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DECLARAÇÃO

Declaro que esta monografia é resultado da minha investigação e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.

Nelson Augusto Moamba

Maputo, aos ____ de ______________ de 2019


Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço á Deus que é o responsável máximo pela minha vida, e pelo meu
crescimento pessoal e profissional.

Aos meus pais, duas pessoas que desde os meus primeiros dias de vida, lutaram para que tivesse
a melhor educação possível. Ensinaram-me o valor da escolarização, orientaram e apoiaram-me
de todas as formas possíveis durante todo o meu processo estudantil. Agradeço a minha esposa
Sónia Mananze Moamba e ao Meu Filho Kendricky Moamba, pelo apoio incondicional.

Agradeço igualmente ao corpo docente da ESCOG pela atenção e dedicação que a mim foi
dispensada durante o curso, e pela forma como foi transmitido o conteúdo teórico e prático de
Economia.

A todos os Trabalhadores Informais por conta própria e a Moçambique Previdente pela


colaboração na prossecução da pesquisa.

Em particular, vai o meu maior e sincero agradecimento ao meu supervisor, Mestre. Edson Zeca
Garrine, por ter aceite partilhar comigo o seu conhecimento durante a execução das actividades e
na elaboração do trabalho, principalmente pela paciência e compreensão ao longo desse período.

A realização deste trabalho só foi possível com a contribuição incondicional de várias pessoas,
que directa ou indirectamente, deram o seu melhor para que o trabalho se realizasse. A estas
pessoas gostaria de manifestar a mais sincera e profunda gratidão.

Epígrafe
“O conhecimento e a informação são os recursos estratégicos para o desenvolvimento de
qualquer país. Os portadores desses recursos são as pessoas”

Peter Drucker

RESUMO
O presente trabalho pretende aferir as condições dos trabalhadores por conta própria em
Moçambique, para adesão do Sistema de Segurança Social, considerando que, estes têm
diferentes capacidades contribuitivas e que possuem mecanismos informais de protecção social.
Constitui objectivo fundamental deste estudo, colher evidência acerca do mecanismo ideal de
funcionamento do sistema de segurança social na perspectiva dos trabalhadores por conta
própria, e identificar exemplos internacionais de extensão da cobertura da segurança social que
possam inspirar Moçambique.
Para responder aos objectivos da pesquisa, foram inquiridos 20 trabalhadores por conta própria,
seleccionados aleatoriamente em Maputo, onde foram colectados dados secundários por via de
pesquisas bibliográficas e documentais.
As fontes atrás mencionadas, estas fontes serviram também para aferir o nível de avanço de
várias nações em relação à cobertura da segurança social, sendo que análise dos dados colectados
seguiu uma abordagem descritiva.
Os resultados da pesquisa indicam que os trabalhadores por conta própria estão dispostos a
aderir a segurança social, embora o grau de disposição varie em função do nível de rendimento,
género e faixa etária.

Palavras-chave: Segurança Social, Protecção Social, Sector Informal e Trabalhadores Por Conta
Própria,
ÍNDICE DE GRÁFICOS:

Gráfico 1. Esquema da Relação entre P.S e Crescimento Económico ---------------------------11

Gráfico 2: Estimativas da Cobertura da Segurança Social em Moçambique--------------------20

Gráfico 3: Disposição do Sector Informal para adesão a Segurança Social --------------------22

Gráfico 4: Distribuição das actividades económicas-----------------------------------------------30


INDICE DE TABELAS

Tabela 1: Projecções do Numero de Contribuintes e de Pensionistas de 2012- 2021---------19

Tabela 2: Sectores de Actividade no Sector Informal----------------------------------------------29

Tabela 4: Alguns Instrumentos Informais de Protecção Social-----------------------------------30


LISTA DE ABRREVIATURAS

AEIMO - Associação da Economia Informal de Moçambique

ASSOTSI - Associação dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal

DFID - Department for International Development – United Kingdom

ESWR - European Social Watch Report

FMI - Fundo Monetário Internacional

H1 – Hipótese 1

H2 – Hipótese 2

INE - Instituto Nacional de Estatística

INSS - Instituto Nacional de Segurança Social

OCDE - Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Económico

OIT - Organização Internacional do Trabalho

PEA - População Economicamente Activa

PS - Protecção Social

SIM – Seguradora Internacional de Moçambique

SS - Segurança Social

TCO - Trabalhador Por Conta de Outrem

TCP - Trabalhadores Por Conta Própria


Conteúdo
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................1
1.1 Problema.................................................................................................................................1
1.2 Objectivos do Trabalho...........................................................................................................2
1.2.1 Objectivo Geral...............................................................................................................2
1.2.2 Objectivos Específicos....................................................................................................2
1.3 Hipótese..................................................................................................................................2
1.4 Metodologia............................................................................................................................2
1.4.1 Estratégia e Método de Pesquisa e Unidade de Análise..................................................3
1.4.2 Caso de Estudo...............................................................................................................3
1.4.3 Estratégia de Recolha de Dados......................................................................................3
1.4.4 População e Amostra......................................................................................................3
1.4.5 Análise de dados.............................................................................................................4
1.5 Justificativa.............................................................................................................................4
2 REVISÃO DA LITERATURA......................................................................................................6
2.1 Protecção Social.....................................................................................................................6
2.2 Benefícios da Protecção Social...............................................................................................7
2.3 Instrumentos da Protecção Social...........................................................................................8
2.4 Componentes da Protecção Social..........................................................................................8
2.5 Segurança Social....................................................................................................................9
2.6 Objectivos da Segurança Social..............................................................................................9
2.7 Protecção Social e Redução da Pobreza..................................................................................9
2.8 Protecção Social e Crescimento Económico.........................................................................10
2.9 Cobertura do Sistema de Segurança Social no Mundo..........................................................11
2.10 Alternativas para o Alargamento da Cobertura da Protecção Social.....................................12
2.10.1 A extensão natural........................................................................................................12
2.11 Exemplos Internacionais de Expansão da Cobertura da Protecção Social e Boas Práticas. . .13
2.11.1 Tunísia..........................................................................................................................13
2.11.2 Brasil............................................................................................................................13
2.11.3 Cabo Verde...................................................................................................................14
3 PROTECÇÃO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE............................................................................15
3.1.1 O Direito á Protecção Social em Moçambique.............................................................15
3.1.2 Vulnerabilidade em Moçambique.................................................................................16
3.1.3 Componentes da Protecção Social Moçambicana.........................................................16
3.1.4 Fontes de Financiamento..............................................................................................17
3.2 Níveis de Cobertura do Sistema de Segurança Social Obrigatório Moçambicano................18
3.2.1 Primeira ilação..............................................................................................................19
3.2.2 Segurança Social Complementar..................................................................................20
4 ESTUDO DE CASO: MOÇAMBIQUE PREVIDENTE..............................................................22
5 SECTOR INFORMAL EM MOÇAMBIQUE..............................................................................23
5.1 Visão Geral da Economia Informal......................................................................................23
5.2 Sector Informal.....................................................................................................................23
5.2.1 Caracterização do Sector Informal Moçambicano........................................................23
5.2.2 Proporção de Pessoas no Sector Informal.....................................................................23
5.2.3 Determinantes Macro do Crescimento Económico Formal e Informal.........................24
5.2.4 Evolução do Sector Informal........................................................................................25
5.2.5 Faculdade de informalidade em Moçambique..............................................................26
5.2.6 Evolução temporal do Sector Informal em Moçambique..............................................28
5.3 Mecanismos Informais de Protecção Social..........................................................................29
6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA..............................................31
6.1 Distribuição dos Respondentes por Profissão.......................................................................31
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES....................................................................................33
7.1 Recomendações....................................................................................................................34
8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:........................................................................................35
8.1 Legislação.............................................................................................................................35
Anexo...................................................................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho intitulado “Extensão do Sistema de Segurança Social ao Sector


Informal”, é elaborado no âmbito do trabalho de final do curso para obtenção do grau de
licenciatura em Economia, na Escola Superior de Contabilidade e Gestão (ESCOG).

O sistema de segurança social1, é o mecanismo formal comummente usado pelos Estados para
assegurar os rendimentos das pessoas, e este, muita das vezes é baseado no sistema de pensões,
que por sua vez é fundamentalmente em descontos salariais Facto é que, em muitos países em
vias de desenvolvimento, e com pouca população com emprego formal, o que faz com que a
maioria da população seja excluída do sistema de segurança social, o que aumenta a sua
vulnerabilidade e deteriora as suas possibilidades de saírem da pobreza.

Há vários esforços por parte de muitos como Tunísia, Cabo-verde e Brasil, inclusive
Moçambique, no sentido de estenderem o sistema de segurança social para os trabalhadores por
conta própria. Apesar de que, em grande parte deles apenas existe a manifestação política do
desejo de extensão da segurança social.

