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revista criminalística
e medicina legal
revista criminalística e medicina legal
v.1 | n.1 | 2016 | p. 34-45

COCAÍNA: ASPECTOS HISTÓRICOS,


TOXICOLÓGICOS E ANALÍTICOS – UMA REVISÃO
Sordaini Maria Caligiorne*
Pablo Alves Marinho
Instituto de Criminalística de Minas Gerais

COCAINE: HISTORICAL, TOXICOLOGICAL


AND ANALYTICAL ASPECTS – A REVIEW
Resumo
A cocaína é o principal alcalóide encontrado nas folhas do vegetal Erytroxylum coca. Os relatos de uso da cocaína são milenares
e até hoje permeiam algumas culturas ocidentais, porém o uso recreativo já se disseminou por todo o mundo. Vários estudos demons-
tram que o uso abusivo da droga é um grave problema de saúde pública, uma vez que pode ocasionar alterações cardiovasculares
e do sistema nervoso central nos usuários. As ciências forenses são uma ferramenta da Perícia Criminal que trata da utilização do
conhecimento e da tecnologia da ciência no cumprimento das leis sociais. Deste modo, é de extrema importância que o Perito Cri-
minal tenha conhecimento pleno dos métodos analíticos disponíveis para a identificação da cocaína, tendo em vista que esta droga
representa boa parte de todo o montante apreendido pelas forças policiais. O presente artigo apresenta uma breve revisão sobre
os aspectos toxicológicos decorrentes do uso da cocaína, bem como as principais técnicas analíticas para a identificação da droga
segundo recomendações internacionais, visando à harmonização dos procedimentos adotados pelos Peritos Criminais, evitando,
assim, diferenças na qualidade de laudos toxicológicos realizados em várias instituições.

Palavras-chave: Cocaína. Efeitos tóxicos. Técnicas de triagem. Técnicas de confirmação.

Abstract
Cocaine is the main alkaloid found in the leaves of the Erytroxylum coca plant. Cocaine use reports are ancient
and still permeate some western cultures, but recreational use has spread throughout the world. Several studies
demonstrate that the abuse of drugs is a serious public health problem, since it can lead to cardiovascular and cen-
tral nervous system changes in users. Forensic science is a tool of Forensics that deals with the use of knowledge
and science technology in compliance with social laws. Therefore it is of the utmost importance that a Forensic
Investigator have full knowledge of the analytical methods available for the identification of cocaine, given that this
drug represents a large portion of the entire amount seized by the police. This article presents a brief review of the
toxicological aspects arising from the use of cocaine as well as the main analytical techniques for the identification
of drugs according to international recommendations, aimed at harmonization of the procedures adopted by Foren-
sic Investigators, thus, avoiding quality differences in toxicology reports performed by different institutions.

Key-Words: Cocaine. Toxic effects. Trial techniques. Confirmatory techniques.

*sordaini@gmail.com
Caligiorne et al. | Revista Criminalística e Medicina Legal | n.1 | V.1 | 2016

Histórico sódio) para produção de um intermediário de refino da cocaína


denominado pasta base de cocaína ou pasta de coca, possuindo
A cocaína é o principal alcalóide encontrado nas folhas do um teor de 30 a 80% de cocaína. A fim de aumentar a pureza da
vegetal Erythroxylum coca. Os relatos de uso da cocaína da- droga e torná-la mais esbranquiçada, o que agrega maior valor
tam de mais de 1.200 anos, quando os nativos sul-americanos econômico no mercado ilícito, a pasta de coca pode ser oxidada
dos Andes já utilizavam folhas de E. coca, por suas proprieda- com o uso de permanganato de potássio, a fim de retirar impure-
des estimulantes 1. zas, como os outros alcalóides presentes no vegetal, formando
Apesar de a espécie E. coca ser a mais conhecida, exis- assim um segundo intermediário do refino denominado de cocaí-
tem mais de vinte espécies do gênero Erythroxylum que pos- na base, base de coca, pasta lavada ou pasta oxidada, possuin-
suem o alcalóide, se destacando a E. coca variedade coca, do um teor de cocaína de 80 a 95% 3,5,6.
E. coca variedade ipadu, E. novogranatense variedade Segundo os critérios da Drug Enforcement Adminis-
novogranatense e E. novogranatense variedade truxil- tration (DEA) dos Estados Unidos da América (EUA), a cocaína
lense como as que apresentam os maiores teores de cocaína, é considerada altamente oxidada se o teor de cinamoilcocaína
variando entre 0,5 a 1,5% 2,3. A Figura 1 4 apresenta as estruturas (cis e trans) estiver menor que 2% em relação ao teor de cocaína
químicas dos principais alcalóides presentes nesse vegetal. total, sendo considerada como base de coca. Em caso do teor re-
lativo de cinamoilcocaína ser maior que 6%, esta é considerada
não oxidada e denominada de pasta base de cocaína; e entre 2 a
6% de cinamoilcocaína, moderadamente oxidada 3,7.
O refino inicial da cocaína muitas vezes é realizado nos pa-
íses andinos, chegando ao Brasil a pasta base ou cocaína base,
as quais têm seu processo de purificação finalizado no Brasil,
onde são utilizados reagentes químicos como acetona e ácido
clorídrico para preparo do cloridrato de cocaína; e carbonato ou
bicarbonato de sódio para preparo do crack. A merla é outro pro-
duto de refino da cocaína, estando a cocaína na forma de base
livre e, portanto, utilizada pela via pulmonar. É frequentemente
comercializada como uma pasta semi-sólida em recipientes me-
tálicos, apresentando alto teor de água e sais de sódio, levando
à hidrólise da cocaína em benzoilecgonina, que é também um
dos produtos de biotransformação da cocaína no organismo 6.
Na Figura 2 é representado um esquema do refino da cocaína.

