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O Crítico e a Função da Crítica Diante da Cena Contemporânea

Clóvis Domingos dos Santos*


Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Ouro Preto, Brasil
E-mail: clovpalco@gmail.com

Paulo Marcos Cardoso Maciel**


Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Ouro Preto, Brasil
E-mail: paulinhomaciel@uol.com.br

Resumo Abstract
Partindo do princípio de que toda crítica Departing from the principle that all crit-
traz consigo um olhar específico sobre o fa- icism includes a specific perspective about
zer e o pensar o teatro, buscamos identificar the practice and thought involved in theatre,
e analisar alguns dos principais programas we sought to identify and analyse some of
críticos formulados ao longo do século XX the main critical trends formed throughout
e seus desdobramentos ou interfaces com the 20th century with their branches and
a produção mais recente. Nossa hipótese interfaces in more recent production. Our
é de que o ofício, o objeto e o território do hypothesis is that the craft, the object and
crítico no Brasil vêm-se transformando nos the territory occupied by the critic in Brazil
últimos anos em virtude de um cenário dis- have been undergoing transformations in
tinto vivenciado pelas artes cênicas no país. the last few years because of the distinct
Nesse sentido, o território expandido da scenario experienced by the Scenic Arts in
atuação do crítico compreende uma rede the country. In that sense, the expanded ter-
de colaboradores em luta pelo teatro e por ritory for the critic’s practice comprehends a
seu lugar no mundo. Menos que uma supe- network of collaborators, struggling over the
ração da crítica moderna ou de seus limites meaning of theatre and its role in the world.
cognitivos, o que vemos hoje é o conflito en- Instead of overcoming modern criticism or
tre perspectivas resultantes do aumento da its cognitive limits, what we find today is the
complexidade da questão devido à sobrevi- conflict between perspectives that resulted
vência atual de práticas pretéritas. from an increase in complexity of the issue,
that resulted in turn from the survival, to this
day, of past practices.
Palavras-chave Keywords
Crítica teatral brasileira. História. Cena con- Brazilian Theatre Criticism. History. Contem-
temporânea. porary Scene.

* Artigo resultante do projeto de pesquisa em andamento intitulado Crítica e Cena Contemporâ-nea, com a supervisão do Prof. Dr.
Paulo Marcos Cardoso Maciel. Bolsista PNPD/CAPES no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal
de Ouro Preto. Crítico no site Horizonte da Cena (BH/MG).

** Professor Adjunto do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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Introdução multiplicidade das linguagens artísticas em


sintonia com as novas demandas políticas e
O teatro de amanhã não será como o de sociais? De que maneira tem sido seu diálo-
hoje ou o de ontem e o de anteontem,
por uma razão muito simples: é que o
go com a produção e a recepção teatral de
teatro, a arte, a história, a crítica, não se seu tempo, caracterizadas, segundo os au-
repetem, tudo isso vive de um novo que tores, (FÉRAL, 2015; FERNANDES, 2000,
se quer sempre outro que não ele mes- 2010; COHEN, 2004; DESGRANGES,
mo, que se quer em estado de renova-
ção constante. Nada é mais contrário à 2003, 2017; PAVIS, 2010; LEHMANN, 2007;
arte do que a estabilidade (BORNHEIM, SARRAZAC, 2012, 2017) pelo hibridismo e
1983, p. 118). pela polifonia? A partir das novas tendências
do teatro contemporâneo, como se daria a
Neste artigo, nos propomos a refletir so- reflexão crítica a respeito de fenômenos es-
bre a crítica teatral brasileira na atualidade, petaculares que sempre desafiam os estu-
abordando (do ponto de vista historiográfico dos teóricos, exigindo contínuo trabalho de
e sociológico) as continuidades e rupturas atualização, análise e reinvenção?
sofridas entre o trabalho dos críticos moder- Entre as inúmeras tendências que po-
nos e contemporâneos, bem como proble- dem ser observadas no horizonte da cena
matizando seus pressupostos ideológicos teatral do presente, duas linhas de força têm
e suas ferramentas de atuação. Partimos caracterizado as produções artísticas brasi-
das questões que suscitam a crítica teatral leiras: os processos coletivos de criação e
hoje, caminhando depois para um recorte as práticas em campo expandido. Desde os
histórico no século XX até desembocar nos anos 60, a criação coletiva se faz presen-
aspectos presentes da crítica teatral con- te na forma de produção de muitos grupos
temporânea e no modo como tem ocorrido que buscam democratizar o fazer teatral por
seu diálogo com a cena e com a realidade meio do questionamento das funções espe-
social de nosso tempo. Nesse percurso, cializadas e hierarquizadas, abolindo, para
nosso interesse é evidenciar que a crítica tanto, os papéis fixos delimitados, sobretu-
continua em plena atividade, conservando do, pela encenação moderna,1 centrada na
funções consideradas mais tradicionais, autoria e na autoridade do encenador ou do
como mediação e avaliação de espetáculos, diretor:
e simultaneamente se transmudando e se
reinventando a partir de novas modulações Muitas são as razões levantadas para o
e reivindicações estético-sociais. surgimento da criação coletiva. Tanto os
elementos conjunturais da época – mar-
Para pensar a crítica teatral hoje torna- cada pela contracultura, pelo movimen-
se necessário reconhecer as especificida- to hippie e seu projeto comunitário, pelo
des do tempo e do espaço em que tem ope- ativismo político e libertário acentuado
– quanto as necessidades especifica-
rado seu exercício reflexivo, quais critérios mente teatrais – falta de uma dramatur-
têm balizado os juízos, e mais: que tipos gia que se moldasse perfeitamente às
de discurso esses juízos têm produzido. De
que modo a crítica teatral tem sido afetada 1 Estamos chamando de encenação moderna aquilo que Pa-
vis denominou encenação clássica, isto é, “uma representação
por um contexto marcado pela aceleração feita sob a perspectiva de um sistema de sentido, controlado
e simultaneidade do tempo, pela fragmenta- por um encenador ou por um coletivo. É uma noção abstrata e
ção do espaço e diminuição das distâncias, teórica, não concreta e empírica. É a regulagem do teatro para
as necessidades do palco e do público. A encenação coloca o
em virtude da propagação das redes, pela teatro em prática, porém de acordo com um sistema implícito de
organização e sentido” (PAVIS, 2010, p.3).

