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Resenha do filme ‘’Maus Hábitos’’ (2007)

Vitor Correia Rodrigues de Souza

O filme coloca em paralelo duas histórias principais, uma protagonizada por


uma mãe com transtorno alimentar e sua filha com sobrepeso na infância, e outra
por uma freira que, por conta das crenças religiosas, se submete a extensos
períodos de jejum.
Ao analisar o filme junto ao tema proposto, de primeiro momento fica limitado
encontrar um ponto onde a religião se enquadraria nos padrões estéticos. Já na
história que mostra a relação entre mãe com anorexia e filha que está começando a
ser, compulsoriamente, inserida em um estilo de vida que objetiva o corpo magro, é
evidentemente exposta a relação entre pressão estética e danificação da relação
alimentar.
Logo nos primeiros 5 minutos do filme, um comportamento que exemplifica
essa última afirmação é o momento em que a mãe, preocupada com o peso da filha,
a leva ao médico, e a consulta é pautada por um tom de culpabilização da criança
pelo peso que está e finalizada com a indicação de um remédio junto às refeições,
provavelmente um laxativo ou um diminuidor de apetite, ao mesmo tempo que as
recomendações são para diminuir o consumo de gordura.
Já na dinâmica contada para a freira, a questão que interfere a relação
alimentar da personagem é a doença, não dela, mas a necessidade e desejo de
vivenciar algo sobrenatural para curar outras pessoas, condensa a vida da religiosa
a se submeter a jejuns e restrições alimentares.
Apesar de ser um filme de 2007, as histórias contadas, os personagens
secundários e o ambiente retratado são ainda mais comuns atualmente. O viés que
traz diferença entre esses 15 anos é a intensidade e a forma como os padrões de
beleza, que são responsáveis por pautarem a pressão estética, são difundidos e
alimentados. A dinâmica da pressão estética, agora é difundida pelas tendências
consumidas e produzidas nas mídias sociais, que reverberam todo o planeta
globalizado e conectado à internet.
A beleza, em todas suas subjetividades históricas, é sinônimo de poder,
saúde e sucesso. No entanto, por ser um conceito subjetivo, é mutável e depende
do contexto histórico, o exemplo mais usado é a comparação da visão que o corpo
da mulher, retratado pela ‘’Vênus’’, nos séculos passados, era o padrão corporal
para todas as mulheres e hoje em dia uma mulher com obesidade, ou acima do
peso, sem traços finos e lineares, não é vista da mesma forma, como detentora de
sucesso, autoconfiança e muito menos considerada bela.
Por fim, um ponto interessante mostrado no filme é que ambas as
protagonistas das histórias são mulheres, o que faz muito sentido, uma vez que a
pressão estética afeta diretamente o público feminino e o resultado é encontrar
soluções para os problemas criados, que são o corpo gordo, a quantidade de
alimentos e o que se come. A obra poderia ter sido idealizada em qualquer país,
principalmente do ocidente e em qualquer ano, e ele confirma a forma como a
alimentação transpassa a ideia biológica de comer por necessidade, a alimentação
atualmente se afirma como um comportamento de relação, de autoafirmação e
afetado acima de tudo por vieses externos.

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