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Artigo by Redação - 4
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
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[EcoDebate] A redução da pobreza humana é um processo que vem ocorrendo no longo prazo no
Brasil (embora a pobreza das outras espécies tenha aumentado). Avanços civilizacionais tem
melhorado a qualidade de vida dos cidadãos em termos de renda, educação e saúde, especialmente
depois da Segunda Guerra Mundial.
Assim, parece até piada quando setores ufanistas do PT se vangloriam de ter erradicado a pobreza e
alguns ideólogos dizem que a oposição generalizada (e até o ódio) ao governo atual decorre: “do
medo das elites brancas com a saída de 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza”. Parece que os
governistas laudatórios apagaram da história o pensamento de Adam Smith (1723-1790), Henry Ford
(1863-1947) e tantos outros pensadores e empresários da elite branca que sempre entenderam que a
incorporação de amplos segmentos da população pobre (independente da cor) é um pré-requisito para
o sucesso da acumulação de capital. O capitalismo é um sistema que necessita incorporar amplas
parcelas da população ao consumo. A ampliação do mercado de bens e serviços é a base da
acumulação de capital e do lucro das elites.
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
econômico” e o “Segundo PND”, a proporção de pobres no país caiu fortemente de 68,4% em 1970
para 35,3% em 1980. Esta foi a maior queda absoluta da pobreza no Brasil e não se consta dos anais
da história que a ditadura militar tenha caído devido “ao ódio das elites brancas em relação à redução
da pobreza”.
O período 1980-1993 marca a longa década perdida, desde o início da crise do modelo nacional-
desenvolvimentista, passando pelo desastre do governo Sarney e indo até o processo de abertura
neoliberal do governo Collor. A redução da pobreza ficou estagnada e o impeachment de Fernando
Collor não se deveu “ao ódio das elites brancas em relação à redução da pobreza”. Ao contrário, foi a
crise econômica e a falta de redução da pobreza que contribuiu para o “Fora Collor”.
Já o período 2003-2011, a despeito de alguns anos de crise, foi marcado pela retomada do
crescimento econômico, pela valorização cambial e pela mudança nos termos de troca do comércio
internacional, com a valorização do preço das commodities exportadas pelo Brasil. Houve um ciclo
internacional favorável com efeitos internos muito benéficos com aumento da geração de emprego no
mercado de trabalho, a valorização do salário mínimo e expansão dos programas de transferências
assistenciais. Tudo isto contribuiu para aumentar a renda das famílias brasileiras em geral e beneficiar
preponderantemente as mais pobres. Desta forma, entre 2003 e 2011, a proporção de pobres caiu
praticamente à metade, de 22,6% em 2003 para 10,1% em 2011. Não houve movimento “Fora Lula” e
nem ação de massa em decorrência “do ódio das elites brancas em relação à redução da pobreza”.
O gráfico abaixo mostra que, ao contrário do passado recente, houve, após 2012, um estancamento
do processo de redução da pobreza extrema no Brasil, qualquer que seja o critério utilizado. Os
últimos dados são da PNAD 2013. Ainda não foram publicados os dados da PNAD 2014, mas quando
isto ocorrer (no segundo semestre de 2015) devem mostrar, provavelmente, um aumento da pobreza
extrema, pois o PIB cresceu apenas 0,1% em 2014, enquanto o PIB per capita caiu 0,7% no ano. Ou
seja, em 2014 os brasileiros como um todo ficaram mais pobres e a pobreza extrema deve ter
aumentado. O impressionante é que isto aconteceu quando o governo tomou uma série de medidas
(que comprometeram as contas públicas) para estimular a economia, sem os resultados esperados.
Em 2015, indubitavelmente, haverá estagflação, ou seja, redução do PIB e aumento da inflação. Toda
a população brasileira vai ficar mais pobre e as camadas pobres vão sofrer com o aumento do
desemprego e a redução da renda. Ou seja, a linha da extrema pobreza deve embicar para cima na
medida em que forem sendo sentidos os efeitos do “Ajuste Fiscal” do governo Dilma, mas que a CUT
chama de “Ajuste do Levy”.
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Nos últimos anos houve também estagnação da distribuição de renda. Artigo de Marcio Pochmann
(2006) mostra que, no Brasil, somente 5 mil famílias, de um total de 51 milhões, absorviam 45% de
toda a renda e riqueza do país. Estudo realizado por Medeiros et. al. (2014), utilizando dados da PNAD
e a renda declarada pelas pessoas ao Imposto de Renda, encontrou um índice de Gini de 0,696 em
2006, seguido por 0,698 em 2009 e 0,690 em 2012. A pequena variação indica estabilidade e não
queda na desigualdade brasileira. Porém, mesmo incluindo dados do Imposto de Renda, o estudo
ainda não capta totalmente a renda dos muitos ricos, especialmente o rendimento das pessoas
jurídicas e todo o processo de sonegação. Ou seja, o Brasil continua sendo um dos países mais
desiguais do mundo.
