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revista criminalística
e medicina legal
revista criminalística e medicina legal
v.1 | n.1 | 2016 | p. 34-45
Abstract
Cocaine is the main alkaloid found in the leaves of the Erytroxylum coca plant. Cocaine use reports are ancient
and still permeate some western cultures, but recreational use has spread throughout the world. Several studies
demonstrate that the abuse of drugs is a serious public health problem, since it can lead to cardiovascular and cen-
tral nervous system changes in users. Forensic science is a tool of Forensics that deals with the use of knowledge
and science technology in compliance with social laws. Therefore it is of the utmost importance that a Forensic
Investigator have full knowledge of the analytical methods available for the identification of cocaine, given that this
drug represents a large portion of the entire amount seized by the police. This article presents a brief review of the
toxicological aspects arising from the use of cocaine as well as the main analytical techniques for the identification
of drugs according to international recommendations, aimed at harmonization of the procedures adopted by Foren-
sic Investigators, thus, avoiding quality differences in toxicology reports performed by different institutions.
*sordaini@gmail.com
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Apesar de o cultivo do vegetal E. coca ser permitido em Vale ressaltar que o cloridrato de cocaína é comumente
alguns países da América do Sul, como Bolívia, Colômbia e Peru, adulterado com substâncias farmacologicamente ativas como
o refino é proibido em qualquer parte do mundo. Para obter os cafeína, lidocaína, benzocaína, procaína, levamisol, fenacetina,
produtos refinados da droga, como o cloridrato de cocaína e o diltiazem e diluída com pós inertes como açúcar, carbonato de
crack, os traficantes utilizam diversos produtos químicos, que sódio, silicatos, sulfatos, cal e amido, diminuindo a pureza da
são mais facilmente encontrados no Brasil, devido ao destaque droga. Em estudo realizado em Minas Gerais, Brasil, os teores
da indústria química brasileira no cenário mundial. de cocaína nas amostras apreendidas pela Polícia Civil variaram
No processo de refino da cocaína, as folhas da E. coca de 6,4 a 75,3%, sendo a cafeína e a lidocaína os principais adul-
são maceradas e extraídas com solventes orgânicos (ex.: gaso- terantes encontrados 8.
lina e querosene), sendo adicionadas substâncias ácidas (ex.: O nome coca deriva de uma palavra aimará, “khoka”,
ácido sulfúrico) e básicas (ex.: óxido de cálcio e carbonato de cujo significado seria “a árvore” 9. Este vegetal cresce na forma
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de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia de toxicidade, tolerância, dependência química e morte pelo uso
Amazônica 10 sendo cultivado em clima tropical e altitudes que passaram a ser relatadas e ainda agravadas, no início dos anos
variam entre 450 e 1.800 metros acima do nível do mar e, ainda, 1.920, quando surgiram comercialmente as seringas hipodérmi-
continua sendo usado pelos nativos da região que mascam sua cas, facilitando a administração de uma maior quantidade de co-
folha. No norte do Brasil, também é chamada de epadu e muitas caína pela via endovenosa 19.
tribos da Bacia Amazônica, na região fronteiriça entre Venezue- Há registro do uso restrito de cocaína nas décadas de
la, Colômbia e Brasil, mantêm o hábito de mascar o “epadu” ou 1.930 a 1.960 nos EUA, porém esse uso mudou à medida que
“ipadu” 11,12. Indígenas andinos reconheciam suas propriedades a droga começou a estar disponível no mercado, por meio do
tônicas e utilizavam-nas para suportar os esforços físicos e a fa- incremento do narcotráfico internacional, a partir da América do
diga 13,14. Como a coca possuía um caráter místico para os índios, Sul 13,14. No fim do mesmo século começaram a aparecer os sin-
os espanhóis proibiram seu consumo para converter os mesmos tomas psicóticos e maléficos da droga. Em 1.980, pelo menos
ao cristianismo. 400 casos de danos físicos e psíquicos relacionados à cocaína já
Em 1.850, a coca foi levada para a Europa e em 1.855 o haviam sido registrados. Na segunda metade do século XX, gra-
químico alemão Friedrich Gaedecke conseguiu o extrato das fo- ças ao fortalecimento do puritanismo e da ideologia proibicionis-
lhas de coca, o erythroxylene. Quatro anos mais tarde, em 1.859, ta, o consumo da cocaína caiu significativamente nos EUA e na
o químico alemão Albert Niemann conseguiu isolar, entre os Europa. Entretanto, o estímulo às experiências com substâncias
seus numerosos alcalóides, o extrato de cocaína, e em 1.898 foi psicoativas dos movimentos beat e hippie dos anos 1.950 e
descoberta a sua estrutura química. Em 1.902, Willstatt (prêmio 1.960 resultaram no aumento do consumo da droga. Atualmente,
Nobel) produziu cocaína sintética em laboratório 16. a cocaína é uma das drogas ilícitas mais consumidas no mundo
Na segunda metade do século XIX, a cocaína ganhou 16
. As complicações neuropsiquiátricas, cardiocirculatórias assim
grande popularidade. O psicanalista Sigmund Freud (1.856- como os transtornos sócio ocupacionais, econômicos e legais
1.939), em 1.884, publicou um livro chamado Uber Coca associados ao seu uso abusivo fazem com que esse fenômeno
(Sobre a Cocaína) no qual defendeu o uso terapêutico como necessite ser cada vez mais estudado.
