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“Eugenia trata-se do termo cunhado por Francis Galton (1822-1911). Francis Galton afirmava que
a eugenia era um estudo cientifico que poderia melhorar ou piorar as qualidades raciais, físicas e
mentais das gerações futuras. Logo, eugenia, para ele e os seus seguidores, é sinônimo de
melhoramento genético das raças.” CASTRO, Celso; MARQUES, Juliana. Interpretações do
Brasil. Rio de Janeiro. FGV, 2016. Disponível em: <
https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/interpretacoes_do_brasil_2016-1.pdf>.
Acesso em: 06 set. 2020
projeto dos intelectuais brasileiros, visto que, o Estado financiaria a passagem dos
imigrantes europeus, principalmente homens solteiros, para trabalharem no campo ou em
funções técnicas especializadas.
Já na área da educação, um elemento importante das escolas primárias do início da
república, segundo Schueler e Magaldi (2008), é o “papel assumido por essa instituição na
formação do caráter e no desenvolvimento de virtudes morais, de sentimentos patrióticos e
de disciplina na criança” (p.45). Nesse sentindo, podemos compreender de acordo com
Dávila (2006), que as escolas deveriam proporcionar às crianças “independentemente de
sua cor, a categoria social de brancas.” (p. 28). A escola nos primeiros anos da república,
buscava responder a uma das questões centrais do período: como construir a nação
brasileira? O entendimento de que a humanidade caminhava em direção ao progresso era
comum no pensamento social da época, e cabia a à escola garantir esse processo.
A escola foi pensada como uma importante ferramenta para a formação do cidadão
nacional. Não é a toa que Getúlio Vargas, através do Decreto n° 19.402 de novembro de
1930, criou o Ministério da Educação e Saúde Pública (MES). A importância desse
ministério para a política nacional pode ser entendida a partir da carta escrita por Gustavo
Capanema a Getúlio Vargas, em 1937, na qual Capanema explica que o “Ministério da
Educação e Saúde se destina a preparar, a compor, a afeiçoar o homem do Brasil. Ele é
verdadeiramente o ‘ministério do homem’”. (DÁVILA, 2006, p. 48)
Mas como “preparar, compor, a afeiçoar” o homem do Brasil? Segundo Dávila
(2006), essa resposta passa pelo processo de eugenia, no qual a educação pública tornaria
os cidadãos nacionais “brancos” e fortes. As políticas de imigração de europeus,
apresentadas anteriormente, passam a compartilhar espaços com novas políticas que
também buscavam embranquecer o comportamento e as condições sociais, pois não
bastava apenas embranquecer a cor de pele, era necessário embranquecer a mentalidade e o
comportamento social.
Como podemos observar as políticas racialista estão presentes na história do Brasil
desde o seu “descobrimento”, e se intensificam a partir do início da República. De acordo
com o historiador Amilcar Pereira (2021), a ideia de raça foi utilizada:
politicamente na construção do Estado-Nação brasileiro: de um lado, nas
primeiras décadas da República, pelo que buscavam construir uma nação
moderna e embranquecida, como as nações europeia, já que acreditavam
na superioridade racial dos brancos; e, de outro, posteriormente, elos que
passaram a utilizar a ideia de raça de uma maneira completamente
ressignificada como um instrumento de luta por direitos, para afirmação
de valores étnicos e para a construção de identidades por meio de suas
próprias narrativas de (re)existência, como é o caso do Movimento Negro
brasileiro” (PEREIRA, 2021, p.58)
É a histórica luta do Movimento Negro brasileiro que irei me concentrar agora, com o
enfoque na luta no campo educacional que era e é vista como o principal caminho para o
combate do ao racismo no Brasil.
Desde sua concepção, o encontro orí flertou com a luta histórica do movimento
negro no campo da educação. Tento em vista que os sujeitos afetam suas produções, a luta
do Movimento Negro para a inserção de negros na educação e para a modificação do
sistema educacional brasileiro é responsável direito para a realização de um evento como o
encontro orí.
