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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR CESUL

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL: INDENIZAÇÃO UM DOZE AVOS

CHARLES JOSÉ GRAEBIN

FRANCISCO BELTRÃO – PR
2020
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CHARLES JOSÉ GRAEBIN

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL: INDENIZAÇÃO UM DOZE AVOS

Monografia apresentada como requisito parcial


para avaliação da Disciplina de Orientação à
Monografia II, do Curso de Graduação em Direito
do Centro de Ensino Superior CESUL, mantida
pelo CESUL – Centro Sulamericano de Ensino
Superior.

Orientadora: Prof.ª Aldina Pagani

FRANCISCO BELTRÃO – PR
2020
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TERMO DE APROVAÇÃO

CHARLES JOSÉ GRAEBIN

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL: INDENIZAÇÃO UM DOZE AVOS

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de


Bacharel em Direito da Faculdade de Direito Francisco Beltrão, mantida pelo
CESUL – Centro Sulamericano de Ensino Superior.

_______________________________
Orientadora: Prof.ª Aldina Pagani

_______________________________________
Professor

________________________________
Professor

FRANCISCO BELTRÃO-PR
2020
4

Dedico esse estudo a todos que direta ou


indiretamente contribuíram para o alcance
dos meus objetivos pessoais e
profissionais.
5

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me concedido sabedoria e inteligência.


Aos meus familiares, pelo apoio recebido em todos os momentos dessa caminhada.
Aos professores, pelos conhecimentos transmitidos.
A Professora Orientadora Aldina Pagani, pelas orientações recebidas.
Aos colegas pela troca de experiências e amizades fortalecidas.
6

A justiça não consiste em ser neutro entre


o certo e o errado, mas em descobrir o
certo e sustentá-lo, onde quer que ele se
encontre, contra o errado.

Theodore Roosevelt
7

RESUMO

Este estudo surgiu pela necessidade de se verificar como o representante comercial


teve sua regulamentação legal estabelecida pela Lei n.º 4.886, de 10 dezembro de
1965 e retificada em 20 de dezembro de 1965, passando a atividade de
representação comercial a ser regulada por lei, preenchendo a lacuna até então
existente na legislação. A necessidade dessa regulamentação foi para a solução dos
conflitos entre representantes e representados, principalmente de natureza jurídica
do vínculo existente entre as partes. Objetivou-se assim, estabelecer as hipóteses
de extinção do contrato de representação comercial, os direitos do representante e
as obrigações da representada, indicando em que circunstâncias é devida a
indenização 1/12 avos ao representante. Optou-se pela pesquisa bibliográfica,
baseada em Leis, normas e legislações que tratam do assunto, tendo em vista
oferecer meios para definir, resolver não somente problemas já conhecidos, como
também, explorar novas áreas. Concluiu-se que o Representante Comercial não é
empregado, e sim, empresário pessoa física ou pessoa jurídica, que exerce
atividade empresarial assumindo os riscos do seu negócio. A competência para
discussão de eventuais controvérsias do contrato de representação comercial está
fixada no fundamento do Art. 39 da Lei nº 4.886/65, com alteração na Lei nº
8.420/92, prevalecendo o foro do domicílio do representante, sendo absolta,
resguardando a hipossuficiência do mesmo evitando o custo com a propositura da
ação judicial em outro local. Mesmo a competência sendo absoluta, já tem
entendimento jurisprudencial do STJ afirmando que ela pode ser relativa, desde que
o representante não seja hipossuficiente e a alteração da competência seja pela
vontade das partes. O prazo prescricional para o representante comercial pleitear
seu direito à indenização de 1/12 avos para eventuais controvérsias perante a justiça
é de cinco anos.

Palavras-chave: Contrato. Direitos. Representação Comercial. Indenização 1/12


avos.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................09

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL...........................................11


1.1 NA IDADE ANTIGA...............................................................................................11
1.2 NA IDADE MÉDIA.................................................................................................12
1.3 ESTADO MODERNO............................................................................................15
1.4 IDADE CONTEMPORÂNEA.................................................................................16
1.5 DIREITO COMERCIAL NO BRASIL.....................................................................17
1.6 FONTES DO DIREITO COMERCIAL...................................................................20
1.6.1 Fontes primárias................................................................................................20
1.6.2 Fontes secundárias............................................................................................20

2 AGENTES AUXILIARES DO EMPRESÁRIO.........................................................22


2.1 VENDEDOR EXTERNO EMPREGADO...............................................................22
2.1.1 Contrato de Trabalho.........................................................................................24
2.2 REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO..................................................26
2.2.1 Contrato de representação comercial................................................................30
2.2.2 Obrigações do representante comercial............................................................32
2.2.3 Obrigações do representado.............................................................................34
2.2.4 Cláusula Del Credere.........................................................................................37

3 A EXTINÇÃO DO CONTRATO DE REPRESENTANTE COMERCIAL E O DIREI-


TO À INDENIZAÇÃO 1/12.......................................................................................39
3.1 CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO........................................................39
3.2 CONTRATO POR PRAZO INDETERMINADO....................................................40
3.3 MOTIVOS PARA A EXTINÇÃO DO CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO........41
3.4 INDENIZAÇÃO 1/12 AVOS...................................................................................44
3.4.1 Indenização mensal ou anual............................................................................46
3.5 PRAZO PRESCRICIONAL...................................................................................47
3.6 COMPETÊNCIA....................................................................................................48

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................53

REFERÊNCIAS...........................................................................................................55
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INTRODUÇÃO

O representante comercial teve a sua regulamentação legal estabelecida pela


Lei n.º 4.886, publicada no Diário Oficial da União do dia 10 e retificada em 20 de
dezembro de 1965, passando a atividade de representação comercial a ser regulada
por lei, preenchendo a lacuna até então existente na legislação.
A necessidade dessa regulamentação foi para a solução dos conflitos entre
representantes e representados, principalmente de natureza jurídica do vínculo
existente entre as partes.
Em que pesem certas lacunas e imperfeições da Lei n.º 4.886/65, em 11 de
maio de 1992, foi publicada no Diário Oficial da União, a Lei n.º 8.420, de oito de
maio de 1992, que introduziu acentuadas modificações na Lei n.º 4.886/65.
O representante, como também a representada, têm seus direitos e deveres
regulamentados nesta lei, que na maioria das vezes, é mal interpretada gerando
conflitos entre as partes, principalmente na hora da extinção do contrato de
representação comercial, que pode ser extinto de várias formas, dando ou não o
direito indenizatório. O direito à indenização de 1/12 devida ao representante
comercial tem sua previsão legal nos Artigos 27, inciso j, e 36 da Lei n.º 4.886/65.
O objetivo desta pesquisa foi estabelecer as hipóteses de extinção do contrato
de representação comercial, os direitos do representante e as obrigações da
representada, indicando em que circunstâncias tornam-se devida a indenização 1/12
avos ao representante.
Para que isto fosse possível, foi necessário examinar as relações comerciais e
sua evolução, a Lei de Representação Comercial e sua atualização, assim como, a
doutrina e jurisprudência que tratam do assunto, buscando com isso indicar de forma
mais clara e segura, em que circunstâncias o representante comercial faz jus à
indenização de que trata o Art. 27, Inciso j, da Lei n.º 4.886/1965.
Para facilitar a compreensão, este trabalho foi desenvolvido por meio de três
títulos principais. No que tange no primeiro capítulo, tratou-se do surgimento do
comércio e a evolução na Europa, Ásia, América e especialmente no Brasil,
trazendo o surgimento do Direito Comercial.
O segundo capítulo, destinou-se ao estudo da representação comercial e ao
vendedor empregado, detalhando a diferença sutil entre ambos, principalmente os
direitos e as obrigações do representante.
10

Ao final, o terceiro capítulo, traz as hipóteses de extinção do contrato de


representação comercial e seus efeitos em relação aos direitos do representante e
da representada no que tange à indenização 1/12 avos, competência para processar
e julgar as ações relativas, eventuais conflitos decorrentes do contrato de
representação, assim como, o prazo prescricional da ação para buscar o Direito.
11

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL

O comércio surgiu a partir das cidades medievais, em decorrência da troca de


produtos (bens) entre os povos. Nas cidades medievais, se desenvolveu por meio
das navegações atravessando mares e expandindo-se pelo continente. Assevera
Martins (2017, p.01): “No início da civilização, os grupos sociais procuravam bastar-
se a si mesmos, produzindo material de que tinham necessidade ou se utilizando
daquilo que poderiam obter facilmente da natureza para a sua sobrevivência”.
No pensamento de Franco (2004, p.16), “é certo que alguns estudiosos
denunciam, já no ano de 2083 A.C., a existência de normas particulares tendo por
finalidade regular o tráfico mercantil”.
Já para Negrão (2011, p.25):

O Direito Comercial desenvolveu-se à margem do Direito Civil, de raízes


romanas, na prática e no exercício do comércio ao longo dos séculos. Sua
sistematização, como conjunto de regras jurídicas próprias, contudo, vem a
ocorrer posteriormente a sua formação inicial, provavelmente na Idade
Média, mas os estudiosos do Direito Comercial não conseguiram, até o
momento, encontrar um ponto comum na identificação do seu período inicial
no decorrer da história do homem.

Como se pode perceber, a origem do Código Comercial se deu por meio do


Código de Hamurabi, “mas essas normas ou regras de natureza legal não chagaram
a formar um corpo sistematizado, a que se pudesse denominar direito comercial”
(REQUIÃO, 2014, p.32).
Desta feita, para que seja possível explorar a evolução do direito comercial,
necessário se faz uma análise histórica nas divisões clássicas: Idade Média, Idade
Moderna e Contemporânea.

1.1 NA IDADE ANTIGA

Reportando-se à Idade Antiga, Martins (2017, p.4) comenta, “não se pode, com
segurança, dizer que houve Direito Comercial na mais remota antiguidade. Os
fenícios, que são considerados um povo que praticou o comércio em larga escala,
não possuía regras especiais aplicáveis às relações comerciais”.
12

Escreve Roque (1992, p.12), que: “os fenícios, que desenvolveram ativo
comércio marítimo, devem ter elaborado vários estatutos, mas estes não chegaram
ao conhecimento do Direito”.
Segundo Arnoldi (1998, p.01): “não havia uma distinção entre o Direito Civil, o
Comercial e o Econômico, [...]. As primeiras regulamentações das atividades
econômicas foram encontradas no Código de Manu (Índia) e no Código de
Hamurabi, esculpidos entre 1750 e 1850 A.C.”.
Lembra Gonçalves Neto (1990, p.41): “embora nele predominem disposições
sobre agricultura, pecuária e regras sobre funcionários, médicos e mestres-de-obras,
são ali encontradas normas jurídicas peculiares ao comércio”.
Ainda sobre a Idade Antiga, Arnoldi (1998, p.2), dispõe que:

Além dos fenícios, houve a influência dos gregos, que nos deixaram o seu
principal instituto jurídico, o “empréstimo a risco” ou “câmbio marítimo”, do
qual se originou o seguro: o capitalista que fizesse empréstimo para
expedições marítimas só recebia o dinheiro com altas taxas se o navio
retornasse são e salvo. [...]. Os romanos, apesar de sua intensa atividade
comercial, não tiveram uma importância específica na evolução do direito
comercial, isto porque suas atividades eram voltadas inteiramente ao direito
civil, além do fato de o comércio e a indústria ser praticados pelos escravos,
e, à época, por influência do direito canônico, considerar-se pecado a
obtenção de lucro e o empréstimo com intenção de lucro.

Não se pode afirmar que o Direito Comercial tenha nascido na Idade Antiga, ou
mesmo na época romana, pois não pode ser identificado, tendo em vista o comércio
praticado entre os diversos povos, ser isolado e conter regras esparsas.

1.2 NA IDADE MÉDIA

Com a queda do Império Romano na Idade Média, ocorreu à desagregação


social e política advinda do esfacelamento do Estado Romano, desorganizando por
completo o mundo europeu, causando um declínio no comércio Ocidental, forçando
o deslocamento do centro econômico para o Oriente. Segundo Gonçalves Neto,
(1999, p.46), “assim deslocado, o comércio assume papel preponderante com os
árabes, que estabelecem a Rota da Seda, da China ao Mediterrâneo”.
De acordo com Franco (2004, p.20), a desagregação social e política do
Estado Romano, não permitiu a regulação eficaz da nova ordem econômica dirigida
ao autoconsumo, fazendo surgir uma nova classe social representada pela
ascendente burguesia capitalista, que deu origem a uma nova atividade econômica,
13

convertendo em um centro de consumo, de troca e de produção dos mercadores e


dos artesãos, que se associaram em grêmios ou corporações, que reclamavam uma
regulamentação da nova ordem econômica, por não encontrar respaldo no Direito
Comum e no Direito Canônico.
Sobre as corporações Arnoldi (1998, p.3), explana:

O Direito Comercial era fechado e classista, exclusivo, em princípio, das


pessoas matriculadas nas corporações de mercadores. As pendências entre
estes, eram resolvidas pela própria classe, por cônsules eleitos que
decidiram apenas de acordo com os usos e costumes e sob os ditames de
equidade, sem maiores formalidades.

