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ANO LETIVO 2022/2023

Curso de Educação e Formação de Adultos


EFA Secundário
Portaria n.º74/2011 de 30 de junho
Código do estabelecimento de ensino 3108-203

Área de Competência-Chave CULTURA, LÍNGUA, COMUNICAÇÃO


Núcleo Gerador (UC4) Gestão e Economia
Agir de acordo com a compreensão do funcionamento dos sistemas
DR3_ Competências monetários e financeiros (como elemento de configuração cultural e
comunicacional das sociedades atuais)

Nome: ________________________________________________________________ Data: ____/____/______

Atividade n.º 1

Problemas Monetários

Para começar é preciso ter uma noção mais clara sobre esta estranha entidade que agora
analisamos. O que é a moeda? A Moeda é todo o meio que serve para facilitar as trocas. Pode ver-se a
moeda como um lubrificante do sistema geral de trocas que, como vimos, é a base da economia.
À primeira vista, a troca direta é o sistema mais simples para realizar transações: se uma pessoa
tem algo que não quer, deve trocá-lo por aquilo que quer. Na prática, porém, levantam-se grandes
dificuldades, pois para que uma troca se realize é preciso que quem tem algo para trocar encontre alguém
que quer aquilo que este tem e também tenha aquilo que este quer. Esta «dupla coincidência de vontades»
é difícil: um barbeiro que goste de couves tem (todos os dias) de encontrar um hortelão de cabelo
comprido.
Há formas de aliviar este problema: uma delas é não fazer uma, mas muitas trocas. O barbeiro
pode cortar o cabelo ao carpinteiro; trocar a cadeira que recebeu com o sapateiro, para conseguir as botas
que o hortelão quer em troca das couves. Mas será que o preço que pagou pelas couves é justo? E o tempo
perdido (uma vez que tempo é dinheiro…)? É claro que este sistema se pode complicar até ao infinito. O
que sociedades faziam, antes de existir moeda, era criar locais onde todos aqueles que tinham coisas para
trocar se encontravam, transacionavam e definiam preços.
No entanto, todos estes métodos eram deficientes e reduziam o número de trocas que
efetivamente se realizavam, reduzindo assim o bem-estar potencial. Por isso, desde cedo, algumas
sociedades lembraram-se de um truque simples: se houvesse um bem a que todos dessem valor, todos
estariam dispostos a aceitá-lo em troca do que é seu; assim, pode passar a fazer-se sempre duas transações
em vez de uma (ou de muitas). O que tenho, troco-o por esse bem e, depois, vou com esse bem à pessoa
que tem o que eu quero e troco com ela. Eu aceitei esse bem apenas porque sabia que a pessoa que tinha o
que eu queria também o ia aceitar.
Vamos supor que esse bem é o pão, uma coisa que toda a gente quer e precisa. Assim, o barbeiro
receberia dos clientes pão, em vez dos produtos que eles faziam, e depois, com esse pão, ia ter com as
pessoas que produziam o que ele queria, por exemplo, o hortelão, e trocava o pão pelas couves. Claro que
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há alguns inconvenientes: as pessoas agora, além dos bens que produzem e consomem, têm de ter pão
guardado para fazer trocas e, além disso, é preciso sempre fazer duas trocas em vez de uma direta. Mas a
grande vantagem é que não é preciso procurar a coincidência das vontades entre o comprador e o
vendedor, pois agora há um intermediário na troca: a moeda.
Ao longo dos tempos, muitos bens foram usados como moeda. Algumas sociedades usavam bens
que cumpriam alguma função social ou religiosa: grandes pedras esculpidas, adornos de penas, etc. Mas o
principal problema era a aceitabilidade, pois a ideia era usar um bem que fosse considerado útil por todos,
como garantia de que era sempre aceite. Assim, utilizou-se como moeda: vacas, vinho, cerveja, cigarros.
O problema de usar um bem muito útil como moeda estava em que, exatamente porque esse bem
era útil, tinha outros usos para além das trocas. Por isso, às vezes, havia falta de moeda para as trocas
porque ele tinha sido usado. Por exemplo, o vinho ia-se gastando ao longo do ano; por esse motivo, antes
das vindimas, o pouco vinho que havia não chegava para beber, quanto mais para trocar. Uma pessoa
podia «beber» ou «fumar» a riqueza da família, ou então, no caso das vacas, a fortuna de uma pessoa fugir
atrás de um boi...
Aqui aparecia o primeiro grande problema da moeda: para garantir que o bem fosse aceite por
todos, era preciso que o bem fosse útil e até muito útil. No entanto, isso fazia com que a quantidade de
moeda que havia em circulação variasse fortemente devido ao «consumo não monetário» desse bem, o
que gerava grande instabilidade na economia, sobretudo no nível geral dos preços.
Note-se a grande contradição que se defronta na escolha de um bem para moeda, e que resulta do
seguinte: para ter um bem que apenas sirva como moeda (não tenha procura não monetária), esse bem
deve ser inútil. Se for útil, serve para muitas coisas e não apenas para moeda e o seu uso como moeda
ressente-se. Mas uma forma simples de ser aceite por todos é a moeda ser um bem útil (vinho, cigarros,
vaca). Daqui saiu um problema que durante séculos a teoria monetária defrontou.
Se fosse possível encontrar um bem que as pessoas desejassem, mas que quase não servisse para
mais nada a não ser para fazer trocas, o problema ficava resolvido. O paradoxo ficou resolvido com a
existência de um tipo especial de bens, a que podemos chamar «bens decorativos ou de luxo», que pouco
consumo tinham, mas que eram aceites por todos. As conchas, pérolas e, sobretudo, os chamados «metais
preciosos» podiam ser usados como moeda, por serem aceites por todos, sem medo de que o seu
montante total fosse alterado frequentemente de forma significativa pelo consumo não monetário.
Mas nem todo o bem pode preencher corretamente as funções de moeda. Vejamos quais as
características mais importantes que um bem deve ter para ser uma boa moeda:
1) Divisibilidade - importante por causa dos trocos;
2) Durabilidade - a degradação do bem altera-lhe o valor e dificulta o seu uso como padrão das
trocas;

