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COLÉGIO ESTADUAL DR.

EDUARDO BAHIANA
ALUNO ___________________________________________
DATA____/___/_____ - SÉRIE: 2º3º Ano - TURMA: _________
PROFESSOR: Claudio Sousa Pereira
DISCIPLINA: Português/Literatura Brasileira e Portuguesa

APOSTILA – PORTUGUÊS – 1ª UNIDADE – 2-3º ANO-E.M.


O QUE É LITERATURA? – CONCEITUALIZAÇÃO SOBRE O TERMO
seja, as grandes criações da Imaginação e da
Inteligência.
Aristóteles já dizia que nada chega ao
intelecto se primeiro não passar pela
imaginação simbólica. Quem cria o
simbolismo e o condensa a experiência vivida
no país é a literatura. Se não tem literatura,
não tem imagem o país.
São incorporações de crenças e
esperanças do porquê dos homens se
orientam na vida; e sua evolução no tempo,
mais que história de artistas em busca de
expressão, é o drama do homem em busca
de um sentido para existência.
ARISTÓTELES (384-322 a.C.) LITERATURA X REALIDADE
o Para Aristóteles, literatura significa a A leitura de textos literários desde o ensino
ideia de Mimese, ou seja, a arte fundamental se faz da maior importância. A
entendida como imitação, ou produção e a leitura de textos literários —
capacidade de reproduzir, com meios desde o poema pessoal escrito até a grande
próprios, obra de um escritor famoso — é a
o Os mecanismos utilizados na criação da consequência da ação e ato próprio do viver,
realidade do mundo, em síntese, a arte em dar sentido a essa existência, recriando-
como recriação. a. Sabemos que a Literatura nunca
o Grande arte da palavra, base de toda a conseguirá captar toda a realidade em sua
vida civilizada, um testemunho vivo da complexidade, uma vez que a realidade é
soberania do espírito. móvel e inapreensível, muito longe de ser
o Literatura perfaz-se num domínio artísticocapturada numa forma estanque. O máximo
e histórico que ajudou a formar as que conseguimos, quando se consegue, é
próprias línguas vernáculas. uma modesta projeção desse mesmo real.
Entretanto, paradoxalmente, a Literatura cria
PARA QUE SERVE A LITERATURA? possibilidades paralelas que, sem as quais o
mundo, isto é, a própria realidade, teria
Literatura Nacional é um Condensado menor amplitude.
imaginário da experiência de vida no país, ou

O QUE O ESCRITOR FAZ NO SEU OFÍCIO:

✓ O que faz os escritores: pegar a experiência direta, conservá-la na memória da melhor


forma possível – e na imaginação e na fantasia – e verbalizá-la, ou seja, tornar moeda
corrente através das palavras certas experiências que, caso contrário, estariam fechadas,
numa espécie de cofre individual incomunicável. E através da aquisição dos instrumentos
de verbalização destas experiências que os escritores foram registrando, o leitor vai
adquirindo um repertório de instrumentos para expressarmos a nossa própria
experiência, não necessariamente para os outros, mas pelo menos para si mesmo.
Portanto, é um Instrumento de fortalecimento da experiência.

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TEXTUALIDADE LITERÁRIA
▪ A literatura pertence ao domínio da linguagem, EM GERAL.
▪ Qualquer signo, qualquer linguagem é fatalmente transparência e obstáculo. O uso
cotidiano da linguagem procura fazer-se esquecer logo se faz compreender enquanto a
linguagem literária cultiva sua própria opacidade.
▪ O uso cotidiano da linguagem é referencial e pragmático, o uso literário da íngua é
imaginário e estético. No dizer de Lêdo Ivo: o texto literário pertence à linhagem
especial dentro de uma linguagem geral.

DIFERENÇAS ENTRE UM ESCRITOR X USUÁRIO DA ESCRITA

O autor de literatura se insere dentro de uma tradição de uma arte, usando recursos criados
no decorrer da história. Afinal, há uma clara distinção do que é um escritor profissional, e um
autor literário que se distingue de um usuário da língua. O autor se inscreve sinceramente
dentro de uma tradição de uma arte. Os recursos são criados, acumulados, transmitidos e
mesclados, criando novos estilos; com o decorrer do tempo você pode se situar onde está
historicamente esse sujeito. Caso o escritor não se inscreva em um lugar dentro desta
evolução da arte da escrita, ele não se enquadra com autor literário, e sim num mero
usuário da escrita.

OFICINA DE LITERATURA – OS GÊNEROS LITERÁRIOS – 1º BIM


• Para Aristóteles, os gêneros literários subdividem em três:
o GÊNERO ÉPICO
o GÊNERO DRAMÁTICO
o GÊNERO LÍRICO

GÊNERO ÉPICO

O Gênero Épico: Narração de fatos grandiosos,


centrados na figura de um herói. Tem uma
presença de um narrador.
É provavelmente a mais antiga das
manifestações. Ele surgiu quando os homens
antigos sentiam necessidade de relatar as suas
experiências dentro de uma estrutura da realidade
muito dura e difícil.

“Passada esta tão próspera vitória,


Tornando Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu de uma mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha”.
(Episódio de Inês de Castro)
Luís de Camões (1524-1580)

GÊNERO DRAMÁTICO

o Trata-se de textos escritos para serem


representados no Teatro.
o Não há um narrador. As coisas
acontecem.

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“…(Julieta aparece na janela.) Mas que silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta
o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e
doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de
servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a
fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo, não
diz nada. Que importa? Com o olhar está falando.
“Vem, noite! Vem, Romeu! tu, noite e dia, pois vais ficar nas asas desta noite mais
branco do que neve sobre um corvo. Vem, gentil noite! vem, noite amorosa de escuras
sobrancelhas! Restitui-me o meu Romeu, e quando, mais adiante, ele vier a morrer, em
pedacinhos o corta, como estrelas bem pequenas, e ele a face do céu fará tão bela que
apaixonado o mundo vai mostrar-se da morte, sem que o sol esplendoroso continue a
cultuar”.

GÊNERO LÍRICO
Gênero no qual um sujeito lírico (a voz que fala no poema) expressa suas emoções e
ideias. Predomina a função emotiva.
➢ Este gênero se subdivide em alguns:
➢ ODE
➢ ELEGIA
➢ EPITALÂMIO
➢ SÁTIRA
➢ IDÍLIO E ECLOGA

AS MANIFESTAÇÕES DA EXPRESSÃO: O VERSO E PROSA:

➢ PROSA: Expressão natural da linguagem, é o texto escrito de margem para margem. Na


prosa ocorre o conteúdo desenvolvido de forma linear (continuada). A unidade de medida
é o parágrafo.
➢ O QUE É PARÁGRAFO? É uma estrutura superior à frase, que desenvolve uma ideia-
núcleo. Funciona como o prolongamento de um pensamento.
➢ POEMA: Texto que se organiza em versos, e assim sendo, obedece a um determinado
ritmo.
➢ OBS: O poema é um artefato verbal sustentado por uma estrutura combinatória, que na
leitura, se faz diferente da prosa.
➢ POESIA: do grego Poiésis: ação de fazer, criar alguma coisa pela expressão do belo,
aplicado ao conteúdo do poema.

➢ VERSIFICAÇÃO: Arte de compor versos, ou de analisá-lo de acordo com as


características formais de um poema.
➢ VERSO – Unidade rítmica de um poema, de extensão variável. Difere da prosa, que é,
por sua vez, composta de parágrafos.
➢ ESTROFE: É o conjunto de versos. As estrofes podem ser formadas de versos de
medida igual ou diferente. As estrofes possuem nomes especiais de acordo com o
número de versos:

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O autor de um romance célebre na literatura realista: Raul Pompeia
De família com posses, estudou por
alguns anos em colégio interno, o Abílio, que
influenciou diretamente a sua obra mais
conhecida, O Ateneu.
Em 1880 publica a primeira obra: Uma
Tragédia no rio Amazonas. No ano seguinte,
adere à causa abolicionista e republicana, o que
diretamente abordou em suas narrativas. Estudou
Direito, em São Paulo e no Recife.
Em 1888, ano da abolição da escravatura,
publica sua principal obra: O Ateneu, obra com
características estéticas realista, naturalista e
expressionista. No ano seguinte se envolve em
muitas polêmicas com alguns escritores e
intelectuais, devido a sua postura ortodoxamente
republicana. De caráter sensível e melancólico,
suicida-se na noite de natal de 1895, aos 32 anos
Raul D’Ávila Pompeia (1863-1895) nasceu em de idade. .
Angra dos Reis (RJ) e faleceu na cidade do Rio Principais Obras: Uma Tragédia no rio
de Janeiro (RJ). Amazonas (1880); As joias da Coroa (1882),
Canções sem Metro (1885) e O Ateneu (1888).