Com o surgimento das feiras, do intercâmbio internacional e da expansão das


navegações marítimas nos diversos países, foi regulado o comércio local, sendo
criadas normas para a comercialização de bens, sistema de jurisdições especiais,
que se espalhou pela Europa, atingindo a França, a Espanha, os Estados Alemães e
a Inglaterra, firmando o caráter internacional do Direito Comercial.
Nesse sentido, Roque (1992, p.13), esclarece, “difundem-se as feiras, locais a
que acorriam comerciantes de toda a Europa, para venda e troca de produtos. Essas
feiras criam normas para a comercialização de bens”.
Sobre isso explana Martins (2017, p. 6):

Desenvolvendo-se o comércio marítimo no Mediterrâneo, as cidades que


ficavam situadas à beira-mar tornaram-se centros comerciais importantes e
poderosos. Os ricos proprietários feudais abandonavam suas terras,
transferindo-se para as cidades, e os servos passaram à condição de
meeiros, entregando aos antigos senhores a metade da produção dos
campos. Navios cortavam os mares, transportando gêneros em abundância
e trazendo de terras distantes produtos exóticos ou manufaturados. As
Cruzadas facilitaram o intercâmbio comercial, com o deslocamento de
populações através de terras desconhecidas. E mesmo em terra, a margens
das grandes estradas que levavam a países estranhos, formaram-se
núcleos comerciais poderosos.

Com a criação das corporações e sem qualquer resistência do poder político da


cidade-estado, estas chamaram para si a moldagem e a aplicação do Direito,
criando suas próprias leis e tendo jurisdição particular, oriundo do tráfico mercantil.
Neste sentido Gonçalves Neto (1999, p.49), relata:

Ditas corporações, ao serem constituídas, imitavam as cidades, tendo a sua


frente um ou mais cônsules, eleitos pelos comerciantes nelas matriculados.
Esses cônsules, dentro de suas funções, eram incumbidos de dirimir os
conflitos de interesses envolvendo associados; assim, ao serem investidos
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no exercício de seus cargos, faziam o juramento de observar certas normas


(provindas de costumes mercantis, de práticas adotadas pelos comerciantes
em suas relações comerciais) que, posteriormente, compiladas juntamente
com decisões da assembleia e do conselho dos comerciantes, formaram os
estatutos dessas entidades. [...]. A essa justiça consular, que julgava com
base em usos e costumes, sob inspiração da equidade e sem formalidades,
foram atraídas questões envolvendo comerciantes e não comerciantes.

Comenta Rocha (2004, p. 22) que, “a evolução, todavia, não terminou aí. A
competência dos cônsules foi aplicada progressivamente, passando a abranger
aqueles que, embora não comerciantes, tivessem contratado um negócio mercantil
com um mercador matriculado”.
Neste sentido Arnoldi (1998, p.4), assevera que: “as decisões dos cônsules, ou
dos Tribunais Consulares, e os usos e costumes foram, ao longo do tempo, reunidos
em um repertório, o qual adquiriu grande autoridade pelos povos da época”.
Relata ainda Roque (1992, p.13): “com a intensa navegação marítima e a
expansão do comércio criaria a Revolução Comercial, onde surgem a Letra de
Câmbio e outros diversos institutos do Direito Comercial”. Com o passar do tempo,
essas regras acabaram sendo adotadas pelos governos da época, tornando-se de
caráter internacional.
Surgem ainda, as Compilações Marítimas, autênticos códigos que retratam
normas, pareceres, usos e costumes, decisões judiciais, que começam a
sistematizar o Direito Comercial, sendo as principais compilações segundo Roque
(1992, p.14):
a) Rolos de Oleron: encontradas em Oleron, ilha francesa, no Atlântico
Norte, contendo normas de Direito Marítimo, decisões judiciais e usos e
costumes, aplicados nos países europeus do Atlântico; b) Consulado do
Mar: elaborado em Barcelona (Espanha) e adotado comércio marítimo,
constituindo autêntico código marítimo, predominando no Mar
Mediterrâneo; c) Guidon de La mer: regulamentava o seguro marítimo,
com aplicação no comércio marítimo francês, predominando durante o
século XVII; d) Jus hanseaticum maritimum: Código da Hansa, surgiu no
século XVII; e) Coleção de Direito Marítimo de Wisby: uma versão dos
Rolos de Oleron, adotada na cidade de Wisby e outras cidades
nórdicas.

Essas compilações na época vieram trazer um caminho para o Direito


Comercial, estabelecendo um direcionamento para as ações a serem tomadas.
Para Arnoldi (1998, p.5), “os governos, compreendendo melhor o comércio
para a prosperidade das nações, fizeram com que as normas de Direito Comercial
de antes, fossem editadas pelos respectivos soberanos de cada nação, daí surgindo
às compilações nacionais”.
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Com o passar do tempo, essas regras acabaram sendo adotadas pelos


governos da época, tornando-se de caráter internacional, regulando as transações
comerciais de todos que compareciam às feiras, podendo os cônsules resolver as
questões apresentadas, como também, punirem os culpados.

1.3 ESTADO MODERNO

Com a formação do Estado Moderno, o direito emanado das corporações


entrou em colapso, fortalecendo a soberania dos monarcas, tornando-se atribuição
do Estado. Sobre isso, se manifesta Franco (2004, p.23), dizendo que:

Um direito mercantil de origem consuetudinário passou-se para um direito


emanado e aplicado pelo Estado, a quem incumbia, agora, a tarefa de ditar
as normas destinadas a regular o comércio, refletindo com isso as
tendências centralizadoras das monarquias.

Salienta Bertoldi (2003, p.26), que: “com o surgimento dos Estados Nacionais,
aquele Direito Comercial consuetudinário, nascido da prática mercantil e apartado de
um estado soberano, acabou ganhando do próprio Estado sua legitimidade”. Ensina
Negrão (2011, p.32):

Com o mercantilismo, caracteriza-se pela expansão colonial e é época


áurea de evolução das grandes sociedades, sempre sob a autorização do
Estado. [...]. As normas de Direito Comercial, como as demais, são
emanadas de um poder soberano central. Surgem as codificações em toda
a Europa, regendo matéria de direito marítimo [...], e de direito terrestre [...],
nesse período é grande o desenvolvimento de novas e rendosas redes
comerciais, ligando o Oriente à Europa.

Destacaram-se nesse período, as Ordenanças baixadas por Luís XV, sob a


influência de seu Ministro de Finanças Colbert. Dispõe Rocha (2004, p.23):
“Exemplos dignos de nota desta evolução são as Ordenanças de Luís XV, a de
Comércio em 1673 e a da Marinha em 1681, ambas da lavra de Colbert”.
Ainda acerca das Ordenanças de Luís XV, Martins (2017, p.8), elenca:

A primeira dessas Ordenanças, de março de 1673, dividida em 12 títulos e


122 artigos, se referia ao comércio terrestre, regulando as atividades dos
“negociantes, mercadores, aprendizes, agentes de bancos e corretores,
livros de comércio, sociedades, letra de câmbio, notas promissórias, prisão
por dívidas, moratórias, caução de bens, falências, bancarrotas, jurisdição
comercial”.
16

Nesse sentido Fazzio Júnior (2014, p.4) continua seu ensinamento: “Já no
século XVII, sob o mercantilismo, a França de Colbert produziu duas ordenações,
uma sobre o comércio terrestre (Code Savary) e outra atinente ao comércio
marítimo, elaborada em 1762, por Boutigny”.
Notoriamente, pode-se perceber que nos primeiros momentos da história
mercantil que o Direito Comercial foi concebido subjetivamente, com um sistema de
normas regidas pela classe dos comerciantes, como explana Fazzio Júnior (2014,
p.5):
Era um ramo jurídico iniciado e desenvolvido por e para mercadores, posto
que discriminados pela sociedade e pela legislação da época. As regras
corporativas e as decisões dos consoles (juízes corporativos) germinaram
um direito classista [...]. Afastados da legislação comum, os membros das
corporações produziram um direito próprio, a princípio marginal, mas que se
revelou, nos séculos seguintes, um repositório de privilégios sustentado pelo
capital.

Mais tarde com o ressurgimento da soberania dos Estados, a prática mercantil


foi perdendo os privilégios de classes. Sobre isso Gonçalves Neto (1999, p. 53),
destaca:
O lema liberdade, igualdade e fraternidade impunha a suspensão dos
privilégios Classistas, a abolição das corporações, assim como qualquer
resquício à liberdade profissional. Em 1971, através da Lei Chapelier, foram
extintas as corporações e proclamada à liberdade de trabalho e comércio.

Com a volta do Estado soberano afasta-se o conceito da subjetividade, a ideia


de ser um direito dos comerciantes, surgindo conceito objetivo de comerciante para
estabelecer o Direito Comercial como direito dos atos de comércio.

1.4 IDADE CONTEMPORÂNEA

A Idade Contemporânea tem seu início com a Revolução Francesa,


consagrando a burguesia à classe dominante. Com o passar do tempo, as
Ordenanças apresentaram lacunas, provocando uma nova orientação objetivista de
comerciante, conforme relata Negrão (2011, p.33): “surge o conceito objetivo de
comerciante, definindo-o como aquele que pratica, com habitualidade e
profissionalidade os atos de comércio”.
Destaca Requião (2014, p.36): “passou-se, assim, suavemente, do sistema
subjetivo puro para o sistema eclético, com acentuada transigência para o
17

objetivismo. [...]. O sistema objetivista, que desloca a base do Direito Comercial, da


figura tradicional do comerciante para os atos de comércio”.
Em 1807, foi editado o primeiro Código Comercial na França, conhecido como
Código Napoleônico, que influenciou as legislações comerciais de outros países,
como ensina Bertoldi (2003, p.26):

Código Napoleônico, considerado pela doutrina como um marco para o


Direito Mercantil, uma vez que influenciou significativamente as legislações
comerciais dos outros países, tais como a Espanha (1829) e Portugal
(1833), servindo de modelo ao Código Comercial Brasileiro de 1850; [...]. O
Código Francês, sob o influxo dos ideais de Revolução Francesa, que não
admitia a existência de privilégios de classes, inovou ao caracterizar de
forma objetiva toda a matéria a ele afetada, deixando de lado a ideia de que
a legislação comercial destinava-se a reger as relações de uma classe de
pessoas – os comerciantes – e passando, isto sim, a regular a atividade de
qualquer indivíduo que viesse a praticar determinados atos, havidos como
de comércio, independentemente de quem o praticasse. Ou seja, não mais
importava a averiguação a respeito da qualidade da pessoa, se comerciante
ou não, bastando que os atos por ela praticados fossem considerados como
atos de comércio.

Assim relata Gonçalves Neto (1999, p.53): “esse código teria rompido a
tradição histórica para transformar-se no Código de uma classe de atos, os atos do
comércio, independentemente da qualidade de sujeito que os praticasse”.

1.5 DIREITO COMERCIAL NO BRASIL

A história do Direito Comercial Brasileiro segundo Martins (2017, p.41), inicia-


se com a chegada da Família Real Portuguesa acossada pelas tropas de Napoleão
Bonaparte. “Nesse período colonial brasileiro, naturalmente a justiça era exercida
por funcionários da metrópole, e direito aplicado o português. Não existia, assim, um
Direito Comercial Brasileiro. As regras seguidas eram as Ordenações lusas”.
Ainda acerca da História do Direito Comercial no Brasil, Requião (2014, p.39)
elenca: “durante o período do Brasil-colônia as relações jurídicas pautavam-se,
como não podia deixar de ser, pela legislação de Portugal. Imperavam, portanto, as
Ordenanças Filipinas, sob a influência do Direito Canônico e do Direito Romano”.
Com a vinda da Família Real Portuguesa logo apareceu os primeiros
benefícios conforme destaca Requião (2014, p.39-40):

Sob o patrocínio de José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, pela chamada


Lei de Abertura dos Portos, de 1808, os estatutários brasileiros, até então
cerrados pela mesquinha e estreita política monopolista da metrópole,
18

abrem-se ao comércio dos povos. Outras leis e alvarás se sucedem como a


que determina a criação da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e
Navegação, para estimular as atividades produtivas da nação que surgia.
Sobressai-se, nesses atos da monarquia recém-instalada, o Alvará de 12 de
outubro de 1808, que cria o Banco do Brasil, com programa de emissão de
bilhetes pagáveis ao portador, operações de descontos, comissões,
depósitos pecuniários, saques de fundos por conta de particulares e do Real
Erário, para a promoção da indústria nacional pelo giro e combinação de
capitais isoladas.

No mesmo diapasão Franco (2004, p.25), escreve:

Em que pese ter José da Silva Lisboa (Visconde de Cairu), já nos seus
Princípios de Direito Mercantil e Leis da Marinha, publicado entre 1798
e1804, propugnado pela necessidade de um direito nacional, tal somente
tornou-se possível, após a vinda de D. João VI para o Brasil.

Declarada a Independência do Brasil em 1822, assim assevera Gonçalves


Neto (1999, p.61):
A Assembleia Constituinte do Império determinou que continuassem em
vigor no país as leis portuguesas vigentes em 25/04/1821. Vigoram e
continuaram vigorando, então, as Ordenanças Filipinas, sob forte influência
do Direito Romano e do Direito Canônico, bem como a Lei da Boa Razão,
de 18/08/1769, que autorizava serem invocadas, como subsídio nas
questões mercantis, as leis das nações cristãs de sorte que à época aqui se
aplicavam, por igual, o Código Comercial Francês de 1807, e mais tarde, o
Código Comercial Espanhol de 1829 e o Código Comercial Português de
1833.

Em 25 de junho de 1850 foi sancionada a Lei nº 556, o Código Comercial, que


segundo Martins (2017, p.43), “continha 913 artigos, além de um Título Único, com
30 artigos. Compreendia três partes: a primeira sobre o comércio em geral [...], a
segunda sobre o comércio marítimo, [...] e a terceira sobre quebras.
Aduz Requião (2014, p.41):

Desde o início do século XX impôs-se a necessidade da revisão do Código.


Inglez de Souza elaborou em 1912, anteprojeto que serviu de base aos
trabalhos legislativos da reforma, sendo aperfeiçoado em 1928 no Senado
Federal, não tendo, porém, surgimento. Florêncio de Abreu, em 1949, foi
incumbido de elaborar novo anteprojeto, divulgado pelo Ministério da
Justiça, não tendo também encaminhamento. Por fim, tentou-se a
elaboração de um Código de Obrigações, englobando a matéria do antigo
Código, tendo sido encaminhado ao Congresso Nacional pelo Governo
Castello Branco. Pouco depois, com o projeto do Código Civil, foi retirado
pelo mesmo governo.