É importante demarcar que para essa pesquisa entendo Movimento Negro
organizado como “um movimento social que tem como particularidade a atuação em
relação a questão racial” (PEREIRA, 2013, p.110). De acordo com Joel Rufino dos Santos,
em O Movimento Negro e a Crise Brasileira (1985), existem duas definições para o
conceito de movimento negro. O primeiro, mais estrito e excludente, considera movimento
negro “exclusivamente o conjunto de entidades e ações dos últimos cinquenta anos,
consagrados explicitamente à luta contra o racismo” (SANTOS, 1985, p.287). O segundo é
mais amplo e considera movimento negro como “todas as entidades, de qualquer natureza,
e todas as ações, de qualquer tempo (aí compreendidas mesmo aquelas que visam à
autodefesa física e cultural do negro), fundadas e promovidas por pretos e negros”
(SANTOS, 1985, p.287). Para esta pesquisa mobilizarei a definição mais ampla de
Movimento Negro, concordando com a pedagoga Nilma Lino Gomes (2019, p.24),
“movimento negro as mais diversas formas de organização e articulação das negras e
negros politicamente posicionados na luta contra o racismo e que visam à superação desse
perverso fenômeno na sociedade”, sendo que, “movimento negro é, antes de mais nada,
aquilo que seus protagonistas dizem que é” (SANTOS, 1985, p.287).
O discurso que a educação é o melhor, ou até o único, caminho para a ascensão
social e para melhorar a vida é algo muito presente no dia a dia da camada pobres e média
da sociedade brasileira, como pode ser visto na fala de Mayara dos Nascimento
É ... a outra pergunta dos meus pais, né?! Cara, sim a gente já teve muitas
conversas do meu pai falando: “cara, você precisa estudar. Se você não
estudar você vai ser ninguém, assim como eu”. Assim, esse papo duro
mesmo, sabe?! Tipo: “você não vai a lugar nenhum. Eu não quero que
você fica quebrando pedra, eu não quero que você se sacrifique para de
fato dar comida para os seus filhos. Eu não quero essa vida que eu tenho,
sabe?!”. E a gente sempre teve uma vida, assim, bem difícil mesmo. Aí
gente, não quero chorar não ... bem difícil de, tipo, ter só que comer ...
Bem difícil. É .. ele tinha esses papos assim com a gente, de tipo: “cara,
você precisa estudar, porque é isso que vai mudar sua vida. Eu não
estudei, eu não tive oportunidade e olha no que deu”. 2
2
Entrevista com Mayara Cristina Bernardo do Nascimento, estudante do curso de história da UFRJ
e participante como ouvinte do encontro orí. A entrevista foi realizada por Odara Philomena e
Jorge Maia, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ – IFCS/UFRJ, no Rio de Janeiro,
no dia 13 de maio de 2022.
3
“Homens de cor”, “pessoas de cor” são expressões utilizadas no século XIX e início do século
XX para se referenciar a população negra.
Dentre essas associações, merece destaque a Frente Negra Brasileira (FNB), que,
de acordo com Domingues (2008), foi a maior e a mais importante entidade negra no pós-
abolição. Fundada no dia 16 de setembro de 1931 na cidade de São Paulo, a FNB se
identificava como uma união política e social da população negra brasileira. Essa entidade
se espalhou para outras regiões do país, como Rio de Janeiro e Minas Gerais e, de acordo
com o historiador inspirou “a criação de entidades homônimas em Rio Grande do Sul
Salvador e Recife”. São desencontradas as estimativas dos estudiosos quanto aos números
de sócios da agremiação. Investigações indicam valores que variam entre 10 mil e 200 mil.
A associação foi extinta em 1937 devido ao golpe do Estado Novo.
De acordo com o pesquisador George Andrews (1998), citado por Domingues
(2008), a Frente Negra Brasileira reuniu uma série de programas “ascensão moral e
progresso material da raça negra” (DOMINGUES, 2008, p.522). Uma das instâncias de
luta mais importantes da FNB voltada para o ensino formal, era conhecida como
Departamento de Instrução. A FNB também entendia educação como “a principal arma na
‘cruzada’ contra o ‘preconceito de cor’” (DOMINGUES, 2008, p. 522). Suas lideranças
tinham uma visão crítica sobre a falta de políticas educacionais voltadas aos
afrodescendentes. Assumindo para si a responsabilidade de educar os seus, em 1932, a
FNB criou um curso de alfabetização para todas as idades, sexos e raças.
O jornal A Voz da Raça, de acordo com o historiador Alex Benjamim de Lima
(2011), merece destaque devido à “sua longevidade, estrutura, organização e prestígio
político-social”, chegando ao total de 70 edições, entre 1933 e 1937. Por meio do
periódico, a Frente Negra Brasileira incentivou a população de cor a procurar o ensino
formal, chegando a anunciar, em uma matéria do dia 11 de agosto de 1933, a abertura de
uma escola. Uma iniciativa importante da escola da FNB, era a doação gratuita do material
escolar e do uniforme que era um grande empecilho para as camadas populares
frequentarem os espaços escolares.
