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ISENÇÃO FISCAL - FATO IMPONíVEL OU GERADOR DO IM"


PôSTO - ISENÇõES PESSOAIS E REAIS - REALIDADE
ECONôMICA CONTRA FORMA JURíDICA EVASÃO
FISCAL
- Não pode existir um impôsto a cobrar sem que tenha
previamente ocorrido um fato imponível.
- Se um fato imponível é, pela lei de isenção, excluído
do ônus fiscal êle perde desde logo essa categoria para trans"
formar-se em fato não sujeito à imposição.
- A substituição do critério jurídico pelo de conteúdo
econômico na qualificação do fato imponível e no processo
de sua atribuição a uma pessoa física ou jurídica, implica
trocar o princípio da legalidade por cânones de insegurança
e de arbítrio, incompatíveis com o sistema constitucional
brasileiro.

PARECER Com êsse objetivJ foram celebrados


os contratos que estão publicados no
Consulta A Orquima, Indús- Memorial, com base nos quais foram
trias Químicas Reunidas SI A., no de- aumentadas consideràvelmente as pro-
curso do ano de 1943, considerando as duções de ambos os estabelecimentos
favoráveis condições para obtenção de industriais.
matéria prima e as vantagens decor- A isenção fiscal prevista no Decreto-
rentes do decreto-lei n.o 11.851, de 27 lei n.o 11.851, de 27 de fevereiro de
de fevereiro de 1941, do Govêrno da 1941, e que fôra dada por cinco anos,
Bahia, que concedia isenção de todos foi posteriormente prorrogada pela lei
os impostos e taxas estaduais até 1946, n.o 52, de 19 de dezembro de 1947,
a tôda indústria que se estabelecesse excluídas as taxas, por período igual,
naquele Estado, para aproveitamento devendo vigorar até 1951.
de sementes oleaginosas, ou, em geral,
matérias primas vegetais, em fabrica- As transações contratarias entre a.
ção de óleos e seus subprodutos, tais Orquima e as duas sociedades bahianas
como tortas, farinhas, carvão e resí- desenvolveram-se normalmente, tendo,
duos outros, resolveu estudar as possi- em razão delas, se expandido conside-
bilidades de instalar naquele Estado ràvelmente a produção de manteiga e
uma indústria dêsse gênere. torta de cacau e a de óleo e torta de
mamona.
As conclusões do inquérito, para êsse
fim realizado, demonstraram que, em- Acontece, porém, que em agôsto de
bora a Orquima pudesse gozar da isen- 1948 foi a Orquima autuada por su-
ção legal de tributos e tivesse fácil posta sonegação de impostos, como se
acesso às fontes produtoras de matéria vê do seguinte têrmo de verificação:
prima, seria mais conveniente aos in- (Segue a transcrição do têrmo).
terêsses da administração da emprêsa Como se depreende do têrmo de veri-
entrar em entendimentos com as indús- ficação, o agente fiscal autuante pro-
trias já existentes na Capital bahiana cura situar a .. Orquima" como sujeito
- Sociedade Atlântica Ltda. - Óleos passivo de uma relação tributária que
Vegetais e· Companhia Industrial da tem como fatos imponíveis a produção,
Bahia SIA. - para, mediante vanta- venda e exportação de manteiga de
gens recíprocas, concertarem o aumen- cacau, torta de cacau, óleo de mamo;na
to da produção das referidas indústrias. e torta de mamona.
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Estão os autuantes de acôrdo em do pressuposto de fato, que gera a obri-


que, se as operações de produção, ven- gação tributária.
da e exportação de tais produtos tives- A criação do crédito do impôsto é
sem sido feitas pelas firmas Sociedade operação jurídica complexa, que reclama
Atlântica Ltda. - óleos Vegetais e uma análise precisa de todos os seus
Companhia Industrial da Bahia SI A., elementos característicos, dos quais o
não teriam ocorrido os fatos imponí- mais importante é justamente o fato
'veis, ou os fatos geradores dos diversos imponível, que na linguagem técnica,
tributos, por isso que ditas firmas ha- recebe também as denominações de
viam obtido do Poder Executivo a in- fato gerador (Jeze, Damervalle), p1'es-
dividualização da norma geral de isen- suposto de fato (Giannini, J arach),
ção, em seu favor. pressuposto legal do tributo (Jarach)
Perdendo de vista os têrmos das leis ou situação de fato (Giannini).
gerais de isenção, para ,,'omente con- De início convém recordar que a
siderar os decretos que as aplicaram às obrigação fiscal é uma obrigação ex-
duas referidas firmas, o agente fiscal lege e que, como diz Jarach, "o prin-
tomou como -isenções pessoais ou subje- cípio fundamental que, no Estado mo-
tivas uma isenção real 0"" objetiva. derno, é próprio dos tributos, é o prin-
Em face da exposição feita, dos con- cípio nullum triblltum sine lege, em
conseqüência do qual só surge uma
tratos e demais documentos que figu-
ram no Memorial impresso, pergun- pretensão da administração ao tribu-
to e de maneira correspondente uma
ta-se:
obrigação para o particular, se uma
1. Qual a natureza jurídica das lei, em sentido material e não somente
isenções previstas no dec.-Iei na 11.851, formal, prevê o fato jurídico que lhe
de 27 de fevereiro de 1941, e na lei dá nascimento, os sujeitos aos quais
na 52, de 19 de dezembro de 1947? corl'espondem a pretensão e a obriga-
2. Essas isenções podem ser invo- ção, e a medida destas" (Jarach, "EI
cadas pela "Orquima", como defesa, no hecho imponible", Buenos Aires, 1943,
processo administrativo instaurado com pág. 30).
base no auto de verificação? Estamos de acôrdo, em tese, com
3 . Pode o fisco brasileiro, pal'a J arach, mas, tendo em vista o direito
fins de atribuição de fatos imponíveis brasileiro, devemos convir em que não
a pessoas físicas ou jurídicas, opor o basta a existência da lei do impôsto
conteúdo econômico à forma jurídica? para a criação do crédito fiscal. Ela
4. Foi a "Orquima" omissa quanto é, para nós, uma lei imperfeita, que
a obrigações tributárias para com o não tem a fôrça obrigatória das ou-
Estado da Bahia, sob a forma de eco- tras leis. Para que sua eficácia se
nomia, evasão ou fraude fiscal? exerça, em cada exercício financeiro,
5. É juridicamente possível a é indispensável que a receita COI'I'es-
criação, a favor do Estado da Bahia, pondente ao tributo criado na lei fi-
dos créditos de impostos enumerados gure no orçamento da receita. É o
no auto de verificação'? orçamento da receita que põe em vigor,
anualmente, a lei do impôsto. As
PARECER duas únicas exceções a eSSa regra são
Como introdução ao estudo da ma- a tarifa aduaneira e o impôsto lan-
téria versada na consulta, desejamos çado por motivo de guerra (Consti-
expor, de modo sucinto, alguns prin- tuição federal, art. 141, § 34).
cípios da teoria geral do direito tri- Dêstes princípios gerais decorre que
butário, relácionados com o fato im- são condições prévias, para que, no
ponível J arach e a isenção fiscal, visto comércio jurídico, possam surgir fa-
que o problema subjacente relevante, tos imponíveis, a existência:
na espécie, é o da existência, ou não, 10) da lei criadora do impôsto;
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20 ) da inclusão da respectiva re- "N a técnica do crédito do impôsto,