Abolicionista e republicano convicto, Raul Pompeia viveu justamente no período que


compreendeu os últimos anos da Monarquia, da Escravidão e o início da Republica, em 1889. Crítico do
regime monárquico, expressou sua posição contestadora em O Ateneu, em 1888. Para os estudiosos da
Literatura, a obra retratou o momento social e político que o país atravessava. O diretor do colégio
Ateneu, o Dr. Aristarco, com seu estilo autoritário e narcisista, representava a figura do imperador do
Brasil. O internato, por sua vez, era um microcosmo da sociedade brasileira, com suas mazelas e
falsidades.
O romance O Ateneu é uma das obras mais importantes do Realismo brasileiro. Trata-se de uma
narrativa na primeira pessoa, em que o personagem Sérgio, já adulto, conta sobre seu tempo de aluno
interno no Colégio Ateneu. A ação do livro transcorre no ambiente fechado e corrupto do internato, onde
convivem crianças, adolescentes, professores e empregados. O romance é um diário de um internato:
as aulas, a sala de estudos, a diversão nos banhos de piscina, as leituras, o recreio, o que acontecia nos
dormitórios, no refeitório e as disputas. O mundo da escola é sempre visto e retratado a partir da
perspectiva particular de Sérgio (expressionismo). Misturando alegria e tristezas, decepções e
entusiasmos, Sérgio, pacientemente reconstrói, por meio da memória, a adolescência vivida e perdida
entre as paredes do famoso internato. A obra acaba com o incêndio do Ateneu pelo estudante Américo.

TEXTO 03: O ENREDO


Ao contrário do carinho familiar, o narrador adulto relembra as palavras do pai como um aviso
para viver o mundo real, que é repleto de decepções e ultrajes. Considera, porém, que “a atualidade é a
mesma em todas as datas”. Sérgio, então, faz uma breve retomada de seus tempos antes de ingressar no
Ateneu: havia frequentado um externato por alguns meses e teve um professor particular em domicílio.
Neste ponto, Sérgio começa a contar a história de seus dois anos no Ateneu, o grande colégio da
época, para onde seus pais e famílias ricas levavam os seus filhos. O narrador descreve, em tom grosseiro,
a figura do direto e dono da escola, o Dr. Aristarco Argolo de Ramos, ressaltando a vaidade dele. Antes de
iniciar as aulas, Sérgio visita o colégio duas vezes. A primeira é em uma festa de encerramento dos
trabalhos. A segunda ocorre em um dia de festa de educação física. A austeridade militar e o culto a
imagem de Aristarco são as impressões mais fortes desse primeiro contato.
Em entrevista para a matrícula, Sérgio vai à casa de Aristarco. Recebe as primeiras
recomendações, entre elas, a de que deve cortar os cabelos compridos. Conhece D. Ema, a mulher do
diretor, que lhe chama a atenção pela formosura. Começam as aulas, na despedida do pai, Sérgio tem
vontade de chorar, mas contém as lágrimas. Na hora do banho coletivo, que acontece em um tipo de
tanque, Sérgio é puxado para dentro d’água e quase se afoga. É salvo por Sanches. Depois, suspeita que o
próprio Sanches havia armado o truque para fazer o papel de salvador.

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Porém, auxiliado por este nos estudos, Sérgio aproxima-se do novo colega. Até que a insinuação
de uma relação mais íntima surpreende o narrador. A partir daí, o convívio entre os dois esfria e, com o
rompimento definitivo, Sanches passa a prejudicar Sérgio.
Com notas ruins e sozinho, o narrador procura refúgio na religião – torna-se devoto de Santa
Rosália. Aos poucos, estreita relacionamento com Franco, que compartilhava características em comum:
notas baixas, nenhum amigo e alvo de chacotas. Em uma das folgas de fim de semana, Sérgio conta ao pai
sobre seu rendimento e suas dificuldades. Volta ao Ateneu renovado e mais confiante, não respondendo
as provocações de Barbalho e Sanches.
Um dia acontece um crime no colégio: Bento Alves, um jovem estudante, domina o assassino, o
jardineiro que havia esfaqueado um criado na casa de Aristarco. O motivo seria Ângela, uma camareira
que estaria se envolvendo com os dois pretendentes. Sérgio admira o jeito de Bento Alves. Este, por sua
vez, transforma-se em seu novo protetor. Os dois estreitam a amizade e o amigo chega a presentear o
narrador com flores. Instigado por Barbalho, Malheiro briga com Bento Alves no jardim do colégio.
Na volta as aulas, após as férias, Sérgio sai á tapa com Rômulo, um estudante querido por
Aristarco. O próprio diretor se envolve na discussão e acaba agredido. Sérgio espera um castigo exemplar
que poderia culminar com a sua expulsão. Para a sua surpresa, porém, passam-se os dias e não houve
nenhuma discriminação. Como ninguém testemunhou a briga, selou-se um pacto de silêncio entre os
dois. Pouco depois, nasce a amizade com Egbert, que a Sérgio parece ser verdadeira. Mas durou pouco.
Por conta das notas boas, os dois são convidados para jantar na casa do Diretor, porém, Sérgio somente
tem olhos para D. Ema, que por sua vez, lhe repassa um caminho materno.
Outra morte abate-se sobre o Ateneu. Franco enfrenta vários dias de febre, agravada de propósito
como vingança por tudo o que ele tem de suportar no colégio. O médico diagnostica como uma febre
qualquer. Todavia, Franco amanhece morto em um domingo inicialmente alegre. Para desviar o luto,
Aristarco organiza uma solenidade bienal de distribuição de prêmios, com o anfiteatro cheio e com a
presença da Princesa Imperial, além de pessoas ilustres.
Sérgio contrai sarampo. Recebe os cuidados na casa de Aristarco, sob observação de D. Ema. O
aconchego de mãe faz o rapaz sentir-se melhor. Ao término do ano letivo, os alunos cotizaram-se e
mandaram erigir um busto em bronze do diretor que, orgulhoso, primeiramente se sente lisonjeado com a
homenagem e, posteriormente, em insensata competição com a estátua. "O Ateneu" termina com o fim da
própria instituição, consumida por um incêndio que acreditam ser criminoso, causado por um aluno
recém-admitido, Américo, que ali estava forçado pelo pai. Aristarco viu seu patrimônio ser dilapidado
pelas chamas, enquanto Sérgio, que por dias e dias estava na casa do diretor sob os cuidados de D. Ema,
que demonstrou ter imenso amor maternal pelo jovem, acompanhava a derrota final do impassível
diretor.
INTEPRETAÇÃO DO TEXTO I
1. Explique, em suas palavras, de que assunto o TEXTO 02 e o TEXTO 03 trata, mostrando
exemplos da temática abordada.
2. No trecho “O romance é um diário de um internato: as aulas, a sala de estudos, a
diversão nos banhos de piscina, as leituras, o recreio, o que acontecia nos dormitórios, no
refeitório e as disputas. O mundo da escola é sempre visto e retratado a partir da
perspectiva particular de Sérgio”, retrata aspectos da nossa vida escolar atual. Em que
ponto a narrativa se assemelha a nossa realidade? Explique a sua opinião.
3. Por que o personagem principal de 'O Ateneu', o menino Sérgio, é considerado um
narrador-protagonista?
4. Em relação à obra O Ateneu com a vida real, existe relação de dependência entre os
alunos? Explique com suas próprias palavras.
5. Quais são os acontecimentos, no TEXTO 03, que mostravam o colégio Ateneu como um
lugar violento?
6. A obra O Ateneu foi escrita por ser exemplo de um acontecimento na história ligado à
vida do autor. Do que se trata? Que instituição social a narrativa criticava? Justifique a sua
resposta.
8. O livro O Ateneu enquadra-se em qual escola literária propriamente dita? Justifique a sua
resposta.
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O introdutor da tendência Naturalista no Brasil: Aluísio Azevedo
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857-
1913) foi um romancista, cronista, contista,
diplomata, jornalista, desenhista e pintor
brasileiro.
Estudou na Academia Imperial das Artes no Rio,
para onde foi em 1876. Pouco depois, teve de
retornar para São Luís, lugar que inicia a
atividade literária. Publica O Mulato em 1881,
dando lhe notoriedade nas letras e perseguição
política naquela província. Decide deixar o
Maranhão, retornando para o Rio de Janeiro.
Duas curiosidades: Sobreviveu à custas de ser
escritor, publicando duas séries de narrativas
distintas, a Realista-Naturalista (onde se
esmerava e lhe deu sobrevivência literária) e a
Romântica-Folhetinesca, em livros que atendiam
ao público comum dos jornais, mas sem
densidade estética e qualidade sofrível.
Aluísio deixou de produzir romances em 1895,
quando, por concurso, tomou posse de cargo
diplomático, morando em vários países. Morreu
com 55 anos de idade, na Argentina, onde era,
até esse momento, embaixador. Principais
Obras: O Mulato (1881), O Cortiço (1890), Casa
de Pensão (1894).
Sem entrar nos detalhes da concepção da trama – o que, pensamos, apareceram ao longo da
análise – podemos argumentar que Raimundo, o personagem principal de O Mulato, é completamente
inconsciente de seu caráter étnico. O próprio leitor desconfia se ele é ou não um mulato no sentido
restrito do termo. Decorre daí que suas ações não preveem a lógica do preconceito racial. Viajando a
velha fazenda da família, investigando a identidade e o paradeiro da mãe, tentando entender a confusa
e trágica história de suas origens, Raimundo empreende uma jornada que vai muita além das terras de
seu falecido pai e seus casos extraconjugais. Raimundo penetra nas complicadas tramas de uma
sociedade que tudo faz para esconder a sua realidade. E a realidade uma vez conhecida nem sempre
pode ser facilmente compreendida.
A busca que Raimundo empreende por suas origens é uma busca para saber quem era, é,
enfim, a busca de um mulato, filho de homem branco português com mulher negra brasileira, por sua
ontologia étnica e por seu lugar na sociedade, busca inconsciente de uma grande massa de mulatos
brasileiros da segunda metade do século XIX por sua razão de ser.
Em O Mulato, Raimundo é doutor e tem posses, qualidades de branco. A princípio parece
estar habilitado a acessar de maneira sólida o mundo dos brancos, pois se casando com Ana Rosa
consolidaria o seu lugar na família e estaria definido o seu lugar nas classes. Mas o fato de ser mulato é
obstáculo instransponível para a realização. A questão abolicionista era tema palpitante na corte do
Rio, mas no Maranhão mantinha-se, ainda naquela época, como uma das províncias mais escravistas
do Brasil. A pesar da obra ser considerada do movimento Realista-Naturalista, é impossível não
perceber traços do Romantismo, uma vez que o enredo se desenrola numa atmosfera de mistério que
termina em uma trágica história de amor.
TEXTO 02 - ENREDO DE “O MULATO”:
Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo viajava órfão de pai, um ex-comerciante
português, e afastado da mãe, Domingas, uma ex-escrava do pai. Depois de anos na Europa, Raimundo
volta formado para o Brasil. Passa um ano no Rio e decide regressar a São Luís para rever seu tutor e
tio, Manuel Pescada. Bem recebido pela família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua
prima Ana Rosa que, em dado momento, lhe declara seu amor.
Todos três conheciam as origens étnicas de Raimundo. E o Cônego Diogo era o mais
empenhado em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai do jovem. Foi
assim: depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da Silva, casou-se com Quitéria Inocência de
Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção particular que José Pedro dedicava ao
pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as
partes genitais.

