Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
digo Fiscal", Buenos Aires, 1942, págs. atingido, devemos começar conceituan-
893 e 394). do as isenções.
Conceituado o fato únponíveZ como Os Estados modernos, inspirados em
a situação que a lei do impôsto elege motivos de interêsse público ou por
para constituir o pressuposto do tri- conveniência de ordem internacional,
buto, verificamos que somente com a costumam conceder isenções de impos-
ocorrência dêsse fato pode surgir para tos.
o Estado o direito ao crédito do im- Em razão dessas isenções, certas
pôsto, e, para o indivíduo, a correla- pessoas ou certos fatos ficam excluídos
tiva obrigação do seu pagamento. de ônus tributários, embora com rela-
Para completar os nossos esclareci- ção a uns e outros se verüiquem os
mentos acêrca do fq,to imponíveZ e do pressupostos do Ímpôsto, tais como
exato sentido da relação entre a lei vêm definidos nas leis fiscais.
do impôsto e êsse '[Yf',essuposto de fato, As isenções são classificadas doutri-
importa recordar que os autores re- nàriamente em subjemvas ou pessoais
correm geralmente, para melhor ex- e objeti'Vill8 ou reais.
plicá-lo, ao paralelismo existente entre As subjetivas Ou pessoais são aquelas
a relação a que acabamos de nos re- que têm como causa uma particular
ferir e a que há entre a lei penal e o consideração do sujeito do impôsto e,
fato criminoso, pretendendo que os fe- por isso mesmo, são aplicáveis somen-
nômenos muito se assemelham (Jarach, te à própria pessoa do beneficiário.
Jeze) . Constituem, assim, exceções à regra da
A lei penal define certas ações como genel'alidade dos tributos, que é, hoje,
criminosas, combinando sanções aos que dominante em todos os Estados moder-
as praticarem. N o momento em que nos. São elas instituídas, relativamen-
um dêsses atos é praticado, fica o seu te a um ou mais impostos, sõmente por
autor sujeito à sanção penal estatuída motivos de ordem política ou econô-
na lei. mica.
Do mesmo modo, a lei do impôsto de- Os casos de isenç.ões subjetivas va-
fine certos "atos para sujeitá-los a riam de país a país, podendo ser, en-
tributos, cujo valor indica. No momen- tretanto, indicados, como exemplos, as
to em que uma pessoa pratica um que são concedidas, por lei, aos mem-
dêsses fatos, a que denominamos fatos bros do Corpo Diplomatico, aos Sobe-
imponíveis ou fatos geradores, fica ranos e Chefes de Estado, às insti-
obrigada ao pagamento do tributo es- tuições de assistência hospitalar, aos
tabelecido na lei do impôsto. jornalistas e professôres (Constituição
Assim como não pode existir crime federal, art. 203 e art. 27 das Dispo-
a punir sem a prévia existência de sições Transitórias).
