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s t 8 º.
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VOLUME 4

Europa: ideologias
do século XIX _________________ 2

Europa: movimentos
do século XIX _________________ 12

Imperialismo: África
e Ásia __________________________ 22

A América no século XIX ____ 34


©Shutterstock/Alexandr Medvedkov

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Europa: ideologias
do século XIX
1 Justificativa de seleção de conteúdo.
©Age Fotostock/Easypix Brasil

A expansão das
indústrias provocou
o rápido crescimento
das cidades, que,
sem planejamento,
recebiam migrantes
do meio rural, pois as
fábricas empregavam
a maior parte da
mão de obra. Nessa
ilustração, Gustave
Doré retratou a vista
de cortiços de Londres,
majoritariamente
habitados por
operários. A obra
demonstra as
condições em
que viviam esses
trabalhadores.

DORÉ, Gustave. Sobre Londres pelo trilho. 1872. 1 gravura, p&b. Museu de Londres, Inglaterra.

No decorrer do século XIX, as sociedades europeias passaram por uma série de transformações.
Isso se deu, principalmente, devido à Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, na
Inglaterra, e à Revolução Francesa de 1789, influenciada pelos ideais iluministas. Com a primeira, os
modos de produção foram alterados e houve o surgimento de um novo grupo social: o operariado.
Já a segunda trouxe à tona discussões a respeito de temas como a liberdade e a igualdade, essen-
ciais para a estruturação de um novo sistema político na França, a República.
À luz desses acontecimentos, no século XIX, diferentes pensadores tentaram compreender as
novas sociedades que se configuravam, propondo soluções para os problemas da época.

e s p aço de diálogo
2 Sugestão de abordagem da atividade e gabarito.
Leia a imagem e relacione a cena retratada com as transformações vivenciadas pelas sociedades europeias
que se industrializaram a partir do século XVIII.

2
o s
iv ƒ Compreender o contexto econômico e político da Europa no século XIX.
et ƒ Explicar o conceito de Liberalismo e identificar suas principais características.
O bj ƒ Relacionar o surgimento do Socialismo a uma resposta ao Liberalismo burguês.
ƒ Compreender os princípios do Anarquismo.
ƒ Caracterizar o Nacionalismo e relacioná-lo aos processos de construção de identi-
dades nacionais a partir do século XIX.
ƒ Analisar a Doutrina Social da Igreja durante o século XIX e seus principais objetivos.

3 Sugestão de abordagem do conteúdo.


Como você já estudou, a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII,
provocou grandes transformações na economia europeia e também nas sociedades, alterando as
formas de trabalho, a organização das famílias e até das cidades.
A partir desse período, dois grandes grupos dividiam a sociedade. De um lado, o proletariado, for-
mado por operários que viviam em condições de miséria e dependiam da própria mão de obra para
sobreviver; do outro, a burguesia, detentora da maior parte das riquezas produzidas.
O tempo de trabalho dos operários era con-
©Alamy/Fotoarena

trolado e, muitas vezes, as jornadas chegavam


a 16 horas por dia, quase sem descanso. Apesar
da alta carga de trabalho, recebiam salários bai-
xos, insuficientes para sua sobrevivência e de
suas famílias. Com o surgimento do ambiente
fabril, o sistema capitalista – antes comercial –
passou a ser industrial.
Essas mudanças foram alvo de reflexões
de pensadores sobre como o trabalho estava
organizado nas fábricas e sobre as condições
de vida dos trabalhadores. Dessa maneira, fo-
ram estabelecidos debates entre teóricos que
visavam justificar ou propor mudanças a res-
peito da organização das sociedades após a
industrialização, o que motivou a formulação
de algumas ideologias sobre as relações de
trabalho nos meios fabris e também sobre os
sistemas econômicos adotados pelas nações.

ideologias: conjunto de ideias, crenças e princípios


MARCHA dos cartistas sobre o parlamento. 1839. 1 filosóficos, sociais e políticos que caracterizam o
xilogravura, p&b. pensamento de um indivíduo, grupo, movimento, época
As reivindicações dos trabalhadores se confrontavam com ou sociedade.
os interesses da classe política da época. As pessoas que não
tinham propriedade não podiam votar. Então, os trabalhadores
organizavam reuniões públicas para questionar e propor soluções Muitos trabalhadores também passaram
para a situação; porém, muitas vezes, eram dispersos pela polícia, a lutar para conquistar melhores condições de
o que acabava gerando confrontos violentos nas cidades. vida, portanto, manifestações e revoltas operá-
rias, como o Ludismo e o Cartismo, por exem-
plo, tornaram-se constantes no século XIX.

3
©Granger/Glow Images
Liberalismo 4 Sugestão de abordagem do conteúdo.

As origens do Liberalismo remontam ao século XVIII


com as reflexões propostas pelos fisiocratas franceses,
cujas principais ideias defendiam a não intervenção do
Estado na economia. Para esses pensadores, a economia
deveria ser regida por leis naturais.
No século XIX, essas ideias foram reinterpretadas
de diversas maneiras, voltando-se para o estudo do
Capitalismo industrial e seus mecanismos de funciona-
mento. Assim, o Liberalismo apresentava duas vertentes
principais: a política e a econômica.
No âmbito do Liberalismo político, buscava-se um
governo que rompesse com as práticas absolutistas. O
Estado era visto como responsável pelo espaço público,
pelas leis que regiam a sociedade, pela defesa da proprie-
dade privada e por garantir condições para a produção de
mercadorias. Não poderia, contudo, intervir na economia.
RETRATO de Adam Smith. 1 óleo sobre tela, color. Scottish
O Liberalismo econômico foi estruturado com base National Gallery.
principalmente no pensamento do economista escocês Na obra A riqueza das nações (1776), Adam Smith elaborou a
Adam Smith (1723-1790), que defendia a livre concorrên- teoria de autorregulamentação da economia. Tal teoria pode ser
cia de mercado. Segundo ele, a economia deveria se au- compreendida pelo lema “laissez faire, laissez passer, le monde va
de lui-même”, que significa “deixai fazer, deixai passar, o mundo
torregular de acordo com a oferta e procura de mercado; caminha por si mesmo”, fazendo referência às leis naturais ou à
assim, os comerciantes definiriam a quantidade, o preço e “mão invisível” que regularia a economia, sem interferência do
a qualidade dos produtos fabricados. Estado.
©Wikimedia Commons/Iconographic Collections

Além das ideias de Smith, destacaram-se as do eco-


nomista britânico Thomas Malthus (1766-1834), cuja
principal teoria enfatizava o papel do Estado em garantir
a ordem social e o desenvolvimento da economia. Para
esse economista, a produção mundial de alimentos pode-
ria chegar a um colapso, pois, de acordo com sua teoria,
a população crescia em progressão geométrica (1, 2, 4, 8)
enquanto a produção de alimentos aumentava em pro-
gressão aritmética (1, 2, 3, 4). Portanto, caberia ao Estado a
responsabilidade de controlar a reprodução desordenada
da população.

Na obra Ensaio sobre o princípio da população


(1798), o economista britânico Thomas Malthus
desenvolveu a teoria a respeito do crescimento
populacional em progressão geométrica,
defendendo a ideia de que seria dever do Estado
controlar o aumento populacional a fim de
garantir a prosperidade da produção de alimentos.

LINELL, John. Retrato de Thomas Malthus. 1834. 1 gravura,


p&b.

4 8º. ano – volume 4


Socialismo 5 Aprofundamento de conteúdo.

O Socialismo surgiu como resposta aos problemas sociais decorrentes das sociedades industrializadas. O
objetivo dos teóricos dessa ideologia era propor soluções para organizar a sociedade de maneira mais justa e
igualitária. Ao contrário dos liberalistas, os socialistas defendiam que as riquezas produzidas deveriam ser divi-
didas de maneira igualitária e, portanto, acreditavam que era dever do Estado garantir que isso fosse efetivado.
Veja, a seguir, os principais pensadores dessa ideologia.

Socialismo utópico 6 Aprofundamento de conteúdo.

Um dos primeiros teóricos do Socialismo foi Claude-Henri de Rouvroy, conhecido como Conde de Saint-
-Simon (1760-1825). Esse pensador idealizava uma sociedade com as desigualdades amenizadas pela inter-
ferência do Estado na economia. Saint-Simon defendia que a sociedade deveria ser regida por cientistas e
empresários, os quais prezariam pelo bem-estar dos grupos sociais menos favorecidos, e as riquezas produzidas
seriam divididas entre os cidadãos.
Outro teórico do Socialismo foi Charles Fourier (1772-1837), que defendia a criação de sociedades comuni-
tárias, conhecidas como falanstérios, que seriam pautadas no cooperativismo. Nessas sociedades, os indivíduos
trabalhariam nas atividades que tivessem mais habilidades e dividiriam os bens produzidos, portanto não have-
ria salários. Ao dar ênfase ao cooperativismo, buscava-se acabar com a concorrência desenfreada, característica
do Liberalismo econômico. Os falanstérios de Fourier, contudo, nunca foram postos em prática.
©Wikimedia Commons/Victor Considérant

Os falanstérios foram
idealizados por François
Charles Fourier. Eram
edifícios nos quais se
viveria em comunidade,
sem salários e com
normas comuns a todos.
Essas cooperativas
faziam parte de ideias
socialistas de Fourier.

CONSIDÉRANT, Victor. Falanstério. Século XIX. 1 ilustração, p&b.

Ao contrário de Fourier, o inglês Robert Owen (1771-1858) conseguiu colocar em prática o modelo de co-
munidade por ele idealizada. Ao se tornar proprietário de uma indústria têxtil, o ex-operário tomou medidas
que visavam diminuir as desigualdades e os abusos sofridos pelos trabalhadores. Assim, aumentou os salários
dos operários, diminuiu as jornadas de trabalho e instituiu assistência social aos trabalhadores de sua fábrica.
Para expandir essa experiência, Owen tentou estabelecer comunidades cooperativistas nos Estados Unidos.
Entretanto, o projeto não funcionou e o pensador retornou à Inglaterra. Owen foi o primeiro a usar o termo
“socialismo” para se referir aos seus ideais.
As teorias desses pensadores foram, posteriormente, criticadas pelos socialistas científicos. Estes afirmavam
que aqueles não haviam apresentado os instrumentos e os métodos necessários para alcançar seus objetivos.
Por isso, foram denominados posteriormente de socialistas utópicos.

história 5
Socialismo científico
Em 1848, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) publicaram o Manifesto do Partido Comunista.
Nesse livro, fizeram uma análise histórica das condições de vida e de trabalho em diversas sociedades e em di-
ferentes temporalidades. Para eles, a história da humanidade foi marcada pela luta de classes, em que há um
grupo opressor e outro oprimido – escravizados e senhores, servos e senhores feudais e operários e burgueses,
por exemplo. 7 Aprofundamento de conteúdo.
©Wikimedia Commons/Fototro

ESTÁTUA de Karl Marx e Friedrich


Engels, em Chemnitz, no Parque das
Vítimas do Fascismo. 1 fotografia,
color. Alemanha.

No contexto do Capitalismo industrial, compreenderam os conflitos entre os donos dos meios de produção
e o proletariado como a forma moderna de exploração dos grupos dominantes sobre os dominados. Para os
socialistas científicos, o proletariado seria o único grupo social capaz de colocar fim à exploração sofrida pelos
trabalhadores e isso apenas aconteceria quando o Capitalismo deixasse de existir.
Com base em estudos científicos, propuseram meios para que os trabalhadores lutassem contra o sistema
capitalista – visto como o responsável por sua exploração –, e o substituíssem pelo Socialismo. Assim, foram
considerados pertencentes a outra corrente, o Socialismo científico.
De acordo com o Socialismo científico, a mudança aconteceria a partir do momento em que os trabalha-
dores (cujo único bem que tinham era a mão de obra) criassem a consciência de sua situação e começassem a
se organizar. Organizados, fariam uma revolução e ocupariam o poder. Esse primeiro estágio seria denominado
Socialismo ou Ditadura do proletariado, quando as propriedades e os meios de produção passariam a pertencer
ao Estado, ou seja, caberia ao Estado a responsabilidade de regulamentar a economia.
Com a revolução e a presença do proletariado no poder, objetivavam construir uma sociedade igualitária,
na qual não existiriam classes sociais tampouco propriedade privada, e o trabalho seria dividido por todos,
assim como as riquezas produzidas. Quando isso acontecesse, o Socialismo passaria a um segundo estágio, o
Comunismo. 8 Aprofundamento de conteúdo.
Devido ao destaque que as teorias de Marx tiveram nessas discussões, muitas vezes, o Socialismo científico
é também chamado de Marxismo.

6 8º. ano – volume 4


interpretando docum entos 9 Gabarito.

Desde seu lançamento, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria de Friedrich Engels e de Karl Marx, serviu
de inspiração para partidos políticos e grupos de trabalhadores ao redor do mundo. Leia com atenção um trecho dessa obra e,
em seguida, responda às questões.

