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Felipe de Mello Grafulha

Jogos nas Escolas: Encontros e Desencontros na Busca por outras


Perspectivas Pedagógicas da Educação Física nas Escolas de Rio Grande- RS.

Rio Grande

Novembro de 2017
Felipe de Mello Grafulha

Jogos nas Escolas: Encontros e Desencontros na Busca por outras


Perspectivas Pedagógicas da Educação Física nas Escolas de Rio Grande- RS.

Trabalho de Conclusão de curso de


Licenciatura em Educação Física da
Universidade Federal do Rio Grande-RS,
como requisito para a obtenção do título de
Licenciado em Educação Física.
Orientadora: Prof. Dra. Mirela Valério.

Rio Grande

Novembro de 2017
AGRADECIMENTOS
Passados quatro anos, divididos entre as demais obrigações da vida e ao Curso de
Educação Física, chego próximo ao meu intento final: minha formatura. Nesse
instante faço uma retrospectiva e vejo que não foi em vão minha luta, minhas
correrias, minhas horas de muito estudo, minha vida pessoal praticamente
paralisada, enfim, todas as minhas renúncias. Seria injusto esquecer que foi graças
a algumas pessoas que isso se tornou realidade. A começar pelo meu primo
Guilherme, ah! esse, nem sabe, não tem noção do quanto  foi peça importante no
suporte que me deu nos assuntos pertinentes à informática, me conduzindo, ainda,
através do lazer proporcionado pela arte de se fazer música - ou tentar pelo menos-
refiro-me aos descompassos e as notas erradas que sempre viram deboches e
muitas gargalhadas, valeu meu Baterista! Minha gratidão à minha mãe Lúcia, que na
medida do possível,  apesar da distância, foi mola propulsora nessa caminhada,
onde os obstáculos que se fizeram presente foram superados graças a seus
conselhos e incentivos. Agradeço também as palavras de incentivo vindas dos meus
irmãos Fernando, Paulo, Bernardo e Flávia junto, aquelas transmitidas pelas
amizades de infância e das nascidas na academia. Faço aqui, uma  lembrança em
especial ao meu pai Paulo R. Grafulha (in memorium) o qual tenho certeza, que esta
num lugar especial, observando com orgulho e carinho os passos dos seus quatro
filhos. GRATIDÃO eterna a minha vó Lurdes, que esteve mais próximo de mim do
que qualquer outra pessoa, entendendo meus dilemas e conflitos, lutando junto
comigo ao se sacrificar várias vezes em prol da conquista de uma graduação
sonhada por mim, desde muito cedo. Este título passa a ser ainda mais grandioso
quando o dedico a Sra. Dona Lurdes, por saber da tua grandeza e do amor que tens
por tudo que considero mais importante, que é a nossa família. Lembro que a luz
que promoveu o clareamento dos caminhos que me trouxeram até aqui, partiram da
dedicação e carinho disparados pela minha orientadora de estágio Prof. Dra. Roseli
Belmonte e da minha orientadora deste trabalho final, Prof. Dra. Mirela Valério que
fez com que tudo isso acontecesse, por ter aceitado o pedido de orientação e ter tido
paciência durante os vários dias de atendimentos que foram importantes para o meu
crescimento profissional e humano, mostrando-me que a produção do conhecimento
é a pavimentação do caminho para a realização dos nossos sonhos.
RESUMO:
Este Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade
Federal do Rio Grande-FURG, aborda os jogos competitivos e cooperativos desenvolvidos na
Educação Física escolar. Diante da consolidação dos esportes dentro da atmosfera escolar,
procurou- se verificar a possibilidade de outras perspectivas voltadas ao conteúdo dos jogos
nas aulas de E.F. Ao tentar promover o encontro dos estudantes a outras formas de sentir e
fazer Educação Física (EF), os Jogos e Brincadeiras Cooperativas, não só foram bem
aceitos como passaram a despertar outras atitudes favoráveis ao convívio e ao
aprendizado dos 24 alunos pertencentes ao sexto ano do ensino fundamental de
uma escola municipal localizada na cidade do Rio Grande-RS. A pesquisa ação de
cunho qualitativo foi realizada durante as 20 horas da disciplina do Estágio
Supervisionado III. O desenvolvimento das aulas se deu na quadra poliesportiva da
escola, contando com o suporte de materiais da mesma. O professor estagiário
seguiu seu planejamento de ensino apresentando dois formatos amplos de jogos
para cada dia de aula. De modo teórico e prático, através da alternância dos jogos, a
primeira parte da aula era composta por um jogo tradicional ou recriado no formato
competitivo. Após algumas observações e o diálogo com a turma, dava-se início ao
jogo cooperativo com um formato similar, porém com regras que favorecessem
outros conceitos e habilidades em seus participantes. Para a coleta dos dados, fez-
se uso de um diário da EF, devendo cada aluno apontar suas impressões sobre os
jogos no final de cada aula. Ao procurar realizar uma releitura da realidade, parti da
identificação dos apontamentos sugeridos por teóricos dos jogos cooperativos como
Orlik(1989), Brotto(1999), Darido(2005) e Correia (2006). As informações foram
processadas, valorizando a escrita original, resguardando a identidade de cada
aluno, identificando-os através da letra A e seu respectivo número ordenado pelo
pesquisador.

Palavras chaves: Educação Física, Jogos Competitivos, Jogos Cooperativos.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2. OBJETIVOS.........................................................................................................4

2.1 Objetivo geral................................................................................................4

2.2 Objetivos específicos................................................................................5

3. REFERÊNCIAL TEÓRICO...................................................................................5

4. CAMINHOS PERCORRIDOS............................................................................10

5. SOBREPONDO TIJOLOS.................................................................................14

5.1. Ao Prazer de se Jogar...............................................................................22

5.2. Buscando sua Interação........................................................................31

5.3. Quanto a Socialização............................................................................35

5.4. Em Relação à Afetividade......................................................................41

5.5. Onde Chegamos?...................................................................................48

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................51

7. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................53
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1. INTRODUÇÃO:
Ao longo dos anos, a Educação Física (EF) vem sendo discutida por sua
comunidade científica, através dos seus inúmeros debates realizados em Fóruns e
Congressos, permitindo analisar de forma ampla e profunda suas atribuições à área
educacional. Graças a esses vários momentos, houve um aumento significativo na
produção de livros e artigos que tratam das diversas e renovadas abordagens
pedagógicas voltadas para as aulas da EF, apontando um universo de
possibilidades no desenvolvimento dos seus conteúdos a serem aplicados na
escola.
Frente às várias teorias debatidas desde a década de 80, a aplicação de
algumas destas abordagens como, a Construtivista, a Desenvolvimentista, a
Psicomotora entre outras, sinalizam a superação de um modelo ou cartilha de
operações tradicionais de aulas, pautadas por um viés Militarista, Higienistas e
Tecnicista que formaram os pilares da EF desde o seu surgimento no Brasil. Essa
variedade de abordagens permite a EF, ampliar o diálogo e as suas relações com
uma variedade de temas que compreendem os mais distintos contextos escolares.
Diante destes múltiplos caminhos, o professor de EF, faz deste leque de
possibilidades, infinitos meios de despertar o envolvimento e o saber dos seus
alunos, principalmente quando valoriza a busca pelo conhecimento através da
cultura do movimento humano em suas aulas. Cultura essa que abrange diversos
conteúdos como os jogos, esportes, ginásticas, lutas e outros, os quais devem estar
presentes nas escolas de modo a possibilitar a identificação e a aproximação destes
alunos com o saber.
Se num passado não muito distante, as aulas de EF pautavam-se pelo seu
esportivismo, compreendendo-o como ideia de desenvolvimento e prosperidade da
nação dependendo, única e exclusivamente do rendimento, da vitória e da busca
pelo hábil e mais forte, fez do esporte ainda, um elemento de distração à realidade
política da época, direcionando também a EF, uma formação da mão de obra apta
para a produção, ao destacar a tradição mecanicista de movimento.
Vejo que atualmente, ao primar pela formação de um corpo moderno diante
da sua essência biológica, tecnicista e esportiva, a EF parece continuar a
desenvolver suas práticas pedagógicas num mesmo sentido e caminho voltadas a
outras épocas.
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Dessa forma, e não raras vezes, o conteúdo do esporte continua sendo


protagonistas da nossa educação ao proporcionar o encontro dos seus praticantes
aos seus desejos e prazeres, ocasionando também o desencontro de outros, ao
envolvê-los através dos seus mecanismos de sistematização, homogeneizando seus
comportamentos e atitudes. Assim, suas particularidades e diferentes habilidades
em relação aos demais indivíduos envoltos nesse processo educacional, parecem
ainda reprimir e limitar seus sentimentos, interesses e sua participação pela busca
do conhecimento.
Outro aspecto característico nas aulas que priorizam o aprendizado pautado
pela aptidão física e sua reprodução do movimento, é que o aluno aprende muito
mais a jogar contra o seu adversário e não com o seu companheiro, levando o não
se importar com as diferentes condições dos demais colegas, tidos como
descoordenados ou lentos, gerando a frustação e a exclusão daqueles que
gostariam de fazer parte do jogo.
Assim, entendo que o conteúdo dos jogos constituem- se, ainda, não só como
um conteúdo da Educação Física escolar, mas também, como um artefato cultural
da nossa sociedade. Deles, se ressaltam sentidos em torno do competir e do
cooperar, ambos necessários à formação dos processos sociais agindo como
elementos que alimentam não só os próprios jogos, mas também os esportes e a
vida.
Ao atuar no chão da escola desde o início de minha graduação, venho
realizando projetos voltados aos jogos cooperativos em algumas escolas periféricas
espalhadas pela cidade e em torno da própria universidade. Próximo ao universo
pedagógico voltado as aulas de EF no ensino fundamental, junto a crianças de cinco
a doze anos, participei de Projetos como: Mais Educação, e outros relacionados à
extensão e pesquisas de campo, voltadas acessibilidade nas aulas de EF, ambos
realizados nos anos de 2014/15, somando- se, ainda, as experiências obtidas nos
Estágios Obrigatórios realizados em 2016/17, alcançando várias escolas municipais
e estaduais.
Diante dessas vivências, permaneço a observar um ponto ainda muito comum
o qual marcou no passado minha trajetória como aluno de uma escola deste
município, e que também vem atravessando a presente formação dos alunos destas
escolas, conduzindo-os por um caminho único, pautado pelo conteúdo dos Esportes
dentro da sua atmosfera de aprendizado. Ao serem envoltos, somente por essa
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prática, muitos são levados a distanciarem de seus colegas graças ao


comportamento agressivo, prejudicando a interação e a socialização em prol de uma
amplitude maior dos seus laços afetivos.
A riqueza existente no conteúdo dos jogos e brincadeiras pode vir a
possibilitar o resgate outras maneiras de se alcançar a formação dos alunos que
ainda consideram as aulas de EF como fundamentais ao seu desenvolvimento.
Ao buscar ressignificar a realidade posta em prática nas aulas
tradicionalmente oferecidas, os alunos têm a oportunidade de ampliarem seus
olhares sobre seus gestos e atitudes expostos diante dos seus relacionamentos,
enriquecendo seu aprendizado de modo a problematizarem constantemente o saber
envolto à competição e à cooperação.
Para isso, pensei ser possível fazer com que estes alunos enxergassem
outras formas de se fazer EF através da aplicação dos jogos competitivos e
cooperativos, onde junto a uma pesquisa ação de cunho qualitativo, pudesse
estimular e analisar a produção de outros meios relacionados às práticas
pedagógicas trabalhadas no Estágio Supervisionado III, envolvendo uma turma com
24 alunos.
Nesse sentido, Orlik(1989), Brotto(1999), Darido(2005) e Correia (2006) entre
outros autores apontam a necessidade da ampliação do diálogo que cerque a
individualidade excessiva e demais valores relacionados a liberdade dos gestos, a
não agressividade, a solidariedade, o prazer pelo jogo e o respeito aos limites e
habilidades individuais.
Isto me levou a iniciar um trabalho através de um problema de pesquisa que
me respondesse se seria possível, verificar a possibilidade de os Jogos e
Brincadeiras Cooperativas quando apresentados alternadamente e em oposição aos
Jogos Competitivos, despertarem outras atitudes e comportamentos favoráveis a
socialização e aprendizado dos alunos pertencentes ao sexto ano do ensino
fundamental de uma escola municipal de Rio Grande.
Diante das diferentes formas de pensar e se movimentar do aluno, a EF deve
possibilitar a compreensão dos seus gestos e habilidades disponibilizando o
reconhecido através da abrangência encontrada na cultura do movimento humano.
Ao fazer de um dos seus conteúdos a base desta pesquisa, os jogos podem vir a
compreender a ampliação do repertório do aluno, direcionando o seu
desenvolvimento social, afetivo através da sua interação pelo prazer de se aprender
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jogando, nesse sentido Correia (2006) afirma que “A Educação Física deve basear-
se na reflexão e construção de um projeto político pedagógico, utilizando como
conteúdos expressões da cultura corporal como: o jogo, a ginástica, o esporte e a
capoeira (p.35).”
Tendo como referência o conceito de jogos cooperativos, Orlik(1989),
Brotto(2002) e Darido(2005) nos convidam a refletir sobre os demais conteúdos
compreendidos no fazer pedagógico da EF junto as relações dos jogos quando se
procura despertar algo a mais nas aulas de EF referente ao comportamento dos
alunos diante do perder e do ganhar.
Freire (2009) nos chama para a possibilidade de presenciarmos uma distinta,
porém, importante abordagem pedagógica inserida numa concepção de “Educação
Física de Corpo Inteiro”, onde o aluno poderá ter a oportunidade de aprimorar seus
gestos e habilidades durante o jogo brincado, ajudando-o a compreender a
construção do seu saber através de outros valores e conceitos.
Diante do contexto encontrado em algumas escolas e da potencialidade da
EF frente a sua riqueza de abordagens e conteúdos, além de promover uma reflexão
sobre as aulas de EF, esta pesquisa propôs verificar a aceitação por outros formatos
de jogos e brincadeiras cooperativas junto à análise dos comportamentos de seus
praticantes ao competirem e ao cooperarem.
O intuito não é fazer dos jogos cooperativos uma forma de condenar a
competição e, sim, resgatar a importância de um outro conteúdo voltado aos jogos
que, também, possa conquistar os olhares dos alunos, sendo sua prática possível
para todos, facilitando não só e seu convívio social como favorecendo a integração
do aluno à própria iniciação ao esporte.
Dessa forma, acredito que se possa ampliar a discussões sobre outras
propostas de práticas pedagógicas para a EF, partindo pela promoção do equilíbrio
dos jogos competitivos e cooperativos, fortalecendo a possibilidade de se ampliar
outras perspectivas de aulas em nossas mais diversas escolas.
2. OBJETIVOS:
2.1 Objetivo geral:
Verificar a aceitação e o envolvimento dos alunos do sexto ano do ensino
fundamental de uma escola municipal de Rio Grande- RS, em relação aos Jogos
Competitivos e Jogos Cooperativos em suas aulas de EF.
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2.2 Objetivos específicos:


Desenvolver o despertar do prazer pelo aprendizado através da sua
interação com seus colegas e com o jogo.
Promover o equilíbrio entre os jogos e a ampliação da socialização e
afetividade entre os alunos.

