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Prof Jairo Ivo dos Santos – Disciplina de Micologia Clínica – ACL5137

MORFOLOGIA DE FUNGOS EM VIDA PARASITÁRIA E


SAPROFÍTICA

A importância para se estudar a morfologia dos fungos é que ela é fundamental para reconhecer um
caso de micose, e identificar o fungo que está causando a micose (identificação taxonômica). A
identificação dos fungos ainda é baseada principalmente em sua morfologia, tanto macro como
microscopicamente.

A morfologia do fungo não é necessariamente a mesma quando observada na lesão e na cultura in


vitro. A morfologia que o fungo apresenta na lesão, durante a infecção, é chamada de morfologia de
vida parasitária. Quando o fungo se encontra no meio ambiente, em substratos orgânicos inertes, ou
em meios nutrientes artificiais (meios de cultura), apresenta a chamada de morfologia de vida
saprofítica.

O estudo da morfologia de vida parasitária é feito pelo exame micológico direto. A morfologia de
vida saprofítica é avaliada pela análise macro e microscópica das culturas do fungo (Figura 1).

Figura 1. Morfologia de vida parasitária e saprofítica na rotina micológica.

Os tipos morfológicos básicos encontrados, tanto na fase parasitária quanto saprofítica, são as
leveduras e os filamentos micelianos (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Fungos leveduriformes.


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Figura 3. Fungos filamentosos.

Um terceiro tipo morfológico corresponde aos fungos dimórficos, que se apresentam como leveduras
na fase parasitária, e como fungos filamentosos na fase saprofítica.

Na morfologia de vida parasitária são observadas as seguintes estruturas:

1. Filamentos micelianos ou hifas: são estruturas tubulares de paredes paralelas. Elas podem ser
septadas ou asseptadas. As hifas asseptadas são também chamadas de cenocíticas. Quanto a cor
podem ser transparentes, também conhecidas como hialinas, ou demácias, quando apresentam
pigmento melânico na sua parede celular (Figuras 4 e 5).

Figura 4. Hifas hialinas.

Figura 5. Hifas demácias.


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2. Artroconídios: são estruturas derivadas dos filamentos micelianos, pela sua desagregação e
separação, nos septos. Eles se apresentam como fragmentos de hifas separados entre si, ou em cadeias
de estruturas arredondadas (Figura 6).

Figura 6. Artroconídios.

Nos pelos, os artroconídios apresentam-se como massas de estruturas arredondadas, de tamanho


variável, ficando parecidas com leveduras, embora sejam derivadas de filamentos micelianos (Figura
7). Nesses locais, dependendendo da espécie de fungos, os artroconídios podem ficar localizados
internamente (endothrix), ou externamente (ectothrix).

Figura 7. Parasitismo de pelo do tipo endothrix e ectothrix.


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3. Leveduras: também são conhecidas como blastoconídios ou blastosporos. Elas são estruturas
originadas de reprodução assexuada por brotamento ou gemulação, que ocorrem no grupo das
leveduras (Figura 8).

Figura 8. Leveduras (blastoconídios).

4. Pseudohifas: são blastoconídios que se unem e se tornam alongados, ficando semelhantes às hifas.
Elas podem se confundir com hifas verdadeiras, e são diferenciadas pelo fato de serem mais curtas e
com um estreitamento no ponto em que os dois blastoconídios estão unidos (Figura 9).

Figura 9. Pseudohifa.

Outros aspectos morfológicos diferenciados observados entre as leveduras de diferentes espécies


são a presença de brotamento único, como é o caso da Candida (Figura 10);

Figura 10. Leveduras (blastoconídios) com brotamento simples.

Leveduras que apresentam brotamento múltiplo, como é o caso do Paracoccidioides, na fase


leveduriforme (Figura 11);

Figura 11. Leveduras de brotamento múltiplo.


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Ou, leveduras que apresentam cápsula, como é o caso do Cryptococcus (Figura 12).

Figura 12. Leveduras com cápsula.