Portanto, dizer que o “PT criou as condições para que os humildes pudessem ter acesso às questões
fundamentais da vida que é o trabalho, saúde, comida” é ignorar os avanços civilizacionais que
ocorrem nos 120 anos da República e que contaram com contribuições fundamentais de diversas
personalidades e partidos políticos. Ou seja, a história das conquistas sociais no Brasil não teve início
com o PT e nem o partido pode ser considerado como implementador de políticas universalistas
essenciais, pois o acesso ao emprego, à saúde e à educação de qualidade é ainda muito precário no
Brasil.
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
revista Piauí em que sugeria a ideia de que um sonho rooseveltiano havia tomado conta do Brasil. Em
resumo, tratava-se da possibilidade de integrar, em curto espaço de tempo, as grandes maiorias a
padrões civilizados de vida material, com aumento substantivo da igualdade. Passados quase cinco
anos daquele momento otimista, sou obrigado a reconhecer que o desejo não se cumpriu”.
Desta forma, fica claro que o Brasil passa por um momento de extrema dificuldade econômica e social.
A situação pode ficar complicada se as massas (de todas as cores) sairem às ruas exigindo as
maravilhas prometidas nas campanhas eleitorais que apontavam para um paraíso do consumo e para
o sonho de um “país da classe média” e sem miséria. A crise atual por que passa o Governo Federal
decorre da reversão de expectativas, da perda de esperanças, da restrição aos direitos alcançados e
do pesadelo da volta do desemprego e da pobreza.
Referências:
ROCHA, Sonia. Pobreza no Brasil – A Evolução de Longo Prazo (1970-2011). XXV Fórum Nacional –
BNDES. RJ, 13-16 de maio de 2013. http://www.forumnacional.org.br/trf_arq.php?cod=EP04920
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2015/04/1612267-explicar-como.shtml
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular
do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de
Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:
jed_alves@yahoo.com.br
[cite]
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
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23/05/2022 17:35 A redução da pobreza no longo prazo no Brasil e sua possível reversão, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Muito esclarecedor,
Zilda
1- de que o PT e aliados querem aqui construir uma ditadura “comunista/bolivariana”. Ora, não é possível
que a incorporação de massas ao consumo possa desenhar um anticapitalismo; antes disso é a
confirmação da alta intensidade do capitalismo interno, tal qual disse André Singer (sonho
Rooseveltiano);
2 – de que as políticas anti cíclicas e de minoração da pobreza extrema não podem ser o caminho de um
país tão desigual e tão pouco o Estado pode toma-las como instrumento de necessidade. Está claro que
nos avanços que o artigo cita e que remonta a épocas (1970/80; 1993/2003; 2004/2011), foram produtos
de políticas estatais – mesmo que parcas ou capengas – e não subprodutos do mercado. Ainda aqui,
não foi citada a era Vargas que foi a abertura e a criação do estado brasileiro;
3 – de que o mercado gerencia e escolhe melhor os capacitados e que ele se regula por ele mesmo.
Outra falácia, ainda mais se tratando de Brasil, onde temos herança patrimonialista e o próprio
empresário, ávido de lucro e mal pagador de impostos, desanca a falar mal do governo mais não sai da
cola deste. É preciso de uma vez por todas abrir os ouvidos a idéias novas, mas no tempo exato, ou
seja, com sincronia e não depois de 5 ou 6 anos (há palestras no TED, canal americano de debates, bem
interessantes).
Por fim, acho o texto bom e faço dois senões a ele e são esses: a falta de percepção de que
principalmente aqui no Brasil o acesso a bens de consumo antes de ser uma conquista econômica, é sim
e mais que ;e mais que em outros países, uma luta de classes e uma guerra ideológica na primazia do
uso do espaço público e dos direitos fundamentais de cidadão (o comportamento de qualquer motorista
desde de sempre e mais agora, reforça isso). Renega-se a luta de classes em qualquer sociedade e traz
o incomodo do discurso de inculpabilidade da elite como vitimização. E outro ponto é a ocultação de
dados mundiais de aumento da desigualdade em contrapartida ao aumento da plutocracia (o chamado
1% mais rico), fazendo supor que o Brasil é uma ilha isolada da globalização.
Só no Bolsa Família que é um programa social que contribui para o combate à pobreza, beneficiavam 14
milhões de famílias, um pouco mais de 50 milhões de habitantes, 25% da população, em janeiro de
2015. Estas famílias viviam com uma renda mensal por pessoa de até R$ 77, ou até R$ 154 se com
menores a seu cuidado. Se estes rendimentos mensais não são considerados pobreza, estamos muito
mal em nossas políticas sociais e econômicas e em nossa maneira de pensar e agir para eliminar a
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pobreza neste Brasil.
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