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Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à
fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto.
Invadindo-o, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo em pleno adultério.
Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo Diogo como testemunha. Graças à culpa
do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais
essa desgraça, José Pedro abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece. Algum tempo
depois, já restabelecido, José Pedro resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é tocaiado e
morto.
Em São Luís, já adulto, sua preocupação básica é a de desvendar suas origens e, por isso,
insiste com o tio em visitar a fazenda onde nascera. Raimundo começa a descobrir os primeiros dados
sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de Ana Rosa. Depois de várias
recusas, Raimundo fica sabendo que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele. De volta a São
Luís, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta a Ana Rosa seu
amor, mas acaba não viajando.
Apesar das proibições, Ana Rosa e ele concertam um plano de fuga. No entanto, a carta
principal fora interceptada por um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel
Pescada e forte pretendente, sempre rejeitada à mão de Ana Rosa. Na hora da fuga, os namorados são
surpreendidos. Arma-se o escândalo, do qual o cônego é o grande regente. Raimundo retira-se
desolado e, ao abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o
Cônego Diogo, o caixeiro Dias assassina o rival.
Ana Rosa aborta.
Entretanto, seis anos depois, vemo-la saindo de uma recepção oficial, de braço com o Sr. Dias
e preocupada com os "três filhinhos que ficaram em casa, a dormir".
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O trecho abaixo conta como a influência portuguesa no Maranhão ainda era forte o suficiente
para distinguir pessoas somente levando em conta a nacionalidade, sumariamente.
TEXTO 03
Maria Bárbara tinha grande admiração pelos portugueses, dedicava-lhes um entusiasmo
sem limites, preferia-os em tudo aos brasileiros. Quando a filha foi pedida por Manuel Pedro,
então principiante no comércio da capital, ela dissera: "Bem! Ao menos tenho a certeza de que é
branco!"
Mas o Pescada não compreendeu a esposa, nem foi amado por ela; a virtude, ou talvez
simplesmente a maternidade, apenas conseguiu fazer de Mariana uma companheira fie!; viveu
exclusivamente para a filha. É que a desgraçada, desde os quinze anos, ainda no irresponsável
arrebatamento do primeiro amor, havia eleito já o homem a quem sua alma teria de pertencer por
toda a vida. Esse homem existe hoje na história do Maranhão, era o agitador José Candido de
Moraes e Silva conhecido popularmente pelo "Farol". Fez todo o possível para casar com ele, mas
foram baldados os seus esforços, nem só em virtude das perseguições políticas que, tão cedo,
atribularam a curta existência daquela fenomenal criatura, como também pela inflexível oposição
que tal ideia encontrou na própria família da rapariga.
Entretanto, o destino dela se havia prendido à sorte do desventurado maranhense. Quem
diria que aquela pobre moça, nascida e criada nos sertões do Norte, sentiria, como qualquer filha
das grandes capitais, a mágica influência que os homens superiores exercem sobre o espírito
feminino? Amou-o, sem saber por que. Sentira-lhe a força dominadora do olhar, os ímpetos
revolucionários do seu caráter americano, o heroísmo patriótico da sua individualidade tão
superior ao meio em que floresceu; decorara-lhe as frases apaixonadas e vibrantes de indignação,
com que ele fulminava os exploradores da sua pátria estremecida e os inimigos da integridade
nacional; e tudo isso, sem que ela soubesse explicar, arrebatou-a para o belo e destemido moço
com todo o ardor do seu primeiro desejo de mulher.
Quando, na Rua dos Remédios, que nesse tempo era ainda um arrabalde, o desditoso
herói, apenas com pouco mais de vinte e cinco anos de idade sucumbiu ao jugo do seu próprio
talento e da sua honra política, oculto, foragido, cheio de miséria, odiado por uns como um
assassino e adorado por outros como um deus, a pobre senhora deixou-se possuir de uma grande
tristeza e foi enfraquecendo e ficando doente. e ficando feia e cada vez mais triste, até morrer
silenciosamente poucos anos depois do seu amado.
(AZEVEDO, Aluísio. O Mulato. São Paulo: Ed. Ática, 1992)

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INTEPRETAÇÃO DO TEXTO II
01. De acordo com o trecho do livro acima, qual destino já se percebia de Ana Rosa que
Maria Bárbara desejava? Justifique sua resposta.

02. A partir do Texto 02, explique porque as pessoas de origens étnicas tão díspares
(tais como os mulatos ou pardos) buscavam entender o sentido de sua existência.
Justifique a sua resposta.