ceita no orçamento. um elemento essencial é o fato ge'1'O.dO'r
No direito brasileiro tais condições do impôsto. Essa expressão aparece
prévias assumiram a categoria de prin- correntemente nos estudos doutrinários
cípios constitucionais (Constituição fe- e nas decisões dos tribunais franceses.
deral, art. 141, § 34), enquanto em Que é, porém, '0 fato flerador do im-
alguns outros países decorrem de leis posto?
ordinárias que consagram tradicional- Por essa expressão, entende-se o jato,
mente essa essencial garantia dos con- ou o conjunto de fatos, que permitem
tribuintes, que consiste em assegurar à aos agentes do fisco exercerem sua
representação nacional a prerrogativa competência legal de fazer nascer um
da autorização anual das receitas tri- crédito de certa soma, a título de certo
butárias. impôsto e a cargo de certo contri-
O fato imponÍ1Jel - Sancionada a buinte.
lei do impôsto e incluída a estimativa Por exemplo, a introdução, na fron-
da receita, que lhe corresponde, no Or- teira, de uma mercadoria compreen-
çamento, certos fatos passam a incidir dida nos têrmos da tarifa aduaneira
nas definições e nos conceitos da lei é, para o importador, o fato gerador do
fiscal como matéria tributável, razão impôsto de importação.
pela qual a doutrina os caracteriza A 'l?wr<te de um indivíduo é, para
como fatos imponÍt,eis, isto é, como fa- os herdeiros do falecido, o fato gerador
tos sujeitos à imposição fiscal. do impôsto de sucessão.
A situação jurídica de proprietário
Alguns autores, como Jarach, Gian-
de um terreno ou de uma casa no dia
nini, Tesoro e Vanoni, entendem que a
10 de janeiro de cada ano é, na França,
dívida fiscal nasce no momento mes-
para cada proprietário, o fato ger>ador
mo em que se realiza o fato ao qual a
do impôsto imobiliário" (Gaston Jeze,
lei vincula a imposição; outros mes-
"Le fait générateur de l'impôt", in
tres, como Jeze, Damervalle, Ingrosso
Revue de Science et de Legislation Fi-
e Myrbach Rheinfeld, embora dêm
nancieres", 1937, pág. 604).
todo o relêvo ao fa.to gerador, que con-
O Prof. Dino J arach, um dos mais
sideram como pressuposto essencial do
ilustres discípulos da escola financeira
débito do impôsto, sustentam que a dí-
vida fiscal sõmente nasce em virtude de Pavia, dirigida pelo eminente e
do lançamento. sábio Prof. Benvenuto Griziotti, de-
dicou ao tema, que estamos debatendo,
Essa divergência, entretanto, não en- uma monografia do mais alto valor,
volve qualquer restrição à importân- na qual demonstra que ao fato impo-
cia de fato imponível, que, para ambas nível se vincula tôda a problemática
as correntes, é o pressuposto originário jurídica das relações entre o direito
indispensável da obrigação fiscal, bas- privado e o tributário, tôdas as ques-
tando lembrar que Jeze, Damervalle tões referentes aos sujeitos ativos e
e a jurisprudência francesa lhe dão a passivos das obrigações tributárias, às
designação até mais expressiva de fato isenções e às evasões fiscais.
J}erador do impõsto. "A obrigação tributária em geral,
Vamos passar agora, em revista, a do ponto de vista jurídico, escreve Ja-
eonceituação dada, por alguns auto- rach, é uma relação jurídica ex-Iege,
res, ao fato imponível, a fim de re- em virtude da qual uma pesSOa (su-
velar tôdas as suas características e jeito passivo princip.al, contribuinte ou
de evidenciar a importância que êle responsável), está obrigada para com
.assumiu no moderno direito fiscal. o Estado, ou outra entidade pública,
O Prof. Gaston J eze, no início do ao pagamento de uma soma de di-
,seu conhecido estudo sôbre o "Fato ge- nheiro, desde que se verifique o p1'es-
rador M impôsto", assim se expressa: suposto de fato, determinado pela lei.
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Por vontade da lei a obrigação do No Anteprojeto de Código Fiscal


contribuinte e a pretensão correlativa para a Argentina, de autoria do Dr.
do Fisco dependem da ocorrência de Carlos M. Giuliani Fonrouge, a ma-
um fato jU1'ídico, o chamado pressupos- téria ficou regulada desta maneira:
to legal do tributo, ou fato imponí'VeZ" "Nascimento da obrigação fiscal.
(Dino Jarach, ob. cit., pág. 63). Art. 17. Os créditos fiscais nascem
O Prof. Ezio Vanoni caracteriza, do quando se produzem as situações que,
mesmo modo, o fato gerador como o de acôrdo com as leis fiscais, dão ori-
momento culminante da relação tribu- gem a uma obrigação tributária, mas
tária, nestas palavras: só são exigíveis a partir da data mar-
" A obrigação tributária concreta cada pelas disposições em virtude das
nasce no momento em que se verifica o quais tiveram origem".
fato da vida social a que a lei vincula Comentando êsse dispositivo, escre-
o aparecimento do débito tributário, veu o mesmo e ilustre especialista:
isto é, no momento, como ensina a dou- "l1::sse artigo resolve uma das ques-
trina tedesca, da TatbcstOllUlsverwir- tões mais controvertidas no direito fis-
klichung. cal, referente ao momento em que nas-
É evidente que, assim como a fonte ce a obrigação fiscal e que se vincula
da obrigação ex delicto é o fato deli- também com o debatido problema da
tuoso, a fonte da obrigaçâo tributária causa em direito financeiro".
é o fato ao qual a lei liga o nascimento Depois de estudar as diferentes po-
do débito do impôsto: o recebimento sições doutrinárias em face da tese
de uma renda, a celebração de um con- contida no artigo transcrito Fonrouge
trato, a abertura de uma sucessão, a prossegue nestes têrmos :
venda de uma mercadoria, a introdu- "Muito se tem escrito sôbre a na-
ção de certas mercadorias na fronteira tureza jurídica do ato de lançamento
de um Estado ou a fabricação de cer- do impôsto, porém, nos inclinamos a
tas outras, etc." (Enzio Vanoni, "Na- considerar mais acertada a opinião que
tura ed interpretazione delle leggi tri- lhe atribui caráter Mclaq·ati'Vo. Mas
butarie", Pádua, 1932, pág. 105). isso não significa que se trate de um
O Prof. A. D. Giannini se filia à ato secundário, sem maior importân-
mesma Icorrenlte, como vemos desta cia; mas, pelo contrário, seus efeitos
passagem: são fundamentais.
"O débito do impôsto nasce no mo- A obrigação naSce ao produzir-se a
mento mesmo em que se verüica aquela situação que dá lugar li obrigação de
particular situação de fato à qual a pagamento, segundo a lei, porém ad-
lei vincula cada impôsto e que pode quire condições de liquidez e torna-se
ser genericamente designada como o exigível ao realizar-se o lançamento.
pressuposto do tributo. Assim, por exemplo, a obrigação de
1llsse pressuposto fornece ainda a pagar o impôsto sucessório nasce com
base fundamental que, integrada por a morte do de cujus por ser êste o fato
outros fatores, permite a concreta de- jurídico que a lei considera como
terminação do montante do débito do causa do impôsto, porém, não se tor-
impôsto" (A. D. Giannini, "lI rappor- nará exigível até que a repartição fis-
to giuridico d'imposta", Milão, 1937, cal realize a liquidação correspondente
pág. 47). ou transcorra o tempo que a lei mar-
Acompanhando as correntes doutri- que para o pagamento.
nárias de maior prestígio, as legisla- São, pois, duas circunstâncias dis-
ções de alguns países, com\'; a da Ale- tintas e de conseqüências diferentes:
manha e do México, consagraram em em virtude da primeira nasce a dívida
lei que o crédito do impôsto nasce do impôsto, pela segunda ela se torna
quando se produz o fato imponí'Vel, líquida e exigível" (Carlos M. Giu-
definido e caracterizado na lei. liani Fonrouge, "Anteproyecto de Cá-
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digo Fiscal", Buenos Aires, 1942, págs. atingido, devemos começar conceituan-
893 e 394). do as isenções.
Conceituado o fato únponíveZ como Os Estados modernos, inspirados em
a situação que a lei do impôsto elege motivos de interêsse público ou por
para constituir o pressuposto do tri- conveniência de ordem internacional,
buto, verificamos que somente com a costumam conceder isenções de impos-
ocorrência dêsse fato pode surgir para tos.
o Estado o direito ao crédito do im- Em razão dessas isenções, certas
pôsto, e, para o indivíduo, a correla- pessoas ou certos fatos ficam excluídos
tiva obrigação do seu pagamento. de ônus tributários, embora com rela-
Para completar os nossos esclareci- ção a uns e outros se verüiquem os
mentos acêrca do fq,to imponíveZ e do pressupostos do Ímpôsto, tais como
exato sentido da relação entre a lei vêm definidos nas leis fiscais.
do impôsto e êsse '[Yf',essuposto de fato, As isenções são classificadas doutri-
importa recordar que os autores re- nàriamente em subjemvas ou pessoais
correm geralmente, para melhor ex- e objeti'Vill8 ou reais.
plicá-lo, ao paralelismo existente entre As subjetivas Ou pessoais são aquelas
a relação a que acabamos de nos re- que têm como causa uma particular
ferir e a que há entre a lei penal e o consideração do sujeito do impôsto e,
fato criminoso, pretendendo que os fe- por isso mesmo, são aplicáveis somen-
nômenos muito se assemelham (Jarach, te à própria pessoa do beneficiário.
Jeze) . Constituem, assim, exceções à regra da
A lei penal define certas ações como genel'alidade dos tributos, que é, hoje,
criminosas, combinando sanções aos que dominante em todos os Estados moder-
as praticarem. N o momento em que nos. São elas instituídas, relativamen-
um dêsses atos é praticado, fica o seu te a um ou mais impostos, sõmente por
autor sujeito à sanção penal estatuída motivos de ordem política ou econô-
na lei. mica.
Do mesmo modo, a lei do impôsto de- Os casos de isenç.ões subjetivas va-
fine certos "atos para sujeitá-los a riam de país a país, podendo ser, en-
tributos, cujo valor indica. No momen- tretanto, indicados, como exemplos, as
to em que uma pessoa pratica um que são concedidas, por lei, aos mem-
dêsses fatos, a que denominamos fatos bros do Corpo Diplomatico, aos Sobe-
imponíveis ou fatos geradores, fica ranos e Chefes de Estado, às insti-
obrigada ao pagamento do tributo es- tuições de assistência hospitalar, aos
tabelecido na lei do impôsto. jornalistas e professôres (Constituição
Assim como não pode existir crime federal, art. 203 e art. 27 das Dispo-
a punir sem a prévia existência de sições Transitórias).
um fato criminoso, não pode também As isenções objetivas ou l'eais são
existir um impôsto a cobrar sem que aquelas que se referem sõmente ao
tenha previamente ocorrido um fato elemento fático ou objetivo do pres-
i7l'Lponível. suposto, isto é, são as que excluem
As isenções - As leis de impostos do ônus fiscal certos fatos de natureza
podem, entretanto, sofrer derrogações ou de conseqüências econômicas, sem
parCIaiS e específicas, mediante as se preocupar com a pessoa física ou
chamadas leis de isenção, as quais co- jurídica que venha a ser sua benefi-
brem com a imunidade fiscal certas CIaria. Nestas, portanto, a pessoa do
pessoas ou certos fato';! definidos nas contribuinte não entra em linha de
leis de impostos como passíveis de tri- conta, pela simples razão de que a
butação. isenção transforma o lato imponível
Para fazermos uma análise dos (lei do impôsto) em fato não imponí-
efeitos da lei de isenção sôbre o fato veZ (lei de isenção), não havendo, por
imponívet, que é por ela diretamente isso mesmo, o segundo momento da
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operação geradora do crédito do im- impostos e taxas, para os fins indi-