Figura 1: Estrutura química da cocaína (A), tropacocaína


(B), cis-cinamoilcocaína (C), trans-cinamoilcocaína (D),
trimetoxicocaína (E), alfa-truxilina (F) 4.
Figura 2: Processo de refino da cocaína.

Apesar de o cultivo do vegetal E. coca ser permitido em Vale ressaltar que o cloridrato de cocaína é comumente
alguns países da América do Sul, como Bolívia, Colômbia e Peru, adulterado com substâncias farmacologicamente ativas como
o refino é proibido em qualquer parte do mundo. Para obter os cafeína, lidocaína, benzocaína, procaína, levamisol, fenacetina,
produtos refinados da droga, como o cloridrato de cocaína e o diltiazem e diluída com pós inertes como açúcar, carbonato de
crack, os traficantes utilizam diversos produtos químicos, que sódio, silicatos, sulfatos, cal e amido, diminuindo a pureza da
são mais facilmente encontrados no Brasil, devido ao destaque droga. Em estudo realizado em Minas Gerais, Brasil, os teores
da indústria química brasileira no cenário mundial. de cocaína nas amostras apreendidas pela Polícia Civil variaram
No processo de refino da cocaína, as folhas da E. coca de 6,4 a 75,3%, sendo a cafeína e a lidocaína os principais adul-
são maceradas e extraídas com solventes orgânicos (ex.: gaso- terantes encontrados 8.
lina e querosene), sendo adicionadas substâncias ácidas (ex.: O nome coca deriva de uma palavra aimará, “khoka”,
ácido sulfúrico) e básicas (ex.: óxido de cálcio e carbonato de cujo significado seria “a árvore” 9. Este vegetal cresce na forma

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de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia de toxicidade, tolerância, dependência química e morte pelo uso
Amazônica 10 sendo cultivado em clima tropical e altitudes que passaram a ser relatadas e ainda agravadas, no início dos anos
variam entre 450 e 1.800 metros acima do nível do mar e, ainda, 1.920, quando surgiram comercialmente as seringas hipodérmi-
continua sendo usado pelos nativos da região que mascam sua cas, facilitando a administração de uma maior quantidade de co-
folha. No norte do Brasil, também é chamada de epadu e muitas caína pela via endovenosa 19.
tribos da Bacia Amazônica, na região fronteiriça entre Venezue- Há registro do uso restrito de cocaína nas décadas de
la, Colômbia e Brasil, mantêm o hábito de mascar o “epadu” ou 1.930 a 1.960 nos EUA, porém esse uso mudou à medida que
“ipadu” 11,12. Indígenas andinos reconheciam suas propriedades a droga começou a estar disponível no mercado, por meio do
tônicas e utilizavam-nas para suportar os esforços físicos e a fa- incremento do narcotráfico internacional, a partir da América do
diga 13,14. Como a coca possuía um caráter místico para os índios, Sul 13,14. No fim do mesmo século começaram a aparecer os sin-
os espanhóis proibiram seu consumo para converter os mesmos tomas psicóticos e maléficos da droga. Em 1.980, pelo menos
ao cristianismo. 400 casos de danos físicos e psíquicos relacionados à cocaína já
Em 1.850, a coca foi levada para a Europa e em 1.855 o haviam sido registrados. Na segunda metade do século XX, gra-
químico alemão Friedrich Gaedecke conseguiu o extrato das fo- ças ao fortalecimento do puritanismo e da ideologia proibicionis-
lhas de coca, o erythroxylene. Quatro anos mais tarde, em 1.859, ta, o consumo da cocaína caiu significativamente nos EUA e na
o químico alemão Albert Niemann conseguiu isolar, entre os Europa. Entretanto, o estímulo às experiências com substâncias
seus numerosos alcalóides, o extrato de cocaína, e em 1.898 foi psicoativas dos movimentos beat e hippie dos anos 1.950 e
descoberta a sua estrutura química. Em 1.902, Willstatt (prêmio 1.960 resultaram no aumento do consumo da droga. Atualmente,
Nobel) produziu cocaína sintética em laboratório 16. a cocaína é uma das drogas ilícitas mais consumidas no mundo
