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Cartilha 2 | Outubro de 2021

TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM

SEAP
LAPTO
Serviço de Apoio
Liga Acadêmica de
Psicopedagógico
Psicopatologia
PUCPR
O QUE SÃO TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM?
1 Pesquisa: Camila Albino Bisson
Redação: Emanuella Spezia
Revisão: Giovanna Polo

QUAIS SÃO ELES?


Pesquisa: Raphaela Camargo
2 Redação: Maria Eduarda Camargo
Revisão: Maria Eduarda Cordeiro Arruda

UM POUCO DE HISTÓRIA
Pesquisa: Maria Fernanda Fernandes
3 Redação: Maria Fernanda Fernandes
Revisão: Manuela Gomes Kosinski

QUAIS SÃO OS SINTOMAS MAIS


COMUNS?
4 Pesquisa: Luiza Rafaela Selhorst Goveia
Redação: Maria Eduarda Cordeiro Arruda
Revisão: Guilherme Corrêa da Silva

O QUE CONTRIBUI AO
DESENVOLVIMENTO DO TRANSTORNO?

5 Pesquisa: Emanuelly Bevilaqua


índice

Redação: Emanuelly Bevilaqua


Revisão: Milena Ísis Coser

FATORES DE RISCO
Pesquisa: Vanessa Knapik
6 Redação: Manuela Gomes Kosinski
Revisão: Mariana Dilay

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?


Pesquisa: Beatriz Cordeiro Sampaio
7 Redação: Eduarda Cristine Greca
Revisão: Gabriela Muller Lourenço

COMO É FEITO O TRATAMENTO?


Pesquisa: Luciana Mendes
8 Redação: Luciana Mendes
Revisão: Letícia Angélica Barcarolo

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Pesquisa: Daniela Coelho Zys
9 Redação: Daniela Coelho Zys
Revisão: Nathia Caroline Tassi
O QUE SÃO TRANSTORNOS
1 DE APRENDIZAGEM?
........Transtornos de aprendizagem são transtornos de
neurodesenvolvimento, caracterizados por déficits
específicos na capacidade do indivíduo em perceber ou
processar informações com o devido proveito e
desempenho. Usualmente manifestado, ainda, no curso da
escolaridade formal, apresentando persistente dificuldade
no desenvolvimento de habilidades básicas nessa fase,
como a leitura, escrita e matemática. Estes déficits podem
acarretar prejuízos ao longo de toda a vida dessa pessoa,
durante seu desempenho pessoal, acadêmico e/ou
profissional (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
........Autores indicam a relação do transtorno de
aprendizagem com fatores hereditários e de
desenvolvimento, responsáveis pela alteração do
processamento cognitivo e da linguagem em decorrência
do funcionamento atípico do cérebro (SILVA; CAPELLINI,
2013).

A P RE N D I Z AG EM
QUAIS SÃO ELES?
2
........De acordo com o DSM-V, os transtornos específicos de
aprendizagem estão relacionados:

com comprometimento na leitura (dislexia)

com comprometimento na escrita (disortografia)

com comprometimento na matemática (discalculia)