3. REFERÊNCIAL TEÓRICO:
Frente ao panorama de formação competitivo encontrado nas aulas de EF, o
conteúdo do esporte mantém suas bases consolidadas nas práticas escolares
graças à identificação cultural de seus praticantes, sendo também um importante
caminho ao desenvolvimento do aluno, quando desperta o prazer, a alegria e o
conhecimento de seus jogadores.
Porém, nota-se que alguns de seus valores passam a ser distorcidos quando
o sentido dado a sua prática consolida o individualismo incessante, a corrida
desenfreada para atingir o sucesso, justificando a necessidade da competição para
que aluno aprenda desde cedo a sobreviver e alcançar seu espaço no mercado,
mostrando o preço por se viver num regime de sociedade a qual consideramos
moderna. Nesse sentido Bracht (1999) aponta em seu artigo intitulado: A
Constituição das Teorias Pedagógicas da Educação Física, que “A construção da
sociedade moderna e seu potencial em definir o significado do corpo reafirmam as
teorias pedagógicas críticas ao sentido incorporado pela EF diante do viés capitalista
frente às práticas corporais (p.10).”
Bracht (1999) ainda, aponta para a possibilidade de uma ruptura diante do
corpo moderno condicionado à essência biológica e tecnicista de seus movimentos e
das possibilidades que cercam a EF frente a valorização da cultura corporal diante
do desafio envolto nesse processo. Dessa forma, alinho-me ao autor, quando o
mesmo, afirma que é preciso buscar por uma “Nova visão do objeto da EF a respeito
do movimentar-se humano não mais de forma biológica, mecânica e sim, como um
fenômeno histórico e cultural, construindo um novo referencial para entender o
movimento humano (p.11).”
Referencial esse que ainda esta contido numa aula de EF que vem baseando
suas ações, através de um hábito muito comum desenvolvido nas escolas, onde os
autores Soares, Taffarel e Escobar (2006) ressaltam em seu artigo publicado no livro
“Educação Física e Esportes: Perspectivas para o séc. XXI”, que muitos alunos se
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negam a praticar outros conteúdos que não sejam os esportes, sendo difícil ministrar
uma aula sem que se tenha ao menos uma prática desportiva (p. 216). Segundo as
autoras, há uma supremacia do esporte no sistema de Educação Física frente a
qualquer outro componente da cultura corporal, como os demais conteúdos
encontrados nos jogos.
Diante dessa constatação, passei a entender que suas aproximações com os
esportes se devem, também, aos professores utilizarem, muitas vezes, como
recurso pedagógico o “LargoBola” deixando com que os alunos acabem por decidir
sua dinâmica de aula não possibilitando a exploração de novos conhecimentos
envoltos a cultura do movimento, não estimulando outros desejos e saberes em sua
turma.
Dessa forma, a inclinação pela competição mostra uma profunda relação com
os apontamentos de Darido e Rangel(2008) ao sinalizarem que a EF escolar foi
sendo fortemente marcada pelos conteúdos esportivos, vindo a se consolidar nas
grades curriculares de acordo com os ideias vigentes em cada época.
Frente a esse processo de mecanização do corpo, percebe-se, que a
realidade competitiva a qual estamos vivendo, vem justificando alguns padrões de
comportamento social, consolidando gestos marcados pelo individualismo e pela
agressividade. Nota-se, na perspectiva de Maia, um padrão de formação relacionado
aos jogos competitivos, onde:
Os jogos competitivos são defendidos por alguns profissionais como
um elemento importante na educação das crianças, tendo como
fundamento de que assim ficariam melhores preparadas para viverem
num mundo competitivo como o nosso. Preparamos nossas crianças
com o intuito de enquadrá-las em padrões pré-estabelecidos (Maia,
2007, p. 129).

Ao analisar as demais variáveis que envolvem o universo de formação dos


alunos, procura-se contextualizar de maneira mais ampla essa realidade competitiva
que os cercam, valorizando a importância não só dos resultados, mas
fundamentalmente, aprofundar-se sobre o processo que os constituem,
resignificando novas formas de aprendizado. Nesse sentido, podemos elencar os
conceitos de Blanco à respeito dos jogos cooperativos defendendo que:
A gente joga com os outros e não contra os outros, joga para superar
desafios ou obstáculos e não para vencer os outros, da importância a
meta coletiva e não metas individuais busca eliminar a agressão física
contra o outro, busca desenvolver atitudes de empatia, cooperação,
estima e comunicação (Blanco, 2007, p. 62).
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O conteúdo dos jogos também carrega suas marcas históricas e culturais,


possíveis de serem identificadas no ambiente escolar diante da sua riqueza de
significados, o termo jogo é claramente explicado por Huizinga (1996). Em seus
escritos, ele define jogo como um conjunto amplo de possibilidades exercidas dentro
de limites de tempo e espaço. Dentro desses limites, as regras são exercidas com
liberdade, permitindo que seus jogadores atuem livremente dentro da atividade. O
jogo permite ao indivíduo inventar e agir dentro de regras e padrões reinventando a
realidade, ou seja, a “vida cotidiana”. A criança parte do princípio que apenas brinca,
contudo a atividade proporciona que ela atue dentro da tensão e alegria de “brincar”.
Jogo é uma atividade ou ocupação voluntária exercida dentro de
certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de
um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e
de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida cotidiana.”
(HUIZINGA,1996, p. 30).

Em meio a esse rico espaço de formação encontrado na escola, tais autores


atribuem, ainda, que para se alcançar a eficiência dos jogos, os alunos devam
reconhecer, problematizar e desenvolver algumas das concepções cooperativas.
Para isso, a turma deve conseguir identificar o sentido e a intenção de compartilhar,
unirem-se aos seus colegas, fortalecer a coragem para correr riscos assimilando de
forma positiva tanto o fracasso quanto o sucesso, auxiliando no seu
aperfeiçoamento pessoal e coletivo onde o todo participa ganhando ou perdendo.
Já ao competir o aluno passa a ser moldado para um mundo que o espera
fora dos muros da escola, passando despertar alguns comportamentos não tão
favoráveis a sua formação sendo prejudicial, quando desperta excessivamente
gestos individualistas e agressivos incentivando tentativas imorais como trapacear
ou de preconceito com as limitações e diferenças aos seus colegas, junto a quebra
das regras estabelecidas.
Tais comportamentos assemelham-se com o efeito de competir apontado
por Brotto (2002) onde um ou mais indivíduos buscam certas vantagens, objetivando
vitórias e demais premiações, afirmando ser “Um processo onde os objetivos são
comuns, mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns
(p.33).”.
Lovisolo (2001) também nos aponta que o esporte não pode ser negado à
escola nem aos alunos, por ser um representante e componente da nossa cultura,
sendo responsável por gerar “(...)um campo não menos significativo de construções
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identitárias de distinção e participação (de classes, estamentos, locais, nacionais).


Sem gosto e emoção não teríamos na competição um mundo de negócios (p.112).”
Tendo ainda em Freire (1999) a valorização do esporte na EF alegando ser “Mais
educativo reconhecer a importância do vencido e do vencedor do que nunca
competir (p.150).”
Os Jogos Cooperativos trabalham através da ideia da busca pela melhora da
vida dos indivíduos, desenvolvendo a ética cooperativa. Para Brotto (2002) o mais
importante dentro dos Jogos Cooperativos, é valorizar com quem e como se joga e
não jogar uns contra os outros, como nos Jogos Competitivos.
Por não se tratar de uma invenção moderna nem uma manifestação cultural
recente, há indícios comprovados, através de escavações arqueológicas, que os
Jogos Cooperativos já eram praticados por comunidades tribais em busca da
celebração da vida. Isto fez com que Orlick (1989), referência dos Jogos
Cooperativos no mundo, passa-se a divulgar em seus estudos que “eles
representam o início de jogos com mais oportunidades, sem violações físicas ou
psicológicas (p. 124).”
Nesse sentido, os jogos cooperativos, pautam-se pela colaboração, ajuda,
compartilhamento, trabalhar em conjunto visando um objetivo em comum, facilitando
a obtenção de resultados em beneficio de todos. Podendo despertar um interesse
especial quando envolvem cooperativamente um grande número de alunos. Sendo
na visão de Brotto (2002) “Um processo onde os objetivos são comuns, e as ações
são compartilhadas e os resultados são benéficos a todos (p.27).”
Ciente que a busca pelo despertar dos seus olhares através de outras formas
de se jogar, envolve um processo gradual, quando se quer começar a trabalhar com
a inserção dos jogos Cooperativos, Orlick (1989) aponta algumas relações
importantes a respeito da transição dos jogos competitivos para os cooperativos, de
modo que seus alunos não desestimulem ou estranhem essa maneira de jogar,
levando os a identificar que os processos voltados para uma maior cooperação
envolvem os:
Jogos cooperativos sem perdedores: São os jogos plenamente
cooperativos, pois todos jogam juntos para superar um desafio comum e não há
perdedores.
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Jogos cooperativos de resultado coletivo: São formadas duas ou mais


equipes, mas o objetivo do jogo só é alcançado com todos jogando juntos, por um
objetivo ou resultado comum a todos.
Jogos de inversão: Esses quebram o padrão de times fixos, em que
dependendo do jogo, os jogadores trocam de times a todo instante, dificultando
reconhecer os vencedores e perdedores.
Jogos semicooperativos: Esses jogos favorecem o aumento da cooperação
do grupo, e oferece as mesmas oportunidades de jogar para todas as pessoas do
time, mesmo um com menor habilidade, pois existem regras para facilitar a
participação desses.
Ao procurar tanto na competição como na cooperação uma maior quantidade
de respostas quase nunca dispostas de forma clara e objetiva, tanto nas práticas
vivenciadas no chão da escola, quanto em estudos voltados ao desenvolvimento dos
alunos, levo-me a seguir a busca pela tentativa de compreender melhor essas duas
características dos jogos quando direcionados a uma outra perspectiva de aula nas
práticas de EF.
4. CAMINHOS PERCORRIDOS:
Para captar os sentidos que os estudantes atribuíram à prática dos jogos e
brincadeiras como conteúdo da Educação Física escolar, em especial no Ensino
Fundamental, tive a oportunidade, dentro Estágio Supervisionado III, de trabalhar
com alunos do sexto ano de uma Escola Municipal localizada na cidade do Rio
Grande- RS, envolvendo 24 alunos de ambos os sexos com idade média de 11
anos.

Diante da escolha de fazer uma pesquisa em torno da problematização das


aulas de EF no ambiente escolar, a coordenadora de estágio fez a indicação da
devida escola, possibilitando a realização da pesquisa nos meses de abril e maio de
2017. Para isso, foi necessário adentrar ao seu universo para conhecer suas
estruturas e seus agentes, sendo importantes as duas observações realizadas antes
da realização do estágio.

Tais momentos me permitiram conhecer os espaços, os materiais, os


profissionais junto ao PPP da escola. Após me identificar como acadêmico do curso
EF da Furg, fui me aproximando à coordenação e a professora titular da turma do
sexto ano, de modo a perceber a cultura e os hábitos diante da rotina de trabalho
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imposta pelo sistema da escola. Inserido neste contexto, fui percebendo que
mentalmente já passaria a elaborar um plano de ensino que atendesse os objetivos
de um trabalho significativo à pesquisa, e que estivesse próximo ao planejamento e
a orientação pedagógica da escola. O próximo passo se daria diante da minha
apresentação à turma do sexto ano.

Após ter tido a oportunidade, mesmo que de longe, de conhecer os 24 alunos


desta turma, já nas observações realizadas anteriormente, entendi ser oportuno
fazer do nosso primeiro encontro um momento diferenciado que possibilitasse não
só a minha apresentação como também a ideia de trabalho que iríamos vivenciar
juntos durante os três períodos semanais das aulas destinadas a EF.

Assim, diante de um plano de aula a ser desenvolvido em meu primeiro


encontro com a turma, optei em levar junto ao material teórico, alguns vídeos sobre
os esportes e os jogos cooperativos. Em meio à aula desenvolvida dentro da sala de
vídeo, fomos comparando algumas características fundamentais encontradas nos
conteúdos do esporte e dos jogos.

Enquanto os olhares dos alunos estavam direcionados as imagens e as falas


reproduzidas, o pesquisador chamava a atenção e questionava as diferenciações
quanto a estrutura e o formato das atividades. Procurava fazer com que o grupo
identificasse os resultados possíveis a serem alcançados diante do processo de
formação ali desenvolvido em cada tipo de jogo. Após os vídeos e separados em
três grupos, solicitei à turma que confeccionasse um cartaz, onde cada grupo
deveria escrever algumas palavras que lhes haviam chamado atenção ao longo dos
vídeos, com a finalidade de anexar tais cartazes nos corredores da escola.

Antes de partirmos para a nossa primeira aula prática, solicitei aos alunos que
entregassem os termos de autorização à pesquisa aos seus responsáveis,
explicando os termos necessários não só aos alunos, como também aos
coordenadores da escola.

Após ter conhecido os alunos e ter observado seus hábitos e costumes


praticados em suas aulas de EF, passei a organizar um conjunto de plano de ações
que estivessem em conformidade com a pesquisa junto aos referenciais utilizados
que serviram de apoio metodológico durante as práticas. Assim, destinei para cada
dia, dois jogos com um formato similar, alternando seu modo competitivo na primeira
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parte da aula, transformando suas regras ao passar para o modo cooperativo em


sua parte final. Em seu intervalo passava a observar e a problematizar, junto a
turma, alguns aspectos salientados por eles durante as práticas, motivando- os,
cada vez mais, a expor suas percepções sobre os jogos em seus diários distribuídos
nos 10 minutos finais de cada aula.