estimulante, afrodisíaco, anestésico local, assim como indicativo
no tratamento de asma, desordens digestivas, exaustão nervo- Aspectos sociais do uso da cocaína
sa, histeria, sífilis além do mal-estar relacionado a altitudes 15,16.
Freud receitava essa droga aos seus pacientes para o trata- O uso abusivo de cocaína tem se constituído em um pro-
mento de depressão e dependência à morfina. Sendo assim, foi blema cada vez maior na sociedade. O aumento das taxas de
considerado inicialmente um fármaco milagroso para tratamento morbi-mortalidade parece ser devido a uma diminuição no preço
de diversas moléstias. Mais tarde, após o registro de uma morte da droga e um aumento da sua disponibilidade. Um maior núme-
por uso abusivo, o psicanalista passou a observar seus efeitos ro de pessoas utiliza a droga em concentrações e doses cada
adversos e então, após quatro anos de sua publicação original, vez mais elevadas, dados que nunca tinham sido relatados num
Freud voltou atrás, rendendo-se às evidências de que a droga passado recente 20.
milagrosa tinha uma série de inconvenientes, começando pelo Nas primeiras décadas do século XX, o consumo mundial
potencial de desenvolver a dependência química. Em 1.892 pu- dessa droga pareceu ter diminuído de forma importante, com ex-
blicou uma continuação do Uber coca modificando seu ponto ceção dos países andinos, onde a substância continuava a ser
de vista originalmente favorável à cocaína 17. consumida 21. O conhecimento da população sobre os efeitos
Após um grupo de cientistas italianos ter levado a planta nocivos da cocaína, além do surgimento de regulamentações e
para o país, o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1.863, uma leis restritivas, como o tratado de Haia (1.912), ou o Decreto-lei
mistura de folhas de coca com vinho, denominando-o de vinho Ma- Federal nº 4.292 de 6 de julho de 1.921, no Brasil, tornaram a
riani. A bebida, de grande aceitação entre as classes mais altas e cocaína menos disponível para a população em geral, e também
muito apreciada pelo Papa Leão XIII, consistia em uma infusão ajudou no declínio do uso de droga. Houve, no entanto, o res-
alcoólica de folhas de coca. Em 1.886, John Styth Pemberton criou surgimento de uso abusivo de cocaína nos últimos 30 anos. No
um soft drink isento de álcool. Assim, foi na tentativa de competir início da década de 1.970, havia pouca literatura demonstrando
com o vinho Mariani que os americanos criaram a Coca-Cola 18, a a toxicidade dessa droga e suas consequências na saúde do
qual permaneceu contendo a cocaína na sua fórmula até 1.906, usuário. Assim, a cocaína ressurgiu como droga de escolha para
quando foi substituída por outro alcalóide estimulante do sistema uso “recreacional”, que colaborava para a falsa crença de que a
nervoso central (SNC), a cafeína 10,12,15. droga era segura, sem risco de causar dependência 22.