pôsto, que consiste na atribuição do cados no seu art. 10, que prescreve:
fato imponível a certa pessoa física ou " Art. 10 É concedida isenção de
jurídica. todos os impostos e taxas estaduais,
Se um fato irnponível é, pela lei de até 1946, a toda indústria existente, ou
isenção, excluído do ônus fiscal, êle que se estabelecer, no Estado, para
perde desde logo essa categoria para aproveitamento de sementes oleogino-
transformar-se em fato não sujeito à sas ou, em geral, de matérias primas
imposição. vegetais do Estado, ou de fora dêle,
A desvinculação essencial entre as em fabricação de óleos e seus subpro-
isenções objetivas ou reais e a pessoa dutos, tais como tortas, farelos, fari-
do contribuinte, eventualmente bene- nhas, carvão e resíduos outros".
ficiada, constitui uma pecularidade es- Posteriormente, pela lei nO 52, de
pecífica dêsse tipo de isenção e é ex- 19 de dezembro de 1947.. dita isenção
plicada pelos próprios fins a que se foi prorrogada, nos seguintes têrmos:
iestinam. Visam elas, em geral, es-
timular a iniciativa privada, sob as " Art. 1° Fica prorrogado. por mais
mais diversas inspirações. Ora o pro- cinco (5) anos, o prazo estabelecido no
pósito é a localização de indústrias em art. lOdo dec.-Iei nO 11.851, de 27 de
certas regiões ou áreas (cidades in- fevereiro de 1941, que concede isenção
dustriais), ora o de incentivar a pro- de todos os impostos estaduais às in-
dução agrícola ou industrial de certos dústrias existentes ou que se estabe-
produtos, ora o de incrementar a cons- lecerem no Estado, para o aproveita-
trução de casas populares ou hoteis, mento de sementes oleoginc~as, ou, em
ora, ainda, se inspira em várias ou- geral, de matérias primas do Estado,
tras finalidades reputadas de interêsse ou de fora dêle. utilizadas na fabrica-
público. ção de óleos e seus subprodutos, tais
Mas, para que a lei deisenção obje- como tortas, farelos, farinhas, carvão
e resíduos outros".
tiva alcance plenamente as suas fina-
lidade;;, tem, necessàriamente, que as- Esta isenção, como estamos vendo,
segurar a imunidade fiscal, de modo é de natureza objetiva ou real. Ela
geral, a todos quantos queiram atender indica certos fatos econômicos para ex-
ao aceno e ao estímulo do Estado para clUÍ-los de tributação, sem se preocupar
o desenvolvimento das atividades eco- com as pessoas físicas ou jurídicas que,
nomICas, cujo amparo é visado. Êsse porventura, venham a praticá-los.
elemento de genera,lidade é mesmo um Se a, lei de isenção não existisse, os
requisito constitucional da isenção ob- fatos nela incluídos estariam sujeitos,
jetiva, pois uma isenção dessa espécie normalmente, ao impôsto de Indústrias
que fôsse concedida para beneficiar e Profissões, ao de Vendas E' Consigna-
apenas as pessoas A e B e que ex- ções e ao seu adicional de 5% destinado
cluisse do seu alcance as pessoas C. ao Instituto de Pesquisas Científicas,
D. E e F. no que concerne aos mes- bem como ao impôsto de Exportação e
mos fatos imponíveis e que se encon- à Taxa de Estatística.
trassem nas mesmas condições das pri- Por fôrça da lei de isenção, todas
meiras, perderia sua legitimidade ju- as operaçi5es econômicas de produção,
rídica para transformar-se em privi- venda e exportação que tivesse como
légio odioso e inconstitucional. matéria prima sementes úleoginosas ou
Conceituados o fato imponível e a produtos vegetais, de fatos imponíveis
isenção fiscal, vamos aplicar os princí- que eram, segundo as leis gerais dos
pios expostos ao caso da consulta. impostos e taxas citados, foram trans-
O Govêrno do Estado da Bahia, pelo formados em fatos não imponíveis,
dec.-Iei nO 11.851, de 27 de fevereiro sendo êste, aliás, o efeito específico da
de 1951, concedeu uma isenção total de lei de isenção.
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A lei não concedeu o benefício da serem definidas e precisadas em face,


