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Prof Jairo Ivo dos Santos – Disciplina de Micologia Clínica – ACL 5137

IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA MICOLOGIA - INTRODUÇÃO AO


ESTUDO DOS FUNGOS
Micologia é a ciência que estuda os fungos (cogumelos) nos seus vários aspectos. Os fungos fazem
parte do reino Fungi ou Mycota (Figura 1).

Figura 1. Exemplo de um fungo.

O que são fungos?


Podemos considerá-los como seres eucariontes, heterotróficos, aeróbios, com parede celular
constituída por quitina, glucana e outros componentes, e membrana plasmática com ergosterol.

Por que estudamos os fungos na área da saúde?

Porque alguns são patogênicos e causam doenças como:

Micoses: que são processos infecciosos fúngicos com quadros patológicos (Figura 2);

Alergias: que são reações imunológicas do tipo imediato, pelo contato ou inalação de fungos;

Micetismos: são intoxicações causadas pela ingestão voluntária de fungos tóxicos;

Micotoxicoses: são intoxicações decorrentes da ingestão de alimentos ou água, contaminadas com


fungos tóxicos ou seus produtos metabólicos.

Figura 2. Exemplos de infecções fúngicas (micoses), micotoxicoses e micetismos.


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Os fungos patogênicos que causam infecções compreendem aquele grupo de fungos que são vistos
com detalhes somente ao microscópio (fungos microscópicos). Eles são divididos em três grupos:
fungos leveduriformes ou leveduras como, por exemplo, Candida e Cryptococcus, fungos
filamentosos como, por exemplo, mofos ou bolores, por exemplo, dermatófitos e Aspergillus, e
fungos dimórficos como, por exemplo, Paracoccidioides e Histoplasma (Figura 3).

Figura 3. Fungos patogênicos microscópicos.

COMPONENTES DE UM FUNGO

A célula fúngica contém uma série de organelas também observadas em outras células eucarióticas
assim como aquelas que lhes são específicas (Figura 4). A estrutura mais externa de uma célula
fúngica é a cápsula, que é de natureza polissacarídica, embora esteja ausente na maioria das espécies
de fungos. Assim, a sua detecção é útil para a identificação taxonômica de algumas espécies de
fungos.

A maioria dos fungos apresenta uma parede celular, que confere a célula fúngica grande resistência.
Essa parede tem uma composição complexa e é constituída principalmente por quitina, glucana e
manana ou galactomanana.

A membrana plasmática fúngica contém um componente chamado ergosterol, muito parecido com o
colesterol das células animais, e que confere estabilidade à membrana plasmática.
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Outros componentes observados na célula fúngica são o núcleo, mitocôndrias, ribossomos,


lipossomos e vácuolos (Figura 4).

Figura 4. Componentes de um fungo.

ERGOSTEROL

O ergosterol é essencial para o fungo exercer várias funções biológicas e para sua própria
sobrevivência. É um alvo para ação de vários antifúngicos como derivados azólicos e derivados
poliênicos.

Os derivados azólicos são constituídos pelo cetoconazol, fluconazol, itraconazol, voriconazol e


posaconazol. Estes antifúngicos inibem a ação da enzima lanosterol C14-desmetilase, associada ao
citocromo p-450, em uma das etapas da síntese do ergosterol, no citoplasma.

Os derivados poliênicos são constituídos pela anfotericina B e nistatina. Estes antifúngicos ligam-se
ao ergosterol já formado, mudando a permeabilidade (poros) da membrana e fazendo com que a célula
fúngica perca íons, comprometendo a sua viabilidade.

PAREDE CELULAR

A parede celular fúngica é uma folha laminada e rígida, de composição complexa, que envolve a
maioria dos fungos. Dá proteção e firmeza às estruturas fúngicas. Apresenta três camadas:

1ª externa: contém manana ou galactomanana,


2ª mediana: contém glucana;
3ª interna: contém quitina.
A glucana da parede fúngica (β -(1→3) - d-glucana) é sintetizada pela enzima β-1,3 glucan synthase.
A síntese de glucana é alvo de um grupo de antifúngicos chamados de equinocandinas.
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As equinocandinas são representadas pela caspofungina, micafungina e anidulafungina. Elas inibem


a atividade da enzima β-1,3 glucan synthase, com diminuição da produção de β-1,3 glucana,
enfraquecendo a parede celular fúngica.

Existem também alguns métodos de diagnóstico de infecção fúngica, baseados na detecção de


componentes da parede celular do fungo. Nesse caso, é utilizado como material biológico o soro ou
outros fluidos corporais. O primeiro deles é o Ensaio Fungitell™ (Figura 5).

