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CORAÇÕES E ALMAS

ALTERIDADE
AU L A III - ONE

Erico Almeida - ericoengcomp@gmail.com - CPF: 048.602.694-97 05


POUCO AMOR NÃO É AMOR.
AMOR SÓ É BOM SE DOER.
Eu estava lembrando daquele diálogo platônico do
Fedro. A história é mais ou menos a seguinte (mais
ou menos não: é a seguinte):

Fedro se apaixona pelo Lísias e quando isso acontece,


quando Platão nos conta essa história, ele diz que
quando Fedro olha no olho do Lísias, dá aquela enca-
rada, o Lísias sente naquela olhada, naquele momen-
to, que a alma do Fedro – que não era alma era
sangue, né –, que o sangue do Fedro se transforma
em alma, sai pelos olhos do Fedro, atravessa o ar,
entra pelos olhos do Lísias, então, materializa-se
novamente em sangue do Fedro que começa a
correr, agora, dentro do corpo do Lísias. Agora, o
coração do Lísias bate com o sangue do Fedro.
Olha que coisa mais linda!

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O amor é exatamente isso. É quando tu deixa a tua
própria natureza e te joga numa outra espécie de
natureza, tu te joga na natureza do outro. A gente
não está mais acostumado com isso. Hoje, na
Modernidade, no nosso dia-a-dia, vivemos a relação
tão óbvia, tão clara, tão treinada, tão domesticada
que o que a gente mais quer na relação com o outro
é só uma afirmação de nós mesmos.

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A GENTE SÓ QUER ALGUÉM QUE COMBINE COM
A GENTE EM TUDO. QUE GOSTE DAS MESMAS
COISAS. QUE NÃO NOS AFRONTE
EXISTENCIALMENTE.

Sobre isso que eu quero falar na aula de hoje:


Como é bom encarar a dificuldade, em tudo na vida,
mas também na relação com o outro.

A relação com o outro que deve se tornar uma


relação dificultosa. Encarando esse medo, encarando
essa dificuldade que a gente cresce enquanto
ser humano.

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Num primeiro momento histórico, o amor era exata-
mente isso: “o amor só é bom se doer”, “pouco amor
não é amor”. A gente tem livros históricos com esses
nomes, Vinicius de Moraes já fala: “o amor só é bom
se doer”. “Pouco Amor Não é Amor”, de Nelson
Rodrigues. Um baita livro de contos, uma coletânea
de contos, de Nelson Rodrigues (se vocês nunca
leram Nelson Rodrigues, vale a indicação).

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O amor era algo violento. Tu vê, quando a gente fala
do Fedro com Lísias, o amor se transfunde no outro,
ele entra no outro, ele penetra, ele viola, ele rompe.

O AMOR TEM ESSE CARÁTER


MASCULINO.
Tu ententes?

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Essa ideia de poder, de domínio. Quando a humani-
dade inicia sua transformação, a Modernidade em
conjunto com o Idealismo Alemão, com o Realismo
Alemão (um outro livro bom para a gente ver isso é
“Os Sofrimentos do Jovem Werther”), a gente começa
a iniciar um contato com o amor como algo mais
sentimental, como algo mais feminino.

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Se tu reparar nas artes, o amor, a partir do século
XVIII, para cá, ele passa a ser algo mais gentil, cortês,
carinhoso. A humanidade passa a ter uma outra ideia
de amor, uma outra visão de amor. Aí, o amor passa a
ser um sentimento domesticado. Ele não é mais uma
fera incontrolável.

O AMOR PASSA A SER UMA FORMA DE CONSUMO.


UMA BUSCA CONSCIENTE PELO RESULTADO.

Entenderam isso?

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Uma busca consciente pelo resultado:

Tu só ama alguém se tu for ter algum ganho por isso.

Não tem mais o risco, não tem mais o excesso, não


tem mais o delírio. Aquele amor masculino - que no
início era o próprio pathos, sofrimento, desconforto,
paixão (que é o verdadeiro sinônimo de pathos). O
cara, o cidadão que amava, vivia como um doente.