isenção a A ou B, mas a todos quantos exclusivamente, do direito objetivo fis-
quisessem colaborar na política de au- cal vigente àquele momento.
mento da produção industrial que ti- Nesse reexame retrospectivo, desde
vesse "omo matéria prima sementes que não haja, como não há, conforme
oleoginosas ou produtos vegetais. Essa se demonstrará, qualquer indício de
isenção não é subjemva ou pessoal, isto evasão ou de fraude fiscal, e desde que
é, não se destina a excluir do impôsto o contribuinte oponha à pre,tensão fis-
certas pessoas. Ela é objetiva ou real cal um direito de isenção objetiva, o
e tem como finalidade cobrir com a Estado tem necessàriamente que aco-
imunidade os fatos de produção indus- lher essa defesa, visto que ela, como
trial, de venda e de exportação de de- já mostramos, elide a pretE,nsão fiscal,
rivados de sementes oleoginosas e de com o transformar fatos imponíveis em
produtos vegetais, qualquer que seja fatos 'fLão sujeitos à imposição.
o industrial acaso beneficiado por ela. Não pode ser equacionado em outros
Desde que os fatos referidos na isen- têrmos o problema jurídico suscitado
ção de imponíveis foram transformados pelo auto de verificação.
em não imponíveis, desapareceu, com Realidt(de econômica contra forma ju-
relação a êles, para o Estado, a possi- rídica - Até aqui consideramos a ma.
bilidade jurídica de tomá-los como pres- téria em tese, de acôrdo com os prin-
supostos de imposição. Com base neles cípios gerais do direito fiscal.
não pode o Estado realizar nenhum Vamos, agora, analisar o auto de
lançamento, não pode lavrar autos de verificação para dêle extrair o seu
verificação ou de infração fiscal, por conteúdo jurldicamente relevante, uma
isso que não são capazes de gerar o vez que somente êste tem importância
crédito do. impôs to . para o nosso estudo.
A análise que vimos de fazer é, ju- Não são os dados objetivos do refe-
rIdicamente, irrespondível. rido auto, isto é, as constatações de
Não constitui sequer uma objeção à fato, tais como os dados quantitativos
tese, por nós enunciada, a alegação sôbre produção, venda e exportação de
implicita no auto de verifi.:ação de que produtos, ou a existência de contratos
a "Orquima" não pode ser beneficiá- entre a "Orquima" e as duas socieda-
ria da isenção, porque não obteve, em des, que apresentam, prima facie, inte-
tempo, a seu favor, o ato administra- rêsse ou relevância jurídica.
tivo de individualização da imunidade O conteúdo jurídico básico ou essen-
fiscal. cial dêsse auto é o que consiste em ter
~sse argumento não tem nenhuma o fisco oposto certa concepção da rea-
relevância jurídica dadas as condições lidade econômica (dado subjetivo) à
de tempo e as circunstâncias sob que forma jurídica (dado objetivo), para
se manifestou a ação do fisco baiano o fim de criar o crédito do impôsto.
que pretende criar, retrospectivamente, Embora tenha verificado a legalidade
uma dívida fiscal. formal da produção, venda e exporta-
Do mesmo modo que o fisco, pode, ção de manteiga e torta de cacau e
também, o contribuinte, surpreendido de óleo e torta de mamona, pela So-
pela ação daquele, invocar retrospecti- ciedade Atlântica Ltda. - Óleos Vege-
vamente a seu favor os direitos que tais e pela Companhia Industrial da
lhe tenha a opor. Bahia SIA., que foram ali impllcita-
Em casos dessa natureza, assim como mente consideradas como beneficiárias
o fisco pode fazer remontar sua pre- de uma isenção subjetiva ou pessoal,
tensão a exercícios financeiros passa- opôs o agente fiscal à forma jurídica
dos, pode também o contribuinte re- regular de existência e de exploração
montar sua defesa à mesma época. dessas sociedades - a realidade eco-
As relações entre o fisco e o con- nômica que subjetivamente deduziu dos
tribuinte volvem às suas origens para contratos de financiamento e de assis-
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tência técnica celebrados pela "Orqui- estatuídas na norma legal substantiva,


ma" com aquelas empresas. a saber: a) o fato imponível; b) o
Por meio dessa interpretação pura- valor do tributo; c) o devedor do
mente econô'mica, o fiscal de rendas impôsto, e d) o credor do impôsto.
considerou como inexistentes, para efei- A admissão da tese de que as auto-
tos fiscais, a Sociedade Atlântica Ltda. ridades fiscais podem opor uma apre-
- óleos Vegetais e a Companhia In- ciação econômica à definição legal do
dustrial da Bahia SI A., não obstante fato imponível ou que lhes é facultado
a sua existência legal, e pretende que eleger, por meio de critérios econômicos
tôdas as operações de produção, venda subjetivos, um devedor do impôsto di-
e exportação feitas com perfeita regu- verso daquele a quem a lei atribui a
laridade jurídica em nome delas, no obrigação de pagar o tributo, equivale
período indicado, deverão ser atribuídas a esvasiar o princípio da legalidade
à "Orquima", que, segundo ainda pen- do seu conteúdo.
sa aquêle funcionário, não goza de A substituição do critério jurídico,
isenção e que, apesar de não ser, ju- que é objetivo e seguro, pelo do con-
ridicamente, responsável direta por ne- teúdo econômico, que é subjetivo, in-
nhum dos referidos fatos, deverá pagar certo e elástico, na qualificação do fato
os tributos que menciona no têrmo de imponível e no processo de sua atri-
verificação. buição a uma pessoa física ou jurídica,
O problema jurídico prévio que êsse implica em trocar o princípio da lega-
comportamento suscita é t) de se saber lidade por cânones de insegurança e
se o fisco pode opor o conteúdo eco- de arbítrio, incompatíveis com o siste-
nômico à forma jurídica, sendo tal ma constitucional brasileiro.
indagação do mais alto relêvo no mo- Essa questão surgiu, no plano das
derno direito fiscal, uma vez que a discussões doutrinárias, sob a forma
êle se vinculam: o princípio da lega- de duas concepções antagônicas do di-
lidade que domina todo êsse direito, a reito fiscal, que podem ser sintetizadas
questão da sua própria autonomia como na seguinte alternativa: está o direito
disciplina jurídica, bem como a con- fiscal submetido ao direito privado ou
ceituação da evasão fiscal e a do pró- constitui êle uma disciplina autônoma?
prio fato imponível. Enfrentando êsse tema, o eminente
O princípio da legalidade em matéria Prof. Louis Trotabas publicou, em 1928,
fiscal, que emana da nossa organiza- seu conhecido estudo Essai sur le droit
ção constitucional, tem como decorrên- fiscal, no qual manifestou sua moti-
cia, por um lado, que só pode ser vada preferência pela corrente auto-
atribuída uma carga tributária a uma nomista, reconhecendo, embora, que o
pessoa física ou jurídica mediante o grupo adverso era o mais numeroso
comando de uma lei, e, por outro, que e o mais representativo.
o Estado não tem nenhum direito além Pelas palavras com que inicia o seu
daquele que a lei expressamente lhe trabalho, podemos inteirar-nos da po-
concede. sição do problema:
A natureza estritamente legal do "Despuis quelque temps, une oppo-
crédito do impôsto não permite que a sition tres nette, et qui va s'accen-
competência das autoridades fiscais, tuant, se révele entre deux manieres
para fins da fixação do conteúdo dês se bien différentes de considérer les pro-
crédito e de sua atribuição ao sujeito blemes dE droit fiscal. Les juristes
passivo, seja exercida de modo discri- qui se sont saisis de ces problemes se
cionário. répartissent en effet en deux camps.
Estando o crédito do lmpôsto rigo- Le premier, qui est à la vérité le plus
rosamente vinculado à lei, tôdas as con- llombreaux, et le plus représentatif par
dições para o seu nascimento têm ne- la qualité de ses champions, va au
cessàriamente que estar definidas e combat en déployant la banniere du
- 365