Em 1.885, um químico trabalhando para a indústria farma- Foi a partir dos anos 1.980, com o aumento da oferta de
cêutica Parke Davis, revolucionou a produção ao descobrir cocaína no mercado de todos os países americanos, que essa
uma maneira de produzir cocaína semirefinada nos próprios pa- concepção começou a mudar. O aumento da oferta deveu-se,
íses onde estavam instaladas as fábricas 19. Grandes problemas principalmente, a uma maior produção e à distribuição mais efi-
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caz realizada por alguns cartéis de traficantes sul-americanos. da cocaína pelas colinesterases plasmática e hepática, e ben-
Essa maior oferta, com um preço muito menor, fez com que o uso zoilecgonina (30 a 45%), resultante da hidrólise espontânea da
de cocaína aumentasse e se diversificasse bastante 19. cocaína ou por reação catalisada por carboxilesterases. Outro
No Brasil, de acordo com o IIº Levantamento Domiciliar produto de biotransformação é a norcocaína (2 a 6%), resultante
sobre o Uso de Drogas, realizado em 2.005, constatou-se que da N-desmetilação direta pelas enzimas do sistema citocromo
3,8% da população brasileira, entre 12 e 65 anos de idade, já P450. A ingestão de álcool combinada com a administração de
usaram algum derivado da droga 23, e outros dados epidemioló- cocaína resulta na transesterificação hepática da droga na forma
gicos mostram que o uso de cocaína vem crescendo nos últimos de cocaetileno. Um dos aspectos importantes deste metabólito é
anos entre os estudantes do ensino médio e fundamental, bem que, devido a sua semelhança estrutural, sua ação farmacológi-
como entre os pacientes que procuram atendimento nas clínicas ca é comparável à da cocaína 14.
especializadas 21. O cloridrato de cocaína pode ser injetado, inalado e, quan-
O mesmo levantamento 23 mostrou que 5,6 milhões de do na forma de base livre (crack), o alcalóide pode ser fumado,
adultos e 442 mil menores, que tinham entre 14 e 17 anos, admi- tendo em vista que essa forma apresenta baixo ponto de fusão,
tiram ter consumido algum derivado da cocaína. O estudo indica volatiliza-se aproximadamente a 90°C, e quando aquecida per-
também que 2 milhões de brasileiros fumaram crack ou merla mite que seus vapores sejam inalados no ato de fumar, tendo a
em alguma ocasião e que 1,2 milhões fizeram uso no ano ante- sua velocidade de absorção muito alta devido a superexposição
rior. O consumo foi três vezes maior em áreas urbanas do que à superfície pulmonar altamente vascularizada. O início dos efei-
em áreas rurais, e muito concentrado na região Sudeste (46%). tos é imediato, alcançando a intensidade máxima em cerca de
O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína e seus de- cinco minutos, com duração de aproximadamente 30 minutos.
rivados no mundo em 2.014. A lista foi liderada pelos Estados O uso da droga nesta forma pode levar à dependência em um
Unidos, com 4 milhões de consumidores, seguido por Brasil (2,8 período muito curto de uso 14.
milhões), outros países sul-americanos (2,4 milhões), Reino Uni- O crack surgiu no Brasil em meados de 1.988, na periferia
do (1,1 milhões), Espanha (0,8 milhão) e Canadá (0,5 milhão), de São Paulo 26. Somente após a virada do milênio, relatos sobre
segundo dados citados no estudo 24. esse tema e suas consequências foram produzidos em maior es-
No Brasil houve um aumento na prevalência de uso ao cala 27. Atualmente, passados 20 anos da chegada da droga no
longo da vida de qualquer droga psicotrópica, que passou para Brasil, constata-se a consequência de seus efeitos em diversos
22,8%. A maconha foi a mais citada (8,8%), seguida pelos sol- segmentos. O crack traz, comprovadamente, prejuízos para a
ventes (6,1%) e pelos benzodiazepínicos (5,6%). A cocaína apa- vida dos usuários, seus familiares e para a sociedade em geral.