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Por isso que ele era o paciente, ele era o cara que
sofria desse pathos, a Paixão de Cristo, o sofrimento
de Cristo. Tu acaba vivendo num mundo onde esse
sofrimento, onde esse amor, passa a ser trocado por
sentimentos agradáveis. O que era sofrimento, dor,
ataque, rechaço, agora passa a ser paz. Tu começa a
ter o amor domesticado, meus amigos. Mesmo
nessas próprias relações instantâneas, à la Tinder, à la
Happen (o que, até bem pouco tempo atrás, a gente
chamava de one night stand).

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Então, quando eu falo aqui “até bem pouco tempo
atrás”, não é semana passada. Eu estou falando, dos
Beatles, naquela música deles, Day Tripper:

“Tired to please her /


She only played one night stand /
Tired to please her /
She only played one night stand, now /
She was a day tripper/
Sunday driver, yeah /
It took me so long to find out /
And I found out”.

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Por que ele diz isso?

“PÔ, ELA ERA UMA MULHER QUE SÓ QUERIA UM


RELACIONAMENTO POR UMA NOITE”.

Isso aí que era one night stand, ela era uma day-tri-
pper, ela tinha um ticket para rodar só durante o dia.
Ela não queria um relacionamento continuado. “Mas
eu descobri... Mas eu descobri...”. Essa música é Day
Tripper, dos Beatles, em 1966.

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E AÍ SE TU COMPARAR, O QUE
É QUE TINHA EM 1965?
“TICKET TO RIDE”, NÉ?

“I think I’m gonna be sad /


I think it’s today, yeah /
The girl that’s driving me mad /
Is going away, yeah /
She got a ticket to ride /
She got a ticket to ride /
She got a ticket to ride/
She got a ticket to ride /
But she don’t care/
My baby don’t care, my baby don’t care”.

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Eu não canto nada, mas olha o que essa música traz
para nós. Ele está preocupado:

“Ah, hoje é o dia que eu vou ficar triste, porque essa


mulher que eu amo, que me deixa louco, ela está indo
embora. Ela pegou um ticket para sair de trem. Ela não
se preocupa mais comigo. A minha querida não se
preocupa mais comigo”.

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Aí tu compara, que se tu for ver nos Beatles, eles
estão fazendo um comparativo dessa mesma mulher
em duas fases. Nesse primeiro momento, onde o
amor, o conhecimento amoroso, é algo pequeno, é
algo ainda desconhecido e depois que ele diz o quê?

“Olha só, ela era uma mulher de uma noite só, ela era
uma day-tripper”.

“Isso eu tinha que descobrir, e eu acabei descobrindo”.

“I have to found out, and I found out”.

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Então, olha como a gente consegue ver duas visões
sobre essa mesma mulher, de uso diário, é um termo
horrível que eu estou usando aqui, mas é o que a
gente pega na música, né? Essa day-tripper, essa one
night stand, a gente acaba tendo essa ideia, que para
nós parece muito nova, muito efêmera, da gente ter
relacionamentos efêmeros, que se dá e acaba, dá e
passa, isso já é lá nos anos 60.

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Se a gente for trazer para o nosso dia-a-dia, isso aí
tudo vem a partir da revolução sexual. Nós já conver-
samos lá no stories do VSM. O que a gente tinha,
então? O que passa a acontecer? Tu começa a ter
esse momento de excitação, sem consequência ne-
nhuma. Aí é onde o amor deixa de ser uma trans-
gressão. Ele passa a ser somente um cálculo hedonis-
ta, um cálculo de prazer.

“COM QUEM EU VOU DORMIR


ESSA NOITE?”.

“COM QUEM EU VOU TRANSAR


ESSA NOITE?”.

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Aí, a gente começa a cair no drama do VSM, que eu
relacionava para vocês, tu está vendo? Quando a
gente para de ter esse amor, que tem que ser conti-
nuado, uma relação com o Outro com sobrevivência,
a gente não consegue mais ter isso no dia-a-dia.
Então, a gente começa a ver que essa relação, que o
amor, é o contraponto pra o VSM puro.

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Para quem não entendia quanto ou como foi que nós
nos perdemos, essa é a resposta. Eu vou repetir para
vocês, porque essa parte é importante para a gente
entender.