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3) Aceitabilidade geral - se não for reconhecida por todos, não cumpre a função de meio de troca;
4) Ter reduzida procura não monetária - para evitar flutuações no montante disponível de moeda;
5) Manter o valor - se o valor da moeda varia (o vinho antigo vale mais, mas a cerveja antiga vale
menos que a nova), torna-se difícil o seu uso;
6) Ser prática de movimentar - um bem muito pesado ou volumoso torna-se difícil de usar nas
trocas;
7) Dificilmente falsificável.
Como se disse, a maioria das sociedades a certa altura perceberam que os metais preciosos eram
boa moeda: divisíveis, duradouros, a procura não monetária era pequena (quase só para joias), mantêm o
valor e, apesar de pesadas, valiam muito por grama, pelo que podia levar-se muito valor em pouco peso, e
era fácil distinguir o ouro verdadeiro do falso. Por essa razão, durante muitos séculos usou-se a moeda
pesada para transações: em cada troca, em cada loja, havia uma balança para pesar o ouro e a prata da
transação.
Mas o método era pouco prático, devido ao esforço de pesagem, e aos erros que gerava. Por isso, a
seguir passou-se para a moeda contada: bolinhas ou discos de ouro, com peso predeterminado (uma libra,
uma onça, um talento), eram mais fáceis de usar, pois bastava contar os discos para ter o peso desejado.
Para evitar que se estivesse, dia a dia, a confirmar o peso de cada peça, passava a ser necessário que uma
autoridade se responsabilizasse pelo peso do disco ou que emitisse a moeda: o rei, o nobre ou a autoridade
local punham o seu selo no disco para garantir a sua validade.
Desta forma, rapidamente se passou para a moeda cunhada, que tinha já a forma atual,
normalmente com a cara e o escudo do imperador, rei, etc. As moedas tinham o nome do peso
correspondente (libra, peso), o nome do senhor que as emitia (imperador romano, o «luís de ouro») ou do
desenho que ostentavam (escudo).
Nos períodos em que a paz permitia a realização dos contactos internacionais, sobretudo no fim da
Idade Média, as transações entre regiões alargavam-se. Mas, como poucas moedas tinham validade geral,
existiam claras dificuldades nessas transações. Comerciantes de muitos sítios encontravam-se nas grandes
feiras que, em algumas cidades, permitiam a troca de produtos de muitas regiões. Para resolver esta
questão apareceu a profissão de cambista. Os cambistas eram pessoas que tinham como função comparar
e trocar as moedas de uma zona por outra. Esta profissão obrigava, naturalmente, a transportar grandes
quantidades de metais preciosos. Normalmente esses cambistas, que tinham também o ofício de ourives,
faziam outro negócio: alugavam os seus cofres para guardar em depósito a moeda dos clientes.
Este facto deu origem a uma descoberta importante. Cada depositante tinha, como prova e
contrapartida do seu depósito, um recibo. Esse recibo representava o ouro depositado. Quando queria usar
o ouro para uma transação, em vez de ir levantar o ouro para o pagamento, podia entregar diretamente o