Figura 5. Ensaio Fungitell™.

Ele faz a detecção de 1,3-d-glucana. A glucana é um componente não-específico dos fungos, e é


indicado para o diagnóstico de infecções fúngicas invasivas, embora não identifique
taxonomicamente o fungo. O teste é usado para diagnosticar infecções por Aspergillus, Fusarium,
Pneumocystis e Candida.

O segundo teste é o Platelia™ Aspergillus EIA da Biorad (Figura 6). Ela faz a detecção específica de
galactomanana, que é um componente da parede fúngica. É indicado para diagnóstico da aspergilose
invasiva.

Figura 6. Platelia™ Aspergillus EIA.


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CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS E FISIOLÓGICAS DOS FUNGOS

Com relação às suas características nutricionais e fisiológicas, os fungos são heterotróficos e obtêm
os nutrientes por absorção. Eles necessitam, para o seu metabolismo, de fontes de carbono,
geralmente açúcares, como a glicose. Necessitam também de fontes de nitrogênio, como peptídeos
(comercialmente conhecidas como peptonas) e oligonutrientes (ou micronutrientes), como sais
minerais e vitaminas.

Os fungos são seres aerófilos ou microaerófilos, necessitando de concentrações relativamente altas


de oxigênio. Também necessitam de água e umidade, embora algumas espécies estejam adaptadas a
ambientes mais secos, como por exemplo, o Coccidioides.

Os fungos suportam grandes variações de pH, na faixa de 4,5 a 9,0 e, algumas espécies são osmófilas
(suportam altas concentrações de açúcares) enquanto que outras são halófilas (suportam altas
concentrações salinas).

Nas condições in vitro, a temperatura ótima de crescimento é de 20 a 30 ºC, com média de 25 ºC. O
tempo de crescimento de uma colônia de um fungo patogênico, varia de 1 a 4 semanas.

TIPOS DE REPRODUÇÃO DOS FUNGOS

Com relação aos tipos de reprodução, os fungos podem apresentar:

Reprodução assexuada (também conhecida como imperfeita ou anamórfica), no qual há propagação


vegetativa. Ela apresenta alta frequência, com mitose, e está presente em todos os fungos;

Reprodução sexuada (também conhecida como perfeita ou teleomórfica), na qual há uma


amplificação da sua variabilidade genética. Ela apresenta meiose e baixa frequência, estando ausente
em alguns grupos de fungos (fungos imperfeitos);

Reprodução parassexuada, no qual recombinação genética sem meiose, por meio de fusão de células
fúngicas e seus núcleos, amplifica a variabilidade genética, embora seja de baixa frequência.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DOS FUNGOS PATOGÊNICOS

A maior parte das micoses não são diagnosticadas com segurança apenas pelo exame clínico.
Geralmente, deve ser realizado exame laboratorial, cujas etapas são: coleta do material biológico do
paciente, realização dos exames laboratoriais apropriados e emissão do resultado. Para a coleta do
material, normalmente, um profissional médico faz a solicitação (Figura 7).
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Figura 7. Exemplo de solicitação de exame micológico.

Um procedimento rotineiro de diagnóstico laboratorial micológico é mostrado na figura abaixo


(Figura 8).

Figura 8. Procedimento rotineiro de diagnóstico.

Deve ser realizado o exame micológico direto, geralmente analisado após clarificação do material. O
exame micológico direto confirma se o caso é uma micose ou não. Entretanto, ele geralmente não
permite identificar taxonomicamente o fungo.

Isso é feito pelo cultivo dos fungos em meios nutricionais apropriados. Os meios mais utilizados são
o ágar Sabouraud dextrose, contendo ou não inibidores, como cloranfenicol e cicloheximida. As
colônias que crescem, geralmente apresentam características que permitem a sua identificação
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taxonômica. Entretanto, em determinadas situações, é necessário utilizar outros procedimentos, como


pesquisa de anticorpos, antígenos, provas bioquímicas, e análise de DNA.

O exame micológico deve ser emitido com os resultados do exame micológico direto e da cultura,
assim como outros tipos de exames que se fizerem necessários (Figura 8).

Um resultado de exame micológico é exemplificado pela figura 9. Observa-se na figura que o exame
micológico direto de material colhido da unha do hálux revelou a presença de filamentos micelianos
no material examinado, enquanto que a semeadura do material, em meios de cultura, mostrou o
crescimento de colônias de Trichophyton rubrum, que é uma espécie de dermatófito.

Figura 9. Emissão do resultado do exame.

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