Após várias tentativas frustradas de reunir a matéria civil e comercial em um


mesmo diploma legal, assevera Bertoldi (2003, p.31), que “finalmente em 10 de
19

janeiro de 2002, o Presidente da República sancionou a Lei nº 10.406, dando a


origem ao Novo Código Civil, trazendo logo de início, o conceito do que seja
empresário”.
Relata também Requião (2014, p.49), que “o projeto de reforma do Código
Civil, englobando a matéria comercial, de autoria da Comissão Revisora presidida
pelo Prof. Miguel Reale, foi, finalmente, sancionado, transformando-se na Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002”.
Com a unificação do Direito Comercial com o Código Civil, segundo Franco
(2004, p.40), “o Direito Comercial moderno a noção de ato de comércio perdeu muito
do seu significado, substituída na hierarquia do interesse por aquela de empresa”.
Afirma Bertoldi (2003, p.31): “não resta dúvida de que nosso direito passa a
adotar definitivamente a teoria da empresa”. Já, Negrão (2011, p.34-62) destaca:

Parece adequado limitar-se no momento, à noção no sentido de que o


Direito Comercial é o ramo do Direito Privado que regula a atividade do
antigo comerciante e do moderno empresário, bem como, suas relações
jurídicas, firmadas durante o exercício profissional das atividades mercantis
e empresariais. O Direito Comercial, não desaparece com o Novo Código,
mas renasce como Direito de Empresa [...]. O conceito de empresa decorre
da visão moderna de empresário, e sua formulação tem origem na
legislação italiana de 1942, que unificou, no Código Civil, o Direito
Obrigacional, fazendo desaparecer o Código Comercial como legislação
separada.

Com relação à empresa e ao empresário, Fazzio Júnior (2014, p.19), explica:

A empresa não é um sujeito de direitos e obrigações. É uma atividade e,


como tal, pode ser desenvolvida pelo empresário unipessoal ou pela
sociedade empresária. Quer dizer, pela pessoa natural do empresário
individual, ou pela pessoa jurídica contratual ou estatutária da sociedade
empresária. Sob a epígrafe empresária está compreendido tanto aquele
que, de forma singular, pratica profissionalmente atividade negocial, como a
pessoa de direito constituída para o mesmo fim. Ambos praticam atividade
econômica organizada para a produção, transformação ou circulação de
bens e prestação de serviços. Ambos têm por objetivos o lucro.

Com a junção do Código Civil de 2002 com o Código Comercial, passou-se a


adotar a Teoria de Empresário, nos termos do Artigo 966 do Código Civil de 2002 1.

1.6 FONTES DO DIREITO COMERCAL


1
Código Civil, Artigo 966: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
20

As fontes são os meios pelos quais se forma ou se estabelece a norma jurídica.


Várias são as classificações dessas fontes. Pode-se dividi-las segundo Bertoldi
(2008, p.47), em materiais e formais.
Assim sendo, Martins (2007, p.41), escreve:

Chamam-se ‘fontes de direito’ os diversos modos pelos quais se


estabelecem as regras jurídicas. Costumam os autores dividir as fontes do
direito em fontes materiais, ou seja, ‘os elementos que concorrem para a
criação das leis’, e fontes formais, que são ‘a forma externa de manifestar-
se o direito positivo’. Quando se trata de fonte de Direito Comercial, tem-se
em vista a fonte formal, já que o que se procura é encontrar a norma jurídica
para a sua aplicação no caso específico.

Para Fazzio Júnior (2008, p. 11), “as fontes primárias ou imediatas resumem-se
nas leis e nos costumes; já as fontes secundárias ou mediatas resumem-se na
doutrina e na jurisprudência”.
Por meio das fontes do Direito Comercial, assevera Requião (2014, p.53),
surgem “as normas jurídicas de natureza comercial, as quais constituem um direito
especial, que determina o que seja a matéria comercial e a ela se aplica
exclusivamente”.

1.6.1 Fontes primárias

São fontes primárias do Direito Comercial as leis comerciais. No que respeita


ao Direito Comercial Brasileiro, são fontes primárias “o Código Comercial e as leis
que lhe seguiram”. Essas leis podem ter revogado, modificado ou ampliado normas
existentes no Código (MARTINS, 2003, p.41).
No Direito Comercial, a Constituição Federal além de proclamar a supremacia
da legalidade segundo Fazzio Júnior (2010, p.12), “enuncia normas-princípios e
normas-regras”.

1.6.2 Fontes secundárias

São fontes subsidiárias ou indiretas do Direito Comercial, a lei civil, os usos e


costumes, a jurisprudência, a analogia e os princípios gerais de Direito. Assim, aduz
21

Martins (2017, p.36), que “na falta de norma específica do Direito Comercial, deve-
se recorrer a essas fontes”.
Sobre as fintes secundárias, ensina Fazzio Júnior (2010, p.12), que:

É verdade que nem sempre a lei oferece todas as respostas, mas também,
é verdade que sua eventual omissão não pode ensejar lacunas no sistema
jurídico. Em outras palavras, no caso concreto, o órgão judiciário não pode
eximir-se de entregar a prestação jurisdicional a pretexto de falta de
previsão legal. A solução é lançar não de recurso a outros elementos
acessórios, coadjuvantes de interpretação e expedientes integradores da
norma jurídica, como alternativa para dirimir litígios, e assim, realizar-se a
necessária densificação do Direito, daí a importância das fontes
secundárias, expressão que compreende as técnicas integrativas ou
supletivas expressas no Artigo 4º da LICC: a analogia, os usos e os
princípios gerais do direito.

As fontes são as geradoras da ordem jurídica, sendo as principais fontes do


Direito Comercial, a Constituição Federal, Código Civil e a Legislação Comercial. A
seguir, trata-se dos agentes auxiliares do empresário, seja ela pessoa física ou uma
sociedade empresária, que depende dos colaboradores para as vendas externas.
22

2 AGENTES AUXILIARES DO EMPRESÁRIO

Todo empresário, seja ele pessoa física ou sociedade empresária, necessita de


colaboradores, portanto se faz fundamental uma análise mais aprofundada acerca
dos auxiliares externos que exercem suas atividades com vendas externas.
De acordo com Bertoldi (2008, p. 92), “Os auxiliares dependentes externos são
todos aqueles trabalhadores que prestam serviços ao empresário. São regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho, na medida em que prestam serviço não
eventual ao empresário, sob a dependência desde e mediante salário”.
Para Martins (2007, p. 125), “Também como auxiliares do comerciante figuram
os viajantes, vendedores e pracistas, pessoas que podem ou não ser empregadas
da empresa, mas que a representam em virtude de um contrato específico que lhes
limita as atribuições”.
Neste passo o entendimento de Requião (2014, p. 263) preleciona:

Empresas existem que necessitam de auxiliares que se dedicam à procura


de clientela fora do estabelecimento comercial, mantêm, por conseguinte,
um corpo de auxiliares dependentes, geralmente especializados na
promoção de vendas, que as efetuam, através de colheitas de propostas ou
de extração de pedidos. Essas propostas ou pedidos são executados pelo
empresário. Tais colaboradores, por definição legal, são considerados
empregados. [...] Os auxiliares dependentes externos da empresa nem
sempre são classificados com a clareza que seria de desejar, pois há
empresários que insistem em considerá-los como auxiliares independentes
e autônomos.

Bertoldi (2008, p. 92) assim define os viajantes, os vendedores externos, e os


pracistas:
Os viajantes são aqueles funcionários que são incumbidos de fazer várias
visitas a clientes em lugares distantes e realizar negócios em proveito da
empresa; os vendedores externos são funcionários que têm a incumbência
de efetuar vendas fora do estabelecimento comercial; e os pracistas são
vendedores incumbidos de cobrir determinada zona pré-determinada – a
praça. Muitas vezes um mesmo colaborador acaba por executar todas
essas funções ao mesmo tempo.

2.1 VENDEDOR EXTERNO EMPREGADO

Vendedor externo, profissional que atua como vendedor da empresa que o


contrata conforme previsto no artigo 3º da CLT – Consolidação das Leis do
Trabalho, com registro e CTPS.
23

Em tal contexto se o vendedor externo prestar serviços não eventuais ao


empregador sob dependência ou subordinação e mediante salário, configura relação
de emprego, como demonstra a jurisprudência o julgamento Tribunal Superior do
Trabalho RR 428000-87.2008.5.09.0195:

RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.


EXECUÇÃO DE OFÍCIO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.
SENTENÇA DECLARATÓRIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Nos termos
do art. 114, VIII, da Constituição Federal e da Súmula 368, I, do TST, a
Justiça do Trabalho não detém competência para promover a execução das
contribuições previdenciárias sobre parcelas auferidas pelo empregado no
período de vigência do contrato. Dessa forma, a decisão do Tribunal
Regional, ao declarar que a Justiçado Trabalho é competente para executar,
de ofício, as contribuições sociais decorrentes das sentenças que,
declarando o vínculo de emprego, identificam o pagamento de salário em
qualquer exame, extrapola a competência desta Especializada, pois na
verdade, determina a execução das referidas contribuições inadimplidas
pelo empregador. Recurso de revista conhecido por violação do art. 114,
VIII, da Constituição Federal e provido. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO
DEEMPREGO. ÔNUS DA PROVA. A controvérsia reside em se definir a
natureza jurídica do vínculo firmado entre a ré e o autor. A empresa
interpôs recurso de revista sustentando que seja afastado o
reconhecimento do vínculo de emprego. Alega que o autor é um típico
representante comercial autônomo (Lei n.º 4.886/1965), conforme restou
claro nos autos. Com efeito, registrou a Corte de origem que: "Restou
provado que o Autor prestava serviços subordinados (venda de carnês
do Baú da Felicidade) e seus Superiores Hierárquicos: Chefe de Equipe -
Cleverson Magalhães e o Supervisor de Vendas - Rogério Tavares, ambos,
eram Empregados desta, conforme Decisões antes mencionadas.
Consequentemente, ante todo o exposto, concluo que havia vínculo
empregatício entre o Autor e a Ré, no período indicado na r.
Sentença.”. Conclui-se, pois, que a aparente representação comercial
mascarava verdadeiro vínculo de emprego, visto que as provas dos
autos (principalmente testemunhal) revelam que o autor prestava
serviços mediante subordinação, além de que evidente a pessoalidade,
a não eventualidade e a onerosidade. Intacto, portanto, o art. 3º da
CLT. Recurso de revista não conhecido, no particular. EM CONCLUSÃO:
Recurso de revista parcialmente conhecido e provido. (RR - 428000-
87.2008.5.09.0195, Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, de
Julgamento: 15/04/2015, 3ª Turma, Data de publicação:DEJT 17/04/2015).

O profissional em vendas externas, que atua como vendedor externo, tem suas
normas previstas na Lei n.º 3.207/57. De acordo Medeiros (2002, p. 122) “a distinção
do vínculo empregatício entre representante comercial autônomo e o vendedor
externo está na subordinação jurídica que está vinculada ao caso do vendedor
externo e ausente no caso do representante comercial autônomo”.
Nesse mesmo sentido Martins (2017, p. 107) alerta, “os representantes não
autônomos ou dependentes são empregados na empresa.”
24

A CLT (Consolidação Das Leis do Trabalho), em seu artigo 3º 2 traz os


elementos que caracterizam o empregado, trabalho pessoal de forma não eventual,
sob dependência e mediante salário, além destes existe a subordinação, quais
afastam a pretendida representação, caracterizando o vínculo trabalhista, e são
devido ao empregado todos os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal
e CLT que lhe foram tomados durante todo o período laborado.
Direitos garantidos:

1. A devida anotação em CTPS (Carteira de Trabalho da Previdência


Social pelo período laborado);
2. O pagamento do Descanso Semanal Remunerado sobre as horas de
todo o pacto laboral, com os reflexos em aviso prévio, 13.º salário, férias
com 1/3, FGTS3 e multa rescisória;
3. A comprovação por meio de notas fiscais das vendas efetuadas pelo
representante, com intuito de apurar suas comissões devidas;
4. O pagamento do aviso prévio com base na média das comissões
apuradas em liquidação, horas extras dias, devidamente refletidas no
13.º salário e nas férias, calculado sobre o valor real do vencimento do
reclamante;
5. O pagamento de 13.º salário do período de labor;
6. Férias, mais 1/3 do período, proporcionais sobre o aviso prévio;
7. FGTS sobre: comissões recebidas e a receber, aviso prévio, 13.º salário
e férias indenizadas;
8. Multa de 40% sobre todo o FGTS apurado;
9. Multa de art. 477, § 8.º da CLT;
10. Indenização substitutiva do seguro desemprego.

Para diferenciar as relações de trabalho das relações de emprego, deve-se


levar em conta o elemento subordinação, o vínculo de dependência existente entre
os contratantes.
O elemento subordinação é o elemento fundamental característico da relação
de emprego. O empregado sujeita-se às ordens e permanece à disposição de seu
empregador, ou seja, é subordinado (REQUIÃO, 1993, p. 56).