droit, privé, visant avant toutes choses Poul' le recouvrement de l'impôt, les
à protéger le contribuable contre les rapports juridiques qui permettent de
atteintes du Fisc. C'est le parti des déterminer le contribuable, pourraint
civilistes. A travers les études fisca- s'apprécier d'apres les regles du droit
les de Mm. Geny, Pilon, Savatier, La- pnve. SUl' ce point, actuellement, la
lou, s'exprime véritablement un acte jurisprudence fiscale semble appliquer
de foi dans la suprématie du droit les dispositions du droit privé. Lor-
privé, et ces auteurs condamnent sé- qu'un bien a été reconnu "matiêre
verement toutes les atteintes que lui imposable", abstraction faite, au be-
portent la jurisprudence ou la prati- soin, de la loi de droit privé, il faut
que fiscales. A cette attitude défen- encore savoir au nom de qui l'impôt
sive s'oppose celle d'un parti qui sem- doit être établi. Dans cette nouvelle
ble plus hardi et plus novateur, plus hypothêse, qui se présente dês les ope-
affranchi du moins, car il se refuse rations d'assiette, mais qui ne se
à reconnaitl'e, à priori, la supériorité rapporte plus uniquement á ces opé-
d'une formule juridique quelconque, rations, le fisc recherche alors le con-
flit-se celle du Code civil. Tendant au tribuable, en faisant état de son statut
contraire à admettre le caractere spé- de droit privé. Le contribuable parait
cifique, l'autonomie, au moins relative, en effet défini par certains rapports
des différentes disciplines, Ces "indé- juridiques (propriété, possession) qui
pendants" considérent comme une réa- existent entre lui et la matiere im-
lité juridique qu'n est vain de criti- posable, base de l'imposition. C'est-à-
quer, et qu'il vaut mieux expliquer, dire que le droit fiscal laisse généra-
la loi, la jurisprudence, et la pratique lement au droit privé le soint d'établír
fiscales" (Louis Trotabas, "Essai sur les rapports d'une personne et d'un
le droit fiscal", in "Revue de Sciencn bien, et non plus les rapports de cett~
et de Législation Financieres", 1928, personne ou de ce bien avec le fisc"
pág. 201). (Louis Trotabas, ob. cit., pág. 234).
Nós nos sentimos à vontade para de- A lição de Trotabas nos mostra que
bater o assunto, porque somos parti- nem mesmo a doutrina autonomista
dários da corrente autonomista e não pode ser invocada para dar legitimi-
temos objeções maiores a formular às dade jurídica à ousada tentativa do
teses sustentadas por Trotabas. agente fiscal baiano de desatender,
de modo flagrante, às regras de di-
A autonomia advogada pelo ilustre reito privado para atribuir fatos su-
Professor se circunscreve à questão do postamente imponvveis a uma emprêsa,
reconhecimento da existência de um que lhe é jurIdicamente estranha.
sistema de princípios peculiares ao di- Note-se, porém, que a doutrina au-
reito fiscal, de sua filiação ao direito tonomista, mormente na parte em que
público e da autonomia daquele direito advoga a oposição da realidade econô-
na definição legal e na conceituação mica à forma jurídica, é, de ordinário,
interpretativa dos fatos imponíveis. considerada como revolucionária e
N a determinação do contribuinte, vem encontrando a maior resistência
isto é, na atribuição do fato imponí- na França, na Bélgica, na Holanda, em
vel a uma pessoa física ou jurídica, Portugal e na Itália, países em que a
porém, é o próprio autonomista Tro- jurisprudência e a torrente dos dou-
tabas quem nos vem dizer que o fisco trinadores opõem todos os obstáculos
está vinculado ao direito privado, nada à sua aceitação.
podendo a administração fiscal opor De maneira muito excepcional a
às situações jurídicas criadas de acôr- Côrte de Cassação italiana, na aplica-
do com <> direito civil ou comercial. ção da lei do impôsto de registro, cuj I)
Eis as palavras textuais do eminente art. 80 autorizava expressamente a iu-
autor: terpretação econômica, acolheu em &1-
- 366

guns casos o princípio da prevalência Ces influences seraient désastreuses


da natureza econômica. et le mot de Lion n'a rien d'exagéreé:
Fê-lo, porém, somente na concei- "Nous devons déclarer .me telle opi-
tuação do fato irnponível, autorizada nion comme àu nihilisme puisque'elle
por texto legal expresso, o que, em ne fait rien moins que négliger la
princípio, admitimos. signification des termes du droit privé
O único país ocidental, onde o cri- qu'elle emploie". Ce nihilisme, dont il
tério econômico da interpretação das parlait déjà en 1927 dans la discussion
leis fiscais ('< wirtschaftliche Betrach- des idées, combien s'applique-t-il pIus
tungsweise") se implantou, sobretudo directemel1t ellcore à arr§t par lequel
na fase de dominação nazista, foi ? la Cour des finances prend position
Alemanha. Uma das suas mais conhe- dans le litige.
cidas aplicações foi a elaboração juris- La théorie des types ll'envisage plus
prudencial da chamada teoria dos ti- que le côté économique d'un rapport
pos (Typisierungstheorie"), cujo obje- juridique oubliant systhematiquemellt
tivo final está sintetizado nestas pa- ce qui en fait le principal intérêt, ce
lavras da Côrte de Finanças do Im- qui est sa raison d'être, c'est qu'i! est
pério Alemão: un rapport "juridique". La prédomi-
"La question primordiale est bien nance de la maniere de penser et
plutôt celleci: quelle est, selon la con- d'agir collectivement, contre laquelle
ception générale, la maniere typique nous mettions en garde des le début de
de traiter telle affaire d'apres le sens ce rapport, se révele brutalement dans
et le but d'une disposition légale, la théorie des types. Selon l'expres-
alors même que les personnes directe- sion de Blau, la théorie des types
ment intéréssés auraient choisi une
"déshabille les états de fait que l'on
autre voie" (Apud Pierre Aeby, "De rencontre dans la vie; au lieu d'un cos-
l'influence du droit fiscal sur le droit tume individueI elle les revêt de Puni-
privé", in "Zeitschrift für Schweise- forme du type. Les états de fait si
risches Recht", 1933, pág. 318 a ). variés que l'on rencontre de toutes
Contra essa tese levantou-se, entre parts deviennent des chablons. Les
outros, M. Lion, conhecido especialista,
promoteurs de l'indépendance du droit
que demonstrou as desastrosas conse-
fiscal appelaiente de leurs légitimes
qüências dessa tentativa de anular a
désirs le jour ou le droit fiscal n'appe-
significação dos têrmos jurídicos, usa-
raitrait plus dans la science du droit
dos pelo direito fiscal. comme un convive qui ne fait que re-
Pierre Aeby, apreciando a ação de
cevoir mais comme un hôte qui donne;
M. Lion neste debate, diz que êle
"eut le mérite de mettre en garde la théorie des t:vpes, en dépouillant Ia
le monde des juristes contre la ten- vie du droit de tout ce qui fait ses mul-
dance du droit fiscal de faire fi des tiples particularités la dépouilleraic
non seulement de stm intél'êt dogma-
principes du droit privé. Il a aujo··
urd'hui la satisfaction de voir des ju- tique mais de la souplesse qui est né-
risconsultes des plus autorisés se dê- cessaire à l'homme d'affaires qui mene
tourner de la trop fameuse théorie des le dur combate de la vie non seulement
types et il signale dans sa derniere pour lui-même mais pour la nation dont
édition (1933) des arrêts de la Cour il doU être l'un des meilleul's servi-
des finances qui sont en marge de 1a teurs.
théorie échaíiaudée par cette même Qu'il nous !'oit permis de dire que
autorité voiei deux ans à peine. notre conception latine s'accommoderait
Seules les influences possibles d'une aussi mal d'une telle mentalité de types
telle théorie des types sur le droit ou de masses que notre sens heIvétique
privé peut nos occuper dans l'ordre s'oppose de lui-même à cette maniere
d'idées que nous nous sommes tracé. d'embrigader de force l'activité juri-
- 367-

dique" (Pierre Aeby, ob. cit., págs Pierre Aeby, ob. cit., págs. 317 a
319 a 320 a). 318 a).
Convém lembrar, entretanto, que o Em 1934 a lei de adaptação imposi-
critério econômico de interpretação das tiva "Steuranpassungsgesetz") dispõe
leis fiscais sOmente logrou impor-se na também no seu art. lOque "as leis tri-
Alemanha como processo destinado a butárias deviam ser interp'retadas se-
coibir a evasão fiscal, mediante sua gundo a concepção nacional-socialista,
expressa inco1'p01'ação à l~[Jisla:ção tri- sua finalidade, seu conteúdo econômico
butária. e o desenvolvimento das circunstâncias"
Examinando os dispositivos legais Dino Jarach, ob, cit., pág. 111, nota
pertinentes à matéria, escreve o Prof. 197).
Pierre Aeby: E' explicável <) advento do critério
econômico de interpretação das leis fis-
«Clause génémle permettant de
cais, na Alemanha; pela característica
parer aux moyens d' echappM'
autoritária que, tradicionalmente, tem
à la contributwn,
marcado o seu direito público,
Une clause de ce genre existe dans Não poderiamos, porém, assimilar
la loi allemande ou elle a provoqué irrestritamente tal doutrina, nos têl-
une vive discussion. mos em que a formulam certos juristas
l'Ordonnance de l'Empire en ma- alemães e muito menos consagrá-la em
tiere d'impôt contient deux dispositions lei, porque VIrIa instituir, em país
d'ordre général que nous ne ferons como o nosso, uma odiosa ditadura
que signaler. Ce sont les § § 9 e 10 fiscal, incompatível com a nossa con-
de cette ordonnance. cepção de estrita legalidade do crédito
Les tendances du § 9 sautent aux do impôsto.
yeux: "Dans l'application des lois fis- Objetar-se-á, no entanto, que a
cales il y a lieu de tenir comte de leu r Suiça, que é uma democracia exemplar,
but, de leur portée économique sentiu-se atraída pela teoria da inter-
"wirtschaftliche Bedeutung" - et du pretação econômica, em matéria fis-
développement des circonstances cal. Estamos de acôrdo em que o ar-
"Entwicklung der Verhaltnisse". gumento deve ser considerado. A êle
'Le :§ 10, lui, part d'une notion de responderemos que a Suiça ao adotar
droit civil, celIe de l'abus de droit êsse princípio, fê-lo com cautela e se-
"Rechtsmissbrauch" - et déclare que gurança, discriminando cuidadosamen-
l'obligation de payer l'impôt ne sau- te as hipóteses em que se admite essa
rait être ni l'édute, ni suprimée par interpretação, dando-lhe alcance preciso
le fait que les intéressés recourraient, e estabelecendo também os domínios em
d'une maniere abusive, aux possibi- que ela não pode penetrar,
lités offertes par le droit privé d'user Embora a tentativa do fiscal de ren-
de formes ou de modalités particuliere- das - Honorato Viana - de sobrepor
ment favorables. a sua própria interpretação econômica
Ou le :§ 10 devient plus incisif, c'est à legalidade formal dos negócios reali-
lorsqu'il énumere les cas dans lesqueIs zados pela Sociedade Atlântica Ltda.
i1 y a "abus de droit" dans le sens - óleos Vegetais e pela Companhia In-
du primier alinea. La pensée maihais- dustrial da Bahia SI A" esbarre em
se des précisions donnés sous trois irremovível impossibilidade jurídica,
chiffres différents, c'est qu'il y a por isso que a legislação, a doutrina e
" abus de droit" Iorsque, en dépit de a jurisprudência brasileira a ela se
la loi qui soumet à l'impôt certains opõem de maneira categórica, vamos
états de faits ou rapports économiques, expOr o sistema suíço para demonstrar
les parties choisissent, pour échapper que, ainda que a hipótese tivesse de
à cet impôt, des modalités ou des actes ser decidida de acôrdo com aquêle di-
juridiques différents et inaccoutumés" reito estrangeiro, o resultado seria
- 368-