Qual é a posição dos comunistas com relação aos proletários em geral? Os comunistas não formam
um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não têm interesses que os separem dos interes-
ses do conjunto do proletariado. Não estabelecem princípios particulares, segundo os quais gostariam de
modelar o movimento proletário. Os comunistas se distinguem dos outros partidos proletários apenas em
dois pontos: 1º. Nas diferentes lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses
independentes da nacionalidade e comuns a todo o proletariado; 2º. Nas diferentes fases por que passa a
luta entre proletários e burgueses. Eles sempre representam os interesses do movimento em sua totalidade.
[...] Os comunistas se recusam a dissimular suas opiniões e seus projetos.
Proclamam abertamente que seus objetivos não podem ser alcançados dissimular: disfarçar, esconder.
senão pela derrubada violenta de toda a ordem social passada. Que as Proclamam: declaram algo
classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista! Os pro- publicamente.
letários nada têm a perder [...]. Têm um mundo a ganhar.
Proletários de todos os países, uni-vos!

ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 2. ed. São Paulo: Escala, 2012. p. 71-103. (Grandes obras do
pensamento universal, n. 71).

a) Por que os autores afirmam que os comunistas não formam um partido à parte, oposto a outros partidos operários?

b) Em quais aspectos os comunistas se diferenciam de outros partidos proletários?

c) Por que, para eles, era necessária a união de todos os proletários?

Anarquismo 10 Aprofundamento de conteúdo.

Assim como no Socialismo, na ideologia anarquista buscava-se o fim das desi-


gualdades e dos privilégios das classes dominantes. Contudo, os anarquistas eram Anarquia vem do
grego anarchia e significa
contrários a qualquer tipo de autoridade, considerada por eles um dos principais
ausência de autoridade.
motivos da infelicidade humana. Assim, viam o Estado como a expressão máxima
da autoridade e como um instrumento de opressão da população. Portanto, segundo esses pensadores, era
necessário acabar não apenas com o Capitalismo, mas também com o próprio Estado, para a existência de uma
sociedade igualitária. Para os anarquistas, ao impor leis e garantir a propriedade privada, o Estado restringia a
liberdade e a igualdade, em vez de garanti-las.

história 7
Os anarquistas também eram contrários às religiões, por acreditarem que limitavam a liberdade humana.
Dentre diversos teóricos do Anarquismo, destacaram-se o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e o
russo Mikhail Bakunin (1814-1876).
Pierre-Joseph Proudhon foi o primeiro teórico a se autodenominar anarquista. Propunha a organização da
sociedade em cooperativas, nas quais não existiriam classes sociais. Contudo, para esse pensador, a passagem
para esse tipo de sociedade poderia ocorrer de maneira pacífica, sem a necessidade de uma revolução.
Inspirado pelas ideias de Proudhon, Mikhail Bakunin também desejava o estabelecimento de uma socieda-
de sem Estado. Porém, diferentemente dos socialistas científicos, acreditava que a passagem para uma socieda-
de livre deveria acontecer de maneira direta, sem o estágio da Ditadura do proletariado. Bakunin defendia que
essa nova sociedade só seria estabelecida por meio de uma revolução.
©Wikimedia Commons/Nadar

Mikhail Bakunin foi um


dos principais teóricos do
Anarquismo. Ele discordava
dos socialistas, pois
acreditava que um governo
proletário poderia se tornar
semelhante ao governo que
combatia.

NADAR, Gaspard-Félix Tournachon. Mikhail Bakunin. [ca.


1860]. 1 fotografia, color. Sotheby’s, Estados Unidos.

Nacionalismo 11 Aprofundamento de conteúdo.

Durante o Antigo Regime, os reis absolutistas, com a ajuda dos burgueses, comandaram ações com o ob-
jetivo de unir territórios e seus habitantes sob seus governos. Assim, no século XIX, boa parte da Europa estava
dividida entre alguns Estados Nacionais formados por reinos unificados sob um mesmo governo, conjunto de
leis e sistema monetário.
Contudo, muitas vezes, a divisão política estabelecida não considerava a etnia e a cultura da população.
Dessa maneira, muitos povos começaram a questionar essa divisão e a reivindicar a independência dos reinos
a que foram subjugados, alegando não compartilharem uma identidade.
Isso aconteceu principalmente após o Congresso de Viena, iniciado em 1814, o qual definia que as fron-
teiras políticas europeias deveriam voltar a ser como eram antes das campanhas napoleônicas. Dessa maneira,
alguns grupos rivais ficaram subjugados a um mesmo Estado, e indivíduos que se sentiam pertencentes a um
mesmo grupo encontravam-se dispersos em reinos menores, espalhados pela Europa.

8 8º. ano – volume 4


Nesse contexto, o Nacionalismo se desenvolveu. Essa ideologia baseia-se
na crença de que indivíduos que compartilham aspectos culturais (idioma,
religião e tradições, tais como festas e hábitos alimentares), história e ante-
passados (etnia) teriam uma mesma identidade. Ou seja, esses elemen-
tos conferem identidade aos grupos.

©Wikimedia Commons/Mathiasrex
O Nacionalismo contribuiu para a unificação de diversos povos,
como germânicos e italianos, e a formação de seus respectivos Estados
Nacionais, servindo como justificativa para diversas guerras e conflitos
ocorridos com essa finalidade. Nessa ideologia, o Estado Nacional é
enaltecido como forma ideal de organização política.
Diferentemente do Anarquismo e do Socialismo,
Giuseppe Mazzini foi
o Nacionalismo não era uma ideologia voltada ex- um nacionalista italiano.
clusivamente aos trabalhadores. Qualquer indivíduo Ele atuou na tentativa de
poderia se identificar com sua doutrina, sentir-se promover a aproximação
entre os reinos italianos e RETRATO de Giuseppe Mazzini.
representado por ela. Por isso pessoas de diversos de combater estrangeiros 1860. 1 fotografia, p&b.
grupos sociais se sentiram inspiradas por seus ideais, que dominassem
e organizações nacionalistas foram criadas em di- qualquer região de
origem italiana.
versos lugares. 12 Aprofundamento de conteúdo.

organizando a história
Com base em seus estudos sobre as ideologias liberalista, socialista, anarquista e nacionalista, responda às questões a seguir.
1. Quais dessas ideologias tinham como foco a radical transformação da sociedade?
Socialismo e Anarquismo.

2. Quais meios elas consideravam para conseguir tal transformação?


A maior parte dos pensadores socialistas e anarquistas considerava que a sociedade deveria ser transformada por meio de uma revolução

conduzida pelos trabalhadores. Eles deveriam tomar o poder e controlar a produção e a distribuição da renda gerada pelo trabalho. Para os

socialistas, porém, haveria um período no qual os proletários comandariam o Estado, antes de aboli-lo; para os anarquistas, o Estado deveria

desaparecer tão logo o poder fosse tomado pelos operários.

3. Qual relação pode ser estabelecida entre o Liberalismo e o Socialismo?


Para os socialistas, o Liberalismo era a ideologia que sustentava o Capitalismo. É possível afirmar que o Socialismo surgiu como uma

resposta ao Capitalismo, pois, além de abolir o Estado, também tinha como objetivo acabar com esse sistema econômico.

4. Nacionalistas e anarquistas poderiam concretizar suas propostas em um mesmo território? Por quê?
Não. O objetivo dos anarquistas era que o Estado fosse abolido e as comunidades se autogerissem. Já os nacionalistas visavam à

criação de um Estado formado por pessoas com a mesma identidade étnica e cultural.

história 9
Doutrina Social da Igreja 13 Aprofundamento de conteúdo.

Durante o século XIX, a polarização entre burgueses e operários se acirrava cada vez mais, chegando a pro-
vocar confrontos nas ruas e nas fábricas.
Por quase um século, a Igreja Católica não se manifestou sobre os conflitos sociais provenientes do indus-
trialismo. Assim, muitos pensadores engajados na luta contra o Capitalismo consideraram que, com tal atitude,
a Igreja se afastava da realidade à sua volta e se omitia diante dos problemas da sociedade industrial.
Após diversas pressões pelo posicionamento da Igreja, em 1891, o papa
Leão XIII publicou uma encíclica, chamada Rerum Novarum (Nova Ordem). encíclica: documento redigido
pelo papa, autoridade máxima
Nesse documento, o papa se posicionava a favor da melhoria de vida dos
da Igreja Católica, cujo objetivo
trabalhadores, por meio do pagamento de melhores salários e de uma dis-
é orientar os bispos a respeito
tribuição mais justa de riquezas. Além disso, pregava que as relações entre de algum posicionamento ou
patrões e operários fossem pautadas nos princípios básicos do cristianismo, doutrina da Igreja. Os bispos
o amor e o respeito ao próximo. De acordo com esse documento, o Estado ficam encarregados de levar as
deveria atuar como mediador das relações entre o operariado e os patrões, determinações desse documento a
sendo responsável, também, por criar condições de melhoria na vida dos outras instâncias da Igreja e aos fiéis.
trabalhadores.
O ponto central do documento de Leão XIII foi o critério da justiça. Para ele, um industrial pagar melhores
salários aos seus funcionários, assim como reduzir as jornadas de trabalho, era algo justo e necessário para ga-
rantir uma vida melhor às pessoas.
A Igreja também apoiava a distinção do trabalho, ou seja, funções diferentes para mulheres, homens e crian-
ças, e considerava justa a organização dos trabalhadores em sindicatos. Porém, colocava-se contra o Socialismo,
pois defendia a existência da propriedade privada.
©Wikimedia Commons/Dantadd

No decorrer dos séculos XIX e XX, diversos


setores da Igreja se envolveram em questões so-
ciais. Em 1931, o papa Pio XI lançou a encíclica
Quadragesimo Anno, em comemoração aos 40
anos daquela publicada por Leão XIII; em 1991,
João Paulo II publicou a Centesimus Annus, que
celebrava seus 100 anos.

O papa Leão XIII publicou a


encíclica Rerum Novarum em
1891, na qual orientava os bispos
em relação ao posicionamento da
Igreja diante das questões sociais
do século XIX.

PAPA Leão XIII. [ca. 1878]. 1 óleo sobre tela, color. Museu do Vaticano.

10 8º. ano – volume 4


O que Aprendi
1. Assinale a alternativa que apresenta a principal característica do Liberalismo econômico.
a) A não intervenção da Igreja na vida das pessoas.
b) A educação livre e gratuita.
c) A conquista da América.
X d) A livre concorrência de mercado.

e) O fim do Estado.
2. Sobre o Socialismo, assinale as afirmativas corretas.
I. Surgiu como resposta às péssimas condições de vida e de trabalho dos operários no início do século XIX.
II. A ideologia socialista prega a justiça social e critica a desigualdade.
III. Os socialistas eram os grandes donos de indústrias do período; eles acumulavam fortunas explorando o trabalho dos
operários.
X a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.

b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.


c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão erradas.
3. Sobre a ideologia anarquista, é correto afirmar:
a) Defendia o livre mercado, a liberdade de produzir e de comercializar.
b) Pregava a harmonia entre as classes sociais, mas defendia a propriedade privada.
c) Defendia a revolução dos trabalhadores e a instalação de um governo forte e centralizador.
d) Defendia o Estado, a nação e a exclusão dos estrangeiros.
X e) Desejava o fim do Estado, entendido como a base da opressão dos trabalhadores.

4. Ideologia que dominou a política durante o século XIX e foi utilizada como base para a unificação de diversos Estados
Nacionais.
a) Socialismo.
b) Anarquismo.
X c) Nacionalismo.

d) Socialismo.
e) Doutrina Social da Igreja.
5. Sobre a Doutrina Social da Igreja, assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.
a) ( V ) Na encíclica Rerum Novarum (1891), a Igreja se posicionou contra o Socialismo.
b) ( F ) A Igreja não concordava com o Socialismo em relação à abolição da propriedade privada, porém era favorável à
abolição do Estado.
c) ( V ) A encíclica publicada pelo papa Leão XIII pregava que o Estado deveria mediar as relações entre patrões e operá-
rios, garantindo a estes melhores condições de vida.
d) ( F ) Apesar de se afastar do Socialismo, a Igreja simpatizava com as ideias anarquistas, pois não as considerava radicais.

história 1 1
Europa: movimentos
do século XIX
1 Justificativa de seleção de conteúdo.

RÉMOND, Antonin. Protesto em Brisgóvia contra as mudanças climáticas provocadas pela ação humana. 1 fotografia, color. ©Daniel Schoenen/ImageBROKER/Glow Images
Alemanha.

Na atualidade, não é raro encontrarmos pessoas reunidas para protestar, manifestar apoio a de-
terminada causa ou reivindicar algum direito. Contudo, isso não é um fenômeno exclusivo dos dias
atuais. Em diversos momentos da História, as manifestações foram utilizadas como recurso para
evidenciar a vontade de um determinado grupo, tendo diferentes motivações e objetivos.

e s p aço de diálogo
2 Sugestão de gabarito.
Atualmente, a preocupação com as mudanças climáticas motiva diversos protestos pelo mundo. Quais
outros temas de preocupação nacional ou mundial têm mobilizado manifestações nos dias atuais? Discuta
com a turma.

