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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Anna Leitão Lavagetto - 2011148


Beatriz Caban Stern Matta - 2020717
Daniela Wolff de Moraes Fagundes - 2020233
Yasmin Muniz Tarin Lafuente- 2020237

TRABALHO DE FUNDAMENTOS EM NEUROCIÊNCIAS


TEMA: ANOREXIA NERVOSA

Rio de Janeiro
2021
DEFINIÇÃO

Anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma busca incessante pela
magreza e pelo medo extremo da obesidade. Esses dois fatores levam à adoção de
comportamentos ligados à redução de peso, o que resulta na obtenção e manutenção de peso
significativamente abaixo dos padrões de normalidade. A anorexia nervosa é considerada a
doença psiquiátrica com a mais alta taxa de mortalidade.

Nível de gravidade: “Leve: IMC ≥ 17 kg/m2; Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2; Grave: IMC
15-15,99 kg/m2; Extrema: IMC < 15 kg/m” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,
2014)

Existem dois tipos de Anorexia Nervosa: restritivo e purgativo. O primeiro tipo é


caracterizado pela ausência de episódios recorrentes de compulsão alimentar e de
comportamento purgativo nos últimos três meses; no tipo purgativo, esses episódios e/ou
comportamento foram observados nos últimos três meses.

DIAGNÓSTICO

O DSM-5 define três critérios diagnósticos para Anorexia Nervosa: restrição suficientemente
significativa da ingesta calórica para reduzir o peso corporal a um valor significativamente
baixo, medo intenso de ganhar peso ou de engordar e influência indevida do peso ou da
forma corporal na vida do paciente.

Algumas características diagnósticas da Anorexia Nervosa são: recusa alimentar motivada


pelo medo extremo de ganhar peso, perda exagerada de peso sem qualquer causa aparente,
dismorfia corporal, secura da pele e das mucosas, queda de cabelo, inchaços nas pernas e na
barriga, interrupção do ciclo menstrual, recusa em participar de refeições, isolamento social,
hábito de jejuar e presença de problemas psiquiátricos associados, como depressão e TOC.

ETIOLOGIA

A Anorexia Nervosa possui uma etiologia multifatorial - resulta de uma combinação de


fatores genéticos, sociais, neurológicos e psicológicos. Os principais fatores de risco são
predisposição genética e presença de outro(s) distúrbio(s) psiquiátrico(s). O culto à magreza
também está muito atrelado a essa doença; estudos mostram que mais de metade das meninas
adotam alguma medida de controle de peso antes da puberdade. A Anorexia Nervosa ocorre
predominantemente em pessoas jovens do sexo feminino.

Impactos no cérebro:

A Anorexia Nervosa produz alguns efeitos no cérebro, dentre os quais pode-se citar a
diminuição do tamanho do cérebro, efeitos adversos nos centros de emoção e dificuldade para
pensar, passar de uma tarefa para outra e definir prioridades.
CASO CLÍNICO

Sandra (nome fictício) tem 49 anos e foi diagnosticada com Anorexia Nervosa do tipo
restritivo aos 33. Na infância e adolescência, teve diversos problemas familiares. Seu
relacionamento com o irmão mais novo era muito forte e importante para ela.

Quando Sandra tinha 33 anos, houve um rompimento na relação fraterna. Sentindo-se traída e
profundamente deprimida, ela passou a deixar de comer e a perder peso. Chegou a pesar 27
quilos e diz que queria fazer o irmão ver o que estava fazendo com ela.

Sandra foi internada 30 vezes em 16 anos e já passou por tentativas de suicídio. Por vezes,
não conseguia sequer andar, e mesmo assim não queria comer. Sempre que era internada, os
médicos diziam que ela precisava alcançar 35 quilos para receber alta. Esse número virou
uma obsessão. Sua meta era ter 35 quilos, pois aquilo significava que ela estava bem e não
precisava ser internada.