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inquietudes sociais, temáticas e estéti- O processo colaborativo se desenvol-


cas dos grupos de teatro de então, ou veu no Brasil da segunda metade da década
ainda, a busca de uma relação mais
participativa com o público – tudo isso de 1990, sobretudo a partir da retomada do
é invocado para justificar o aparecimen- movimento de teatro de grupo na cena pau-
to deste novo modo de criação (SILVA, listana. Esse retorno enquanto prática cole-
2008, p.28).
tiva e teatro de pesquisa (em contraponto à
hegemonia do encenador na década ante-
Conforme observamos na análise de Sil-
rior) foi aos poucos ganhando expressiva di-
va (2008), a criação coletiva estaria assen-
mensão nacional. O processo colaborativo é
tada no contexto da contracultura e respon-
metodologia de criação na qual “todos os in-
deria a seu ativismo político com base em
tegrantes, a partir de suas funções artísticas
comportamentos e atitudes que negavam
específicas, têm igual espaço propositivo,
o individualismo e o consumismo da socie-
produzindo uma obra cuja autoria é compar-
dade burguesa, propondo, por sua vez, um
tilhada por todos” (SILVA, 2008, p.57). Nes-
projeto criativo mais comunitário e libertário.
se sentido, poderíamos dizer que no proces-
Por outro lado, os grupos sentiam necessi-
so de criação cênica informado já existe um
dade de uma dramaturgia que fosse capaz
longo trabalho de crítica em exercício, ge-
de expressar suas questões e seus anseios
rando edições, exclusões, recortes etc.
relacionados às temáticas emergentes nos
Como marca de um fazer em proces-
anos 60 e, ao mesmo tempo, que tornasse
so, o colaborativo pressupõe que até no en-
possível uma relação mais participativa do
contro com o espectador o espetáculo ainda
público.
estará sofrendo modificações, isto é, sua
Nesse contexto, a criação coletiva pre-
natureza é a de obra aberta. O pesquisador
tendia redimensionar o trabalho do ator que,
Renato Cohen a partir da performance como
segundo a literatura especializada (FER-
linguagem artística vai utilizar a expressão
NANDES, 2000; NICOLETE 2005; SILVA,
work in progress para definir a forma artísti-
2008; TROTTA, 2008), abandonaria o lugar
ca resultante de trabalhos em que prevalece
de intérprete e passaria a desempenhar o
uma estética processual. Para o autor, “po-
papel de ator-autor. Essa remodelagem do
deríamos traduzir por ‘trabalho em proces-
trabalho do ator e de seu papel no teatro,
so’, procedimento este que tem por matriz
proposta por alguns coletivos, terminou, en-
a noção de processo, feitura, iteratividade,
tretanto, enfraquecida pela busca de uma
retroalimentação, distinguindo-se de ou-
formação artística mais individualizada e
tros procedimentos que partem de apreen-
pela emergência da “era do encenador” no
sões apriorísticas, de variáveis fechadas ou
Brasil dos anos 80, conforme salientou Sil-
de sistemas não iterativos (COHEN, 2004,
via Fernandes (2010). A prática de um teatro
p.19). Dessa forma, a natureza da crítica
de grupo passou a ser substituída pela exe-
também se altera, sendo convidada a operar
cução de projetos temporários comandados
de forma mais mutável e instável, abarcan-
pelos encenadores. Essa colisão ou entre-
do uma “natureza gerativa para se evitar a
laçamento de uma criação coletivizada com
cristalização” (COHEN, 2004, p.30) no exer-
a determinação de funções artísticas espe-
cício de análise dos espetáculos, conforme
cíficas para cada envolvido geraria, poste-
salientou Patrice Pavis (2010, p.35) sobre o
riormente, o que chamamos de processo
que seria então o objeto da crítica: “estamos
colaborativo.
ainda diante de um objeto estético estável,

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apreensível, descritível? (...) ou diante de tabelecidos, gerando, assim, uma ampliação