Muitas vezes eu fico falando de filosofias e muitas


vezes a gente perde uma linha: Eu quero que tu
preste atenção nessa linha, essa é a parte importante
disso aqui:

tu começa a ter esse momento de excitação sem


consequência nenhuma; e é nesse momento que o
amor deixa de ser uma transgressão, deixa de ter o
risco, e ele passa a ser só cálculo hedonista,
É ONDE ACABA O AMOR.

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É quando, como eu falei, ele vira um cálculo hedonis-
ta, um ganho, um Valor Sexual de Mercado, que não
se fala mais em sentimento. Isso ainda era antiga-
mente. Que importava quem era a pessoa, o sujeito,
o indivíduo, o espécime humano. Hoje em dia, hoje
mesmo, agora, pouco importa o indivíduo, o que
interessa é a espécie, a categoria da espécie, a
caixinha, a gaveta.

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“HOJE VOU SAIR COM UM CONTATINHO”.

“HOJE EU VOU NO BAR ACHAR ALGUMA


DESAVISADA”.

“HOJE EU VOU NO CAMAROTE DE ALGUMA


BALADA”.

“VOU SAIR COM ALGUM CARA DA ACADEMIA”.

“ALGUÉM DO TIME DO FULANO”.

Tu não pensa mais numa pessoa, tu pensa em


categorias. É isso que a pessoa passa a pensar.
“Como é que eu me deleitarei essa noite?”

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Presta atenção:

O AMOR DEIXOU DE SER UMA TRANSGRESSÃO


AMOROSA.
Tu entende?

O amor deixou de ser uma transgressão amorosa,


acabou o beijo furtado, o

“eu quero essa pessoa para mim”,

o “eu preciso me aproximar, como é que eu


vou fazer isso?”,

“eu tenho que ir até ela”.

ISSO TUDO ACABOU.

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Para muitas pessoas, parece que o mundo enlouque-
ceu. Nessa inversão do conceito de amor, transfor-
mando-se do masculino para o feminino: Imagina: o
amor era um deus grego, forte, atlético e agora ele
passa a ser representado como uma criança fofinha:
o Cupido. O Eros era o deus grego do amor e agora
ele é o Cupido.

Essa transformação se dá, exatamente, por conta do


advento da Modernidade. Um conjunto de todas as
transformações sociais e sexuais que a sociedade
experimentou nos últimos cem anos.

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Como eu falei no começo, o sistema começa a corro-
borar essa visão de mundo maluca. Essas práticas,
expedientes, que até bem pouco tempo atrás, nós
entendíamos como início de um flerte, o beijo rouba-
do, por exemplo, hoje em dia é assédio sexual. Tu vai
preso. Eu não estou nem defendendo nada de beijo
roubado, assédio sexual, não é nada disso. Eu só
quero dar um exemplo para vocês, pelo amor de
Deus, né? Tu lembras daquela canção?

“Every breath you take /


Every move you make /
Every band you break /
Every step you take /
I’ll be watching you”.

Essa música era uma música romântica. Quantos


casais não deram o primeiro beijo na boca, no
escurinho das reuniões dançantes, embalados à
voz do Sting?

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Mas se tu for analisar bem, o personagem dessa
música é um stalker, né? Ele quer ficar atrás da
mulher, perseguir a mulher a cada respirada, a cada
passo que ela der, a cada movimento. Hoje em dia, o
Sting seria preso. Tu entende a maluquice disso? Tu
entende como o mundo todo mudou e virou de
cabeça para baixo?

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Discutindo o amor, nessa linha filosófica, eu gostaria
de falar para vocês um pouco do que Hegel pensa
sobre essa relação do Senhor-Escravo. Olha só,
quando Hegel está pensando isso, ele está pensando
em duas pessoas:

O SENHOR E O ESCRAVO.
Só que, hoje em dia, a gente tem esse Senhor e esse
Escravo dentro de nós.

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Eu mostrei isso para vocês continuamente até agora.
Essa visão do Hegel: Senhor-Escravo, permanece
válida mesmo dentro da unidade da nossa alma. Ele
diz o seguinte:

o que diferencia o Senhor do Escravo, é que o Senhor não


aceita uma vida comum, ele não aceita uma existência
medíocre, ele faz tudo por uma vida menos ordinária.