receu na sexta posição, com 2,9%. O crack ficou na 11ª posição Entre os prejuízos estão: complicações pulmonares frequentes 28;
(0,7%), juntamente com os barbitúricos, e seguido dos antico- zumbidos, alterações de equilíbrio, alucinações auditivas e hipe-
linérgicos (0,5%), merla (0,2%) e heroína (0,1%). O crack é, atu- racusias29; risco aumentado de contrair o vírus da imunodeficiên-
almente, a maior preocupação das autoridades devido à grande cia humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis
taxa de mortalidade de seus usuários 23. A maior parte da cocaína 30,31
; alto índice de mortalidade, em curto espaço de tempo, em
apreendida no Brasil em 2.011 teve como origem a Bolívia (54%), virtude de fatores externos como homicídios e a soropositividade
seguida pelo Peru (38%) e Colômbia (7,5%) 25. para o vírus da HIV 32; maiores problemas sociais 31; problemas
com a justiça, atraso na vida escolar, alto índice de desempre-
CLORIDRATO DE COCAÍNA E CRACK go 33; ocorrência de condutas antissociais para a obtenção da
droga, como furtos, assassinatos e roubos 34. Em virtude dessas
A cocaína é encontrada nas formas de alcalóide purificado, e outras consequências, a questão do uso de crack no Brasil
base livre, e o sal de cloridrato 1; seu uso tem sido associado a já tomou uma grande proporção, sendo considerado um grave
efeitos decorrentes da toxicidade aguda e crônica em praticamente problema de saúde pública 35.
todos os órgãos, principalmente no sistema cardiovascular. Quanto ao processo de produção, inicialmente, o crack era
Através da administração por via intranasal, a velocidade de convertido do cloridrato de cocaína (pó) pelo próprio usuário, cons-
absorção pelas membranas mucosas da cocaína ocorre de forma tituindo a forma da “casca” 36,37. Posteriormente, uma vez que a pro-
lenta e baixa, devido ao retardamento da absorção relacionado a dução concentrou-se nas mãos do traficante, o crack passou a ser
baixa taxa de difusão pela mucosa nasofaríngea, devido às pro- produzido e comercializado na forma de “pedras”, que despertavam
priedades vasoconstritoras da droga e a possibilidade de sua de- a atenção pelo baixo custo por unidade, o que de inicio causava a
glutição (20 a 30%), quando a absorção é ainda menor em razão falsa sensação de ser uma droga mais barata que as demais 38.
do metabolismo de primeira passagem sofrido pela droga 14. Definida como um forte impulso para utilizar uma substân-
A eliminação da droga é predominantemente controlada cia, a fissura é considerada fator crítico para o desenvolvimento
pela biotransformação, sendo os principais produtos: éster me- do uso compulsivo e dependência de drogas e para recaídas
tilecgonina (35 a 48%), obtida pela hidrólise do grupo benzoato após período de abstinência. O padrão de consumo intenso, con-
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Neste sentido, uma das técnicas mais amplamente utiliza- Teste com o reagente de Mayer
da mundialmente e que congrega tais características é a croma-
tografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS). Este ensaio é muito utilizado em análises botânicas para
Porém tal técnica, devido à sua complexidade, necessita ser rea- identificação de alcalóides em vegetais 57. A cocaína, por ser um
lizada sob condições controladas em ambiente laboratorial, o que alcalóide presente na E. coca, reage positivamente ao teste, o
inviabiliza sua utilização em locais de crimes. Deste modo, outras qual possui elevada sensibilidade reagindo a qualquer traço de
técnicas são utilizadas nestes locais, a fim de obter uma resposta cocaína no material. Porém, este teste possui baixa seletivida-
mais célere para a autoridade judiciária, sendo assim elaborado de, reagindo com outros compostos como a lidocaína, sildenafil,
o laudo preliminar de constatação de droga, conforme preconi- dipirona, ecstasy e outros. Neste procedimento, a droga é so-
zado pelo Código de Processo Penal Brasileiro. Estas técnicas lubilizada em meio aquoso, sendo necessária a adição de gotas
utilizadas são apenas de triagem, tendo como características de ácido clorídrico para a cocaína na forma de base livre. Ao se
uma adequada sensibilidade, baixo custo, facilidade na execu- gotejar o reagente de Mayer sobre a solução, há um turvamento
ção e interpretação, rapidez no resultado obtido, porém carece imediato do meio, formando um precipitado branco flocoso que é
de seletividade, devendo seus resultados serem confirmados por desfeito ao se adicionar etanol 14 (Figura 4).
métodos mais específicos no laboratório 53,54.