obras que se desmancham no ar, reduzidas desse campo. O alargamento das fronteiras
apenas à experiência estética do especta- e uma certa impossibilidade de delimitação
dor?”. mais rígida dos objetos, devido à multiplici-
Também nos anos 60, a virada perfor- dade de combinações entre as distintas lin-
mativa em sua dimensão experimental teria guagens artísticas, acarretaram a criação de
desestabilizado os cânones do fazer teatral, obras híbridas e transdisciplinares.
pois atacava alguns dos “fundamentos mais No caso do teatro e da crítica, tais expan-
importantes do sistema estético então vigen- sividades criaram deslocamentos e tensões
te e que alcançam desde a discussão sobre entre o que seria produto e processo artísti-
o que se chamava “carpintaria” do texto te- co, bem como na leitura das obras, tanto por
atral até o trabalho do ator e do encenador, parte dos espectadores como dos críticos. A
levados a novas configurações” (ABREU, prioridade passa, assim, a ser menos a de-
2016). A arte da performance criou fissuras finição e a significação fechada das obras,
nas estruturas mais clássicas da encenação ampliando-se para uma experiência aberta
deslocando, por exemplo, o corpo para o e inconclusa no contato com elas. Em vez
epicentro da cena, o que alterou o estatuto de uma apreensão consciente dos sentidos
da dramaturgia teatral, além da tensão ma- e formas presentes numa encenação, pas-
nifesta entre representação e apresentação, saríamos para uma análise fragmentada e
ficção e realidade, personagem e persona, ancorada em rastros de memória num des-
ator-intérprete e performer, espectador e locamento que, segundo Lehmann (2007,
participante. p.146), seria de uma “poética da compreen-
Se, entretanto, num primeiro momen- são para uma poética da atenção”. Dessa
to, a performance parecia negar o teatro, forma, o trabalho da crítica é também posto
logo depois acabou sendo incorporada pela em cheque em função do questionamento
própria teoria da área: teatro pós-dramático do oficio baseado na objetividade do dis-
(Lehmann), teatro performativo (Féral), tea- curso ou do juízo e, por outro lado, na uni-
tro energético (Lyotard), teatros do real (Sai- dade do sentido atribuído a produção ou ao
son), práticas cênicas liminares (Caballero), objeto teatral. O crítico se sente desafiado
teatralidades dissidentes (Sanchez), repre- pela multiplicidade de ideais e de perspecti-
sentação emancipada (Bernard Dort) etc. vas que nos revela o cenário teatral recen-
Segundo Bident (2016), esse terreno ex- te pois, em algumas de suas produções, as
pandido alterou o espaço de sua ocorrência, ideias modernas de obra e de autoria, ba-
social e artística, antes delimitado ao palco seadas na autonomia do sistema de signos
ou ao edifício, confirmando assim “o caráter teatrais, não são mais capazes de expressar
ilimitado do campo da representação” (BI- ou explicar as coordenadas de sua relação
DENT, 2016, p.52). com a recepção do espectador, dessa forma
O conceito de campo expandido é pro- expandindo as possibilidades de leitura das
veniente dos estudos da crítica norte-ame- cenas, e, desde então, os espectadores são
ricana Rosalind Krauss, que em seu o texto convocados a um jogo de coautoria e pre-
“A escultura no campo ampliado” (publica- sença mais efetiva nos trabalhos.
do originalmente em 1979) apontava para o
surgimento de novas formas de produção da
escultura, além dos cânones e suportes es-

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Parte 1 rente da crítica teatral moderna, o exercício


Da resistência crítica na não está mais circunscrito apenas à escrita
cena contemporânea de textos e ensaios, mas também se vincu-
la a atividades como curadoria, mediação,
No caso das artes cênicas, a noção de historiografia, interlocução em processos de
campo expandido está relacionada às inú- formação e criação, além da pesquisa. Jus-
meras práticas heterogêneas que combina- tamente por esse atual perfil multifacetado
das revelam o desejo e o interesse de se do crítico − cuja presença no campo teatral
“criar uma rede, uma espécie de network em não está mais limitada ao comentário sobre
que, talvez, em certo momento se faça um os espetáculos, entendidos como produtos
workshop. Em outro momento pode ser um finais do trabalho dos artistas, grupos e de-
seminário, e se conseguiria juntar dinheiro mais coletivos, nem se reduz à escrita de
para montar uma peça” (LEHMANN, 2003, textos e ensaios publicados em veículos es-
p.14). Durante um largo tempo, entretanto, a pecíficos −, podemos perceber uma forma
crítica teatral jornalística não conseguiu, por diferente de relação entre a crítica e a cena
algum motivo, acompanhar as profundas implicadas em diálogos coletivos e experi-
transformações que aconteciam na cena, mentando significativas expansões de seus
deixando, assim, um terreno em aberto, que territórios.
terminou sendo apropriado por uma prática Nesse sentido, contrariamente aos es-
agora realizada no interior dos grupos, com tudos de Tania Brandão (2018) e Patrice
a parceria de outros olhares externos (filóso- Pavis (2010), que insistem na tese de um
fos, historiadores etc.) como interlocutores declínio do trabalho do crítico, principalmen-
privilegiados. te após a migração da crítica dos jornais im-
Vale lembrar que nos anos 60, algumas pressos para as plataformas digitais, consi-
produções de grupos, como Arena e CPC, deramos que o processo é de redefinição,
também contaram com a presença de cien- multiplicação e ampliação do ofício, do cam-
tistas sociais, historiadores, intelectuais e po e do exercício. Por outro lado, conforme
artistas com os quais mantinham relações observou Henrique Rochelle Meneghini, em
específicas visando os processos de criação seus estudos sobre crítica e dança na con-
em curso. Contavam, também, com repre- temporaneidade, essa nova configuração
sentantes de movimentos sociais e sindica- tem levado à diluição de uma identidade da
tos na construção de espetáculos-relâmpa- crítica devido à dificuldade na delimitação
go. Em contexto distinto, o que vemos hoje da competência para o ofício, da forma do
é a possibilidade de inserção do crítico na exercício e de seu território de atuação:
sala de ensaio, atuando como uma espécie
Nota-se também, crescentemente, uma
de dramaturg, isto é, um provocador de pro- atividade de publicação virtual em que
cessos de criação, o que incide na autoria autores que não teriam o espaço nos
final do trabalho em sua dimensão compar- veículos gerais de circulação impressa
podem publicar seus textos. Essa nova
tilhada. atividade, sua proliferação e o aumento
Daí ser possível verificar a presença de do interesse por ela revelam que, ain-
princípios e procedimentos ancorados tan- da que aparentemente a crítica tenha
to numa ideia de trabalho coletivo como de encerrado um ciclo, um outro ciclo dá
seus primeiros passos, com a produção
campo expandido nas atuais práticas brasi- de textos que se agarram a um enten-
leiras de crítica teatral. Nesse sentido, dife- dimento da crítica que não é necessa-