(Sabe, Hegel tem uma coisa grave, os alemães estu-


dam Hegel em francês, porque nem eles entendem o
Hegel em alemão, uma coisa meio louca, né?)

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Mas o que eu quero trazer para vocês não é uma
piada. Isso é uma verdade mesmo: o que faz desse
Senhor, o Senhor, é exatamente essa paixão pela
liberdade, essa paixão pelo poder, pelo domínio, pela
soberania. E aí vem essa ideia de ousadia que tem
gênio, poder e mágica, como diz o próprio Goethe,
no Werther, como eu estava falando para vocês.

A gente volta a essa grande loucura, do pathos. E aí


quando a gente fala loucura, eu me lembro do meu
amigo, o Vilaró,

“SIN LOUCURA NO
HAY GRANDEZA”.

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Deixa eu mostrar uma coisa para vocês. Eu tenho um
quadro que eu gosto muito. Eu trouxe para mostrar
para vocês, que é do Vilaró e foi no último Réveillon,
antes dele morrer. Olha que legal, que eu quero mos-
trar para vocês, não sei se vai dar para ver de longe,
depois eu mostro de perto. Essa coisa da ousadia que
tem gênio, poder e mágica, da gente viver sempre
embriagado de vinho, poesia e de virtude. (Conrado
mostra o quadro e diz). Mas o mais legal, eu queria
me exibir na aula de hoje, aqui, é mostrar o nome do
quadro Sin locura no hay grandeza e isto aqui ((Con-
rado mostra a dedicatória)) "A Conrado, com mi
cariño amistad. Carlos Páez Viraró. 31/12/99”.

Nunca mais teremos esse cara para conversar nova-


mente.

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Já conversei outras vezes com vocês, já contei as faça-
nhas dele com seu filho nos Andes, sobreviventes dos
Andes ((Nesse momento Conrado mostra um quadro
de Theo Felizzola e menciona que a obra foi um pre-
sente do pintor para ele, tendo sido dado no mesmo
Réveillon de 1999)). Deixa eu guardar os quadros e
voltar para nossa conversa. Eu só queria mostrar para
vocês uma coisa legal que é o nome de um quadro
Sin locura no hay grandeza. Guardar os quadros e
fechar o nosso parking lot e voltar a conversar nova-
mente.

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Cara, por outro lado, o que faz o Escravo?

O ESCRAVO TEM MEDO DA MORTE.

Isso que faz do Escravo um Escravo. O Escravo se sub-


mete, ele prefere a escravidão à morte. Ele prefere
apenas existir. Ele prefere uma vida ordinária. Ele
prefere a vida de rato, que eu tanto falo para vocês.

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O que diferencia o soberano de seus escravos, não é
nem a força física de um para o outro, quando eles
estão nessa grande luta, mas sim a falta do medo do
Soberano frente à morte.

O SOBERANO QUER ATACAR A MORTE.

Quando esse Soberano tenta atacar a morte, ele vive


plenamente. Até o momento de morrer ele está colo-
cando o seu melhor, ele é.

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Quem não tem liberdade frente à morte – quando eu
falo aqui da morte, estou falando das dificuldades,
problemas, que é o grande medo que a gente tem de
enfrentar no dia-a-dia – essa pessoa não ousa viver.

O ESCRAVO NÃO VIVE, ELE NÃO É.

POUCA VIDA NÃO É VIDA.

POUCO AMOR NÃO É AMOR.

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Então, a gente tem esse Senhor, esse Soberano, que é
essa pessoa que caminha em direção à própria morte
para enfrentá-la, enquanto o Escravo está congelado
dentro da própria morte.

ELE JÁ ESTÁ MORTO.

Ele já está na vida de rato, na vida ordinária, ele


apenas existe, apenas sobrevive.

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Então, a gente começa a pensar numa outra coisa: no
momento que ele aceita ser Escravo, ele aceita se
submeter a trabalhos forçados. Tu fica empacado, tu
vive numa vida de rato. E aí, o sistema acaba fazendo
tu acreditar que isso é legal.

Como resultado, a gente acabou exaltando a vida de


rato, que é quando tu é bicho, que é quando tu não
tem alma.