........Vale destacar que são todos transtornos do


neurodesenvolvimento, ou seja, as dificuldades observadas
não podem ser justificadas por outras alterações
neurológicas, sensoriais, motoras e/ou cognitivas.
........O transtorno específico da aprendizagem com
comprometimento na leitura, também conhecido como
Dislexia, afeta habilidades básicas de leitura e linguagem,
especialmente, em decorrência do dificultoso
processamento fonológico para associar os sons das
palavras às letras ou sequências de letras (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
........Já o transtorno específico da aprendizagem com
comprometimento na escrita, nomeado também como
Disortografia e Perturbação da Expressão Escrita, afeta as
capacidades da expressão escrita - especificamente a
precisão ortográfica, organização, estruturação e
composição de textos escritos. Como caracterização,
observa-se a construção frásica pobre e curta com presença
de muitos erros ortográficos. Esse transtorno de origem
neurobiológica pode ser dividido em subgrupos:
disortográficos temporais, perceptivo-cinestésicos, cinéticos,
caráter viso espacial, dinâmicos e culturais (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
.......O transtorno específico da aprendizagem com
comprometimento na matemática, também conhecido
como Discalculia, caracteriza-se por um, significativamente,
baixo desempenho matemático para o esperado, levando
em consideração a idade cronológica, experiências e
oportunidades educacionais (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014).
.......Salienta-se que os sinais e manifestações desses
transtornos variam de pessoa para pessoa e,
especificamente, pode afetar de diferentes formas uma
mesma pessoa ao longo de sua vida. Também cabe
evidenciar que as dificuldades não aparecem apenas em
sala de aula, mas também na vida cotidiana (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
.......Segundo o Instituto ABCD (2021), há outras condições
que, mesmo não sendo consideradas transtornos de
aprendizagem, podem causar prejuízo no processo de
aprendizagem. Dentre as opções listadas pelo Instituto,
estão outros Transtornos do Neurodesenvolvimento, como
as Deficiências Intelectuais, os Transtornos de Comunicação,
o Transtorno do Espectro Autista e o Transtorno do Déficit
de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Para além destes, o
Instituto cita outros contextos que podem dificultar a
aprendizagem, como alterações nas funções executivas,
questões emocionais, alterações auditivas e aspectos
socioeconômicos e culturais.
UM POUCO DE HISTÓRIA
3
3.1 Pedagogia e a aprendizagem

.......Sabe-se que na pedagogia, a concepção de educação e


de aprendizagem em cada época reverbera as correntes
filosóficas destas, diferindo em diferentes sociedades. A
importância dada aos problemas relacionados à
aprendizagem tem aumentado significativamente na
atualidade. Em grande parte, esse enfoque nas dificuldades
e transtornos de aprendizagem relaciona-se com o fato de
que o sucesso do indivíduo está ligado ao bom
desempenho escolar (OHLWEILER, 2016).
.......Ohlweiler (2016), conduz uma breve anamnese acerca
das virtudes às quais focalizava a educação nas épocas, a
saber: na Grécia Antiga, o culto da beleza, da estética,
implicou na valorização das qualidades físicas,
desenvolvidas por meio do esporte. Na idade média, a
educação era voltada para a supremacia do espírito e a
busca por um estado de pureza - com forte destaque nos
ideais religiosos. Com o Renascimento, ambas as
qualidades uniram-se às correntes filosóficas de forma a
promover o culto ao homem (física e espiritualmente) e,
com a Revolução Francesa e ideais iluministas, o aspecto
racional e científico tornou-se primordial. Nesse viés, os
diferentes aspectos aos quais atribui-se maior valor em
diferentes contextos contemporâneos são essenciais para a
compreensão do que se considera importante aprender e
do que se busca em atendimentos profissionais
psicológicos, psicopedagógicos etc.
.......Nesse sentido, o interesse pelo atendimento
pedagógico a crianças com dificuldades de aprendizagem
...

......
data de meados do século XVI, com o autor espanhol Ponce
de León (1460-1521), responsável por ensaios pedagógicos
voltados ao ensino para surdos e mudos (HEUYER, 1952). No
início do século XIX, o médico Jean Itard (1774-1838)
dedicou-se à educação de um deficiente grave - “sauvage
de L’Aveyron”, sendo pioneiro nas pesquisas para educação
de indivíduos mentalmente limitados (ITARD, 1932). Em
meados do século XIX, Édouard Séguin (1812-1880) publica
“Traitment Moral Des Idiots et Des Autres Enfants
Arriérres”, em que destaca a importância de uma avaliação
individual e do treinamento dos diferentes sentidos
conforme o caso de cada criança, incluindo testes não-
verbais para a avaliação da discriminação sensorial e o
controle motor (SÉGUIN, 1846).