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riamente sequencial: ele não represen- revista eletrônica Questão de Crítica (RJ)
ta obrigatoriamente uma continuidade, Daniele Avila Small (2008), teríamos duas
mas identifica um desejo reavivado por
esse tipo de reflexão. A crítica não é críticas de naturezas diferentes: a crítica-po-
uma. Sua reflexão teórica é variada a lícia e a crítica-política. Enquanto a primeira
abrangente, apoiada em sistemas diver- trabalha a partir da adjetivação dos es-pe-
sos e distintos de atribuição de sentido
e de organização metodológica, resul- táculos e a manutenção de discursos esté-
tando na produção de textos que tam- ticos, a segunda, por outro lado, buscaria
bém se mostram de ordens várias. Nes- contribuir na construção de novos sentidos,
sa multiplicidade, parece que a crítica
não se define, ou que suas definições
de novas configurações criativas e leituras
não se concretizam, e muitas vezes é das obras. Se a crítica-polícia se centra na
difícil determinar o que faz de um tex- afirmação categórica, a crítica-política inda-
to um texto de crítica, o que faz de um ga e promove outras possibilidades de dis-
profissional um crítico, a quem a crítica
se dirige, e para que a crítica serve (ME- cursividade para a cena, não querendo exer-
NEGHINI, 2017, p.75). cer um domínio arbitrário sobre os sentidos
existentes nos espetáculos. Desse modo,
Podemos observar que a mudança de agindo em consonância com as novas for-
veículo e de espaço ocupado pela crítica mas do teatro contemporâneo, segundo co-
acaba interferindo na forma do ofício e na mentou Kil Abreu (2016), em Crítica teatral:
maneira do exercício. A crítica nos jornais da organicidade à deriva, caminhamos de
foi-se reduzindo à dimensão valorativa dos um campo cênico estruturado rumo a uma
espetáculos, à apreciação deste ou daquele errância criativa.
desempenho em cena, deixando de lado um A partir dos anos 90, temos uma rea-
maior exercício de análise e argumentação tualização da prática teatral como exercício
tanto estética como sociológica dos traba- coletivo devido à profusão de processos co-
lhos, o que gerou significativa distância da laborativos e à diluição do criador solitário e
classe artística que, por sua vez, passou a autônomo; assim, os laços entre programas
encarar o crítico mais como um inimigo do cênicos e programas críticos não se rom-
que um interlocutor ou um “espectador es- pem, pois nessa diversidade de propostas
pecializado”. O encolhimento do espaço no numa “torre de Babel de formas da experi-
jornal também interferiu nas possibilidades mentação teatral contemporânea” (ABREU,
de uma especulação estética mais aprofun- 2016) cabe ao crítico a desafiante e neces-
dada por parte do crítico, que se viu obriga- sária tarefa de historicizar não somente sua
do a emitir juízos e comentários superficiais época como também sua atividade crítica.
sobre a produção artística. Outro fator pre- Uma equação nada simples pelo fato de
ocupante foi a consolidação de um leitores- precisar se alinhar com novos e outros mé-
pectador que se tornou um consumidor da todos de análise dos espetáculos e, mais,
obra teatral e não mais um potencial pen- lidar com a adesão ou o desconhecimento
sador e colaborador dos sentidos de uma das plateias. Um trabalho que exige equilí-
obra colocados em jogo. Assim um “crítico brio entre uma não aceitação rápida ou acrí-
alfandegário” (COELHO, 2010) tenta resistir tica das novas tendências que despontam e
à ameaça constante de sua função ser do- a realização de uma atividade de tradução
mesticada numa sociedade do consumo e e mediação dessas novas proposições tea-
do espetáculo. trais para um diálogo com os espectadores.
Nesse sentido, conforme observou na O trabalho do crítico passa então por

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uma redefinição e recuo reflexivo, diferen- cas que faziam ou fazem dele autoridade no
te da narrativa de sua dissolução frente aos assunto, parece não satisfazer mais à de-
impasses de uma cena contemporânea. O manda contemporânea, que passaria, por
problema, portanto, não é a decadência do outro lado, a valorizar as dimensões éticas
ofício crítico hoje, mas sua redefinição em ou posicionamentos políticos presentes em
torno das mudanças provocadas pela am- seus julgamentos. Não estaríamos diante de
pliação da produção e pela diversidade de uma outra forma de cumplicidade, na qual,
sua circulação, além da dificuldade em deli- o pacto entre a prática teatral e a crítica dei-
mitar os diferentes perfis do espectador te- xa de estar fundado num discursivo exclusi-
atral contemporâneo. O território expandido vamente poético e ou estético para gravitar
de atuação do crítico compreende a luta pelo em torno da aliança política? Neste sentido,
sentido do teatro e de seu lugar no mundo, o exercício crítico não buscaria mais ofere-
e, menos que uma superação da crítica mo- cer apenas a sua opinião balizada e orien-
derna ou de seus limites cognitivos, o que tar esteticamente o gosto do público, mas
vemos hoje é o aumento da complexidade promover ou fazer a gestão de um espaço
do exercício crítico em função da sobrevi- “comum” entre seu saber, o do criador e o
vência das formas antigas entrelaçadas às do espectador, num jogo caleidoscópico de
mais recentes. perspectivas.
Sendo assim, de qual crítica estamos No interior do debate sobre o fazer crí-
falando então? De que teatro estamos fa- tico contemporâneo em campo expandido
lando? Diante de uma visível horizontalida- e como exercício coletivo tem sido conside-
de das práticas artísticas e teóricas, da pre- rada importante a contribuição de Daniele
sença cada vez mais numerosa de artistas Ávila Small (2015), sobretudo sua aposta na
nas universidades, é possível problematizar formação do que denomina um “crítico igno-
uma separação mais rígida entre os dizeres rante”, pois despojado de um saber prede-
e os saberes referentes às artes cênicas? finido, e, assim, disposto a ver o fenômeno
Que tipo de relação com o público emerge cênico com lentes e referências mais livres
dessa situação em que, a princípio, o críti- e capazes de tatear, arriscar, supor e sugerir
co deixaria de ser seu “representante legal”, possíveis e criativos desdobramentos dis-
passando a constituir uma voz presente na cursivos. Tratar-se-ia de escapar do exercí-
conversa pública? Do crítico solitário esta- cio enquanto agência do mercado teatral ou
ríamos então caminhando para um crítico de diversão que visaria prestar um serviço
participativo? O que ganham e o que per- ao consumidor: o de referendar a qualida-
dem as artes cênicas nessa aposta contem- de do produto ofertado. O crítico ignorante
porânea? teria por objetivo, segundo a autora, “ape-
No cenário atual da crítica não existiria nas exercer a liberdade de dialogar com as
mais parâmetros objetivos para o julgamen- obras, interpretá-las, conversar com a sen-
to do crítico e nem para a credencial exigi- sibilidade daqueles que partilham da admi-
da por seu tipo de exercício, valendo muito ração, da curiosidade ou da inquietação por
mais a força criativa e a sensibilidade, bem estas obras” (SMALL, 2015, p.103-104).
como sua capacidade imaginativa e ensa- Essas parecem ser as premissas do
ística (SMALL, 2015). Estaríamos diante crítico na atualidade, constituindo a prática
de um cenário no qual a figura do crítico de uma política que “elabora estratégias de
especializado, dotado de habilidades técni- embaralhamento dos saberes e dizeres so-