Este trabalho pretende auxiliar a construir uma estratégia de extensão da segurança social ao
sector informal, através da oferta de evidências acerca das preferências dos trabalhadores por
conta própria em relação ao mecanismo ideal de contribuição e das taxas que estes estariam
dispostos a pagar. Visa de igual modo, despertar o sentido de urgência da extensão da cobertura
do sistema de segurança social, e inspirar outras abordagens teóricas a níveis mais altos sobre o
presente tema.

A analise feita demonstra como todos os mercados dos factores de produção (trabalho, capital e
terra) estão directamente relacionados com a problemática da protecção social, incluindo as
formas de mercado paralelo. Estas últimas, podem influenciar negativamente, tanto o mercado
formal como o mercado informal.

1
FRANCO MODIGLIANI 2005.

1
1.1 Problema
A protecção social e a Economia Informal determinam estruturalmente as estratégias dos
principais actores do desenvolvimento, tais meios podem ser relativamente efectivos, a curto e
médio prazo, mas não necessariamente sustentáveis a longo prazo e para o bem-estar, e
prosperidade da população em geral.

Assim, diante o exposto, surge a seguinte questão:

“Será que os mecanismos da protecção social às actividades informais complementam a


extensão da economia informal? E qual é o lugar da protecção social na economia informal?”

1.2 Objectivos do Trabalho

1.2.1 Objectivo Geral

Identificar o mecanismo ideal de funcionamento do sistema de segurança social na óptica do


sector informal e identificar exemplos de extensão da cobertura da segurança social a nível de
Moçambique.

1.2.2 Objectivos Específicos

 Avaliar o grau de importância da protecção social em Moçambique;


 Avaliar a efectividade de mecanismos informais de mitigação de riscos e protecção social
usados pelo sector informal em Moçambique.

2
1.3 Hipótese

H1: Instalar centros de atendimento nos mercados informais, de tal forma que a segurança
social esteja o mais próximo possível dos trabalhadores Independentes;

H1: incentivar o surgimento de novas modalidades de pagamento de pensões para populações de


baixo rendimento.

1.4 Metodologia

A metodologia usada na pesquisa baseou-se na recolha de artigos e documento na literatura


secundária relevante sobre o tema.

1.4.1 Estratégia e Método de Pesquisa e Unidade de Análise

A pesquisa é de natureza prática e seguiu uma abordagem mista (Quantitativa e qualitativa), com
principal enfâse para o quantitativo. Quanto ao procedimento, seguiu-se também uma abordagem
mista, associando-se a pesquisa bibliográfica á pesquisa documental, e pesquisa de campo, tendo
havido relativa equidade no uso das fontes acima referidas.

1.4.2 Caso de Estudo

O presente estudo, foi realizado com ajuda de Moçambique Previdente e Trabalhadores


Informais de Maputo, Bairro Magoanine CMC com base no anexo II pagina xx..

3
1.4.3 Estratégia de Recolha de Dados

a) Inquéritos

Foram inqueridos no total 20 trabalhadores informais entre os dias 15 e 19 de Agosto de 2019,


abrangendo-se os seguintes segmentos profissionais: comerciantes, pedreiros, carpinteiros,
serralheiros e pintores com objectivo de auferir a te que ponto eles estarão dispostos a contribuir
para segurança social.

b) Entrevistas

Havendo necessidade de colher percepções colectivas do sector informal acerca da segurança


social foram realizadas entrevistas agentes gestores da associação da economia informal, foi
também entrevistado um gestor de uma entidade privada de gestão de fundos de pensões,
Moçambique Previdente.

1.4.4 População e Amostra

A população considerada na nesta pesquisa é de vinte trabalhadores informais moçambicanos de


actividades lícitas da província de Maputo do Bairro de Magoanine CMC.

1.4.5 Análise de dados

Os dados obtidos nos inquéritos foram submetidos ao programa estatístico SPSS, para obtenção
de tabelas e para melhor compreensão das respostas dadas pelos inquiridos.

4
SPSS é um software aplicativo (programa de computador) do tipo científico. Originalmente, o
nome era Acrónimo de Statistical Packagefor the Social Sciences - pacote estatístico para as
ciências sociais. Este software é usado para transformar dados em informações. Um dos usos
importantes deste software é a pesquisa de mercado.

1.5 Justificativa

Populações de Países em vias de desenvolvimento, tem a particularidade de estarem sujeitas a


altos níveis de vulnerabilidade devido a variedade de riscos à que estes estão expostos2, pelo que
se releva o bem-estar social e redução da pobreza 3. O governo de Moçambique reconhece o
papel do Sector informal, tendo criado o Fundo de Investimento a Iniciativas para o
financiamento de projectos de geração de renda, empreendedorismo, produção de alimentos. E é
nesta perspectiva sendo o sector informal de extrema importância surge a questão de
compreender com profundidade o contributo deste, pelo facto do comércio informal contribuir
significativamente para reduzir a pobreza e o desemprego a partir de criação de novas
oportunidades para geração de renda, e consequentemente para a criação da riqueza. É também
pertinente porque irá se enquadrar dentro das abordagens que dominam a actualidade sobre
geração de auto emprego ou empreendedorismo, desenvolvimento local no período em estudo e
em particular no Mercado bairro Magoanine B.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2
Henning, Karl (2012) The Effect of Microinsurance on Informal Risk Management in Solidarity Networks,
University of Twente, Acessado em 02 de Julho de 2015;
3
Maluleque, Benigna Ernesto (2015) Papel do Comercio Informal no Desenvolvimento Local
5
2.1 Protecção Social

A Segurança Social, no seu conceito formal faz parte de um conjunto de sistemas de um Estado
que tem como ponto fulcral a Protecção Social, pelo que antes de se discorrer sobre a Segurança
Social, importa de antemão contextualizar no largo pacote em que ela faz parte a Protecção
Social.
Por sua natureza, a protecção social, pode significar diferentes coisas dependendo das
pessoas/organismos. Dentre os organismos que mais debatem sua conceptualização destacam-se
as agências de ajuda ao desenvolvimento, a OIT, Órgãos Estatais Centrais e organismos Estatais
cuja protecção social é de sua incumbência ou escopo de actividade.

Para a OIT (2012)4:

Define a protecção social como sendo a provisão de benefícios á agregados


familiares e a indivíduos para protege-los contra a deterioração dos seus padrões de
vida, através de arranjos públicos e ou colectivos.

O Banco Mundial (2001)5:

Define a protecção social como sendo um conjunto de medidas tomadas com vista a
melhoria e ou protecção das condições do capital humano. Estas medidas podem ser
intervenções no mercado laboral, e pagamento de prestações pecuniárias e não
pecuniárias. As intervenções referidas apoiam indivíduos, agregados familiares e as
comunidades a gerirem melhor os riscos que as deixam mais vulneráveis.

O DfID (2006)6:
Outro grupo de ajuda ao desenvolvimento conceptualiza a protecção social como
sendo um conjunto de acções empenhadas por entidades Estatais, privadas e pela
sociedade civil, que permitem a grupos vulneráveis lhe darem com maior
efectividade com riscos e mudanças adversas como desemprego ou idade adulta, e a
reduzir os níveis de pobreza extrema e crónica á que os beneficiários estão expostos.

ABREU (2007), num estudo sobre a realidade na África Ocidental, WEBSTER E FILDLER
(1996):

4
OIT (2014), Extension of Social Protection, Geneva
5
Banco Mundial (2001), Dynamic Risk Management and the Poor: Developing a Social Protection Strategy for
Africa, Africa Region Human Development Department, The World Bank
6
DFID (2006), Social Protection, Briefing Note Series, number 1, London
6
Definem o sector informal como sendo: As pequeníssimas empresas, tipicamente as
que empregam 10 ou menos trabalhadores, a vasta maioria das quais são empresas
singulares com um reduzido número de assalariados.

NAVALHA (2000) citado por DE ABREU (2007):


Define sector informal como sendo o segmento da economia onde ocorre a
prática de actividades legalmente permitidas ou pelo menos não expressamente
proibidas por lei, mas que para além de não estarem registadas, quer para fins
tributários oficiais, como para efeitos de cadastro comercial, estão fora das
estatísticas oficiais do país.

Por seu turno, TANZI (1982) Citado por de ABREU (2007):


Define sector informal como sendo o produto nacional bruto que, por causa da sua
não declaração ou declaração abaixo da realidade, não é medido pelas estatísticas
oficias.

Segundo (FELICIANO, 2004):


O conceito de economia informal deveria ser entendido como todo o conjunto de
actividades e práticas económicas legais realizadas por agentes económicos total ou
parcialmente ilegais.