A desnutrição severa resultou, entre outras coisas, em: um quadro de osteoporose, uma
fratura do fêmur, problemas dentários, fraqueza e fadiga muscular, dificuldade de locomoção,
afasia, tontura e frequentes crises de cefaléia. Além disso, Sandra demonstrava pouca
capacidade de socialização e de executar um projeto de vida consistente e duradouro. Ela
tinha frequentes crises depressivas, nas quais se mostrava frustrada por não conseguir realizar
mudanças em sua vida e superar dificuldades cotidianas.

Em 2010, Sandra começou a frequentar sessões de atendimento psicoterápico individual . Nas


primeiras sessões, ela relatou que, quando recebeu o diagnóstico, aos 33 anos, teve
dificuldade em aceitá-lo, por achar que só adolescentes podiam ter anorexia.

Sandra equacionava as condições físicas e estéticas do corpo à sua identidade. Ela só se


aceitava como pessoa se habitasse um corpo extremamente magro e fragilizado, em resposta
a um sentimento persistente de estar obesa. Alcançar esse ideal impossível parecia estar além
do medo da morte. Ela via a anorexia não como um severo transtorno psiquiátrico, mas como
algo que fazia parte de sua identidade. Durante o tratamento, chegou a fazer a seguinte
afirmação: "Eu não consigo me ver a não ser como anoréxica".

Nos primeiros meses de tratamento, ainda que lentamente, foi possível investigar o estado
emocional de Sandra. No sétimo mês, seus sintomas depressivos se intensificaram e houve
considerável regressão nas possibilidades terapêuticas. Sandra demonstrava profunda
desesperança; dizia que a anorexia era sua essência, que nunca conseguiria mudar, e que já
não aguentava aquela tristeza sem fim. Felizmente, ao fim do primeiro ano de tratamento, as
sessões já transcorriam de forma mais tranquila

Em 2011, apesar de Sandra estar mais receptiva à psicoterapia, exames revelaram que seu
caso tinha se agravado. Por isso, ela foi internada na unidade psiquiátrica de um hospital
universitário. Durante a internação, foram concedidas a ela altas no fim de semana, que se
estenderam gradativamente. Dar continuidade à psicoterapia, mesmo internada, mostrou-se
um processo de autoconhecimento para Sandra, favorecendo além de sua alimentação e
autocuidado, mas a internação e relações construídas ali também.

Sandra se mostrou mais empenhada e comprometida com o atendimento, em comparação


com suas outras internações, mas várias dificuldades se mantiveram. Ela ganhou cerca de 7
quilos e ficou profundamente incomodada ao ver que algumas roupas não serviam mais.
Após uma das primeiras altas temporárias, ela fez o seguinte relato: “Não me sinto bem com
o meu corpo. Por mais que eu esteja tentando me alimentar, cuidar de mim, eu vejo o meu
rosto redondo, a minha perna grossa, minha barriga saliente. E tem aquilo, né, de sair na rua e
as pessoas comentarem [que ela está diferente, que parece melhor], daí vão comentar alguma
coisa e eu não vou gostar.”.

Passados três meses de internação, Sandra recebeu alta definitiva e continuou comparecendo
às sessões psicoterápicas. Seguiu-se um longo período permeado por uma série de atitudes
ambivalentes em sua vida. Não queria retroceder em seus hábitos alimentares, mas o ato de
comer ainda a deixava imensamente culpada; não queria ser constantemente supervisionada
pela mãe, mas a ideia de se afastar de casa ainda era muito ameaçadora.

Muitas das dificuldades que a paciente apresentara no início do tratamento psicoterápico se


mantiveram. No entanto, agora ela tinha mais confiança em sua própria capacidade de lidar
com momentos de adversidade.

Tratamentos

Por causa de sua etiologia multifatorial, a Anorexia Nervosa é uma doença de difícil
tratamento. De modo geral, o tratamento é sempre uma combinação dos seguintes métodos:
psicoeducação do paciente e de familiares, reeducação alimentar, uso de medicação, terapia
cognitivo-comportamental, psicoterapia individual e orientação e/ou terapia familiar.