2.1.1 Contrato de Trabalho

O artigo 4424 da CLT ensina que contrato de trabalho é o acordo tácito ou


expresso correspondente a relação de emprego, o empregado compromete-se a

2
Artigo 3º, CLT. Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviço de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
3
FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
4
Artigo 442, CLT. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à
relação de emprego
25

prestar serviços de forma pessoal, subordinada e não eventual ao empregador,


mediante o pagamento de uma contraprestação.
Cramacon (2016, p. 679, 680) destaca as característica e requisitos do contrato
de trabalho:

1) Características:
a) Contrato de direito privado: Existe uma intervenção do Estado, estando
às partes livres para estipular as cláusulas, desde que respeitam as normas
de proteção existentes na Constituição Federal e na CLT. b) Intuitu
personae em relação ao emprego: A prestação de serviço deve ser pessoal,
sendo vedada a substituição do empregado, salvo concordância do
empregador. c) Consensual: surge da vontade das próprias partes,
resultantes de um acordo de vontades. d) Sinalagmático: Gera deveres e
obrigações entre cada uma das partes. O empregado tem a obrigação de
prestar o serviço para qual foi contratado; dever de obediência ao poder de
direção do empregador e o direito de receber sua remuneração. O
empregador tem a obrigação de pagar o salário ajustado e o direito de exigir
o serviço prestado. e) Sucessivo ou continuado: A relação apresenta
continuidade no tempo. O contrato pressupõe a continuidade da prestação
de serviço, não se tratando de obrigação instantânea; a obrigação de fazer
não se esgota em uma única prestação. f)Oneroso:Não se trata de trabalho
gratuito. O contrato implica o pagamento de uma remuneração como
contraprestação do serviço realizado.
2) Requisitos:
a) Pessoa física: O empregado é sempre uma pessoal física ou natural. b)
Pessoalidade: O empregado deve prestar pessoalmente os serviços, não
podendo fazer-se substituir por outra pessoa. O trabalho deve ser exercido
pelo próprio trabalhador, em razão de suas qualificações profissionais e
pessoais. c) Não eventualidade ou habitualidade: O empregado presta
serviço de maneira contínua, não eventual. O trabalho deve ser contínuo. d)
Subordinação: O empregado é um trabalhador cuja atividade é exercida sob
dependência de outrem, para quem sua atividade é dirigida: empregador; A
dependência ou subordinação é decorrente do contrato de trabalho, por isso
é chamado de “subordinação jurídica”; O trabalho é desta forma, dirigido
pelo empregador, que exerce o poder diretivo. e) Onerosidade: O trabalho é
exercido almejando o recebimento de salário.

A distinção entre vendedor empregado e representante comercial autônomo é


sutil conforme jurisprudência TRT-7 - RO:

VÍNCULO DE EMPREGO. VENDEDOR EXTERNO X REPRESENTANTE


COMERCIAL. A distinção entre vendedor empregado e representante
comercial autônoma é sutil, mormente depois que a Lei dos
Representantes Comerciais (Lei n.º 4.886/1965) sofreu alteração em 1992,
autorizando, por exemplo, a fixação de restrição de zonas de trabalho (art.
27), proibição de o representante autorizar descontos (art. 28) e obrigação
de fornecer informações detalhadas sobre o andamento do negócio (art.
29). Por seu turno, o reconhecimento da relação de emprego na condição
de vendedor exige, segundo a doutrina alguns critérios, como, por
exemplo: 1) obrigatoriedade de comparecimento à empresa em
determinado lapso de tempo; 2) obediência a métodos de venda; 3) rota de
viagem; 4) cota mínima de produção; 5) ausência de apreciável margem de
escolha dos clientes e de organização própria; 6) risco a cargo da empresa;
o que não se verificou do cotejo da prova oral colhida e documental
26

realizada pela reclamada. Assim, não verificada nos autos a presença dos
requisitos ensejadores do vínculo de emprego, revela-se de forma cristalina
a improcedência da tese autoral quanto à natureza da relação havida entre
as partes. Recurso conhecido e improvido.

(TRT-7 - RO: 00003218120165070025, Relator: MARIA ROSELI MENDES


ALENCAR, Data de Julgamento: 19/10/2016, Data de Publicação:
19/10/2016).

O que diferencia o vendedor externo empregado do representante comercial é


o elemento subordinação, o vínculo de dependência existente entre os contratantes,
bem como pela presença ou ausência da alteridade, pois o trabalhador autônomo
exerce sua atividade por sua conta e risco e o empregado o fazem por conta e risco
do tomador dos serviços.

2.2 REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO

A lei que regulamenta a representação comercial nasceu da reivindicação da


classe em 1949, durante a 2.º Conferência Nacional das Classes Produtoras,
enviando o pleito à comissão que estava elaborando o Código Comercial, e que nele
fosse definida a figura do representante comercial (THEODO JÚNIOR,
JUL-AGO/2003, P. 110)
Em São Paulo realizou-se o 1.º Congresso Nacional de Representantes
Comerciais, cujo objetivo foi dar andamento à reivindicação classista, surgindo um
anteprojeto o qual foi levado ao Congresso Nacional, que foi reapresentado por
várias legislaturas sem sucesso (THEODO JÚNIOR, JUL-AGO/2003, P. 110).
O projeto n.º 2.794/1961, de autoria do deputado Barbosa Lima Sobrinho, que
provocou no Senado, o surgimento do Substitutivo n.º 38/63, elaborado pelo senador
Eurico Resende, aprovado em ambas as casas do Congresso. Não chegou a
transformar-se em lei, recebendo o veto total do Presidente da República, General
Castelo Branco, que encarregou o MIC de reexaminar o assunto, fazendo surgir um
novo projeto e após tramitação parlamentar, se tornou a Lei n.º 4.886/1965, com as
alterações da Lei n.º 8.420/92 (THEODO JÚNIOR, JUL-AGO/2003, P. 110).
Conforme explica Theodoro Júnior (JUL-AGO/2003, p. 110):

Em 1949, na II Conferência Nacional das Classes Produtoras, realizada em


Araxá, foi aprovada a reivindicação classista de enviar-se o pleito à
comissão então encarregada de elaborar o Projeto de novo Código
Comercial, no Ministério da Justiça, de que fosse nele definida e
27

caracterizada a figura jurídica do representante comercial, estabelecendo-se


as necessárias garantias da profissão. 6 Na mesma ocasião, realizou-se em
São Paulo o 1º Congresso Nacional de Representantes Comerciais, cujo
objetivo principal era o de dar curso à reivindicação antes aprovada pela
Conferência de Araxá. Surgiu, então, um anteprojeto que, levado ao
Congresso Nacional, tomou o nº 1.171/49 e que, em várias legislaturas, foi
reapresentado sem sucesso algum. Somente viria a ter maior repressão o
Projeto nº 2.794/61, de autoria do deputado BARBOSA LIMA SOBRINHO,
que, no Senado, provocou o surgimento do Substitutivo nº 38/63, elaborado
pelo senador EURICO RESENDE, o qual mereceu aprovação de ambas as
casas do Congresso. No entanto, não chegou a transformar-se em lei,
porquanto recebeu veto total da Presidência da República, ao fundamento
de que, nos termos em que se intentou regulamentar a profissão, ao
representante apenas se estendiam "as vantagens e garantias que a
legislação do trabalho assegura ao trabalho assalariado". Tal equiparação
foi considerada incabível, entre outros motivos, pela ausência de
subordinação hierárquica e pela possibilidade de a representação comercial
ser exercida por pessoas jurídicas. O então Presidente, General CASTELO
BRANCO, ao vetar o projeto aprovado pelo Congresso, encarregou o MIC
de reexaminar o assunto. Daí surgiu novo projeto que, após tramitação
parlamentar, se tornou a Lei n.º 4.886/65, ainda em vigor, com as alterações
da Lei nº 8.420/92.

A Representação comercial constitui uma atividade comercial, que


desempenha a mediação para a realização de negócios mercantis, onde o
representante comercial agencia propostas ou pedidos de produtos com o cliente,
que serão comercializados com a representada, que esta regulada no artigo 1º da
Lei n.º 4.886/1965, com os acréscimos introduzidos pela Lei n.º 8.420/1992 se
caracteriza pelo exercício autônomo.
Art. 1.º da Lei n.º 4.886/1965 assim dispõe:

Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa


física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual
por conta de uma ou mais pessoas, a medição para a realização de
negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los
aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução
dos negócios.

Requião (1999, p. 25) lembra, “não nos esqueçamos de que a Lei n.º 4.886 de
1965, no artigo 1º, ao definir representação comercial, o assenta também no negócio
de mediação”.
Segundo Fazzio Júnior (2016, p.500) a representação comercial pode ser
pessoa física ou jurídica:

Representante comercial autônomo é empresário (pessoa física ou jurídica)


que sem, relação de subordinação hierárquica trabalhista, desempenha, em
caráter não eventual, por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para
a realização de negócios, agenciando propostas ou pedidos, praticando ou
não atos relacionados com a execução dos negócios.
28

A doutrina e a jurisprudência apontam que diante de tantas similitudes, o marco


divisório entre o contrato de representação comercial e o contrato de vendedor
externo é sutil, a título de exemplo, a jurisprudência do Tribunal Regional do
Trabalho:
VENDEDOR EXTERNO E REPRESENTANTE COMERCIAL. ELEMENTOS
DIFERENCIADORES. O contrato do representante comercial, regulado
pela Lei n. n.º 4.886/1965, com as alterações introduzidas pela Lei n.
8.420/92, tem características muito similares às do contrato de trabalho
strito sensu (relação de emprego), inclusive impondo restrições à
autonomia do representante comercial (arts. 28 e 29), o que pode,
inclusive, afastar a possibilidade de reconhecimento de vínculo, quando
presentes os demais requisitos do contrato de representação, em especial
os do art. 27, mas essas imposições legais, dependendo do modo de como
são exercidas, podem evidenciar subordinação jurídica própria da relação
de emprego. A linha divisória de ambos os contratos, na verdade, é aferida
pelo grau de subordinação entre os contratantes e pela presença ou
ausência da alteridade. Na hipótese dos autos, o reclamante usava um
palm top fornecido pela reclamada; prestava constas, no máximo,
semanalmente, por e-mail; tinha as rotas definidas pela empresa, com
exclusividade na respectiva área, sob fiscalização de supervisor da
empreendedora, e não trabalhava para mais ninguém, saltando às vistas
um forte grau de subordinação jurídica na sua relação laboral com a
empresa. Portanto, se não participava do risco econômico do
empreendimento e se tudo era feito por ordem e em nome da reclamada,
fica evidenciado tratar-se de autêntico empregado, sendo irrelevante a
existência de contrato formal de representação comercial, por força do
contrato realidade prevalente no Direito do Trabalho. Recurso conhecido e
parcialmente provido. (TRT-16 187200900316000 MA 00187-2009-003-16-
00-0, Relator: LUIZ COSMO DA SILVA JÚNIOR, Data de Julgamento:
16/02/2011, Data de Publicação: 22/02/2011).

A Lei n.º 4.886/1965, com os acréscimos introduzidos pela Lei n.º 8.420/1992,
é associada ao Código Civil 2002 pelo Artigo 710, que trata de uma hipótese de
contrato de agência e distribuição que assim legisla:

Artigo 710: Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não
eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta
de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona
determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua
disposição a coisa a ser negociada.

Saad (2008, p. 4) explica:


O art. 1º da Lei n. 4.886/1965 e o art. 710 do Código Civil alinham as
características que identificam as figuras do representante e do agente e
que são as mesmas: pessoa (jurídica ou natural) que labora de forma não
eventual e sem vínculo de dependência, tendo por objetivo a realização de
negócios, à conta de outra.
29

Nesse mesmo sentido Requião (2014, p. 274, 275) esclarece que “ a Lei n.º
4.886/1965, que “regula as atividades dos representantes comerciais autônomos”,
alterada pela Lei n.º 8.420, de 8 de maio de 1992. Agora surgem as disposições do
Código Civil (arts. 710 a 721), que rebatiza o contrato, denominado “agência”.”
A lei, como se vê é bastante explicativa ao mostrar que o representante não é
empregado na empresa (“sem relação de emprego”) e que a representação
comercial deve ter caráter permanente (“em caráter não eventual”) (MARTINS, 2017,
p.107).
Bertoldi (2008, p. 107) nesse mesmo sentido salienta:

O representante comercial autônomo, dentro da estrutura empresarial, vem


a substituir o vendedor externo com vínculo empregatício. Trata-se de um
vendedor, na medida em que é encarregado de angariar clientes, difundir o
produto de seu representado numa dada região e efetuar vendas mediante
o pagamento de comissão.

O artigo 2º da Lei n.º 4.886/1965 diz que é obrigatório o registro nos Conselhos
Regionais (CORE)5, dos que exerçam a representação comercial autônoma.
Martins (2017, p. 107) conceitua, “os representantes comerciais devem ser
obrigatoriamente registrados nos Conselhos Regionais de Representantes
Comerciais [...], que lhes fornecem as carteiras profissionais”.
Fazzio Júnior (2014, p. 520) lembra os requisitos para o registro com
fundamentos no artigo 3.º da Lei n.º 4.886/1965:

Prova de identidade;
Prova de quitação com serviço militar, quando a ele obrigado;
Prova de estar em dia com as exigências da legislação eleitoral;
Folha corrida de antecedentes, expedida pelos cartórios criminais das
comarcas em que o registro houver sido domiciliado nos últimos dez
(10) anos;
Quitação com o imposto sindical; e
Prova de sua existência legal, se pessoa jurídica.

Destaca Sampaio (2013, p. 22) que “algumas correntes da doutrina entendem


que a obrigação do registro fere o comando constitucional que preserva o livre
exercício profissional, como afirma o art. 5º da Constituição Federal em seu inciso
XIII‖.”
Nesse mesmo sentido Fazzio Júnior (2010, p. 502) explica “isso não significa
que o registro de representante junto ao Conselho Regional seja facultativo. É

5
CORE – Conselho Regional dos Representantes Comercais
30

obrigatório. A inobservância do registro acarreta processo administrativo disciplinar


no âmbito do respectivo Conselho e a imposição de sanções administrativas.”
Franco (2004, p. 107) também esclarece que:

Representante comercial não registrado junto ao Conselho Regional.