idêntico, isto é, totalmente inaceitável contribuintes, para justificar uma apre-


e improcedente a tese daquele funcio- ciação dos fatos, segundo sua signifi-
nário fiscal. cação econômica e não de acôrdo com
Para a exposição da doutrina e da a sua forma jurídica, a saber: 10) o
jurisprudência Suiça, sôbre a matéria, fim econômico da lei fiscal; 20 ) a base
vamos nos valer da excelente monogra·· econômica da lei fiscal; 3°) a ação
fia de Marcel Wurlod, sob o título: tendente à evasão fiscal.
"Forme juridique et réalité économique Não é possível, porém, discutir-se o
dans l'applicatiou des lois fiscales". alcance de cada um dêsses três argu-
Delimitando o objeto do seu estudo, mentos de maneira geral, isto é, tendo
assim escreve: em vista todo o direito fiscal.
La questiou que nous nous proposons ltsse direito não é homogêneo; êle,
d'examiner est la suivante: ao contrário, se compõem de elemento~
Dans quelle mesure le fisc doit-il tão díspares e tão diversos que a res-
apliquer une norme fiscale par une posta à mesma questão pode variar de
simple opération de logoique formelle, acôrdo com certas situações jurídicas
dês qu'une forme juridique valable típicas.
correspond à la forme qúi est prévue Procu<rando classificar sistemàtica-
comme fait générateur dans Ia loi fis- mente essas situações jurídicas, Wur-
cale? Quand le fisc doit-il, au con- lod as divide em três grupos: 10) leis
traire, baser Ia créance d'impôt sur Ia que estabelecem impostos sôbre transa-
signification économique eles faits, sans ções jurídicas; 2 0 ) leis que adotam
tenir compte de leurs formes extérieu- uma noção autônoma; 30 ) leis que
res? En d'autres termes, quel rôle adotam noções de direito privado.
l'appréciation économique des faits gé- ltsses esclarecimentos preliminares
nérateurs peutelle jouer dans l'inter- nos serão úteis pará situar, no amplo
prétation des lois fiscales, étant donné campo do debate doutrinário, a hipó-
la nature strictemente légale de la tese exposta na consulta,
créance d'impôt? De início, devemos frisar que o a/r -
Nous partons àe l'idée qu'il ne faut gumento invocado pelo fisco para des-
pas laisser au fisc le droit de décidel' prezar a for·ma juridioQi e para atender
s'i! s'en tiendra au formes ou non, apenas à reaZ,idade econômica, como êle
suivant les avantages qu'il en retire. a concebe, é o dEJ que a "Orquima"
Il faut, par cODséquent, rejeter des tentou iludir 3. fiscalização de rendas
principes vagues et amphibologiques, do Estado" e executou um "plano des-
tels que: "en droit fiscal on doit se tinado a sonegar tributos".
baser plus la signification économique Fixado êsse primeiro aspecto, que
réelle que sur l'apparence juridique concerne ao motivo invocado pelo fisco
d'un fait. On doit tenir compte plus para sobrepor a realidade econômica à
de la nature des choses que de leurs forma jurídica, precisamos agora ve-
formes extérieures". rificar à qual das três categorias típi-
Nous chercherons, au contraire, à cas citadas se filia o caso em estudo.
être absolument au clair sur l'attitude Não versando a questão fundamental
que peut et doit adopter le fisc dans nem sôbre imposto sôbre t?'ansação ju- (
chaques cas" (Marcel Wurlod, "Forme rídwa; nem sôbre noções autônomas que,
juridique et réalité économique dans porventura, se contivessem na lei fis-
l'application des lois fiscales", 1947, cal, e dizendo ela respeito eSj;'encialmen-
págs. 26-27). te ao reconhecimento, ou não, da si-
Percorrendo a jurisprudência Suiça tuação jurídica de direito privado da
verificou Wurlod, cujos ensinamentos "Orquima" em relação às duas outras
passamos a resumir, que três modali- sociedades, apuramos que a hipótese se
dades de argumentos são invocados, inclui na terceira das situações típicas
ora pelas autoridades fiscais, ora pelos acima indicadas.
- 369-

Estabelecida a posição da espécie l'impôt en question n'est pas encore


dentro do quadro doutrinário da ma- díl. Il semble, d'autre part, qu'il n'y
téria, passaremos a discutir o primeiro ait aucune tromperie au moment de la
elemento importante, que é a questão déclaration d'impôt à présenter au fisc
da evasão fiscal. les faits générateurs tels qu'ils se sont
Evasão Fiscal - Os contribuintes effectivement réalisés. Ce serait, en
podem, por três modos, procurar dimi- effet, un non-sens que d'exiger d'un
nuir sua carga fiscal: pela economia contribuable, ayant par exemple créé
fiscal (" l' épargne fiscale"), pela evasão une fondation pour éluder un impôt,
fiscal (éluder l'impôt") e pela fraude qu'il déclare inexistant ce qu'il a va-
fisClal (" fraude Fiscale"). lablement créé! A la différence du
Vejamos como vVurlod conceitua cada fraudeur, celui qui élude parait donc
uma dessas modalidades: agir tout à fait ouvertement.
a) La fraude est l'attitude d'un c) Les remarques que concernent
contribuable qui doit un certain impôt l'action d'éluder l'impôt, valent aussi
en vertu de la loi, mais qui empêche pour l'épargne fiscale. Il s'agit, en
les autorités d'en déterminer le mon- effet, de l'attitude d'Ull individu nou
tanto Si l'impôt n'est pas payé, c'est encore contribuable qui cherche à di-
qu'il y a eu tromperie de la part dn minuer le montant qu'il devra payer
contribuable qui n'a pas permis au fisc en modifiant la naissance de la créance
de connaitre la dette existante. Cet d'impôt. Par exemple, uu pere donne
acte est sanctionné pénalement. Par une partie de sa fortune à ses enfants
exemple, un contribuable ne déclare pour éviter de payer un impôt calculé
pas toute la fortune dont il est pro- à un taux progressif élevé.
priétaire.
Si l'opposition entre la fraude et
Il est impoI'tant de souligner qu'au
l'action d'éluder l'impôt apparait clai-
moment ou se commet la fraude, les
rement, il est en revanche plus dificile
faits générateurs se sont déj á réalisés:
de différencier cette derniêre de l'é-
la fraude ne touche done à la nais-
pargne fiscale. L'examen àe ces diffé-
sance de la créance d'impôt.
rents actes ser a repris aux chapitres
b) L'action qui permet d'éluder un
II e III. Il s'agü:sait simplement, par
impôt, est d'une nature tres différent.
ces remarques, de situer sommairement
C'est l'attitude d'un individu qui, d'em-
la question, et de mettre en évidence
blée et ouvertem<.!nt crée les faits gé-
le mécanisme par lequel on élude un
nérateurs de façon que l'impôt, qui se-
impôt: les faits générateurs sont
rait normalement díl pour une si-
d'emblée créés valablement selon le
tuation économique semblable, ne naisse
droit privé, de façon que la dette d'im-
pas ou naisse différement. Par exem-
pôt, qui serait normalement due, ne
pIe, un individu crée une fondation
naisse pas ou naisse différement" (Mar-
dont il garde plus ou moins directa-
cel W urlod, ob. cit., págs. 36-38).
mente le contrôle, et sépare ainsi sa
fortune en deux parties. Ce seront Pelos têrmos do auto de verificação
des lors deux créances d'impôt, cal· podemos, desde logo, perceber que a
culées à des taux plus favorables, qui "Orquima" é acusada de eVIMão fiscal.
naitront. Par ce moven, le contribuable De conformidade com a conceituação
diminue l'impôt qu'il aurait normale- acima transcrita constituem elementos
ment à payer sur sa fortune entiere. essenciais para que se configure a eva-
N ous contatons donc, d'une part, são fiscal: 1°) a existência de um fato
que, contrairement au cas de fraude, imponível; 2°) uma ação praticada
c'est la naissance de la créance d'impôt abertamente, quando o indivíduo não é
qui a ainsi été modifiée. L'acte qui ainda devedor do impôsto, para que o
élude se place à un moment ou l'indi- débito do tributo não surja diferente-
vidu n'est pas encore contribuable, ou mente.
- 370

