Você está na página 1de 2

Laplantine finaliza o capítulo de introdução dizendo que a antropologia pertence a todos

nós. Tal afirmação, que define o tom do livro, busca nos impulsionar no estudo
antropológico, sendo nós, leitores, antropólogos ou não. Consequentemente, também
reforça que aprender sobre a cultura do outro é uma necessidade. É tal a necessidade
de olhar para o outro para nos entendermos, que é extremamente difícil aprender sobre
uma cultura alheia sem experenciarmos uma mudança na maneira em que enxergamos
a nossa. Tanto o "estranhamento", quando em contato com o diferente, quanto o olhar
atento e proposital para nós mesmos é o que permite que enxerguemos de fato onde é
que estamos inseridos e como nossas vidas são determinadas por isso. Como descrito
pelo próprio autor: "De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos às
dos outros, mas míopes quando se trata da nossa" (LAPLANTINE, 1988, p. 12).
Enxergar, nesse sentido, é uma concepção adequada, já que não se trata
necessariamente de mudar a realidade, mas sim de conseguir perceber o que está a
nossa frente, que sem o pensamento antropológico não seriamos capazes. O
antropólogo estuda o outro, fora de si, e aprende sobre si mesmo.

Tal ato de interrogar e aprender sobre si mesmo sempre ocorreu na cabeça dos
homens. Entretanto, os métodos de interrogação e de criação de conhecimentos, que
eram aplicados somente a natureza, ao meio externo, passaram recentemente a serem
empregados ao meio interno, ao próprio ser humano. (LAPLANTINE, 1988.)

A visão integrada sobre o ser humano, entretanto, nem sempre foi um norte para essa
ciência. Com o passar do tempo, as "sociedades primitivas" foram se extinguindo, e
consequentemente, criando uma grande questão no pensamento antropológico, já que,
a partir do séc. XX, o estudo da antropologia que tinha como base as sociedades não
europeias "selvagens", viu o fim de seu objeto de estudo. Tal fato implicou na necessária
adaptação desta área de estudo como uma ciência. Antropólogos precisam buscar
alternativas para continuar o estudo do ser humano e suas sociedades. (LAPLANTINE,
1988).

Nesse contexto, portanto, descrito por Laplantine um novo viés para a antropologia.
Antropologia é senão um olhar, uma maneira de enxergar o mundo. Através desse olhar
podemos encontrar uma solução para a necessidade de se descobrir novos objetos de
estudo, ou de lidar com a falta deles. Além disso, segundo o francês, a antropologia
estuda o homem em sua totalidade, em todos os contextos, ou seja, em todas as
nacionalidades, etnias, culturas, localização geográfica e em todas as épocas.

Consequentemente, o que Laplantine nos fornece com tal definição de antropologia, é


uma solução e uma nova maneira de se estudar as sociedades humanas. De fato, o
estudo antropológico se torna mais abrangente e mais conciso, o objeto de estudo se
torna mais palpável e, além disso, promove um caráter mais positivo para essa ciência.
O que Laplantine nos sugere é uma visão integrada sobre o ser humano, analisar o
homem em sua totalidade, ou seja, deve levar em conta todas as dimensões do ser
humano, sejam estas dimensões físicas ou não. Cada área de estudo sobre o ser
humano engloba uma enorme quantidade de variáveis e, consequentemente, incentiva
a especialização. Entretanto, apesar de nenhum antropólogo conseguir se aprofundar
em todas essas dimensões, é exigido desse pesquisador um conhecimento geral sobre
todas elas.

Você também pode gostar