Para OIT:
o conceito de economia informal contempla todas as actividades económicas de
trabalhadores e unidades económicas que não estão cobertas pela legislação ou pela
prática pelas disposições oficiais que as enquadram, regulamentam e disciplinam;
estão excluídas do seu campo, as actividades ilícitas, delituosas e criminosas (tráfico
de armas e droga, contrabando, entre outros).

2.2 Benefícios da Protecção Social

Segundo a OIT (2012), O Investimento em P.S serve como um instrumento de política que
através da melhoria da capacidade de resiliência das pessoas contra diversas adversidades,
incluindo do mercado do Trabalho serve como um instrumento para:
7
 Redução da pobreza;
 Redução das desigualdades sociais;
 Redução da exclusão e insegurança social;
 Apoio na transição do emprego informal para o formal; e
 Estabilização automática da economia em tempos de crise.

2.3 Instrumentos da Protecção Social

A P.S como se pode subentender pelos conceitos apresentados, é executada de diversas formas,
conforme principalmente o tipo de instituição que a executa e o tipo de programa de protecção
social.
Um estudo sobre a protecção social do departamento de Politicas do Parlamento Europeu, sobre
o tema: Feasibility of social protection Schemes in Developing contries5, lista como sendo
instrumentos de protecção social, os seguintes:

 Transferências monetárias (podem tomar a designação de pensões)


 Transferências em espécie
 Programa de trabalhos públicos
 Instrumentos de política fiscal e tributária
 Politicas activas de mercado de trabalho

Em todo o mundo são geralmente esses os instrumentos usados pelas instituições para prover a
assistência social as populações vulneráveis e assegurar rendimentos e padrões de vida.

2.4 Componentes da Protecção Social

Fala-se da protecção social como um sistema, logo, está implícito que ela é composta de mais de
um elemento. A pergunta que se coloca a seguir é: Que componentes são esses? Oduro (2010)
8
Lista como sendo os componentes da protecção social a Segurança Social, a Assistência Social e
Serviços Socias. Quase todos os sistemas de protecção social no mundo, são desenhados
tomando em conta pelo menos uma dessas componentes.
Onde a Assistência Social corresponde um conjunto de transferências fiduciárias ou em espécie,
com vista a apoiar diferentes grupos vulneráveis contra choques de diversa ordem.

Os Serviços Socias compreendem um conjunto de serviços, geralmente saúde e educação, com


vista a garantir que até as pessoas mais desfavorecidas tenham acesso á eles. Os Serviços socias
são também usados como um mecanismo de redistribuição de rendimentos.

E Segurança Social corresponde um conjunto de medidas levadas a cabo pelo Estado com vista a
assegurar que trabalhadores assalariados mantenham o padrão de vida mesmo depois da idade
adulta, ou em caso de terem algum incidente que lhes retire a habilidade produtiva.

Esta última, a segurança social, é que é o objecto de estudo desta pesquisa, é esta componente,
que se pretende estudar a sua extensão ao sector informal.

2.5 Segurança Social

Definida e contextualizada a segurança social, pode-se dizer que estão estabelecidas as balizas
para começar-se a discorrer sobre ela. Na perspectiva de saber-se quais é que são os seus
objectivos, como é que ela funciona, e quais é que são os seus impactos na vida das pessoas.

2.6 Objectivos da Segurança Social

BARR (2002) identifica como sendo os grandes objectivos da Segurança social, os seguintes:
 Prevenção do individuo contra o seu empobrecimento na sua fase idosa;
 Permitir aos indivíduos a redistribuição de rendimentos ao longo do seu ciclo de vida;

9
 Seguro contra a possibilidade de morte do individuo antes da sua esperança de vida;
 Manutenção da estabilidade do consumo e redução da pobreza

2.7 Protecção Social e Redução da Pobreza

Para perceber a relação entre a protecção social e o objectivo de redução da pobreza, é crucial
primeiro definir a Pobreza.
Pobreza é comumente definida como sendo a incapacidade e ou falta de oportunidades por parte
de um indivíduo ou um grupo de indivíduos, de prover a si próprio os meios indispensáveis para
o seu bem-estar.

Como referenciado na contextualização teórica da protecção social, ela visa garantir a grupos
vulneráveis que estes tenham condições básicas para a sua sobrevivência. Está aqui implícito que
a protecção social visa 1: Evitar com que pessoas entrem na situação de pobreza, e 2: Fazer com
que pessoas saiam da pobreza. Daí a estrita relação entre a P.S e os objectivos de redução da
pobreza.

Actuando de forma preventiva, a P.S pode reduzir a vulnerabilidade das populações a choques,
prevenindo as populações não pobres de caírem na pobreza e evitando com que as chances dos
pobres de saírem da pobreza sejam reduzidas. (ESWR, 2010)

Segundo a OCDE (2010), transferências fiduciárias ou em espécie que actuem directamente e


impactem de forma positiva na saúde de crianças, nas suas condições nutricionais e educacionais
criam impactos de longo prazo na produtividade e consequentemente na melhoria das
possibilidades de geração de rendimento, e por via disso, se pode conseguir quebrar o ciclo
vicioso da pobreza.

Há registrados na história, programas de protecção Social que tiveram impactos grandes na


redução da pobreza, como é o caso do programa brasileiro Bolsa Família. Mais exemplos serão
expostos em secções posteriores.

10
2.8 Protecção Social e Crescimento Económico

Evidências indicam que as transferências efectuadas para as populações são gastos maior parte
delas a nível local, o que ajuda a estimular a demanda e consequentemente estimular o
investimento com a pretensão de expandir a oferta.

Por outro lado, há evidencias que relatam que parte das transferências recebidas pelas populações
vulneráveis são investidas, as famílias usam as transferências recebidas para criar e desenvolver
negócios, o que também tem impactos na expansão da economia.

Do lado da Segurança Social, segundo AMARAL ET AL. (2004), As contribuições pagas pelos
trabalhadores irão aumentar dessa forma a poupança interna. Dada a proporcionalidade directa
entre esta variável e o investimento, o investimento cresce e verifica-se um crescimento da
economia.

A protecção social pode também, sobretudo em países desenvolvidos, influenciar o


comportamento dos trabalhadores em relação a alocação do seu tempo de trabalho, pode também
servir como um mecanismo para minimização do impacto de crises.

Gráfico 21: Esquema da Relação entre P.S e Crescimento Económico

Crescimento
Económico

Aumento do
Investimento
Criação de Um Fundo de
Pensões
Aumento da Poupança 11
Interna
Protecção Social
Aumento do Consumo Local
Fonte: Adaptação do Autor com base em AMARAL ET AL (2004)

2.9 Cobertura do Sistema de Segurança Social no Mundo

Segundo CORREA ET ALL (2011), a nível mundial, apenas uma em cinco pessoas despõe de
uma cobertura adequada de segurança social. Isto dá-nos á partida a indicação de que no geral os
níveis de exclusão dos sistemas de segurança social são muito altos. É factor determinante da
exclusão o facto de muitos dos sistemas de segurança social basearem-se no sistema de pensões,
em que são recolhidos descontos regulares nos salários de trabalhadores (designando-se os
trabalhadores por contribuintes) e depois investidos e pagos a pensionistas (designando-se estes
por beneficiários).
A exclusão de trabalhadores do sistema de segurança social é particularmente gritante em países
em vias de desenvolvimento, onde os níveis de informalidade das economias são altos.

Isso faz com que muitos governos falhem em cumprir o seu compromisso de assegurar o direito
a protecção social plasmado em suas constituições. O que lhes pressiona a tomar medidas com
vista a reverter o cenário de exclusão.

Outra pressão para reversão dos cenários, em alguns casos, é a imposição de agências de ajuda
externa a países em vias de desenvolvimento, de tomarem acções concretas com vista a reduzir
os níveis de exclusão dos cidadãos dos sistemas de segurança social, como um dos requisitos
para aceder á ajuda em diferentes contextos.

12
2.10 Alternativas para o Alargamento da Cobertura da Protecção Social

A literatura discute mais a extensão do sistema de segurança social como fonte de alargamento
da cobertura da segurança social, ela é sim uma fonte hegemónica, mas não é a única. E apoiar-
se só nela para atingir esse objectivo reduz bastante as possibilidades de se alcançar o objectivo,
dados os constrangimentos dos países em termos de receitas para implementar mecanismos de
extensão ao sector informal.

2.10.1 A extensão natural

Há tempos, acreditava-se que o alargamento da cobertura da protecção social haveria de


acontecer naturalmente com o crescimento económico. Pelo que vários países principalmente os
em desenvolvimento, assentaram nessa crença e ficaram a espera que isso acontecesse. Verifica-
se no entanto que isso jamais acontece.
A hipótese da extensão natural é considerada praticamente infecunda nos países em vias de
desenvolvimento, uma vez que implica ou a formalização do sector informal, ou a migração de
trabalhadores independentes para o sector formal e há muitas barreiras estruturais para que isso
não aconteça.