Partindo da ideia de que o conteúdo dos Jogos Cooperativos é muito mais


que um meio de conhecimento e diversão, sua abrangência nos possibilita, ainda,
estimular o desenvolvimento humano de forma lúdica e solidária, respeitando os
diferentes limites e potencialidades de cada aluno.
Seguindo por esse caminho, propus oferecer um leque de atividades a serem
desenvolvidas em cada dia de aula, onde o jogo passara a ser desenvolvido em sua
primeira parte de forma competitiva, sendo alternado na sua segunda fase para o
formato cooperativo. Assim, a parte prática das aulas seguiram a ordem da
atividades, iniciando em seu primeiro dia com o Pega-Pega e dando sequência nos
demais encontros com o Caçador em Corrente, Dança dos Bambolês, Jogo da
Velha, Stop 1,2,3, Pega a Bandeira, Túnel Cooperativo, Conquista do Território,
Handecône e Handemaluco.
Para alcançar o objetivo de identificar de que maneira os jogos competitivos e
cooperativos influenciam no comportamento e nas atitudes dos alunos, quando
propostos alternadamente nas aulas de EF, fiz uso de uma pesquisa qualitativa
voltada ao planejamento das minhas ações de pesquisa, na busca de uma reflexão
mais ampla através da análise da realidade, utilizando-se de métodos e técnicas
partindo do objeto de pesquisa e suas possíveis relações.
Nesse sentido, Catalina e Mutti (2006) apontam que a pesquisa qualitativa
possibilita interrogar “os sentidos estabelecidos em diversas formas de produção
sendo verbais, não verbais, bastando que a sua materialidade produza sentidos
para interpretação, utilizando se de séries textuais, imagens ou linguagem corporal”
(p.680).
De acordo com Ludke e André (1986) só estando inserido no ambiente
escolar o pesquisador pode, por meio da observação e do conhecimento de tal
realidade, compreender as ações e reações dos alunos ao vivenciarem novas
formas de aprendizado e socialização.
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Ciente disso e para uma maior aproximação à realidade dos estudantes,


norteei meus estudos através da Pesquisa Ação. Essa metodologia é apontada por
Tripp (2005) como sendo “Uma modalidade particular de pesquisa quando se
trabalha para mudar ou contornar as limitações daquilo que se pode fazer, sendo
uma mudança em seu modo de pensar a respeito do valor último e da política das
limitações (p.458).”
Assim, percebendo que a pesquisa ação me auxiliaria na identificação de
alguns caminhos próximos à realidade desses alunos, passei a entendê-la, não só
como um possível instrumento de transformação, mas também de compreensão das
relações expostas e estabelecidas por suas ações.
Dessa forma, o estágio passou a ser o momento propício para a elaboração
da pesquisa, favorecendo a ampliação das minhas reflexões ao caracterizar-se por
ser um momento no qual o chão da escola apresenta a sua “cara e vida”
enriquecendo a formação do professor de Educação Física diante das mais distintas
formas de apreender.

Por ser uma disciplina do curso de graduação, o Estágio Supervisionado III


possibilita observar, planejar e organizar um conjunto de ações através de um plano
de ensino que estimule diante da sua teoria e prática o desenvolvimento de
conceitos, atitudes e procedimentos em torno da troca de conhecimento com seus
alunos do Ensino Fundamental.

Esta dinâmica realidade pôde me orientar a desenvolver um plano de ensino


compreendido pelos jogos competitivos e cooperativos, que fizesse uso de materiais
como arcos, cones e demais equipamentos necessários ás aulas aplicadas no
horário normal destinado à prática de EF nas dependências da escola.
Entendendo ser necessário me aproximar ainda mais deste cenário, busquei
diante da minha apresentação à turma, perguntar aos alunos se eles estariam
abertos a proposta de fazermos dos nossos encontros um momento não só de
apresentação aos jogos e brincadeiras cooperativas, como também o de
problematização ao vivenciarmos alguns conflitos relacionados não só aos seus
gestos e atitudes, como também aos seus valores e entendimentos sobre as aulas
programadas de EF.
Seguindo por esse caminho, apontei logo no início das nossas aulas, quais
os tipos de dinâmicas que faríamos em torno dos conteúdos e brincadeiras inseridas
13

nos jogos, esperando que pudesse capturar suas reações e falas, tanto no decorrer
da aula, como em suas reflexões feitas nos últimos 10 minutos de cada encontro
onde, individualmente, cada aluno apontaria suas impressões diante das vivências
através das suas escritas ou figuras.
Para isso, distribuí um caderno para cada aluno definindo-o como Diário da
EF. Tal instrumento de pesquisa, proporcionou uma análise mais apurada ao partir
de quatro perguntas norteadoras baseando-se num pequeno questionário aberto as
quais me permitiram explorar seus entendimentos relacionados as suas ações.
Assim, procurei lançar as duas primeiras perguntas: O que você pensa sobre
as aulas de EF? e Quais atividades você mais gosta de fazer nas aulas de EF? logo
no inicio do estágio, buscando identificar o que esses alunos pensavam a respeito
das aulas de EF solicitando, ainda, que apontassem o tipo de atividades que mais
gostavam de fazer. Baseado nesse registro, repeti essas duas perguntas ao término
do estágio comparando seus olhares diante das diferentes formas de atividades
propostas para serem realizadas pela turma.
Já as duas últimas perguntas: Qual jogo você mais gostou de realizar? e O
que você sentiu no jogo competitivo e no jogo cooperativo? Eram lançadas no final
de cada aula buscando coletar informações sobre seus gostos diante de certos
jogos e que tipo de sentimento foram despertados diante de tais vivências. Assim
cada aluno era individualmente estimulado a escrever e ou a sinalizar com figuras o
que pensavam e sentiam, refletindo sobre alguns aspectos positivos e negativos
representado em seus gestos e atitudes em meio aos jogos.
Dessa forma, devido à proposta de alternância no formato dos jogos, os
alunos foram apontando diferentes reações, não só apresentadas por seus colegas
ao longo das práticas, como também se identificando com alguns aspectos
favoráveis a mudança de comportamento tanto individual quanto coletivo.
Tais informações foram processadas valorizando a escrita original e demais
percepções resguardando a identidade de cada aluno, identificando-os através da
letra A e do seu correspondente número sequenciado pelo pesquisador (A1, A2,
A3...). A pesquisa foi devidamente autorizada pelos estudantes e seus responsáveis
através da assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido.
A análise das informações produzidas por esse grupo de alunos, pôde ser
interpretada diante da fundamentação apresentada pelas autoras Catalina e Mutti
(2006) permitindo-me trabalhar com a classificação da análise de seus discursos,
14

possibilitando-me promover o confronto entre os dados e evidências sobre o


problema e objetivos propostos à pesquisa.
Diante do conhecimento teórico acumulado e assimilado antes, durante e
após o processo de produção dos dados, procurei identificar os sentidos as ações e
reações apresentadas pelos alunos através de um referencial teórico que me
permitisse dialogar com alguns autores que cercam a temática dos jogos apontados
nos Referenciais Curriculares: Lições do Rio Grande(2009) e Parâmetros
Curriculares Nacionais(1998) de ensino relacionando os aos estudos voltados a
construção do conhecimento.
Dessa maneira, procurando realizar uma nova interpretação ou uma releitura
da realidade, parti da identificação de alguns conceitos e apontamentos sugeridos
por teóricos dos jogos cooperativos como Orlik(1989), Brotto(1999) e Darido(2005).
As informações fornecidas pelos alunos passaram a se consolidar a partir da
compreensão do conhecimento instrumentalizado pelas leituras realizadas através
de fontes voltadas a pesquisa em educação. Nesse caminho intercruzado pelas
ideias do pesquisador, somados aos autores e aos diferentes olhares desse grupo
de estudantes, tive a oportunidade de compreender e refletir com mais clareza as
falas e manuscritos produzidos diante das várias vivências produzidas durante o
estágio.
5. SOBREPONDO TIJOLOS:
Em nosso primeiro encontro, tive a oportunidade de aplicar um questionário a
cerca das aulas de EF o qual forneceu uma grande quantidade de informações a
respeito da diversidade dos olhares dos estudantes envoltos as suas práticas. Meu
objetivo com esse questionário, além de conhecer os alunos, foi também de me
auxiliar no plano de ensino que desenvolvi.
Identifiquei que diante da primeira pergunta: O que você pensa sobre as aulas
de EF? A turma pôde me indicar os seus olhares sobre suas experiências nas aulas
de EF tidas até o momento.
Em um universo de 24 alunos, os alunos, assim, definiram que as aulas de EF
são: (14)legais, (02)divertidas, (01)interessantes, (01)importantes, (01)fazer esporte,
(01) saúde, (02)repetitivas e (07)cansativas.
Ao destacar algumas das expressões mais citadas por eles, pude notar que
pelo fato das aulas serem consideradas legais por boa parte desses alunos, haveria
a possibilidade de leva-los a se interessarem e a aprenderem, ainda mais, com as
15

aulas de EF. Através dos jogos e brincadeiras, propus que percebessem alguns
aspectos entorno do seu desenvolvimento baseado nos jogos cooperativos e na sua
pedagogia do esporte até então vivenciada.

Além de definirem com mais de uma expressão, os estudantes anotaram em


seus diários comentários como os descritos a seguir:

- “Penso que é muito legal ainda mais quando agente vai pro pátio.” (A3)

- “É uma aula sobre fazer esporte e educação física para a saúde.” (A4)

- “Importante para os alunos, sinceramente odeio aula teórica.” (A5)

- “São legais de vez em quando, são muito repetitivas.” (A12)

- “Muito legal, mas cansa bastante.” (A15)

- “Eu gosto, mas o que me dá mais nos nervos é o caçador. Não gosto, tenho
medo da bola e não sei arremessar direito.” (A22)

- “Legal, as vezes, cansativas.” (A23)

Diante de alguns comentários, diferenciados, anotados pelos alunos, além de


considerarem as aulas de EF como sendo legais, foi visto em suas anotações e,
aqui, um número significativo de alunos que as consideravam cansativas. Outros
sinalizaram que as aulas de EF podem ir além da prática de um conteúdo único
pautado pelo esporte, abrindo espaço para a apresentação de outros tipos de jogos
que possam oportunizar novas experiências, superando a visão de práticas
repetitivas ou que despertem o nervosismo e o medo.
Quanto aos dois alunos que fizeram referência a aula teórica e ao pátio,
percebi uma forte relação de preferência destes alunos com aula de EF, pois seus
corpos pareciam ser mais inspirados pela liberdade dos seus gestos apresentados,
já nas observações feitas, apontando seu pouco estímulo para a realização das
tarefas que geralmente os obrigavam a ficarem imóveis.
Esses relatos iniciais, mais uma vez, colocam a EF numa condição favorável
ao seu aprendizado, pois, os alunos conseguem associar a diversão, a liberdade e o
prazer de estarem se movimentando através de atividades que trabalhem com
conteúdos que fazem sentido para eles, aproximando- se das suas expectativas e
desejos.
16

Numa outra expressão apontada, o aluno A4, ressaltou mais uma das
diversas importâncias encontradas nas aulas de EF, destacando a saúde, que
também pode ser bem mais discutida, por valer-se como uma abordagem a ser
trabalhada na escola em prol do desenvolvimento humano. Tal afirmação, mostrou-
me que a abrangência desta área do conhecimento me possibilitaria atuar através
das diversas formas e expressões da linguagem corporal dos alunos. Assim, fui
buscando confirmar alguns resultados possíveis de serem alcançados diante das
indicações encontradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), quando se
refere à amplitude dos conteúdos existentes na EF, sugerindo que o professor tem a
sua disposição várias possibilidades de trabalhar com a construção do saber.
Assim, passei a considerar, ainda mais a ideia de se potencializar o olhar
destes alunos em prol de um desenvolvimento que contemplasse, não só o seu
repertório motor, como também suas atitudes em relação aos seus comportamentos
provocados por outras vivências.
Mas o que chamou mais atenção foi o fato de repetidamente, perceber em
suas escritas, que apesar de gostarem das aulas, definindo-as como legais e
divertidas, muitos, sinalizaram também como cansativas e repetitivas. Estas escritas
causaram-me uma certa, estranheza, pois lembro que quando criança,
procurávamos curtir e vivenciar o máximo possível os jogos realizados na rua e em
outros locais. Eu e meus amigos, não percebíamos o tempo passar, pois naquele
momento, imersos ao prazer, a alegria e a diversão, construíamos dentro do nosso
espaço, um outro universo, levando a brincadeira até tarde, não sendo interrompida
pelo tédio ou cansaço, mas sim pela mãe de algum colega que iria ser, desta vez,
conduzido para casa, pelas orelhas.
Nesse sentido, o jogo quando atrai verdadeiramente o aluno, cerca- o de tal
maneira que, ao atuar intensamente seu corpo parece ser reenergizado pela
emoção e o prazer ao ser desafiado constantemente pelas formas de se jogar,
motivando-o a marcar ainda mais sua presença em tal vivência.
Outro aluno apontou uma preferência, muito comum, a favor de um conteúdo
que vem sendo muito difundido como método pedagógico nas aulas de EF destes
alunos. Sua referência ao esporte reflete o olhar da maioria, e indica que, esta
turma, esta habituada ao convívio com o jogo, mesmo esse se resumindo aos seus
métodos contínuos e fechados praticados em suas modalidades esportivas.
17

Ao perceber que os alunos estão cada vez mais focados num sentido único
traçado pela competição, uma das melhores fases das suas vidas, acaba, por ser de
certa forma, reprimida. Por considerar a infância como uma das mais belas fases do
ser humano, na qual a vida é envolta em seu aspecto mais puro, a criança, toma,
frente a essência natural dos seus gestos, o brincar como o seu compromisso mais
valioso. Independentemente do lugar ou do modo que se constitui seu meio familiar,
ela desenvolve, nesse ambiente, seu laboratório de experiências absorvendo
informações, registrando seus sentidos através da escuta, da observação e do
contato com objetos ampliando, assim, seu repertório motor e cognitivo.
Diante de tamanha fonte de oportunidades apresentadas em um mundo de
infinitas possibilidades, a criança, através de seu universo paralelo e lúdico, promove
seu próprio jogo de ações e que de acordo com suas formas, regras e verdades são
facilmente envolvidas pela magia da brincadeira. Nesse contato com um mundo
ainda considerado novo e inexplorado a sua disposição, produz e alimenta
expectativas que deveriam ser atendidos tanto dentro como fora do ambiente
escolar.
Seu anseio por novas descobertas marca o início da sua relação com o
mundo, passando a ser conduzida já nos seus poucos anos, de maneira revestida e
interiorizada profundamente conforme as exigências de um mundo cada vez mais
definidor do ser social.
Tais descobertas feitas inicialmente fora dos muros da escola passam a ser
instrumentalizadas, na maioria das vezes, pelo caminho da competição, parecendo
não estimular um número significativo de seus praticantes quando se resume a
métodos que valorizam somente o bom chute, o passe ou arremesso, fazendo da
repetição do seu gesto uma única forma de desenvolver o aluno.
Diante das observações feitas, antes do inicio à pesquisa, percebi que em
muitos momentos, o jogo estava a serviço somente da individualidade, do ser o
melhor, gerando discussões e agressões verbais e físicas. Fatos que causavam o
distanciamento daqueles que tinham medo de errar ou de interagir diante de uma
prática intensa, tendo como consequência a limitação do prazer ao seguirem uma
regra que ia esgotando não só a vontade dos demais tidos como descoordenados
ou lentos.
18