Na segunda metade do século XIX, a cocaína ganhou 16
. As complicações neuropsiquiátricas, cardiocirculatórias assim
grande popularidade. O psicanalista Sigmund Freud (1.856- como os transtornos sócio ocupacionais, econômicos e legais
1.939), em 1.884, publicou um livro chamado Uber Coca associados ao seu uso abusivo fazem com que esse fenômeno
(Sobre a Cocaína) no qual defendeu o uso terapêutico como necessite ser cada vez mais estudado.
estimulante, afrodisíaco, anestésico local, assim como indicativo
no tratamento de asma, desordens digestivas, exaustão nervo- Aspectos sociais do uso da cocaína
sa, histeria, sífilis além do mal-estar relacionado a altitudes 15,16.
Freud receitava essa droga aos seus pacientes para o trata- O uso abusivo de cocaína tem se constituído em um pro-
mento de depressão e dependência à morfina. Sendo assim, foi blema cada vez maior na sociedade. O aumento das taxas de
considerado inicialmente um fármaco milagroso para tratamento morbi-mortalidade parece ser devido a uma diminuição no preço
de diversas moléstias. Mais tarde, após o registro de uma morte da droga e um aumento da sua disponibilidade. Um maior núme-
por uso abusivo, o psicanalista passou a observar seus efeitos ro de pessoas utiliza a droga em concentrações e doses cada
adversos e então, após quatro anos de sua publicação original, vez mais elevadas, dados que nunca tinham sido relatados num
Freud voltou atrás, rendendo-se às evidências de que a droga passado recente 20.
milagrosa tinha uma série de inconvenientes, começando pelo Nas primeiras décadas do século XX, o consumo mundial
potencial de desenvolver a dependência química. Em 1.892 pu- dessa droga pareceu ter diminuído de forma importante, com ex-
blicou uma continuação do Uber coca modificando seu ponto ceção dos países andinos, onde a substância continuava a ser
de vista originalmente favorável à cocaína 17. consumida 21. O conhecimento da população sobre os efeitos
Após um grupo de cientistas italianos ter levado a planta nocivos da cocaína, além do surgimento de regulamentações e
para o país, o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1.863, uma leis restritivas, como o tratado de Haia (1.912), ou o Decreto-lei
mistura de folhas de coca com vinho, denominando-o de vinho Ma- Federal nº 4.292 de 6 de julho de 1.921, no Brasil, tornaram a
riani. A bebida, de grande aceitação entre as classes mais altas e cocaína menos disponível para a população em geral, e também
muito apreciada pelo Papa Leão XIII, consistia em uma infusão ajudou no declínio do uso de droga. Houve, no entanto, o res-
alcoólica de folhas de coca. Em 1.886, John Styth Pemberton criou surgimento de uso abusivo de cocaína nos últimos 30 anos. No
um soft drink isento de álcool. Assim, foi na tentativa de competir início da década de 1.970, havia pouca literatura demonstrando
com o vinho Mariani que os americanos criaram a Coca-Cola 18, a a toxicidade dessa droga e suas consequências na saúde do
qual permaneceu contendo a cocaína na sua fórmula até 1.906, usuário. Assim, a cocaína ressurgiu como droga de escolha para
quando foi substituída por outro alcalóide estimulante do sistema uso “recreacional”, que colaborava para a falsa crença de que a
nervoso central (SNC), a cafeína 10,12,15. droga era segura, sem risco de causar dependência 22.
Em 1.885, um químico trabalhando para a indústria farma- Foi a partir dos anos 1.980, com o aumento da oferta de
cêutica Parke Davis, revolucionou a produção ao descobrir cocaína no mercado de todos os países americanos, que essa
uma maneira de produzir cocaína semirefinada nos próprios pa- concepção começou a mudar. O aumento da oferta deveu-se,
íses onde estavam instaladas as fábricas 19. Grandes problemas principalmente, a uma maior produção e à distribuição mais efi-

