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DRÁCULA, DE

BRAM STOCKER:
SOBREVIDA

Acadêmicas: Betiane Thaise Streck


Gabriela Gonçalves Ribeiro
Pessoas de Livro: Figuração e Sobrevida da
Personagem, de Carlos Reis.
“O que fica das personagens quando encerramos a leitura da narrativa? E
qual o modo ou os modos de ser desse resto que conservamos? Têm as
personagens vida para além dos limites (limites artificiais e porosos, é certo)
do universo ficcional? Podemos falar a esse respeito de uma sobrevida das
personagens? E se for o caso, em que medida essa sobrevida vai além dos
atos interpretativos de uma leitura convencional que concretiza o texto?
Avançando um pouco mais: até que ponto outros meios (outros media, pois
então), que não o texto verbal escrito, contribuem para a tal sobrevida?”
(REIS, p.119, 2018)
“Isto quer dizer, desde já, o seguinte: os nomes pouco dizem, há que saber
mais coisas. Os nomes e as personagens são o primeiro desafio à curiosidade
de quem lê, mesmo tratando-se, como se diz, de uma leitora experiente (ou
talvez por isso mesmo). Mais: o autor pouco sabe das suas personagens e
reconhece mesmo que elas têm um futuro que ele não controla; sabe
‘pouquíssimo do que virão a ser’, sendo certo que esses que estão nos livros
são, ‘em suma, nós’.” (REIS, p.120, 2018)
“(...) a personagem pode ser figurada na poesia lírica. Por outro lado, a
figuração deve ser encarada em aceção translata, quando observamos a sua
ocorrência em discursos que não são formal ou institucionalmente literários.
Refiro-me, por exemplo, à historiografia, à epistolografia e aos discursos de
imprensa (p. ex., os retratos de figuras públicas, os obituários, etc.).” (REIS,
p.122, 2018)
Em termos genéricos, a figuração, enquanto representação ficcional da
pessoa, requer atos de semiotização, ou seja, a articulação de um discurso
que produz sentidos e que gera comunicação, com efeitos pragmáticos. No
quadro modal da narrativa, esse discurso pode ser descrito de forma muito
pormenorizada, com recurso ao aparato conceptual que a narratologia (dita)
clássica sistematizou.

Por fim, a figuração, passando por aqueles atos de semiotização, pode


alcançar um índice considerável de disseminação, transcendendo o texto em
que ela se concentra. Tendendo a universalizar os sentidos inerentes à sua
condição de figuras ficcionais. (REIS, p. 123, 2018)
Drácula, de Bram Stoker
Abraham "Bram" Stoker (Dublin, 8 de
Novembro de 1847 ☆ — Londres, 20 de Abril
de 1912 †) foi um romancista irlandês,
mundialmente reconhecido por Drácula, sendo
esta a principal obra no desenvolvimento do
mito literário moderno do vampiro. A obra foi
publicada em maio do ano de 1897.
“Contudo, Drácula (1897) apresenta um vampiro tanto característico como
espacialmente estruturado, retomando em sua narrativa boa parte da
tradição científica, mítica, teatral e literária em torno do vampiro. Dessa
forma, Drácula fecha um ciclo de tentativas difusas, ao longo dos séculos,
por obras anteriores, e formula a figuração literária canônica do vampiro ao
longo do século seguinte.”

“No entanto, a obra em questão não só retoma uma tradição literária e


caracterizações referentes ao vampiro, mas também funciona, ao seu modo,
como parâmetro de monstro vampiresco – muito bem delineado ao
decorrer de seu enredo – que servirá de base tanto para obras literárias
posteriores como para as reproduções iconográficas do vampiro entre as
mídias visuais.”
(NUNES; FÉLIX, 2015, p.248-249)
A FIGURAÇÃO DO VAMPIRO EM DRÁCULA
“Lá dentro estava um homem alto e idoso, sem barba e com um bigode branco e
comprido, vestido de preto da cabeça aos pés. Não havia nele um único detalhe
colorido.” (STOKER, p.24, 2014)

“Seu rosto tinha um acentuado perfil aquilino, com um nariz magro e pronunciado, e
narinas curvadas de uma forma peculiar; sua testa era larga e arredondada, e o cabelo
escasseava nas têmporas, mas era farto no resto da cabeça. Suas sobrancelhas eram
muito densas e quase se encontravam acima do nariz, com pelos cerrados que
pareciam se enrolar, de tão profusos. A boca, até onde eu conseguia vê-la sob o bigode
farto, era rígida e de aparência cruel, com dentes brancos e peculiarmente afiados. Os
dentes superiores projetavam-se sobre os inferiores e apareciam entre os lábios, que
eram notavelmente corados e revelavam uma surpreendente vitalidade num homem
daquela idade. Quanto ao resto, suas orelhas eram pálidas, com extremidades bastante
pontudas. O queixo era largo e forte, e as maçãs do rosto, firmes, ainda que magras. O
efeito geral era de extraordinária palidez.” (STOKER, p.27, 2014)
“Subitamente, senti que punham a mão em meu ombro, e ouvi a voz do conde a me
dizer um bom-dia. Fiquei surpreso, pois me intrigava o fato de não tê-lo visto, já que o
reflexo do espelho abarcava todo o quarto às minhas costas.” ( p.35, 2014)

“O que vi foi a cabeça do conde saindo da janela. Não vi o rosto, mas reconheci-o pelo
pescoço e pelo movimento das costas e dos braços. De qualquer modo, eu não
confundiria as mãos que tive tantas oportunidades de estudar. (...) Meus sentimentos,
contudo, transformaram-se em repulsa e terror quando vi o corpo inteiro do conde
emergir aos poucos da janela e começar a se arrastar pela parede do castelo, à beira do
terrível abismo, com a cabeça para baixo e a capa esvoaçando ao redor como se fosse
um par gigantesco de asas. (...) exatamente como faz um lagarto.” (p.44-45, 2014)

“Ali, dentro de uma daquelas grandes caixas (das quais havia cinquenta, ao todo),
deitado sobre um monte de terra, estava o conde! Não saberia dizer se morto ou
adormecido, pois seus olhos estavam abertos e imóveis, mas sem o aspecto vítreo de
toda sua palidez. Os lábios estavam vermelhos como sempre. Não havia, porém,
qualquer sinal de movimento - pulso, respiração ou o bater do coração.” (p.59, 2014)
A SOBREVIDA
A SOBREVIDA DA
DA PERSONAGEM
PERSONAGEM
HOTEL TRANSYLVANIA (2012, 2015, 2019)
CASTLEVANIA: LORD OF SHADOW (2010)
NOSFERATU (1922)
DRÁCULA, DE BRAM STOCKER (1992)
REFERÊNCIAS

NUNES, Jonathas Martins; FÉLIX, Carlos. Da representação linguística à


exacerbação iconográfica: as várias faces do vampiro Drácula na literatura,
cinema e televisão. Revista Letras Raras. Vol. 4, Ano 4, Nº 3 –2015.

REIS, Carlos. Pessoas de Livro: estudos sobre a personagem. 3ºed, Imprensa da


Universidade de Coimbra, agosto de 2018.

STOKER, Bram. Drácula. Tradução Adriana Lisboa - 2ed - Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2014.

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