12
o s
t iv
e ƒ Relacionar o Movimento Operário do século XIX com os efeitos da industrialização.
O bj ƒ Contrapor o Antigo Regime e a ideologia liberalista no contexto do século XIX.
ƒ Identificar e caracterizar as revoltas populares de influência socialista ocorridas no
século XIX.
ƒ Relacionar os processos de Unificação da Itália e da Alemanha com os ideais
nacionalistas.

3 Sugestão de abordagem do conteúdo.

No século XIX, com os problemas sociais decorrentes da sociedade industrial, as manifestações de


trabalhadores se tornaram cada vez mais intensas. Esses protestos eram motivados pelas condições
de trabalho a que os operários eram subjugados, e se fortaleceram com as ideologias que ganhavam
destaque no pensamento europeu da época. É possível afirmar que as ideologias do século XIX in-
fluenciaram esses movimentos e foram influenciadas por eles.
Essas correntes de pensamento chegavam à população à medida que eram divulgadas em textos
impressos em panfletos, livros e em discursos proferidos em locais públicos e privados. Isso suscitava
debates e reformulações de ideias, que incentivavam ou justificavam as ações dos manifestantes.

Movimento Operário 4 Aprofundamento de conteúdo.

No decorrer do século XIX, grupos de trabalhadores começaram a


sindicatos: associações
se organizar em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
formadas por trabalhadores
Esses grupos deram origem ao que ficou conhecido como Movimento que atuam no mesmo ramo.
Operário. Ainda no século XIX, na Inglaterra, surgiram os primeiros sin-
dicatos; eles representavam os trabalhadores perante o governo. Os sindicatos atuavam auxiliando
os funcionários na busca por melhores condições de trabalho, em casos de desemprego ou proble-
mas de saúde.
Para forçar negociações com o governo e com os industriais, os trabalhadores faziam greves. Esses
movimentos não eram bem aceitos pelos governantes, que, muitas vezes, respondiam às reivindica-
ções dos trabalhadores com violência e prisão de seus membros e líderes.
©Wikimedia Commons/Associazione Pellizza da Volpedo

Representação de
trabalhadores italianos durante
um protesto por melhores
condições de trabalho. Nessa
obra, o artista buscou retratar os
trabalhadores de maneira que
pareçam firmes em busca de
seus objetivos na manifestação.
Ao marcharem protestando,
eles caminham em direção a
um local iluminado, deixando
as sombras para trás, o que faz
referência às conquistas que
seriam empreendidas e aos
problemas que seriam superados,
respectivamente.

VOLPEDO, Giuseppe Pellizza da. O quarto Estado. 1901. 1 óleo sobre tela, color., 293 cm ×
545 cm. Museo del Novecento, Milão, Itália.

13
Ainda no século XIX, as organizações operárias ultrapassaram as fronteiras nacionais. No ano de 1864, em
Londres, foi criada a Associação Internacional dos Trabalhadores (posteriormente conhecida como Primeira
Internacional), que, inspirada nas ideias socialistas e anarquistas, lutava por melhores condições de trabalho
para os operários e também discutia a possibilidade de se instaurar uma revolução socialista em diversos locais
do mundo. Apesar de contar com teóricos como Karl Marx, na liderança, e Mikhail Bakunin, foi dissolvida doze
anos após sua fundação, e isso ocorreu por diversos motivos, entre eles o acirramento das divergências entre
socialistas e anarquistas, que propunham reformas políticas diferentes.
No ano de 1889 foi criada a Segunda Internacional, dessa vez composta por trabalhadores revolucionários e
reformistas. Estes últimos acreditavam não ser necessária uma revolução para que mudanças políticas e sociais
efetivas pudessem ser conquistadas, melhorando as condições dos trabalhadores. Essa Internacional foi dissol-
vida em 1914, ano de início da Primeira Guerra Mundial, também devido a desacordos entre seus membros.
Durante o século XX, outras internacionais foram criadas, dando continuidade à luta dos movimentos
operários.

interpretando documentos

O texto a seguir, do historiador Eric Hobsbawm, trata sobre o sentimento de solidariedade entre os operários no início do
século XIX. Leia-o e responda às questões propostas.

Os proletários não se mantinham unidos pelo simples fato de serem pobres e estarem num mesmo lugar,
mas pelo fato de que trabalhar junto e em grande número, colaborando uns com os outros numa mesma
tarefa e apoiando-se mutuamente, constituía sua própria vida. A solidariedade inquebrantável era sua úni-
ca arma, pois somente assim eles poderiam demonstrar seu modesto, mas decisivo ser coletivo. “Não ser
furador de greve” [...] era – e continuou sendo – o primeiro mandamento de seu código moral; aquele que
deixasse de ser solidário tornava-se o Judas de sua comunidade.

HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. p. 295.

1. A união dos operários se dava


a) pelo fato de serem pobres e viverem em um mesmo lugar.
b) por causa dos princípios religiosos da classe operária, que condenavam atitudes de traidores como Judas.
c) pelo medo de serem punidos pela polícia, caso não fossem solidários aos colegas.
X d) em virtude do sentimento de lealdade e solidariedade entre eles, pois compartilhavam a rotina de trabalho nas fábricas.

e) pela consciência do poder político dos proletários, capaz de modificar a legislação trabalhista e destituir governos.
2. Por que seria considerado o Judas de sua comunidade aquele que furasse a greve? 5 Gabarito.

14 8º. ano – volume 4


Revoluções de 1830 6 Aprofundamento de conteúdo.

As décadas de 1820 e 1830, na Europa, foram marcadas por levantes contra o Absolutismo, além de guerras
por independência baseadas nos ideais nacionalistas.
Na França, as ideias liberalistas inspiravam o início de mais uma revolução. A Monarquia havia sido restau-
rada, com a dinastia Bourbon, após a derrota de Napoleão Bonaparte (1815) e as determinações do Congresso
de Viena (realizado entre 1814 e 1815). O novo monarca, Luís XVIII – irmão de Luís XVI, que havia sido deposto e
morto durante a Revolução Francesa (1789) –, governou de forma moderada até sua morte, em 1824. Contudo,
as tentativas de seu irmão e sucessor, o rei Carlos X, de estabelecer um governo mais centralizado desagradaram
boa parte da população, como liberais e republicanos, desencadeando uma série de protestos.
Assim, o rei Carlos X foi deposto no ano de 1830, acontecimento denominado Revolução dos Três Dias
Gloriosos, por ter ocorrido em apenas três dias (27, 28 e 29 de julho de 1830). Sob a promessa de se submeter
ao Parlamento, Luís Filipe assumiu o trono francês; por ser defensor de interesses liberais e burgueses, ficou
conhecido como Rei Burguês ou Rei Cidadão.
©Wikimedia Commons/Museé du Louvre

Os acontecimentos ocorridos
na França inspiraram movimen-
tos revolucionários em diversos
locais da Europa. Ao destituírem
a dinastia Bourbon do poder, os
franceses desobedeceram às de-
terminações do Congresso de
Viena; isso acabou incentivando
outros povos, que também se
sentiram prejudicados pelas deci-
sões do Congresso, a lutar contra
a imposição de monarquias e em
favor da alteração das fronteiras
estabelecidas pelo Congresso.
Nos reinos que futuramente
formariam a Alemanha, a Polônia
e a Itália tiveram início alguns
movimentos de inspiração nacio-
nalista que visavam à unificação
dos territórios, mas foram repri-
midos. No Leste Europeu, os gre-
gos declararam guerra ao Império
DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo. 1830. 1 óleo sobre tela, color., 260 cm
Turco-Otomano e conseguiram × 325 cm. Museu do Louvre, Paris, França.
sua independência. Na Espanha,
o rei Fernando VII, posto no po- A Liberdade guiando o povo é uma obra de arte que se tornou símbolo das revoluções ocorridas
na França em 1830, cujo principal objetivo foi entendido como a busca pela liberdade. Nesse
der pelo Congresso de Viena, so- contexto, a aquisição da liberdade poderia se dar pela limitação do poder dos reis absolutistas ou
freu oposição por desobedecer pela unificação de territórios, por exemplo.
à Constituição e tomar medidas Na imagem, a liberdade é representada por uma mulher, que se encontra ao centro, com a bandeira
absolutistas. da Revolução Francesa em uma mão e uma arma em outra. Sua postura indica o caminho a ser
seguido pelos demais indivíduos. Repare que ela não usa roupas nobres, pois é uma camponesa.
Dessa maneira, pode-se entender que o povo seria o condutor do processo de mudança social e
política que traria a liberdade.

história 1 5
Revoluções de 1848 7 Aprofundamento de conteúdo.

Na França, a ascensão de Luís Filipe ao trono não conteve a insatisfação popular. A política do monarca era
direcionada aos burgueses, e os camponeses viviam na miséria. Essa situação levou a um intenso êxodo rural.
A chegada de mais pessoas às cidades aumentou o número de operários, já descontentes com suas condi-
ções de vida e trabalho. Em 1846, o desemprego e os preços dos alimentos atingiam altos índices e, consequen-
temente, a insatisfação popular com as políticas reais crescia cada vez mais.
©Wikimedia Commons/Mats Halldin

Em 1848, milhares de pessoas foram


às ruas com a intenção de enfrentar o
governo e modificar aquela situação.
Até membros da Guarda Nacional, que
deveriam combater os revolucionários,
se juntaram à Revolução. O rei, então,
abdicou e retirou-se para o exílio.

Durante as manifestações contra o rei Luís Filipe,


a população parisiense montou barricadas –
amontoados de barris e objetos de madeira – para
enfrentar as tropas reais. Esse foi o início de um novo
período revolucionário na França.

VERNET, Horace. Barricada na Rua Soufflot em 24


de julho. 1848. 1 óleo sobre tela, color., 36 cm × 46
cm. Museu do Louvre, Paris, França.

Com a abdicação de Luís Filipe, foi estabelecido um governo provisório liderado pelo liberal Alphonse de
Lamartine e pelos socialistas Louis Blanc e Alexandre Ledru-Rollin, o que deu início à Segunda República
francesa. Contudo, esse governo também não durou muito tempo, pois algumas de suas medidas provocaram
insatisfação popular, sobretudo o aumento dos impostos. Com isso, em 1848, foi criada uma nova Constituição;
ela determinava que o Poder Executivo ficaria a cargo de um presidente eleito para um mandato de 4 anos. O
primeiro presidente eleito foi Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte. No final de seu mandato, em
1851, deu um golpe de Estado, instaurando o Segundo Império francês.

Primavera dos Povos 8 Aprofundamento de conteúdo.

As manifestações que exigiam ampliação dos direitos políticos da população e combatiam o autorita-
rismo dos governos não se limitaram à França. Tentativas de estabelecer governos parlamentaristas acontece-
ram no Império Austríaco (revoltas em Viena, Budapeste e Praga), no Reino Lombardo-Veneziano, na Península
Itálica, e nas cidades germânicas de Frankfurt, Munique e Stuttgart. Levantes populares de cunho nacionalis-
ta também ocorreram nas regiões que atualmente correspondem a Sérvia, Montenegro, Romênia, Polônia,
Eslováquia e República Tcheca (que pertenciam ao Império Austríaco), Dinamarca e Bélgica. Boa parte dos mo-
vimentos foi promovida pelas classes operárias, que foram reprimidas pela burguesia e pela nobreza.
De modo geral, esses levantes aconteceram na primavera, por isso ficaram conhecidos como Primavera
dos Povos.
A Primavera dos Povos marcou uma mudança política significativa. Se, até a Revolução Francesa, as ca-
madas populares lutavam ao lado da burguesia pelo fim dos privilégios da nobreza, nesse momento ocorreu
uma ruptura; a burguesia se colocou ao lado da nobreza e afastou-se das camadas populares.

16 8º. ano – volume 4


interpretando docu m entos

A respeito da Primavera dos Povos, leia o trecho de texto a seguir.

[...] [A] Primavera dos Povos era [...] [um] redirecionamento das alianças socio-
políticas. O levante iniciara com a clássica coalizão entre burguesia e povo contra
o Rei e a aristocracia. Todavia, o proletariado já constituía uma classe com certa coalizão: acordo
[...] consciência social e tinha objetivos próprios. [...] Assim, encerrava-se o tempo ou aliança política.
das revoluções desde baixo [...], abrindo-se a era das revoluções pelo alto, em que
a burguesia, quando em perigo, se aliava aos monarcas e aristocratas que controla-
vam a burocracia do Estado, compartilhando com eles o [...] poder.

VISENTINI, Paulo G. Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo: da Pax Britânica do século XVIII
ao choque de civilizações do século XXI. Petrópolis: Vozes, 2008.

Segundo o texto, as revoluções de 1848 marcam um novo modelo de revolução, que teria como característica:
a) Uma aliança entre a Igreja e o rei. d) Uma aliança entre a nobreza e o rei.
b) Uma aliança entre a burguesia e o proletariado. e) Uma aliança entre a Igreja e o proletariado.
X c) Uma aliança entre a burguesia e a nobreza.