Em meio a isso, passou-se a ver que o ganhar diante da supervalorização da


vitória, favorecia a desconsideração com os seus colegas causando uma separação
preocupante na turma.
Diante dessas escritas e das observações, decidi ousar através de uma
estratégia que fizesse uso de outros tipos de jogos que proporcionassem momentos
os quais os alunos conseguissem manifestar suas subjetividades, tomando-os como
um todo, envolvendo-os diante das suas regras através da alternância dos jogos
competitivos e cooperativos.
Na procura dos significados dos jogos apontados por Huizanga(2000), tentei
fazer com que o aluno compreendesse que a sua liberdade de jogar estaria
diretamente conectada aos seus livres acordos fazendo com que seus jogadores se
aproximassem ainda mais uns dos outros.
Neste caso, suas escritas mostraram que sua interação, socialização e seus
laços afetivos poderiam ser atravessados de uma maneira diferente através da
imaginação despertada pela imersão dos alunos no jogo, fortalecendo estas ações
que segundo Callois (1990), capacita seus jogadores a construírem uma nova
realidade.
Como vistos em outros estudos, o jogo Cooperativo mostrou indícios
favoráveis a permanência contínua do aluno no jogo, diminuindo a tensão e a
incerteza gerada pelas regras fixas e obrigatórias encontradas muitas vezes nos
jogos competitivos, que elevam o nível de desgaste tanto físico quanto anímico de
seus participantes.
Na busca pela superação da lógica racionalista e utilitarista de formatação
dos movimentos destes alunos, a turma teve a oportunidade de perceber que nos
jogos cooperativos, os sentidos são outros, ao se jogar com e não contra o outro, o
aluno libertasse da obrigatoriedade de ter que alcançar a mesma qualidade dos
considerados melhores, expõe-se de outro modo, aproximando-se com mais
facilidade, permitindo-lhes, segundo Brotto(2002), reconhecer que suas diferenças
são fundamentais ao seu desenvolvimento social.
À procura de uma mudança pedagógica que valorizasse as experiências e
desejos dos alunos, entendi ser necessário desenvolver vários jogos que estivessem
alinhados ao entendimento de Cortez (1996), pois, para ele, durante os jogos os
alunos “criam oportunidades para seu desenvolvimento físico, moral e intelectual
19

garantindo, dessa forma, a formação de um indivíduo com consciência social, crítica,


solidária e democrática. (p.01)”
Nesse sentido, a EF deve despertar no aluno o direito de saber jogar não
apenas pelas regras ou pela mecânica de um determinado movimento no jogo, mas
também saber atuar para curtir a riqueza lúdica apontada pelos Referenciais
Curriculares(2009) ao indicar que os jogos servem de ferramenta de interação entre
“ as pessoas, grupos sociais, ou étnicos, podendo ser reinventado em meio a
monocultura esportiva reinante nas práticas corporais contemporâneas(p.38).”
Além de procurar entender o que os alunos compreendiam sobre EF, lancei a
segunda pergunta, a qual tinha o objetivo de identificar, Quais atividades vocês mais
gostam de fazer nas aulas de EF? Como na questão anterior, os estudantes
apontaram em seus diários uma série de respostas bem variadas sobre atividades
que gostam de fazer. Diante dessa turma, as atividades mais citadas foram
demonstradas diante do seguinte gráfico:

Atividades mais citadas antes da pesquisa


Futebol
Handebol
Caçador
Caminhar Patio
Vôlei
Pega-Pega

Fonte: Diário da EF dos alunos do sexto ano da turma 6B.

Frente a sinalização, da maior parte da turma, pelo gosto por esportes tidos
tradicionais na escola, salvo outras atividades como caminhada e o jogo do caçador,
que parece, também, ao longo do tempo, consolidar sua tradição no espaço escolar,
houve ainda a lembrança de umas das brincadeiras tradicionais de infância
denominada Pega Pega.
Suas indicações me auxiliaram a perceber que esses alunos foram sendo
envolvidos de várias formas e por um longo período das suas vidas ao esporte,
sendo natural as suas escolhas por tal conteúdo, destacando os mais citados como
sendo o Futebol e o Handebol.
20

Nesse sentido, Bracht (2003) aponta que a própria EF escolar se apropria,


muitas vezes, do dever de incorporar métodos voltados a uma aprendizagem
direcionada ao esporte moderno, seguindo uma lógica da urbanização e da
industrialização, incorporando a competição diante do esporte como forma de
ampliar a ideia de um indivíduo capacitado frente a seu rendimento físico e técnico,
desenvolvendo a capacidade de controle do seu corpo.
Frente a isto, a EF nos permite refletir sobre outras possibilidades em relação
ao desenvolvimento do aluno de modo mais amplo, nesse caso a articulação entre
os saberes adquiridos entre os jogos e esporte podem vir a despertar o gosto por
muitas outras atividades que possam ser desenvolvidas nas aulas de EF.
Segundo Freire(2009) há uma complexidade que marca as diferenças do jogo
e do esporte que faz com o jogo seja entendido como um brinquedo infantil e o
esporte como um processo que leva o indivíduo a operar do mais simples ao mais
complexo.
Nesse caso, as brincadeiras populares, como manifestação da cultura, podem
estar presentes de modo que possam se relacionar com os achados encontrados na
realidade desta turma, vindo a dialogar com a supremacia dos esportes.
Ao entender que os esporte também é um componente da nossa cultura, fui
aproximando-o a outras formas de jogos, valorizando a ideia de Lovisolo(2001) ao
não nega-lo à escola nem aos alunos. O autor não desconsidera os demais
conteúdos da EF como os jogos e brincadeiras, muito pelo contrário, ressalta sua
importância na constituição da base da cultura infantil, mostrando os valores e os
significados do jogo lúdico como sendo desafiante, prazeroso, cooperativo e
possível para todos.
Além de ser constituída por sua vasta área de conhecimento, a EF possibilita
resgatar nos alunos, o conhecimento adquirido em seus vários espaços recreativos
já vividos em outros momentos das suas vidas, transmitindo-lhes a noção de
liberdade e diversão através da recriação de seus jogos e brincadeiras.
Ao tentar ressignificar suas práticas, procurei valorizar o aluno como um
sujeito pensante, orgânico e corporal, assim, tive a oportunidade de dar início a
descoberta do conhecimento por várias formas e meios possíveis. Acredito que ao
considerar seu gosto pelo brincar, a EF tem a possibilidade de ampliar as relações
desses alunos, levando-os a problematizarem constantemente seus conceitos e
atitudes tão dentro quanto fora da escola.
21

Nesse sentido, os Jogos Cooperativos, destacam- se por suas infinitas


possibilidades e formatos de aplicação, possibilitando aos alunos experimentarem
outras formas de se enxergarem enquanto indivíduos, amigos e estudantes de uma
mesma turma. Dessa forma, procurei analisar esta possível consolidação de outro
caminho favorável ao seu desenvolvimento mais amplo a partir de aspectos
referentes:

5.1. Ao Prazer de se Jogar:

A libertação da inteligência aprisionada, somente poderá


dar-se através do encontro com o perdido prazer de
aprender (Fernández,1990, p. 18).

Ao falar sobre a aprendizagem e o desenvolvimento, entendo que o professor


deva, constantemente, elaborar meios que despertem a vontade e o desejo em seus
alunos de buscarem o conhecimento. Nesse sentido, o sucesso e o fracasso, diante
de certas atividades, muitas vezes, influenciam na vontade de aprender mostrando a
necessidade de se promover um resgate sobre seu fazer pedagógico.
Foi movido por este espírito, que iniciei as atividades nesta escola, através
dos Jogos Competitivos e Cooperativos com o objetivo de analisar a capacidade não
só de aprendizado como de aproximação destes alunos com seu grupo e com os
jogos lúdicos.
Assim, ao entender que todo o tipo de jogo é uma criação humana, busquei
fazer com que estes alunos reconstruíssem sua realidade através da imaginação
despertada pelo prazer de se jogar brincando.
Frente aos seus relatos, estes alunos sinalizaram terem conseguido
desenvolver outros sentidos, relacionados a sua participação, motivando-os ainda
mais, a ampliar a possibilidade pela busca do conhecimento através do prazer
adquirido durante os jogos e brincadeiras.
Após ver que esses alunos estavam acostumados a jogar de uma só maneira
pelo método competitivo, fez-se necessário, introduzir, aos poucos os formatos
existentes dentro dos Jogos Cooperativos através da alternância de suas regras, de
modo a facilitar a compreensão existente em cada tipo de jogo.
Dessa forma, busquei me aproximar ainda mais desta turma, propondo aos
alunos outras formas de se jogar, incentivando-os a resgatarem parte da sua
22

infância ao se envolverem através de brincadeiras simples e tradicionais de modo a


auxilia-los no processo de aprendizagem.
Ao vivenciarem, o jogo do Pega-Pega Competitivo1, o grupo começou a
sinalizar que o prazer pelo jogo atua como um fator preponderante para a sua
permanência na atividade. Num rápido instante, todos pareciam estar empolgados
com o jogo, mas com o passar de alguns minutos, a participação contínua e intensa
de alguns alunos que ainda permaneciam em quadra, motivados pela soma dos
coletes caçados dos seus colegas, passou a desmotivar a participação dos demais.
Entre xingamentos, empurrões e da não aceitação às regras, muitos não aceitavam
a eliminação e o modo como seus colegas estavam se comportando.
Sendo este fator, causador da desmotivação de vários alunos fazendo- os
perderem não só a vontade de jogar como a oportunidade de vivenciarem outros
tipos de aprendizados, como relatado pelo aluno A8: “O A5 tava roubando não
deixou eu pegar o colete, não quero mais jogar ele nunca perde”. Enquanto isso,
aqueles menos ágeis, ficavam o tempo todo parados nos piques, com receio das
investidas mais bruscas de seus colegas, não arriscando- se mais no jogo. Como foi
descrito por uma aluna ao justificar esse comportamento “Não gostei, fiquei o tempo
todo no pique estava com medo os guris estavam brigando para pegar os coletes”
(A10).
Em outros momentos, quando a prática era vivenciada através da
competição, notava ainda, a influência dos seus comportamentos individualistas,
onde boa parte da turma desistia ou não se envolvia de forma mais prazerosa como
demonstrado no jogo do Pega Bandeira Competitivo2. Nessa vivência, os alunos
divididos em dois times deveriam competir na busca pela bandeira, evitando, assim,
serem tocados pelos demais colegas adversários.
Ao vivenciarem este tipo regra os alunos deveriam sair da brincadeira caso
fossem tocados ou permitissem que a bola caísse no chão. Muitos não conseguiram

Neste jogo, o objetivo é capturar os coletes presos ao corpo dos seus colegas, só pode usar
1

a mão para retirar o colete do outro, não pode segurar o seu. O pique salva, mas, não por muito
tempo. Vence quem ficar com mais coletes.
2
Neste jogo, os alunos divididos em dois times deveriam conquistar a bandeira(bola)
colocada em cada área. Ao avançarem para o outro lado da quadra, os alunos não poderiam ser
tocados, caso isso acontecesse sairiam do jogo. Alcançando a bandeira deveriam trocar passes sem
deixar a bola cair tendo que se deslocarem sem a bola, tendo o cuidado para não serem capturados
pelos colegas do outro time que deveriam impedir que a bandeira saísse do seu território.
23

desfrutar do prazer de estar jogando, não percebendo a possibilidade de elaboração


de estratégias de modo a superar tais dificuldades impostas por este jogo.
No momento em que alguns se preocupavam em fazer uso de xingamentos e
empurrões, acusando outros de estarem desrespeitando esta pequena regra, estes
passaram a promover as mesmas atitudes, reproduzindo gestos mais agressivos e a
perda da vontade dos demais colegas em dar continuidade a brincadeira, vindo a
desestimular alguns alunos como demonstrado na escrita de A4, “Já na segunda
brincadeira, o Jogo do pega bandeira competitivo, você seria expulso, não gostei
tanto porque roubaram contra mim.”
Em meio a esses momentos, fui notando que a turma não conseguia manter
uma relação com o jogo e seus colegas, de modo a despertar um maior prazer pela
brincadeira a qual estavam participando. Diante de gestos agressivos e
individualistas, uma parte significativa da turma mantinha suas ações próximas aos
apontamentos de Elias (1992), mostrando que em meio ao jogo competitivo o
adversário passa ser seu inimigo, sendo um oponente a ser batido de qualquer
forma, mesmo que isso contrarie as regras. O autor, ainda, transmite que através
dos jogos cooperativos, há uma possibilidade de se reduzir ações desonestas e
violentas desenvolvendo hábitos e costumes mais cooperativos e solidários.
Ao procurar fazer dos Jogos Cooperativos uma maneira de configurar outras
possibilidades de reconstrução desta realidade, passei a perceber que esses alunos
poderiam se expor mais ao brincarem e se divertirem, permitindo-os enxergarem
suas capacidades frente a inventividade gerada pelo prazer do brincar.
Frente aos comportamentos sinalizados por estes alunos, já neste jogo do
Pega-Pega Competitivo, percebi que seus entendimentos sobre o jogo estavam
mais próximos ao conteúdo do esporte, pois muitos continuavam presos à
racionalidade dos seus gestos e à individualidade, fazendo do seu corpo um
dispositivo para estar sempre na frente, vencendo a qualquer custo. Já outros
alunos, permaneciam aprisionando seus movimentos por entenderem não estarem
prontos ou, ao nível dos demais destacados, onde o medo e o receio, os impediam
de enxergarem em si, outras virtudes e qualidades que são também fundamentais
tanto no jogo da escola quanto no jogo da vida.
Essas limitações encontradas nos alunos devem ser cada vez mais discutidas
dentro das aulas de EF, pois hoje, os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais-
PCNs(1998), ao inserirem a EF na área dos códigos e linguagens, reforçam a
24

importância de se desenvolver uma base para a construção do conhecimento


valorizando as diferentes formas de expressões corporais. Para contemplar esse
currículo dentro da escola, acredito que a EF deva utilizar também outras formas de
movimentos de modo a desafiar seus alunos ampliarem seus olhares diante do
contexto ao qual estão inseridos.
Para isso, os alunos, devem ser constantemente estimulados a fazerem um
esforço diferente dos gestos tradicionais, que envolvem os seus movimentos
habituais em relação ao esporte. Gestos, esses, que estão diretamente relacionados
com os sentidos e significados do jogo, apontado por Freire (2009), quando este
afirma que há uma espécie de higienização destes sentidos que passam a ser
controlados pelos hábitos e normas diante dos modelos padronizados do esporte.
Ao propor novos caminhos a serem trilhados pelos modelos de jogos
cooperativos que possam, diante da variação das suas práticas, romper com esse
regime de normas, esta turma do sexto ano, procurou criar outros hábitos de
aproximação entre eles e com o prazer de se jogar.
Dessa forma, passei a entender que a EF, utilizando-se de uma pedagogia
lúdica, tem uma maior possibilidade de atender as necessidades de seus
educandos, desvinculando-os do compromisso eterno de competir, permitindo a
ampliação da participação do aluno a partir da naturalidade dos seus gestos e
posicionamentos.
Nesse sentido, propus a alteração do jogo do Pega-Pega, passando para a
Corrente Cooperativa3, com o objetivo de eliminar a ideia de se jogar contra alguém,
desvinculando a necessidade da vitória a todo custo, do individualismo e da
agressividade excessiva. Ao realizar uma pequena modificação em sua regra e
formato, percebi uma significativa diferença não só relacionada às ações dos alunos,
como nos olhares e sorrisos traduzidos em seus gestos e escritas.
Ao vivenciarem um momento de grande aproximação entre todos, os alunos
foram motivados pela alegria e prazer de estarem atuando amplamente no jogo da
Corrente Cooperativa que, foi aos poucos criando vida, se movendo em várias
direções, onde através das mãos unidas, todos puderam atuar juntos até o final, se