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bre teatro” (SMALL, 2015, p.12) e que, para geiro,2 valorizavam um teatro mais literário
isso, entra em disputa com uma crítica ca- (enfoque na dramaturgia) e de inspiração
nônica e mais institucionalizada. Tal dispu- europeia. Sendo assim, a crítica teatral do
ta pode ser verificada quando estudamos a começo do século XX assumia caráter nor-
tradição crítica do teatro brasileiro no século mativo e propositivo, posto que baseada
passado, nosso próximo tópico neste artigo. num diagnóstico dos males que impediam
a formação de um teatro nacional, procu-
rava definir o percurso a ser seguido para
Parte II sua atualização, conforme o quadro da pro-
Uma possível trajetória da dução europeia. Num tom professoral, esse
crítica teatral brasileira “crítico improvisado” (BRANDÃO, 2018) e
polemista, fomentado pelo advento da im-
Como veremos ao longo deste artigo, a prensa, censurava o gosto médio do públi-
história do teatro brasileiro está diretamen- co, as escolhas dos empresários, os autores
te relacionada à história da crítica e parece do teatro de revista, ao mesmo tempo que
deslizar ora por uma crítica-polícia, ora por pretendia fazer do teatro um caminho para
uma crítica-política. O crítico do século XIX implementação junto à sociedade do projeto
no Brasil surge do “homem das letras” que, civilizatório almejado por intelectuais e escri-
em meio a outras ocupações, exerceu tam- tores (BRANDÃO, 2018).
bém nas páginas de revistas e jornais a fun- Conforme salienta Tania Brandão, a es-
ção crítica, especialmente enquanto cronista trutura do texto crítico obedecia à influência
teatral. Machado de Assis, José de Alencar, francesa, cujo resumé apresentava um rela-
José Veríssimo, Artur Azevedo, João do Rio, to da trama e abria assim uma possibilidade
Lima Barreto, entre outros escritores, con- de análise dos espetáculos. Isso significava
tribuíram para a formação de um pensa- que a avaliação do espetáculo se dava a
mento sobre o teatro no Brasil e, em suas partir da análise literária, e a cena, propria-
colunas periódicas ou artigos, discutiram os mente dita, recebia um exame rápido e só
caminhos e as dificuldades, os impasses e mencionado no final do texto.
as saídas para a constituição de um “teatro Do ponto de vista da autora, o proble-
nacional”. Dessa maneira, militaram pela ma dessa crítica parece residir na marginali-
“elevação” da produção local e do gosto pú- zação da cena em benefício do texto, gesto
blico, pela redefinição do pacto entre teatro, que a distanciava da “crítica moderna”. En-
Estado e sociedade no período que vai de tretanto, podemos perceber que, para além
meados do século XIX às três primeiras dé- dessa questão moderna, o debate instaura-
cadas do século XX. do pelos “críticos improvisados” estaria na
A tarefa do crítico era dupla, pois defen- disputa entre as distintas propostas de teatro
dia a “nacionalização” da produção teatral nacional, defendidas pela imprensa naquele
e, ao mesmo tempo, definia critérios pelos contexto. Debate que compreende também
quais ela deveria ser realizada, conforme as crônicas teatrais de Antônio Alcântara
a norma hierárquica dos gêneros vigentes
na época. Interessados em elevar dramati- 2 A expressão “teatro ligeiro” ou gêneros ligeiros começou a ser
utilizada pela crítica jornalística a partir da segunda metade do
camente o palco nacional, considerado de- século XIX para referir-se aos espetáculos de revistas, burletas,
cadente em virtude do sucesso do teatro li- vaudevilles e mági-cas. Em oposição ao chamado teatro sério,
tais produções eram consideradas criações pouco elaboradas
e simplificadas, isto é, sem propósitos artísticos mais elevados.