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caz realizada por alguns cartéis de traficantes sul-americanos. da cocaína pelas colinesterases plasmática e hepática, e ben-
Essa maior oferta, com um preço muito menor, fez com que o uso zoilecgonina (30 a 45%), resultante da hidrólise espontânea da
de cocaína aumentasse e se diversificasse bastante 19. cocaína ou por reação catalisada por carboxilesterases. Outro
No Brasil, de acordo com o IIº Levantamento Domiciliar produto de biotransformação é a norcocaína (2 a 6%), resultante
sobre o Uso de Drogas, realizado em 2.005, constatou-se que da N-desmetilação direta pelas enzimas do sistema citocromo
3,8% da população brasileira, entre 12 e 65 anos de idade, já P450. A ingestão de álcool combinada com a administração de
usaram algum derivado da droga 23, e outros dados epidemioló- cocaína resulta na transesterificação hepática da droga na forma
gicos mostram que o uso de cocaína vem crescendo nos últimos de cocaetileno. Um dos aspectos importantes deste metabólito é
anos entre os estudantes do ensino médio e fundamental, bem que, devido a sua semelhança estrutural, sua ação farmacológi-
como entre os pacientes que procuram atendimento nas clínicas ca é comparável à da cocaína 14.
especializadas 21. O cloridrato de cocaína pode ser injetado, inalado e, quan-
O mesmo levantamento 23 mostrou que 5,6 milhões de do na forma de base livre (crack), o alcalóide pode ser fumado,
adultos e 442 mil menores, que tinham entre 14 e 17 anos, admi- tendo em vista que essa forma apresenta baixo ponto de fusão,
tiram ter consumido algum derivado da cocaína. O estudo indica volatiliza-se aproximadamente a 90°C, e quando aquecida per-
também que 2 milhões de brasileiros fumaram crack ou merla mite que seus vapores sejam inalados no ato de fumar, tendo a
em alguma ocasião e que 1,2 milhões fizeram uso no ano ante- sua velocidade de absorção muito alta devido a superexposição
rior. O consumo foi três vezes maior em áreas urbanas do que à superfície pulmonar altamente vascularizada. O início dos efei-
em áreas rurais, e muito concentrado na região Sudeste (46%). tos é imediato, alcançando a intensidade máxima em cerca de
O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína e seus de- cinco minutos, com duração de aproximadamente 30 minutos.
rivados no mundo em 2.014. A lista foi liderada pelos Estados O uso da droga nesta forma pode levar à dependência em um
Unidos, com 4 milhões de consumidores, seguido por Brasil (2,8 período muito curto de uso 14.
milhões), outros países sul-americanos (2,4 milhões), Reino Uni- O crack surgiu no Brasil em meados de 1.988, na periferia
do (1,1 milhões), Espanha (0,8 milhão) e Canadá (0,5 milhão), de São Paulo 26. Somente após a virada do milênio, relatos sobre
segundo dados citados no estudo 24. esse tema e suas consequências foram produzidos em maior es-
No Brasil houve um aumento na prevalência de uso ao cala 27. Atualmente, passados 20 anos da chegada da droga no
longo da vida de qualquer droga psicotrópica, que passou para Brasil, constata-se a consequência de seus efeitos em diversos
22,8%. A maconha foi a mais citada (8,8%), seguida pelos sol- segmentos. O crack traz, comprovadamente, prejuízos para a
ventes (6,1%) e pelos benzodiazepínicos (5,6%). A cocaína apa- vida dos usuários, seus familiares e para a sociedade em geral.
receu na sexta posição, com 2,9%. O crack ficou na 11ª posição Entre os prejuízos estão: complicações pulmonares frequentes 28;
(0,7%), juntamente com os barbitúricos, e seguido dos antico- zumbidos, alterações de equilíbrio, alucinações auditivas e hipe-
linérgicos (0,5%), merla (0,2%) e heroína (0,1%). O crack é, atu- racusias29; risco aumentado de contrair o vírus da imunodeficiên-
almente, a maior preocupação das autoridades devido à grande cia humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis
taxa de mortalidade de seus usuários 23. A maior parte da cocaína 30,31
; alto índice de mortalidade, em curto espaço de tempo, em
apreendida no Brasil em 2.011 teve como origem a Bolívia (54%), virtude de fatores externos como homicídios e a soropositividade
seguida pelo Peru (38%) e Colômbia (7,5%) 25. para o vírus da HIV 32; maiores problemas sociais 31; problemas
com a justiça, atraso na vida escolar, alto índice de desempre-
CLORIDRATO DE COCAÍNA E CRACK go 33; ocorrência de condutas antissociais para a obtenção da
droga, como furtos, assassinatos e roubos 34. Em virtude dessas
A cocaína é encontrada nas formas de alcalóide purificado, e outras consequências, a questão do uso de crack no Brasil
base livre, e o sal de cloridrato 1; seu uso tem sido associado a já tomou uma grande proporção, sendo considerado um grave
efeitos decorrentes da toxicidade aguda e crônica em praticamente problema de saúde pública 35.
todos os órgãos, principalmente no sistema cardiovascular. Quanto ao processo de produção, inicialmente, o crack era
Através da administração por via intranasal, a velocidade de convertido do cloridrato de cocaína (pó) pelo próprio usuário, cons-
absorção pelas membranas mucosas da cocaína ocorre de forma tituindo a forma da “casca” 36,37. Posteriormente, uma vez que a pro-
lenta e baixa, devido ao retardamento da absorção relacionado a dução concentrou-se nas mãos do traficante, o crack passou a ser
baixa taxa de difusão pela mucosa nasofaríngea, devido às pro- produzido e comercializado na forma de “pedras”, que despertavam
priedades vasoconstritoras da droga e a possibilidade de sua de- a atenção pelo baixo custo por unidade, o que de inicio causava a
glutição (20 a 30%), quando a absorção é ainda menor em razão falsa sensação de ser uma droga mais barata que as demais 38.
do metabolismo de primeira passagem sofrido pela droga 14. Definida como um forte impulso para utilizar uma substân-
A eliminação da droga é predominantemente controlada cia, a fissura é considerada fator crítico para o desenvolvimento
pela biotransformação, sendo os principais produtos: éster me- do uso compulsivo e dependência de drogas e para recaídas
tilecgonina (35 a 48%), obtida pela hidrólise do grupo benzoato após período de abstinência. O padrão de consumo intenso, con-