A OIT (2013), propõe como opções estratégicas para o alargamento da cobertura da protecção
social, as seguintes:

 Alargamento dos regimes de segurança social


 Incentivo ao surgimento e crescimento de Micro Seguros
 Introdução de prestações ou serviços Universais financiados pelas receitas gerais do
Estado
 Estabelecimento ou alargamento das prestações ou serviços submetidos a condição de
recurso e financiados pelas receitas gerais do Estado.

13
2.11 Exemplos Internacionais de Expansão da Cobertura da Protecção Social e
Boas Práticas

Nos últimos 15 anos, um grande número de países em desenvolvimento tem tomado a dianteira
no concernente a acções concretas com vista ao alargamento da protecção social, e com especial
enfase para a segurança social. A OIT (2014) estima que cerca de 30 países em desenvolvimento
tem vindo a registar grandes avanços.

Dentre países que estão na dianteira, COREA ET ALL (2011), destacam a Tunísia, o Brasil,
Uruguai, Filipinas e Egipto. A esta lista também se pode somar o Cabo Verde que tem vindo a
registar avanços assinaláveis.

2.11.1 Tunísia

A Tunísia é dos Países Africanos que mais sucesso tem vindo a ter no concernente ao
alargamento da cobertura do seu sistema de protecção social á população como um todo.
Cuidados de Saúde, Pensões de Velhice, Prestações de Maternidade e Acidentes de Trabalho são
os serviços socias e prestações cuja a expansão aumentou consideravelmente. (COREA, ET
ALL,2011)

Ainda Segundo CORREA ET ALL (2011) em 10 anos, a percentagem de trabalhadores e suas


famílias abrangidos no sistema de segurança social passou de 60% a 84%. Sendo que quase a
totalidade de cidadãos nacionais dos sectores Públicos e Privados não agrícola estão já cobertos.
No concernente aos trabalhadores por conta própria, a taxa é inferior a 50% mas mesmo assim já
é bastante alta se comparada com a de outros países em desenvolvimento.

14
2.11.2 Brasil

Brasil é um país referência no concernente á expansão da protecção social, na América Latina e


no mundo como um todo. Dentre os seus programas de maior impacto destacam-se o Bolsa
Família7, com uma abrangência mensal de cerca de 14 milhões de Agregados familiares.
Somam-se á este programa reformas de alto impacto. No Brasil, para além de trabalhadores por
conta própria podem também filiar-se e contribuir as donas de casa, trabalhadores domésticos, os
estudantes maiores de 16 anos de idade, os reclusos e os desempregados.

O sistema de segurança social do Brasil está estruturado em três regimes, nomeadamente: o


Regime Geral de Previdência Social, que é gerido pelo Instituto Nacional de Segurança Social, o
Regime de Previdência Social dos Funcionários Públicos e o Regime de Previdência
Complementar.

2.11.3 Cabo Verde

Cabo Verde é um dos países de referência em Africa na temática da extensão da cobertura da SS


e da PS como um todo. Segundo o Departamento da Protecção Social da (OIT), mais de 90% dos
Idosos em Cabo Verde Recebe pensões. A Representação de uma duplicação da cobertura em
menos de 10 anos.
Os beneficiários dessas pensões recebem em média mensalmente USD 65, o que representa 20%
mais em relação á linha da pobreza. Essas prestações, destinam-se a idosos não cobertos por
nenhum sistema de segurança Social e que tenham rendimentos abaixo da linha nacional de
pobreza.

7
A Bolsa Família é um programa brasileiro que objectiva minimizar a incidência da pobreza, fundamentalmente
através da transferência de prestações fiduciárias á todos os Agregados familiares com rendimento per capita
Mensal inferior a R$ 77, o aproximadamente á 900MT/mês
15
3 PROTECÇÃO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE

A lei Moçambicana através do decreto nº 4/2007 sobre a protecção social, de 7 de Fevereiro,


define a PS como sendo um sistema dotado de meios aptos à satisfação de necessidades sociais,
obedecendo à repartição dos rendimentos no quadro da solidariedade entre os membros da
sociedade

O mesmo decreto define o objectivo da Protecção Social em Moçambique como sendo o de:

̏ Atenuar, na medida das condições económicas do país, as situações de pobreza absoluta


das populações, garantir a subsistência dos trabalhadores nas situações de falta ou
diminuição de capacidade para o trabalho, bem como dos familiares sobreviventes em caso
de morte dos referidos trabalhadores e conferir condições suplementares de sobrevivência.˝
(Artigo nº 2, decreto nº 4/2007)

3.1.1 O Direito á Protecção Social em Moçambique

O Direito á Protecção Social é previsto antes de mais a nível internacional através da declaração
Universal dos Direitos do Homem

16
(Carta de Declaração dos Direitos do Homem, 1948), diz:

“Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais
indispensáveis, graças ao esforço Nacional e à cooperação internacional, de harmonia com
a organização e os recursos de cada país.”
A Nível de Moçambique, o direito á protecção Social é previso segundo QUIVE E PATRÍCIO
(2005) Citados por FRANCISCO E PAULO (2006), desde a época colonial. Segundo estes
autores, este direito foi instituído através de um regulamento ultramarino da fazenda, em 1901 e
eram beneficiários deste, os funcionários portugueses residentes em Moçambique e
moçambicanos assimilados.

Ainda segundo QUIVE E PATRÍCIO este direito a protecção social excluía os trabalhadores
moçambicanos não assimilados, alegando os colonos que estes estariam cobertos pelos
mecanismos de protecção informais da família alargada.

No período Pós Independência, questões relativas a direitos de protecção social estão previstas
desde a primeira constituição de 1975, e foram sendo aprimoradas em cada uma das
constituições posteriores.

No ano 1988, foram aprovadas pelo conselho coordenador do Ministério do Trabalho as medidas
transitórias de segurança social, as quais visavam minorar a situação de ausência de um
instrumento base vinculado para os trabalhadores assalariados. O Conselho de Ministros através
do decreto nº 17/88 de 27 de Dezembro, no nº 1 criou o Instituto Nacional de Segurança Social
(INSS), como instituição gestora do regime de segurança social. (FRANCISCO E PAULO,
2006).

O Direito á protecção social dos trabalhadores em especial é previsto pela Lei de Trabalho, Lei
nº 23/2007 de 1 de Agosto, segundo a qual: Todos os trabalhadores têm direito à segurança
social, à medida das condições e possibilidades financeiras do desenvolvimento da economia
nacional.

Demais regulamentos foram sendo aprovados na perspectiva de o Estado cada vez mais fazer
valer o direito á protecção social das populações.

17
Mais desenvolvimentos sobre os direitos á protecção social, hão-de merecer maior profundidade
em outros campos científicos.

3.1.2 Vulnerabilidade em Moçambique

A definição de grupos vulneráveis vaira de Nação para Nação, em Moçambique são


considerados como vulneráveis os seguintes grupos:

 Crianças Órfãs;
 Idosos;
 Deficientes.

3.1.3 Componentes da Protecção Social Moçambicana

A Lei Moçambicana que rege a protecção Social, Lei 4/2007, divide o sistema de segurança
social em três níveis, nomeadamente: Segurança Social Básica, Segurança Social Obrigatória e
Segurança Social Complementar.

3.1.3.1 Segurança Social Básica

É a que visa prevenir situações de carência, bem como a integração social através da protecção
especial a grupos mais vulneráveis. A protecção social básica tem como fundamento a
solidariedade nacional, reflecte características distributivas e é essencialmente financiada pelo
Orçamento do Estado, contribuições, donativos, doações ou subsídios de entidades públicas ou
privadas nacionais ou estrangeiras. São grupos alvo: crianças em situação de orfandade, pessoas
em idade adulta, deficientes em situação de pobreza extrema.
A Segurança Social básica cobre cerca de 450 mil agregados familiares em Moçambique, sendo
que cerca de 360 mil AFs deste grupo são cobertos através do subsídio social básico.