3
O jogo começa com os alunos salvos nas duas áreas da quadra enquanto o caçador
aguarda o sinal no centro. Cada aluno tem a missão de atravessar a quadra sem ser pego, caso seja
tocado, formará uma corrente humana que não pode ser rompida, estando juntos e com as mãos
dadas até alcançarem o ultimo colega.
25

divertindo ao lado do seu colega, apresentando- os uma outra noção relacionada ao


vencer.
Diante desse jogo, os alunos foram percebendo que as diferentes
habilidades encontradas em cada colega, poderiam servir para que todos
alcançassem a vitória de uma maneira descontraída e divertida. Como apontado
pelos alunos que participaram do jogo da Corrente Cooperativa. “Gostei, ninguém
perdeu é melhor jogar ajudando o colega porque todo mundo é vencedor” (A10) e “
Gostei mais, todo mundo deu risada, ninguém roubou, vencemos juntos.” (A8)
Seguindo por esse caminho, ao propor o jogo chamado Jogo da Velha
Cooperativo4, os alunos puderam mostrar amplamente o seu prazer por uma
brincadeira diferente que despertou alegria e o total envolvimento destes alunos já
na primeira parte, fazendo- os atuarem em duplas, unidos por um colete conduzindo
uma bola, marcando o espaço do jogo com a mesma.
Nesse momento, deixou-se de perceber aqueles olhares que antes, se
viravam somente para a obediência das regras ou das faltas não apitadas e dos
passes perfeitos. Agora, eles deveriam expor suas habilidades, brincando próximo
aos seus colegas fazendo do jogo um meio de aprofundar suas relações.
Assim, foi vivenciado um dos momentos mais impressionantes do estágio,
ao perceber que todos os alunos estavam interagindo, dialogando, analisando a
melhor forma de brincar, fizeram das suas diferenças uma outra forma de vivenciar a
dimensão humana encontrada nesta turma. Neste instante, o jogo atuou como um
operador da imaginação, do sonho e da sua criatividade promovendo a construção
de um grande momento de aprendizado e diversão, se aproximando da capacidade
dos jogos mencionada Merleau-Ponty (1999).
Tendo na segunda parte do jogo da Velha Cooperativo, a missão de
trabalharem em trios, esses alunos deveriam ao invés dos coletes, formarem com
seus braços, algo semelhante a uma cadeira para conduzirem seu colega ali
sentado, até o espaço demarcado.
Esse momento possibilitou que os alunos tivessem, além da vontade de
participar através de um jogo conhecido por eles, um maior cuidado com o seus

4
Neste jogo os alunos deveriam atuar em duplas, cabendo na primeira parte, esticar um
colete com as suas mãos, suspendendo e equilibrando a bola até a área demarcada pelo jogo. Em
seguida, deveriam marcar o local com a bola e voltar em direção fila, liberando a próxima dupla. Na
segunda parte, o desafio era conduzir entre trios um colega para ficar na marcação, identificando a
través da cor do dos seus coletes as linhas, completas, para a finalização do jogo.
26

colegas, onde todos puderam se aproximar, deixando atitudes agressivas de lado,


fortalecendo o cuidado e a consideração às habilidades e limitações encontradas em
cada aluno desse grupo. Como descrito por A10, ao apontar que “No jogo da velha
cooperativo achei muito legal porque envolvia uma brincadeira que já brinquei
muito.”. Outro estudante também fez referência a esta atividade como positiva.
Segundo, A21 “Tava legal. Não vi ninguém brigar fui com a A1 não sabia que ela era
maneira.”. No mesmo sentido, outro estudante assim relatou: “Eu gostei mais, a A3 é
bem legal ela me ajudou, jogaria de novo porque ninguém brigou, todos vencemos.”
(A2)
Este momento foi capaz de mostrar que quando os estudantes participam
destes tipos de Jogos Cooperativos, há um fortalecimento das relações humanas
que podem levar esses alunos as mais diversas direções.
Ao fazer com que o grupo passasse mais tempo das suas aulas vivenciando
jogos lúdicos e cooperativos, os alunos tendem a se divertirem mais se colocando,
ainda, no lugar do outro ao se importar com as dificuldades e limitações dos seus
colegas, confirmando o pensamento de Brotto(1999) quando este diz que “podemos
tanto aprender a sermos solidários e cuidar da integridade uns dos outros, como, ao
contrário, podemos aprender que jogando somos mais importantes que alguém e se
importar pouco com o bem estar do outro.(p.39)”
Nesse sentido, esses alunos foram ampliando seus olhares ao jogarem de
forma alternada, percebendo quais eram suas atitudes e do seu grupo, quando eram
expostos às práticas competitivas e cooperativas. Dessa forma, fui refletindo, cada
vez mais sobre a importância de se desenvolver uma interação harmoniosa entre os
alunos combatendo a necessidade da competição acima de tudo, a qual segundo
Orlik(1989), alimenta, não raras vezes, ações agressivas, violentas e de desrespeito
as normas no contexto da educação.
Ao entender que no Jogo Cooperativo o aluno pode vir a despertar um maior
gosto pelo prazer de estar com os demais colegas, a busca por seus estímulos,
deve procurar superar os seus desafios não focando na derrota de seu colega.
Nesse caminho, passei a notar nestes alunos a tomada de consciência em relação
aos seus próprios sentimentos, priorizando o trabalho em equipe se divertindo numa
atividade sem a identificação de adversários.
Fato esse demonstrado diante da pergunta feita em nosso último momento
juntos, questionando- os se gostariam de continuar tendo os jogos e brincadeiras
27

cooperativas em suas aulas. Suas respostas seguiram praticamente o mesmo


sentido de aceitação, mostrando que eles puderam aprender enquanto se divertiam
com os jogos e brincadeiras:

-“Sim, porque são legais e divertidos e é uma coisa para aprender e brincar”
(A3)

-“Eu acho que a aula além ensinar alguma coisa aos alunos, nos divertiu.”
(A20).”

-“Sim, é um mais legal que o outro é muito maneiro e cada um tem um jeito de
jogar é muito legal e maneiro” (A18)

-“Sim, pois não fica aquela coisa repetitiva de sempre!” (A12)

-“Sim, porque em todas as aulas eu percebi que todo mundo se divertia eu


precisava me soltar mais!” (A13)

Diante destas falas, os alunos através das atividades propostas, puderam ser
atraídos pelas variações apresentadas em simples jogos, promovendo o
conhecimento e a participação através da diversão encontrada nessas brincadeiras.
Dessa forma, destaco este último comentário, realizada pela aluna A13, que
me marcou, diante do seu comportamento notado logo no início das nossas
atividades. Devido ao clima de tensão em relação às atividades as quais estavam
acostumadas a praticarem, a aluna, não conseguia se envolver nem com ao jogo
nem com seus colegas, sendo isto uma consequência de alguns problemas e
conflitos referidos por Soler (2005) diante da constante exigência da preocupação
com o resultado final em se movimentar de forma certa, em ser o melhor.
Ao inibir a participação dessa aluna, através da mesma e contínua prática
observada em momentos anteriores, desconsiderava-se a alegria e o prazer diante
de uma interação nova que pudesse estimular outros sentidos. Dessa forma, passei
a considerar ainda mais os apontamentos de Soler (2005) ao afirmar que “quanto
maior for a parte da vida de uma criança envolvida com Jogos Cooperativos, mais
ela aceitará a cooperação, e mais ainda estará disposta a cooperar tanto no jogo da
escola quanto no grande jogo da vida (p. 48).”
Esta aluna mostrou que, ao atuar através do jogo cooperativo, houve um
despertar não só da sua participação como do seu senso crítico, mostrando-a que
esses formatos de jogos cooperativos praticados pela turma, eram acessíveis e
28

poderiam servir para superar algumas das suas dificuldades. De todo modo, esta
aluna conseguiu ser atravessada pelos jogos e brincadeiras que, ao que tudo indica,
se fossem mais disseminados nas aulas de EF poderiam ajuda-la, ainda mais em
seu desenvolvimento.
Através dos relatos dos estudantes, os Jogos Cooperativos podem ser vistos
de outra forma em relação a competição trabalhada na escola, reafirmando o
posicionamento de Darido (2001) ao apresentar os Jogos Cooperativos como uma
nova tendência na Educação Física e afirma que eles “se constituem numa proposta
diferente das demais (p. 8).”
Assim, diante do que foi observado, há a necessidade de se promover uma
aproximação dos Jogos Cooperativos com os esportes, que vem marcando a
atuação desses alunos através de um formato único de jogo, levando- os a agirem
de uma forma cada vez mais individualista, competitiva e menos solidária não
abrangendo, ainda, uma ampla diversão entre todos.
Dessa forma, optei em seguir os direcionamentos de Brotto (2002), o qual
propõe uma mudança para tornar o esporte menos competitivo e excludente,
descrevendo a importância de se fomentar as características de uma ética
cooperativa que se baseei no entusiasmo, na recreação, na liberdade, no respeito
mútuo e na confiança.
Na tentativa de desenvolver a ampliação das suas convivências propus algo a
mais do que uma prática, na qual o professor executa somente a entrega da bola
aos seus alunos, como no tradicional método do largobola, o qual não permite a
participação mais efetiva da turma, nem valoriza as demais capacidades dos seus
alunos.
Dessa forma, acredito que os Jogos e Brincadeiras Cooperativas valorizaram
toda a turma não considerando somente os mais fortes e rápidos, promovendo um
equilíbrio de suas ações, diminuindo o individualismo, a agressividade e
aumentando a participação dos demais colegas.
Nesse sentido, entendo que a relação dos estudantes com jogo deva ocorrer
de um modo lúdico que facilite sua comunicação com seus colegas e com o mundo
lidando com os sentimentos que vão surgindo naturalmente através das suas
participações nos jogos.
Assim, estimulando o gosto pelo jogo, os alunos vão assimilando de gestos e
atitudes que os fazem quererem ampliar a sua busca por outras diferentes vivências,
29

o que não pôde ser visto no início das práticas, pois muitos alunos carregavam o
medo traduzido pela ideia de fracasso em não saber dar um passe ou conduzir uma
bola.
Quando os estudantes estão bloqueados por esse tipo de barreira, devemos
lembrar que uma das finalidades do jogo, seja qual for o tipo de manifestação, o
propósito é segundo Freire (2009) desfrutar da “oportunidade de conviver
intimamente com as coisas do mundo, de modo a torná-las próximas de nós, mais
conhecidas, menos amedrontadoras(p.107).” e a partir de seu uso, essas barreiras
passaram a ser superadas, através da aproximação dos alunos com os jogos e
brincadeiras cooperativas, resgatando o aprender através da diversão.
Diante desses e outros formatos de jogos, houve um maior interesse e
participação durante as vivências, que segundo seus discursos, foram diferentes,
alegres e atrativas.
5.2. Buscando sua Interação:
Ao considerar a interação como um dos elementos fundamentais ao
desenvolvimento humano, propus aos alunos atividades que possibilitassem ampliar
o contato, o convívio, o trato e a comunicação através de uma atitude participativa.
No começo das atividades, notei que parte considerável destes alunos se
recusava a realizar as práticas que exigiam mais movimentação, habilidade e
controle de bola, identifiquei também a omissão em boa parte da turma.
Junto a isso, percebi que estes alunos já estavam habituados a andarem em
grupos fechados, mostrando certa resistência em interagir com diferentes colegas,
sinalizando algumas barreiras a serem superadas na busca do seu aprendizado.
Este momento, fez com que me obrigasse, ainda mais, a apresentá-los aos
jogos cooperativos de modo a estimulá-los a desenvolverem o saber através do
reconhecimento das diferenças encontradas em seus colegas. Assim, fui
apresentando algumas brincadeiras e jogos a esta turma, de modo a tentar atrai-los
através de um conteúdo diferente, pois segundo Fernández(1990) “ao negar-se a
aprender ou a rejeitar a aprendizagem a criança se negará a participar do seu
processo de desenvolvimento, o que dificultará, cada vez mais, as assimilações no
processo educativo(p. 51).”
30

Ao propor o jogo da Conquista do Território Competitivo5, passei a observar a


capacidade de participação, espalhando os alunos em quatro quadrantes, devendo
aqueles que estivessem de posse da bola acertar e retirar o seu colega estrangeiro
do jogo. Neste instante, a disputa era para ver quem iria tirar mais colegas do jogo.
Utilizando-se da força, da pontaria e de certas invasões ao território alheio, o jogo foi
marcado também por alguns desvios de conduta e pelo individualismo excessivo
daqueles que objetivavam somente ficar de último para ser considerado o
conquistador de todos os territórios.
A pouca interação de uma quantidade considerável de alunos, frente ao Jogo
competitivo, foi comprovada pelo afastamento dos alunos, que não se consideravam
aptos em relação a dinâmica e a velocidade com que seus colegas se envolviam no
jogo. Estes, diante das dificuldades e dos desafios impostos, demonstravam o
sentimento de fracasso rendendo-se a desistência imposta pela excessiva
competição.
Diante desse modelo de jogo, segundo Brotto (2002), há a prevalência desse
tipo de ação a qual poucos alunos se destacam enquanto muitos se omitem pelo
medo do contato com o colega ou por não ter a habilidade necessária para o jogo.
Fato esse, presente em meus alunos, gerando sentimentos desfavoráveis e
negativos por não despertar a atração e o interesse por atividades mais disputadas.
Tal situação pode ser comprovada pelos seguintes relatos:
- “No jogo da conquista do território competitivo eu senti nervosismo e medo.”
(A13)
- “Não gosto de jogo agitado e de correria, pois tenho medo da bola.” A22,
referindo-se ao Pega- Pega Competitivo.
- “Não gostei, meus amigos já tinham saído e a A1 e a A15 não queriam
passar só jogavam a bola com força para machucar, não gosto delas sor.” A12 ao
mencionar sua participação no jogo do Handemaluco Competitivo6.

5
Neste jogo os alunos distribuídos entre quatro territórios próximos, deveriam procurar alvejar
com a bola, o colega estrangeiro do outro território de modo a tira-lo do jogo. Aquele aluno que
ficasse na quadra sem ser acertado, eliminando o máximo de colegas, seria o conquistador de todos
os territórios.