Irrelevância. Arts. 2.º e 5.º da Lei n.º 4.886/1965 que não foram
recepcionados pela Constituição Federal de 1988 por serem incompatíveis
com a liberdade de exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão (RT
759/250 – 1.º TACivSP).

Nesse mesmo sentido Recuso de Revista dispõe:

RECURSO DE REVISTA. REPRESENTANTE COMERCIAL. AUSÊNCIA


DE REGISTRO NO ÓRGÃO COMPETENTE. IRREGULARIDADE
FORMAL. A jurisprudência desta Corte orienta que a ausência de inscrição
do representante comercial no respectivo Conselho Regional é
irregularidade formal, que não possui aptidão para descaracterizar a
representação comercial quando presentes os elementos materiais do art.
1º da Lei n.º 4.886/1965. Recurso de revista conhecido e provido. (TST -
RR: 44734620115120014, Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira,
Data de Julgamento: 17/02/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
19/02/2016) RR: 447346201115120014.

A lei n.º 4.886/1965 no artigo 4.º estabelece vedações quem não pode ser
representante comercial conforme ensina Martins (2017, p. 108):

Não podem ser registrados como representantes comerciais os que não


podem ser comerciantes; os falidos não reabilitados; as pessoas que
tenham sido condenadas por infração penal de natureza infamante, tais
como falsidade, estelionato, apropriação indébita, contrabando, roubo, furto,
lenocínio ou crimes também punidos como a perda de cargo público e os
que estiverem com seu registro comercial cancelado como penalidade.

Estas vedações estabelecidas pela lei são destinas para proteger o


representante comercial.

2.2.1 Contrato de Representação Comercial

O exercício da profissão se dá mediante a celebração de contrato de


representação comercial a ser firmado entre o representante autônomo e o
empresário (BERTOLDI, 2008, p. 95)
Para Requião (2014, p. 275):
31

O contrato de representação comercial ou agência é, uma convenção típica,


podendo o contrato conter mandato, mas não se confunde; não é comissão
mercantil; e nem simples locação de serviços, pois, nele não se remunera o
trabalho do agente, mas o resultado útil dele decorrente.

Segundo Monteiro (2007, p. 15), o conceito de contrato é “o acordo de


vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir um direito”.
Para Saad (2008, p. 1, apud Monteiro, 2007, p. 311), “O contrato de agência e
distribuição nada mais é que o contrato de representação comercial regulado pela
Lei n.º 4.886, de 9 de dezembro de 1965, com as alterações feitas pela Lei n.º 8.420,
de 8 de maio de 1992”.
Os requisitos mínimos obrigatórios do contrato de representação comercial se
encontram nos fundamentos do artigo 27 da Lei n.º 4.886/1965 com algumas
modificações introduzidas pela Lei 8.420/92:

Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos


comuns e outros, a juízo dos interessados, constarão, obrigatoriamente:
a) Condições e requisitos gerais da representação;
b) Indicação genérica ou específica dos produtos ou artigos objeto da
representação;
c) Prazo certo ou indeterminado da representação;
d) Indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação;
e) Garantia ou não, parcial ou total, ou por certo prazo, da
exclusividade de zona ou setor da zona;
f) Retribuição e época do pagamento, pelo exercício da
representação, dependente da efetiva realização dos negócios, e
recebimento, ou não, pelo representado, dos valore respectivos;
g) Os casos em que se justifique a restrição de zona concedida com
exclusividade;
h) Obrigações e responsabilidades das partes contratantes;
i) Exercício exclusivo ou não da representação a favor do
representado;
j) Indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora
dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser
inferior a um doze avos do total da retribuição auferida durante o
tempo em que exerceu a representação.
§ 1.º Na hipótese de contrato a prazo certo, a indenização
corresponderá à importância equivalente à média mensal da
retribuição auferida até a data da rescisão, multiplicada pela
metade dos meses resultantes do prazo contratual.
§ 2.º O contrato com prazo determinado, uma vez prorrogado o
prazo inicial, tácita ou expressamente, torna-se a prazo
indeterminado.
§ 3.º Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que
suceder, dentro de seis meses, a outro contrato, com ou sem
determinação de prazo.

Nesse sentido, Bueno (2010, p. 26, apud REQUIÃO, 2005, 59-74), explana:
32

Ora, o contrato de trabalho é uma especialização moderna, ditados pelas


conquistas do Direito Social, da locação de serviço, (...). O contrato de
representação comercial, embora de elaboração recente, não disfarça a
mesma origem, sendo um desdobramento técnico do mesmo instituto da
locação de serviços. Questões de fundo econômico, mescladas com
postulados de Direito Social, determinaram, pelas necessidades práticas do
mundo dos negócios, a distinção entre as duas categorias, descendentes da
mesma fonte. Daí as dificuldades de estabelecer os lindes 6 de cada uma
delas, pois suas as suas fronteiras são diluídas por “nebulosa zona grígea”
a que tanto se referem os juristas.

Para Coelho (2005, p. 113), “Ainda hoje [a lei especial já completou 44


(quarenta e quatro) anos], há advogados e magistrados que se valem de
princípios do Direito do Trabalho, em especial a da tutela do hipossuficiente, no
equacionamento de questões relacionadas ao representante”. O negrito está no
original ou foi você que colocou? Se foi você, precisa constar (sem destaque no
original)

2.2.2 Obrigações do Representante Comercial

As primeiras atribuições do representante comercial estão descritas no artigo


19 da Lei n.º 4.886/1965 com alterações na Lei n.º 8.420/1992, que apresenta um rol
de restrições que não devem ser tomadas no exercício da profissão, para não incidir
em faltas com o representado, são elas:

Art.19. Constituem faltas no exercício da profissão de representante


comercial:
a) prejudicar, por dolo ou culpa, os interesses confiados aos seus cuidados;
b) auxiliar ou facilitar, por qualquer meio, o exercício da profissão aos que
estiverem proibidos, impedidos ou não habilitados a exercê-la;
c) promover ou facilitar negócios ilícitos, bem como quaisquer transações
que prejudiquem interesse da Fazenda Pública;d) violar o sigilo profissional;
e) negar ao representado as competentes prestações de contas, recibos de
quantias ou documentos que lhe tiverem sido entregues, para qualquer fim;
f) recusar a apresentação da carteira profissional, quando solicitada por
quem de direito.

Para Saad (2008, p. 46), “O artigo sob análise apresenta um rol de faltas que,
como tal, são tidas no exercício da profissão e cuja prática implica punibilidade do
faltoso”.

6
A palavra “linde” é utilizada pelo autor como sinônimo de limite, borda.
33

Segundo Fazzio Júnior (2010, p. 505), “Caracterizam-se como faltas no


exercício da profissão representante comercial todas as condutas que, dolosa ou
culposamente, acarretem prejuízo aos interesses confiados aos cuidados do
representante comercial”.
O artigo 28 da Lei n.º 4.886/1965, é um comando que impõe ao representante
dever de realizar com cuidado e aplicação nos negócios, informando o andamento
dos mesmos de modo a expandir os negócios do representado.
Para Coelho (2003, p. 439), as obrigações do representante comercial
autônomo são: a) obter com diligência, pedidos de compra e venda, em nome do
representado, ajudando-o a expandir o seu negócio e promover os seus produtos.
O artigo 28 da Lei n.º 4.886/1965 impõe:

Artigo 28. O representante comercial fica obrigado a fornecer ao


representado, segundo as disposições do contrato ou, sendo este omisso,
quando lhe for solicitado, informações detalhadas sobre o andamento dos
negócios a seu cargo, devendo dedicar-se à representação, de modo a
expandir os negócios do representado e promover os seus produtos.

Nesse mesmo sentido Saad (2008, p. 61,62) ensina:

Dos deveres do representante, ressaltamos sua obrigação de manter o


representado a par do andamento dos negócios que lhe forem confiados.
Desse dever, verificamos, agora, o representante não poderá se escusar,
mesmo na hipótese de omissão do contrato, posto que o comando do art.
28 é impositivo. Demais disso, deve, ainda, o representante dedicar-se à
representação de modo a expandir os negócios do representado e promover
os seus produtos. A falta de empenho do representante, desde que
comprovada, leva à caracterização de falta (desídia), considerada como
justa para a rescisão, pelo representado, do contrato de representação
comercial (atr. 35, a).

Na sequência das obrigações do representante comercial, os artigos 29 e 30


que disciplinam:

Artigo 29. Salvo autorização expressa, não poderá o representante


conceder abatimentos, descontos ou dilações, nem agir em desacordo com
as instruções do representado.

Artigo 30. Para que o representante possa exercer a representação em


juízo, em nome do representado, requer-se mandato expresso. Incumbir-
lhe-á, porém, tomar conhecimento das reclamações atinentes aos negócios,
transmitindo-as ao representado e sugerindo as providências acauteladoras
do interesse deste.
Parágrafo único. O representante, quanto aos atos que praticar, responde
segundo as normas do contrato e, sendo este omisso, na conformidade do
direito comum.
34

Bertoldi (2006, p. 715), afirma:

Que, caberá, ainda, ao representante, em nome do representado, tomar


conhecimento das reclamações efetuadas pelos clientes relativas aos
negócios sob sua incumbência, como é o caso de vícios que os produtos
porventura venham a apresentar, devendo transmiti-las ao representado,
colaborando para a solução e sugerindo as providências acauteladoras do
interesse deste.

Para Fazzio Júnior (2010, p. 506) “Inexistindo expressa cláusula contratual em


contrário, o representante comercial poderá exercer sua atividade para mais de um
representado e empregá-la em outros ramos de negócios”.
Requião (2007, p. 103) explica:

A representação judicial da empresa representada, pelo representante,


depende de mandato expresso, não sendo suficiente o contrato de
representação comercial, que em sua natureza não dá poderes ao
representante de receber citação em nome do representado, por exemplo.
O representante comercial não é gerente ou administrador dos negócios do
representado, caso em que o Código de Processo Civil admite a citação da
empresa na pessoa de seu gerente ou administrador local para discussão
judicial dos atos praticados pelo mesmo administrador ou gerente em nome
da empresa a que está vinculado.

Para que o representante comercial possa dar descontos nos preços fixados e
dilatar os prazos para liquidação das faturas, bem como representar judicialmente a
representada, somente com autorização e mandato expresso da representada.

2.2.3 Obrigações do representado

Os deveres do representado estão fundamentados na Lei n.º 4.886/1965


introduzidas pela Lei n.º 8.420/92, nos artigos 30, 31 e,32. O artigo 31 se refere ao
direito de exclusividade de zona, e sendo esta omissa fará jus o representante as
comissões das negociações realizadas pelo representado ou por intermédio de
terceiros.
Artigo 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade de zona ou
zonas, ou quando este for omisso, fará jus o representante à comissão
pelos negócios aí realizados, ainda que diretamente pelo representado ou
por intermédio de terceiros. Parágrafo único. A exclusividade de
representação não se presume na ausência de ajustes expressos.
35

Coelho (2003, p. 439), descreve as obrigações do representado:


Respeitar a cláusula de exclusividade de zona, pela qual lhe é obstado
vender os seus produtos em uma determinada área delimitada em contrato,
senão através do representante contratado para atuar naquela área. Caso
um negócio se concretize sem a observância dessa condição, o
representante tem direito à comissão correspondente (art. 31).

Saad (2008, p. 64) comenta a infelicidade do legislador na modificação da


legislação, “De fato, há agora um claro descompasso entre as disposições da
cabeça do artigo e o seu parágrafo único: enquanto no caput é admitido que o
contrato possa vir a ser omisso no que respeita à exclusividade (...), o parágrafo
único diz que a exclusividade da representação não se prusume”.
O representante adquire direito às comissões mediante pagamento das faturas
dos pedidos como resalta o artigo 32. “mantém o artigo o conceito de obrigação de
resultado, como característico da representação comercial, isto é, só tem direito a
comissão quando o cliente cumpre o contrato agenciado pelo representante”
(REQUIÃO, 2007, P. 111).
Saad (2008, p.66) explica, “liquidado pelo comprador o preço das mercadorias,
o representante comercial adquire direito às comissões correspondentes”.

Artigo 32. O representante comercial adquire o direito às comissões quando


do pagamento dos pedidos ou propostas.
§ 1.º O pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do mês
subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhadas das respectivas
cópias das notas fiscais.
§ 2.º As comissões pagas fora do prazo previsto no parágrafo anterior
deverão ser pagas corrigidas monetariamente.
§ 3.º É facultado ao representante comercial emitir títulos de créditos para
cobrança de comissões.
§ 4.º As comissões deverão ser calculadas pelo valor total das
mercadorias.§ 5.º Em caso de rescisão injusta do contrato por parte do
representando, a eventual retribuição pendente, gerada por pedidos em
carteira ou em fase de execução e recebimento, terá vencimento na data da
rescisão.
§ 6.º (Vedado)
§ 7.º São vedadas na representação comercial alterações que impliquem,
direta ou indiretamente, a diminuição da média dos resultados auferidos
pelo representante nos últimos seis de vigência.