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tínuo e repetitivo de crack, chamado de binge, é provocado Cocaína e o sistema cardiovascular


pela fissura e podem durar dias até que o suprimento de droga
termine, ou que haja a exaustão do usuário. Esses ciclos intermi- A cocaína pode causar a elevação ou diminuição do ritmo
tentes de doses repetidas de crack, seguidos de parada abrupta cardíaco e da pressão sanguínea, calafrios, náuseas, vômitos.
em seu consumo, estão associados a sinais e sintomas da retira- Altas doses da droga podem causar convulsões, arritmias cardía-
da, caracterizados por mal-estar físico e psicológico 39. cas, coma e até mesmo a morte. Dependendo da via de adminis-
A urgência pelo crack e a falta de condições financeiras para tração, pode produzir uma série de efeitos no ser humano como
suprir sua demanda colocam o usuário em situação de fragilidade, aumento do estado de alerta, hiperatividade motora, taquicardia,
submetendo-se a estratégias arriscadas para obtenção da droga, vasoconstrição, hipertensão, broncodilatação, aumento da tem-
como situações de risco (tráfico de drogas, sexo sem proteção) e de peratura corporal e midríase. O aumento da pressão arterial é
violência (assaltos, brigas). A violência e o comportamento sexual de um dos efeitos mais sérios podendo levar a taquicardia, fibrilação
risco atingem a sociedade como um todo e não somente aos usuá- ventricular, arritmias e infarto do miocárdio 14.
rios de crack, aumentando a propagação de doenças sexualmente A cocaína, ao estimular o sistema nervoso simpático pela ini-
transmissíveis e a insegurança da população 39. bição de recaptação de catecolaminas na terminação nervosa sim-
Por meio do “Plano Integrado de Enfrentamento ao Cra- pática, aumenta a sensibilidade da terminação nervosa adrenérgica
ck e Outras Drogas” do governo federal (Decreto 7.179, de à noradrenalina, agindo como um agente antiarrítmico da classe I
20/05/10), pretende-se disseminar informações qualificadas re- (anestésico local) por bloquear canais de sódio e potássio, que leva
lativas ao crack e outras drogas, ressaltando a necessidade de à depressão de parâmetros cardiovasculares, sendo que a atividade
estudos detalhados da população usuária de crack no Brasil 39. simpática aumentada predomina em baixas doses enquanto a ação
Assim, considerando o desenvolvimento do padrão com- anestésica local é mais proeminente em doses altas 46.
pulsivo de uso e dependência de crack e nos possíveis pro- Além disso, a cocaína estimula a liberação de endotelina 1,
blemas que podem advir desse comportamento, estudos rela- um potente vasoconstritor, e inibe a produção de óxido nítrico, prin-
cionados à compreensão desse fenômeno devem ser cada vez cipal vasodilatador produzido pelas células endoteliais, promoven-
mais intensificados. do trombose pela ativação de plaquetas e aumento da agregação
plaquetária. Calcificação e aneurismas ocorrem frequentemente
Cocaína e o sistema nervoso central (SNC) em artérias coronarianas de usuários de cocaína, além de infarto
do miocárdio. O aumento da pressão arterial e frequência cardíaca
No SNC, a cocaína atua como potente estimulante. A coca- ocorrem em consequência do aumento da demanda de oxigênio
ína, ou benzoilmetilecognina, é um anestésico local que bloqueia pelo miocárdio. Esse aumento é dose dependente e mediado pela
a despolarização de canais de sódio dependentes de voltagem estimulação alfa adrenérgica e, ao mesmo tempo, reduz o supri-
e, por consequência, a propagação do impulso nervoso (estímulo mento de oxigênio via vasoconstrição coronariana 47.
doloroso). Provoca vasoconstrição por inibição local da recapta- O consumo de cocaína tem sido associado a doenças
ção de noradrenalina na fenda sináptica. Os efeitos euforizantes cardiovasculares, tanto agudas como crônicas. Entre elas está o
e potencial aditivo estão associados também ao bloqueio da re- infarto agudo do miocárdio, isquemia miocárdica, aceleração de
captação de catecolaminas (dopamina e noradrenalina) e seroto- aterosclerose, miocardite, cardiomiopatia, arritmias, hipertensão
nina nos sistemas nervoso periférico e central 40,41. A recaptação é arterial e endocardite 47.
o principal sistema de retirada de monoaminas da fenda sináptica As causas das cardiomiopatias difusas associadas ao uso
que, quando bloqueado, leva a acúmulo do neurotransmissor na da cocaína são secundárias, mais devidas ao excesso de cate-
fenda sináptica, permitindo uma maior interação com seus re- colaminas do que a um efeito tóxico per si. O uso prolongado
ceptores, intensificando assim a atividade do sistema nervoso 42. de cocaína também está relacionado a hipertrofia ventricular es-
A cocaína é capaz de atravessar a barreira hematoence- querda, cardiomiopatia dilatada, aterosclerose, disritmias crôni-
fálica e entrar no cérebro. Atua sobre a neurotransmissão dopa- cas e apoptose de cardiomiócitos 48.
minérgica, mais especificamente sobre a via mesocorticolímbica, De modo geral, a dependência da cocaína tem se tornado
que se projeta da área tegmentar ventral do mesencéfalo para o um grande desafio da saúde pública, já que resulta em significa-
núcleo Accumbens e o córtex pré-frontal 42. Esta ação pode tivo número de problemas médicos, psicológicos e sociais, in-
ocorrer de forma direta sobre os neurônios dopaminérgicos ou cluindo a violência, a criminalidade, além do desenvolvimento de
indireta sobre neurônios de outros sistemas que modulam a ati- doenças como síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS),
vidade dopaminérgica (glutamato, GABA, noradrenalina, seroto- hepatite e tuberculose, e da exposição de neonatos a drogas de
nina, opióides). A estimulação do núcleo Accumbens a partir abuso. O efeito destrutivo da droga é muito evidente, uma vez
da ativação da via mesolímbica é responsável pela sensação de que o usuário abandona a vida produtiva e, para obter o produto,
prazer obtida com o uso da droga. Por isso, esta via de neuro- comete pequenos delitos, evidenciando a violência associada ao
transmissão é conhecida como via da recompensa 43-45. contexto social do uso 49.