Apesar de não ter uma atuação revolucionária, a Frente Negra Brasileira não
deixava de questionar alguns elementos estruturais da sociedade da época. No campo da
educação, por exemplo, de acordo com Domingues (2008), a FNB não construiu “um
projeto pedagógico centrado na questão do negro, nem desenvolveu material didático
específico, uma grade curricular alternativa ou se debruçou em torno de uma prática de
ensino totalmente inovadora”. Contudo, ela propunha a incorporação da população negra
que deveria ser valorizada e respeitada como parte da nação brasileira.
A Frente Negra Brasileira não é um caso isolado. Se voltarmos um pouquinho no
tempo, temos, por exemplo, a Escola de Primeiras Letras, de Pretextato dos Passos e Silva,
“professor negro que lecionava para crianças negras em 1856, na então capital do império,
o Rio de Janeiro” (PEREIRA; MAIA; LIMA, 2020, p.165)4. E avançando no tempo,
podemos destacar a iniciativa educacional do Teatro Experimental do Negro (1944-1961),
que de acordo com seu fundador, Abdias do Nascimento (2004, p.211), alfabetizou “cerca
de seiscentas pessoas, entre homens e mulheres”5. Esses são só alguns exemplos de ações
diretas do movimento negro no campo da educação na primeira metade do século XX.
A partir dos anos 1970 é possível perceber uma virada na luta do movimento negro
brasileiro. Rosangela Ferreira de Souza, em sua tese de doutorado intitulada Pelas páginas
dos jornais: recortes identitários e escolarização do social do negro em São Paulo (1920-
1940), afirma que o movimento negro nas primeiras décadas do século XX não
apresentava um cunho revolucionário contra a ordem social vigente, mas sim um caráter de
protesto contra as injustiças e diferenças sociais mais profundas da sociedade. Ou seja, a
ideia era a integração da população negra à sociedade como ela era. O ‘movimento negro
contemporâneo’6 potencializa a denúncia do chamado “mito da democracia racial”7, isto é,
uma crítica ao discurso nacional hegemônico. A ideia era uma transformação social, não
bastava se inserir na sociedade como ela é, sendo necessário sua transformação. Trata-se
da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
4
Para mais informações sobre a Escola de Primeiras Letras, de Pretextado dos Passos e Silva ver:
FERREIRA, Hugor Figueira. A construção do currículo em uma experiência escolar para meninos
pretos e pardos na corte em meados do século XIX. Orientadora: Ana Maria Ferreira da Costa
Monteiro. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2014.
5
Para mais informações sobre o Teatro Experimental do Negro (TEM) ver: NASCIMENTO,
Abdias do. Teatro experimental do negro: trajetórias e reflexões. Estudos avançados, v. 18, p. 209-
224, 2004.
6
Nesse projeto o uso de “movimento negro contemporâneo” se refere a luta do movimento negro
entre 1970 e 1995
7
“Fábula sobre a nossa formação, segundo a qual os três elementos formadores ocuparam papéis e
funções distintas, correspondentes ao valor de suas raças. Assim, conforme o “mito”, ao branco
coube os atributos estruturantes da civilização – especialmente a herança europeia – e ais demais os
caracteres secundários da nossa formação, quando não a responsabilidade por boa parte de nossos
vícios.” (COELHO, C.; COELHO, W., 2018, p.4)
Não se deve ignorar o contexto histórico em que o movimento negro
contemporâneo (170-1995) se constitui. Estamos falando do período em que o país estava
passando por uma ditadura civil-militar, onde era
proibido qualquer evento ou publicação relacionado à questão racial –
que poderia ser visto pelo regime como algo que pudesse “incentivar ao
ódio ou à discriminação racial” e, segundo o Decreto-Lei nº 510, de 20 de
março de 1969 em seu artigo 33º, poderia levar à pena de detenção de 1 a
3 anos (PEREIRA, 2013, p.220)
Neste país que vendia ao mundo a imagem de país racialmente democrático. A ação
do Movimento Negro contemporâneo para denunciar essa história hegemônica pode ser
exemplificada no ato público realizado no dia 07 de julho de 1978 nas escadarias do Teatro
Municipal de São Paulo. Este ato foi o lançamento do Movimento Unificado Contra a
Discriminação Racial (MUCDR) – que depois “ganha” a palavra “negro” e transforma-se
em Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR), e
posteriormente, se intitula somente como Movimento Negro Unificado (MNU) – e que
representa um marco fundamental do movimento negro contemporâneo brasileiro8, já que a
criação do MNU “possibilitou, ou ao menos incentivou, a formação de muitas outras
organizações em diferentes estados do país.” (PEREIRA, 2013, p.266).