O estudo da morfologia de vida saprofítica é importante para ajudar a identificar os fungos. Neste
caso, são avaliadas as morfologias macroscópicas e microscópicas. Várias das características
microscópicas observadas na fase parasitária também podem ser observadas na fase saprofítica de um
fungo. A seguir alguns termos utilizados na morfologia de vida saprofítica:

1. Micélio: é o conjunto de hifas (filamentos micelianos), ou de outras estruturas (blastoconídios,


pseudohifas), de um fungo. Os tipos de micélio observados são 1.1. micélio vegetativo e, 1.2. micélio
de frutificação.

1.1. O micélio vegetativo exerce as funções de assimilação, fixação e crescimento das espécies. O
micélio vegetativo pode ser dos seguintes tipos:

1.1.1. Micélio vegetativo unicelular: quando é constituído por blastoconídios (leveduras, Candida
sp.);

1.1.2. Micélio vegetativo pseudofilamentoso: quando é constituído por pseudohifas (leveduras,


Candida sp.);

1.1.3.Micélio vegetativo filamentoso: quando é constituído por hifas (bolores ou mofos).


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1.2. Micélio de frutificação: é uma estrutura especializada do micélio, que exerce as funções de
propagação (reprodução) do fungo. Ela apresenta estruturas de frutificação, que também são
conhecidas como órgãos de esporulação ou conidióforos (Figura 13). O termo conidióforo é o mais
utilizado, ultimamente. O conidióforo é definido como uma estrutura especializada no micélio, capaz
de gerar conídios. O conídio é definido como uma estrutura de propagação assexuada do fungo.

Figura 13. Conidióforo, também conhecido como micélio de frutificação.

No estudo de vida saprofítica, observamos as características macromorfológicas da colônia, por meio


de sua análise macroscópica (a olho nú).

As principais características analisadas são: o tempo de crescimento, que varia de 1 a 4 semanas;


textura (consistência) do micélio, que mostra a aparência da composição do micélio. A textura pode
ser algodoada, aveludada, pulverulenta, cremosa, cerosa, gomosa; cor do micélio (anverso, observada
na frente do tubo); a topografia (relevo) do micélio e presença e pigmento reverso (cor observada
atrás do tubo) (Figura 14).

Figura 14. Aspectos macromorfológicos das colônias de fungos.

Na micromorfologia da colônia, são analisadas as características da colônia quando observadas ao


microscópio. Geralmente as lâminas são coradas com lacto-fenol-azul algodão. São observadas
características como cor das hifas, modificações de hifas, características de conidióforos,
características de conídios, etc (Figura 15).
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Figura 15. Características micromorfológicas das colônias de fungos.

Durante o seu ciclo biológico, os fungos podem sofrer variações morfológicas. O primeiro tipo de
variação é chamado de dimorfismo. Essa variação ocorre entre os fungos dimórficos. É a capacidade
do fungo de crescer nas formas filamentosa/M (mold), e de levedura/Y (yeast) (Figura 16).

Figura 16. Dimorfismo.

A ocorrência do dimorfismo é dependente de temperatura e oferta de nutrientes. Quando o fungo


dimórfico cresce a 37 ºC, com grande oferta de nutrientes, ele sofre modificações fenotípicas, e vai
se transformar em levedura. Quando o mesmo fungo, cresce a 25 ºC, com menor disponibilidade de
nutrientes, ele vai apresentar a aparência de um fungo filamentoso.

A segunda variação morfológica, que alguns fungos apresentam, é chamada de pleomorfismo. Ela
compreende alterações irreversíveis em áreas do micélio, decorrentes de mutações, que levam a perda
das características morfológicas originais (Figura 17). Consequentemente, isto pode prejudicar a
identificação fungos no qual o fenômeno é observado. Ela ocorre, por exemplo, com o
Epidermophyton floccosum.

Figura 17. Pleomorfismo observado no Epidermophyton floccosum. À esquerda, colônia normal e, à


direita, colônia pleomorfizada, com áreas de micélio branco (seta).
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