“As comissões devidas ao representante deverão ser pagas até o dia 15 do


mês subsequente ao da liquidação da fatura, sendo que o mesmo adquire o direito
às comissões quando do pagamento dos pedidos ou propostas”, explana
(BERTOLDI, 2008, p. 96)
36

“O representante comercial não receberá comissão se houver insolvência do


comprador, bem como se o negócio for por ele desfeito ou se sustada a entrega de
mercadorias devido à situação comercial do comprador, capaz de comprometer ou
tornar duvidosa a liquidação”, explica (FAZZIO JÚNIOR, 2010, p, 506).
Nesse mesmo sentido Requião (2014, p. 283) conceitua, “se o cliente não
cumpre a obrigação de pagamento, tornando-se insolvente, o agente não tem direito
ao recebimento de sua comissão, pois não ocorreu o resultado útil, econômico, de
sua mediação”.
O artigo 33 cita a não manifestação da recusa por escrito do representado nos
prazos de quinze, trinta, sessenta ou cento e vinte dias, na mesma praça, ou em
outra praça do mesmo Estado, em outro Estado, ou no estrangeiro, ficará o mesmo
obrigado a pagar a respectiva comissão.
O artigo 33 da lei n.º 4.886/1965 dispõe:

Artigo 33. Não sendo previstos, no contrato de representação, os prazos


para recusa das propostas ou pedidos, que hajam sido entregues pelo
representante, acompanhados dos requisitos exigíveis, ficará o
representado obrigado a creditar-lhe a respectiva comissão, se não
manifestar a recusa, por escrito, nos prazos de quinze, trinta, sessenta ou
cento e vinte dias, conforme se trate de comprador domiciliado,
respectivamente, na mesma praça, em outra do mesmo Estado ou no
estrangeiro.
§ 1.º Nenhuma retribuição será devida ao representante comercial, se a
falta de pagamento resultar de insolvência do comprador, bem como se o
negócio vier a ser por ele desfeito ou for sustada a entrega de mercadorias
devido à situação comercial do comprador, capaz de comprometer ou tornar
duvidosa a liquidação.
§ 2.º Salvo ajuste em contrário, as comissões devidas serão pagas
mensalmente, expedindo o representado a conta respectiva, conforme
cópias das faturas remetidas aos compradores no respectivo período.
§ 3.º Os valores das comissões para efeito tanto do pré-aviso como da
indenização, prevista nesta Lei, deverão ser corrigidas monetariamente.

Saad (2008, p. 72) afirma:

Estamos diante do artigo que fixa os prazos para recusa, pelo representado,
das propostas ou pedidos encaminhados pelo representante. Esses prazos
prevalecem desde que o contrato não figure cláusula, prevendo, livremente,
outros. Não manifestada a recusa dentro dos prazos estabelecidos
contratualmente ou, na falta destes, pelos fixados em lei, ficará o
representado obrigado a creditar ao representante a respectiva comissão.

Medeiros (2002, p. 47), cita um aspecto importante sobre a correção das


comissões pagas em atraso:
37

Aspecto importante, e que, na maioria das vezes, causa prejuízo ao


representante, é a falta de correção das comissões pagas em atraso, por
culpa do cliente que atrasou o pagamento do título. Nesse caso, raramente,
os representados pagam a correção monetária e juros sobre as comissões
do representante, embora, tenham cobrado, tanto a correção como os juros
do cliente, até, então, inadimplente, É certo que, ao vender a mercadoria, o
representado pretende receber os valores no prazo estipulado na ordem de
compra, porém se o comprador não efetuar o pagamento na data prevista,
ficará sujeito ao pagamento de juros na maioria das vezes, tão ou mais
extorsivos do que os cobrados pelas instituições bancarias, subentendendo-
se que, nos juros cobrados está também embutida a correção monetária do
valor.

Requião (2007, p. 112) explica o texto da Lei, “É bem verdade que o art. 33 da
Lei n.º 4.886/1965 em parte resolve o problema, ao estabelecer prazos para a
recusa escrita do pedido. Não havendo recusa, executado ou não o negócio
agenciado, há débito das comissões”.
O artigo 33 fixa os prazos para recusa pelo representado, a não manifestação
por escrito no prazo, conforme localização do seu domicilio, ficará o representado
obrigado a pagar a respectiva comissão.

2.2.4 Cláusula Del Credere

A Cláusula del crede constitui ao comissário garantidor solidário ao comitente,


o artigo 698 do Código Civil dispõe sobre a cláusula del credere estabelecendo:

Artigo 698. Se do contrato de comissão constar a cláusula del crede,


responderá o comissário solidariamente com as pessoas com quem houver
tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em
contrário, o comissário tem direito à remuneração mais elevada, para
compensar o ônus assumido.

Sampaio (2013, p. 29) explica que “pela cláusula del credere, o representante
ficava responsável pelo pagamento da mercadoria se o comprador não honrasse o
compromisso”
Saad (2008, p. 92, 93) esclarece a cláusula del credere nos contratos de
representação comercial:

A Lei n. 4.886/1965 não fazia expressa menção à comissão del crede, por
outro não vedava sua inclusão nos contratos de representação comercial.
(...). A inclusão da cláusula del credere nos contratos de representação
comercial foi expressamente vedada pela lei n. 8.420 (11-5-1992), que
introduziu no texto da Lei n. 4.886/1965 este art. 43.
38

A Lei n.º 4.886/1965 no artigo 43 dispõe: “É vedada no contrato de


representação comercial o inclusão de cláusula del credere”.
A prática da cláusula del crede nos contratos de representação dá direito a
rescisão imotivada e dever de indenização do contrato de representação comercial
conforme dispõe a jurisprudência do Tribunal de Justiça do RS:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. REPRESENTAÇÃO


COMERCIAL. CONTRATO VERBAL. RESCISÃO IMOTIVADA. PRÁTICA
DA CLÁUSULA "DEL CREDERE¿. DEVER DE INDENIZAR
RECONHECIDO. 1. Admite-se o contrato verbal de representação
comercial, conforme entendimento jurisprudencial pacificado. 2. Caso em
que restou admitida a natureza da contratação pela ré, incidindo no caso a
Lei 4886/65. 3. Prática da cláusula `del credere¿ evidenciada, o que já seria
motivo suficiente pra o rompimento da relação pela representante. 4.
Comprovada a culpa da ré pela rescisão do contrato, persiste o dever de
indenizar. Apelo provido e recurso adesivo improvido. (Apelação Cível Nº
70025966771, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Paulo Roberto Felix, Julgado em 17/06/2009).

O representante comercial não pode sofrer descontos nas comissões a ele


devidas, a não ser nas hipóteses legalmente previstas nos casos da insolvência por
parte do cliente.
A vedação prevista Lei n.º 4.886/1965 quanto à cláusula del credere, impede
que o representado possa cobrar do representante comercial as dívidas do cliente
em caso de inadimplência deste, tornando nula eventual cláusula contratual ou
desconto realizado, que poderá ser motivo para o rompimento da relação jurídica.
Há também proibição das cláusulas de fiança ou aval em favor do cliente por parte
do profissional vendedor.
39

3 A EXTINÇÃO DO CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL E O


DIREITO À INDENIZAÇÃO 1/12

A Lei que regulamenta a Representação Comercial (4.886/1965) estabelece


em seus artigos 34, 35, 36 e 37 as regras relativas à extinção do contrato de
representação comercial, fixando prazo mínimo de comunicação (Denuncia – art. 34)
e, ainda, os motivos justos para ruptura do contrato por parte do representado (art.
35) e do representante (art. 36).
Não obstante a Lei n.º 4.886/1965 utilizar, inadequadamente, a expressão
“rescisão” para determinar o término do contrato de representação, utilizar-se-á
neste estudo a expressão “extinção” ou “encerramento” quando se referir ao término
do contrato de representação comercial, por entender que é a melhor técnica.
O contrato de representação poderá ser celebrado por prazo determinado ou
indeterminado e a extinção do contrato pode ser solicitada pelo representado ou
pelo representante e poderá ocorrer com justa causa ou sem a alegação de justo
motivo.
A seguir apresentam-se as hipóteses de extinção do contrato de representação
e os direitos e obrigações decorrentes de cada modalidade.

3.1 CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO

Findo o prazo do contrato determinado e não renovado ele se desfaz


automaticamente sendo nenhuma indenização devida aos contratantes.
Mas, na hipótese de contrato de prazo certo for extinto antes do seu termo, a
indenização correspondente tem os fundamentos no artigo 27, inciso j, §1.º, da
referida lei, que dispõe: “Na hipótese de contrato a prazo certo, a indenização
corresponde à importância equivalente à média mensal da retribuição auferida até a
data da rescisão, multiplicada pela metade dos meses resultantes do prazo
contratual”.
De acordo com Medeiros (2002, p. 74) “a indenização devida ao representante
comercial será calculada na média mensal das retribuições mais as bonificações, os
40

prêmios e as gratificações, no período que o representante exerceu a


representação”.

3.2 CONTRATO POR PRAZO INDETERMINADO

Todo contrato determinado, que for prorrogado ou que suceder seis meses,
torna-se indeterminado, conforme fundamentos do artigo 27, inciso j, §2.º: “O
contrato com prazo determinado, uma vez prorrogado o prazo inicial, tácita ou
expressamente, torna-se a prazo indeterminado”.
A extinção por qualquer das partes sem justo motivo do contrato de
representação comercial e ajustado por tempo indeterminado por mais de seis
meses, obriga o denunciante à concessão de aviso prévio de trinta dias de
antecedência, ou ao pagamento de 1/3 das comissões do representante dos três
meses anteriores, conforme institui o art. 34:

Artigo 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do
contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja
vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia
prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima
de trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um terço (1/3) das
comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores.

Bertoldi (2008, p. 775, 776) explica:

Findo o prazo do contrato, automaticamente ele se faz, sem que nenhuma


espécie de indenização seja devida a qualquer dos contratantes. Pode
ocorrer, no entanto, que o contrato venha a ser denunciado por uma das
partes, seja antes do término do seu prazo certo, seja a qualquer momento
quando se tratar de contrato por prazo indeterminado. Nesses casos, a
parte que der ensejo à denúncia do contrato, desde que este esteja
vigorando por pelo menos seis meses, deverá dar aviso prévio à outra com
antecedência mínima de 30 dias ou então efetuar o pagamento da
importância equivalente a 1/3 das comissões auferidas pelo representante
nos últimos três meses de contrato. Se o contrato não chegou a completar 6
meses de vigência, não existe a necessidade de aviso prévio.

Nesse mesmo sentido Fazzio Júnior (2016, p. 504) também esclarece sobre o
contrato por tempo indeterminado:

Se qualquer das partes denunciar, injustificadamente, o contrato de


representação ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por
mais de seis meses, deverá, salvo outra garantia prevista no contrato,
conceder aviso prévio, com antecedência mínima de 30 dias, ou pagar
41

quantia equivalente a 1/3 das comissões percebidas pelo representante, nos


três meses anteriores.

O aviso prévio do representante comercial funciona de forma semelhante a do


empregado celetista, ou seja, a parte interessada em encerrar o contrato deve avisar
previamente ou pagar o valor correspondente, que no caso do representante
comercial é de 1/3 das comissões recebidas nos últimos três meses.
Já o Código Civil no artigo 720 dispõe:

Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes
poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que
transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento
exigido do agente.
Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da
razoabilidade do prazo e do valor devido.

Saad (2008, p. 74) salienta, “que o aviso prévio só é devido se o ajuste for por
prazo indeterminado e haja vigorado por mais de seis meses”.
O aviso prévio é um direito recíproco das partes, entretanto, havendo justo
motivo para o encerramento do contrato, a parte prejudicada fica dispensada da
comunicação prévia, consequentemente, poderá pleitear o direito à indenização do
período correspondente.
Os motivos que justificam o rompimento do contrato são de extrema relevância,
pois determinam os direitos e obrigações das partes em relação à extinção
contratual, ao aviso prévio e às indenizações correspondentes.

3.3 MOTIVOS PARA A EXTINÇÃO DO CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO

A extinção do contrato de representação comercial por justo motivo está


disposta nos artigos 35 e 36, conforme cita Bertoldi (2008, p.776), “prevê a lei, nos
artigos 35 e 36, as hipóteses que, se ocorrerem, poderão dar ensejo ao rompimento
do vínculo contratual por justo motivo, dispensando o aviso prévio e ensejando o
direito de indenização à parte prejudicada”.
Constituem motivos justos para a extinção do contrato de representação
comercial, pelo representado conforme dispõe o artigo 35 da lei n.º 4.886/1965:

Artigo 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de


representação comercial, pelo representado:
42

a) A desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes


do contrato;
b) A prática de atos que importem descrédito comercial de representado;
c) A falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de
representação comercial;
d) A condenação definitiva por crime considerado infamante;
e) Força maior.

Coelho (2014, p. 136) lembra:

Quando, porém, não há distrato, nem caso fortuito ou força maior, mas
resolução por culpa de um dos contratantes, é devida indenização. Se o
contrato de representação é rescindido por culpa do represente – como nas
hipóteses de desídia no comprimento das obrigações, prática que leva o
representado a descrédito ou condenação definitiva por crime infamante
(art. 35, a a d) -, não estabelece a lei da representação comercial nenhuma
indenização.

Um aspecto importante citado por Saad (2008, p. 75) é a confiança da boa fé:

Desaparecendo a confiança e a boa fé que devem presidir as relações entre


representante e representado, torna-se quase impossível o prosseguimento
dessas relações. Assim, ocorrendo uma das hipóteses elencadas pelo
artigo, fica o representado autorizado a rescindir o contrato, sem que, no
entanto, esteja obrigado ao pagamento de indenização e concessão de
aviso prévio.

Para Negrão (2010, p. 299) a dispensa por justa causa alegada pelo
representado: “o agente tem direito à remuneração pelos serviços úteis. O
proponente pode exigir perdas e danos por prejuízos que sofrer (CC, art. 717)”.
Coelho (2008, p. 437) explana:

O representado poderá promover a resolução do contrato quando o


representante incorrer em determinadas práticas definidas em lei ( desídia
no cumprimento das obrigações contratuais, atos que importem em
descrédito comercial do representado, condenação definitiva por crime
infamante, por exemplo) ou havendo força maior (art. 35) neste caso,
nenhuma indenização será devida ao representante, e este ainda poderá
ser responsabilizado, com base no direito civil (CC art.475), pelos danos
que causou ao representado.