Outra característica diferente do movimento negro a partir da década de 1970 está
na luta no campo da educação. Se antes o movimento negro estava preocupado com o
acesso da sua população ao sistema educacional, observa-se a partir daí uma crítica ao
eurocentrismo presente nos currículos escolares. A própria Carta de princípios do MNU,
elaborada em 1978, pode ser vista como a referência dessa virada, pois entre suas
reinvindicações se encontra a luta pela “reavaliação do papel do negro na história do
Brasil”, que de acordo com o Amilcar Pereira (2012) está relacionada diretamente com a
história ensinada nas escolas.
Como exemplo da ação direta do movimento negro nas escolas e pela “reavaliação
do papel do negro na história do Brasil” temos a ação do Centro de Cultura Negra (CCN),
no Maranhão, que atuava “diretamente nas escolas, não somente dando palestras e
informando professores e alunos sobre a história dos negros no Brasil, mas também
produzindo material didático para este fim.” (PERERA, 20212, p.277). O relato de Magno
Cruz, presidente do CCN de 1984 a 1988, demonstra como que essa temática era
8
Para saber mais sobre a criação do MNU ver: PEREIRA, Amilcar Araujo. O mundo negro:
relações raciais e a constituição do movimento negro no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas/FAPERJ,
2013. Capitulo 4
negligenciada nas escolas: “Porque tudo era novidade, ninguém discutia a questão dos
negros. Então, ir para a escola, falar da história do negro, desmistificar a história oficial
não era uma tarefa fácil” (PEREIRA, 2013, p.278).
Todo esse apanhado histórico da luta do movimento negro mostra como a educação
sempre foi entendida como um instrumento primordial de luta para uma sociedade mais
igualitária. Inclusive a participação direta de intelectuais e ativistas negros nos debates da
assembleia constituinte foi de extrema importância. Prova disto é que estes garantiram que
o Art. 242, da Constituição de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã’, estabelecesse
que “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro” (BRASIL, 1988). Fica evidente
portanto que a criação da Lei 10.639/03 pode ser percebida como resultado de um longo
processo de disputa do movimento negro. A obrigatoriedade do “estudo da História da
África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
econômica e política pertinentes à História do Brasil.” (BRASIL, 2003). Para além do
cumprimento legal da Constituição, representa uma conquista histórica desse movimento
social.
9
Disponível em: <https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/190742>. Acesso em: 13 set.
2022
secundário, superior e de pós-graduação (...) (PL 1332/1983, p.09 apud
Alves, 2017, p.53)
Esse projeto tramitou por cinco anos em várias comissões da Câmara dos
Deputados, até ser arquivado em 1989.
Em 1988, o Deputado Paulo Paim (PT/RS) apresenta a PL 678/1988 que objetivava
estabelecer “a inclusão de matérias da historia geral da África e historia do negro no Brasil
como disciplinas integrantes do currículo escolar obrigatório.” 10. Esse projeto tramitou por
oito anos e também foi arquivado.
Ainda em 1988, a Deputada Benedita da Silva (PT/RJ) apresenta o PL 967/1988
com o intuito de “criar, nas Universidades Federais, Núcleos Etnológicos, visando estudo
dos grupos e sub grupos de origem africana e de índios que participaram na formação de
nossa sociedade”11. Contudo, em 1990, esse projeto foi arquivado com a justificativa que
feria os princípios de autonomia universitária.
Já em 1993, a Deputada Benedita da Silva, apresenta a PL 3621/1993:
objetivamos, como presente projeto de lei, a inclusão da disciplina
“História e cultura da África" nos currículos de 1º e 2º graus, e no curso
de Graduação em História, como meio de formara consciência do papel
que as culturas africanas desempenharam na formação da nossa
sociedade e da nossa própria cultura”.12
10
Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=180723>. Acesso em: 13 set. 2022
11
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/?wicket:interface=:1::::>. Acesso
em: 13 set. 2022
12
Disponível em: < efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/
pdf/DCD27MAR1993.pdf>. Acesso em 13 set. 2022
Dispõe sobre a obrigatoriedade da inclusão, no currículo oficial da Rede
de Ensino, da disciplina “História da Cultura Afro-Brasileira" e dá outras
providências:
Art.1°-Nos estabelecimento de ensino de 1° e 2° graus oficial e
particulares torna-se obrigatório o ensino sobre a HISTÓRIADA
CULTURA AFRO-BRASILEIRA.
$1ºO ensino a que se refere o caput deste artigo deverá ser
ministrado junto às disciplinas de História do Brasil e Educação Artística
do Brasil no 2° grau. Abrangendo, pelo menos, 10% do conteúdo
programático no ano ou semestre em que for a matéria incluída.
$2° O conteúdo programático incluirá o estudo da História a da
África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resguardando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinente à memória do Brasil.