6
Nesse jogo, atuado em dois times, os alunos trocarão passes sem conduzir a bola,
enquanto isso, dois alunos de cada equipe, segurando um arco, transitando somente pela linha do
fundo da quadra. Todos defendem e atacam, porém quem deixar a bola cair ou errar o passe sai do
jogo.
31

Estes foram alguns apontamentos originados pela prática do jogo competitivo,


onde parte dos alunos procurava ampliar o confronto, a exclusão e a rivalidade entre
seus colegas ressaltando traços marcantes desenvolvidos pela competição. Tais
traços se aproximaram dos estudos de Darido e Rangel(2008) ao mostrarem ainda,
que ao se elevar a competição, produz-se uma certa naturalidade pela exclusão e
frustração daqueles que têm medo ou já se habituaram em estar de fora do jogo.
Assim, entendo que as aulas de EF, devam ajudar seus alunos a se
conhecerem, fazendo da sua aproximação o princípio para o fortalecimento das suas
relações. Relações essas que, muitas vezes, são prejudicadas pela falta de
oportunidades de práticas de jogos que os desafiem a superarem, juntos, as
diferenças aparentemente constituídas, fortalecendo sua interação com um colega
até então distante.
Ao longo das aulas e das discussões sobre estas questões, os alunos foram
notando as distintas características existentes entre competir e cooperar, mostrando
que suas atitudes diante da competição, geravam, por diversas vezes, conflitos
como empurrar o colega e tirar-lhe o objeto das suas mãos. Já no jogo cooperativo,
puderam notar que suas intenções deveriam seguir um objetivo em comum, sem
rivalidade, nem a necessidade de uma aproximação mais brusca, como ressaltam
Darido e Rangel(2008).
Para isso, foi necessário fortalecer, ainda mais, a busca pelos jogos e
brincadeiras cooperativas, resgatando valores fundamentais a serem trabalhados na
escola. O que possibilitou que eles enxergassem a importância do coletivo sobre o
individual, aproximando-os através do compromisso pela solidariedade e respeito
humano. Compreensões que segundo Soares et. al (1992), só são possíveis
quando o jogo se faz a “dois”, sendo diferente jogar “com” o companheiro e jogar
“contra” o adversário(p.70).”
Dessa forma, nos Jogos Cooperativos, há a possibilidade de os alunos
enxergarem que todos são importantes para alcançar determinados objetivos, onde
a potencialidade de um pode vir a ser complementada com as demais habilidades
do grupo. O que foi proposto através da Conquista do Território Cooperativo7, onde
os alunos tinham que interagirem de forma mais ampla.

7
Neste jogo os alunos distribuídos em quatro territórios próximos, deveriam procurar alvejar
com a bola o colega estrangeiro do outro território, de modo a trazê-lo para o seu lado, tornando-o um
apoiador na troca de bola, ampliando o seu espaço de atuação com a ajuda dos novos companheiros.
Ao final, todos os alunos teriam conquistado juntos, o mesmo território.
32

Nesse jogo, onde todos jogam juntos para superar um desafio em comum, focando
numa meta coletiva, houve uma maior aproximação dos alunos, que tinham como
única missão não mais eliminar seus colegas, mas sim, trazê-los para o seu espaço,
de modo a trocarem passes para aumentar o seu grupo de ajuda, trabalhando
cooperativamente, auxiliando uns aos outros para que no final, todos se tornassem
conquistadores de um único território.
Assim, acredito que os alunos alcançaram outro olhar frente a esse jogo, o
qual fez com que a consideração com o colega fosse outra. Passou a ser notada a
ajuda mútua, a colaboração em passar a bola e a consideração entre as diferentes
habilidades em prol de um melhor desenvolvimento do jogo, como notado nas
expressões apresentadas pelos alunos a seguir:
- “Gostei do Território Cooperativo por que é importante jogar com o colega, o
A5 me ajudou a me posicionar” (A 21)
- “No jogo da Conquista do Território Coop. gostei por que ensinou agente a
conhece nosso colega não sabia que a A12 jogava sor” (A6)
Tais aprendizagens se aproximam à ideia apontada por Correia (2004) o qual
defende que a EF escolar, ao trabalhar com os Jogos Cooperativos, produzem
espaços e momentos em que as crianças aprendem a pensar e agir uns com os
outros. No mesmo sentido, Lopes(2008) ressalta que “conceber o Jogo Cooperativo
é entender o jogo tendo com forma de desenvolvimento a participação de várias
pessoas, resgatando valores que vão muito além dos jogos(p.13).” mostrando nos
que tais valores podem ser usados para buscar a igualdade e a justiça com o grupo
aplicando num contexto mais amplo.
Em meio a outras atividades propostas, continuei a notar as mudanças de
atitude nesses alunos, que diante da sua confiança, passaram a superar seus
medos junto a outros desafios, sendo possível comprovar através da vivência de um
jogo cooperativo adaptado a uma tradicional brincadeira de rua, chamada Stop 1,2,3
Cooperativo8 e do Jogo da Velha.
Esses jogos fizeram com que os alunos superassem desafios em comuns, focando
numa meta coletiva, onde todos deveriam tocar e passar, se deslocando através das suas
posições, adquirindo mais confiança ao se aproximar de seu colega, despertando

8
Nesse jogo, os alunos deveriam se distanciar o máximo possível daquele que estivesse de
posse da bola, este iria formar uma espécie ponte, dando três passos em direção colega que tivesse
a mesma cor de seu colete, caso não conseguisse toca-lo poderia passar a bola para que o mesmo
desse continuidade até chegar ao alvo.
33

outros sentidos como sendo claramente observado pelas ações e pela escrita de
A17 o qual apontou que “Hoje eu e minha turma jogamos stop 1,2,3 e foi incrível,
teve que ter cooperatividade, confiança e coordenação. O jogo da velha cooperativo
foi legal mas com o meu problema na perna fica difícil correr mas isso não me
atrapalhou porque sou monstro!”
Foi visto, ainda, a capacidade de envolvimento e participação desses alunos,
diante de alguns jogos desconhecidos e que foram recriados por mim, chamando
atenção desses alunos ao despertar outros gostos diante da transformação destes
jogos, onde A6 afirma“ Gostei muitíssimo do Handemaluco mas adorei o Passe em
Trio9 achei muito diferente por que nunca tinha ouvido falar.”
Durante a prática dos Jogos Cooperativos, fui percebendo que eles já
estavam jogando com menos receio, ajudavam mais os companheiros do time,
somando conhecimentos em vários momentos. Sua interação passou a ser
fortalecida através da aceitação das suas diferenças representada pelo interesse de
uma maior aproximação com seu até então distante colega. O que pôde ser notado
nas escritas de alguns alunos, no momento em que foram perguntados se,
gostariam de vivenciarem mais Jogos e Brincadeiras Cooperativas em suas aulas de
EF.
Seus comportamentos baseados em suas atitudes já apontavam para uma
ampliação dos seus olhares, mostrando o início de um caminho favorável a uma
outra perspectiva de aula, baseada nos encontros desses alunos com saber
vivenciado a partir dos Jogos Cooperativos, fortalecendo suas capacidades de
interação como demonstradas em suas respostas:
- “Sim, porque é bem divertido praticar várias brincadeiras com os colegas e é
tão bom estarmos todos unidos.” A19.
- “Sim porque tem o melhor professor e os melhores jogos porque eu gostei
dele foi porque o sor jogou com a agente ele nos ajudou e todos nós jogamos” A7.
5.3. Quanto a Socialização:

9
Os alunos em duplas terão que trabalharem juntos ao conduzir uma bola suspensa por um
colete através de um mine circuito devendo se auxiliarem nas dificuldades encontrada durante o
percurso, tendo em sua etapa final um terceiro colega segurando um arco que receberá a bola
lançada por essa dupla.
34

Pelo fato de vivermos em sociedade, passamos nossas vidas sendo


atravessados por processos transformadores em prol do desenvolvimento da nossa
personalidade e identidade. Durante este trajeto, o indivíduo vai se apropriando da
cultura que o cerca, iniciando, desde cedo, a repetição dos gestos daqueles que
estão mais próximos, absorvendo valores vindos da sua família, da comunidade e
até mesmo dos meios de comunicação.
Outro espaço apontado por Freire (2009), tido como fundamental para a
construção da personalidade da criança é a escola. Nesse local, o aluno tem a
oportunidade de ampliar seu conhecimento e o seu contato com os mais diferentes
conteúdos. Ao conviver num espaço composto pela diversidade cultural, em contato
com outras pessoas, o aluno amplia a sua formação quando busca outras
referências, levando-o a transformar seu modo de ser e estar no mundo.
Ao procurar ampliar alguns aspectos favoráveis as suas relações em grupo,
continuei a fazer uso os Jogos Cooperativos, entendo-os como um poderoso meio
para o fortalecimento do desenvolvimento pessoal e social dos alunos.
Em meio às aulas de EF, alguns valores trazidos do lado fora dos muros da
escola se sobressaíram, causando o distanciamento desses alunos, por estarem
mais próximos de uma formação competitiva, individualista e egoísta. Frente a isso,
considero que as aulas de EF podem problematizar os comportamentos e atitudes
dos seus alunos mostrando outros caminhos que os levem a aperfeiçoar suas
habilidades de se relacionar, aprendendo a viver uns com os outros ao invés de uns
contra os outros, como sugere Brotto (2002).
A alternância dos jogos competitivos pelos cooperativos objetivaram
problematizar a socialização entre os alunos, os quais demonstravam inicialmente,
não estarem muito acostumados a realizarem trocas voluntárias não favorecendo a
construção do conhecimento, da ajuda mútua e sim, valorizando, somente a divisão
das conquistas adquiridas pessoalmente.
Os comportamentos individualistas de alguns estudantes me apoiaram na
escolha de certos Jogos que os levassem a fortalecer outros caminhos através de
uma cooperação mais efetiva. Ciente que nos esportes, para se alcançar o resultado
em certas modalidades coletivas, seus jogadores precisam considerar alguns
aspectos em torno da cooperação. A troca de experiências, posições e condições
entre seus jogadores são fundamentais para se quantificar um resultado final, onde
a falha de um pode significar o insucesso do grupo.
35

Nesse contexto competitivo, parece só haver espaço para aqueles jogadores


de semelhantes habilidades, deixando de atrair aqueles que gostariam de aturem
junto as suas conquistas.
Ao vivenciarem outros tipos de jogos e brincadeiras cooperativas, esses
alunos puderam saborear outros tipos de conquistas, compreendendo os diferentes
valores que são construídos para se alcançar as vitórias. Nesse sentido, a
valorização das diferentes capacidades dos alunos os levaram a socializar as mais
ricas experiências, onde o resultado final não visava números num placar, e sim, a
qualidade das suas relações.
Experiências que passaram a serem desenvolvidas a partir da brincadeira do
Caçador em Corrente Cooperativo, que os estimulou a trabalharem
cooperativamente na busca por um resultado coletivo, sem perdedores, onde todos
jogam juntos para superar um desafio em comum.
Assim o jogo da Corrente cooperativa fui muito significativo, pois os alunos ao
perceberem que tinham que dar as mãos e jogarem juntos para alcançar o resultado, passaram
a considerar as limitações e diferentes habilidades encontradas em cada um, fazendo com que
todos fossem importantes na busca pelo resultado final..
A corrente construída através da socialização desses alunos, além de
aprimorar suas relações a partir das suas diferenças, fez com que a turma se
rendesse aos risos e a criação de estratégias para alcançar o último e ágil colega.
Sendo marcante diante dos olhares desses alunos, segundo os relatos de A3,
quando este diz que “Foi muito legal emocionante e divertido a brincadeira do
caçador em corrente...” e de outro aluno ao entender que “O caçador em corrente eu
também gostei porque dependia dos outros” A4. Sendo ainda, interessante a
manifestação de A10, fazendo referência a coletividade. Segundo ele:
- “Ninguém perdeu, é melhor jogar ajudando o colega porque todo mundo é
vencedor.”
E a união foi lembrada por outro aluno, que disse:
- “Gostei da Corrente por que agente aprendeu a ser unido para fazer as
coisas” (A9)
Apesar de alguns destes alunos, acostumados a viverem intensamente a
competição, terem, inicialmente estranhado a proposta de uma aula de EF diferente,
seus olhares, assim, como os do restante da turma apontavam favoravelmente à
continuação dos Jogos Cooperativos.
36

Durantes as atividades fui entendendo que esse processo é normal quando


se quer trabalhar com outros conteúdos e que, o diferente, ao mesmo tempo que
causa estranhamento, desafia e provoca um outro olhar sobre agir. Nesse caso, o
estranhar é comum quando se pensa em desenvolver um olhar transformador como
aponta Devide (2001).
Após a brincadeira da Corrente, percebi uma total disposição dos alunos em
continuarem em frente na proposta de experimentarem novas atividades, tendo
como resultado a diminuição das discussões e agressões muitas vezes causadas
por suas diferenças.
Acredito que isto tenha ocorrido, devido as aulas de EF serem estimuladas
através dos jogos cooperativos, servindo de iniciativa para uma maior participação e
interesse dos alunos que, envolvidos pela cooperação foram estimulados a
ampliarem outros valores também necessário ao convívio social como a amizade, a
sensibilidade, a ajuda mútua, a intercomunicação de ideias e o orgulho de
pertencerem ao grupo, se aproximando à ideia de socialização apontado por Soler
(2003).
Para os estudantes, tais atividades foram muito significativas, o que
possibilitou a ampliação da capacidade de percepção através de jogos cooperativos
sem perdedores, onde todos jogam juntos para superar um desafio comum buscando um
resultado coletivo.
Diante deste processo, os alunos experimentaram os jogos de inversão trabalhando
com a noção de interdependência pela troca dos pontuadores e do seu sistema, foi
proporcionado não somente uma maior socialização, como outras atitudes junto a um olhar
mais crítico fazendo com que expusessem seus pontos de vistas em relação aos seus
comportamentos frente ao Jogo Cooperativo denominado Handemaluco10 e Jogo da
Velha.
Dessa forma, A19 pontua: -“Eu gostei mais do handemaluco eu senti bastante
trabalho em equipe, união, gostei bastante, mas poderíamos ter mais foco e empatia
me diverti bastante queria ate jogar mais. O Jogo da velha cooperativo eu gostei
bastante mais divertido que o competitivo foi bem legal e diferente.”