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Machado publicadas, a partir de 1923, no plas sofridas pelo teatro brasileiro. Momen-
Jornal do Commercio. O autor tem sido visto to decisivo para a afirmação de uma crítica
pela literatura especializada (RAMOS, 1994; especializada com formação universitária no
LARA, 1987) como um dos primeiros moder- âmbito da primeira geração da crítica teatral
nistas da cena nacional, e sua atividade crí- moderna no Brasil, conforme observamos na
tica dividida em dois momentos: na primeira trajetória da obra de um de seus principais
fase teria defendido uma “saída” dramática expoentes, Décio de Almeida Prado que, se-
para a suposta “decadência” do teatro, par- gundo Ana Bernstein, pode ser considerado
tindo de formas e ideias europeias, enquan- modelo do “crítico atento e cúmplice” (BER-
to, na segunda fase, teria privilegiado em NSTEIN, 2005) dos rumos da modernização
sua proposta de atualização ou “moderniza- do teatro brasileiro.
ção” da produção local o “brasileirismo” que, Mais do que crítico, Décio foi um teórico
segundo alegou, poderia ser encontrado no que contribuiu no Brasil para a compreensão
circo, na revista, nas burletas, ou seja, nos do fenômeno da encenação que já estava
gêneros tidos como populares. em pleno curso na Europa desde o final do
O teatro bagunça foi a denominação século XIX. Suas críticas foram reunidas e
atribuída por Alcântara Machado à mistura publicadas em três livros: Apresentação do
que surgiria do aproveitamento das mani- teatro moderno brasileiro (1956), Teatro em
festações populares “onde o povinho se re- progresso (1964) e Exercício findo – crítica
úne e fala os desejos e os sentimentos que teatral (1987), além de outros ensaios sobre
tem” (MACHADO, 2009, p.375). O exercício a história do teatro brasileiro. Escrevendo
crítico passa então a ser pela nacionaliza- durante, pelo menos, 22 anos para o jornal
ção dos elencos, contra as influências es- O Estado de São Paulo, o crítico se mostrou
trangeiras e, de forma ousada, também se empenhado na defesa do teatro moderno
colocando contrário a certa tradição crítica entre nós, pautando seu exercício num de-
que condenava as pateadas e outras livres terminado programa crítico que defendia a
manifestações do público quando não gos- maior qualidade dos espetáculos a ser ob-
tava dos espetáculos apresentados ou de- tida por intermédio do encenador, além da
les discordava. Antônio Alcântara Machado, inclusão de outros gêneros para além da
além de críticas, escreveu manifestos em predominância da comédia, e, como um re-
prol da renovação do teatro brasileiro. Os presentante de sua geração de críticos, as-
princípios norteadores de seu programa crí- sinalava a importância do teatro como arte e
tico estavam assentados na ideia de que, não apenas diversão ligeira (PRADO, 1987,
nas expressões de vida do povo, o teatro p.23).
brasileiro encontraria as bases de sua forma De acordo com Ana Bernstein, a produ-
e formação nacional, os materiais a explorar ção de Décio vai assinalar a passagem da
na cena, unindo música e dança, como já fa- crítica-crônica e social que vinha do sécu-
ziam o teatro de revista, as comédias popu- lo XIX para uma nova crítica como discus-
lares e as cenas da vida cultural cotidiana. são estética dos elementos do espetáculo
Segundo Ana Bernstein (2005) e Tania e defesa da profissionalização dos artistas.
Brandão (2010), foi nos anos 40 que a ideia Entretanto, essa passagem compreendeu
de renovação teatral pôde desdobrar-se distintos momentos do exercício critico que,
num projeto crítico articulado ao palco na- grosso modo, pode ser dividida em três perí-
cional em virtude das mudanças mais am- odos: os anos de formação, quando o crítico

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começa a escrever para a revista Clima; os teatrais privilegiadas por mecenas indus-
anos de consolidação, decorrente do ama- triais, marginalizando, assim, o repertório e
durecimento de suas ideias; e os anos de a trajetória de antigos grupos, como a Cia.
transformação, marcados pelo exercício de Eva Todor, que, sem nenhum tipo de apoio,
revisão de seu trabalho (BERNSTEIN, 2005, insistiam no fazer teatral na cidade de São
p.26). Décio vai abandonar o ofício de crítico Paulo.
em 1968, tendo como causas o agravamento Ao contrário da negação ou da reclama-
da censura às artes em pleno regime militar da ruptura com o passado teatral em bloco,
e sua dificuldade de acompanhar os novos o crítico reivindica uma linha de continuida-
rumos da cena teatral. A sua visão moderna de entre tradição e modernidade, principal-
do oficio e do objeto abarcaria quatro dimen- mente no que se refere aos antigos atores-
sões, a saber: a crítica filosófica, que acen- -estrelas frente aos novos atores formados
tua a discussão estética da obra de arte; a no curso da EAD ou no bojo dos grupos pro-
crítica literária, que se aproxima da crônica; fissionais capitaneados pelos encenadores
a crítica didática, de caráter pedagógico; e europeus. Dessa maneira, o crítico introduz
a crítica jornalística, que tem como principal a dimensão sociológica do projeto estético
objeto a informação (GARCIA, 2000, p. 93), da crítica teatral moderna no Brasil.
mas, essas distintas facetas ou camadas da Até que ponto, porém, o “crítico espe-
escrita e da reflexão crítica estavam com- cializado” (BERNSTEIN, 2005), surge com a
prometidas com seu projeto mais amplo de modernização da cena teatral brasileira, es-
teatro moderno brasileiro. capou dos parâmetros informados anterior-
Devemos observar que a plataforma mente acerca do “crítico improvisado”? A pri-
crítica do mestre paulista é justificada como meira geração moderna da crítica articulou
um desejo coletivo, isto é, em nome de uma ou cristalizou em seu discurso renovador al-
geração. Esse consenso em torno de um guns dos termos e expressões que já faziam
determinado projeto crítico moderno do te- parte do debate, sobretudo as oposições te-
atro brasileiro, proposto pelo autor em co- atro para rir versus teatro sério, teatro co-
mum acordo com um grupo particular, foi mercial versus teatro de arte. Desse modo,
todavia questionado por um de seus ex-alu- podemos observar também as continuida-
nos, Miroel Silveira. Crítico, tradutor, diretor des entre os dois momentos, especialmente
e professor, embora compartilhando alguns o caráter comercial do empreendimento mo-
princípios críticos de seu ex-professor, dis- derno apoiado pelas páginas do jornal. Vale
cordava da exclusividade de um teatro elitis- lembrar que o exercício crítico de Décio de
ta como o do TBC em detrimento das demais Almeida Prado fora decisivo para a consoli-
produções existentes, como, por exemplo, dação de uma narrativa hegemônica sobre
as atividades amadoras de italianos e outros o desenvolvimento moderno do teatro brasi-
imigrantes, além de espetáculos de teatro leiro que, por sua vez, se desdobrou numa
de revista ou circo-teatro, que eram conside- determinada visão histórica de seu passado
rados precários pela intelligentsia da época. como um todo.
Em A outra crítica, Miroel Silveira (1976) O afastamento do mestre paulista da
salientou os fatores econômicos determi- crítica periódica coincidiu com a redução do
nantes do projeto estético do teatro moder- espaço ocupado pelo crítico teatral no jornal,
no de seu ex-professor e que, por outro lado, impedindo-o de analisar o espetáculo longa-
compreendia poucos grupos ou companhias mente com o objetivo de educar o gosto do