Unificação da Itália e da Alemanha 9 Aprofundamento de conteúdo.

Os processos de unificação da Itália e da Alemanha ocorreram tardiamente, se comparados a outros países


da Europa. Ambos foram influenciados pelos ideais nacionalistas e apoiados por setores da burguesia. A seguir,
veja como ocorreu cada um deles.

Unificação italiana
Após o Congresso de Viena, Península Itálica após o Congresso de Viena
iniciado em 1814, a Península Luciano Daniel Tulio
Itálica ficou dividida em diversos
Estados independentes. Os do nor-
te estavam subjugados ao Império
Austríaco; no centro, havia os
Estados pontifícios, pertencentes à
Igreja e governados pelo papa; e, no
sul, havia o reino das Duas Sicílias,
governado pela dinastia Bourbon.

Fonte: ATLAS histórico. São Paulo:


Encyclopaedia Britannica do Brasil,
1989. Adaptação.

história 1 7
Um movimento de resistência à dominação austríaca ganhou simpatia de reis e burgueses ao norte, espe-
cialmente na região do Piemonte-Sardenha, que era mais industrializada que os outros reinos da península e
tinha interesse em expandir sua influência na região. Isso ocorreu principalmente após as Revoluções de 1848,
responsáveis por exaltar o sentimento nacionalista entre os povos participantes dos levantes populares.
Assim, em 1852, o rei Victor Emanuel II, em parceria com o Conde de Cavour, deu início ao processo de uni-
ficação dos Estados do norte da península, que correspondiam aos reinos do Piemonte-Sardenha, Lombardo-
-Veneziano, Grão-Ducado de Parma, Ducado de Módena e Ducado de Toscana. Em 1860, com o apoio do rei
Victor Emanuel II, o guerrilheiro italiano Giuseppe Garibaldi liderou a unificação dos Estados do sul, na região da
Sicília. Assim, com a união dos reinos do norte e do sul, a Itália foi unificada em 1861, embora a região do Vêneto
continuasse sob domínio austríaco e a região central da península ainda pertencesse à Igreja.
A última anexação aconteceu sobre os Estados papais, em 1870, até então protegidos por forças francesas.
Naquele ano, a França retirou suas tropas, pois estava envolvida na Guerra Franco-Prussiana, um dos conflitos
do processo de unificação alemã. As divergências entre a Igreja e o governo italiano foram intensas e só foram
resolvidas no século XX.

c uriosidade
Atualmente, a Igreja Católica tem sua sede no Vaticano, o menor país do mundo, localizado dentro da cidade
de Roma. A criação desse Estado aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1929 e resolveu a divergência política que
existia desde o final do século XIX entre a Igreja e os Estados italianos. Naquela data, o Papa Pio XI assinou dois
tratados com Benito Mussolini, então ditador italiano: o Tratado de Latrão indenizava a Igreja pelas perdas terri-
toriais do século XIX e concedia a ela autonomia política sobre o território do Vaticano; e o Tratado de Concordata
tornava o catolicismo a religião oficial do Estado italiano. O primeiro tratado permanece inalterado, mas o segun-
do foi revogado em 1984, quando foi estabelecida a liberdade de culto na Itália.

©Shutterstock/Alexandr Medvedkov

VISTA aérea da Basílica de São Pedro, na cidade do Vaticano. 1 fotografia, color.

18 8º. ano – volume 4


Unificação alemã
Após o Congresso de Viena, ocorrido entre 1814 e 1815, foi criada a
zollverein: união
Confederação Germânica, composta por 39 Estados Germânicos independentes. alfandegária entre os Estados
Embora apresentassem diferenças culturais, esses reinos eram economicamente Germânicos que permitia
próximos. Por isso, em 1834, a Prússia – maior Estado Germânico da época – criou vantagens comerciais no
o zollverein, que garantia aos comerciantes transitar livremente entre as frontei- mercado interno.
ras desses Estados, sem a necessidade de pagar impostos.

Unificação da Alemanha Em 1862, sob a liderança do chanceler Otto


Von Bismark, a Prússia iniciou uma campanha
Thiago Granado Souza

de unificação dos Estados Germânicos enfren-


tando dinamarqueses e austríacos. Com isso, a
unificação dos Estados do norte foi efetivada
e ficou sob o poder do imperador Guilherme I
Hohenzollern.
Contudo, a tentativa de unificar os terri-
tórios do sul enfrentou a oposição da França,
cujo imperador era Napoleão III. A tentativa
de unificação só foi retomada em 1870, quan-
do a dinastia Hohenzollern foi indicada para
a linha sucessória na Espanha, após a morte
do rei. Receosos de um cerco germânico, os
franceses impediram a sucessão do trono.
Assim, deu-se início à Guerra Franco-Prussiana
(1870-1871).
Fonte: ALBUQUERQUE, M. M. de. Atlas histórico
escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 134.
Adaptação.
©Wikimedia Commons/Museen Nord/Bismarck Museum

Vitoriosos na Guerra, no ano de 1871, os


alemães completaram sua unificação. Além
disso, como resultado do conflito, anexa-
ram dois territórios até então sob domínio
francês: a Alsácia e a Lorena, locais que
apresentavam grandes jazidas de minérios
de ferro e carvão, matérias-primas funda-
mentais ao desenvolvimento industrial que
os alemães buscavam. Com a unificação, a
Alemanha se tornou um Reich, ou seja, um
império, sob o comando do kaiser (impera-
dor) Guilherme I.

O imperador Guilherme I não foi proclamado em solo


alemão, mas no Palácio de Versalhes, na França. Isso
aconteceu em razão da vitória alemã na Guerra Franco-
-Prussiana. A atitude de coroar o imperador germânico
em território francês foi vista como uma humilhação para
os franceses. Ao centro, de branco, o chanceler prussiano WERNER, Anton von. Proclamação de Guilherme I, imperador da Alemanha
em 1871. 1885. 1 óleo sobre tela, color., 250 cm × 250 cm. Museu Bismark,
Otto von Bismark.
Aumuehle, Alemanha.

história 1 9
Comuna de Paris
Parte do ciclo revolucionário francês, a formação da Comuna de Paris (1871) está diretamente relacionada
ao processo de unificação política alemã, quando, na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), a população fran-
cesa ficou sitiada, sob intenso bombardeio dos prussia-

©Wikimedia Commons/Metropolitan Museum of Art


nos. A insatisfação dos franceses em relação ao conflito
fez com que o imperador Napoleão III fosse deposto e
um governo provisório fosse instituído, sob a liderança
de Adolphe Thiers, dando início à Terceira República
francesa.
Com a vitória da Prússia, o governo francês foi obri-
gado a pagar indenizações de guerra e a ceder territó-
rios, como os da Alsácia e Lorena, para os germânicos.
Tal situação deixou a população ainda mais insatisfeita.
Assim, em março de 1871, operários franceses estabe-
leceram o Conselho da Comuna, de cunho socialista e
republicano, e tomaram o poder.
Entre as deliberações da Comuna estavam a abolição
do trabalho noturno, a desapropriação e ocupação de
residências vazias, a redução das jornadas de trabalho, a RICHEBOURG, Pierre-Ambrose. Barricadas da Comuna de
regularização dos sindicatos, a promoção da igualdade Paris. 1871. 1 fotografia. Museu Metropolitano de Arte, Nova
Iorque.
entre homens e mulheres, a abolição da pena de morte,
A Comuna de Paris governou a cidade entre 28 de março e 28 de
a obrigatoriedade da educação, que deveria ser laica e maio de 1871, e foi encerrada com violência pelas tropas do governo
gratuita, além do aumento do salário dos professores. francês

O governo francês, que não reconhecia a Comuna e tinha receio que ela tomasse outras cidades, entrou em
um acordo com a Alemanha com a finalidade de derrotá-la. Os alemães libertaram os prisioneiros de guerra
franceses e organizaram um exército de cem mil soldados, que destituiu o governo da Comuna em maio do
mesmo ano. Especula-se que o conflito tenha resultado em aproximadamente quarenta mil mortes.
Essa experiência foi considerada a primeira tentativa de implementação de um governo com influência
socialista e serviu de inspiração para futuras tentativas de instituição de governos populares.
©Wikimedia Commons/Musée Carnavalet

A defesa das barricadas da Comuna


foi realizada pela população da capital,
que combateu as tropas do exército
francês. A obra destaca a participação
feminina na luta pela manutenção do
governo da Comuna de Paris.

A BARRICADA da Place Blanche


defendida por mulheres. Século XIX.
1 litografia, color. Museu Carnavalet,
Paris.

20 8º. ano – volume 4


O que Aprendi
1. Sobre o Movimento Operário no século XIX, assinale as afirmativas corretas.
I. Os sindicatos eram associações formadas por trabalhadores de um mesmo ramo que ofereciam auxílio sobre questões
relacionadas às condições de trabalho dos indivíduos.
II. As Internacionais foram influenciadas pelas ideias socialistas, mas contestavam os princípios anarquistas.
III. A greve e as manifestações eram recursos utilizados pelos trabalhadores para negociar melhores condições de trabalho.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
X c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.

d) Todas as afirmativas estão corretas.


e) Todas as afirmativas estão erradas.
2. Marque a alternativa que apresenta a principal motivação das Revoluções de 1830.
a) A luta pelo fim do Socialismo.
b) A luta pela separação entre a Igreja Católica e as igrejas protestantes.
X c) A luta pelo fim do Absolutismo real.

d) A luta pelo fim do Nacionalismo.


e) A luta contra a intervenção dos sindicatos na política.
3. Sobre as Revoluções de 1848, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( V ) Na França, foi um período marcado pelo êxodo rural, aumento da população urbana e desemprego.
( V ) Em 1848, o monarca francês Luís Filipe abdicou do trono após levantes populares.
( F ) O movimento conhecido como Primavera dos Povos não sofreu influência dos levantes ocorridos na França em 1848.
( V ) Em diversos locais da Europa, as revoluções tiveram como objetivo combater o autoritarismo dos governos e adquirir
a independência dos estados aos quais estavam subjugados.
( F ) Na França, as revoluções resultaram na instauração da Segunda República, cujo primeiro presidente eleito foi Alphonse
de Lamartine.
4. Relacione os processos de unificação da Itália e da Alemanha com a ideologia nacionalista do século XIX.
Sob a influência do Nacionalismo, reinos de origem italiana, assim como os germânicos, promoveram seus processos de unificação

nacional sob a justificativa de que suas populações compartilhavam origem e história que os ligava aos seus respectivos territórios e

lhes conferia identidade própria.

5. Sobre a Comuna de Paris (1871), assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.
( V ) Foi a primeira tentativa de implementação de um governo de cunho socialista.
( F ) Apesar de ter sido iniciado em Paris, o governo da Comuna se espalhou por outras cidades francesas.
( V ) Promoveu diversas medidas voltadas para as camadas menos abastadas, como o fim do trabalho noturno, a redução
das jornadas de trabalho e a obrigatoriedade da educação.
( V ) Para colocar fim à Comuna, o governo francês promoveu uma aliança com os alemães, que o auxiliaria a organizar um
exército de cem mil soldados.

história 21
Imperialismo:
África e Ásia
1 Justificativa de seleção de conteúdo.

©World History Archive/Ann Rona/Easypix


Durante século XIX, as nações
europeias industrializadas passa-
ram a investir na exploração da
Ásia e da África como maneira de
expandir seus territórios e merca-
dos consumidores, além de ad-
quirir mais matérias-primas para a
produção industrial.

Ao fundo da ilustração, é possível observar


o líder político romano Júlio César sobre uma
pilha de pedras nomeadas “Roma, Etrúria,
Grã-Bretanha, Ásia e África”. No centro, em
um pedaço de terra chamado “França”, foi
representado o imperador francês Napoleão
Bonaparte sobre uma pilha de pedras nomeadas
“Egito, Itália, Espanha, Holanda, Áustria, Prússia
e Rússia” caindo em direção a uma ilha rochosa
rotulada “Sta. Helena”. Em primeiro plano, em
um pedaço de terra denominado “Inglaterra”, o
personagem-símbolo do Reino Unido, John Bull,
encontra-se no topo de uma pilha de pedras
nomeadas “Escócia, Irlanda, Malta, Gibraltar,
Índia, Austrália, Chipre, Egito e Sudão”; essas
pedras são sustentadas por vários tipos de arma,
e as duas pedras do topo estão apoiadas em
navios a vapor.

KEPPLER, Joseph. A história se repete. 1885.


1 ilustração, color.

e s p aço de diálogo
Leia a charge e faça o que se pede. 2 Gabarito.

a) Ao que correspondem metaforicamente as pilhas de pedras sob os homens representados?


b) Explique o nome da charge com base nos elementos nela representados.