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recibo, endossando-o. O papel não era ouro, mas valia ouro, porque representava o depósito. E valia só
porque tinha a assinatura do cambista, que assegurava o levantamento. Quando estes recibos começaram
a circular, apareceu a moeda de papel.
A partir do fim do século XVII, alguns cambistas, para facilitar essas trocas, começaram a emitir
recibos com um certo montante padrão, sempre igual, e a ter a expressão «ao portador». Deste modo, o
valor era predefinido e evitava-se que quem tivesse um recibo em nome de outro se visse na obrigação de
ir ao ourives tomar posse do seu novo ouro. Apareceram assim as notas que hoje utilizamos: o papel
circulava livremente como moeda.
Depois fez-se outra descoberta essencial. As pessoas que tinham o seu ouro depositado,
movimentavam as suas contas, levantando ou depositando ouro, conforme as suas necessidades. Mas
como o papel circulava, cada vez menos o levantavam porque os recibos serviam cada vez mais como
moeda. Assim, os cambistas constatavam que, nos seus cofres, a maior parte do ouro não era mexida. Daí
nasceu a ideia de emprestar esse ouro parado a quem dele precisasse, cobrando um juro.
Nasciam assim os bancos. O cambista lançava-se no negócio do crédito, mas no crédito com
dinheiro que não era seu... Este negócio era muito rentável e permitia, em vez de cobrar uma comissão aos
depositantes pelo trabalho de guardar o dinheiro, pagar-lhes um juro pelo depósito.
Este negócio era o negócio do crédito, e, ao fazer isto, os ourives transformaram-se em bancos. A
maneira de emprestar era emitir mais recibos do que ouro havia. Era uma forma milagrosa de fazer
dinheiro: o banqueiro podia comprar o que quisesse, bastando para tal assinar um recibo sobre o ouro dos
seus depositantes. Mas em breve se descobriu que havia um risco: é que se as pessoas vissem muitos
recibos em circulação, podiam desconfiar e ir levantar o seu ouro. E se todos o fizessem, como havia mais
recibos do que ouro, não haveria possibilidade de satisfazer a todos: com o negócio bancário aparecia a
bancarrota. Vários casos célebres de falências mostraram como este fenómeno podia ser destrutivo,
eliminando as poupanças depositadas.
Os abusos desta situação (rentabilidade do negócio) levaram os Governos a intervir, para regular e
incutir confiança. Assim, os Estados, a pouco e pouco, ao longo dos séculos XIX e XX, tomaram para si o
monopólio da emissão da moeda. E quando o Estado entrou no negócio, uma nova característica foi
adquirida: era possível lançar uma lei que obrigasse as pessoas a aceitar e a transacionar em moeda de
papel, sem a poderem trocar por ouro: tornar o papel inconvertível em ouro. Primeiro esta medida era
tomada só em altura de crise, mas em breve se generalizou: não era preciso usar o ouro ou a prata se o
papel servia igualmente. A moeda passou a ser moeda fiduciária: passava-se da moeda de papel para o
papel-moeda.
Agora, o Estado podia escrever num papel que ele valia €1000 e obrigar-nos a aceitá-lo, mesmo que
não houvesse nenhum ouro representado por esse papel que «suportasse a emissão». Isto tornou a moeda