03. O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece de maneira figurada um
retrato do nosso país no século XIX, desta forma, é correto afirmar que:
a) A sociedade escravocrata na segunda metade do século XIX estava em franca
decadência;
b) O regime da Monarquia no Brasil vivia um período de estabilidade política e financeira;
c) No momento de publicação de O Mulato, ainda vivia-se o período romântico no Brasil;
d) Já se vivia, em 1881, o período no qual os escravos já estavam livres;
e) O tema do livro é menor, sem grande importância para uma eventual discussão;
04. Que características do Realismo (ou do Naturalismo) podem ser encontradas no
TEXTO 03?

05. Através do enredo do livro “O Mulato”, diferencie o Realismo do Naturalismo.

06. De acordo com o conteúdo em sala, quais são os três eventos históricos que
ajudaram a formação da escola literária do Realismo-Naturalismo?
a) Proclamação da República, Lei Áurea e o fim da Monarquia.
b) O Iluminismo, a Revolução Francesa e a Independência do Brasil;
c) A queda do Império Romano, a formação dos Estados Europeus e a Revolução
Comercial;
d) O Evolucionismo, o Marxismo e o Positivismo;
e) A negação da Metafísica, a oposição ao Cristianismo e a Maçonaria;

07. De acordo com a leitura do poema acima e da biografia de Aluísio Azevedo,


assinale a alternativa verdadeira.
a) O autor não iniciou o romance de tese do Brasil.
b) O autor viveu da literatura até 1895, quando passa para o emprego diplomático.
c) Aluísio Azevedo foi assassinado pelo amante da mulher.
d) Ele jamais escreveu romances românticos.
e) O romance O Mulato foi baseado na cidade do Rio de Janeiro.
08. Explique, com suas palavras, o que significa o termo romance de tese, justificando a
sua resposta.
09. A seu modo de ver, como a questão trágica da morte de Raimundo e da fuga (e
casamento frustrado com Ana Rosa) poderia ser revertido para a consumação e
felicidade do casal?
10. A partir da leitura e da relação intertextual entre os autores do Realismo-
Naturalismo, o que há de semelhante e de dissonante na comparação das
características estéticas da obra de Eça de Queirós e Aluísio Azevedo? Justifique a
sua resposta.

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O C O R T I Ç O – 1º B I M – OFICINA 02 - Aluísio Azevedo
grande prestígio na Europa. O livro é
composto de 23 capítulos, que relatam a vida
em uma habitação coletiva de pessoas
pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O romance tornou-se peça-chave para o
melhor entendimento do Brasil do século XIX.
Evidentemente, como obra literária, ele não
pode ser entendido como um documento
histórico da época. Mas não há como ignorar
que a ideologia e as relações sociais
representadas de modo fictício em O Cortiço
estavam muito presentes no país.
Mais do que empregar os preceitos do
naturalismo, a obra mostra práticas recorrentes
no Brasil do século XIX. Na situação de
capitalismo incipiente, o explorador vivia muito
próximo ao explorado, daí a estalagem de João
Romão estar junto aos pobres moradores do
cortiço. Ao lado, o burguês Miranda, de projeção
social mais elevada que João Romão, vive em
seu palacete com ares aristocráticos e teme o
TEXTO 01 - Ao ser lançado, em crescimento do cortiço. Por isso pode-se dizer
1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica, que O Cortiço não é somente um romance
chegando a obscurecer escritores do nível de naturalista, mas uma alegoria (representação
Machado de Assis. Isso se deve ao fato de imaginativa) do Brasil.
Aluísio de Azevedo estar mais em sintonia
com a doutrina naturalista, que gozava de

TEXTO 02 – ENREDO DE “O CORTIÇO”

João Romão é um português muito ambicioso que, juntando dinheiro à custa de muito
sacrifício, consegue comprar um estabelecimento comercial no subúrbio da cidade do Rio de
Janeiro. Ao lado de seu estabelecimento mora uma escrava fugida, chamada Bertoleza, que possui
uma quitanda e algumas economias guardadas. Os dois passam a morar juntos e a escrava passa a
trabalhar arduamente para o português que, para agradá-la, falsifica sua carta de alforria. Com as
economias de Bertoleza, João Romão compra um pedaço de terra e aumenta sua propriedade.
Com o esforço do seu trabalho e o da escrava, o português compra mais terras e expande seus
empreendimentos, construindo três casinhas de são alugadas de imediato. Como a procura de
casas para alugar era grande e a ganância do português também, ele vai construindo cada vez
mais cubículos e amontoando aos outros já existentes até formar um vasto cortiço.
Ao lado do cortiço havia um sobrado, no qual fora morar Sr. Miranda, português de classe
elevada, dono de um atacado de fazendas (tecidos), cuja mulher levava uma vida adúltera.
Miranda não gosta do Cortiço ao lado do seu sobrado e nem de João Romão, que era o dono de
tudo aquilo e também de uma pedreira que ficava atrás do terreno do cortiço e lhe dava muito
dinheiro. Nesse imenso cortiço moram pessoas dos mais variados tipos: lavadeiras, vadios,
trabalhadores, benzedeiras, brancos, pretos, mulatos; demonstrando a grande variedade de raças
e gêneros encontrados no país.
Rita Baiana, mulata sensual e dançarina provocante, encanta Jerônimo, um português
casado que tinha muita saudade de sua terra natal até então. Rita vira sua cabeça e ele, já com
hábitos brasileiros e não suportando mais o cheiro de sua mulher, briga com Firmo, companheiro
da Baiana e capoeirista bom de briga. Este abre a barriga do rival com uma navalha. Na confusão,
Firmo foge e Jerônimo é levado para o hospital.
Nesse ínterim, surge um novo cortiço na região, cujos moradores são chamados de
“Cabeça-de-gato” pelos moradores do cortiço de João Romão, que acabaram recebendo o apelido
de “Carapicus”, como forma de revide. Os moradores dos dois cortiços acabaram se tornando
inimigos entre si. Firmo vai morar no “Cabeça-de-gato” e passa a exercer grande influência lá
dentro, tornando-se uma espécie de líder. Quando Jerônimo sai do hospital, ele resolve se vingar,

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armando uma emboscada e matando Firmo a pauladas. Em seguida, Jerônimo foge com Rita
Baiana, abandonando sua mulher.
Revoltados com a morte de seu líder, os moradores do Cabeça-de-gato invadem o cortiço
para se vingarem. No meio da confusão, alguns barracos do cortiço começam a pegar fogo e
colocam fim ao confronto entre os dois grupos rivais. João Romão, dispondo de muitos bens e
dinheiro recebido do seguro contra incêndio que havia feito, reconstrói o cortiço, com feições
muito melhores e mais organizado. Agora, a intenção dele é casar-se com Zulmira, a filha de
Miranda, moça de fina educação. Porém, Bertoleza, depois de ter trabalhado duro e ajudado a
construir tudo o que o português tinha, acabou tornando-se um problema para ele.
Com Bertoleza em casa, o português não poderia casar-se com Zulmira, casamento esse
que já tinha o consentimento do Sr. Miranda. A única solução encontrada por João Romão foi
mandar uma carta para os antigos proprietários da escrava, advertindo-os sobre seu paradeiro. A
polícia, em pouco tempo, aparece na casa do português acompanhada de seus antigos senhores
para levar Bertoleza. Ela, compreendendo o seu destino, comete suicídio cortando o ventre com a
faca que estava limpando peixe para a refeição de João Romão.

