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Resumo
O texto que discorre trata-se da análise do filme “O mínimo para viver”, contemplando
uma discussão relacionada à problemática do transtorno alimentar, especificamente a
anorexia vivida pela personagem Ellen e como ela e sua família, caracterizada como
uma família disfuncional está inserida nesse processo de doença e em busca de sua cura.
Os métodos de análise utilizados são as percepções do filme nessa perspectiva e
reflexão sobre como o processo terapêutico pode ser conduzido com uma pessoa que
tem uma imagem distorcida de si mesmo e não se enxerga como realmente é. Através da
Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), trataremos desse paralelo com os
conceitos de flexibilidade psicológica e desfusão cognitiva podem contribuir com
resultados mais saudáveis.
Discussão
O filme narra de forma realista à rotina de desafios enfrentados por pessoas que são
diagnosticadas e sofrem com transtornos alimentares, mostrando as pressões sociais quanto
a imagem corporal e as complexidades subsequentes dessa condição. A protagonista, Ellen
interpretada por Lily Collins, lida com a anorexia nervosa. O filme explora suas
experiências, relacionamentos familiares e a busca por tratamento e o desenvolvimento do
personagem oferece uma visão do processo de recuperação através do processo
psicoterapêutico e seus desdobramentos.
Sendo assim, até que Ellen consiga chegar nessa etapa de aceitação através de ações
variáveis da flexibilidade psicológica proposta na ACT, como é possível conduzir o
processo terapêutico com alguém que não possui a real noção de sua forma a voltar a
enxergar a si própria tal qual como é?
Uma técnica comum de desfusão que seria interessante aplicar com a personagem é
visualizar os pensamentos como palavras escritas em nuvens, folhas de papel ou outro
objeto imaginário, podendo ajudar a separar os pensamentos da própria identidade. E ao
rotular pensamentos como "pensamentos sobre o corpo" ou "pensamentos sobre comida", a
personagem poderia começar a categorizá-los como eventos mentais temporários, em vez
de verdades imutáveis.
Sendo assim, por vezes, a desfusão cognitiva envolve abordar esses pensamentos
difíceis com algumas doses de humor e criatividade e certa leveza diante da complexidade
dos pensamentos, reduzindo a carga emocional associada a ele encorajando a pessoa a se
distanciar dos pensamentos, observando-os de uma perspectiva mais ampla e reduzindo a
identificação excessiva com esses pensamentos.
Conclusão
A vida de uma pessoa com anorexia nervosa é permeada por uma constante e
desafiadora compreensão dos sintomas e cura, onde a relação com a comida torna-se
motivo de conflitos internos e externos. No centro dessa experiência, como retratado por
Ellen, está a obsessão desenfreada pelo peso e pela forma corporal, ela não percebe, mas
está emaranhada em ciclo complexo de restrição alimentar e um profundo medo de ganhar
peso.
A jornada diária é marcada por rituais meticulosos em torno da alimentação. Cada
escolha alimentar é calculada minuciosamente, as calorias são meticulosamente
monitoradas, e a ansiedade associada a cada refeição é avassaladora. A comida, que deveria
ser uma fonte de nutrição e prazer, transforma-se em um campo de batalha onde a vitória é
medida pela capacidade de resistir à necessidade básica de se alimentar.
A vida social da pessoa com anorexia nervosa muitas vezes é comprometida, pois
eventos sociais que envolvem comida tornam-se fontes intensas de desconforto. O
isolamento torna-se uma escolha, uma maneira de evitar enfrentar a ansiedade associada às
interações sociais que, inevitavelmente, incluem alimentação. O corpo transforma-se em
uma fonte de insatisfação constante. A percepção distorcida da própria imagem corporal
vivenciada por Ellen cria uma barreira entre a realidade e a imagem que a pessoa vê no
espelho e mesmo quando a evidência física da subnutrição é visível, a negação persiste.
A anorexia nervosa não afeta apenas o corpo, mas também a mente. Pensamentos
intrusivos sobre comida, peso e imagem corporal permeiam a consciência, tornando-se uma
trilha sonora constante. A desfusão cognitiva, a capacidade de se distanciar desses
pensamentos, torna-se um desafio, levando a uma identificação profunda e prejudicial com
essas ideias distorcidas.
A busca incessante pela magreza é uma busca por controle, uma tentativa de
encontrar ordem em um mundo e numa vida que muitas vezes se apresenta de forma
caótica. No entanto, esse controle é uma ilusão, pois a anorexia nervosa se torna a força
dominante na vida da personagem, ditando escolhas, comportamentos e perspectivas.
A busca por tratamento muitas vezes é complicada pela própria natureza do
transtorno, que pode resistir à mudança e à aceitação de ajuda. O caminho para a
recuperação é longo e desafiador, exigindo uma abordagem multidisciplinar que aborde
não apenas os sintomas físicos, mas também os fatores psicológicos subjacentes.
Com toda a narrativa de “O mínimo para viver” associada aos conceitos em ACT
trazidos através da explanação da flexibilidade psicológica e desfusão cognitiva é
importante reconhecer que a anorexia nervosa é uma condição séria que requer tratamento
profissional. A intervenção precoce é fundamental para melhorar as chances de
recuperação e a compreensão profunda dos aspectos psicológicos desse transtorno
alimentar é essencial para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas eficazes.
Portanto, foi percorrido no processo desse trabalho o direcionamento da pergunta
inicial do objetivo refletido, descrito como ajudar uma pessoa que se vê de forma diferente
do que realmente se apresenta fisica e emocionalmente trazendo à luz em como a Terapia
de Aceitação e Compromisso podem contribuir de forma grandiosa e eficaz na intervenção,
dimunuição e melhoria dos sintomas para uma vida de mais qualidade, mais real e mais
focada no momento presente.
Por fim, em sua trajetória, a personagem Ellen entende depois de todo processo
terapêutico vivenciado, reflete sobre seu transtorno alimentar com relação com a doença da
mãe, que foi uma depressão que se inicia no pós-parto e que permanece ao longo de sua
linha do tempo, renegando a si mesma. Uma das cenas mais marcantes foi sua decisão de
continuar a viver, mesmo com todas as dificuldades familiares e emocionais direcionando
ela ao contrário. Em seu sono de despedida ao pensar e decidir em não mais viver, percebe
e entende seu corpo nu, cadavérico, sem cor e desfalecendo para a morte, em uma cena
muito impactante e a partir disso, desperta para que esse seja um momento de continuar a
lutar por sua vida e despertar para de fato tratar e vencer o transtorno.
Referências
HAYES, Steven C.; WILSON, Kelly G.; HAYES, Steven C.. Terapia de aceitação e
compromisso: O processo e a prática da mudança consciente. 2 Artmed, 2021.