Art.2°- A elaboração dos cursos de capacitação para professores deverá
ter a participação de entidades do movimento afro-brasileiro.
Art.3°- O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como "Dia
Nacional de Consciência Negra".13
Essa proposta foi aprovada na Comissão de Educação, todavia, como seu autor não
foi reeleito deputado, assim como as outros projetos de leis anteriores, esse foi arquivado
em 1999 por não ter passado em outra comissões.
Por fim, ou melhor, por início, chegamos ao Projeto de Lei 259/1999, apresentado
pelos parlamentares Esther Grossi (PT/RS) e Bem-Hur Ferreira (PT/MS). Esse projeto
dispõe “sobre a obrigatoriedade da inclusão, no currículo oficial da Rede de Ensino, da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira" e dá outras providências.”:
Art.1° Nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus, oficiais e
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira.
§1º - O conteúdo programático a que se refere o "caput" deste
artigo incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação
nacional, resgatando a contribuição do povo negro na áreas social,
econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§2º - Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
Brasileiras serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Brasileiras.
§3º - As disciplinas História do Brasil e Educação Artística, no
ensino de2º grau, deverão dedicar, pelo menos, 10% de seu conteúdo
programático anual ou semestral à temática referida nesta lei.
Art.2º Os cursos de capacitação para professores deverão contar com a
participação de entidades do movimento afro-brasileiro, das
universidades e de outras instituições de pesquisa pertinentes à matéria.
13
Disponível em: < efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/
pdf/DCD01SET1995.pdf>. Acesso em 13 set 2022
Art.3º O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como "Dia
Nacional da Consciência Negra".14
14
Disponível em: < http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD20MAR1999.pdf>. Acesso
em: 22 set. 2022
15
Edson Cardoso, liderança do movimento negro em Brasília, atuou como chefe de gabinete do
deputado federal Bem-Hur Ferreira (PT/MS) entre 1999 e 2000 e entre 2002 e 2003.
africana e afro-brasileira que pela Lei 10.639/03 estava prevista apenas “nos
estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares”16, para todos os
níveis e modalidades da educação brasileira, com destaque “Instituições que desenvolvem
programas de formação inicial e continuada de professores” (BRASIL, 2004). O § 1°desse
artigo dispõe:
As Instituições de Ensino Superior incluirão nos conteúdos de disciplinas
e atividades curriculares dos cursos que ministram, a Educação das
Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas
que dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicitados no
Parecer CNE/CP 3/2004.17
16
Art. 26-A da Lei 10.630/03. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 22 set. 2022
17
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. Disponível:<
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf>. Acesso em: 23 set. 2022
Entendo que o currículo é campo de disputas, não se deve perder de vista que o
currículo não é neutro, logo este reflete interesses. Se desejamos construir uma sociedade
mais igualitária é necessário, diante do que foi exposto, que para além de disciplinas
específicas sobre as temáticas da Lei 10.639/93, toda a grade curricular precisa ser
alterada, pois precisamos que o eurocentrismo seja combatido. Pensando especificamente
nas grades curriculares do curso de História, nas quais eu irei me debruçar ao longo da
pesquisa, podemos pensar a exemplo, as disciplinas sobre História do Brasil que devem
abordar a história dos negros no Brasil, afinal, como exigia o MNU é necessário a
“reavaliação do papel do negro na história do Brasil”. Mas não é só a história do Brasil,
disciplinas como História Contemporânea, História Moderna, e todas as demais, devem ir
além da história do continente europeu e incluir as demais partes do mundo. 18 Precisamos
assumir uma perspectiva histórica que abandone a percepção de Europa como epicentro do
mundo.
Concordo com a avaliação de Oliveira e Silva (2017, p.185) quando afirmam que a
implementação da Lei 10.639/03 só terá eficácia quando tivermos reais mudanças nas
“práticas discursivas e na descolonização dos currículos da educação básica e superior em
relação à África e aos afro-brasileiros”. Por isso, entendo que a luta histórica movimento
negro brasileiro tem uma agenda de disputa de poder.
19
Maiores informações disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2022-
04/lei-de-cotas-ajuda-reduzir-desigualdades-diz-universidade-americana#:~:text=Segundo%20a
%20pesquisa%2C%20a%C3%A7%C3%B5es%20afirmativas,de%20determinados%20grupos
%20de%20estudantes.> e < https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/international-higher-
education/iniciativas-de-acoes-afirmativas-ao-redor-do-mundo#:~:text=Embora%20algumas%20na
%C3%A7%C3%B5es%20tais%20como,d%C3%A9cadas%20de%201990%20ou
%202000.>.Acesso em: 29 set. 2022
período de grandes especulações acerca das consequências desses programas”
(GUARNIERI; MELO-SILVA, 2017, p.184).