TEXTO 03 – TRECHO DO LIVRO


TRECHO 1
“Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de
criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na
faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os
trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda.
Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna, quando o amigo andava ocupado lá por
fora; fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite passava-se para
a porta da venda, e, defronte de um fogareiro de barro, fritava fígado e frigia sardinhas, que
Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de tamancos e sem meias, comprar à praia do
Peixe. E o demônio da mulher ainda encontrava tempo para lavar e consertar, além da sua, a
roupa do seu homem, que esta, valha a verdade, não era tanta.”
COMENTÁRIO
Essa é a descrição dos afazeres da personagem mais explorada por João Romão. Os períodos longos
e enumerativos simbolizam o fastio causado pelo trabalho incessante a que era submetida a escrava e
amante, Bertoleza. É interessante notar que ela estava conformada com a situação, mostrando uma “cara
alegre”, pois pensava erroneamente que já havia deixado sua condição de cativa e dispensável.
TRECHO 2
“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa
de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água
que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já
prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do
pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não
se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e
esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As
portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem
tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças
não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás
da estalagem ou no recanto das hortas.”
COMENTÁRIO
O trecho é singular por mostrar como o livro compara o cortiço a um organismo vivo, um espaço da
natureza. A desordem, a degradação sexual, a promiscuidade são resultados desse meio. O autor realiza esse
intento por meio de linguagem dinâmica, que demonstra a vivacidade do espaço, além da utilização de
verbos referentes a animais para caracterizar homens e mulheres.
(AZEVEDO, Aluísio. O Mulato. São Paulo: Ed. Ática, 1992)
11. De acordo com o TEXTO 01, como foi à recepção literária da obra? Quais são as
principais características formais do livro?
12. A partir do Texto 01, explique como a obra O Cortiço mantém um diálogo com a
realidade atual. As condições sociais do século XIX ainda se repetem nos dias
atuais? Justifique a sua resposta.

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13. O que acontece com João Romão e Bertoleza após o contato inicial dos dois?
a) Se tornam amigos.
b) O contrário, se estabelece uma rixa entre eles.
c) João Romão rouba-lhes as economias.
d) Bertoleza passa a viver em Botafogo.
e) Os dois passam a viver juntos, maritalmente.
14. Bertoleza era escrava de um homem velho e cego que vivia em Juiz de Fora. De
acordo com a leitura da obra, o que acontece?
a) João Romão compra a alforria de Bertoleza do cego de Juiz de Fora.
b) Bertoleza cede sua condição de escrava para ser administrada por João Romão.
c) O homem cego dono de Bertoleza morre e João Romão fica com o dinheiro da alforria
dela.
d) A família do homem cego doa a carta de alforria a João Romão.
e) Ela repassa o dinheiro ao novo marido, João Romão.
15. Que características do Realismo (ou do Naturalismo) podem ser encontradas no
TEXTO 02?
16. Estabeleça um comparativo entre o personagem João Romão, protagonista da
história e Miranda, conterrâneo dele.
17. Assinale a alternativa INCORRETA feita a propósito do romance O Cortiço, de
Aluísio Azevedo:
a) É também uma história de corrupção, centrada na animalização humana estimulada pelo
sexo e pelo dinheiro.
b) O verdadeiro protagonista desse romance é uma comunidade popular explorada em
proveito da burguesia ascendente da época.
c) Observam-se sátiras a alguns tipos predominantes na época: o comerciante rico e
grosseiro, a velha beata e raivosa, o velho relaxado e comilão.
d) O enredo não gira em função de pessoas, havendo muitas descrições precisas onde
cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem o conjunto.
e) Existe uma divisão clara entre a vida dos que venceram, como João Romão, senhor da
pedreira e do cortiço, e a labuta dos humildes que se exaurem na luta pela sobrevivência.
18. Sobre João Romão, no meio da narrativa, vai mudando de postura. Percebe-se que:
a) A inveja do Barão de Freixal e o convívio caótico dos habitantes do cortiço vão enojando-
o, a ponto de refazer o local para “limpar” o cortiço dos desordeiros e do povo
degenerado socialmente.
b) A própria ganância o acondicionou para uma visão mais “paternalista” do cortiço.
c) Ele assume publicamente o casamento com Bertoleza, mesmo com o regime escravista
em oposição.
d) Ele perde condôminos para o Cortiço “Balaio de Gato”, estabelecido logo a frente do seu
empreendimento.
e) Ele perde a postura, pois vai ficando cada vez mais pobre.
19. Estabeleça o que aconteceu com o triangulo amoroso de Firmo/Rita
Baiana/Jerônimo.
20. A partir da leitura do livro e do conteúdo estabelecido, na parte final fica evidenciado:
a) Os parentes do velho cego aparecem para levar Bertoleza, pois a carta de alforria era
falsa. Ela acaba encravando uma faca no peito e se suicida.
b) Após o casamento de João Romão com a filha do Barão do Freixal.
c) O sucesso dos empreendimentos de João Romão, com a avenida construída no antigo
local do cortiço.
d) Bertoleza vai presa por tentar assassinar João Romão e o filho do cego de Juiz de Fora.
e) A cena final é uma metáfora e antítese para a situação de Bertoleza.

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DATA____/___/_____ - SÉRIE: 2º3º Ano - TURMA: _________
PROFESSOR: Claudio Sousa Pereira
DISCIPLINA: Português/Literatura Brasileira e Portuguesa

APOSTILA – PORTUGUÊS – 1ª UNIDADE – 2-3º ANO-E.M.

MACHADO DE ASSIS: O PONTO MAIS ALTO DA LITERATURA BRASILEIRA

Mas quem foi Machado de Assis?

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio


de Janeiro, 21 de Junho de 1839 — 29
de Setembro de 1908) foi um escritor
brasileiro. Filho de um operário
mestiço de negro e português,
Francisco José de Assis, e de D. Maria
Leopoldina, Machado de Assis, viria a
tornar-se o maior escritor do país e
um mestre da língua.
Machado escreveu poemas, contos e
romances, além de crítica literária. O
autor pertenceu ao período estético
final do Romantismo e inaugurou a
estética do Realismo.
De saúde frágil, epilético, gago, sabe-
se pouco de sua infância e início da
juventude.
Criado no morro do Livramento, consta que foi ajudante de missas. Com a
morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se
como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, tornou-se
vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até
provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que,
em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria,
cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Aos 16 anos, publica seu
primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense. Com 17
anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e
começa a escrever durante o tempo livre.
Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com
o jornal Correio Mercantil. Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título
de Crisálidas. Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário
Oficial. Em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de
Novais. Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem
sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento
feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos
portugueses e a vários autores da língua inglesa. Sua união foi feliz, mas sem filhos.
A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido
dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.
Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Em 1881, publica um
livro extremamente original, pouco convencional para o estilo da época: Memórias

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Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de
Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.
Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data
(1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha
(1906). Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no
ano de 1889. Grande amigo de vários intelectuais que se identificaram com a ideia
de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio a apoiou e
compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se
instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua
morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Por sua importância,
a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

TEXTO 02: UM APÓLOGO

Era uma vez uma Agulha, que disse a um Novelo de linha:


— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir
que vale alguma coisa neste mundo?
— Me deixe, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar
insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem
cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se
com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Claro que eu sou!
— Mas por quê?
— É boa! Porque costuro. Quem é que os costura, então, os vestidos e enfeites
de nossa Dama, senão eu?
— Você?! Me faça rir! Você é que os cose? Você ignora que quem os costura
sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, Agulha, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao
outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por
você, Novelo,, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os pelegos vão adiante do Imperador...
— Você é o Imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo
adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é
que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a Costureira chegou à casa da Baronesa. Chegou à
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na
agulha, e entrou a costurar. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano
adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis— para dar a
isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que
esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela,
unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela Agulha era logo
enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir
palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e

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foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura. Caindo o sol, a costureira
dobrou a costura, para o dia seguinte.
Veio à noite do baile, e a Baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a
vestir-se, levava a Agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. A
linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, me diga, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa,
fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e
diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o
balaio das mucamas? Vamos, diga lá!
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não
menor experiência, acabou murmurando à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola! Cansa-te em abrir caminho para ela e é ela que vai
gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro
caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a
cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
In: ASSIS, Machado de. Obra Completa. RJ: Nova Aguilar, 1994.

INTEPRETAÇÃO DO TEXTO III

1. Analise as afirmativas que seguem abaixo sobre o texto extraído do texto acima. O texto
tem o Foco Narrativo em

(a) 1ª pessoa, narrador-observador. (b) 3ª pessoa, narrador-personagem.


(c) 1ª pessoa, narrador-personagem. (d) 3ª pessoa, narrador-onisciente.

2. Durante o diálogo a agulha diz: “... Que a deixe? Que a deixe por quê? Porque lhe digo
que está com ar insuportável: Essa fala revela a inveja da agulha em relação à linha?
Justifique a sua resposta.