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público, ficando seu papel reduzido à qualifi- críticos optaram pela retirada de cena. Para-
cação breve dos trabalhos visando fornecer lelamente, cultivava-se a crítica na universi-
uma opinião capaz de orientar sua escolha dade, nos programas de pós-graduação em
no mercado de bens culturais. Yan Michal- teatro e artes cênicas que, posteriormente,
ski, que escrevia para o Jornal do Brasil, em viriam contribuir para a formação e o perfil
texto publicado em 1984, lamentou a perda de outra crítica. Além disso, com a internet
de espaço para o exercício crítico e o desa- surgiram condições para novas plataformas
parecimento de veículos e de colunas vol- críticas cuja divulgação não dependia mais
tados para a cobertura da vida teatral, fatos exclusivamente dos jornais e revistas do cir-
que, segundo o autor, assinalavam a margi- cuito comercial mais amplo − num contexto
nalização do próprio teatro no cenário cultu- que, segundo observou Daniele Avila Small
ral informado pela imprensa: (2017, p.287), estaria marcado pela abertu-
ra proporcionada por uma forma diferente
A crítica teatral brasileira se vê redu- do exercício e do ofício crítico, em sintonia
zida a pequenos comentários opinati-
vos sobre espetáculos isolados, ainda com as mudanças operadas no presente da
tolerados, mais do que valorizados e arte teatral.
prestigiados, em alguns raros diários
e revistas semanais. Vários órgãos da
imprensa que tinham tradição no ramo
desapareceram; outros extinguiram Parte III
suas colunas de crítica; e mesmo os Sobre o crítico coletivizado
que ainda mantêm tais colunas com al-
guma regularidade, concedem-lhes um
miniespaço dentro do qual fica quase A história da crítica teatral brasileira no
impossível abrir uma discussão crítica século passado é uma história de indivíduos,
instigante, em alguns casos desestimu-
lam tomadas de posição assumidamen-
isto é, nomes destacados. Os textos publica-
te opinativas, ou até determinam ao crí- dos nos jornais pelos críticos especializados
tico normas de conduta jornalística que acabaram por solidificar carreiras exemplares
tolhem a sua liberdade de manifestação de autores renomados, conforme observou
(MICHALSKI, 1984).
Mariana Barcelos (2016), em Sobre crítica e
nomes: “o nome do autor corrobora para a fir-
Além do pouco reconhecimento de sua
mação de um pacto implícito – o que é uma
função, as pressões advindas da repressão
crítica de teatro, como se escreve uma crítica,
política e as novas propostas cênicas que
qual a forma legitimada, quem pode escrever”.
despontavam, e que de alguma forma ge-
O problema emerge quando a autoridade do
ravam embates e agressões públicas, pare-
crítico se sobrepõe a seu juízo acerca do obje-
ciam contribuir para esse processo de afas-
to, afastando-o, muitas vezes, do movimento
tamento ou de esgotamento da crítica teatral
de atualização da própria cena teatral. Nesse
moderna nos anos 80. Não é por acaso que,
sentido, o distanciamento do crítico do cená-
nesse contexto, tenha sido veiculada a tese
rio dinâmico da atividade teatral em vez de
de uma possível morte da crítica devido a
permitir uma visão mais acurada e livre impli-
seu recuo forçado ou à sobrevivência de
caria falta de diálogo mais consequente com
uma prática “moribunda”, faltando aí um
as práticas artísticas vigentes que, por sua
exercício de autocrítica por parte dos inte-
vez, se desdobraria em atitudes normativas,
lectuais modernos.
paternalistas e catequizantes” (SMALL, 2017,
Sem saída à vista, alguns dos principais
p.281) ao subestimar artistas e espectadores.

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Em consonância com os processos cício que se baseia no cuidado, no diálogo;