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Métodos de identificação da cocaína de acordo com sua capacidade de identificação inequívoca


de uma molécula. A seguir é demonstrada a classificação de
A identificação definitiva de drogas de abuso, segundo cada técnica, em cuja categoria A são elencadas as técnicas
recomendações internacionais, deve ser feita por técnicas mais seletivas e, na C, as menos seletivas (Figura 3). Vale
que possuam tanto uma boa sensibilidade como, sobretudo, ressaltar, que a recomendação para análise de drogas brutas
uma adequada seletividade para este tipo de análise 50,51. é que se use no mínimo uma técnica A e outra A, B ou C, mas
De acordo com as recomendações do Scientific Working quando não for possível a utilização de uma técnica A, no
Group for the Analysis of Seized Drugs (SWGDRUG), mínimo três técnicas deverão ser utilizadas, sendo duas da
as técnicas analíticas podem ser classificadas em três níveis categoria B 52.

Categorias das técnicas análíticas


A B C
Espectroscopia no infravermelho Eletroforese capilar Testes colorimétricos
Espectroscopia de
Espectrometria de massas Cromatografia gasosa fluorescência

Ressonância magnética nuclear Espectrometria de mobilidade iônica Imunoensaio


Espectroscopia Raman Cromatografia líquida Ponto de fusão
Espectroscopia no
Difração de raio-X Cromatografia em camada delgada ultravioleta
Análise micro e macroscópica *
Microcristalização
*apenas para Cannabis sativa
Figura 3: Quadro de classificação das técnicas analíticas conforme seu desempenho analítico 52.

Neste sentido, uma das técnicas mais amplamente utiliza- Teste com o reagente de Mayer
da mundialmente e que congrega tais características é a croma-
tografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS). Este ensaio é muito utilizado em análises botânicas para
Porém tal técnica, devido à sua complexidade, necessita ser rea- identificação de alcalóides em vegetais 57. A cocaína, por ser um
lizada sob condições controladas em ambiente laboratorial, o que alcalóide presente na E. coca, reage positivamente ao teste, o
inviabiliza sua utilização em locais de crimes. Deste modo, outras qual possui elevada sensibilidade reagindo a qualquer traço de
técnicas são utilizadas nestes locais, a fim de obter uma resposta cocaína no material. Porém, este teste possui baixa seletivida-
mais célere para a autoridade judiciária, sendo assim elaborado de, reagindo com outros compostos como a lidocaína, sildenafil,
o laudo preliminar de constatação de droga, conforme preconi- dipirona, ecstasy e outros. Neste procedimento, a droga é so-
zado pelo Código de Processo Penal Brasileiro. Estas técnicas lubilizada em meio aquoso, sendo necessária a adição de gotas
utilizadas são apenas de triagem, tendo como características de ácido clorídrico para a cocaína na forma de base livre. Ao se
uma adequada sensibilidade, baixo custo, facilidade na execu- gotejar o reagente de Mayer sobre a solução, há um turvamento
ção e interpretação, rapidez no resultado obtido, porém carece imediato do meio, formando um precipitado branco flocoso que é
de seletividade, devendo seus resultados serem confirmados por desfeito ao se adicionar etanol 14 (Figura 4).
métodos mais específicos no laboratório 53,54.
Para a determinação de cocaína, existem na literatura vá-
rios métodos que podem ser utilizados na triagem desta droga
55-57,64
, cabendo ao Perito Criminal escolher um ou mais métodos
conforme a característica da amostra e limitações de cada rea-
gente para utilizar na sua análise. A seguir, discutiremos alguns
destes métodos de triagem mais comumente utilizados pela Pe-
rícia Criminal no Brasil para identificação da cocaína.

Figura 4: Reação negativa (tubo à esquerda) e reação positiva


(tubo à direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de
Mayer (arquivo pessoal).