Pelo estudo que dizemos de início, a o fiscal de rendas do Estado da Bahia


respeito dos efeitos da, isenção obje- tomou como base para lavrar o auto
tiva ou real, verificamos que, na es- de verificação transcrito na consulta.
pécie, falta o primeiro elenHmto essen- Essa demonstração, que vimos de fa-
cial à caracterização da evasão fiscal zer, da existência de et'asiío fiscal, é
e que seria constituido pela existência da maior importància para (> estudo da
de fiq,tos imponiv 6 is. possibilidade jurídica da oposição da
Demonstramos que a isenção conce- natureza econômica à forma jurídica.
dida pelo dec.-Iei nO 11.851, de 27 de Não foi inutilmente que o fiscal de
fevereiro de 1941, e pela lei nO 52, de rendas aludiu à sonegação de impostos
19 de dezembro de 1947, transformou por meio de evasão. 1!:le sentiu que a
os fatos imponíveÍ8 relacionados com a. argüição de e,;asão constituia, do ponto
produção, a venda e a p-xportação de de vista lógico e jurídico, uma condição
derivados de sementes oleaginosas e de necessária para que pudesse interpre-
matérias primas vegetais em fatos não tar a realidade econômica a seu modo,
sujeitos à imposição. a despeito da situação jurídica formal
Não existindo o primeiro elemento das duas sociedades e da ,. Orquima".
da evasão não pode também existir r) Resumindo suas conclusões, após
segundo, que decorre necessàriamente amplo debate sôbre a questão da in-
daquele. terpretação das noções de direito pri-
No caso particular que analisamos, vado adotadas nas leis fiscais, que,
a arguída evasão seria constituída pe- como dissemos, corresponde à terceira
los contratos celebrados pela "Orqui- das situações típicas enumeradas e na
ma" com as duas sociedades, as quais qual se inclui a espécie em estudo, es-
teriam visado, no momento da sua ce· creve Wurlod que "l'appréciation éco-
lebração, impedir o nascimento de obri- nomique des faits est moyen d'inter-
gações fiscais a cargo da "Orquima". prétation exceptÍl:!1wl, elle est une sanc-
A improcedência dêsse raciocínio é tion, la preuve que l'impot a été éludé
flagrante. est une condition sine qua non de cette
Ao tempo dos contratos estava vi- appréciation, le contribuable est tou-
gente, como ainda está, a lei de isenção. jOUTS lié par les formes du droit prIve
A " Orquima", se quisesse explorar auxquelles il a recours" (MarceI Wur-
indústria para o aproveitamento de se- Iod, ob. cit., pág. 122).
mentes oleaginosas e de matérias pri- Na realidade, a jurisprudência e a
mas vegetais, poderia ter requerido a melhor doutrina suiça, que são, aliás,
isenção, que teria necessàriamente de das mais avançadas nesta matéria, con-
lhe ser concedida, pois que poderia, sideram que a apreciação econômica
sem qualquer dificuldade, preencher os dos fatos, tratando-se do emprêgo de
requisitos administrativos mencionados formas do direito privado, constitui
no regulamento . uma verdadeira sanção para os casos
Celebrando os contratos de financia- de evasão fiscal, como vemos desta
mento e de assistência técnica com as passagem da obra de \Vurlod:
duas sociedades não poderia jamais a Il est conforme à la nature objetive
"Orquima" visar evasão de impostos, et strictement Iégale de la créance
visto que as atividades industriais fi- d'impôt d'excluire, en principe, une in- T
nanciadas gozavam de isenção ampla. terprétation de la Ioi fondée sur des
A sua disposição existia outra pos- critéres economiques quand Ie législa-
sibilidade legal inatacável de gozar in- teur a utilisé une notion du droit privé
diretamente da isenção, que era a com- pour désigner cerlains faits économl-
pra da maioria ou da totalidade das ques. Le fisc peut éventuellement.
ações e cotas das duas sociedades. prouver l'invalidité des formes juri- ,
Fica, dêsse modo, demonstrada a com- diques selon le àroit privé lui-même. ;

pleta improcedência do argumento que En revanche, l'appréciation économi-


- 371

que des faits ser a excepcionnellement "En 1933, dans un arrêt fondamen-
admisse chaque fois que l'autorité fis- tal rédigé en français, Ie Tribunal fé-
cale aura prové que l'impôt a été éludé. déral a développé de façon tres dé·
L'action d'éluder l'impôt donne au taillée ses idées sur l'action d'éluder
fisc un moyen d'interprétation de la l'impôt. Prenant à son compte les con-
loi que la nature juridique stricte- clusions de Blumenstein, il a déclaré
mente légale et objetive de la créance qu'une autorité fiscale n'a le droit de
d'impôt exclut en principe. considerer un impôt comme éludé que
Telle est la régle générale; il onus si elle a prouvé deux faits: (1) emploi
reste à precIse r en quoi consiste d'une forme anormale, <l'un procédé
l'action d'éluder l'impôt" (MarceI Wur- insolite (élement objectif); (2) emploi
lod, ob. cit., pág. 96). de cette forme uniquement pour dimi-
Páginas adiante Wurlod cita e co- nuer ou exclure la charge fiscale (élé-
menta um recente acórdão do Tribunal ment subjectif). Il a posé le principe
Federal, no mesmo sentido: que seuIe la preuve de ces deux élé-
"Seules les autorités fiscales ont Ia ments peut autoriser le fisc à ne pas
possibilité d'opposer la réalité économi- tenir compte d'une forme du droit
que à la forme juridique, puisque la privé.
premiere ne peut exceptionnellement En l'espece, il s'agissait de savoir
prévaloir que lorsqu'il y a tentative si une societé anonyme valable selon
d'éluder l'impôt". le droit privé, mais entiêrement dé-
Si l'appréciation économique des faits pendante d'une autre société, devait être
est la sanction d'un acte répréhensible, reconnue comme sujet fiscal indépen-
la solution du Tribunal Fédéral nou:'! dant; le fisc avait-il, au contraire, le
paraít parfaitement logique; en effet, droit d'apprécier économiquement les
touts les cas ou l'atteinte à la bonne faits et de considerer les deux sociétés
foi, qui justifie ce traitement excep- comme un seul contribuable malgré leu r
cionnel, n'est pas présente, entrainent forme juridique?
l'application de la regle générale, qui Le Tribunal Federal a admis que la
veut que les formes du droit privé forme juridique était "anormale". n
lient le fisc et le contribuable. Cette n'a cependant pas reconnu au fisc can~
solution est certainement la plus con- tonal le droit d'apprécier économique-
forme à la nature juridique de la cré- ment les faits parce que l'élement sub-
ance d'impôt" (Marcel Wurlod, ob. cit., jetif de l'action d'éluder l'impôt n'était
pág. 121). pas présent; la société n' avait, en effet,
Para que a doutrina e a jurispru- pas été constituée dans l'unique in-
dência admitam, porém, que por meio tention de diminuer la charge fiscale"
de uma forma jurídica se visou uma (M~rcel Wurlod, ob. cit., pág. 99).
evasão fiscal, são ainda necessários Pelo parecer do eminente jurista
dois requisitos fundamentai;.: 10) o Eduardo Espínola, que acompanha a
""--emprêgo de uma forma jurídica anor- consulta, vemos que a forma jurídica
mal, de um processo insólito (elemento usada nos contratos entre a '·Orquima"
objetivo); e 2°) que tal -forma tenha e as duas sociedades não é anormal
sido empregada unicamente para di- e nem é contrária aos usos e costu-
minuir ou excluir a carga fiscal (ele- mes comerciais.
mento subjetivo). Tendo sido demonstrado anteriormen-
SOmente quando há a concorrência te que tais contratos não visaram e
dêsses dois elementos é que o fisco nem poderiam ter visado ainda que
pode deixar de lado a forma de direito remotamente a supressão de encargos
privado para tomar em consideração a fiscais, visto que a atividade industrial
realidaile econômica. que constitui a objeto dos mesmos go-
A respeito dêste aspecto do problema zava de ampla isenção, verificamos que
escreve Wurlod: não ocorreu nenhum dos imprescindí-
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veis requisitos que autorizariam o fisco, são registradas na Secretaria de Agri-