criativos colaborativos e em campos expan- busca apoio na teoria, mas reconhece a im-
didos da cena teatral atual, conforme ob- portância de se manter relação mais próxi-
servou Barcelos (2016), a figura do coletivo ma e menos dogmática com a cena teatral,
agora se insere, portanto, na prática crítica ao menos quanto ao segmento inventivo.
que compreende artistas, críticos e especta- No geral, a produção de críticas no es-
dores. Dessa maneira, a crítica contempo- paço público visa aumentar o interesse das
rânea abriria mão do indivíduo-autor (como pessoas pelo teatro. Outro fator: diferentes
única figura de autoridade) para atuar como formas de escrita crítica (fora dos padrões
coletivo-autor. Não haveria mais dessa for- impostos pelo jornal ou pelo mercado) são
ma um nome a ser destacado, e o protago- experimentadas, como, por exemplo: aca-
nismo seria então de um corpo coletivo de dêmica, jornalística, ensaística, performati-
críticos, no qual a crítica (como objeto de va etc. Esse novo caminho que vem sendo
estudo e pensamento sobre ela mesma) es- trilhado pelos jovens críticos tem por obje-
taria em primeiro plano e sendo exercida por tivo superar o que eles consideram o “mo-
críticos com diferentes formações, estilos e ralismo estético reinante”, responsável por
leituras do que seria o teatro brasileiro. Tam- uma forma de crítica voltada para discrimi-
bém não haveria mais um modelo de críti- nar o certo do errado, o que se deve ou não
ca a ser perseguido ou perpetuado, mas a fazer, visaria não à norma mas ao dissenso
cada espetáculo um texto diferente poderia do quadro hegemônico. Como observou Kil
ser produzido. Abreu (2016) em seu texto Crítica teatral:
Hoje, o coletivo crítico está inserido em da organicidade à deriva, “A almejada pro-
circuitos distintos e plurais de comunicação dução do dissenso como tarefa não come-
e de promoção das artes cênicas, particu- ça, pois, apenas no confronto com formas
larmente teatrais, organizados em platafor- carcomidas da crítica teatral. O dissenso só
mas digitais, e seus atores buscam promo- pode começar em nós mesmos”.
ver uma reflexão considerada diferenciada Contrariamente à perspectiva do dis-
e diversa sobre a cena. Vale destacar as senso de Kil Abreu, da crítica como uma
seguintes plataformas de crítica teatral em forma de desordem, Tania Brandão (2018),
plena atividade: Questão de Crítica (RJ), em A falência da crítica: formas da crítica te-
Horizonte da Cena (MG), Satisfeita Yolan- atral na história do teatro brasileiro, afirma
da (PE), Teatro Jornal (SP), Agora Crítica que atualmente, pela possibilidade que têm
Teatral (RS), Bocas Malditas (PR), Farofa os críticos de escrever em estado de razoá-
Crítica (RN), Revista Barril (BA), Parágrafo vel independência (sem a pressão dos edi-
Cerrado (MT) etc. tores de jornal), suas pautas acabam sendo
Dessa perspectiva, o ofício e o exercí- organizadas de acordo com as tendências
cio críticos estão sendo praticados por di- cênicas mais hegemônicas, ignorando, as-
versos agentes e em diferentes frentes de sim, outras manifestações teatrais e, dessa
trabalho, sobretudo devido à disseminação forma, refutando o debate mais amplo com a
da internet como espaço para uma varie- maior parcela do mercado, o que culminaria,
dade de sites e blogs voltada para o fazer segundo a autora, em outro tipo de submis-
cênico que, por sua vez, costuma explicitar são de seu ofício.
diferentes propostas de crítica em torno de No embate entre as duas posições aci-
uma concepção mais democrática do exer- ma destacadas podemos problematizar al-

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guns pontos: a referida independência do Considerações finais


crítico, conforme apontada por Brandão,
pode ser questionada quando este, por Vemos o coletivo crítico de hoje como
exemplo, atua profissionalmente em alguns um agente provocador da cena por meio do
poucos festivais e mostras, precisando, por- diálogo mantido com seu presente (SMALL,
tanto, lidar com diferentes tipos de propostas 2017, p. 291). Esse diálogo, no entanto, po-
e espetáculos. Assim, o crítico não precisa deria ainda ser enriquecido pelo reconhe-
mais responder às demandas e aos interes- cimento do passado histórico da crítica de
ses da pauta jornalística, podendo desen- hoje, como, por exemplo, com a crítica mais
volver trabalhos alternativos e à margem da filosófica de Décio, com as questões socio-
publicidade consagrada e majoritária. Nesse lógicas de Miroel Silveira e até mesmo no
sentido, diferente da forma verticalizada do interesse de inserção do espectador no de-
passado, a crítica parece emancipada dos bate sobre o teatro, como defendia Alcânta-
veículos oficiais: “A crítica não é do jornalis- ra Machado. No passado como no presente,
mo e nem da academia, a crítica é do teatro” o crítico continua um mediador do fenômeno
(SMALL, 2017, p. 287). Mas, ao se eman- teatral, ainda que a cada época e contexto
cipar dos veículos oficiais, em função das específico isso aconteça de forma diferen-
plataformas digitais, o crítico não está atre- ciada e em diálogo e tensão com as ques-
lando seu trabalho aos interesses de grupos tões de seu tempo.
de artistas e espectadores em detrimento O crítico hoje se vê cercado por mui-
do grande público? Outro ponto: se os crí- tas armadilhas: se não se mantiver atento
ticos vêm atuando em plataformas digitais pode tornar-se refém de uma posição alta-
com forte acento coletivo ou percebendo a mente acadêmica e distante das produções
crítica como uma forma de ação coletiva, apresentadas e da vida teatral como um
então, podemos reconhecer nesse cenário todo; por outro lado, se não se inteirar da
uma variedade maior de interesses e uma multiplicidade de estéticas e teorias, pode
diversidade de significados sobre a produ- ser considerado um analista despreparado
ção teatral no país? e correndo o risco de se manter fiel a de-
O exercício crítico coletivo ganharia sua terminados tipos de linguagem, de acordo
forma atual no contato com os artistas e os com seu gosto. Há também a possibilidade
espectadores mas, diante desse quadro, o de omissão de seu gesto crítico caso tenha
que temos são iniciativas isoladas de alguns muita proximidade com parte da classe ar-
sites e blogs em sua insistência para que a tística. Fato é que o crítico teatral na atua-
crítica seja incorporada aos meios de produ- lidade configura elemento essencial numa
ção teatral. Nos debates e conversas sobre sociedade marcada pelo consumo e pelo
os espetáculos, segundo acentuam os estu- espetáculo, e a perda de sua atividade refle-
dos recentes, os espectadores têm muito a xiva só favorece o aumento dos interesses
contribuir com seu saber crítico e subjetivo de uma indústria pseudocultural com seus
sobre aquilo que vivenciaram. O sentido da eventos mercadológicos. O crítico coletivo
crítica nasceria de uma “circulação infinita de deseja cada vez mais que as artes cênicas
perspectivas”, conforme observou Viveiros não somente sejam assunto da vida pública
de Castro (apud. BIDENT, 2016, p.63), pois, e social como também formas de produção
dessa forma, ela estaria em consonância com de pensamento.
o teatro entendido em seu campo expandido. Finalizamos o texto levantando alguns

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questionamentos a abordar adiante: Até que BIDENT, Christophe. O teatro atravessa-


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como não abrir mão do gesto crítico que é Porto alegre: L&PM,1983.
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