Neste jogo cooperativo, divididos em dois times, os alunos trocariam passes sem conduzir
10

a bola, enquanto isso, dois alunos de cada equipe, vão transitando pelas linhas da quadra segurando
um arco de modo a ajudar seus colegas. Assim todos podem defender e a atacar, tendo um coringa
em cada lado, que jogará anulando um colega de outro time, marcando-o com um arco, liberando
também o seu companheiro. Quem acertar a bola do arco é convidado a passar para o outro time.
37

Seguindo pela busca de outras respostas que pudessem ampliar os olhares


desses estudantes através da prática alternada dos jogos competitivos e
cooperativos, identifiquei que também no jogo competitivo denominado Dança dos
Bambolês, alguns alunos passaram a demostrar a potencialidade de compreensão e
entendimento através dos jogos, a qual começara a se disseminar perante o grupo.
Diminuído o clima de tensão em relação às atividades mais individualizadas e
competitivas as quais estavam habituados a realizar, notei, que esses estudantes passaram a
minimizar suas preocupações em ser o melhor ou ficar em primeiro lugar.
Seus direcionamentos pareciam estar mais próximos a alegria, a diversão e o prazer
em estarem jogando juntos, o que facilitou a construção de momentos favoráveis a sua
socialização, ampliando aspectos voltados a solidariedade, fazendo com que através da
cooperação ficassem mais próximos uns dos outros.
Ao vivenciarem a riqueza de alguns jogos e brincadeiras tradicionais como a
da Dança dos Bambolês, as subjetividades encontradas em cada aluno passaram a
ser despertadas durante o jogo.
Percebi que os alunos estavam conseguindo valorizar o jogo como um meio
de se alcançar outros valores necessários ao convívio social, mostrando que a
solidariedade deve ser levada para além dos jogos, fortalecendo um ambiente
natural em seu lar, comunidade e também diante da escola. Essas manifestações
em prol de uma ampliação das suas relações sociais estiveram bem próximos ao
comportamento solidário encontrado no Jogo Cooperativo sugerido por Orlick
(1989).
Tal relação, pôde ser observada diante da simples alternância do jogo
Cooperativo para o Jogo Competitivo da dança dos bambolês, onde os alunos já
vinham assimilando as ideias, conceitos, atitudes entre as diferenças e semelhanças
encontradas nos formatos de tais jogos, deixando- os atentos e motivados a unirem-
se às próximas atividades.
O que fez com que A17 assumisse uma postura solidária e condizente com a
sua fala, ao apontar que no jogo da Dança dos Bambolês Competitivo11: “Achei legal,
apesar de ter perdido logo no inicio pude ficar do lado de fora torcendo para os meus
colegas”

11
Neste jogo os alunos deveriam ocupar os espaços vazios marcados pelos arcos
espalhadas pela quadra, onde através do comando, cada um deveria se posicionar dentro do seu
arco. Com o passar das rodadas, os participantes iam sendo eliminados pela escassez dos os arcos
no jogo.
38

Esse momento me fez constatar que esses alunos, já estariam rumando por
um caminho favorável a uma aceitação e compreensão sobre os valores
desenvolvidas em nossas praticas, nesse caso, a solidariedade despertada nos
jogos, foi fundamental vindo a proporcionar aos alunos, um olhar mais amplo,
direcionado tanto para si quanto para o seu grupo, passando a se considerarem
seres humanos igualmente valiosos.
Esse olhar auxiliou os alunos a se valorizarem como um todo, ajudando-os a
entenderem que em nossos encontros não estaríamos somente trabalhando com a
formação do corpo, e sim, fazendo das experienciais obtidas através de atividades
de cunho competitivo e cooperativo um avanço nas suas relações sociais, vindo a se
alinhar ao estudo apresentado por Vieira, (2007).
Dessa forma, notei que estas aproximações estavam se dando pela
motivação de estarem atuando juntos na descoberta da melhor forma de se jogar e
brincar cooperativamente diante dos tipos variados de jogos. Isso fez com que
despertasse seus entusiasmos, aumentando suas motivações por outros jogos
cooperativos, como notado na escrita de A18, ao ser perguntado se gostaria de ter a
oportunidade de continuar aprendendo com os jogos ele respondeu: “Sim, é um
mais legal que o outro é muito maneiro e cada um tem um jeito de jogar é muito
legal e maneiro”
Dessa forma, alunos foram superando as desconfianças e os afastamentos
interagindo sem medo e hostilidade, produzindo risos e muito cuidado com a
integridade de cada um. Passaram a reconhecer que suas diferenças físicas ou de
habilidades serviriam para alcançar a melhor forma de jogar-brincar. Como foi
observado por A22 que apontou na sua escrita“ Uau você se superou tio, gostei do
jogo da Velha Cooperativo!!! Amei os jogos me diverti demais. Quero jogar mais
vezes. A 18 é bem leve KKK, Ninjas são as melhores, senti muita alegria, amei os
jogos.”
5.4. Em Relação à Afetividade:
Um dos aspectos a serem considerados como fundamentais nesta pesquisa,
e que passou a ser enxergado e trabalhado de uma maneira mais ampla a partir do
encontro dos alunos com os Jogos e brincadeiras, foi a afetividade.
Durante a variação dos jogos Competitivos e Cooperativos, o aluno, envolto
as suas ações lúdicas, foi descobrindo outros espaços, fantasias, regras e valores,
passando a favorecer o aprimoramento da sua sensibilidade interna em prol da sua
39

personalidade humana. Personalidade essa, entendida por Wallon (1992)


fundamental para a aproximação da criança com o mundo social.
Diante da possibilidade de ampliação dos laços de afetividade proporcionados
através dos Jogos Cooperativos, os alunos passaram a demonstrar alguns
sentimentos e emoções direcionados a outros colegas que fossem diferentes
daqueles presenciados no momento em que a turma era exposta a uma atividade
competitiva.
Nesse sentido, fui apontando um caminho orientado pela busca do ensinar e
aprender através do carinho e do respeito às individualidades, não distanciando as
práticas dos seus gostos, possibilitando-as a todo tipo de aluno, resgatando no jogo
o respeito e a consideração por seu colega.
Ao seguirem alguns passos na direção da descoberta de outras dimensões
existentes nos jogos e brincadeiras cooperativas, os alunos foram sendo levados a
perceberem a importância de se considerar os desejos e sentimentos também de
seus colegas.
Confesso que no início estava preocupado com a agressividade de alguns
alunos, sendo gratificante, perceber que aos poucos a maioria dos alunos estava
conseguindo ampliar a sua sensibilidade, cooperação e comunicação resolvendo
alguns problemas e diferenças de forma pacífica. Esses jogos conseguiram reduzir
as agressões ao fazer com que os alunos atuassem de maneira mais próxima, tendo
todos a oportunidade de serem protagonistas ampliando suas relações graças ao
desenvolvendo da ética cooperativa.
Tais aproximações foram favorecendo a ideia entre os alunos que o
importante dentro dos Jogos Cooperativos, era valorizar com quem e como se
jogava e não, simplesmente, jogar uns contra os outros, permanecendo próximo aos
apontamentos de Brotto (2002) indicar que alunos vão alcançando alguns desses
valores gradativamente, chegando a resultados bem distantes daqueles inicialmente
percebidos.
O que ocorreu também nesta pesquisa, onde logo no início, seus
comportamentos passaram a ser analisados através de alguns jogos como:
40

Handecône Competitivo12, o qual tinha como objetivo fazer com que seus
participantes trocassem passes com a bola buscando acertar os cones espalhados
pela quadra, onde quem deixasse a bola cair ou errasse um passe, sairia do jogo.
Isso fez com que os alunos mais habilidosos procurassem sempre os
mesmos jogadores desconsiderando os demais colegas. Dessa forma, os contatos
entre aqueles que gostariam de também jogar, passaram a se resumir a uma forma
brusca de pagar a bola ou de encostar no colega, promovendo uma comunicação
baseada no uso de palavrões e xingamentos, vindo a inflamar outros
comportamentos negativos.
Estando ou não no mesmo time, uma quantidade de alunos influenciavam os
comportamentos dos demais, disparando, assim, diversas formas de violência
perante a turma. Como descrito por A9 neste jogo, “Queria jogar mais os guris não
passavam a abola e brigavam com quem queria jogar, o A14 tava roubando.”
Sendo também significativa a fala de A7, após experimentar a competição
neste jogo “Achei legal. Briguei com o A6 porque tava roubando e já tinha me dado
duas, ele sempre faz isso.”
Neste momento, percebi que um número significativo de alunos gostariam de
intervir mais no jogo, porém não tinham a chance de tocar na bola porque um de
terminado grupo de alunos já havia estabelecido uma preferência por quem poderia
jogar melhor para cumprir a meta. Isso fez com que o nível de cobrança aumentasse
entre os seus colegas. Como muitos focavam, exclusivamente, no acerto do alvo,
numa corrida desenfreada para vencer, deixavam de lado as regras, causando um
maior atrito entre seus contatos.
O nível competitivo imposto por esses alunos despertou, neste momento,
comportamentos desfavoráveis a sua formação mais ampla, ao basearem seus
gestos a partir da individualidade, agressividade, incentivando tentativas imorais
como trapacear ou de preconceito com as limitações e diferenças aos seus colegas,
junto a quebra das regras estabelecidas

Isso foi capaz de mostrar que a competição justifica cada vez mais sua
presença ao se alinhar ao fato de se viver em uma sociedade densamente
sobrecarregada por problemas éticos e morais, alimentados por suas diferenças

12
Jogo com duas equipes em quadra, cada uma tem que defender a atacar os cones
espelhados pela quadra, não pode conduzir nem deixar a bola cair, acontecendo, vai para a reserva,
só retornando quando o seu colega acertar o cone.
41

socioeconômicas e culturais justificando, assim, os gestos identificados nos alunos


e, que segundo Darido e Rangel(2008), são esses comportamentos que elevam ato
de jogar a uma grande dimensão estratégica pela sobrevivência.

O que de certa forma, veio a se confirmar quando alguns passaram a fazer do


jogo uma forma de eliminar o seu adversário. Não importando a forma, aqueles que
gostariam de jogar ou foram excluídos através do não recebimento da bola ou
vencidos pela força excessiva. Assim, boa parte do grupo, passou a ser estimulada
a focar na vitória a todo custo, sendo essas, ações comuns quando se prática
constantemente o jogo competitivo, segundo Brotto (2002).

Em outro jogo chamado Território Competitivo13 os alunos, passaram a


segurar a bola de modo a não passá-la à mais ninguém, mostrando que o
individualismo encontrado em alguns colegas, estava se espalhando perante a
turma, disparando comportamentos e atitudes desfavoráveis a um convívio mais
afetivo. Após vivenciar esse jogo A6 afirmou que, “Estava gostando, mas tive que
parar porque o A5 não parava de xingar a minha mãe, já tinha avisado, briguei com
ele.”

Esses fatos mostraram alguns indícios de um comportamento social até então


comum nesta turma, e que foram expostos diante da prioridade de alguns valores
que compreendem a sociedade contemporânea quando se prioriza somente a
individualidade através da competição.

Os alunos não estariam conseguindo alcançar novas condutas cooperativas


através das tradicionais formas de Jogos Competitivos, deixando em segundo plano,
valores como respeito e a solidariedade, fortalecendo a necessidade apontada por
Orlick (1989) de aproximação dos alunos aos Jogos Cooperativos.

Nesse caso, os apontamentos realizados pelos alunos desta turma,


mostraram que mesmo esse jogo sendo controlado por suas regras, não fez com
que diminuísse a violência e as ofensas entre eles, muito pelo contrário, quanto mais
imersos à competição, os alunos acionavam um modo individualista e agressivo de
ser.

13
Neste jogo os alunos distribuídos entre quatro territórios próximos, deveriam procurar
alvejar com a bola, o colega estrangeiro do outro território de modo a tira-lo do jogo. Aquele aluno que
ficasse na quadra sem ser acertado, eliminando o máximo de colegas, seria o conquistador de todos
os territórios.
42

Suas ações afastavam-se da ideia deixada ao esporte, ao considerá-lo como


meio ou parte de um processo civilizatório, e que segundo Elias (1992) serviria com
auxilio para diminuir a aceitação à violência.

Ao planejar outras atividades que servissem de contraponto a lógica


competitiva, afastando-os do egoísmo e das agressões, procurei fazer com que os
alunos enxergassem os jogos e brincadeiras cooperativas como uma busca pela
qualidade das suas relações.

Assim, através do jogo Handemaluco ou pelo também identificado pelos


alunos, Gol Ambulante Cooperativo14, não haveria exclusão de nenhuma espécie,
somente a troca de jogadores de um time para o outro, quando pontuassem.
Durante o jogo, os alunos conseguiram manter o contato físico, porém de uma outra
forma, entendo que não haveria a necessidade da força mas, sim, do jeito para se
alcançar a bola ao colega ou liberá-lo do arco, utilizando-se da sua condição de
coringa. Passaram a entender uma outra dimensão do jogo, não tendo mais a
preocupação de vencer ou ficar de fora e, sim saborear um jogo vivenciando as mais
diversas situações.

Em meio aos relatos, o estudante A19 conseguiu, durante as variações desse


jogo, se colocar no lugar do seu colega afirmando que no “Gol Ambulante
competitivo achei bem divertido, mas não gostei muito, pois tem pessoas que
gostam de jogar e foram excluídas. 2- Gol Ambulante cooperativo eu achei bem
mais divertido que o primeiro e todo mundo pôde jogar é bem diferente do
competitivo.” Diante do relato do aluno percebi que mesmo gostando e
permanecendo no primeiro jogo, esse não deixou de se preocupar com os demais
colegas, mostrando que a afetividade entre os alunos passou a ser enriquecida, no
momento em que eles começaram a perceber que deviam jogar juntos para superar
os desafios e não para derrotar os outros, fazendo do esforço cooperativo uma
necessidade para atingir um objetivo em comum, transformando um cenário ao qual,
segundo Brotto (2002) geralmente tem a finalidade de privilegiar somente o sucesso
de alguns.
14
Neste jogo cooperativo, divididos em dois times, os alunos trocariam passes sem conduzir
a bola, enquanto isso, dois alunos de cada equipe, vão transitando pelas linhas da quadra segurando
um arco de modo a ajudar seus colegas. Assim todos podem defender e a atacar, tendo um coringa
em cada lado, que jogará anulando um colega de outro time, marcando-o com um arco, liberando
também o seu companheiro. Quem acertar a bola do arco é convidado a passar para o outro time.
43

Outro estudante também fez referência positiva ao jogo do Handemaluco


cooperativo. Segundo A5, “Vi que o jogo 2 cooperativo agente tinha que se ajudar
mais, o A12 parou de xingar e reclamar que tinha que sair com a bola.”

Este foi um momento emblemático, pois pude perceber que A12, aquele
aluno, que sempre estava envolvido em algum tipo de atrito e que me caçava com
os seus olhos sempre no inicio das aulas à procura de uma bola para o seu futebol,
e que também desviava o olhar quando tinha ciência que estava exagerando em
seus gestos, estaria começando a ajudar mais os seus colegas fazendo da sua
comunicação uma forma de incentivo, se colocando nesse jogo, atrás dos seus
colegas de modo a orientá-los, só que dessa vez sem empurrões ou atitudes
agressivas.