3.1.3.2 Segurança Social Obrigatória

18
A Segurança Social Obrigatória é a que se destina a trabalhadores assalariados do sector público
e privado e trabalhadores por conta própria15 ou suas famílias com o objectivo de protege-los
nas situações de falta ou diminuição das suas capacidades de produção, maternidade, velhice e
morte (LEI DO TRABALHO: LEI Nº 23/2007 DE 1 DE AGOSTO).
A segurança social em Moçambique, destinada a trabalhadores privados por conta de outrem e
por conta própria e é gerida pelo Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), sobre tutela do
Ministério do Trabalho. E a S.S dos trabalhadores do Aparelho do Estado é tutelada pelo
Ministério do Trabalho. Os trabalhadores do Banco de Moçambique têm um sistema de
segurança social tutelado pelo próprio BdM e gerido por uma entidade autónoma de designação
Kuhanha.
Este sistema funciona através de descontos mensais nos salários dos funcionários em alusão. Os
descontos realizados alimentam um fundo, que vai designar-se fundo de pensões. E este fundo
será repartido em duas partes, uma para o financiamento das pensões de antigos contribuintes ou
seus familiares e a outra parte do fundo é destinada a investimentos no sentido de gerar
rendimentos aos activos do fundo.
Está explicito na presente lei que os trabalhadores por conta própria para alem de terem direito a
segurança social, eles tem a obrigação de efectuar descontos para assegurarem os seus
rendimentos. Mas essa obrigação não está a ser cumprida e nem exigida, uma vez não estarem
definidos pelos organismos na incumbência, os mecanismos pelos quais o TCP ira efectuar os
descontos.

3.1.4 Fontes de Financiamento

Diferentemente da Acção Social e dos Serviços Socias, a segurança Social, especificamente em


Moçambique é um sistema contributivo, isso quer dizer: o seguro social é financiado pelos
próprios beneficiários. Pela natureza dos sistemas de segurança Social, hão de haver mecanismos
adicionais de financia-lo. Passa-se a seguir a apresentar as diferentes formas de financiamento
dos Serviços Sociais em Moçambique:
a) As contribuições dos trabalhadores por conta de outrem e das respectivas entidades
empregadoras inscritas na Segurança Social Obrigatória;

b) As contribuições dos trabalhadores por conta própria (Não efectivo);

c) Os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de contribuições;

19
d) As multas por infracções as disposições legais;

e) Os rendimentos produzidos pelos investimentos;

f) As transferências do Estado e de outras entidades públicas ou privadas;

g) As transferências de organismos estrangeiros;

h) As comparticipações previstas na lei;

i) Os donativos, legalmente permitidos.

3.2 Níveis de Cobertura do Sistema de Segurança Social Obrigatório


Moçambicano

Quando se fala de Cobertura do sistema de segurança social, dois aspectos se podem levantar em
conta:

(i) a cobertura actual do sistema, o que nos pode permitir saber quantas pessoas estão a
ser beneficiadas pelo sistema e quantas poderão ser beneficiadas em caso de
necessitarem, e
(ii) (ii) qual é que será a capacidade do sistema de SS de prover as devidas prestações aos
seus beneficiários a médio e longo prazo.

A tabela abaixo apresentada, fornece-nos a projecção8 do número de contribuintes e do número


de pensionistas de 2012 á 2021.

Tabela 1: Projecções do Numero de Contribuintes e de Pensionistas de 2012- 2021


8
A projecção foi realizada tomando como base o ano de 2018
20
Ano Número Número de Pensionistas Número Rácio
de total de Contribuinte
Velhice Invalidez Sobrevivência
Contribuin Pensionista s/Pensionista
tes s s
2012 312 465 17 891 1 473 22 443 41 807 7,5
2013 322 570 18 991 1 644 25 924 46 558 6,9
2014 333 020 20 562 1 837 29 640 52 039 6,4
2012 312 465 17 891 1 473 22 443 41 807 7,5
2015 345 802 22 609 2 044 33 602 58 256 5,9
2016 354 928 25 107 2 262 37 852 65 221 5,4
2017 366 669 27 808 2 490 42 442 72 739 5,0
2018 378 321 31 527 2 725 47 385 81 637 4,6
2019 390 632 35 572 2 968 52 659 91 200 4,3
2020 403 612 39 916 3 219 58 219 101 354 4,0
2021 417 330 44 510 3 476 64 066 112 052 3,7

Fonte: Relatório ao Governo da Revisão Actuarial do Sistema Nacional de Segurança Social em


31 de Dezembro de 2011.

Com base nos dados acima apresentados, podem – se tirar pelo menos duas principais ilações, e
passam-se a apresentar:

3.2.1 Primeira ilação

Para o ano de 2015, estimam-se cerca de 345 mil contribuintes, valor este que está muito abaixo
do número de pessoas em idade activa, que é estimado em cerca de 11 milhões de habitantes.
Com base nesses dados os níveis de exclusão do sistema de segurança social se podem estimar
em mais de 95%. O INSS estima uma percentagem de apenas 2.3% de cobertura do sistema de
segurança social, pelo que se pode dizer que Moçambique está muito aquém dos níveis de
inclusão estimados em 10% para África

.
21
Gráfico 2: Estimativas da Cobertura da Segurança Social em Moçambique

1600000
1400000
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0
1 5
1 5)
20 20
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l aç er
o
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Po N

Fonte: Adaptação do Autor com base em dados do INFOR- INE (2015)

Segunda Ilação

Á medida que o tempo for passando, estima-se que o número de pensionistas vai crescendo á
taxas maiores que o número de contribuintes, o que dá indicação de insustentabilidade do
sistema. Um sistema de protecção social é tao sustentável quanto as contribuições vão superando
as pensões pagas. No inico do período (2012) 7,5 pessoas financiavam um pensionista, estima-se
que em 2071 um pensionista seja financiado por apenas 1 pessoa. De forma a melhorar a
sustentabilidade do fundo de pensões da INSS dentre várias medidas a OIT propõe que se faça
uma subida gradual da taxa de contribuição9.

9
Ao comparar-se a taxa de contribuição para o INSS em Moçambique (7%) com a de outros países com base em
dados do KPMG (2012), conclui-se que ela é muito inferior as praticados por outros países, tanto em vias de
22
3.2.2 Segurança Social Complementar

Destina-se a fornecer mecanismos adicionais de segurança social aos trabalhadores assalariados


ou por conta própria e suas famílias, complementando de modo facultativo as prestações
concedidas no âmbito da segurança social obrigatória.
A segurança social complementar está ainda a ser desenhada pelo governo, mas há já entidades
privadas a oferecem serviços no âmbito da segurança social complementar.

No contexto das acções estratégicas do Governo Moçambicano, com vista a extensão da


cobertura da segurança social, foi publicado no Boletim da República Número 32 o decreto
25/2005 e o regulamento de constituição e Gestão de fundos de Pensões.

Nesta tónica, abriu-se espaço para o surgimento de entidades vocacionadas a prestação de


serviços de constituição e gestão de fundo de pensões, tendo sido constituída e registada em
2012 a Moçambique Previdente Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, com a tipologia de
Sociedade Anonima.

desenvolvimento, como desenvolvidos


23
24
4 ESTUDO DE CASO: MOÇAMBIQUE PREVIDENTE

A Moçambique Previdente é a primeira empresa moçambicana a dedicar-se exclusivamente a


gestão de fundos de pensões. O serviço de gestão de fundos de pensões era já feito por pelo
menos duas instituições em Moçambique, nomeadamente a Global Alliance, a Nico vida, mas
nenhuma delas está vocacionada exclusivamente á prestação deste serviço, prestam-no apenas
como um serviço complementar.

A Moçambique Previdente inicia as suas actividades em 2013, com três (3) fundos de Pensões
em sua carteira, de três instituições, nomeadamente: A Petromoc S.A, a Aeroportos de
Moçambique E.P e a Inagrico, Ld.

4.1.1.1 Serviços da Moçambique Previdente

 Estratégia e Concepção de Fundos de Pensões


 Estruturação Técnica e Aprovação junto do regulador
 Angariação de contribuintes e participantes
 Investimento e Gestão dos activos dos fundos
 Gestão de Pagamentos e Beneficiários
 Consultoria Actuarial e Financeira

Actualmente o público-alvo da Moçambique Previdente são pessoas colectivas, mais


concretamente empresas participadas pelo Estado, Empresas Públicas e Privadas. Sendo que seus
principais clientes são empresas públicas e participadas pelo Estado.

A Moçambique Previdente projecta para os tempos futuros criar soluções de pensões para
particulares inclusive trabalhadores por conta própria. Sendo que está a meio passo desse
objectivo, estando actualmente a realizar estudos na perspectiva de criar soluções ajustadas as
características de trabalhadores por conta própria.

25
5 SECTOR INFORMAL EM MOÇAMBIQUE

5.1 Visão Geral da Economia Informal

Nas últimas duas décadas, Moçambique tem registado taxas de crescimento económico recorde
de, em média, 7,5% do PIB. No entanto, este crescimento, é impulsionado pelos sectores
extractivos de capital intensivo, mas não se traduziu em oportunidades de trabalho digno para a
maior parte da população. Mais de metade dos moçambicanos vive abaixo da linha de pobreza
nacional (INQUÉRITO SOBRE ORÇAMENTO FAMILIAR - IOF 2008/2009) e as taxas de
pobreza estagnaram na última década (ROSS ET AL. 2014).