Exemplos na mídia

● Vídeo: After anorexia: Life's too short to weigh your cornflakes | Catherine Pawley |
TEDxLeamingtonSpa
● Filme: O mínimo para Viver
● Vídeo: Anorexia e Bulimia
● Vídeo: Sintomas da anorexia nervosa | Dicas de Saúde
● Vídeo: losing control: Dancing with the Devil
● Vídeo: A Day in the Life of Anorexia Nervosa
REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de


Transtornos Mentais. Disponível em:
http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Tra
nstornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf. Acesso em: 29 maio 2021.

APPOLINÁRIO, José Carlos; CLAUDINO, Angélica M, 2000. Transtornos Alimentares.


Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, online, v. 22, n.2, Dez. 2000.

ATTIA, Evelyn; Walsh, Timothy B. Anorexia Nervosa. Disponível em:


https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transt
ornos-alimentares/anorexia-nervosa. Acesso em: 29 maio 2021.

Dancing with The Devil. Produção de Demi Lovato. Youtube, 2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=uZmXF50Yx7I&list=PLy4Kg0J0TkearxiMrCsHih5xJztt
Ue8JC&index=3. Acesso em: 22 de maio de 2021.

DEMYSTIFYING MEDICINE. "A day in the life of Anorexia Nervosa". Disponível


em:https://www.youtube.com/watch?v=xL_Z-Vr28-s&t. Acesso em: 20 de maio de 2021.

EATINGDISORDERHOPE. How Malnourishment Affects the Brain: Research on


Anorexia and Neurobiology. Disponível em:
https://www.eatingdisorderhope.com/information/anorexia/how-malnourishment-affects-the-
brain-research-on-anorexia-and-neurobiology. Acesso em: 29 maio 2021.

EMILYPROGRAM. How eating disorders affect the neurobiology of the brain. Disponível
em:
https://www.emilyprogram.com/blog/how-eating-disorders-affect-the-neurobiology-of-the-br
ain/. Acesso em: 29 maio 2021.

FLEITLICH, Bacy W. et al. Anorexia nervosa na adolescência. Jornal de Pediatria, São


Paulo, online, 2000.

FLEURY. Anorexia Nervosa. Disponível em:


https://www.fleury.com.br/manual-de-doencas/anorexia-nervosa. Acesso em: 29 maio 2021.

GOULART, Daniel Magalhães; SANTOS, Manoel Antônio dos. Psicoterapia individual em


um caso grave de anorexia nervosa: a construção da narrativa clínica. Psicologia clínica, Rio
de Janeiro, online, 2015, vol.27, n.2, 2015.

HOSPITAL SANTA MÔNICA. Transtorno Alimentar: Muito mais do que comer.


Disponível em:
https://hospitalsantamonica.com.br/transtorno-alimentar-muito-mais-do-que-comer/. Acesso
em: 31 maio 2021.

O Mínimo para viver. Marti Noxon. Netflix, 2017. Trailer disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=aXS2taIXXQA. Acesso em: 20 de maio de 2021

MINUTOS PSÍQUICOS. "Anorexia e bulimia". Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=mohJz_HyoMY. Acesso em: 19 de maio de 2021.
PAWLEY, Catherine. "After anorexia: Life's too short to weigh your cornflakes". Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=gZpcTVqpaPw. Acesso em: 20 de maio de 2021.

PROGRAMASAUDEFACIL. Cálculo IMC. Disponível em:


https://www.programasaudefacil.com.br/calculadora-de-imc. Acesso em: 29 maio 2021.

RÁDIOS.EBC. Pacientes com anorexia têm taxa de sobrevida inferior aos de câncer de
mama. Disponível em: https://radios.ebc.com.br/revista-brasil/2017/07/anorexia. Acesso em:
29 maio 2021.

VARELLA, Drauzio. "Sintomas da anorexia nervosa". Disponível


em:https://www.youtube.com/watch?v=8z3FEOtNCwk. Acesso em: 19 de maio de 2021.

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