Bertoldi (2008, p. 776) Observa: “se a rescisão ocorrer por culpa do


representante, caberá ao representado pleitear o ressarcimento de eventuais perdas
e danos que tenham sido causadas pelo representante”.
Por outro lado, o art. 36 da Lei n.º 4.886/1965 traz as hipóteses que justificam a
extinção do contrato por iniciativa do representante, assegurando o direito às
indenizações correspondentes:
43

Artigo 36. Constituem motivos justos para a rescisão do contrato de


representação comercial, pelo representante:
a) Redução de esfera de atividade do representante em desacordo com as
cláusulas do contrato;
b) A quebra, direta e indireta, da exclusividade, se prevista no contrato;
c) A fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, como
exclusivo escopo de impossibilitar-lhe a ação regular;
d) O não pagamento de sua retribuição na época devida;
e) Força maior.
f)

Negrão (2010, p. 299) explica a dispensa por justa causa alegada pelo agente:

São os casos em que o agente terá direito à indenização, porque a dispensa


ocorre sem culpa sua, equiparando-se sua situação à dispensa imotivada
por parte do proponente, descrita a seguir. O art. 716 refere-se à não
realização do negócio por fato imputável ao proponente. A LRCA 7 é mais
específica e, no art. 36 indica os motivos legais para que o representante
comercial autônomo fundamente seu pedido de rescisão.

Sampaio (2013, p. 31) nos esclarece “que a rescisão do contrato pode ocorrer
nas condições estipuladas para tanto no contrato, ou por denúncia (iniciativa) de
uma das partes”.
Para Coelho (2008, p. 437):

O representante poderá resolver o contrato quando o representado a isto


der causa, incorrendo em certas práticas elencadas em lei (inobservância
da cláusula de exclusividade, mora no pagamento da comissão, fixação
abusiva de preços na zona do representante, por exemplo), ou quando se
verificar a força maior (art. 36). Nesta hipótese, o representante terá direito à
indenização prevista em contrato por prazo indeterminado, nunca inferior a
um doze avos do total das retribuições auferidas, monetariamente
atualizadas.

Saad (2008, p. 78) lembra, “neste art. 36 o representante encontra a relação


das hipóteses dentro das quais lhe será lícito considerar rescindido o contrato de
representação comercial, por justa causa”.
Bertoldi (2008, p. 776) explica:

O elenco dos arts. 35 e 36 é taxativo e não simplesmente exemplificativo, de


forma que somente na ocorrência das circunstâncias neles previstas é que
haverá de ser considerado rescindido o contrato de representação por justa
causa – caso contrário, a esse título a rescisão não poderá ocorrer.

7
LRCA – Lei de Representação Comercial Autônoma
44

O representante ou a representada tem direito de rescindir o contrato de


representação comercial a qualquer tempo seja por justo motivo ou sem a alegação
de justo motivo.

3.4 INDENIZAÇÃO 1/12 AVOS

A indenização 1/12 avos tem a finalidade de dar suporte ao representante


comercial quando da rescisão contratual com a representada, com fundamento no
artigo 27, j, da Lei 4.886/65:

Artigo 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos


comuns e outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente:
j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos
casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um
doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu
a representação.

Para Wald (1995, p. 15) a indenização prevista na Lei de Representação


Comercial é inspirada nos direitos sociais e “funda-se na noção de responsabilidade
social do representado, que deve indenizar o seu representante após a cessação do
contrato, ainda que a este não estivesse ligado por uma relação de subordinação e
vínculo empregatício”.
Theodoro Junior e Mello (2004, p. 119), por sua vez, entendem que o direito à
indenização assegurada ao representante comercial, além do caráter social, tem por
objetivo compensar o representante pela conquista da clientela em favor do
representado, assim dispondo:

Há na Lei nº 4.886/65 uma tutela de caráter social ao representante


comercial (agente), que lhe proporciona indenização tarifada,
independentemente de comprovação de dano efetivo. A explicação é que o
agente conquista uma clientela que é comum a ele e ao representado. Por
isso, ao ser dispensado sem justa causa terá direito a ser compensado pela
clientela perdida em favor do preponente. Esse prejuízo é legalmente
presumido, e seu montante pode ser estipulado em cláusula contratual
pelas próprias partes, mas não pode ser menor do que a tarifa legal.

O representante comercial para ter direito a indenização 1/12 avos, a extinção


do contrato precisa ser sem justo motivo pela parte da representa, ou seja, fora dos
45

casos previstos no artigo 35, ou quando o representante comercial, utilizando da


faculdade prevista no artigo 36 da lei n.º 4.886/1965, resolve considerar rescindido o
contrato de representação comercial.
Para cálculo da indenização 1/12 avos, soma-se o total das comissões das
retribuições auferidas durante o tempo em que exerceu a representação comercial.
O artigo 46 da Lei n.º 8.420/92 prevê que tais valores deverão ser corrigidos
monetariamente, com base na variação da BTNs (extinta em 1991) ou em outro
indexador que viesse a substituí-lo. Atualmente o índice mais indicado IGP-M (Índice
Geral de Preços Mercado)
Fazzio Júnior (2016, p. 503) esclarece:

Indenização devida ao representante, pela rescisão do contrato fora dos


casos previstos no art. 35 da lei de regência, cujo montante não será inferior
a 1/12 avos do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu
a representação.

A leitura do inciso j do art. 27 da Lei n.º 4.886/1965 permite interpretar que a


indenização poderia ser devida na hipótese de encerramento do contrato por
iniciativa do representante, entretanto a jurisprudência tem entendido de modo
diverso, conforme demonstra a jurisprudência da 6ª turma do TST, a qual decidiu
que, se a rescisão do contrato de representação comercial se der por iniciativa do
representante, sem justo motivo, não há dano a ser reparado, conforme dispõe
jurisprudência abaixo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
PREVISTO NA LEI Nº4.886/65. RESCISÃO UNILATERIAL. INICIATIVA DO
REPRESENTANTE. Conforme se depreende pela leitura da Lei nº
4.886/1965, a indenização prevista no seu art. 27, "j" tem natureza
reparatória, isto é, de reparar o dano decorrente da quebra de contrato de
forma inesperada. Nesse contexto, se a rescisão do contrato de
representação comercial se der por iniciativa do representante, sem justo
motivo, não há dano a ser reparado ao denunciante, de modo a não se
justificar a condenação do representado ao pagamento da referida
indenização. Precedentes. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. (AIRR - 3148-27.2012.5.02.0031, Relator Desembargador
Convocado: Paulo Américo Maia de Vasconcelos Filho, Data de
Julgamento: 19/08/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/08/2015).

Frente ao exposto, o representante comercial somente terá direito à


indenização 1/12 avos, se a extinção do contrato de representação comercial for por
justo motivo por parte do representante ou sem justo motivo por parte da
representada.
46

3.4.1 Indenização mensal ou anual

Para evitar o acúmulo do passivo na extinção do contrato de representação


comercial, algumas empresas optam por pagar a indenização de 1/12 avos
mensalmente ou até anualmente, é uma prática totalmente incorreta.
O representante comercial no final do contrato pode perfeitamente cobrar a
indenização de 1/12 avos sobre tudo que recebeu durante a contratualidade,
inclusive sobre estes valores intitulados “adiantamento de 1/12 avos”, porque não se
trata de indenização de 1/12 avos, já que não há de fato, uma ruptura do contrato e
sim uma simulação, que não tem nenhum valor jurídico.
Obviamente nenhum empresário extinguiria um contrato com um profissional,
pagando-lhe uma indenização, para voltar a contratá-lo no dia seguinte, para o
mesmo ofício, por meses ou anos consecutivo.
A Lei n.º 4.886/65, artigo 27, §3.º, que: “Considera-se por prazo indeterminado
todo contrato que suceder, dentro de seis meses, a outro contrato, com ou sem
determinação de prazo”.
Se entre um contrato e outro não houver transcorrido mais de seis meses, se
considerará para efeitos legais um único contrato por tempo indeterminado, e não
vários contratos como a representada pretende que seja considerado, nesse mesmo
sentido segue o entendimento da 4.º turma do STJ:

250200009378 – AÇÃO DE COBRANÇA – REPRESENTAÇÃO


COMERCIAL – CONTRATOS SUCESSIVOS – RELAÇÃO ÚNICA E
CONTÍNUA – "Agravo interno no agravo em recurso especial. Ação de
cobrança. Representação comercial. Contratos sucessivos. Relação única e
contínua. Reexame de fatos e provas. Interpretação de cláusulas
contratuais. Impossibilidade. Decisão mantida. Recurso desprovido. 1. O
acórdão recorrido foi categórico ao reconhecer o direito da agravada ao
pagamento das parcelas indenizatórias referentes aos contratos de
representação comercial firmados com a agravante, concluindo que, embora
a autora tenha firmado contratos sucessivos, a relação contratual foi única e
contínua, fazendo jus ao recebimento da indenização prevista na legislação
específica (Lei nº 4.886/1965). 2. Em contrapartida, a agravante sustenta
que o Tribunal de origem não valorou adequadamente as provas dos autos,
ao desconsiderar a quitação do representante comercial e a boa-fé objetiva
47

que deve nortear as relações comerciais. 3. A reforma do acórdão recorrido


demandaria, necessariamente, o revolvimento do acervo fático-probatório
dos autos e a interpretação de cláusulas contratuais, providências vedadas
na instância especial, a teor das Súmulas nºs 5 e 7 desta Corte. 4. Registra-
se que ‘a errônea valoração da prova que enseja a incursão desta Corte na
questão é a de direito, ou seja, quando decorre de má aplicação de regra ou
princípio no campo probatório e não para que se colham novas conclusões
sobre os elementos informativos do processo’ (Ag Int-AREsp 970.049/RO,
Relª Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª T., J. 04.05.2017, DJe de 09.05.2017). 5.
Agravo interno não provido." (STJ – Ag Int-Ag-REsp 405.341 –
(2013/0334780-5) – 4ª T. – Rel. Min. Lázaro Guimarães – DJe 20.02.2018 –
p. 2591)RDC+112+2018+MARABR+198+45/2000.

Para ter direito à indenização prevista no artigo 27, J, da Lei 4.886/65, a


representada precisa pôr fim ao contrato de representação comercial, seja ele verbal
ou escrito, sem a alegação do justo motivo e fora dos fundamentos descritos no art.
35.
Já a extinção do contrato por parte do representante precisa ser por justo
motivo elencando os motivos do artigo 36, para ter o direito à indenização. Desse
modo, se a rescisão por justo motivo for acolhida, o representante comercial terá o
direito a receber a indenização 1/12 avos sobre a remuneração auferida durante a
relação, que deverá ser atualizada monetariamente.

3.5 PRAZO PRESCRICIONAL

Prescreve em cinco anos a ação para pleitear os direitos devidos ao


representante comercial conforme dispõe o artigo 44, parágrafo único:

Artigo 44, Parágrafo Único. Prescreve em cinco anos a ação do


representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é devida e os
demais direitos que lhe são garantidos por esta lei.

Saad (2008, p.95) explica, “o prazo de prescrição, todavia, passa a ser de cinco
anos, conforme expressa disposição do parágrafo ora comentado. É a chamada
prescrição extintiva, que se traduz na “perda da ação que assegura um direito em
virtude do não-uso dela durante certo período de tempo””.
Entendimento este do TJ-PR conforme jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO POR RESCISÃO


IMOTIVADA/UNILATERAL DE CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL PARCIALMENTE ACOLHIDA,
NOS TERMOS DO ARTIGO 44, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº
4.886/65. DECISÃO ACERTADA. APLICAÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL ESTABELECIDO NA REFERIDA LEI QUE NÃO É
RESTRITA AOS CASOS DE FALÊNCIA, SENDO APLICÁVEL A TODA E
48

QUALQUER DEMANDA PROPOSTA PELO REPRESENTANTE


COMERCIAL CONTRA O REPRESENTADO (FALIDO OU NÃO),
ATINENTE A DIREITOS ORIUNDOS DO CONTRATO DE
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR -
18ª C. Cível - 0029795-69.2019.8.16.0000 - Londrina - Rel.:
Desembargador Espedito Reis do Amaral - J. 12.12.2019)
(TJ-PR - AI: 00297956920198160000 PR 0029795-69.2019.8.16.0000
(Acórdão), Relator: Desembargador Espedito Reis do Amaral, Data de
Julgamento: 12/12/2019, 18ª Câmara Cível, Data de Publicação:
02/04/2020).

Caso o representante comercial não pleitear seus direitos no prazo de cinco


anos, ele perde o direito a ação que lhe é assegurada no lapso temporal.

3.6 COMPETÊNCIA

Em relação à competência para processar e julgar as ações envolvendo


representante comercial tem-se duas discussões, a primeira diz respeito à
competência territorial e a segunda em relação à justiça competente.
Quanto à competência territorial o artigo 39 da Lei n.º 4.886/1965 prevê a
competência para discussão de eventuais controvérsias do contrato de
representação comercial, prevalecendo o foro do domicílio do representante,
resguardando a hipossuficiência do mesmo evitando o custo com a propositura da
ação judicial em outro local.
O Artigo 39 da Lei n.º 4.886/65 dispõe:

Artigo 39. Para julgamento das controvérsias que surgirem entre


representante e representado é competente a Justiça Comum e o foro do
domicílio do representante, aplicando-se o procedimento sumaríssimo
previsto no art. 275 do Código de Processo Civil, ressalvada a competência
do Juizado de Pequenas Causas.