5.2 Sector Informal

Para este trabalho, será usada como base a definição que nos é apresentada por NAVALHA
(2000), segundo a qual Sector Informal é o segmento da economia onde ocorre a prática de
actividades legalmente permitidas ou pelo menos não expressamente proibidas por lei, mas que
para alem de não estarem registadas, quer para fins tributários oficias, como para efeitos de
cadastro comercial, estão fora das estatísticas oficias do país.

5.2.1 Caracterização do Sector Informal Moçambicano

26
A Informalidade em Moçambique é grande, são várias pessoas singulares e colectivas, que
vivem a margem da economia formal, o que tende a piorar com o aumento desproporcional da
população laboral em relação a postos de trabalho e com o aumento da migração rural-urbana.

5.2.2 Proporção de Pessoas no Sector Informal

O INE (2006), estima cerca de 7.6 milhões 10 de pessoas actuando no sector informal o que perfaz
mais de 80% da PEA de Moçambique. Volta de 11% está ocupada no sector formal, deste grupo
parte considerável tem ocupação secundária no sector informal. Esses dados dão uma visão
panorâmica acerca do sector informal Moçambicano.

Estimativas recentes da proporção do sector informal no PIB são quase inexistentes e imprecisas.
Segundo SCHNEIDER EM 2002/2003 a economia informal tem a media quase metade da
produção de Moçambique. Essa proporção não dista muita da média dos países da região, como
indica a tabela abaixo. Os dados são desactualizados mas assume-se uteis para a análise que se
pretende fazer.

O Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento estima que a economia informal contribua


para 40% do PIB. Não existem, contudo, dados actualizados, nacionalmente representativos e
pormenorizados sobre a economia informal.

Gráfico3. Disposição do Sector Informal para adesão a Segurança Social

10
Dos quais 4.5 Milhões são mulheres e 3.1 Milhões são homens
27
120%

100%

80%

Proteção Social
60%
Informalidade
População
40%

20%

População
0%
Informalidade
2017
2016 Proteção Social
2015
2014

Fonte: Elaborado pelo autor- Nelson Moamba, 2019

Fonte: Adaptado de SCHENEIDER (2004)

5.2.3 Determinantes Macro do Crescimento Económico Formal e Informal

A referência designada por determinantes macros do crescimento económico e da informalidade,


é importante para efeitos de conclusões e recomendações, sobretudo para evitar cair-se na
tendência de reduzir a análise da problemática da informalidade e dos mecanismos de protecção
social ao voluntarismo e livre arbítrio dos indivíduos e das famílias. Existem factores sociais e
institucionais de natureza e dimensão macro, como por exemplo, a inflação, os juros, a
tecnologia, tipo de instituições públicas, regulamentação, entre outros, que no seu conjunto têm
impacto, positivo ou negativo, na informalidade e na protecção social. Especificamente, a
questão da informalidade e protecção social, talvez o ponto mais importante a reter das
considerações anteriores, sobre as reformas, globalização e abertura à economia internacional, é
devida ao tipo de instituições, ou regras de jogo, estabelecidas e dominantes na sociedade
28
moçambicana, nas décadas passadas. A perspectiva defendida nesta monografia, é que a maior
ou menor informalidade extralegal resulta, por um lado, das barreiras que dificultam ou impedem
as pessoas de exercer com eficácia e eficiência as suas actividades económicas, com vista a
melhorarem o seu bem-estar e aumentarem a sua protecção social. Por outro lado, a
informalidade ilegítima deriva da fraqueza e dificuldade das instituições, em impor uma
legalidade eficiente através dum combate explícito à impunidade, anti-social e prejudicial para a
protecção social economicamente estável e saudável para a sociedade em geral.

5.2.4 Evolução do Sector Informal

Segundo de ABREU (2007), a alta dimensão do sector informal em Países africanos, deve-se ao
facto de os principais insumos produtivos, como sejam o trabalho e o capital serem muito
escassos no continente.

A massa laboral possui níveis de instrução baixos e as instituições são poucas, fazendo com que
os níveis de emprego formais sejam baixos, e a alternativa mais próxima á essas pessoas tornou-
se o sector informal.

Os pilares para o surgimento da Economia Informal Moçambicana, foram implantados a quando


da colonização pelo colonial Português. O Sistema de colonização implementado não permitia
uma rápida assimilação dos moçambicanos, e a pouca que houve apenas foi dinamizada nas
ultimas duas décadas do período colonial, portanto, durante muito tempo a população ficou
quase que privada de crescimento técnico e intelectual, o que é elucidado pelos altos índices de
analfabetismo que o país registou nos seus primeiros anos de Independência.

Com o plano de reabilitação económica, liberalização dos preços e entrada para a economia do
mercado, o sector empresarial foi se desenvolvendo, mas não a níveis suficientes para gerar
emprego que chegasse, e como agravante muitas empresas Estatais haviam e continuavam a
encerrar devido a várias limitações, incluindo falta de mão-de-obra qualificada.

A economia de mercado encontrou muitos moçambicanos em contramão, os baixos níveis de


capacitação de muitos deles e os altos índices de pobreza que se verificavam nesses tempos
levaram a que muitos moçambicanos criam-se mecanismos de sobrevivência á margem da
economia formal. A economia informal disparou, e vem crescendo de forma continua.

29
5.2.5 Faculdade de informalidade em Moçambique

Em Moçambique, a questão do informal é debatida em público, a reacção imediata é negativa,


pois a conotação é vista como práticas eminentemente ilegais ou mesmo criminosas. A exemplo
da definição de economia informal, (acima referida), em que se associa a informalidade a
ilegalidade.

Muitos economistas e a sociedade civil, concordariam com a abordagem de custo e benefício da


informalidade, com a diferença que esta conseguiu granjear enorme aceitabilidade social em
Moçambique e, até mesmo as formas eminentemente delituosas e ilícitas, praticadas por privados
ou representantes das instituições públicas, têm beneficiado de admirável impunidade. O que
torna difícil este debate sobre informalidade é o mercado paralelo resultante da adaptação da
fraca definição de direitos de propriedade, elevadas taxas de impostos e regulamentação
opressiva, que mistura com o mercado paralelo ligado ao crime organizado, ao contrabando
explicitamente danoso, ou mesmo ao roubo e tráfico de diversas mercadorias ou mesmo de
influências, para fins lesivos ao bem público.

5.2.5.1 Âmbito da economia informal

O Inquérito Nacional ao Sector Informal (INFOR), realizado em 2004, definiu um quadro


conceptual para a recolha de dados sobre a informalidade. Este quadro foi posteriormente
integrado no Inquérito Contínuo aos Agregados Familiares (INCAF), realizado em 2014/2015.
Nenhum destes inquéritos fornece, contudo, dados adequados sobre o âmbito da economia
informal. É possível extrapolar, a partir dos dados que mais de 80% dos agregados familiares
exercem a sua actividade económica principal na economia informal. No entanto, a inadequação
das definições e categorias utilizadas, aliada ao enfoque no chefe do agregado familiar, impede
os inquéritos aos agregados familiares de captar a heterogeneidade e o espectro global das
relações de emprego, bem como a multiplicidade de fontes de rendimento familiar. Para captar a
natureza e a composição da economia informal em Moçambique, será necessário realizar
inquéritos à força de trabalho.

30
5.2.5.2 Visão Geral do Mercado De Trabalho

O desemprego, o subemprego e a pobreza activa são três factores que contribuem para a
persistência de elevadas taxas de pobreza e para o crescimento da desigualdade. A taxa de
desemprego nacional flutua entre 22% e 27%, sendo as mulheres e os jovens das áreas urbanas
os mais afectados. Calcula-se que a economia formal gere 700 000 empregos, no entanto, a
maior parte da força de trabalho, aproximadamente 11 milhões de trabalhadores, vê-se forçada a
procurar a sua subsistência numa multiplicidade de actividades da chamada economia informal.
A Figura 1 ilustra a distribuição das actividades económicas dos chefes dos agregados familiares
de áreas urbanas e rurais (IOF 2014/2015). Verifica-se que, mesmo em centros urbanos, a vasta
maioria dos moçambicanos exerce actividades de sobrevivência, como trabalhadores por conta
própria sem empregados ou como trabalhadores familiares sem remuneração. A Figura 2 ilustra
a representação desproporcionadamente elevada das mulheres em sectores de baixos salários.