3. Em “Um Apólogo” o novelo lança uma lição de moral no final da narrativa?

4. Na discussão entre a linha e a agulha quem acaba se saindo melhor? Por quê?

5. Na vida real, existe relação de dependência entre os profissionais? Explique com suas
próprias palavras.

6. Caracterize as personagens: linha e agulha, no aspecto comportamental e diga em que


elas se parecem com o ser humano?

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OBRAS MACHADIANAS: ROMANCE DOM CASMURRO (1899)

O romance, publicado em 1881, inicia o realismo como estética literária no Brasil.

Narrado em primeira pessoa, seu autor é Brás


Cubas, um "defunto-autor", isto é, um homem que já
morreu e que deseja escrever a sua autobiografia.
Nascido numa típica família da elite carioca do século
XIX, do túmulo o morto escreve suas memórias
póstumas começando com uma "Dedicatória": Ao verme
que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver
dedico com saudosa lembrança estas memórias
póstumas. Seguido da dedicatória, no outro capítulo,
"Ao Leitor", o próprio narrador explica o estilo de seu
livro, enquanto o próximo, "Óbito do Autor", começa
realmente com a narrativa, explicando seus funerais e
em seguida a causa mortis, uma pneumonia contraída
enquanto inventava o "emplastro Brás Cubas", placebo
medicamentoso que foi sua última obsessão e que lhe
"garantiria a glória entre os homens". No Capítulo VII, "O
Delírio", narra o que antecedeu ao óbito.

Aos dezessete anos, Brás Cubas apaixona-se por Marcela, "amiga de rapazes e de
dinheiro", prostituta de luxo, um amor que durou "quinze meses e onze contos de réis", e que
quase acabou com a fortuna da família.
A fim de se esquecer dessa decepção amorosa, o protagonista foi enviado a Coimbra, onde
se formou em Direito, após alguns anos de boêmia desbravada, "fazendo romantismo prático e
liberalismo teórico". Retorna ao Rio de Janeiro por ocasião da morte da mãe. Depois de namorar
inconsequentemente Eugênia, "coxa de nascença", filha de D. Eusébia, amiga pobre da família, o
pai planeja induzi-lo na política através do casamento e encaminha o relacionamento do filho com
Virgília, filha do Conselheiro Dutra, que apadrinharia o futuro genro. Porém Virgília prefere
casar-se com Lobo Neves, também candidato a uma carreira política.
Quando Virgília reaparece, anunciada pelo primo Luís Dutra, reencontra-se com Brás
Cubas e tornam-se amantes, vivendo no adultério a paixão que não tiveram quando noivos.
Virgília engravida, no entanto, a criança morre antes de nascer. Então segue-se o encontro do
protagonista com Quincas Borba, amigo de infância que agora miserável lhe rouba o relógio,
devolvendo-lhe depois. Quincas Borba, filósofo doido, apresenta ao amigo o Humanitismo.
Perseguindo a celebridade ou procurando uma vida menos tediosa, Brás Cubas torna-se
deputado, enquanto Lobo Neves é nomeado presidente de uma província e parte com Virgília
para o Norte, porquanto que termina a relação dos amantes. Sabina arranja uma noiva para Brás
Cubas, a Nhã-Loló, sobrinha de Cotrim, de 19 anos, mas ela morre de febre amarela e Brás Cubas
torna-se definitivamente um solteirão. Tenta ser ministro de estado mas fracassa; funda um
jornal de oposição e fracassa. A última tentativa de glória, portanto, é o "emplasto Brás Cubas",
remédio que curaria todas as doenças; ironicamente, numa de suas saídas à rua para cuidar de
seu projeto, molha-se na chuva e apanha uma pneumonia, da qual vem a falecer, aos 64 anos.
Virgília, acompanhada do filho, vai visitá-lo na cama e, após longo delírio, morre assistido por

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alguns familiares. Depois de morto, começa a contar, de trás para frente, a história de sua vida e
escreve assim as últimas linhas do capítulo derradeiro:
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade
do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento.
Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar
o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem
a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer
pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que
saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste
capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria.”

INTEPRETAÇÃO DO TEXTO III


ÓBITO DO AUTOR
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é,
se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja
começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para
quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.
Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava
- uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de
minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a
natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm
honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as
mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado".
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978.
P. 15). Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso, gracioso.

INTEPRETAÇÃO DO TEXTO IV
1. Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.
2. Explicite um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.
3. Em que pessoa é narrado o texto?
4. Quem é o narrador?
5. Ao dizer “Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com
que se pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da
amizade e das relações interpessoais. Que atitude é essa?
6. Qual a diferença que se pode estabelecer entre “autor defunto” e “defunto autor”?
7. Como se caracteriza o personagem principal?
8. Que rompimento evidente fica exposto em relação ao Romantismo, período literário
anterior?

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OBRAS MACHADIANAS: ROMANCE DOM CASMURRO (1899)

DOM CASMURRO
Uma das histórias mais completas da Literatura
Brasileira foi escrita por Machado de Assis. Chama-
se Dom Casmurro, publicado em 1899, em livro.
Bento era filho de D. Glória, uma mulher
bondosa. Vivia em sua casa em Matacavalos. Dona
Glória, que havia perdido o primeiro filho, fez uma
promessa a Deus, que se lhe concedesse um filho
vivo esse iria para o seminário quando fosse o tempo
e se tornaria padre. Nasceu Bento. Quando ele tinha
seus quinze anos foi lembrada a sua mãe a
promessa que fizera e que já era tempo de cumpri-la.
Bento, sabendo da sua partida próxima para
o seminário, foi ter com sua amiga, Capitu. Os dois
eram amigos de infância e dessa amizade nasceu
um amor. Ele lhe contou sobre a promessa e os dois
desde já começaram a lutar buscando formas de
evitar a separação que viria. Decidiram então pedir
que José Dias lutasse por eles. Mais tarde então
juraram um ao outro que se casariam.

O novo ano chegou e Bento foi para o seminário. Lá fez um amigo, Escobar, foi o único com
quem cogitou contar a jura feita à Capitu, mas essa não lhe permitiu. Sempre aos sábados ele retornava
a sua casa onde revia seus familiares e Capitu. D. Glória e Capitu se aproximavam e isso alegrava Bento
que via a aprovação de sua mãe. Escobar logo passou a frequentar a casa dele e toda a família aprovou.
Era agora amigo de Capitu também. Sendo assim, estando os dois no seminário trocaram segredos,
Bento lhe contou sobre o seu juramento e Escobar lhe contou que também não seria padre, amava o
comércio.
Em uma das visitas, Bentinho teve por Capitu uma crise de ciúme acreditando que ela lhe traia
apenas por olhar com um rapaz que passava na rua. Capitu lhe disse que por mais uma lhe rompia o
juramento.
A essa altura D. Glória queria que Bento voltasse. Muitos planos para o abandono da promessa
vieram, por fim ela tomou um órfão e esse foi encaminhado ao seminário, Bentinho aos vinte e dois
anos era bacharel em Direito. Como tinha a aprovação da mãe casou-se com Capitu e foram pra Tijuca.
Escobar havia casado com outra mulher, uma grande amiga de Capitu, sendo assim se alternavam
entre jantares na Tijuca e no Flamengo. Algum tempo depois, Escobar morre, e durante seu velório,
Bentinho notou em Capitu um sentimento diferente embora ela não tenha chorado, a viúva de Escobar
partiu para o Paraná.
Ezequiel ia crescendo e nele se via Escobar rapaz. Bento via no filho o jeito de andar, rir,
conversar, comer do amigo morto. Bento se mantinha longe e recluso; Ezequiel acabou indo para um
colégio interno. Bento já atordoado resolve suicidar, tentou, mas abandonou o plano. Por fim foram
para Europa de onde apenas ele regressou, vivia então só, e às vezes viajava até a Europa apenas como
disfarce ao povo que lhe perguntava sobre a mulher e o filho, quando ia lá não os procurava. Capitu
havia morrido e estava enterrada na Suíça. Ver Ezequiel era ver Escobar, no jeito de rir, comer, falar,
andar, em tudo.
Mesmo assim Bento fez o papel de pai, financiou lhe uma viagem à Grécia, Egito e Palestina,
pois Ezequiel amava a arqueologia. Por fim, Ezequiel, suposto filho de Bento, morreu de febre tifoide,
sendo enterrado em Jerusalém. Dom Casmurro apenas conclui que sua maior amiga e seu melhor
amigo foram unidos pelo destino e que na visão dele, foi enganado.
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. SP: Editora Ática, 1999).