É QUANDO TU É BICHO E É QUANDO


TU NÃO TEM ALMA.

NÃO É QUANDO TU É HUMANO.

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Hoje a gente é feliz quando a gente é bicho e não
quando a gente é alma. A gente começou a exaltar,
só nessa nossa parte existencial, não estou falando
aqui dessa superexistência, a vida menos ordinária.
A gente é feliz quando a gente transa igual a um
cachorro, quando a gente come como um porco,
quando a gente dorme como um cavalo. Tu não é
feliz quando tu é humano, tu não é feliz quando ouve
Beethoven, tu não é feliz quando tu vai ver a Turan-
dot no cinema.

TU É FELIZ QUANDO TU É BICHO.

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Sabe quem defendia isso? Por incrível que pareça era
o próprio Karl Marx, dentro da sua teoria da aliena-
ção. Cara, Marx o que ele tinha de gênio, ele tinha de
maluco também. Mas, exatamente, isso que eu estou
falando agora, foi Karl Marx quem falou. O sistema
passa a te ensinar que só vale a pena se preocupar
com o que vale a pena existir.

Só vale a pena se preocupar com sobreviver, com


estar com o coração batendo, não mais ser humano,
ser essa pessoa especial, que pode chegar lá no
limite da existência e empurrar adiante.

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Observa o próprio Instagram, começa a ver esses pra-
zeres corpóreos demonstrados como sendo os únicos
prazeres que a gente tem. Todos os posts do Insta-
gram ou é de comida, ou é de academia, ou é de
sexo, ou é mulher de biquíni. É só o que a gente tem
no Instagram. Tu passa a aprender só a consumir.

O teu Instagram passa a ser um eterno shopping


center, uma eterna academia e uma eterna balada.
Não é um consumo, aí vale a pena a gente entender,
eu quero que tu preste atenção, não é um consumo
só de coisas, é um consumo de humanos.

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Neste momento em que o ser humano passa a
enxergar só o seu corpo e não enxerga a alma, o
mundo em torno dele se torna algo em busca da sua
glorificação, da sua santificação. Bater palmas para a
mera existência. Esse amor, essa ousadia, esse
ataque, essa transgressão não mais importam.

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Assim, esse Escravo se torna incapaz da experiência
amorosa. Ele tem medo dessa morte que está na difi-
culdade, que está no desconforto, que está no medo,
que está no Outro.

Aí, ele começa a aprender que a acumulação é mais


uma dessas formas dele evitar a morte, evitar a difi-
culdade. Guardar um monte de cereal em casa, guar-
dar tudo que der para guardar. Ter proteção, ter mais
portas, ter tudo aos montes, porque a gente aprende
a acumular.

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O ser humano também começa a aprender
que se ele tem dinheiro, através da sua
acumulação, as pessoas o respeitam, as
pessoas riem das suas piadas, as pessoas
oferecem sexo para ele. Esse é o mundo em
que a gente chegou, nesse vazio erótico.

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O VSM está lá nas alturas, mas o erotismo está lá no
fundo do poço. E para corroborar esse meu ponto de
vista aqui, que a gente já passou pelo Marx, já passou
pelo Hegel, já falou do Aristóteles, eu quero voltar a
falar do próprio Aristóteles para vocês. Vou pegar A
Política, de Aristóteles e ler uma passagem na qual
há algo que ele já falava há dois mil e quinhentos
anos, não é ontem, não são cinquenta anos, cem
anos, são dois mil e quinhentos, dessa eterna luta
entre vida de rato e a vida menos ordinária, do mero
viver para o existir fluente, para o existir em toda a
sua potência. Ele diz isso, exatamente, na sua Política.
Exatamente quando ele começa a discutir o mero
viver do grande existir, a passagem diz o seguinte:

“Por isso muitas pessoas imaginam que essa seria a


tarefa da economia ou da administração da casa, que de-
fendem reiteradamente a ideia de que se deve acumular
bens materiais ou multiplicá-los infinitamente. A razão
para pensarem assim é o esforço laborioso para viver, mas
não para bem viver”.

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A ACUMULAÇÃO INFINITA É UM ESFORÇO PARA
VIVER, MAS NÃO UM ESFORÇO PARA BEM VIVER.
Ficou claro?