As discussões sobre as cotas no ensino superior perpassaram o universo acadêmico
e político, ganhando espaço nos principais jornais. Disputas em torno dessa lei provocou
um debate sobre diversos aspectos da realidade social brasileira, em especial no que diz
respeito às relações raciais e à desigualdade social. Posicionamentos contra e a favor das
cotas raciais ainda podem ser observados em diferentes setores da sociedade brasileira.
Entre os que se posicionam contra as cotas, alguns ainda acreditam, de acordo com
o antropólogo Kabengele Munanga (2015), no chamado “mito da democracia racial” e que
o Brasil é um país sem raças, ou seja, a “sociedade de mistura de sangue altamente
mestiça, onde os indícios da discriminação devem ser buscados nas diferenças
socioeconômicas e não nas diferenças raciais” (MUNANGA, 2015, p. 23), ou seja, cotas
raciais não fariam sentido. Outra parcela da população admite a existência do racismo no
Brasil, mas esse racismo seria um racismo “à brasileira”. Para esses indivíduos é preciso
defender um universalismo baseado na ideia de que “perante a lei somos todos iguais”, por
isso, se opõem à ideia de que existem diferenças entre pretos e brancos. As políticas
públicas para diminuição das desigualdades devem, portanto, ser aplicadas para toda a
sociedade e não a uma parcela específica. Vale ressaltar que esse posicionamento
ocasionou, em 2006, até em um manifesto, sob o título “Todos têm direito iguais na
República”20, que contou com 114 assinatura de intelectuais, professores, pesquisadores e
artistas. Parte desse grupo defendiam que as cotas raciais estariam contempladas, em
alguma medida, pelas cotas sociais
Além dessas críticas apresentadas por Munanga (2015), alguns grupos da sociedade
também acreditam que as cotas prejudicam a qualidade do ensino superior, entendendo que
os alunos cotistas não têm capacidade para acompanhar os demais estudantes devido seu
baixo capital cultural e social (SILAME; MARTINS; FONSECA, 2020, p. 3).
Em contrapartida, os que defendem a implementação da Lei 12.711/12, entendem
que se trata de uma reparação de desigualdades históricas, provocadas por mais de 300
anos de escravidão da população negra. E que mesmo após o fim deste período o Estado
brasileiro não se preocupou em oferecer nenhum tipo de assistência que garantiria a
inclusão da população negra, recém liberta, na dinâmica social. Logo, a Lei de cotas
20
Disponível em: < https://www.nacaomestica.org/abaixo_assinado_contra_cotas.htm>. Acesso
em: 01 out. 2022
poderia “contribuir para a democratização do acesso [ao ensino superior] e para a
promoção da igualdade e da justiça social” (SOUZA; BRANDALISE, 2015, p. 181), já
que tem por finalidade propiciar oportunidades antes dificultadas e/ou negadas à população
negra.
A verdade é que a Lei 12.711/12 beneficiou uma diversidade de sujeitos por mirar
diferentes expressões das desigualdades sociais, sendo esse um fator de destaque dessa
política afirmativa (PASSOS, 2015, p. 161). Estudos mostraram que a política aumentou
de forma significativa a proporção de estudantes negros nas universidades públicas, isso
pode ser observado no dia a dia das instituições. De acordo com estudo desenvolvido por
Fernanda Estevan, Thomas Gall e Louis-Philippe Morin (2019) aproximadamente 10%
dos estudantes admitidos não teriam entrado sem a política de cotas.
Além disso, diversos estudos indicam que apesar dos estudantes cotistas
demonstrarem maior dificuldade no inicio do curso, isso diminui consideravelmente ao
longo da graduação. Consequentemente o desempenho acadêmico no final do curso é
similar entre os estudantes cotistas e os alunos(as) da ampla concorrência 21, o que faz com
que a preocupação de parte do setor que se opunha a cota caia por terra. Inclusive, alguns
dos signatários do manifesto contras as cotas que hoje se colocam a favor da política,
entendo que as cotas raciais se mostrou eficiente e democratizante 22. Diante disso, o
movimento negro entende, de acordo com a pesquisa desenvolvida por Pereira, Maia e
Lima (2020) que a aprovação das cotas representa a maior conquista na luta antirracista no
Brasil, seguida da Lei 10.639/03, mostrando mais uma vez a importância da educação para
o movimento negro.