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INTEPRETAÇÃO DO TEXTO V

1. No texto acima, chamado de resumo, traz o enredo do romance Dom Casmurro, uma
das obras clássicas da Literatura Brasileira. Em que ano esse livro foi publicado?

2. A partir da leitura do texto, Cite os três personagens principais da narrativa.

3. Qual era o desejo da mãe de Bentinho? Ele conseguiu seguir à risca o desejo da
mãe? Por quê?

4. Retire do texto uma pista que mostre que o personagem Bentinho (O Dom
Casmurro) não está feliz. Transcreva e explique o porquê da escolha.

5. De acordo com as aulas e o conhecimento da obra Dom Casmurro, esta foi escrita
em que pessoa do discurso?

6. Por que, em sua opinião, se deu o inusitado – e triste – desfecho dessa história?

7. De acordo com a biografia de Machado de Assis, assinale a alternativa


INCORRETA:
a) Machado de Assis nasceu em 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro;
b) O autor escreveu poemas, contos e crônicas, além de produzir romances;
c) Machado de Assis foi o fundador e presidente perpétuo da Academia Brasileira de Letras
(ABL);
d) Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1881;
e) Machado de Assis inaugurou a estética Naturalista no Brasil, com o livro Memórias Póstumas
de Brás Cubas;
8. De acordo com o texto transcrito abaixo:
“Dona Glória, que havia perdido o primeiro filho, fez uma promessa a
Deus, que se lhe concedesse um filho vivo esse iria para o seminário
quando fosse o tempo e se tornaria padre. Nasceu Bento. Quando
ele tinha seus quinze anos foi lembrada a sua mãe a promessa que
fizera e que já era tempo de cumpri-la.”
Você deve ter notado que no trecho acima está escrito em:
a) Narrador em 1ª Pessoa (tudo sabe)
b) Narrador em 1ª Pessoa (onisciente)
c) Narrador em 1ª Pessoa (participa da história)
d) Narrador em 3ª Pessoa (participa da história)
e) Narrador em 3ª Pessoa (onisciente)
9. Associe os gêneros literários às suas respectivas características.
a. 1 – ESPAÇO – Lugar onde se desenrola a história;
b. 2 – TEMPO – Pode ser cronológico ou psicológico;
c. 3 – CONFLITO – Os motivos que desencadeiam a história;
( ) Bentinho notou em Capitu um sentimento diferente embora ela não tenha chorado .
( ) D. Glória, uma mulher bondosa. Vivia em sua casa em Matacavalos .
( ) Ezequiel ia crescendo e nele se via Escobar rapaz, via no filho o jeito de andar, rir do amigo
morto.
A sequência correta, de cima para baixo, é
a) 3 – 2 – 1 b) 2 – 3 – 1 c) 3 – 1 – 2 d) 1 – 3 – 2 e) 1 – 2 – 3

10. O Clímax da narrativa biográfica lida dá-se em:


a) Bentinho, sabendo da sua partida próxima para o seminário, foi ter com sua amiga, Capitu.
Os dois eram amigos de infância e dessa amizade nasceu um amor.

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b) Bentinho teve por Capitu uma crise de ciúme acreditando que ela lhe traia apenas por olhar
com um rapaz que passava na rua.
c) Mais tarde então juraram um ao outro que se casariam.
d) Bento já atordoado resolve suicidar, tentou, mas abandonou o plano.
11. No entendimento do texto, é possível estabelecer que:
I. Houve a traição de Capitu com Escobar.
II. O discurso da narrativa é direto, comprovado pela ausência de
travessões.
III. Escobar é o Antagonista da História.
IV. Não é possível saber se Ezequiel é filho ou não de Bentinho.

De acordo com o TEXTO, as proposições corretas são?


(a) I, II e IV; (b) II, III e IV; c) Todas as proposições; (d) I, III e IV.
12. Leia trecho abaixo:
“Mesmo assim Bento fez o papel de pai, financiou lhe uma viagem à
Grécia, Egito e Palestina, pois Ezequiel amava a arqueologia”
13. O Enunciado que possibilita a interpretação incorreta do trecho acima é:
a. Para o personagem, era importante satisfazer a necessidade do filho.
b. O trecho sugere uma bondade de Bento, ainda que a contragosto.
c. A intenção de Bentinho era de matar o filho na Europa.
d. A morte do filho Ezequiel em Jerusalém mostrou para Bento que o destino conspirava
contra ele.
e. “Fez o papel de pai”, quer dizer que o filho não é de Bento.

TEXTO 02: A CATÁSTROFE


No melhor deles, ouvi passos precipitados na escada, a campainha soou, soaram
palmas, golpes na cancela, vozes, acudiram todos, acudi eu mesmo. Era um escravo da casa
de Sancha que me chamava
--Para ir lá... sinhô nadando, sinhô morrendo.
Não disse mais nada, ou eu não lhe ouvi o resto. Vesti-me, deixei recado a Capitu e
corri ao Flamengo. Em caminho, fui adivinhando a verdade. Escobar meteu-se a na dar,
como usava fazer, arriscou-se um pouco mais fora que de costume, apesar do mar bravio, foi
enrolado e morreu. As canoas que acudiram mal puderam trazer-lhe o cadáver.
O ENTERRO: A Viúva... Poupo-vos as lágrimas da viúva, as minhas, as da outra
gente. Saí de lá cerca de onze horas; Capitu e prima Justina esperavam-me, uma com o
parecer abatido e estúpido, outra enfastiada apenas.
--Vão fazer companhia à pobre Sancha; eu vou cuidar do enterro.
Assim fizemos. Quis que o enterro fosse pomposo, e a afluência dos amigos foi numerosa.
Praia, ruas, Praça da Glória, tudo eram carros, muitos deles particulares. A casa não sendo
grande, não podiam lá caber todos, muitos estavam na praia, falando do desastre, apontando
o lugar em que Escobar falecera, ouvindo referir à chegada do morto. Elogiavam as
qualidades de Escobar, um ou outro discutia o recente gabinete Rio Branco estávamos em
março de 1871. Nunca me esqueci do mês nem o ano.
Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as
em casa a José Dias, que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel,
recitou lentamente o discurso, pesando as palavras, e confirmou a primeira opinião; no
Flamengo espalhou a notícia. Alguns conhecidos vieram interrogar-me:
--Então, vamos ouvi-lo?
--Quatro palavras.
Poucas mais seriam. Tinha-as escrito com receio de que a emoção me impedisse de
improvisar. No tílburi em que andei uma ou duas horas, não fizera mais que recordar o
tempo do seminário, as relações de Escobar, as nossas simpatias, a nossa amizade, começada,
continuada e nunca interrompida, até que um lance da fortuna fez separar para sempre duas

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criaturas que prometiam ficar por muito tempo unidas. De quando em quando enxugava os
olhos. O cocheiro aventurou duas ou três perguntas sobre a minha situação moral; não me
arrancando nada, continuou o seu ofício.
Chegando a casa, deitei aquelas emoções ao papel; tal seria o discurso.
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do
marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também,
as mulheres todas.
Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra,
queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes
para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas
lágrimas poucas e caladas...
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando
a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas
o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram
o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como
a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador Escobar da manhã...
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. SP: Editora Ática, 1999).

INTEPRETAÇÃO DO TEXTO - VI
1. No texto acima, traz no enredo do romance Dom Casmurro, mostra o falecimento de
Escobar, assim como seu enterro e a tomada definitiva de desconfiança por parte de
Bentinho a atitude de Capitu. Em que ano, na memória de Bentinho, se deu o fato?

2. Segundo o texto, como se deu a morte de Escobar?

3. Descreva como foi o comportamento de Capitu no treco citado. Desta forma, você
considera a atitude de Capitu suspeita? Justifique a sua resposta

4. Retire do texto uma pista que mostre que o personagem Bentinho (O Dom Casmurro)
ficou transtornado com a atitude de Capitu no enterro. Transcreva e explique essa
passagem.

