline%20De%20%Lima%20Tavares.pdf para
que os professores fizessem antecipadamente a leitura, análise e síntese escrita.
Foi feita uma dinâmica com os participantes, envolvendo o jogo Imagem &
Ação fase júnior, sendo lembrado que este jogo possui a fase 2 e fase 3, as quais
são mais avançadas.
Após esta dinâmica foi servido um lanche; durante este período ocorreu o
sorteio da caixa lúdica entre os professores participantes.
Na sequência os professores fizeram, oralmente, uma avaliação da
implementação como um todo, dos textos, das oficinas, da aplicabilidade dos jogos
como sendo mais um recurso a ser utilizado no processo de ensino- aprendizagem.
Com esta avaliação, deu-se por encerrada mais esta etapa do PDE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fazer uso de textos como instrumento mediador de debates, estudos,
discussões com profissionais da educação, foi um recurso que possibilitou alcançar
vários dos objetivos propostos, dentre os quais: aprofundar os estudos de autores
que pertencem à Psicologia Histórico-Cultural e também de autores que abordem a
Psicomotricidade, fornecendo subsídios que lhes proporcionassem conhecimento,
sobretudo sobre o processo de aprendizagem e desenvolvimento humano; promover
estudos teóricos/práticos com os professores possibilitando reflexões sobre o papel
social da escola, do professor na concretização do processo ensino-aprendizagem;
apontar a relevância da Psicomotricidade no processo de escolarização e
humanização do sujeito.
Discutir cada um dos textos apresentados sob a perspectiva da Psicologia
Histórico-Cultural possibilitou um repensar sobre o desenvolvimento humano, assim
percebe-se que a criança se desenvolve nas relações sociais e que, o que a
natureza oferece não basta para torná-la humanizada. É necessário adentrar no
mundo humanizado pela convivência com valores, usos e costumes instituídos e,
sobretudo, pelo domínio da linguagem e do pensamento verbal, mostrado nos textos
escolhidos para esta Implementação Pedagógica.
Foi durante a realização das oficinas de confecção de jogos pedagógicos que
percebemos quão importante é aliar a teoria à prática e que a prática pedagógica
quando envolve o lúdico pode trazer grandes benefícios e resultados acadêmicos.
Analisar, discutir cada jogo confeccionado fez com que nos
conscientizássemos da relevância da Psicomotricidade no desenvolvimento global
da criança e que um trabalho de escolarização voltado para a Psicomotricidade tem
que necessariamente envolver o lúdico.
Os estudos dos textos unidos às oficinas de confecção de jogos pedagógicos
nos proporcionaram a compreensão da necessidade de se desenvolver as funções
psicológicas superiores e que estas só se desenvolvem adequadamente se houver
mediações de qualidade.
Nesse processo o professor assume papel de suma importância, na medida
em que propõe situações desafiadoras, significativas e realizáveis, pois aquilo que a
criança consegue fazer com interferência, mediação e colaboração do outro, em
momento posterior, conseguirá realizar sozinha.
É interessante ressaltar que nesta concepção Vygotsky valoriza a intervenção
pedagógica bem como o trabalho do professor na formação do sujeito e atribui a
mediação como conceito fundamental, pois dela originam-se as funções psicológicas
superiores.
Com este trabalho, bem como com o Grupo de Trabalho em Rede, foi
possível repensar o fazer pedagógico, procedimentos, recursos utilizados, bem
como a necessidade do professor, em sua práxis pedagógica, contemplar um
trabalho voltado para a Psicomotricidade.
Concluímos, expondo que o aprendizado foi grande para todos os envolvidos,
sanando dúvidas, angústias e incertezas iniciais, apontando uma direção de trabalho
realmente efetivo.

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