22
o s
t iv
e ƒ Conceituar Imperialismo.
O bj ƒ Relacionar os avanços da Revolução Industrial ao Imperialismo europeu no século
XIX.
ƒ Analisar as justificativas utilizadas pelas nações europeias ao empreenderem ações
imperialistas.
ƒ Identificar as atividades econômicas desenvolvidas pelas nações europeias na Áfri-
ca e na Ásia.
ƒ Analisar os impactos econômicos e sociais ocorridos nas regiões exploradas pelas
nações imperialistas.
ƒ Analisar os movimentos de resistência nos locais afetados pelas práticas imperialistas.

Conceito 3 Aprofundamento de conteúdo.

A Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra no século XVIII, alterou significativamente a
maneira e a velocidade da produção de bens de consumo, que passaram a ser fabricados em escala
industrial. Isso propiciou um acúmulo de capital e, consequentemente, a intensificação da produção.
A adesão ao processo industrial por várias potências europeias gerou uma acirrada competição por
matérias-primas e também por mercados consumidores, pois o que era produzido pelas indústrias
excedia as necessidades da população europeia.
Para que as economias capitalistas continuassem a prosperar, a saída foi ampliar suas zonas de
influência em outros continentes. Assim, os governos europeus buscaram suprir suas necessidades
estabelecendo colônias na África e na Ásia, por exemplo. O comércio, no entanto, não era o único in-
teresse das nações europeias – elas desejavam, ainda, expandir sua influência política a essas regiões.
Outro fator que impulsionou as nações industrializadas à formação de impérios coloniais foi a
necessidade de aliviar o excesso populacional da Europa, enviando os considerados “indesejados” nas
sociedades europeias para outros continentes.
À exploração da África e da Ásia, promovida pelas potências
europeias no contexto da Segunda Revolução Industrial, entre O Imperialismo pode ser entendido
como a prática ou a forma de política
os séculos XIX e XX, foi dada a denominação de Imperialismo
exercida por uma nação por meio da
ou Neocolonialismo. anexação territorial e/ou pela submissão
A prática imperialista, contudo, não foi exclusiva do mun- econômica, política e cultural de outras
do contemporâneo, ela remonta à Antiguidade. O Império sociedades.
Romano, por exemplo, dominou e submeteu à sua zona de in-
fluência – política e cultural – diversos locais do mundo, formando um Império que ia da Europa ao
Oriente Médio, do norte da África à ilha da Grã-Bretanha. Apesar disso, não é possível afirmar que as
práticas imperialistas tiveram as mesmas características no decorrer da História.
O processo imperialista que será estudado neste capítulo refere-se ao praticado pelos países eu-
ropeus em relação à África e à Ásia, em um contexto de consolidação do Capitalismo, no período que
se estende da segunda metade do século XIX até o início da Grande Guerra, em 1914.

23
A dominação europeia nesses continentes era justificada com base em teorias pretensamente científicas.
Estas visavam comprovar uma suposta superioridade cultural e racial dos europeus em relação a asiáticos e
africanos, de maneira a legitimar a dominação que exerciam sobre esses povos. O Imperialismo europeu, dessa
forma, era justificado como uma “missão civilizadora” que a eles havia sido confiada. Com base nesses discursos,
diversas sociedades asiáticas e africanas foram exploradas e as consequências dessa exploração podem ser
percebidas ainda na atualidade.
O Imperialismo do século XIX beneficiava quase que exclusivamente os europeus – não apenas os ricos co-
merciantes e banqueiros, mas também a classe média. Ambos viam no estabelecimento de colônias na África e
na Ásia a possibilidade de ingressar na administração colonial ou no exército, ganhando assim status social que
dificilmente alcançariam em seus países de origem. Nas colônias, apenas uns poucos membros das elites que
se aliaram aos imperialistas foram beneficiados, pois acabavam expandindo sua influência política ao firmarem
alianças com os imperialistas. Para a maioria da população dos locais dominados, o Imperialismo teve efeitos
extremamente negativos.

interpretando documentos 4 Sugestão de abordagem do conteúdo.

Analise os documentos a seguir.


©Wikimedia Commons/
The Ohio State University Billy Ireland Cartoon Library & Museum

Nessa charge, é possível observar dois


personagens carregando cestos nas
costas, escalando um morro de pedras e
caminhando em direção à “civilização”.
O primeiro deles (esquerda) é John Bull
– personificação do Reino Unido – com
representantes da índia, China, Império
Zulu, Sudão e Egito em seu cesto. O outro
personagem (direita) é o Tio Sam –
personificação dos Estados Unidos – com
representantes de Cuba, Havaí, Filipinas e
diversos grupos indígenas em seu cesto. O
título, O fardo do homem branco, provém
de um poema do escritor britânico Rudyard
Kipling.
GILLAM, Victor. O fardo do homem branco. 1899. 1 charge, color.
Revista Judge. Biblioteca e Museu de Desenhos Animados Billy Ohio da
Universidade de Ohio, EUA.

É necessário, pois, aceitar como princípio e ponto de partida o fato de que existe uma hierarquia
de raças e civilizações, e que nós pertencemos à raça e civilização superior, reconhecendo
ainda que a superioridade confere direitos, mas, em contrapartida, impõe obrigações estritas.
A legitimidade básica da conquista de povos nativos é a convicção
de nossa superioridade, não simplesmente nossa superioridade
legitimidade: qualidade
mecânica e militar, mas nossa superioridade moral. Nossa dignidade ou estado de legítimo,
se baseia nessa qualidade, e ela funda nosso direito de dirigir o resto legalidade.
da humanidade. O poder material é apenas um meio para esse fim.

HARMAND, Jules, em 1910. In: MARQUES, Adhemar Martins; LOPEZ, Luiz Roberto. Imperialismo: a expansão do Capitalismo.
Belo Horizonte: Lê, 2000. p. 18.

24 8º. ano – volume 4


Após a leitura da charge e do texto, faça o que se pede. 5 Gabarito.
a) Explique o título da charge relacionando-o com os elementos nela representados.
b) De acordo com o fragmento do texto de Jules Harmand, qual era a obrigação dos europeus em relação aos demais povos
da Terra?
c) De que maneira a charge e o fragmento de texto podem ser relacionados?

Ascensão europeia e partilha colonial


A Inglaterra, pioneira na industrialização europeia, seguida pela França, foi a primeira nação europeia a buscar
matérias-primas para sua produção em outros continentes, além de tentar expandir seus mercados consumidores
nesses locais. Dessa forma, Inglaterra e França foram também pioneiras ao iniciar o movimento imperialista, esta-
belecendo colônias em pontos estratégicos da Ásia e da África. Os países que iniciaram esse processo tardiamente,
como Itália e Alemanha, conseguiram territórios menores e com menor número de riquezas.
6 Aprofundamento de conteúdo.
A corrida imperialista se intensificou a partir da década de 1870, envolvendo praticamente todos os países
industrializados da Europa, especialmente após a descoberta de diamantes na região do Transvaal (1867) e de
cobre na Rodésia (1881). Assim, em 1884, foi convocada a Conferência de Berlim, por iniciativa do chanceler
alemão Otto Leopold von Bismarck. O principal objetivo da Alemanha durante essa conferência era a realização
de uma nova divisão das colônias africanas, ficando cada país europeu com territórios coloniais de tamanhos
equivalentes. Inglaterra e França, detentoras da maior parte das colônias, não aceitaram a proposta alemã.
Entretanto, foi estabelecido que apenas tomar posse de uma colônia não garantia à nação o reconhecimento
de seus poderes sobre ela. Era necessário colonizá-la, ou seja, levar indivíduos para ocupar a terra, criar vilas e
cidades e investir em infraestrutura.
O Imperialismo gerou conflitos entre as potências que disputavam territórios e, ainda, entre os colonizadores
e os povos que viviam nas regiões ocupadas, pois estes não aceitaram passivamente a dominação estrangeira.
©Wikimedia Commons

Primeiro encontro da
Conferência de Berlim,
1884. Após a conferência,
teve início uma disputa
ainda maior pelas terras
africanas, pois não bastava
tomar posse das terras
coloniais em nome de um
monarca ou de um reino;
era necessário deslocar
famílias de colonos, criar
vilas e infraestrutura para
a exploração das riquezas
disponíveis.

ROBLER, Adalbert von. Representação da Conferência de Berlim. 1884. 1 ilustração, p&b.

história 25
Imperialismo na África
A África foi o primeiro continente a ser explorado pelos países industrializados europeus no final do século
XIX. Para suprir a necessidade de colonizar os territórios conquistados, as nações europeias enviavam colonos
para habitar e administrar esses locais.
O continente africano não era desconhecido dos europeus quando o processo imperialista teve início no
século XIX. Desde o século XIV, embarcações portuguesas e, posteriormente, inglesas, francesas, espanholas e
holandesas aportavam no litoral africano, a fim de fundar feitorias e comercializar mão de obra escravizada. Por
sua vez, o interior do continente, em grande parte, ainda não havia sido explorado pelos europeus.
7 Sugestão de abordagem de conteúdo.
Na parte subsaariana, a maioria das comunidades era matrilinear, ou seja, a liderança passava de mãe para
filha. A economia dessas comunidades era baseada no uso coletivo da terra e na divisão do trabalho por sexo;
as mulheres se dedicavam à agricultura e ao cuidado dos filhos, os homens voltavam-se para a pesca, a caça e
a criação de gado.
No final do século XIX, os franceses empreenderam a ocupação da região da Argélia com o objetivo de ex-
plorar os recursos naturais da região e tomar posse das terras produtivas. No início da dominação, foi instituída
uma administração militar francesa, mas os líderes locais permaneceram no poder. Com o passar do tempo, no
entanto, foi imposto um governo civil, que tratava a população local com muita violência, exigindo seu trabalho
no cultivo de oliveiras, de vinhas e de trigo, produtos destinados à exportação.
Além da região da Argélia, os franceses anexaram regiões que atualmente correspondem a Congo, Guiné,
Senegal, Níger, Costa do Marfim, Mali, Gabão, Chade e Marrocos.

África colonial

Ângela D. Barbara

Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1988. Adaptação.

26 8º. ano – volume 4


Já os ingleses iniciaram seu domínio sobre a África com o estabele-
cimento, em 1882, de um protetorado no Egito, que anteriormente Protetorado é a denominação
dada a um domínio estabelecido por
estava sob domínio do Império Otomano. Em 1922, o Egito conseguiu
uma potência colonizadora sobre um
sua independência, contudo, ainda assim a intervenção britânica nas de-
determinado estado ou região, mas
cisões do Estado egípcio continuou a existir durante toda a primeira me- mantendo a estrutura de poder local.
tade do século XX. Apenas em 1956, com a proclamação da República, é
Por ter um vasto império que se estendia
que o governo egípcio conseguiu se livrar da influência britânica no país. por vários continentes, a Inglaterra
Além do Egito, os ingleses também dominaram territórios nas regiões estabeleceu uma classificação para
em que atualmente se encontram Sudão, Zâmbia, Zimbábue, Uganda, suas colônias: possessões, colônias de
Tanzânia, Quênia, Gâmbia, Serra Leoa, Gana e Nigéria. povoamento, colônias de exploração
e protetorados, sendo esta a categoria
Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Itália e Alemanha também esta- mais alta.
beleceram colônias na África.

Os exploradores que viajaram pela África também contribuíram para a conquista de várias regiões do conti-
nente. Cartógrafos, geógrafos, missionários religiosos e até aventureiros produziram diários, mapas e pinturas
sobre os locais explorados. Posteriormente, esses documentos foram utilizados por militares que objetivavam
dominar regiões e promover a exploração das riquezas.
O jornalista escocês David Livingstone foi um dos principais exploradores do continente africano. Ele percorreu
o interior do continente com o objetivo de encontrar a nascente do Rio Nilo. Em sua segunda viagem, contraiu
malária e ficou desaparecido durante meses.
©Wikimedia Commons/London Stereoscopic & Photographic Company

O jornalista Henry Morton Stanley


foi contratado pelo Herald Journal,
em 1869, para a realização de uma
expedição pelo interior da África
em busca do paradeiro de David
Livingstone, que havia viajado duas
vezes pelo interior do continente e
desaparecido sem deixar rastros. Nessa
imagem, de 1872, Stanley aparece
acompanhado por um menino africano,
que foi libertado da escravidão pelo
explorador e levado para estudar
na Europa. Mais tarde, ele serviu de
companhia para Stanley em outra
expedição realizada na África.

HENRY Stanley. 1872. 1 fotografia, color. London


Stereoscopic & Photographic Company.

história 27
A Guerra dos Bôeres 8 Aprofundamento de conteúdo.