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Teste com o reagente de tiocianato de cobalto mazina, cloridrato de promazina, escopolamina, cloridrato de
dibucaína, prometazina e cloridrato de fenciclidina 59. A seguir
Desenvolvido em 1.931 por Young, o teste original utilizava é mostrada, na equação, a reação balanceada entre o rea-
o reagente de tiocianato de cobalto a 2% com cloreto de estanho gente e a cocaína (R3NH+) 58.
(II) em meio ácido. Este teste baseia-se na reação de comple-
xação da cocaína com o cobalto, formando um complexo que [Co(SCN)(H2O)5 ]+ (aq) + 3SCN- (aq) + 2 R3NH+–> (R3NH)2Co(SCN)4 + 5H2O(l)
pode ser visualizado devido ao aparecimento de uma coloração
azul. Devido à baixa seletividade do teste, várias modificações Teste com o reagente de Scott modificado
foram realizadas a fim de diminuir os falsos positivos 58. É impor-
tante ressaltar que o aumento da concentração do tiocianato de Em 1.986, a fim de otimizar o teste de Scott, Fasanello
cobalto alterará favoravelmente a sensibilidade do teste, porém e Higgins modificaram o reagente, adicionando ácido clorídrico
negativamente a sua seletividade. A Perícia Criminal de Minas em sua formulação, porém mantendo-se a mesma concentração
Gerais utiliza uma concentração de 0,5% do tiocianato de cobal- do sal (2%), fazendo com que ele reagisse tanto com a cocaína
to acidificado, priorizando a seletividade do método em relação na forma de cloridrato como na forma de base livre (ex.: crack,
à sensibilidade. Neste procedimento, é adicionado sobre uma merla, pasta base). O restante do procedimento manteve-se, ha-
fração da droga gotas do reagente que pode ser preparado já vendo aparecimento da coloração azul ao adicionar o reativo, se-
acidificado com ácido clorídrico, a fim de reagir com a cocaína guido do desaparecimento da cor ao adicionar o ácido clorídrico
tanto na forma de cloridrato como na sua forma neutra. O desen- a 10% e, na etapa final, com a adição do clorofórmio, ocorrendo
volvimento da coloração deve ser observado em até 5 minutos, a novamente o aparecimento da coloração azul na porção inferior
fim de se evitar falsos positivos (Figura 5) 14. da solução 59.
Objetivando-se melhorar ainda mais esse teste, prin-
cipalmente em relação à seletividade, o uso da concentra-
ção do reagente numa concentração de 0,15%, apesar de
diminuir a sensibilidade do método, o torna bastante sele-
tivo para a cocaína se comparado com as outras concen-
trações. Neste método, é adicionado o reativo sobre a dro-
ga, em seguida o solvente diclorometano. Caso a cocaína
esteja na forma de cloridrato há desenvolvimento de uma
coloração azul na porção orgânica inferior. Caso se trate
de cocaína na forma de base livre é necessário adicionar
Figura 5: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva gotas de uma solução de ácido clorídrico a 20% para que
(à direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de a cor azul apareça (Figura 6). É importante ressaltar que
tiocianato de cobalto a 0,5% acidificado (arquivo pessoal). a adição do reagente sobre amostras de cocaína contendo
levamisol (fármaco anti-helmíntico) como adulterante, pro-
Teste com o reagente de Scott original duz uma coloração azul na primeira etapa do teste, masca-
rando o resultado para a cocaína 14.
Desenvolvido em 1.973 por Scott, este teste foi basea-
do no teste de tiocianato de cobalto e é realizado em etapas,
sendo necessária a reação positiva nas três etapas para a
correta identificação da droga 58. O ensaio utiliza o reagen-
te de tiocianato de cobalto a 2% contendo glicerina que, ao
entrar em contato com a droga, desenvolve uma coloração
azul, baseado no mesmo princípio do teste de tiocianato de
cobalto. Na segunda etapa, são adicionadas gotas de ácido
clorídrico concentrado que provocará a mudança da colora-
ção da solução de azul para rosa (cor original do reagente).
Na última etapa, é adicionado clorofórmio, fazendo com que
o complexo entre a cocaína e o cobalto migre para a fração
orgânica, reaparecendo a coloração azul na porção inferior
do meio 55. Esse teste possui boa sensibilidade, reagindo com
amostras bem diluídas, porém pode reagir com outros fárma- Figura 6: Reação negativa (à esquerda) e reação positiva (à
direita) para a cocaína, mediante o uso do reagente de Scott a
cos como o cloridrato de difenildramina, cloridrat de clorpro-
0,15% (arquivo pessoal).

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Imunocromatografia seguido de imersão da fita do imunoensaio na solução e, após


cinco minutos, a leitura é realizada. O desenvolvimento de uma
A fim de obter resultados mais fidedignos para amostras linha na região do controle indica que a eluição da amostra ocor-
muito diluídas ou para confirmar resultados duvidosos obtidos reu de forma adequada, e a ausência de uma linha na região do
nos testes citados anteriormente, a imunocromatografia pode ser teste indica a presença da droga na amostra, devendo o analista
utilizada como técnica de triagem também para drogas brutas. atentar para esta característica do teste. Existem disponíveis no
Apesar dessa técnica ter sido desenvolvida para ser aplicada em mercado imunoensaios para identificação de cocaína, maconha
fluidos biológicos em 2.012 a avaliação da aplicabilidade para e ecstasy separadamente, além de testes multidrogas, os quais
análise de drogas em material apreendido mostrou ter adequada podem detectar várias drogas simultaneamente (cocaína, maco-
sensibilidade e seletividade 60. A técnica é baseada na ligação nha, anfetamina, metanfetamina, opióides, fenciclidina e outras).
de anticorpos presentes numa membrana de celulose que, ao Apesar das vantagens sobre as outras técnicas, o elevado custo
se ligar com a droga (antígeno), é eluída ascendentemente pela deste teste muitas vezes inviabiliza sua adoção na rotina pericial,
membrana, desenvolvendo uma coloração na zona de leitura e além de algumas drogas ainda não serem detectadas por tais
do controle da tira. O procedimento do teste é baseado na extra- testes (ex.: NBOMe, catinonas, triptaminas, LSD e canabinóides
ção da droga em meio aquoso sob agitação vigorosa, principal- sintéticos) 60. Na Figura 7 é mostrado um esquema da fita de
mente para as drogas pouco hidrofílicas (ex.: maconha, crack), imunoensaio para pesquisa de cocaína.

Figura 7: Resultado positivo para determinação de cocaína por imunocromatografia em fita de imunoensaio (arquivo pessoal).