Para a determinação de cocaína, existem na literatura vá-
rios métodos que podem ser utilizados na triagem desta droga
55-57,64
, cabendo ao Perito Criminal escolher um ou mais métodos
conforme a característica da amostra e limitações de cada rea-
gente para utilizar na sua análise. A seguir, discutiremos alguns
destes métodos de triagem mais comumente utilizados pela Pe-
rícia Criminal no Brasil para identificação da cocaína.
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Teste com o reagente de tiocianato de cobalto mazina, cloridrato de promazina, escopolamina, cloridrato de
dibucaína, prometazina e cloridrato de fenciclidina 59. A seguir
Desenvolvido em 1.931 por Young, o teste original utilizava é mostrada, na equação, a reação balanceada entre o rea-
o reagente de tiocianato de cobalto a 2% com cloreto de estanho gente e a cocaína (R3NH+) 58.
(II) em meio ácido. Este teste baseia-se na reação de comple-
xação da cocaína com o cobalto, formando um complexo que [Co(SCN)(H2O)5 ]+ (aq) + 3SCN- (aq) + 2 R3NH+–> (R3NH)2Co(SCN)4 + 5H2O(l)
pode ser visualizado devido ao aparecimento de uma coloração
azul. Devido à baixa seletividade do teste, várias modificações Teste com o reagente de Scott modificado
foram realizadas a fim de diminuir os falsos positivos 58. É impor-
tante ressaltar que o aumento da concentração do tiocianato de Em 1.986, a fim de otimizar o teste de Scott, Fasanello
cobalto alterará favoravelmente a sensibilidade do teste, porém e Higgins modificaram o reagente, adicionando ácido clorídrico
negativamente a sua seletividade. A Perícia Criminal de Minas em sua formulação, porém mantendo-se a mesma concentração
Gerais utiliza uma concentração de 0,5% do tiocianato de cobal- do sal (2%), fazendo com que ele reagisse tanto com a cocaína
to acidificado, priorizando a seletividade do método em relação na forma de cloridrato como na forma de base livre (ex.: crack,
à sensibilidade. Neste procedimento, é adicionado sobre uma merla, pasta base). O restante do procedimento manteve-se, ha-
fração da droga gotas do reagente que pode ser preparado já vendo aparecimento da coloração azul ao adicionar o reativo, se-
acidificado com ácido clorídrico, a fim de reagir com a cocaína guido do desaparecimento da cor ao adicionar o ácido clorídrico
tanto na forma de cloridrato como na sua forma neutra. O desen- a 10% e, na etapa final, com a adição do clorofórmio, ocorrendo
volvimento da coloração deve ser observado em até 5 minutos, a novamente o aparecimento da coloração azul na porção inferior
fim de se evitar falsos positivos (Figura 5) 14. da solução 59.
Objetivando-se melhorar ainda mais esse teste, prin-
cipalmente em relação à seletividade, o uso da concentra-
ção do reagente numa concentração de 0,15%, apesar de
diminuir a sensibilidade do método, o torna bastante sele-
tivo para a cocaína se comparado com as outras concen-
trações. Neste método, é adicionado o reativo sobre a dro-
ga, em seguida o solvente diclorometano. Caso a cocaína
esteja na forma de cloridrato há desenvolvimento de uma
coloração azul na porção orgânica inferior. Caso se trate
de cocaína na forma de base livre é necessário adicionar
Figura 5: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva gotas de uma solução de ácido clorídrico a 20% para que
(à direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de a cor azul apareça (Figura 6). É importante ressaltar que
tiocianato de cobalto a 0,5% acidificado (arquivo pessoal). a adição do reagente sobre amostras de cocaína contendo
levamisol (fármaco anti-helmíntico) como adulterante, pro-
Teste com o reagente de Scott original duz uma coloração azul na primeira etapa do teste, masca-
rando o resultado para a cocaína 14.
Desenvolvido em 1.973 por Scott, este teste foi basea-
do no teste de tiocianato de cobalto e é realizado em etapas,
sendo necessária a reação positiva nas três etapas para a
correta identificação da droga 58. O ensaio utiliza o reagen-
te de tiocianato de cobalto a 2% contendo glicerina que, ao
entrar em contato com a droga, desenvolve uma coloração
azul, baseado no mesmo princípio do teste de tiocianato de
cobalto. Na segunda etapa, são adicionadas gotas de ácido
clorídrico concentrado que provocará a mudança da colora-
ção da solução de azul para rosa (cor original do reagente).