Ao fazê-los vivenciar o Jogo Cooperativo como uma prática de ação ligada a


harmonia dos seus gestos e comunicação, passei a observar a diminuição das suas
condutas latentes que prejudicavam a ampliação das suas relações sociais, relações
essas importantes segundo Civitate (2003), para a preparação do individuo no
enfrentamento das barreiras que serão comuns no mundo real.

Em outros momentos proporcionados pelos Jogos Cooperativos, continuei a


notar um outro tipo de contato e aproximação dos alunos, como relatado pelo aluno
A9 durante o jogo do Handemaluco Cooperativo. Segundo ele ”Foi melhor, porque
ninguém saiu, salvei o A12, gostei de ter ajudado os colegas e o sor não parou,
porque não teve briga.”

Outro relato sobre a mesma atividade foi do estudante A7 que no mesmo jogo
achou “Mais legal, tive que ajudar as gurias, foi massa, elas me salvaram, gostei da
A 23, ela foi junto comigo e ninguém brigou.”

Dessa forma, os tipos de Jogos Cooperativos foram se consolidando como


conteúdo voltado ao desenvolvimento dos alunos, promovendo a conscientização e
a cooperação, não só prevenindo ações violentas, como levando-os a se importarem
mais com seus colegas, respeitando seus limites junto a sua integridade física e
moral.
44

O que pode ser notado diante do jogo do Túnel Cooperativo15, no qual o aluno
A12 percebeu que as dificuldades encontradas nele e em seus colegas poderiam
ajudar na aproximação e no cuidado com os outros ao apontar que o jogo foi “legal,
tava difícil de jogar, todo mundo próximo, gostei um cuidou do outro para não se
machucar , comecei a gostar de jogar com a A17, ela é maneira.”

Estes apontamentos foram se somando aos dos demais alunos, comprovando


sua mudança de conceitos e atitudes desenvolvidas durante as práticas, sendo
ainda mais significativas suas respostas, quando questionados se gostariam de
continuar tendo estes jogos e brincadeiras em suas aulas. Seus olhares apontaram
que as novas formas de se jogar cooperando foram positivas ao seu
desenvolvimento ao ampliar, ainda mais, seus laços afetivos. Assim, o aluno A10
aponta: “Sim, porque tem muitas brincadeiras legais que faz agente não brigar com
o colega, joguei com as meninas kkkk..foi legal.”

Outro estudante ampliou, “Sim, porque nas aulas eu percebi a amizade e o


cuidado dos meus colegas e pra levar pra vida toda.” (A14)

Como vimos, além das práticas que giram em torno do desenvolvimento


motor do aluno, o professor de EF ao trabalhar com os jogos, tem a possibilidade
não apenas de desenvolver em seus alunos aspectos voltados a coordenação dos
seus movimentos como promover ações que possibilitam resgatar aspectos afetivos
e de cuidado com o outro, os quais foram potencializados diante destas experiências
vivenciadas.

Dessa forma, passei a perceber que a ampliação dos laços afetivos, é um


grande passo para o aperfeiçoamento das relações do ser humano, tendo o
professor o compromisso de aproximar os alunos aos conteúdos dos jogos,
despertando a ideia apontada por Freire (1999), a favor de uma ética cooperativa
fortalecida já na base do desenvolvimento das crianças.

5.5. Onde Chegamos?

Quando perguntados quais jogos mais gostaram de fazer, pude constatar uma
vasta preferência diante das variedades de jogos a eles oferecidas, mostrando que
15
Neste jogo os alunos formam uma fila dupla, de frente um para o outro, suspendendo um
colete com as duas mãos. A primeira dupla parte do fim da fila, elevando o colete acima dos seus
colegas sem deixar cair a bola, fazendo com que o demais da fila se agachem para a sua passagem.
Durante o circuito, as duplas têm que atuarem de forma dinâmica, ajudando-se ainda, mais, no
momento do arremesso à sexta improvisada.
45

os alunos estão sempre abertos a novas experiências, mesmo que algumas dessas
se resumam a simples adaptações aos jogos e brincadeiras tradicionais como:
Pega-Pega, a Dança dos Bambolês, Jogo da Velha, Stop 1,2,3, Pega a Bandeira,
Caçador em Corrente, Túnel Cooperativo, Conquista do Território, Handecône e
Handemaluco. Tais experiências aproximaram os alunos aos aspectos tidos como
fundamentais para Blanco (2007) quando se trabalha com os jogos cooperativos,
alcançando a empatia, a estima e a alegria de se aprender jogando.

Durante essas atividades, os alunos do sexto ano do ensino fundamental, conseguiram


aperfeiçoar suas habilidades através de novas experiências as quais, a princípio, causaram
muita estranheza diante de seus olhares só acostumados a um tipo de jogo, sendo uma
consequência natural segundo Brotto (2002). Conforme alguns se arriscavam a interagir de
modo diferente, os demais conseguiam, ao seu jeito, se aproximar, tateando o terreno de modo
a se sentirem mais confortáveis e seguros.

Diante dos outros formatos de jogos seguintes o medo, foi perdendo lugar para a
curiosidade e a vontade de querer passar mais tempo experimentando as sensações geradas
pela transformação não só dos jogos e brincadeiras como também do seu modo de enxergar
sua relação com o colega.

Quando perguntados novamente no, final deste estágio, o que pensavam


sobre as aulas de EF, muitos passaram a considerar ainda mais essa disciplina,
vindo a despertar algo novo nos alunos, como registrado nas escritas dos
estudantes:

-“É muito legal tanto o professor quanto as atividades, adorei todas as


brincadeiras.” (A6)

- “Sobre as aulas penso que elas são divertidas.” (A13)

- “Acho bem divertidas e adorei ter essas experiências com essas aulas, vou
leva-las para a minha vida inteira.” (A19)

Diante dessas respostas os alunos, através do exercício da convivência, passaram a


fazer dos jogos um meio de entendimento e melhoria das suas relações.

Seguindo o relato do aluno A6, não é sempre que o professor consegue manter uma
relação próxima com seus alunos, o que acredito ter sido possível devido a construção do
conhecimento realizado junto aos estudantes, sendo somente um mediador, não impondo ou
46

obrigando-os a participarem, muito pelo contrário, ao promover diversas atividades, eles se


sentiam cada vez mais desafiados, estando sempre a espera por novas formas de se aprender
jogando.

O fato do aluno destacar que adorou todas as brincadeiras, demostra a potencialidade


existente no conjunto desses jogos ao dar oportunidade a todos os alunos de se apresentarem a
um jogo que valorize as suas capacidades, despertando em si e no grupo outros conceitos e
habilidades. Dessa forma, a maioria da turma, assim como o aluno A19, pôde perceber que
quando se opta em compartilhar o jogo da escola de modo cooperativo, as dificuldades
passam a ser amenizadas, diminuindo os conflitos sugeridos por Brotto (2002) ao fazer da
cooperação um fortalecimento das suas iniciativas na busca de outras formas de ser e intervir
no jogo da vida e da identificação do seu lugar no mundo.

Este entendimento demostrado pelos alunos, traduziu-se não só através de outra


postura em relação ao seu novo olhar sobre os jogos, como na manifestação da continuidade
destes, em suas aulas, comprovando-se nas perguntas realizadas em nosso último momento
juntos, se gostariam de continuar tendo os jogos e brincadeiras cooperativas em suas
aulas. Suas respostas seguiram praticamente o mesmo sentido, como visto a
seguir:

- “Sim, pois não fica aquela coisa repetitiva de sempre!” (A12)

-“Sim, porque são legais e divertidos e é uma coisa para aprender e brincar.”
(A3)

-“Sim, porque além de brincar nós pudemos aprender com as brincadeiras.”


(A20)

-“Sim, porque a gente aprende muitas brincadeiras e levar para o


conhecimento.” (A23)

Diante destes últimos relatos, percebeu-se que se as aulas se mantivessem


com um mesmo formato, envolvendo sempre os mesmos objetos, promovendo
sempre a seleção e o destaque dos mesmos participantes, fatalmente os jogos e
brincadeiras gerariam os mesmos desagrados que afastam alguns alunos quando
expostos aos jogos competitivos.

Ao longo da diversificada apresentação dos jogos cooperativos, em algumas


situações, o jogo foi capaz de enriquecer os sentidos e conceitos dos alunos
47

somente com a utilização de um número reduzido de arcos. Isso prova que,


independentemente da realidade econômica e do contexto social a qual a escola
esta inserida, o professor nem sempre precisa ter como recurso os mais variados
materiais a sua disposição.

Entendo que o fator estrutural é importante, porém penso que é diante da


limitação, que os sujeitos são desafiados a fazer da criatividade a principal
ferramenta de alcance ao aprendizado. Assim, além dessa condição, professores e
alunos ainda se deparam com uma imagem equivocada, construída ao longo do
tempo, sobre a EF, onde muitos afirmam que basta ter uma bola e a aula já esta
dada, levando de, certa forma, o aluno a parar no tempo, restringindo o seu
conhecimento ao não possibilitar outras formas que possam impulsioná-lo para a
descoberta do saber.

Dessa maneira, notei que os jogos cooperativos permitiram a ampliação da


realidade da vida dos alunos, desenvolvendo sua autoestima, diminuindo o medo de
falhar, aumentando a capacidade das expressões da turma, aproximando os alunos
das atitudes as quais Brotto(2002), apontou como sendo necessárias para uma
educação transformadora.

Suas falas trouxeram como prioridade um aprendizado baseado no prazer


encontrado nos jogos e brincadeiras, vindo a estimulá-los a continuarem
descobrindo que para se avançar na descoberta das diferentes formas de se jogar,
não bastam somente as habilidades motoras e sim, o somatório dos seus gestos,
valorizando o cognitivo e o social, alcançando, assim, a Educação Física de corpo
Inteiro almejada por Freire (2009).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Diante dos caminhos percorridos em minha trajetória como aluno e indivíduo


de uma sociedade marcada por seus conflitos e riquezas, realizei este trabalho
movido pela esperança de desenvolver uma “educação para paz” de modo que as
crianças possam entender o mundo em que vivemos, fazendo das suas relações um
meio para alcançar o respeito à vida e a dignidade de cada pessoa, deixando de
lado a violência, a injustiça e a intolerância.

Acredito que tenha me aproximado, pelo menos um pouco, desde ideal. Se


isto é sonho de quem procura enxergar, no futuro, uma sociedade mais justa, digna
48

e honesta, este trabalho teve a iniciativa de soltar as primeiras sementes num solo
pouco revirado por outras ferramentas, contudo mostrou ser, comprovadamente, um
terreno rico e fértil ao desenvolvimento humano.

A escola contínua sendo como, muitos afirmam, a segunda casa dos


estudantes. Neste local, eles passam a maior parte da sua infância e adolescência
constituindo suas relações, conhecimentos e suas identidades. Foi diante desse
cenário que busquei ampliar os olhares dos estudantes sobre os jogos competitivos
e cooperativos permitindo a eles alcançarem outros aspectos em torno da sua
interação, socialização e afetividade através do prazer de se aprender jogando.

Ao longo dos seus relatos, os estudantes mostraram ter se apropriado dos


jogos e brincadeiras cooperativas ao enaltecerem o conjunto de valores existentes
em suas essências, despertando outros sentidos ao exporem seus comportamentos
e olhares diante da liberdade, do respeito, da cooperação e da comunicação
desenvolvida por uma outra forma de se jogar.

Diante de tais apontamentos, a possibilidade de equilíbrio sobre a os jogos


competitivos e cooperativos nas aulas de EF, parece ter sido alcançada. Os alunos
conseguiram avançar sobre o condicionamento competitivo que segundo Brotto
(2001) está profundamente marcado nas crianças mais velhas, comprovando a
necessidade de um recondicionamento através de alternativas cooperativas como
demonstrados em seus estudos.

Notei que, diante de outros valores, os alunos passaram a entender o ritmo


diferenciado dos demais colegas, compreendendo seus limites e suas capacidades,
sendo os jogos cooperativos capazes de apontarem um caminho a favor da redução
da violência potencializando a tolerância, o respeito ao próximo e o desenvolvimento
da sua autonomia. Dessa forma, passaram a jogar com o colega e não contra ele,
promovendo a participação e interação de todos numa conduta contra as agressões
em respeito às diferenças.

Frente à ampla gama que envolvem as suas práticas pedagógicas, entendo


que a EF deva proporcionar um ambiente alegre, agradável de estar e aprender,
considerando as experiências e desejos de seus alunos analisando suas
preferências diante dos seus comportamentos e sentimentos.
49

Entendo ser necessário, nas aulas de EF, apresentar aos nossos alunos os
mais variados sentidos carregados pelos jogos, não menosprezando aspectos de
um em detrimento de outro. Ao conhecerem a riqueza do seu conteúdo, poderão
identificar os aspectos necessários a sua formação e, que diante do seu contexto
social, possam vir a colocar em prática tanto atitudes solidárias e de respeito como
habilidades que fomentem sua cultura do movimento.

Durante as aulas, passamos por vários momentos conturbados e de conflito


causando o afastamento de alguns alunos. Assim passei a compreender através dos
apontamentos de Darido e Rangel(2008), que “o papel do professor é melhorar
esses conflitos, no sentido que eles sejam resolvidos através do diálogo, do respeito
mútuo e não da agressão moral ou física (p.168).” O que, nesse caso, diante das
propostas apresentadas pelos jogos cooperativos, o jogo transformado pôde vir a
estimular a criatividade e a resolução desses problemas.

Dessa forma, pode-se considerar que os jogos cooperativos beneficiaram o


desenvolvimento dos alunos ao se aproximar dos apontamentos levantados por
Rego(2002) quando, o mesmo, afirma que devemos criar “ambientes desafiadores,
capazes de “estimular o intelecto” proporcionando a conquista de estágios mais
elevados de raciocínio (p.79).”

Momentos como esses, vivenciados nesta pesquisa, conseguiram contemplar


algumas diretrizes contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998),
ressaltando a importância dos jogos ao fazer com que o aluno, em meio as suas
práticas, seja capaz de:

Perceber-se integrante, sendo um transformador do ambiente,


identificando seus elementos e as interações entre eles,
desenvolvendo o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento
de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética,
estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com
perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania
(p.147).

Assim, a turma passou a fortalecer essas atitudes, através da ideia de um


jogo sem perdedores, onde a meta focada era a superação dos desafios em comum,
colocando em jogo seus mais diversos conhecimentos através da inversão do seu
processo, gerando estranheza, surpresa e motivação em busca de novos saberes e
prazeres ao ensinar tanto na vitória quanto na derrota.
50

Estes momentos se aproximaram verdadeiramente do significado de


“VenSer...Juntos”, apontado por Freire(2009), mostrando a nós futuros professores,
que os alunos estão a nossa espera por algo novo e encantador e que vale apena
sempre ousar para construir seus caminhos na busca por outras formas de
conhecimento.
51

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