Apesar disso, não podemos esquecer que essa luta ainda está em processo, tendo
em vista que os dados apresentados em 2019 pelo IBGE, na pesquisa Desigualdades
Sociais por Cor ou Raça no Brasil, que apontam que negros são pela primeira vez maioria
21
Dentre estes estudos temos: PENA, Mariza Aparecida Costa; MATOS, Daniel Abud Seabra;
COUTRIM, Rosa Maria da Exaltação. Percurso de estudantes cotistas: ingresso, permanência e
oportunidades no ensino superior. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior
(Campinas), v. 25, p. 27-51, 2020. PEIXOTO, Adriano de Lemos Alves et al. Cotas e desempenho
acadêmico na UFBA: um estudo a partir dos coeficientes de rendimento. Avaliação: Revista da
Avaliação da Educação Superior (Campinas), v. 21, p. 569-592, 2016. WAINER, Jacques;
MELGUIZO, Tatiana. Políticas de inclusão no ensino superior: avaliação do desempenho dos
alunos baseado no Enade de 2012 a 2014. Educação e Pesquisa, v. 44, 2017.
22
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/02/11-signatarios-de-carta-de-
2006-contra-cotas-raciais-dizem-por-que-mudaram-de-posicao.shtml>. Acesso em: 01 out. 2022
nas universidades públicas, representando 50,3% dos estudantes23. Entretanto a população
negra ainda está sub-representada, já que equivalem a 55,8% da nação brasileira. Além
disso, a Lei 12.711/12 em seu artigo 7º prevê que após a conclusão do primeiro decênio de
vigência deve ser realizada uma revisão dos avanços e obstáculos da reserva de vagas para
acesso à graduação nas instituições federais de educação superior. Contudo, estudos como
a do pesquisador Adriano Senkevics (2018) apontam que há dificuldades em conseguir
dados para avaliação e monitoramento efetivo da lei
Exemplo disso são as dificuldades ainda existentes para a composição de
um amplo retrato do perfil racial dos estudantes em nível superior, como
se esperaria obter por meio do Censo de Educação Superior (CES),
levantamento censitário de matrículas, cursos, funções docentes e
instituições em nível superior realizado anualmente pelo Instituto
Nacional e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
(SENKEVICS, 2018, p.4)
O CES ainda registra índices elevados de não declarantes raciais, devido a uma
subnotificação do quesito cor/raça por parte das universidades. Ademais, embora haja uma
crescente no número de pesquisas que examinam esses 10 anos das políticas de cotas,
ainda existem lacunas a serem analisadas, como por exemplo, pesquisas sobre a evasão,
permanência e diplomação dos estudantes que ingressaram via cotas, entendermos quais
cursos e carreiras estão sendo escolhidos e como essas escolhas afetam as ocupações e a
vida desses estudantes após a universidade. Talvez observar a demanda crescente para
cotas na pós-graduação e para a docência seja um caminho.
Apesar das dificuldades para uma avaliação ampla da política, podemos afirmar
que há uma mudança no perfil dos discentes das universidades públicas devido a
implementação de políticas de ação afirmativa (SENKEVICS, 2022). A entrada dos
discentes cotistas e negros(as) nas universidades públicas tem gerado tensionamentos.
Esses novos alunos(as) cuja presença é vista como discrepante, diante do fato das
universidades públicas terem sido ocupadas historicamente pelas elites brasileiras, fazem
com que os espaços de privilégios dessa elite sejam disputados. Privilégios esses que eram
entendidos como legítimos e naturais de um grupo social, como dizia Lima Barreto, no
início do século XX: “Só os ricos podem formar-se e nós já sabemos como, em geral, eles
se formam.” (BARRETO,1961, p. 48 apud, MAGNONI, 2016, p. 303). Podemos perceber
como a ocupação dos espaços de ensino superior exclusivamente pela elite é questionado
23
Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdfl>.
Acesso em: 29 set. 2022.
há bastante tempo. A entrada de estudantes pobres, periféricos e negros(as), nos espaços
universitários têm crescentemente contestado esses privilégios.
A resistência à presença desses alunos e alunas evidencia que o espaço universitário
é, assim como a maioria das instituições brasileiras, fruto de uma sociedade
estruturalmente racista e, por isso, o racismo marca sua organização institucional e práticas
cotidianas, inclusive no que tange a produção de conhecimentos, que “define como
subalternos sujeitos e conhecimentos diferentes da ciência ocidental e da branquitude”
(BARCELLOS, 2018, p. 10). Os currículos universitários, em suas diferentes dimensões,
por muito tempo, também vêm perpetuando as práticas racistas e passam a ser fortemente
contestados com a entrada desses estudantes beneficiados pela Lei de cotas, que trazem
para a academia novas experiências, novos objetos e novas maneiras de se produzir
ciência, questionando assim os currículos predominantemente eurocêntricos. Concluímos
então, que a lei de cotas tem sim mudado a cara e o conteúdo das universidades brasileiras,
como apresentado na epígrafe.