Na última etapa, é adicionado clorofórmio, fazendo com que
o complexo entre a cocaína e o cobalto migre para a fração
orgânica, reaparecendo a coloração azul na porção inferior
do meio 55. Esse teste possui boa sensibilidade, reagindo com
amostras bem diluídas, porém pode reagir com outros fárma- Figura 6: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva (à
direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de Scott a
cos como o cloridrato de difenildramina, cloridrat de clorpro-
0,15% (arquivo pessoal).
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Figura 7: Resultado positivo para determinação de cocaína por imunocromatografia em fita de imunoensaio (arquivo pessoal).
Cromatografia em camada delgada (CCD) ascendente, ocorrendo a eluição da droga e separação dos ou-
tros constituintes da amostra que terão diferentes interações com
As técnicas cromatográficas são técnicas de separação de a fase móvel e estacionária em relação à cocaína. Após a mi-
misturas de amostras por processos físicos e químicos, garan- gração do solvente até um determinado ponto na cromatoplaca,
tindo melhor seletividade em relação às técnicas colorimétricas esta é retirada da cuba, levada à capela e borrifada um revelador
citadas anteriormente. No entanto, são mais onerosas, trabalho- químico que reagirá com a molécula da cocaína desenvolvendo
sas, necessitam de um ambiente laboratorial para sua realização uma cor 61.
e também são consideradas como técnicas de triagem quando Os reativos mais utilizados para a cocaína são o reagente
utilizados reagentes cromogênios para a identificação de uma Dragendorff e o Iodo Platinado acidificado. A positividade do teste
determinada droga. Neste procedimento, a amostra da droga se dará caso a amostra problema apresente o mesmo Rf (fator
é extraída com um solvente orgânico de alta miscibilidade (ex.: de retenção) e cor idêntica ao padrão aplicado na cromatoplaca.
metanol para o cloridrato de cocaína e clorofórmio ou éter etílico É indicado aplicar juntamente ao padrão outros possíveis adul-
para o crack), sendo o solvente aplicado num suporte contendo terantes, a fim de verificar o Rf destes em relação à cocaína no
uma fase estacionária (ex.: sílica) que é colocada dentro de uma método utilizado 14,62.
cuba de vidro contendo uma fase móvel constituída de uma mis- A Figura 8 mostra uma cromatoplaca revelada com o reati-
tura de solventes (ex.: clorofórmio, acetona e hidróxido de amô- vo de Dragendorff para pesquisa de cocaína por CCD.
nio). O solvente, então, migra pela fase estacionária no sentido
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Figura 9: Espectro de massas da cocaína obtido por impacto por elétrons (70eV) 65.
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Considerações finais cocaine seized in two regions of Brazil. Science & Justice, v.53,
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conhecimento pleno das técnicas analíticas disponíveis para a gy, v.20, p.1037-1039, 1989.
identificação da cocaína, sabendo avaliar de acordo com as limi- 10-FERREIRA, P.E.M; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas, história e
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beração de resultados falsos positivos ou negativos, o que pode- 11-BUCHER, R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Ale-
ria comprometer o trabalho policial e a credibilidade da instituição gre: Artes Médicas, 1992.
pericial. Ademais, torna-se necessário que todos os envolvidos 12-MAIA, C.R.M,; JURUENA, M.F.P. Cocaína: aspectos históricos,
no processo sejam informados da técnica utilizada pelo Perito farmacológicos e psiquiátricos. Revista da Associação Médi-
Criminal no ensaio, a fim de ser possível sua avaliação quanto à ca do Rio Grande do Sul, v.40, p.263-273, 1996.
adequação do método frente à amostra ensaiada. Embora ainda 13-DENG, S.X.; DE PRADA, P.; LANDRY, D.W. Anticocaine cata-
não haja uma padronização em nível nacional dos ensaios de lytic antibodies. Journal of Immunological Methods, v.269,
triagem e definitivo de drogas em material bruto, tal medida seria p.299-310, 2002.
extremamente salutar tendo em vista a harmonização dos proce- 14-PASSAGLI, M. Toxicologia forense: teoria e prática.
dimentos adotados por todos os Peritos Criminais, evitando-se, 4.ed. Campinas: Millennium, 2013.
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