um fato criminoso, não pode também As isenções objetivas ou l'eais são
existir um impôsto a cobrar sem que aquelas que se referem sõmente ao
tenha previamente ocorrido um fato elemento fático ou objetivo do pres-
i7l'Lponível. suposto, isto é, são as que excluem
As isenções - As leis de impostos do ônus fiscal certos fatos de natureza
podem, entretanto, sofrer derrogações ou de conseqüências econômicas, sem
parCIaiS e específicas, mediante as se preocupar com a pessoa física ou
chamadas leis de isenção, as quais co- jurídica que venha a ser sua benefi-
brem com a imunidade fiscal certas CIaria. Nestas, portanto, a pessoa do
pessoas ou certos fato';! definidos nas contribuinte não entra em linha de
leis de impostos como passíveis de tri- conta, pela simples razão de que a
butação. isenção transforma o lato imponível
Para fazermos uma análise dos (lei do impôsto) em fato não imponí-
efeitos da lei de isenção sôbre o fato veZ (lei de isenção), não havendo, por
imponívet, que é por ela diretamente isso mesmo, o segundo momento da
362 -
droit, privé, visant avant toutes choses Poul' le recouvrement de l'impôt, les
à protéger le contribuable contre les rapports juridiques qui permettent de
atteintes du Fisc. C'est le parti des déterminer le contribuable, pourraint
civilistes. A travers les études fisca- s'apprécier d'apres les regles du droit
les de Mm. Geny, Pilon, Savatier, La- pnve. SUl' ce point, actuellement, la
lou, s'exprime véritablement un acte jurisprudence fiscale semble appliquer
de foi dans la suprématie du droit les dispositions du droit privé. Lor-
privé, et ces auteurs condamnent sé- qu'un bien a été reconnu "matiêre
verement toutes les atteintes que lui imposable", abstraction faite, au be-
portent la jurisprudence ou la prati- soin, de la loi de droit privé, il faut
que fiscales. A cette attitude défen- encore savoir au nom de qui l'impôt
sive s'oppose celle d'un parti qui sem- doit être établi. Dans cette nouvelle
ble plus hardi et plus novateur, plus hypothêse, qui se présente dês les ope-
affranchi du moins, car il se refuse rations d'assiette, mais qui ne se
à reconnaitl'e, à priori, la supériorité rapporte plus uniquement á ces opé-
d'une formule juridique quelconque, rations, le fisc recherche alors le con-
flit-se celle du Code civil. Tendant au tribuable, en faisant état de son statut
contraire à admettre le caractere spé- de droit privé. Le contribuable parait
cifique, l'autonomie, au moins relative, en effet défini par certains rapports
des différentes disciplines, Ces "indé- juridiques (propriété, possession) qui
pendants" considérent comme une réa- existent entre lui et la matiere im-
lité juridique qu'n est vain de criti- posable, base de l'imposition. C'est-à-
quer, et qu'il vaut mieux expliquer, dire que le droit fiscal laisse généra-
la loi, la jurisprudence, et la pratique lement au droit privé le soint d'établír
fiscales" (Louis Trotabas, "Essai sur les rapports d'une personne et d'un
le droit fiscal", in "Revue de Sciencn bien, et non plus les rapports de cett~
et de Législation Financieres", 1928, personne ou de ce bien avec le fisc"
pág. 201). (Louis Trotabas, ob. cit., pág. 234).
Nós nos sentimos à vontade para de- A lição de Trotabas nos mostra que
bater o assunto, porque somos parti- nem mesmo a doutrina autonomista
dários da corrente autonomista e não pode ser invocada para dar legitimi-
temos objeções maiores a formular às dade jurídica à ousada tentativa do
teses sustentadas por Trotabas. agente fiscal baiano de desatender,
de modo flagrante, às regras de di-
A autonomia advogada pelo ilustre reito privado para atribuir fatos su-
Professor se circunscreve à questão do postamente imponvveis a uma emprêsa,
reconhecimento da existência de um que lhe é jurIdicamente estranha.
sistema de princípios peculiares ao di- Note-se, porém, que a doutrina au-
reito fiscal, de sua filiação ao direito tonomista, mormente na parte em que
público e da autonomia daquele direito advoga a oposição da realidade econô-
na definição legal e na conceituação mica à forma jurídica, é, de ordinário,
interpretativa dos fatos imponíveis. considerada como revolucionária e
N a determinação do contribuinte, vem encontrando a maior resistência
isto é, na atribuição do fato imponí- na França, na Bélgica, na Holanda, em
vel a uma pessoa física ou jurídica, Portugal e na Itália, países em que a
porém, é o próprio autonomista Tro- jurisprudência e a torrente dos dou-
tabas quem nos vem dizer que o fisco trinadores opõem todos os obstáculos
está vinculado ao direito privado, nada à sua aceitação.
podendo a administração fiscal opor De maneira muito excepcional a
às situações jurídicas criadas de acôr- Côrte de Cassação italiana, na aplica-
do com <> direito civil ou comercial. ção da lei do impôsto de registro, cuj I)
Eis as palavras textuais do eminente art. 80 autorizava expressamente a iu-
autor: terpretação econômica, acolheu em &1-
- 366
dique" (Pierre Aeby, ob. cit., págs Pierre Aeby, ob. cit., págs. 317 a
319 a 320 a). 318 a).