Significa dizer, que qualquer demanda judicial que tenha por objeto a discussão
do contrato de representação comercial, deverá ser proposta na sede do
estabelecimento do representante.
É com muita frequência, que nos contratos de representação, sejam
estabelecidas cláusulas de eleição de Foro, para definir a competência da Comarca
onde esta estabelecido o representado, para julgamento das lides de tal relação.
Num primeiro momento a jurisprudência dos tribunais foi contrária à eleição de
foro de forma diversa do que dispõe a lei, conforme se observa a seguir:
49

AGRAVO REGIMENTAL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL


COMPETÊNCIA ABSOLUTA. A competência do domicilio do
representante, fixada no Art. 39 da Lei 4.886/65, é absoluta e não pode ser
alterada por disposição contratual UT Precedentes. (STJ-Ag Rg no CC:
73415 MG 2006/0228049-6, Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, Data de Julgamento: 12/09/2007, S2-SEGUNDA SEÇÃO, Data
de Publicação: DJ 24/09/2007 p. 242).

Mesmo com o caráter protetivo em relação ao representante comercial, há,


porém, outro entendimento do STJ, que contempla a regra de competência relativa,
alteração esta pela vontade das partes.
A modificação da competência territorial só poderá ser convencionada em
hipótese excepcional, ficando evidente a inexistência de hipossuficiência na relação
entre representado e representante, conforme entendimento do STJ abaixo:

252000034038 – “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL – PROCESSUAL CIVIL – CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL – HIPOSSUFICIÊNCIA DA REPRESENTANTE – CLÁUSULA
DE ELEIÇÃO DE FORO – NULIDADE – SÚMULA Nº 83/STJ – 1. O acórdão
recorrido está em perfeita sintonia com a jurisprudência deste Tribunal,
firmada no sentido de que a regra de competência prevista no art. 39 da Lei
nº 4.886/1965 é relativa e destinada à proteção do representante comercial,
podendo ser livremente alterada pelas partes, salvo se verificada a
hipossuficiência da parte ou o prejuízo ao acesso à Justiça. Incidência da
Súmula nº 83/STJ. 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-
REsp 683.773 – (2015/0061677-7) –3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva – DJe 10.09.2015 – p. 1807)SRJ+455+2015+SET+120+09/90.

252000034249 – “PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL – REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – CONTRATO
DE ADESÃO – ART – 39 DA LEI Nº 4.886/1965 – Competência relativa.
Eleição de foro. Possibilidade. Ausência de hipossuficiência e de obstáculo
ao acesso à justiça. Reexame de matéria fática da lide. Súmula nº 7 do STJ.
Incidência. 1. Decisão recorrida publicada antes da entrada em vigor da Lei
nº 13.105, de 2015, estando o recurso sujeito aos requisitos de
admissibilidade do Código de Processo Civil de 1973, conforme Enunciado
Administrativo nº 1/2016. 2. A competência prevista no art. 39 da Lei nº
4.886/1965 é relativa, podendo ser livremente alterada pelas partes, mesmo
via contrato de adesão, desde que não haja hipossuficiência entre elas e
que a mudança de foro não obstaculize o acesso à justiça do representante
comercial. Precedentes. 3. A tese defendida no recurso especial demanda o
reexame do conjunto fático e probatório dos autos, vedado pelo Enunciado
nº 7 da Súmula do STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento.”. (STJ
– AgRg-REsp 1.367.838 – (2013/0036431-6) – 4ª T. – Relª Min. Maria Isabel
Gallotti – DJe 13.04.2016 – p. 4780)SRJ+462+2016+ABR+178+09/90.

Nas ementas descritas acima, o Superior Tribunal de Justiça permitiu a


modificação do Foro de competência territorial absoluta para a competência relativa
com muita cautela, permitindo apenas em casos excepcionais, a partir do acerto da
vontade das partes, inexistindo prejuízo para o representante com a eleição do Foro.
Fazzio Júnior (2016, p. 504, 505) explica:
50

Para julgamento das questões oriundas do contrato, é competente a Justiça


Comum e o foro do domicílio do representante. A jurisprudência permite o
uso da ação monitória no lugar da ação de cobrança pelo procedimento
sumário, desde que evidentemente presentes os requisitos para a
viabilidade daquela, pois deve-se franquear ao credor os meios mais
expedidos à satisfação de direitos oriundos de relações jurídicas que
contam com especial proteção legislativa.

Quanto à Justiça competente para julgar as demandas, observa-se que a Lei


determina a competência da Justiça Comum, entretanto a emenda Constitucional n.º
45, por força da redação conferida ao art. 114 da Constituição Federal, ampliou a
competência da Justiça do Trabalho passando a julgar a ações oriundas da relação
do trabalho, especificamente a representação comercial autônoma pessoa física.
Nesse mesmo sentido Saad (2008, p. 83) esclarece:

A competência da Justiça Comum para julgamento das controvérsias entre


representante e representado já era prevista pelo Mesmo art.39, antes de
sua modificação pela Lei n. 8.420/92. A aplicação do procedimento
sumaríssimo (hoje sumário) de que cuida o art. 275 do Código de Processo
Civil, ressalvada a competência do Juizado de Pequenas Causas
(atualmente, de acordo com a Lei n. 9.099/95, Juizados Especiais Cíveis e
Criminais), constitui inovação do texto. (...). Sucede que a Emenda
Constitucional n. 45/2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho
que, por força da redação conferida pela citada Emenda ao art. 114, passou
a julgar as ações oriundas da relação do trabalho.

Entendimento este ratificado pelo Tribunal Superior do Trabalho:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº


13.015/14-COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO –
REPRESENTANTE COMERCIAL - PESSOA FÍSICA Esta Corte Superior
consolidou o entendimento de que a Justiça do Trabalho é competente para
conhecer e julgar litígios entre representante comercial pessoa física e a
representada, forte na ampliação promovida pela EC nº 45/2004.
Compreende-se que o artigo 39 da Lei nº 4.886/65
deve ser interpretado à luz do artigo 114, I, da Constituição da
República, de forma a excluir da competência da Justiça Comum os
casos que envolvam representantes comerciais na condição de pessoa
física. INDENIZAÇÕES PREVISTAS NOS ARTIGO 27, J, E 34, DA LEI Nº
4.8686/65 O artigo 31 da Lei nº 8.448/65 estabelece que são devidas ao
representante as comissões pelos negócios realizados na região específica,
inclusive por terceiros, quando o contrato de representação apresentar
cláusula expressa de exclusividade de área de atuação. O Eg. TRT
registrou que a cláusula 3.1 do contrato de representação comercial firmado
entre as partes "enuncia não haver exclusividade na atuação" (fls. 840).
Assim, não havendo cláusula de exclusividade, tampouco omissão do
contrato, mas previsão expressa de ausência de atuação exclusiva, não são
devidas as comissões pleiteadas pelo Reclamante. Recurso de Revista
parcialmente conhecido e provido. (RR - 1102-23.2010.5.12.0010 , Redatora
Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 15/06/2016,
8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/06/2016) (Disponível em:
51

<http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaunificada2/inteiroTeor.do?action=
printInteiroTe or&format=html&highlight=true&numeroFormatado=RR%20-%
201102- 23.2010.5.12.0010&base=acordao&rowid=AAANGhAAFAAA3 AKA
AK&dataPub licacao=24/06/2016&localPublicacao=DEJT&query=> Acesso
em: 24/05/2020.).

Nesse sentido Bueno (2010, p. 28-29, apud MARTINS, 2008, p. 263-265)


continua:
A interpretação sistemática da Constituição mostra que as outras
controvérsias decorrentes da relação de trabalho que serão previstas em lei
são diversas das já indicadas nos incisos I a VIII do art. 114 da Lei Maior,
pois elas já estão indicadas nos incisos, como exercício do direito de greve,
representação sindical, dano moral, penalidades administrativas etc. Reza o
art. 7.º da Emenda Constitucional n. 45 que: “o Congresso Nacional
instalará, imediatamente após a promulgação desta Emenda Constitucional,
comissão especial mista destinada a elaborar, em 180 dias, os projetos de
lei necessários à regulamentação da matéria nela tratada [...].” Logo, é
preciso que a lei ordinária complemente certos dispositivos da
Constituição. Dispõe o art. 30 da Lei 4.886/1965 que para o julgamento
das controvérsias que surgem entre representante e representado é
competente a Justiça Comum, aplicando-se o procedimento sumaríssimo.
Assim, esse dispositivo teria de ser alterado para estabelecer a competência
da Justiça do Trabalho.

Ainda nesse mesmo sentido Bueno (2010, p. 28-29, apud MARTINS, 2008, p.
263-265) complementa:

O inciso IX do art. 114 da Constituição não é autoaplicável. Necessita de lei


ordinária para explicar quais são as outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho que poderão ser julgadas pela Justiça do Trabalho, além
das já descritas nos incisos I a VIII do artigo. Assim, a Justiça do Trabalho
terá competência para analisar questões que envolvem trabalhador
autônomo, representante comercial autônomo (Lei n. 4.886/1965),
empresário, estagiário, trabalhadores eventuais, trabalhador voluntário e os
respectivos tomadores de serviços, assim como as ações entre parceiros,
meeiros, arrendantes e arrendatários, questões de empreitada, quando
houver lei ordinária federal tratando do tema. Enquanto isso, a competência
será da Justiça Comum Estadual (Competência da Justiça do Trabalho para
julgar questões relativas à relação de trabalho).

Saad (2008, p. 84) lembra sobre as decisões judiciais anteriores e posteriores


da emenda constitucional:

Em virtude da redação anterior do art. 114 (conflitos entre trabalhadores e


empregados) da Constituição, se, por exemplo, o representante comercial
ingressasse na Justiça do Trabalho, pretendendo obter uma sentença
declaratória da existência de relação de emprego (e condenatória do réu ao
pagamento de quantias postuladas na inicial), mas a Justiça concluísse pela
inexistência dessa relação trabalhista, os pedidos eram rejeitados (ação
julgada “improcedente”, conforme o gosto equivocado a que se apegaram
alguns juízes), sem que o magistrado, a partir daí, pudesse ingressar no
exame da relação jurídica material (representação comercial) estabelecida
entre o autor e o réu – até porque não havia pedido com relação a isso,
52

agora, entretanto, esse representante comercial pessoa física poderá ir à


Justiça do Trabalho, seja para formular pretensões nessa qualidade ou
buscar o reconhecimento jurisdicional da existência de relação de emprego
com a parte contrária.

Para Nascimento (2001, p. 341), “Considera que o magistrado deve, em


primeiro lugar, verificar os elementos que caracterizam o empregado e, sendo o
caso de afastá-lo, passará a examinar o contrato escrito do representante comercial
autônomo”.
Neste entendimento, havendo a comprovação de relação de emprego, ou
contrato de representação comercial for pessoa física e não pessoa jurídica remete-
se à competência para a Justiça do Trabalho.
53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O representante comercial não é empregado, e sim, empresário pessoa física


ou pessoa jurídica, que exerce atividade empresarial assumindo os riscos do seu
negócio. Pode ou não representar uma ou mais empresas, conforme cláusula
contratual, atendendo os clientes interessados em comprar produtos da
representada, por meio de pedidos efetuados, recebendo uma contraprestação
(comissão) correspondente e previamente fixada.
A remuneração efetuada pela representada a seu representante acontece por
meio de comissão, adquirindo este quando do pagamento dos pedidos, que deve ser
efetuada até o dia 15 do mês subsequente ao da liquidação da fatura. Nota-se que a
extinção do contrato de representação comercial pode ocorrer de várias maneiras,
sendo causa imotivada ou por justo motivo entre as partes.
Se a extinção do contrato de representação comercial ocorrer sem causa
motivada, pela parte da representada, e o contrato de representação comercial for
ajustado for por tempo indeterminado ou vigorando por mais de seis meses, o
representante tem direito à concessão do aviso prévio com antecedência mínima de
trinta dias, ou ao pagamento de 1/3 das comissões dos últimos três meses, mais a
indenização de 1/12 avos do total das comissões auferidas durante o tempo em que
exerceu a representação comercial.
Já a extinção do contrato de representação comercial por justo motivo descrito
no Art. 35, excluem todos os direitos do representante, isentando a representada do
pagamento da indenização de 1/12 avos.
Se a extinção do contrato de representação comercial ocorrer sem causa
motivada por parte do representante, e o contrato de representação comercial
ajustado for por tempo indeterminado e vigorando por mais de seis meses, o
representante deve comunicar a intenção de rompimento com antecedência mínima
de trinta dias ou o pagamento de indenização de 1/3 das comissões dos últimos três
meses.
Nesse caso, não tem o direito à indenização legal (1/12 avos), somente vai
receber o valor referente às comissões vencidas e vincendas. Já, se a extinção do
54

contrato de representação comercial por parte do representante ocorrer por justo


motivo, nos fundamentos do Art. 36, e se a extinção for acolhida, o representante
tem direito a receber a mesma indenização de 1/12 avos incidente sobre toda a
remuneração auferida durante o tempo que exerceu a representação, que vai ser
atualizada monetariamente.
A competência para discussão de eventuais controvérsias do contrato de
representação comercial está fixada no fundamento do Art. 39 da Lei nº 4.886/65,
com alteração na Lei nº 8.420/92, prevalecendo o foro do domicílio do
representante, sendo absolta, resguardando a hipossuficiência do mesmo evitando
o custo com a propositura da ação judicial em outro local.
Mesmo a competência sendo absoluta, já tem entendimento jurisprudencial do
STJ afirmando que ela pode ser relativa, desde que o representante não seja
hipossuficiente e a alteração da competência seja pela vontade das partes.
A Emenda Constitucional n.º 45, por força da redação conferida ao Art. 114 da
Constituição Federal, ampliou a competência para julgamento das controvérsias do
representante comercial pessoa física, passando também a Justiça do Trabalho,
julgar as controvérsias.
O prazo prescricional para o representante comercial pleitear seu direito à
indenização de 1/12 avos para eventuais controvérsias perante a justiça é de cinco
anos.
55

REFERÊNCIAS

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à Teoria da Empresa. São Paulo: Saraiva, 1998.

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