A colonização holandesa na África, iniciada em 1830, levou à fundação, duas décadas mais tarde, das re-
públicas do Transvaal (1852) e a do Estado Livre de Orange (1854). Os holandeses que lá habitavam e seus
descendentes passaram a ser denominados “bôeres”. Esses colonizadores tiveram grandes dificuldades em se
estabelecer na região em virtude da resistência dos zulus, povo africano que habitava o local.
Em 1881, teve início um conflito entre os bôeres e os ingleses, quando expedições britânicas percorreram a
região e lá estabeleceram núcleos de colonização. Os bôeres reagiram contra a dominação inglesa no local e,
inicialmente, obtiveram vitória.
Em 1887, foi encontrada uma grande jazida de ouro em uma região próxima a Pretória, capital do Transvaal,
rica em diamantes. Em razão dessas riquezas, o primeiro-ministro britânico Chamberlain exigiu que o presiden-
te do Transvaal, Paul Kruger, determinasse a divisão da administração da região entre ingleses e bôeres.
No entanto, os bôeres não aceitaram dividir a região com os ingleses, tampouco abandoná-la. Assim, o
governo britânico reagiu com violência. Muitos bôeres foram mortos durante o conflito e aqueles que sobre-
viveram tiveram suas propriedades confiscadas e foram enviados para campos de concentração. A vitória no
conflito afirmou o controle britânico sobre a região.

©Wikimedia Commons/Edward Linley Sambourne


O Congo Belga
A Bélgica foi uma das últimas potências euro-
peias industrializadas a investir em colônias na África.
Como outras nações já haviam se estabelecido nas
regiões mais próximas ao litoral, restou a Leopoldo II,
rei belga, uma parte da região central do continente,
banhada pelo Rio Congo.
Em 1876, Leopoldo II instituiu seu governo sobre
a região sob a justificativa de que, por meio de ex-
pedições com suposto caráter humanitário, levaria o
“progresso” e a “civilização” aos povos que habitavam
o Congo.
Apesar do verniz humanitário que atribuiu à con-
quista, Leopoldo II estava interessado nas riquezas
naturais do local, dando início a uma intensa explora-
ção dos recursos lá encontrados. SAMBOURNE, Edward Linley. Nas bobinas de borracha. 1906. 1
ilustração, p&b. Revista Punch.
Inicialmente, foi o marfim, e, após a dizimação dos
elefantes da região, os belgas passaram a explorar Na ilustração, é possível observar uma cobra com o rosto do rei
belga Leopoldo II esmagando um trabalhador congolês. Quem não
o látex, matéria-prima muito utilizada na nascente se submetia à aliança com os exploradores belgas acabava sendo
indústria automobilística. A Abir Congo Company escravizado, e é isso que a charge denuncia.
utilizava a população congolesa escravizada para a Pequenos grupos de escravizados com seus feitores eram enviados para
exploração desses produtos. Quando a cota estipu- a mata e, após cerca de duas semanas de coleta de látex, deveriam se
dirigir aos postos de coleta controlados pelos belgas. Os coletores que
lada de extração não era alcançada, os escravizados atingiam a cota exigida recebiam como pagamento o equivalente a
eram punidos com mutilações, que envolviam o açoi- uma xícara de sal grosso (para salgar a carne dos animais que deveriam
te e o corte da mão, e também agressões aos mem- caçar para seu sustento). Para os capatazes, era distribuído um pedaço
de tecido bruto, que poderia ser transformado em uniforme, para que
bros da família do trabalhador. se distinguissem dos escravizados, ou para trocar por algum outro
produto essencial à sobrevivência.

28 8º. ano – volume 4


A violência praticada pelos belgas no Congo foi tanta que o número de mortos chegou à casa dos milhões.
Quando o escândalo se tornou público, o rei belga procurou destruir toda a documentação a respeito da “socie-
dade humanitária” denominada Associação Internacional do Congo.

organizando a história
(ENEM) Em busca de matérias-primas e de mercados por causa da acelerada industrialização, os europeus retalharam entre si
a África. Mais do que alegações econômicas, havia justificativas políticas, científicas, ideológicas e até filantrópicas. O rei belga
Leopoldo lI defendia o trabalho missionário e a civilização dos nativos do Congo, argumento desmascarado pelas atrocidades
praticadas contra a população.
NASCIMENTO, C. Partilha da África: o assombro do continente mutilado. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 75, dez.
2011 (adaptado).

A atuação dos países europeus contribuiu para que a África – entre 1880 e 1914 – se transformasse em uma espécie de
grande “colcha de retalhos”. Esse processo foi motivado pelo(a) 
a) busca de acesso à infraestrutura energética dos países africanos.
b) tentativa de regulação da atividade comercial com os países africanos.
c) resgate humanitário das populações africanas em situação de extrema pobreza.
X d) domínio sobre os recursos considerados estratégicos para o fortalecimento das nações europeias.

e) necessidade de expandir as fronteiras culturais da Europa pelo contato com outras civilizações.

Imperialismo na Ásia
O contato entre as sociedades da Europa e da Ásia, para troca de produtos e conhecimentos, estabeleceu-se
há milhares de anos. 9 Sugestão de abordagem do conteúdo.
No final do século XIX, Inglaterra, Rússia, França, Japão, Alemanha, Portugal e Holanda dominaram territórios
na Ásia, dando início às práticas imperialistas na região. Veja no mapa abaixo as principais regiões de influência
dessas nações.

Ásia colonial no século XIX


Marilu de Souza

Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1988. Adaptação.

história 29
A exploração inglesa na Índia
Embora a presença de estrangeiros fosse muito antiga na região da Índia, esse continente foi ocupado pelos
europeus na década de 1830. O principal reino a consolidar seu domínio sobre a região foi o da Inglaterra, que
ali estabeleceu entrepostos em diversas cidades litorâneas. No sul do território indiano, iniciou a plantação de
papoula, da qual era extraído o ópio, uma substância com efeitos anestésicos e alucinógenos, amplamente
comercializado na China. A Índia tornou-se colônia britânica na condição de protetorado, em virtude de suas
riquezas e de sua localização estratégica.
O domínio britânico sobre a região e a imposição da sua cultura à população da Índia, além do desrespeito
aos costumes e às religiões dos povos locais, acabaram por gerar diversos conflitos. Um deles foi a Revolta dos
Cipaios.

A Revolta dos Cipaios


No início do século XVI, a Inglaterra criou a Companhia Britânica das Índias Orientais, organização formada
por comerciantes ingleses que intermediavam o comércio entre Índia e Inglaterra. Além de atuar no comércio,
essa instituição acabou auxiliando na atuação militar inglesa na região da Índia durante a expansão imperialista.
Em meados do século XIX, os ingleses tinham mais soldados recrutados entre os indianos (cerca de 200 mil) do
que soldados de origem inglesa. Os soldados indianos que trabalhavam para o exército britânico eram deno-
minados cipaios. 10 Sugestão de abordagem do conteúdo.
A exploração econômica, a alta cobrança de impostos e o desrespeito dos ingleses pelas culturas e tradições
da Índia levaram à eclosão de uma revolta promovida pelos cipaios, no ano de 1857. Autoridades e religiosos
ingleses foram atacados por eles. Contudo, a revolta foi rapidamente controlada pelos oficiais ingleses, com a
ajuda de alguns membros da elite indiana, que temiam revoltas por parte de grupos populares.
O confronto, que tinha como objetivo colocar fim à exploração, acabou fortalecendo o domínio inglês na
Índia. Em 1876, a região foi definitivamente incorporada ao Império Britânico.
©Wikimedia Commons/Felice Beato

As lideranças britânicas na
Índia foram implacáveis com
os rebeldes aprisionados.
As execuções públicas
contribuíram para aumentar
o temor da população, fato
que levou ao esvaziamento do
movimento armado contra a
presença inglesa no território
indiano.

BEATO, Felice. Dois soldados cipaios do 31.° Regimento são enforcados em 1857. 1 fotografia,
color., 23,8 cm × 30,1 cm. Los Angeles, Estados Unidos.

30 8º. ano – volume 4


A exploração inglesa na China
A Guerra do Ópio 11 Aprofundamento de conteúdo.

Apesar de os europeus realizarem o comércio de produtos orientais,


Desde a Antiguidade, o ópio era
como a seda, o chá e a porcelana chinesa desde o século XV, foi somente
utilizado como medicamento e como
durante a segunda metade do século XIX que os ingleses conseguiram es- substância alucinógena. Os ingleses
tabelecer um comércio vantajoso na região, o do ópio. plantavam a papoula no sul da Índia
A ampla utilização dessa substância na China começou a preocupar o e extraíam o ópio em estado bruto,
governo chinês, que proibiu sua venda em 1839. O comércio, no entanto, que era vendido em larga escala
continuou a ocorrer em forma de contrabando, mesmo com penas severas para os chineses. Na China, o ópio
passava pelo processo de refino e sua
impostas para essa ação.
comercialização gerava muitos lucros
Nesse mesmo ano, um grande carregamento de ópio foi apreendido à Inglaterra. A tintura de ópio, cuja
pelas autoridades chinesas e lançado ao mar. O governo inglês pronun- ingestão é letal, era também utilizada
ciou-se, alegando que a atitude chinesa se caracterizava como crime con- para executar indivíduos, em casos de
tra a propriedade privada, iniciando assim uma série de ataques à China, pena de morte.
cujo governo e exército não conseguiram resistir. Para evitar prejuízos cada
vez maiores, em 1842, a China se rendeu e assinou com a Inglaterra o Tratado de Nanquim. De acordo com esse
tratado, a China se comprometia a abrir cinco de seus principais portos comerciais às mercadorias britânicas
(e, posteriormente, a outros países europeus), pagar uma pesada indenização de guerra, garantir imunidade e
privilégios especiais para os ingleses, além de colocar a ilha de Hong Kong sob domínio britânico.

A Guerra dos Boxers


Apesar de conflitos entre o governo chinês e os ingleses, França, Rússia, Os boxers eram integrantes de
Japão, Alemanha e Estados Unidos também tentavam se estabelecer na uma sociedade secreta denominada
China. Diante da presença estrangeira, grupos de chineses contrários à Punhos Harmoniosos, que tinha por
exploração imperialista objetivo a expulsão dos estrangeiros
©Wikimedia Commons/Department of the Army, Office of the Chief Signal Officer

promoveram ações com do território chinês. Promoviam


o objetivo de expulsar atentados contra estabelecimentos
os estrangeiros. O mais pertencentes a estrangeiros, além de
conhecido deles era de- realizarem sequestros e assassinatos
nominado boxers. de representantes das nações
imperialistas.
Em 1900, os boxers
realizaram sua maior ofensiva contra os estrangeiros. Com
apoio popular, invadiram a cidade de Pequim exigindo a saída
dos imperialistas. Contudo, foram derrotados, o que facilitou a
ampliação da exploração imperialista sobre o território chinês.

Os guerreiros boxers acreditavam que tinham


uma força transcendental e poderiam enfrentar a
superioridade bélica dos invasores estrangeiros.

GUERREIRO boxer. 1900. 1 fotografia, p&b.


Departamento do Exército/Arquivos nacionais
em College Park, EUA.

história 31
12 Sugestão de abordagem da atividade.
interpretando documentos
Leia a charge a seguir.

©Wikimedia Commons/Henri Meyer/Tholme

Charge satirizando a divisão


da China entre as potências
imperialistas
MEYER, Henry. Partilha da China
entre os reis e imperadores.
1898. 1 charge, color. Le Petit
Journal, Paris, França.

a) Como a China está representada na charge? Qual o motivo de receber essa representação?
A China está representada em um formato que lembra uma pizza. Provavelmente o autor escolheu representá-la nesse formato

para que ficasse evidente que os líderes imperialistas desejavam dividi-la.

b) A quais reinos pertencem os governantes representados?


Inglaterra, Alemanha, Rússia, França e Japão.

c) Que tipo de relação existia entre Inglaterra e Alemanha? Explique com base na imagem.
Inglaterra e Alemanha rivalizavam, pois ambas disputavam territórios na Europa e em outros continentes. A rivalidade entre

esses dois reinos europeus pode ser sentida na imagem pela troca de olhares entre a rainha Vitória e o kaiser Guilherme II.

d) Quem é a figura que está em pé ao fundo da imagem? E qual o motivo de estar gesticulando de forma tão expressiva?
É o representante do governo chinês, o imperador ou o grão-vizir. Ele parece estar tentando impedir a partilha do território chinês.

32 8º. ano – volume 4


O que Aprendi
1 . Defina Imperialismo.
Com início na segunda metade do século XIX, o Imperialismo foi o estabelecimento de uma dominação territorial, política,

econômica, ideológica e cultural em outros continentes, por parte de nações industrializadas europeias que desejavam matérias-

-primas e mercados consumidores para seus produtos.

2. Cite os dois primeiros países a empreender ações imperialistas no século XIX e explique os motivos para seu pioneirismo.
A Inglaterra e a França foram os primeiros países europeus a se lançarem na busca por colônias na África e na Ásia no século XIX.

Tornaram-se pioneiros porque foram os primeiros a industrializar suas economias. Portanto, os primeiros a sentir necessidade de

adquirir mais matérias-primas e de expandir seus mercados consumidores.