Convém lembrar, entretanto, que o Em 1934 a lei de adaptação imposi-
critério econômico de interpretação das tiva "Steuranpassungsgesetz") dispõe
leis fiscais sOmente logrou impor-se na também no seu art. lOque "as leis tri-
Alemanha como processo destinado a butárias deviam ser interp'retadas se-
coibir a evasão fiscal, mediante sua gundo a concepção nacional-socialista,
expressa inco1'p01'ação à l~[Jisla:ção tri- sua finalidade, seu conteúdo econômico
butária. e o desenvolvimento das circunstâncias"
Examinando os dispositivos legais Dino Jarach, ob, cit., pág. 111, nota
pertinentes à matéria, escreve o Prof. 197).
Pierre Aeby: E' explicável <) advento do critério
econômico de interpretação das leis fis-
«Clause génémle permettant de
cais, na Alemanha; pela característica
parer aux moyens d' echappM'
autoritária que, tradicionalmente, tem
à la contributwn,
marcado o seu direito público,
Une clause de ce genre existe dans Não poderiamos, porém, assimilar
la loi allemande ou elle a provoqué irrestritamente tal doutrina, nos têl-
une vive discussion. mos em que a formulam certos juristas
l'Ordonnance de l'Empire en ma- alemães e muito menos consagrá-la em
tiere d'impôt contient deux dispositions lei, porque VIrIa instituir, em país
d'ordre général que nous ne ferons como o nosso, uma odiosa ditadura
que signaler. Ce sont les § § 9 e 10 fiscal, incompatível com a nossa con-
de cette ordonnance. cepção de estrita legalidade do crédito
Les tendances du § 9 sautent aux do impôsto.
yeux: "Dans l'application des lois fis- Objetar-se-á, no entanto, que a
cales il y a lieu de tenir comte de leu r Suiça, que é uma democracia exemplar,
but, de leur portée économique sentiu-se atraída pela teoria da inter-
"wirtschaftliche Bedeutung" - et du pretação econômica, em matéria fis-
développement des circonstances cal. Estamos de acôrdo em que o ar-
"Entwicklung der Verhaltnisse". gumento deve ser considerado. A êle
'Le :§ 10, lui, part d'une notion de responderemos que a Suiça ao adotar
droit civil, celIe de l'abus de droit êsse princípio, fê-lo com cautela e se-
"Rechtsmissbrauch" - et déclare que gurança, discriminando cuidadosamen-
l'obligation de payer l'impôt ne sau- te as hipóteses em que se admite essa
rait être ni l'édute, ni suprimée par interpretação, dando-lhe alcance preciso
le fait que les intéressés recourraient, e estabelecendo também os domínios em
d'une maniere abusive, aux possibi- que ela não pode penetrar,
lités offertes par le droit privé d'user Embora a tentativa do fiscal de ren-
de formes ou de modalités particuliere- das - Honorato Viana - de sobrepor
ment favorables. a sua própria interpretação econômica
Ou le :§ 10 devient plus incisif, c'est à legalidade formal dos negócios reali-
lorsqu'il énumere les cas dans lesqueIs zados pela Sociedade Atlântica Ltda.