Como pode ser observado ao longo das epígrafes deste primeiro capítulo nós,
organizadores do encontro orí – Encontro de Estudantes de História da África e das
relações étnico-raciais, entendemos desde a idealização do evento que estese insere em um
campo de conquistas históricas do Movimento Negro no campo da educação.
Reconhecendo a importância dessa história de luta que buscamos o nome do evento no
documentário da historiadora e militante do movimento negro Beatriz do Nascimento. Ao
analisar o encontro orí hoje, vejo que Beatriz do Nascimento não inspirou apenas o nome,
mas que sua trajetória de vida e luta também orientou o evento,
Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju, Sergipe, em 17 de julho
de 1942. Oitava filha do casal formado por Rubina Pereira do
Nascimento e Francisco Xavier do Nascimento, teve nove irmãos. Assim
como milhares de famílias nordestinas da época, em 1949, Nascimento
migrou para a região Sudeste, mais precisamente para o Cordovil, bairro
do subúrbio carioca.
Em 1969, aos 28 anos de idade, Beatriz Nascimento é aprovada para o
vestibular do curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), graduação que conclui em 1971. No mesmo período, fez estágio
em pesquisa no Arquivo Nacional, sob orientação do historiador José
Honório Rodrigues. Tempos depois, torna-se professora da rede estadual
fluminense.24
Não podemos perder de vista, como apresentado anteriormente, que estamos falado
de um período em que o Movimento Negro está passando por uma virada. Era preciso
(re)educar a sociedade sobre a história da população negra no Brasil, ressignifica e politiza
o conceito de raça, comprovando que o racismo brasileiro está presente no dia a dia da
população brasileira (GOMES, 2017). O ensino superior, é historicamente, um espaço de
produção científica e de conhecimento, mas também um importante ambiente político. De
acordo com Lia da Costa, a entrada desses estudantes negros possibilitou a constituição de
um Movimento Negro de base acadêmica,
Essa organização de caráter acadêmico permitiu que diversas áreas de
interesse da população negra fossem profundamente analisadas,
especialmente a questão educacional, evidenciando o racismo presente
nas práticas escolares. (COSTA, 2021, p.44)
27
Mônica Lima e Souza é professora de História da África e Coordenadora do Laboratório de
Estudos Africanos - LEÁFRICA da UFRJ.
28
Sobre o ABNT e o Copene, disponível em: < https://abpn.org.br/institucional/>. Acesso em: 25
out. 2022
Negro foi necessária a realização, em 2019, de um evento idealizado e organizado por
estudantes da graduação com o “como objetivo refletir o que graduandos em história e
áreas relacionadas estão pensando e produzindo no campo da historiografia sobre África e
das relações étnico-raciais”.
Constato a partir da tese desenvolvida por Thayara Lima (2022) que a luta
desenvolvia pelo Movimento Negro produz cultura de luta antirracista. A cultura diz
respeito a significados compartilhados, em outras palavras, cultura corresponde a valores
comuns de um grupo ou sociedade (HALL, 2016), e como apresentado por Thayara Lima,
dialogando com Hall, a
luta cria a exigência e as condições necessárias para a ocorrência de
transformações de determinados códigos, conforme Hall nos indicou
anteriormente, a luta “gera e requer seu próprio universo distinto de
significados e práticas” (HALL, 1997, p.32). Essas transformações
consolidam uma cultura de luta no decorrer deste processo. (LIMA, 2022,
p.64)
De acordo com Hall em seu texto A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções
culturais do nosso tempo (1997, p. 32) “cada instituição ou atividade social gera e requer
seu próprio universo distinto de significados e práticas – sua própria cultura”. Logo, é
correto afirmar que o espaço universitário tem uma cultura própria. Desse modo, a cultura
acadêmica é aqui compreendida:
como a multiplicidade de sentidos, significações e finalidades que ao
longo da história foram atribuídos à universidade em seus principais
eixos de atuação – ensino, pesquisa e extensão -, considerando-se os
sujeitos que fazem o cotidiano da instituição universitária e o contexto
histórico, social, econômico e cultural no qual a universidade está imersa.
Contudo, a cultura acadêmica também é a soma de todo tipo de
aprendizagem e também de ausências e silenciamentos. (PASSOS, 2015,
p. 165-166)
29
O evento foi inicialmente idealizado por mim e por Douglas Gonçalves, em uma mesa de
bandejão.