segundo a jurisprudência suíça, a, opor cultura, Indústria e Comércio do Es-
a realidade econômica, por êle imagi- tado da Bahia, são contribuintes do
nada, à situação jurídica e legal da fisco federal, e são noooriamente conhe-
"Orquima", que, de resto, não tendo cidas como emprêsas criadas e manti-
produzido, nem vendido e nem expor- das com capital baiano, desde muito
tado os produtos indicados no têrmo antes de celebrarem contratos com a
de verificação, não pode ser chamada "Orquima" .
a pagar tributos, que, aliás, não exis- Examinemos, porém, atentamente a
tem, em razã:> das duas leis de isenção. hermenêutica econômica do agente do
Admitamos, por fim, a mais revolu- fisco baiano para que possamos ver
cionária das teorias a respeito da in- até onde o seu desenvolvimento lógico
terpretação econômica, que é a de Dino nos pode levar.
Jarach, a, qual amplia enormemente os Para autuar a "Orquima" como de-
casos em que a intentío facti pode, pelo vedora de impostos êle somente consi-
fisco, ser oposta à intentio juris, re- derou, a seu modo, os fat'Js e as real'i-
conhecendo embora que os direitos po- dades econômicas, com abstração da sua
sitivos não sufragam sua teoria, que forma jurídi;;a.
constitui, aliás, uma aplicação parti- Situando-se nesse ângulo visual, ana-
cular de sua concepção dogmática do lisou, sumàriamente, os contratos das
direito tributário. duas sociedades com a "Orquima" e
O aspecto particular (k;~a teoria é conclui que esta era a empresana,
o de que ela tanto pode funcionar a isto é, a produtora, a vendedora e a
favor do fisco como a favor do con- exportadora.
tribuinte. Até aqui expusemos o raciocínio eco-
O que J araclt toma como considera- nômico do agente fiscal a favor do erá-
ção dominante na aplicação da lei tri- rio, mas daqui por diante vamos aplicar
butária é a finalidade empírica,- de a sua técnica interpretativa, puramente
conteúdo essencialmente econômico, à econômica, a favor da "Orquima".
qual sobreleva a intentio :,nris, isto é, Da mesma maneira que a favor do
à forma jurídica, na aplicação da lei fisco somente foram considerados os
tributária. fatos e as realidades econômicas, com
Apliquemo-la à hipótese, não unila- abstração de suas características ju-
teralmente como procurou fazer o fisco rídicas, vamos proceder de modo idên-
baiano, mas tratando pelo mesmo cri- tico para deduzir a defesa da "Or-
tério os fatos econômicos favoráveis ao quima" .
erário e os que beneficiam o contl'Í- As primeiras realidades econômicas
buinte. que devem ser consideradas são as
O processo interpretati vo adotado no instalações industriais que, embora fi-
auto de verificação consistiu na con- gurem jurIdicamente como sendo de
ceituação puramente economlca do propl'iedade da Sociedade Atlântica
empresário e na análise, também eco- Ltda. - Óleos Vegetais e da Compa-
nômica, das relações dêste com os bens nhia Industrial da Bahia S. A., devem
da emprêsa e sua produção. ser aqui tomadas como simples dados
Para levar a cabo essa interpreta- econômicos.
ção econômica não se deteve em em- As instalações industriais devem ser
baraços de ordem jurídica. associadas aos fatos, também econômi-
Considerou sumàriamente como de cos, de produção, venda e exportação
existência fictícia a Sociedade Atlân- de manteiga de cacau e ti)rta de cacau
tica Ltda. - Óleos Vegetais, fundada e de óleo de mamona e torta de ma-
em 1936, e a Companhia Industrial da mona.
Bahia S. A., as quais, no entanto, têm Em favor dessas realidades e dêsses
existência legal na mais perfeita ordem, fatos econômicos concedeu o Estado,
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de modo gel'al, o benefício econômico· da Pelos fundamentos longamente ex-


isenção fiscal. postos, passamos a responder aos que-
Para efeito do gôzo de tal isenção sitos formulados:
as instalações industriais foram regis- Ao primeiro: As isenções são obje-
tradas n'l Secl'etaria da Agricultura c tivas ou reais. Sua natureza e suas
a favor foram baixados decretos de consequências jurídicas foram detida-
isenção. mente estudadas no curso do parecer-
Por aí verificamos que.. aplicando
Ao segundo: Sim, como demonstra-
a técnica interpretativa puramente
econômica do agente fiscal, podemos mos.
demonstrar que as instalações indus- Ao terceiro: Não, pelas razões ex . .
triais, bem como a venda e a exporta- pendidas.
ção dos seus produtos estão cobertas
Ao quarto: Não.
pela imunidade fiscal.
Dêsse modo e consoante nossa expo- Ao quinto: Não.
sição doutrinária inicial, as leis de É o nosso parecer, s.m.j.
isenção transformaram os fatos impo-
níveis mencionados no auto de verifi- Rio de Janeiro, 5 de abril de 1950.
cação, em fatos não imponíveis, não - Bilac Pinto, Professor catedrático
havendo possibílidade jurídica de atri- de Direito Administrativo na Univer-
buí-los à "Orquima" para o fim de sidade do Brasil e de Ciência das Fi-
criação de créditos de impostos a favor nanças na Universidade de Minas Ge-
do Estado. rais.

FUNCIONÁRIO PúBLICO - CONTAGEM DE TEMPO DE SER-


VIÇO - APOSENTADORIA - MANDATO LEGISLATIVO
- O tempo de serviço do legislador federal, estadual ou
municipal, em si mesmo, não se computa para a aposentadoria.
- O art. 192 da Constituição não aproveita a quem te-
nha sido, mas já não era, funcionário público, quando inves-
tido na função legislativa.
- O tempo de serviço estadual ou municipal computável
é o que como tempo de serviço público fôr conceituado pelas
leis federais.
- Interpretação do art. 192 da Constituição.

PARECER integralmente para efeitos de disponi-


bilidade e aposentadoria."
A dúvida, suscitada pela Diretoria O primeiro problema é o de saber
da Despesa Pública, do Ministério (Ia se a função do legislador, exercida
Fazenda, sôhre a contagem do tempo por quem não é, ao mesmo tempo,
de serviço público. na aposentação funcionário público, dá ao legislador
do Sr. A1'gemiro de Rezende Costa, re- direito de requerer sua aposentadoria.
quer esclarecimentos preliminares sô- Suponha-se que um cidadão exerce
bre o que realmente dispõe o art. 192 a função de senador da República,
da Constituição Federal. mercê de reeleições, por mais de 35
Declara êsse artigo: anos. Nunca exerceu cargo público na
"O tempo de serviço público, federal" administração federal, estadual, ou mu-
estadual ou municipal, computar-se-á nicipal. Poderá invocar, em seu favor,

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