Gráfico 4: Distribuição das actividades económicas

Administração
pública
15%

Empresas privadas
23% Cooperativa,
instituição sem fins
lucrativos, outras
1%
Conta própria sem Empresa publica
empregados 2%
48% Trabalho em Casa
particular
4%
conta propria com
funcionarios
6%

Fonte: Autor, Nelson Moamba, 2019

31
5.2.6 Evolução temporal do Sector Informal em Moçambique

A alta dimensão do sector informal em Países africanos, deve-se ao facto de os principais


insumos produtivos, como sejam o trabalho e o capital serem muito escassos no continente.
Os pilares para o surgimento da Economia Informal Moçambicana, foram implantados a quando
da colonização pelo jugo colonial Português. O Sistema de colonização implementado não
permitia uma rápida assimilação dos moçambicanos, e a pouca que houve apenas foi dinamizada
nas ultimas duas décadas do período colonial, portanto, durante muito tempo a população ficou
quase que privada de crescimento técnico e intelectual, o que é elucidado pelos altos índices de
analfabetismo que o país registou nos seus primeiros anos de Independência.

Com a Independência, Moçambicanos adquiriram o direito de exploração dos seus factores de


produção, e fora escolhido pelo Governo vigente a orientação Socialista, cenário que vigorou até
aos anos 80. Período a partir do qual passou a vigorar a economia do mercado. Durante o período
de orientação socialista a distribuição de produtos de consumo era feita pelo Estado, e de forma
não eficiente, os níveis de fome e pobreza dispararam, e como válvula de escape foram surgindo
mecanismos marginais de comercialização dos Produtos.

Com o plano de reabilitação económica, liberalização dos preços e entrada para a economia do
mercado, o sector empresarial foi se desenvolvendo, mas não a níveis suficientes para gerar
emprego que chegasse, e como agravante muitas empresas Estatais haviam e continuavam a
encerrar devido a várias limitações, incluindo falta de mão-de-obra qualificada.

A economia de mercado encontrou muitos moçambicanos em contramão, os baixos níveis de


capacitação de muitos deles e os altos índices de pobreza que se verificavam nesses tempos
levaram a que muitos moçambicanos criam-se mecanismos de sobrevivência á margem da
economia formal. A economia informal disparou, e vem crescendo de forma continua.

Devido a características próprias da Informalidade, é complexo medir com razoabilidade o sector


informal, muitas vezes ele é muito superior ao que se consegue medir. Com base na definição
base do sector informal, podem-se listar as seguintes actividades como sendo parte do sector
informal:

32
Tabela 2: Sectores de Actividade no Sector Informal

Categoria Subdivisões

Comercio Ambulante
Comercio Retalhista
Comércio
Comercio Grossita
Construção
Pintura
Reparação de veículos
Prestação de Serviços Cuidados de Beleza (Barbearia)
Confeição de Alimentos
Fabrico de Bebidas Alcoólicas Tradicionais
Fabrico de Mobiliário
Indústria Fabrico de Instrumentos domésticos Metálicos
Soldadura

Fonte: elaborado pelo Autor Nelson Moamba, 2019

Estimativas do INE indicam que o sector informal é responsável pelo emprego de quase 90% da
População Moçambicana economicamente activa.

Pela sua natureza o sector informal moçambicano é composto de pessoas que na sua maioria
recorrem ao sector informal para reduzirem os seus níveis de pobreza e vulnerabilidade, e não
necessariamente para gerar riqueza. Pelo que este sector é o espelho da vulnerabilidade e da
pobreza da maioria dos Moçambicanos, e é justamente á este grupo a quem os mecanismos de
segurança Social menos existem.

5.3 Mecanismos Informais de Protecção Social

33
Como referido em capítulos anteriores, o problema da fraca cobertura da segurança Social e da
protecção social é um problema comum em todos os países em vias de Desenvolvimento,
embora alguns deles tenham dado passos significativos rumo a uma maior inclusão.

Na ausência de mecanismos formais de protecção social, as populações foram construindo


próprios mecanismos de protecção social, colectivos e individuas de origem e admiração local.
Baseados fundamentalmente nos princípios de solidariedade social. A família alargada é
considerada a instituição informal de primeira instância no concernente á garantia da Segurança
Social.

Mecanismos informais de PS são arranjos e acções levadas a cabo por qualquer individuo ou
grupos de indivíduos não guiadas por regulamentos e instrumentos legais sem necessariamente
serem contra essas leis e regulamentações com o objectivo de protegerem-se contra riscos de
diversas ordens.

Para efeitos deste estudo, consideram-se mecanismos informais de protecção social, todos
aqueles instrumentos usados pelas populações para se protegerem contra os diferentes choques e
vulnerabilidades á que estão expostos.

Tabela 3: Alguns Instrumentos Informais de Protecção Social

Denominação Região Natureza e Características


ou
Província

Xitique / Stiqui Sul e Mais conhecido como uma forma de poupança e crédito
Centro informal, que não inclui o conceito de juros.

Kurhimela Gaza Normalmente, trata-se de trabalho realizado em actividades


agrícolas (lavoura, sacha, sementeira, colheita, etc.) em que um

34
indivíduo necessitando de fontes de rendimentos ofereça sua
mão-de-obra a outrem.

Thôthôtho Nampula Actividade em que um indivíduo ou agregado familiar,


necessitando de mão-de-obra nas suas machambas, convida
pessoas da comunidade a apoiarem tendo como recompensa a
oferta de uma refeição conjunta e bebida.

Fonte: Lido e adaptado em FRANCISCO E PAULO, (2006)

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

No total foram inqueridos 20 Trabalhadores por conta própria em Maputo, bairro de Magoanine
CMC, sendo que 14 são homens com profissões de indicadas na Tabela 3 Sectores de Actividade
no Sector Informal na pagina 29 e 6 mulheres no comercio. A Amostra foi seleccionada
aleatoriamente, tendo sido realizados os inquéritos no dia 15 á 19 de Setembro.

Profissão Média de Rendimento-lucro/mês

♀ /♂
Homens 14 9.000,00 MT
Mulheres 06 7.500,00MT
Total 20 16.500,00MT

6.1 Distribuição dos Respondentes por Profissão

Profissão Homem Mulher %


3 0 15%
Pedreiros
2 0 10%
Serralheiros
1 0 05%
Canalizador
3 0 15%
Carpinteiro
2 0 10%
Mecânico
1 0 05%
35
Electricista
1 0 05%
Pintor
1 4 25%
Cabeleireiros
0 2 10%
Vendedeiras a
Retalhos
14 06
Total 100%

Inqueridos com níveis de Rendimento entre 5.000 MT e 10.000 MT

Entre os trabalhadores com níveis de rendimento entre 5 000 MT e os 10 000MT, 75%


manifestou disposição para pagar até 500 MT, e outros 25% manifestou disposição para pagar
contribuições mensais até 1 000 MT.

Motivos Apresentados para adesão da Segurança Social

Quase metade dos trabalhadores que respondeu que haveria de aderir á Segurança Social referiu
que o faria para ter um pacote completo de benéficos, isto é, pensões quando atingirem a idade
adulta que, assistência alimentícia, educacional e de saúde para si e para seus dependentes em
caso de algum acidente de trabalho que lhes impedisse de trabalhar. Do grupo de respondentes
que apenas escolheu um benefício associado a sua contribuição, foram mais preferenciadas em
primeiro a assistência alimentícia em caso de acidente de trabalho, em segundo a assistência
educacional, e em terceiro assistência médica. Isto quer dizer que aos nem todos os trabalhadores
informais dispostos a contribuir far-lho-ão para obter pensões na reforma, alguns farão descontos
tendo como principal objectivo precaver-se de riscos de perda de rendimento eminentes á todo o
momento, como acidentes, incêndios, e mais.

36
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Realizado o estudo, conclui-se que a segurança social é de extrema importância e relevância para
o progresso de qualquer nação, dados os seus efeitos positivos na redução da pobreza, na
promoção do crescimento económico e na melhoria da distribuição de rendimentos, e como
resultado, na promoção de um maior desenvolvimento económico.
Embora a segurança social figure tão importante e tenha essa importância reconhecida pelos
países em vias de desenvolvimento os seus níveis de cobertura são muito baixos nesses países,
concorrendo para isso o facto de ela apenas cobrir os trabalhadores assalariados, enquanto a
maior parte dos trabalhadores está no sector informal e não é assalariada.
O sector informal moçambicano é absoluto e relativamente grande se comparado com o sector
formal, este alberga cerca de 80% da população economicamente activa, e tem uma
representatividade estimada de cerca de 40% no PIB.
Os efeitos da exclusão da população economicamente activa são grandes, e são ainda mais
intensos devido ao facto de os mecanismos informais de protecção social serem pouco e cada vez
menos efectivos, e a enfraquecerem-se. Dentre os principais mecanismos destacam-se o xitique,
embora o xitique esteja a ser usado cada vez menos como instrumento de seguro social.
Os trabalhadores do sector informal afirmam estarem dispostos a aderir ao sistema de Segurança
Social ao ser estendido a eles, e clamam para que a extensão aconteça e com urgência, pelo que
se conclui que é de muita relevância e de muita urgência que Moçambique comece a
desempenhar acções concretas com vista alargar a cobertura da segurança social.
Conclui-se também que o sistema actual de segurança social moçambicano não é sustentável, a
capacidade das contribuições em financiar as pensões tende a reduzir ano á ano.