i1 y a "abus de droit" dans le sens - óleos Vegetais e pela Companhia In-
du primier alinea. La pensée maihais- dustrial da Bahia SI A" esbarre em
se des précisions donnés sous trois irremovível impossibilidade jurídica,
chiffres différents, c'est qu'il y a por isso que a legislação, a doutrina e
" abus de droit" Iorsque, en dépit de a jurisprudência brasileira a ela se
la loi qui soumet à l'impôt certains opõem de maneira categórica, vamos
états de faits ou rapports économiques, expOr o sistema suíço para demonstrar
les parties choisissent, pour échapper que, ainda que a hipótese tivesse de
à cet impôt, des modalités ou des actes ser decidida de acôrdo com aquêle di-
juridiques différents et inaccoutumés" reito estrangeiro, o resultado seria
- 368-
que des faits ser a excepcionnellement "En 1933, dans un arrêt fondamen-
admisse chaque fois que l'autorité fis- tal rédigé en français, Ie Tribunal fé-
cale aura prové que l'impôt a été éludé. déral a développé de façon tres dé·
L'action d'éluder l'impôt donne au taillée ses idées sur l'action d'éluder
fisc un moyen d'interprétation de la l'impôt. Prenant à son compte les con-
loi que la nature juridique stricte- clusions de Blumenstein, il a déclaré
mente légale et objetive de la créance qu'une autorité fiscale n'a le droit de
d'impôt exclut en principe. considerer un impôt comme éludé que
Telle est la régle générale; il onus si elle a prouvé deux faits: (1) emploi
reste à precIse r en quoi consiste d'une forme anormale, <l'un procédé
l'action d'éluder l'impôt" (MarceI Wur- insolite (élement objectif); (2) emploi
lod, ob. cit., pág. 96). de cette forme uniquement pour dimi-
Páginas adiante Wurlod cita e co- nuer ou exclure la charge fiscale (élé-
menta um recente acórdão do Tribunal ment subjectif). Il a posé le principe
Federal, no mesmo sentido: que seuIe la preuve de ces deux élé-
"Seules les autorités fiscales ont Ia ments peut autoriser le fisc à ne pas
possibilité d'opposer la réalité économi- tenir compte d'une forme du droit
que à la forme juridique, puisque la privé.
premiere ne peut exceptionnellement En l'espece, il s'agissait de savoir
prévaloir que lorsqu'il y a tentative si une societé anonyme valable selon
d'éluder l'impôt". le droit privé, mais entiêrement dé-
Si l'appréciation économique des faits pendante d'une autre société, devait être
est la sanction d'un acte répréhensible, reconnue comme sujet fiscal indépen-
la solution du Tribunal Fédéral nou:'! dant; le fisc avait-il, au contraire, le
paraít parfaitement logique; en effet, droit d'apprécier économiquement les
touts les cas ou l'atteinte à la bonne faits et de considerer les deux sociétés
foi, qui justifie ce traitement excep- comme un seul contribuable malgré leu r
cionnel, n'est pas présente, entrainent forme juridique?
l'application de la regle générale, qui Le Tribunal Federal a admis que la
veut que les formes du droit privé forme juridique était "anormale". n
lient le fisc et le contribuable. Cette n'a cependant pas reconnu au fisc can~
solution est certainement la plus con- tonal le droit d'apprécier économique-
forme à la nature juridique de la cré- ment les faits parce que l'élement sub-
ance d'impôt" (Marcel Wurlod, ob. cit., jetif de l'action d'éluder l'impôt n'était
pág. 121). pas présent; la société n' avait, en effet,
Para que a doutrina e a jurispru- pas été constituée dans l'unique in-
dência admitam, porém, que por meio tention de diminuer la charge fiscale"
de uma forma jurídica se visou uma (M~rcel Wurlod, ob. cit., pág. 99).
evasão fiscal, são ainda necessários Pelo parecer do eminente jurista
dois requisitos fundamentai;.: 10) o Eduardo Espínola, que acompanha a
""--emprêgo de uma forma jurídica anor- consulta, vemos que a forma jurídica
mal, de um processo insólito (elemento usada nos contratos entre a '·Orquima"
objetivo); e 2°) que tal -forma tenha e as duas sociedades não é anormal
sido empregada unicamente para di- e nem é contrária aos usos e costu-
minuir ou excluir a carga fiscal (ele- mes comerciais.
mento subjetivo). Tendo sido demonstrado anteriormen-
SOmente quando há a concorrência te que tais contratos não visaram e
dêsses dois elementos é que o fisco nem poderiam ter visado ainda que
pode deixar de lado a forma de direito remotamente a supressão de encargos
privado para tomar em consideração a fiscais, visto que a atividade industrial
realidaile econômica. que constitui a objeto dos mesmos go-
A respeito dêste aspecto do problema zava de ampla isenção, verificamos que
escreve Wurlod: não ocorreu nenhum dos imprescindí-
- 372-