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HISTORICAMENTE DEIXADA DE LADO

1ª avaliação

Evelyn Cardozo Murad


Educação de Jovens e Adultos I
Universidade Federal Fluminense 2022.2

A Educação de Jovens e Adultos passou por alguns “slogans” que norteavam o ensino
dos alunos. Foi-se desde “ser brasileiro é ser alfabetizado”, passando por “ser alfabetizado é
saber ferrar o nome” até o que ainda presenciamos que é uma campanha do tipo “ser educado
é ser certificado” ou “ser brasileiro educado é ser empreendedor”. Tais ideias demonstram as
intenções e objetivos que o sistema trata a EJA, o lugar que espera-se que os alunos tenham
perante a sociedade.
Na época da ruptura com o Estado Oligárquico, tivemos a saída dos campos para
cidade, então houve uma demanda de que as pessoas soubessem o mínimo para trabalhar,
surgindo uma lógica da profissionalização sem perspectiva crítica. Esse ponto ainda é um
parte da luta por uma EJA digna, visto que ainda tem-se, em sua maioria, o “ensino pobre
para pobre”. Essa educação sempre foi voltada para a classe que está sob o estigma da
exclusão social, uma fração mais empobrecida da sociedade, em sua maioria, negros e
mulheres.
Com o fim do Estado Novo e a intensificação do capitalismo industrial no Brasil, as
necessidades educacionais voltaram-se para o aumento de um eleitorado e a necessidade de
preparação de mão de obra. Enquanto isso, a Guerra Fria e Unesco estimularam a criação de
campanhas de alfabetização em países periféricos e semiperiféricos. Então o Brasil, entre
1940 e 1960 iniciou campanhas como a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e
Adultos (CEAA) e a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), ambos com o slogan
“ser brasileiro é ser alfabetizado”.
Já nos anos de 1960 houve o surgimento de questionamentos da pobreza do ensino
através de movimentos como o Movimento de Cultura Popular (MCP) que acreditava na
ampliação do engajamento dos alunos no processo de transformação social. Além disso,
surgem movimentos estudantis dedicando-se a manifestações artísticas enquanto Paulo Freire
e sua equipe na Universidade do Recife ganham força. Porém na Ditadura civil-militar esses
movimentos foram repreendidos, enquanto o governo autoritário estimulou a criação da
Cruzada Ação Básica Cristã e do Mobral, movimento brasileiro de alfabetização com uma
educação infantilizada e rasa.
Mais tarde, já na Nova República, o Mobral foi extinto e foi criada a Fundação
Educar - extinta em 1990 - que representou, em muito âmbitos, apenas uma continuidade para
o ensino do Mobral. Logo mais, com a Lei nº 5.692/71 tem-se a primeira legislação
específica para o ensino de jovens e adultos, que diferenciou o ensino regular do ensino da
EJA e falou sobre a necessidade de formação de professores para atuar nessa área.
Mas a EJA vem para mexer na ideia inicial do ensino supletivo, que tornou-se um
ensino acelerado da escolaridade. Atualmente o que temos é uma certificação vazia, voltada
para um ensino pobre e rápido, que não prepara o aluno para ir além, para refletir e ocupar
novos espaços. Além disso, tem a defesa da suposta formação de microempresários, do
autoemprego/empreendedorismo como solução para pobreza e desemprego - uma
precarização revestida por uma aparência de liberdade.

"A verdadeira pedagogia é aquela que olha a todo momento para a expressividade do
aluno, para o exercício de sua compreensão crítica da sociedade e não para a sua
acomodação."
(Paulo Freire em "Ação cultural para liberdade")

É notório a necessidade de reflexão e mudança desse processo de ensino. Busca-se


que ele seja feito a partir da visão e compreensão da realidade dos alunos presentes, sempre
respeitando suas vivências e instigando o pensamento crítico. Ou seja, é preciso ter uma
proposta metodológica a partir da história dos alunos e que os alunos construam esse
conhecimento e experiências dentro e fora da escola. É preciso ter uma concepção de
formação humana integral, reconhecer seus seu saberes e garantir o direito social de acesso e
permanência na EJA. Portanto, faz-se necessário um debate da EJA durante a formação
inicial de professores, ampliando e fortalecendo sua presença nas licenciaturas e na
pedagogia.

Referências:

FREIRE, Paulo. "Ação cultural para liberdade". Editora Record.


VENTURA, Jaqueline. A trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos
Trabalhadores.

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