3. A respeito das consequências do Imperialismo para os continentes africano e asiático, analise as afirmativas a seguir.
I. A exploração das riquezas minerais encontradas nas regiões colonizadas não geraram benefícios para africanos e
asiáticos.
II. Os povos africanos e os asiáticos foram favorecidos pelas tecnologias e capital europeus. Os trabalhadores desses
países receberam boas ofertas de emprego e conseguiram se desenvolver economicamente.
III. Os povos colonizados não aceitaram passivamente sua condição, por diversas vezes resistiram aos colonizadores pro-
vocando revoltas armadas.
Agora, de acordo com sua análise, assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II estão certas. d) Todas as afirmativas estão certas.
X b) Apenas as afirmativas I e III estão certas. e) Todas as afirmativas estão erradas.
c) Apenas as afirmativas II e III estão certas.
4. (ENEM) A conquista pelos ingleses de grandes áreas da Índia deu o impulso inicial à produção e venda organizada de ópio.
A Companhia das Índias Orientais obteve o monopólio da compra do ópio indiano e depois vendeu licenças para mercado-
res selecionados, conhecidos como “mercadores nativos”. Depois de vender ópio na China, esses mercadores depositavam a
prata que recebiam por ele com agentes da companhia em Cantão, em troca de cartas de crédito; a companhia, por sua vez,
usava a prata para comprar chá, porcelana e outros artigos que seriam vendidos na Inglaterra.
SPENCE, J. Em busca da China moderna. São Paulo: Cia. das Letras, 1996 (adaptado).
A análise das trocas comerciais citadas permite interpretar as relações de poder que foram estabelecidas. A partir desse
pressuposto, o processo sócio-histórico identificado no texto é
a) a expansão político-econômica de países do Oriente, iniciada nas últimas décadas do século XX.
b) a consolidação do cenário político entreguerras, na primeira metade do século XX.
c) o colonialismo europeu, que marcou a expansão europeia no século XV.
X d) o Imperialismo, cujo ápice ocorreu na segunda metade do século XIX.

e) as libertações nacionais, ocorridas na segunda metade do século XX.

história 33
A América no
século XIX
1 Justificativa de seleção de conteúdo.

Representação da última
batalha do General Custer
contra os grupos indígenas
Lakota e Cheyenne, em
©Wikimedia Commons/Whitney Gallery of Western Art

1876. A obra representa


a resistência indígena ao
processo de expansão
estadunidense sobre os
locais onde habitavam.

PAXSON, Edgar Samuel.


Última posição de Custer.
1899. 1 óleo sobre tela,
color., 179 cm × 269,2 cm.
Galeria Whitney da Coleção
de Arte Ocidental, Cody,
Wyoming.

O processo de independência dos Estados Unidos foi pautado pelos ideais iluministas de liberda-
de, igualdade e justiça. Esses princípios aparecem, mesmo que contraditoriamente, na primeira e única
Constituição elaborada pela nova nação em 1787. O objetivo era construir a imagem de uma nação forte,
independente e democrática, que seria guiada em direção ao progresso por pessoas virtuosas, que ha-
viam sido escolhidas por Deus para construí-la e administrá-la.
Tais ideais fazem parte do que foi entendido como um “mito de fundação dos Estados Unidos” e, ainda
nos dias atuais, são significativos para a identidade nacional do país, o que pode ser observado pela fre-
quência com que aparecem em representações cinematográficas, literárias e artísticas.
Contudo, seriam esses ideais válidos a todos os grupos sociais que, no século XIX, habitavam a região
que atualmente corresponde aos Estados Unidos?

e s p aço de diálogo
2 Gabarito.
Leia a obra de Edgar Samuel Paxson e, em seguida, faça o que se pede.
a) Identifique os grupos envolvidos na batalha retratada na obra.
b) Explique de que maneira a imagem o auxilia a responder à questão formulada no texto de abertura.
c) Que outros grupos possivelmente estariam excluídos dos ideais de liberdade, igualdade e justiça enfa-
tizados na Constituição estadunidense (1787)?

34
o s
iv ƒ Compreender os impactos da Marcha para o Oeste promovida pelos Estados Uni-

j et dos após a Independência (1776).

Ob ƒ Analisar o impacto da Guerra de Secessão (1861-1865) para a consolidação da na-


ção estadunidense.
ƒ Analisar as práticas raciais em relação a africanos e afrodescendentes nos Estados
Unidos.
ƒ Identificar a conjuntura política, econômica e social do México no século XIX.
ƒ Compreender as políticas de expansão territorial do Chile e da Argentina e seus
impactos para as populações indígenas desses territórios.
ƒ Analisar as políticas imperialistas estadunidenses na América Latina a partir do sé-
culo XIX.

Estados Unidos no século XIX 3 Aprofundamento de conteúdo.

Na Europa, a primeira metade do século XIX foi marcada pelas Guerras Napoleônicas (1803-1815)
e, posteriormente, por uma onda de restaurações monárquicas (1815-1848), as quais objetivavam
restituir o Antigo Regime. Tais acontecimentos despertaram o receio de que as nações europeias ten-
tassem recolonizar a América. Diante dessa situação, James Monroe, presidente dos Estados Unidos
entre 1817 e 1825, criou a Doutrina Monroe, cujo principal lema era “América para os americanos”.
Com isso, além de afastar a ameaça europeia do continente, sua intenção era aumentar o poder e a
influência dos Estados Unidos sobre as demais regiões da América.
©Wikimedia Commons/Library of Congress

Nessa charge, Tio Sam, representado como um


soldado armado, coloca-se entre as potências europeias
(Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e Portugal) e
Nicarágua e Venezuela e impede que aquelas entrem em
solo estadunidense. A seu lado há uma placa onde se pode
ler: “Não ultrapassar. América para americanos. Tio Sam”.
Na parte inferior da charge, encontra-se a frase “Afaste-se!
AFASTE-SE! A Doutrina Monroe deve ser respeitada. 1896. 1 A Doutrina Monroe deve ser respeitada”.
litografia, p&b, 33 cm × 21,7 cm. Biblioteca do Congresso.

Além dos investimentos em uma forte política externa, os Estados Unidos iniciaram um processo
de expansão territorial para o interior. A necessidade de expansão se deu em decorrência do cresci-
mento populacional, atribuído à chegada de imigrantes europeus refugiados das guerras, e do desejo
de expandir a produção agrícola.
Por meio de doações de terras, o governo estadunidense possibilitou que milhares de colonos
se dirigissem à região Oeste do país, onde receberiam a infraestrutura necessária – estradas, linhas
férreas e telégrafos – para se estabelecerem.
Começava, então, a Marcha para o Oeste, em direção à costa do Oceano Pacífico. Esse Oeste, distante,
conhecido como “Far West”, era um território povoado por inúmeros indígenas, vistos como empecilho
para a realização dos projetos da nação. Assim, grupos como Sioux, Apaches, Cheyennes, entre tantos
outros, tiveram suas populações dizimadas em nome do “progresso” da nação.
4 Sugestão de atividade.

35
Em 1830, Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos,
Os diversos grupos indígenas da
promulgou a “Lei de Remoção dos Índios”. Essa lei ordenava a remoção América do Norte viviam em aldeias.
de diversos grupos indígenas para uma área no estado de Oklahoma. Entre eles, não existia propriedade
Entre esses grupos, destacavam-se os Cherokees, que foram obrigados a privada e sua organização social variava
caminhar mais de mil e quinhentos quilômetros enfrentando frio e fome; entre o nomadismo e o seminomadismo.
milhares morreram nessa caminhada conhecida como “Trails of tears”, em Caçavam animais, como ursos, bisões
português, Trilhas das lágrimas. e raposas, e cultivavam milho e feijão.
Com a pele dos animais caçados,
©Wikimedia Commons/New Orleans Museum of Art

confeccionavam vestimentas para


suportar o rigoroso inverno norte-
-americano.

Família de indígenas da etnia Choctaw


deslocando-se para a reserva em
Oklahoma
BOISSEAU, Alfred W. Índios de Louisiana
caminhando ao longo de um pântano.
1847. 1 óleo sobre tela, color. Museu de
Arte de Nova Orleans, Louisiana.

A ocupação das terras indígenas era justificada por meio de argumentos de ordem teológica. Baseados em
princípios da religião protestante e na ideia de predestinação, acreditava-se que a conquista do Oeste era uma
espécie de destino dos estadunidenses, pois eram vistos como um “povo eleito” por Deus para levar o progresso
a outras regiões da nação e do continente americano. Essa teoria ficou conhecida como Destino Manifesto.

interpretando docum entos 5 Gabarito.

Leia a imagem e responda às questões propostas.


©Wikimedia Commons/Autry Museum of the American West

Na pintura, o Destino
Manifesto é representado
por uma mulher quase
angelical, que flutua e
conduz os colonos ao interior
do território da nação. Em
uma das mãos, ela carrega
a linha do telégrafo, que
garantia a comunicação e
a integração com a costa
atlântica.

GAST, John. Progresso americano. 1872. 1 óleo sobre tela, color., 45,1 cm × 54,6 cm.
Museu do Oeste Americano, Los Angeles, Estados Unidos.

36 8º. ano – volume 4


a) Como os nativos foram representados na imagem?
b) Por que o lado direito do quadro, atrás do Destino Manifesto, aparece mais iluminado do que o lado esquerdo, que
representa a direção para onde as pessoas estão indo? Como é possível interpretar essa composição de luzes?
c) Como os colonos foram representados na imagem? Quais elementos fazem referência ao contexto científico-industrial
do século XIX?

Guerra de Secessão
Os estadunidenses não formavam um grupo único, havia fortes diferenças culturais, sociais e econômicas
entre as regiões do país. Ao norte, localizava-se mais da metade das indústrias do país, que cresciam com a che-
gada dos imigrantes e movimentavam a circulação de mercadorias e moedas no país. No sul, predominavam as
grandes propriedades agrícolas, principalmente as fazendas de algodão, nas quais o trabalho dos escravizados
era a principal mão de obra. 6 Aprofundamento de conteúdo.

Na década de 1860, os nortistas começaram a pressionar pela abolição da escravatura. Para os sulistas, con-
tudo, a escravidão, já enraizada naquela parte do território estadunidense, era imprescindível para o sucesso da
produção agrícola, em especial a de algodão, principal produto exportado pelos Estados Unidos no período.
Outra divergência entre nortistas e sulistas relacionava-se à política econômica. Enquanto as indústrias do
Norte se posicionavam a favor de leis protecionistas – isto é, que beneficiassem as fábricas locais e o comércio
de produtos originais dos Estados Unidos, estipulando impostos mais altos sobre o valor dos produtos impor-
tados –, os proprietários do Sul dependiam do comércio exterior para vender sua produção e, portanto, não
queriam desagradar os ingleses.
Para o Norte, abolir o trabalho escravo e incentivar a indústria parecia a melhor maneira de consolidar o
desenvolvimento industrial do país.
Pressionados, os estados do Sul romperam com a União, fragmentando os Estados Unidos em dois.
Começava, assim, a Guerra de Secessão, que durou de 1861 a 1865. Sob o comando do presidente Abraham
Lincoln, os estados do Norte iniciaram os confrontos, que tinham como objetivo manter o território unido.
Apoiado pela riqueza das indústrias e pelo

©Wikimedia Commons/J.B. Elliott/Library of Congress


melhor treinamento de seus soldados, que dis-
punham de armas melhores, o Norte venceu o
conflito. Ao fim da guerra, o número de mortos
ficou em torno de 600 mil pessoas, além de a
região Sul estadunidense ter sido arrasada. Se
havia diferenças sociais e econômicas entre
Norte e Sul antes da guerra, depois dela a dis-
paridade ficou ainda mais evidente.

Com a intenção de sufocar a economia sulista, o general


Winfield Scott propôs um bloqueio aos portos da região
Sul. Tal medida obteve sucesso, pois a economia dos
Estados Confederados dependia da importação de boa
parte de alimentos e produtos consumidos na região. O
desabastecimento e a fome gerados com o bloqueio dos portos
fizeram com que os estados do Sul não tivessem condições de
prosseguir com a guerra.

ELLIOTT, J. B. A grande serpente de Scott. 1861. 1 litografia, color.


Biblioteca do Congresso, Washington, DC.

história 37
Ainda durante o conflito, no ano de 1863, foi decretada a Proclamação da Emancipação, documento que
aboliu a escravidão nos Estados Unidos. Contudo, o fim do trabalho escravo não resolveu as questões raciais no
país. Após a guerra, grupos racistas, como a Ku Klux Klan, organizaram-se principalmente na região sul e agiam
criminosamente contra afrodescendentes. Houve, ainda, o estabelecimento de leis discriminatórias em outros
locais dos Estados Unidos.