Cromatografia em camada delgada (CCD) ascendente, ocorrendo a eluição da droga e separação dos ou-
tros constituintes da amostra que terão diferentes interações com
As técnicas cromatográficas são técnicas de separação de a fase móvel e estacionária em relação à cocaína. Após a mi-
misturas de amostras por processos físicos e químicos, garan- gração do solvente até um determinado ponto na cromatoplaca,
tindo melhor seletividade em relação às técnicas colorimétricas esta é retirada da cuba, levada à capela e borrifada um revelador
citadas anteriormente. No entanto, são mais onerosas, trabalho- químico que reagirá com a molécula da cocaína desenvolvendo
sas, necessitam de um ambiente laboratorial para sua realização uma cor 61.
e também são consideradas como técnicas de triagem quando Os reativos mais utilizados para a cocaína são o reagente
utilizados reagentes cromogênios para a identificação de uma Dragendorff e o Iodo Platinado acidificado. A positividade do teste
determinada droga. Neste procedimento, a amostra da droga se dará caso a amostra problema apresente o mesmo Rf (fator
é extraída com um solvente orgânico de alta miscibilidade (ex.: de retenção) e cor idêntica ao padrão aplicado na cromatoplaca.
metanol para o cloridrato de cocaína e clorofórmio ou éter etílico É indicado aplicar juntamente ao padrão outros possíveis adul-
para o crack), sendo o solvente aplicado num suporte contendo terantes, a fim de verificar o Rf destes em relação à cocaína no
uma fase estacionária (ex.: sílica) que é colocada dentro de uma método utilizado 14,62.
cuba de vidro contendo uma fase móvel constituída de uma mis- A Figura 8 mostra uma cromatoplaca revelada com o reati-
tura de solventes (ex.: clorofórmio, acetona e hidróxido de amô- vo de Dragendorff para pesquisa de cocaína por CCD.
nio). O solvente, então, migra pela fase estacionária no sentido

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Cromatografia gasosa acoplada à


espectrometria de massas

Lidocaína Esta é a técnica padrão ouro para identificação e, se ne-


cessária, quantificação da cocaína em droga bruta, dada sua
sensilidade (ppm) e principalmente seletividade frente às outras
técnicas citadas anteriormente. Porém, tanto a aquisição como
a manutenção do equipamento é altamente custosa em relação
aos outros métodos. Nesta análise a amostra é extraída com um
solvente orgânico, o qual é injetado e vaporizado no injetor do
Cocaína equipamento. A amostra é então percorrida por uma coluna con-
tendo uma fase estacionária (ex.: polidimetilfenilsiloxano) sob um
fluxo constante de um gás de arraste (ex.: hélio ou hidrogênio).
Ao percorrer a coluna a cocaína é separada dos outros consti-
tuintes da amostra, sendo encaminhadas sendo encaminhadas
ao espectrômetro de massas. No espectrômetro de massas a co-
caína é ionizada e fragmentada na fonte de ionização por impac-
to por elétrons, e os íons conduzidos conduzidos para um filtro de
massas (ex.: quadruplo) que é responsável por focalizar uma fra-
ção destes íons com uma razão massa/carga (m/z) pré-definidos
Cafeína pelo analista. Os íons de m/z selecionados são direcionados para
um detector que amplificará o sinal, gerando o espectro de mas-
sas da substância e, que por meio de um software, poderá ser
visualizado e interpretado na tela do computador 50,63. O espectro
de massas obtido da molécula analisada na amostra questionada
é comparado com um banco de dados de espectros de massas
de várias substâncias químicas. Uma alta similaridade entre o
espectro de massa obtido na amostra com o espectro da coca-
ína contido no banco de dados do equipamento, além do mes-
mo tempo de retenção da molécula presente na amostra com
Figura 8: Cromatoplaca de sílica para análise de cocaína, um padrão de referência previamente injetado no dia, garante a
lidocaína e cafeína, com a utilização do reativo de Dragendorff identificação da cocaína na droga apreendida. A seguir (Figura
como revelador (fase móvel - clorofórmio:acetona:hidróxido de 9) mostra-se o espectro de massas da cocaína, o qual pode ser
amônio 90:10:0,25) (arquivo pessoal). considerado como a “impressão digital” química dessa molécula.

Figura 9: Espectro de massas da cocaína obtido por impacto por elétrons (70eV) 65.

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identificação da cocaína, sabendo avaliar de acordo com as limi- 10-FERREIRA, P.E.M; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas, história e
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beração de resultados falsos positivos ou negativos, o que pode- 11-BUCHER, R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Ale-
ria comprometer o trabalho policial e a credibilidade da instituição gre: Artes Médicas, 1992.
pericial. Ademais, torna-se necessário que todos os envolvidos 12-MAIA, C.R.M,; JURUENA, M.F.P. Cocaína: aspectos históricos,
no processo sejam informados da técnica utilizada pelo Perito farmacológicos e psiquiátricos. Revista da Associação Médi-
Criminal no ensaio, a fim de ser possível sua avaliação quanto à ca do Rio Grande do Sul, v.40, p.263-273, 1996.
adequação do método frente à amostra ensaiada. Embora ainda 13-DENG, S.X.; DE PRADA, P.; LANDRY, D.W. Anticocaine cata-
não haja uma padronização em nível nacional dos ensaios de lytic antibodies. Journal of Immunological Methods, v.269,
triagem e definitivo de drogas em material bruto, tal medida seria p.299-310, 2002.
extremamente salutar tendo em vista a harmonização dos proce- 14-PASSAGLI, M. Toxicologia forense: teoria e prática.
dimentos adotados por todos os Peritos Criminais, evitando-se, 4.ed. Campinas: Millennium, 2013.
assim, diferenças na qualidade de laudos toxicológicos definiti- 15-HAAS, L.F. Coca shrub (Erythroxylum coca). Journal of
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