5. Descreva como o Dom Casmurro descrevia a figura pessoal de Escobar.

6. Conceitue, com suas próprias palavras, o que é Descrição. Justifique a sua resposta.

7. De acordo com o perfil do personagem Bentinho, da narrativa de Machado de Assis,


assinale a alternativa INCORRETA:

a) Bentinho era filho de Pedro de Albuquerque Santiago, seu falecido pai;


b) O seu apelido Dom Casmurro se deve a sua personalidade difícil e teimosa;
c) O agregado da família, José Dias, queria muito que ele se tornasse padre;
d) Bentinho era filho de Dona Fortunata;
e) Ele ficou viúvo e ainda desamparado pela perda do filho;

8. Descreva o perfil de Capitu na narrativa. Explique o porquê desse personagem ter


ganho um tom pejorativo no decorrer da história.

TRECHOS ESCOLHIDOS DE “DOM CASMURRO”


CAPÍTULO CXXXVI – O CAFÉ

O copeiro trouxe o café. Ergui-me, guardei o livro, e fui para a mesa onde ficara a
xícara. Já a casa estava em rumores; era tempo de acabar comigo. A mão tremeu-me ao abrir
o papel em que trazia a droga embrulhada. Ainda assim tive animo de despejar a substancia
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na xícara, e comecei a mexer o café, os olhos vagos... Mas a fotografia de Escobar deu-me o
animo que me ia faltando; lá estava ele, com a mão nas costas da cadeira, a olhar ao longe...
"Acabemos com isto", pensei. Quando ia a beber, cogitei se não seria melhor esperar que
Capitu e o filho saíssem para a missa; beberia depois; era melhor. Assim disposto, entrei a
passear no gabinete. Ouvi a voz de Ezequiel no corredor, vi-o entrar e correr a mim
bradando:
— Papai! papai!
Leitor, houve aqui um gesto que eu não descrevo por havê-lo inteiramente esquecido,
mas crê que foi belo e trágico. Efetivamente, a figura do pequeno fez-me recuar até dar de
costas na estante. Ezequiel abraçou-me os joelhos, esticou-se na ponta dos pés, como que
rendo subir e dar-me o beijo do costume; e repetia, puxando-me:
— Papai! papai!
__________________________________________________________________________
CAPÍTULO CXXXVII – SEGUNDO IMPULSO

Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesse aqui escrevendo este
livro, porque o meu primeiro ímpeto foi correr ao café e bebê-lo. Cheguei a pegar na xícara,
mas o pequeno beijava-me a mão, como de costume, e a vista dele, como o gesto, deu-me
outro impulso que me custa dizer aqui;- mas vá lá, diga-se tudo. Chamem-me embora
assassino; não serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso.
Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.
—Já, papai; vou à missa com mamãe.
—Toma outra xícara, meia xícara só.
—E papai?
— Eu mando vir mais; anda, bebe!
Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara, tão trêmulo que quase a entornei, mas
disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o sabor lhe repugnasse, ou a temperatura,
porque o café estava frio... Mas não sei que senti que me fez recuar. Pus a xícara em cima da
mesa, e dei por mim a beijar doidamente a cabeça do menino.
—Papai! papai! exclamava Ezequiel.
—Não, não, eu não sou teu pai!
___________________________________________________________________________
CAPÍTULO CXXXVIII / CAPITU QUE ENTRA

Quando levantei a cabeça, dei com a figura de Capitu diante de mim. E Capitu não
saía sem falar-me. Era já um falar seco e breve; a maior parte das vezes, eu nem olhava para
ela. Ela olhava sempre, esperando. Desta vez, ao dar com ela, não sei se era dos meus olhos,
mas Capitu pareceu-me lívida. Seguiu-se nas grandes crises. Capitu recompôs-se; disse ao
filho que se fosse embora, e pediu-me que lhe explicasse...
—Não há que explicar, disse eu.
—Há tudo, não entendo as tuas lágrimas nem as de Ezequiel. Que houve entre vocês?
—Não ouviu o que lhe disse?
Capitu respondeu que ouvira choro e rumor de palavras. Eu creio que ouvira tudo
claramente mas confessá-lo seria perder a esperança do silêncio e da reconciliação por isso
negou a audiência e confirmou unicamente a vista. Sem lhe contar o episódio do café, repeti-
lhe as palavras:
—O quê? perguntou ela como se ouvira mal.
—Que não é meu filho.
Grande foi à decepção de Capitu, e não menor a indignação que lhe sucedeu, tão
naturais ambas que fariam duvidar as primeiras testemunhas de vista do nosso foro. Assim
que, sem atender à linguagem de Capitu, aos seus gestos, à dor que a retorcia, a cousa
nenhuma, repeti as palavras ditas duas vezes com tal resolução que a fizeram afrouxar. Após
alguns instantes, disse-me ela:

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—Só se pode explicar tal injúria pela convicção sincera; entretanto você que era tão
cioso dos menores gestos, nunca revelou a menor sombra de desconfiança. Que é que lhe
deu tal ideia?
Diga, — continuou vendo que eu não respondia nada — diga tudo; depois do que
ouvi, posso ouvir o resto, não pode ser muito. Que é que lhe deu agora tal convicção? Ande,
Bentinho, fale! fale! Despeça-me daqui, mas diga tudo primeiro.
—Há cousas que não se dizem.
—Que se não dizem só metade; mas já que disse metade, diga tudo.
Tinha-se sentado numa cadeira ao pé da mesa. Podia estar um tanto confusa, o porte
não era de acusada. Pedi-lhe ainda uma vez que não teimasse.
—Não, Bentinho, ou conte o resto, para que eu me defenda, se você acha que tenho
defesa, ou escolhe desde já a nossa separação: não posso mais!
—A separação é coisa decidida, respondi pegando-lhe na proposta. Era melhor que a
fizéssemos por meias palavras ou em silêncio; cada um iria com a sua ferida. Uma vez,
porém, que a senhora insiste, aqui vai o que lhe posso dizer, e é tudo. Não disse tudo; mas
pude aludir aos amores de Escobar sem preferir-lhe o nome. Capitu não pôde deixar de rir,
de um riso que eu sinto não poder transcrever aqui; depois, em um tom juntamente irônico e
melancólico:
— Pois até os defuntos! Nem os mortos escapam aos seus ciúmes!
In: ASSIS, Machado de. Obra Completa. RJ: Nova Aguilar, 1994. Adaptado.

INTEPRETAÇÃO DO TEXTO - VII


1. De acordo com o texto e a obra de Machado de Assis, Dom Casmurro, no geral, o
Capítulo CXXXVI demonstra o início de certa desconfiança e desconforto de Bentinho com
relação ao filho, Ezequiel. Mostre exemplos, nesse capítulo, indícios disto.

2. No capítulo CXXXVII (SEGUNDO IMPULSO) é possível estabelecer que

I. Na expressão de Narrador-Personagem “Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que


não estivesse aqui escrevendo este livro”, o motivo de todo ciclo narrativo do romance foi a
desconfiança.
II. O discurso da narrativa é indireto, comprovado pela ausência de travessões.
III. Percebe-se uma nítida expressão um tanto que grosseira do pai para com o filho.
IV. Neste capítulo ocorre a primeira demonstração de desconfiança de Bentinho com Capitu.

De acordo com o TEXTO 02, as proposições corretas são?


(a) I, II e IV; (b) II e IV; c) Todas as proposições; (d) I e III.

3. De acordo com o capítulo CXXXVIII (CAPITU QUE ENTRA), marque verdadeiro (V) ou
Falso (F), os termos apresentados abaixo:
(1) ( ) Capitu fica indignada com as atitudes de Dom Casmurro com o suposto filho;
(2) ( ) Ocorre um longo bate-boca entre o casal;
(3) ( ) Capitu pede a separação, sendo que Dom Casmurro não aceita o pedido;
(4) ( ) Bentinho está convencido de que a Capitu traiu a ele.

As sequências de respostas a partir de 1 até 4 são:


(a)- V-F-V-F (b)-F-V-V-F (c)- V-V-V-V (d)- V-V-F-V

4. No momento dessa discussão entre Bentinho e Capitu, assim como a constatação da


desconfiança dele, o que havia acontecido com Escobar? Justifique a sua resposta.

5. Discorra, com as suas próprias palavras qual é o enredo principal do romance Dom
Casmurro, de Machado de Assis.

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