OUTRAS HISTÓRIAS
Após a abolição da escravatura, a população negra não foi integrada à sociedade estadunidense, que conti-
nuava marcada pela segregação racial. Com exceção do trabalho doméstico, a presença de pessoas negras não
era tolerada pela sociedade branca, tanto no âmbito privado quanto no público. Assim, raramente elas podiam
frequentar ou compartilhar os mesmos locais que os brancos. Os espaços de sociabilidade, tais como igrejas,
escolas, hospitais, bairros e até os assentos no transporte coletivo, separavam a população negra da população
branca.
©Wikimedia Commons/Daniel Murray Collection/Library of Congress

Devido à segregação, nos Estados Unidos foram


criadas igrejas voltadas a atender exclusivamente
a população negra. A primeira delas foi a Igreja
Episcopal Metodista Africana, liderada pelo liberto
Richard Allen, na Filadélfia. Após ter encaminhado
diversos negros para a Igreja Metodista de St. George,
percebeu que a comunidade branca não os tratava
como iguais, independente do que dizia a Constituição
e a Proclamação da Emancipação. Ainda dentro da
denominação metodista, fundou igrejas somente para
pessoas negras, até que, em 1816, fundou a Igreja
Episcopal Metodista Africana, como uma denominação
independente.

AFRO-AMERICANOS no lado de fora da igreja. Geórgia.


1901. 1 fotografia, p&b. Daniel Murray Collection
(Biblioteca do Congresso), Estados Unidos.

organizando a história 7 Gabarito.

Leia o trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) e, em seguida, faça o que se pede.

Consideramos [...] que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos
direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que para assegu-
rar esses direitos, [...] é direito do povo alterá-lo ou aboli-lo e instituir novo governo, fundamentando-o
nesses princípios e organizando-lhe os poderes da forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-
-lhe a segurança e a felicidade. [...] quando uma longa série de abusos e usurpações [...] indica o desígnio
de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, e o dever, de desfazer-se desse governo e
instituir novos guardiões para sua futura segurança.

DECLARAÇÃO de Independência dos Estados Unidos (1776). In: ISHAY, Micheline R. (Org.). Direitos humanos: uma antologia. São
Paulo: Edusp, 2006. p. 227-230.

38 8º. ano – volume 4


a) Do que trata o texto?
b) Relacione as ideias escritas na Declaração de Independência (1776) com a situação vivenciada pela população negra
nos Estados Unidos após a abolição do trabalho escravo.
c) É possível afirmar que os efeitos da política de segregação imposta às pessoas negras nos Estados Unidos ainda podem
ser percebidos na atualidade?

América Latina no século XIX 8 Sugestão de abordagem do conteúdo.

Após os processos de emancipação política das colônias espanholas na América, as recém-formadas nações
enfrentaram diversos conflitos, como guerras civis e disputas por territórios, que, em um primeiro momento,
dificultaram a consolidação de Estados fortes e unificados.
No âmbito interno, as elites regionais lutavam para se manter no poder, objetivando garantir seus privilégios
dentro da estrutura colonial. Já a população reivindicava maior participação política, além de melhorias nas
condições de vida e de trabalho. Tal situação provocou, de maneira geral, disputas políticas e conflitos regionais.
No âmbito externo, havia a dificuldade de garantir a posse dos territórios nacionais e a necessidade de
ocupá-los, ante as ameaças de países vizinhos. Algumas fronteiras se mostraram difíceis de serem defendidas,
causando perdas territoriais significativas. Por exemplo, o México perdeu aproximadamente 50% de seu territó-
rio para os Estados Unidos – a região do Texas, em 1845, e a da Califórnia, em 1848.
9 Sugestão de abordagem do conteúdo.

O Imperialismo estadunidense
Assim como os países europeus haviam empreendido políticas imperialistas na África e na Ásia, entre os sécu-
los XIX e XX, os Estados Unidos também o fizeram na América.
Após a Guerra de Secessão (1861-1865), com a proteção às indústrias nacionais e uma relativa paz interna asse-
guradas, os Estados Unidos iniciaram um processo de expansão econômica por meio da política externa, alian-
do-se com (e exercendo influência sobre) diversos países latino-americanos. As consequências dessa expansão
política e comercial foram determinantes para a organização da América ao longo do século XX.
Nesse contexto, o Destino Manifesto e a Doutrina Monroe foram amplamente utilizados como justificativa para
a intervenção estadunidense nos demais países americanos. Dentre as principais nações que sofreram influên-
cia da política estadunidense, estão Cuba e Panamá.
Em 1898, os Estados Unidos intervieram na Guerra Hispano-Americana, a qual, graças ao auxílio estaduniden-
se, resultou no processo de independência de Cuba. Em 1903, impuseram a Emenda Platt ao governo cubano,
documento constitucional que determinava o direito estadunidense de interferir na política e na economia do
país, que, na prática, acabou se tornando uma espécie de protetorado estadunidense.
A construção do canal do Panamá, iniciada pelos franceses em 1880, passou a ser dirigida pelos Estados Unidos
em 1904, o que concedia a este país o direito sobre o canal e, consequentemente, fácil acesso entre os oceanos
Pacífico e Atlântico. Para conseguir a construção da obra, os Estados Unidos apoiaram o Panamá em seu pro-
cesso de independência, ocorrido em 1903.

Nos países latino-americanos, assim como nos Estados Unidos, o processo de ocupação dos territórios na-
cionais impactou diretamente as populações indígenas. Por influência da ideologia nacionalista, as jovens na-
ções entendiam o desenvolvimento econômico e a consolidação de uma unidade nacional como fundamental
para garantir a soberania do país, portanto, acreditavam que os indígenas deveriam ser integrados no projeto
de construção nacional.

história 39
Terras indígenas no México 10 Sugestão de abordagem do conteúdo.

Desde o século XVI, com a chegada dos europeus, os povos indígenas da América Latina foram sendo in-
corporados ao projeto colonial, por meio da catequese ou da exploração de sua mão de obra. Contudo, esse
processo se acirrou com os processos de emancipação das colônias.
No México, durante o século XIX, as terras comunais ocupadas pela população indígena, conhecidas como
ejidos, passaram a ser repartidas e comercializadas como propriedade privada. Isso ocorreu devido ao desejo de
modernização da economia e de investimento na industrialização, que seria responsável por transformar cam-
poneses em proletários, bem como por integrar os indígenas na sociedade e inseri-los no mercado capitalista.
Assim, cada família indígena receberia a posse de um lote de terra, produziria e venderia sua produção no
mercado. Como essa decisão foi tomada contra a vontade desses povos, muitos não estavam aptos à nova em-
preitada. Sem a rede de auxílio comunal, várias famílias passaram a viver em condição de miserabilidade, pois
as terras que receberam não eram produtivas ou não conseguiam cultivar alimentos que tivessem boa venda
no mercado.
©Wikimedia Commons/Library of Congress

Para solucionar o problema da


fome e da falta de dinheiro, muitas
famílias acabavam vendendo suas
terras, fato que contribuiu para o
aumento da concentração de ter-
ras nas mãos de ricos fazendeiros.
Assim, os indígenas passaram de
proprietários a empregados nessas
fazendas.
Nessas terras era praticada a peo-
naje, uma relação de trabalho na
qual um trabalhador ficava endivi-
dado e perdia a liberdade de sair da
fazenda. Dessa maneira, não recebia
salário, não dispunha de direitos e,
caso fugisse, era perseguido.

Camponeses mexicanos na Cidade do


México. As reformas liberais transformaram
os camponeses livres das comunidades em
proprietários, mas, aos poucos, esses camponeses
perderam suas propriedades e passaram à
condição de peones, ou seja, presos à terra do
grande fazendeiro devido ao endividamento. A
peonaje foi extinta apenas no início do século XX.
FAMÍLIA de peões na Cidade do México. 1906. 1 fotografia, p&b. Biblioteca do
Congresso, Washington, D.C.

Terras indígenas na Argentina e no Chile


As terras indígenas também foram alvo dos projetos de construção nacional no decorrer do século XIX,
tanto na Argentina quanto no Chile. Essas terras eram entendidas pelos governos dessas nações como perten-
centes ao Estado, e ele deveria povoá-las e cultivá-las. Contudo, é preciso lembrar que elas já eram povoadas
por grupos indígenas há milhares de anos.

40 8º. ano – volume 4


Os territórios indígenas ao sul da província de Buenos Aires sofreram por diversas vezes com ações milita-
res do exército, cujo objetivo era desapropriá-los de suas terras. Contudo, em muitos casos, os nativos resisti-
ram às invasões, empreendendo contra-ataques às cidades

©Wikimedia Commons/Charles Wellington Furlong


e às estâncias da região. Após a Guerra da Tríplice Aliança
(1864-1870), o governo argentino se voltou para a conquis-
ta desse território, episódio conhecido como “conquista do
deserto” e ocorrido de 1878 a 1885.
Na “conquista do deserto”, os objetivos do governo eram
a incorporação do território à nação argentina, ampliação
da área de criação de gado, exploração das salinas para a
produção de carne seca e salgada e evitar que alguma outra
nação ocupasse o território. Efetivamente, tanto o governo
argentino quanto o chileno estenderam seus domínios até
o extremo sul da América. Os povos indígenas da região fo-
ram assimilados como mão de obra ou exterminados.

O povo Selk’nam vivia na Ilha Grande da Terra do Fogo.


Sua organização social e modo de vida equivaliam aos de
algumas comunidades pré-históricas. Eram caçadores e
coletores e, devido ao clima da região, criavam roupas e
sapatos de peles. No final da “conquista do deserto”, a ilha
foi ocupada pelo governo argentino e essa população foi
praticamente exterminada, a maior parte abatida a tiros.

FURLONG, Charles Wellington. Povo selk’nam ou onas.


1917. 1 fotografia, p&b.

interpretando docum entos

Leia o trecho de texto a seguir.

Até 1878, a geopolítica argentina assumia a existência de uma fronteira entre os “territórios da civi-
lização” e os extensos territórios “em poder do índio”. Além da fronteira [...] apresentam um panorama
que ainda não foi completamente esclarecido, já que não houve, por parte da elite, um interesse político
em sistematizar o tratamento dos povos indígenas nem em identificar seus territórios.

BELVEDERE, Carlos et al. Argentina: sinopse da situação. In: DIJK, Teun A. van (Org.) Racismo e discurso na América Latina. São
Paulo: Contexto, 2008. p. 27, 28.

Agora, responda: De acordo com o texto, qual é a percepção que o governo argentino mantinha sobre as populações indí-
genas? Justifique sua resposta.
O autor do texto relata que os indígenas eram vistos como povos incivilizados, sendo desvalorizados pelo governo argentino. Isso

pode ser observado no seguinte trecho: “Até 1878, a geopolítica argentina assumia a existência de uma fronteira entre os ‘territórios

da civilização’ e os extensos territórios ‘em poder do índio’”.

história 41
OUTRAS HISTÓRIAS 11 Aprofundamento de conteúdo.

Originário da região que atualmente corresponde ao Chile, o povo Mapuche vivia nesse local há milhares de
anos. O nome mapuche provém da união de duas palavras: mapu (terra) e che (gente). Quando da chegada dos
espanhóis na região, várias comunidades atravessaram as cordilheiras e se instalaram na região do atual território
argentino, exercendo forte influência sobre os povos indígenas daquele local, em um processo denominado
“mapuchização” das populações locais. Estima-se que existia em torno de 1 milhão de mapuches no período da
colonização. Na atualidade, eles lutam pelo direito a terras no Chile e na Argentina.
©Wikimedia Commons/Rec79

As machis eram as líderes


religiosas do povo Mapuche.
Tinham a responsabilidade
de conduzir as cerimônias
religiosas e os rituais de cura,
manusear ervas medicinais
e manter a harmonia da
comunidade atuando como
conselheiras.

MACHIS da etnia mapupche.


1900. 1 fotografia, color.

O que Aprendi
12 Gabarito.

1. Explique o que foi a Marcha para o Oeste e as consequências dessa ação para os povos indígenas norte-americanos e para
o México.
2. A respeito da Guerra de Secessão (1861-1865), analise as afirmativas a seguir.
I. A abolição da escravidão e o aumento das taxas de importação de produtos estrangeiros podem ser apontados como
causas dessa guerra.
II. A Região Norte era mais industrializada e desejava abolir a escravidão para dinamizar o mercado consumidor.
III. A Região Sul era essencialmente agrícola e dependente da mão de obra escravizada.
Agora, assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. X d) Todas as afirmativas estão corretas.

b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. e) Todas as afirmativas estão erradas.


c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
3. No século XIX, qual era a percepção do governo mexicano sobre as terras comunais indígenas? Quais medidas foram toma-
das em relação a elas?
4. No século XIX, as ações de expansão do território nacional e de incorporação dos indígenas à sociedade restringiram-se
apenas ao México e aos Estados Unidos?

42 8º. ano – volume 4


a l i o
e ri a po história
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página 39 – Independência das colônias espanholas na América

Vice-Reino do Rio da Prata

Argentina
1810

Uruguai Paraguai Bolívia


1825 1811 1825

5 – O Uruguai conquistou sua independência do Império Brasileiro em 1825.

8º. ano – volume 4 3


4
Estados Unidos e México no século XIX

Ângela D. Barbara

Fonte: ATLAS histórico. História do mundo. Austrália: Millenium House Pty Ltd., 2008. p. 289. Adaptação.

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