37
Deve-se acautelar na extensão da cobertura da segurança social ao sector informal que os
benefícios, as contribuições e mecanismos operacionais sejam contextualizados as condições
económicas e características próprias dos rendimentos dos trabalhadores por conta própria.
A maioria dos trabalhadores por conta própria prefere efectuar os pagamentos das contribuições
via banco o que lhes garante que os custos das contribuições sejam minimizados. Os benéficos
associados a essas contribuições preferenciados pelos trabalhadores por conta própria são
assistência alimentícia e educacional em caso de acidentes de trabalho.

7.1 Recomendações

A falta de uma política e de uma estratégia de segurança social e uma das causas da baixa
cobertura da segurança social. Moçambique apenas reconhece o direito á segurança social, mas
não tem definido como este direito será materializado, que incentivos serão concedidos para
outras entidades promoverem a segurança social, pelo que, é urgente desenhar uma política e
uma estratégia de segurança social onde se irá prever de forma clara e objectiva as diferentes
acções, responsabilidades, a serem tomadas com vista a aumentar a cobertura do seguro social
Recomenda-se que acções com vista a extensão da cobertura da segurança social sejam
realizadas em estreita coordenação com o sector informal, que é o principal público-alvo, de
forma a desenhar se um modelo que esteja à medida deste sector e que desse modo seja um
modelo efectivo.
Recomenda-se o INSS a incorporar uma terceira pessoa, que esteja em representação ao sector
informal, de forma á que a coordenação com o sector informal no decorrer da extensão da
cobertura seja máxima.
Deve-se considerar a hipótese de instalar centros de atendimento nos mercados informais, de tal
forma que a segurança social esteja o mais próximo possível dos trabalhadores Independentes.
Recomenda-se que se inicie uma campanha cívica para sensibilização de todos os trabalhadores
acerca dos benéficos da segurança social básica e da segurança Social complementar. De forma a
aumentar a aderência das pessoas colectivas e singulares a segurança social, e de forma a
consciencializar

38
8 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 HENNING, KARL (2012) The Effect of Microinsurance on Informal Risk Management


in Solidarity Networks, University of Twente, Acessado em 02 de Julho de 2015;

 AMARAL, (2004). Fundos de pensão como formadores de poupança interna: uma


alternativa para o financiamento da actividade económica. Revista de Administração
Contemporânea, Visitado em Agosto de 2015;

 DE ABREU, P. ANTÓNIO (2007), Sector Informal, Microfinanças e Empresariado


Nacional em Moçambique;

 QUIVE, SAMUEL (2007), Protecção Social em Moçambique: Uma rede furada de


protecção social;

 ESWR - European Social Watch Report (2010), Time for Action: Responding to Poverty,
Social Exclusion and Inequality in Europe

8.1 Legislação

 Constituição da Republica, 2018


 Boletim da Republica, I Serie, nº6, Decreto nº 4/2007 de 7 de Fevereiro: Lei de Base da
Protecção Social;
 Boletim da Republica, I Serie, nº 49, Decreto nº 6/2009 de 14 de Dezembro: Lei que
aprova a criação do Fundo de Pensões do Banco de Moçambique

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WWW.INSS.CO.MZ, a cessado em 08 de Agosto de 2019

Anexo

Anexo I: Disposição dos Trabalhadores Por Conta Própria de Aderência a Segurança


Social

  Disposições para Contribuições

Menos de 500 Entre 500 Entre 1000 Entre 1500


MT MT e 1000 MT e 1500 MT e 2500
MT MT MT
Entre 1000 e 1500 MT 67% 17% 0% 0%
Entre 1500 e 2500MT 88% 0% 0% 0%
Rendimento

Entre 2500 a 3500MT 43% 29% 0% 14%


Entre 3500 MT e 5000 40% 40% 20% 0%
MT
Entre 5000 MT e 7000 13% 25% 13% 13%
MT
Entre 7000 MT e 0% 50% 0% 0%
10000 MT

40
Anexo II

Inquérito a Trabalhadores por conta própria

Código do Inquérito: ________ Número do Inquérito _______

Bom dia/boa tarde, chamo-me ……, Estou a realizar uma pesquisa sobre a Segurança Social, com
o objectivo de identificar até que ponto trabalhadores por conta própria estariam dispostos a
descontar parte do seu salário mensalmente para assegurar que quando não poderem trabalhar
recebam pensões e mantenham a qualidade de vida que tinham antes. Não tenho Nenhum
Agradecimento directo pela suas respostas, mas você poderá beneficiar-se das mudanças que os
resultados desse estudo podem eventualmente criar.

Identificação do Respondente

1 Nome_________________________________________________

2 Género M F

3 Profissão do Respondente: (ex: comerciante) R:___________________________

4. Faixa Etária

Entre 15- 20 Anos Entre 21 – 25 Anos Entre 26 – 30 Anos

Entre 30 – 40 Anos Entre 41 – 50 Anos Entre 51 – 60 Anos

5. Estado Civil: Solteiro Casado Vive maritalmente

6. Quantos membros da sua Casa/família dependem de si ? R: _____

7. Possui outra fonte de rendimento para além desta? SIM Não

Alguma vez sofreu algum acidente que lhe impediu de trabalhar por mais de 1 mês?

41
Resposta: SIM NÃO

9. Consegue viver bem através deste trabalho que realiza? SIM NÃO Um pouco

10. Participa de algum grupo de Poupança e Crédito? SIM Não

11. Se sim, qual? R______________________

12. Quanto contribui?

Menos de 500 MT Entre 500 MT e 1,000 MT

Entre 1,000 MT e 1,500 MT Entre 1,500MT e 2,500 MT

Entre 2,500 MT e 3,500 MT Entre 3,500 MT e 5,000 MT

13. Se aparecesse alguém de confiança e lhe cobrasse em cada mês uma parte do seu
rendimento mensal para depois em caso de você não poder mais trabalhar ele lhe pagar
metade ou todo o valor que você ganhava com o seu trabalho, você aceitaria?

Resposta: SIM NÃO

14. Se esse alguém fosse o ESTADO, Você aceitaria?

Resposta: SIM NÃO

15. Se esse alguém fosse uma empresa privada, Você aceitaria?

Resposta: SIM NÃO

16. Em caso dele(a) ter respondido SIM, na pergunta 20, ou 21, quanto é que estaria
desposto a contribuir mensalmente?

Menos de 500 MT Entre 500 e 1,000 MT

Entre 1,000 MT e 1,500 MT Entre 1,500 e 2,500 MT

Entre 2,500 MT e 3,500 MT Entre 3,500 MT e 5,000 MT


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17. Qual das seguintes formas de contribuição você iria preferir?

Pagamento da contribuição via Banco……………………………

Pagamento da contribuição via MKESH/MPESA……….……….

Ir pessoalmente pagar na instituição………………………….……

A instituição vir até a mim para recolher o valor……………..............

Outro (Especificar) ___________________________________

18. Você iria fazer essas contribuições Mensais para receber quais das seguintes
assistências:

(Respostas múltiplas)

Pensão na Reforma ………………………………………………………………..

Assistência Medica em caso de Acidente de Trabalho …………………………..

Assistência na Educação dos Filhos em caso de Acidente de Trabalho………….

Assistência Alimentícia em Caso de Acidente de Trabalho ……………….……..

Pensão para os familiares que dependem de mim …………………………………

Todas acima ………………………………………………………………………..

19. Já ouviu falar do INSTITUTO NACIONAL DE SEGURANÇA SOCIAL (INSS)?

Resposta SIM NÃO

29. Se a resposta for SIM, acha que essa instituição realmente ajuda aos aposentados e os
trabalhadores que contraem acidentes de trabalho?

Resposta SIM NÃO NÃO SABE

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30. Você seria capaz de confiar nessa instituição? SIM NÃO NÃO SABE

31. Se não, PORQUE? ________________________________________________________

31. Tem alguma mensagem que gostaria de dar para a Instituição responsável por garantir
a Segurança Social? Se sim, qual?
__________________________________________________

Chegamos ao Fim do Nosso Inquérito. Muito Obrigado pelo tempo disponibilizado, e pelas
respostas concedidas.

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