É isso que Aristóteles nos diz, a acumulação por si


mesmo.

Só vai ser um bicho, tu não vai ser humano.

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E o que interessa nessa vida é o contrário. É a ousa-
dia, é a audácia, é a coragem. É só assim que a vida
vai ser genial. Só assim que a vida vai ter gênio, poder
e mágica. Tu tens que chegar na cara da morte, na
cara do perigo, na cara da dificuldade e olhar nos
olhos dela, mas não de maneira submissa, tem que
olhar de uma maneira ereta, tem que chegar de líder.
Olhar na cara da morte e dar um beijo na boca; olhar
na cara do perigo e dar um tapa na cara do perigo. O
amor é isso, cara.

O AMOR SÓ EXISTE DIANTE DO OUTRO.

Só existe diante do desconhecido; só existe diante


dessa tua morte de ti mesmo dentro do outro,
porque tu, como tu te conhece, acaba morrendo
quando tu entra no outro.

É ALI QUE A GENTE CRESCE, É ALI QUE A GENTE


EXPANDE.

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Nosso maior medo existencial é perder-se a si
mesmo. E o amor é exatamente isso: quando tu
perde a si mesmo, tu te transforma em outra coisa,
em outra natureza.

Como eu falava no início, do Fedro, lá no início da


aula, esse amor transmuta a tua alma em sangue,
transfunde esse sangue em alma para o outro corpo
e esse sangue passa agora a bater no coração do
Lísias.

Olha que coisa mais linda!

Nesse momento em que tu te perde, que tu te per-


mite morrer, tu acaba te reencontrando, ali, adiante.

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Essa é a grande mágica da vida com o Outro. Esse é o
poder do Outro.

FAZER CRESCER.

Porque nessa experiência amorosa tu te reconhece,


tu te respeita, re spectare. Tu começa a te observar
novamente de uma outra forma. Tu te sabe maior. Tu
te sabe melhor. Quanto mais eu sei mais eu sou!

QUANTO MAIS EU SEI MAIS EU SOU.

Esse é o nosso grande objetivo dessa sequência de


aulas que a gente fez. Conseguir enxergar por que, na
tua solidão, tu é pequeno.

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Porque somente com essa existência de uma dificul-
dade, encarando as dificuldades da vida em geral,
mas principalmente a dificuldade do Outro, que eu
repeti tantas vezes para vocês agora, nesses últimos
dias. Enxergar que é nesse Outro que tu cresce. Que é
se perdendo nele que tu renasce mais forte. É entran-
do, se transfundindo nessa outra alma, que tu fica
melhor. É cada vez que nós enfrentamos uma dificul-
dificul
dade, um desconforto, um medo, uma angústia, um
terror. Ali nós crescemos. Ali nos desenvolvemos
como seres humanos

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Nós estamos tão acostumados a uma vida vazia, a
uma vida rasa, de relacionamentos pornográficos,
longe do erotismo – que era o que se comunicava
com a nossa alma.

PARA MIM NÃO HÁ NADA MAIS LINDO DO


QUE UM CORAÇÃO CHEIO.

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O objetivo do Homem, nesse plano – e aqui eu não
estou falando nada de metafísico – mas é parir a si
mesmo.

O HOMEM QUE TU QUER SER NO FUTURO JÁ ESTÁ


DENTRO DE TI.

É tu chocando essa tua realidade, tu colidindo essa


tua realidade com outros seres humanos que tu
pode te aperfeiçoar, que tu pode te reconhecer, que
tu pode ver se tu é mais alto ou mais baixo, mais feio
ou mais bonito, mais inteligente ou mais burro, mais
forte ou mais fraco.

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Tu só consegue isso observando, olhando mais uma
vez para esse outro, para essa pessoa, que também é
uma individualidade, não é apenas mais uma catego-
ria de seres humanos. Ele é alguém, ele tem uma
personalidade, ele é um indivíduo. E é reconhecendo
ele que tu acaba reconhecendo a ti. É reconhecendo
a potência desse outro que tu reconhece a tua po-
tência. Esse é o grande objetivo dessa nossa sequên-
cia de aulas.

MUITO OBRIGADO!!

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