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independente do ouro. A partir de então, efetivamente, o papel passou a ser moeda, enquanto antes ele
apenas representava moeda.
Assim se passou da «moeda-mercadoria» para o «papel-moeda». Ao longo desta evolução,
destaque-se:
Em relação ao problema entre «aceitabilidade da moeda» vs «procura não monetária», a
evolução concreta levou-nos de um extremo ao outro. Repare-se que inicialmente se usavam bens úteis
como moeda, e hoje, usando o papel, temos uma moeda que é só moeda. Atualmente, uma nota não serve
para nada a não ser para troca. É claro que a aceitabilidade desta moeda é garantida pela obrigatoriedade
que o Estado lhe impõe, bem como na confiança que temos no sistema. Hoje, a moeda só vale porque nós
dizemos que ela vale. Não há outro suporte da moeda senão a nossa confiança no sistema. Mas se todos
desconfiarmos da moeda e nos quisermos livrar dela, não podemos causar bancarrota no banco emissor
porque a lei obriga-nos a aceitar a moeda. Mas nessa situação só podemos fugir da moeda comprando
bens ou moedas de outros países. Como os bens são limitados, e todos os querem, o valor das coisas sobe
e o valor da moeda cai porque ninguém a quer. Este fenómeno, equivalente à bancarrota, é a inflação ou
desvalorização da moeda. (…)
Mas continuemos a nossa história. A intervenção do Estado, monopolizando a emissão de moeda
de papel, impediu os bancos de participarem nesse negócio tão rentável. Mas os bancos não se renderam,
e resolveram o seu problema mantendo as suas operações e criando um novo tipo de moeda. Os bancos
com esta operação convidaram-nos a depositar agora, não o nosso ouro, mas as nossas notas e moedas
estatais no banco. Eles guardam-nos os nossos valores, enquanto nós fazemos transações, ordenando ao
banco que movimente a nossa conta, assinando nós num cheque. O negócio é o mesmo, mas agora a
moeda que o banco emite é o cheque, chamado moeda escritural.
Continua a ser possível ao banco emprestar o dinheiro (notas e moedas) que fica depositado nos
seus cofres, concedendo crédito. A forma de operar esse crédito quase que se manteve: o banco abre uma
conta bancária em nome de quem lhe pede crédito, ou seja, em nome de quem não depositou lá dinheiro,
e permite-lhe emitir cheques sobre essa conta; quando chega ao fim do prazo do empréstimo, o devedor
devolve o dinheiro com juros. Assim, os bancos continuam a poder ganhar dinheiro e ainda a pagar juros
aos depositantes. Mantém-se a possibilidade de bancarrota, agora não com ouro mas com dinheiro.
Entretanto apareceram outros tipos de dinheiro: a moeda de plástico. Os cartões de crédito, gerais
ou particulares, com os quais se compra agora e paga depois, ou paga agora e compra depois (como no
caso do passe da Carris ou as senhas de gasolina). Finalmente, há novo tipo de moeda que está em grande
desenvolvimento: a moeda eletrónica. Cada vez mais transações são feitas através de terminais de
computador, no qual a conta bancária é movimentada diretamente. Quando se usa um cartão para pagar a
conta do supermercado, do hotel, da livraria ou da agência de viagens, não há qualquer movimentação de

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dinheiro, mas apenas uma movimentação na conta bancária. Trata-se de uma situação em que a
transferência financeira é feita no ponto de venda (eft-pos [transferência eletrónica]). Deste modo, o
registo eletrónico substitui qualquer moeda. Assim, a moeda deixou não só de ser um bem útil, mas até um
bem material.
NEVES, João César das, Introdução à Economia, Lisboa, Verbo, 1996, pp. 249 a 255 – adaptado.

1. Descreva os problemas inerentes à troca direta.

2. Explique o problema da aceitabilidade da moeda.

3. Explicite as caraterísticas mais importantes que um bem deve ter para ser uma boa moeda.

4. Explique sucintamente o percurso da «moeda mercadoria» para o «papel-moeda».

5. Atualmente, «a moeda só vale porque nós dizemos que ela vale.» Justifique.

Bom trabalho!
Prof.ª Graça Santos

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