3.1 Inteligência e a aprendizagem

.......Cabe destacar a importância do conceito de


inteligência (que apresenta variações) e suas tentativas de
mensuração por meio de testes psicológicos a partir do
início do século XX. Nesse âmbito, Francis Galton (1822-1911)
contribuiu na criação da psicometria e da psicologia
diferencial, além de criar o coeficiente de correlação
(grandeza estatística). Seus testes de inteligência
consideravam a correlação entre a herança genética e
observáveis corporais (como reflexos) com a inteligência.
Também realizou trabalhos no contexto dos transtornos da
fala, argumentando a necessidade de se diferenciar déficits
específicos e generalizados, bem como descartar outras
condições debilitantes, como a surdez (FLETCHER, 2009).

uma das formas de definir a

INTELIGÊNCIA
é como a
CAPACIDADE DE
APRENDER
.......Posteriormente, Alfred Binet (1857-1911) contribui com a
criação de uma escala que avaliava a inteligência pelos
processos de memória e atenção, originando o que hoje é
conhecido como teste de Binet-Simon. O teste surgiu a
partir de uma solicitação formal do governo francês para
comparar de forma objetiva e classificar crianças com base
no quociente de inteligência (QI) e realocá-las em turmas
conforme suas habilidades (BINET; SIMON, 1904). Foi
utilizado posteriormente para classificar adultos em débeis
mentais, imbecis e idiotas pelo eugenista Henry Goddard,
fundamentando medidas segregacionistas. Além disso,
promove a apreciação das competências linguísticas e
lógico-matemáticas mediante um procedimento prático,
focalizando dificuldades orais, na interpretação e na
matemática, como a dislexia e a discalculia (FLETCHER,
2009). No entanto, é necessário compreender a
multiplicidade das habilidades humanas - ou ainda as
inteligências múltiplas (GARDNER, 2000) - e analisar as
dificuldades nesse viés.

3.3 Os transtornos de aprendizagem

.......Dentre os cientistas comportamentais mais


importantes envolvidos na conceituação e no estudo inicial
dos transtornos de aprendizagem, estavam William
Cruikshank (1870-1943), Helmer Myklebust (1910-2008),
Doris Johnson (1921-1983) e Samuel Kirk (1904-1996), que
destacaram as intervenções educacionais e o aprendiz
como protagonista.
.......Kirk (1963, p. 2-3) definiu:

Usei a expressão “transtornos de aprendizagem” para


descrever um grupo de crianças que apresentam distúrbios
no desenvolvimento da linguagem, da fala, da leitura e de
habilidades de comunicação necessárias para a interação
social. Nesse grupo, não incluí crianças que tivessem
deficiências sensoriais, como cegueira, pois temos métodos
para lidar e para treinar surdos e cegos. Também excluí do
grupo crianças com retardo mental generalizado.
.......Em 2004, a Lei de Melhoria da Educação de Indivíduos
com Deficiências dos EUA, ressaltou a necessidade de
verificar a instrução adequada na educação em geral, bem
como informações documentadas periodicamente sobre a
resposta do aluno, reforçando o caráter bidirecional do
processo de ensino-aprendizagem e a necessidade de
adaptação da esfera educacional às necessidades
individuais (FLETCHER, 2009). Atualmente, a classificação
de “transtornos de aprendizagem” se faz com base no DSM-
V e no CID-12 que supõe uma primazia dos fatores
biológicos, mas é necessário ao profissional considerar o
aspecto multifatorial das dificuldades.
.......Por fim, deve-se atuar conforme uma abordagem
integrativa, visando a adaptação recíproca do aprendiz e do
meio, compreendendo as limitações (nas quais se deve
atuar) e possibilidades (as quais se deve explorar), além de
agir com empatia para com as dificuldades de colegas de
estudo ou trabalho, uma vez que nem todos possuem o
diagnóstico de transtorno, mas podem apresentar
dificuldades (e estas são igualmente válidas).
QUAIS SÃO OS SINTOMAS
4 MAIS COMUNS?
.......Para classificar um transtorno específico de
aprendizagem deve-se considerar:

Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades


acadêmicas, por no mínimo 6 meses, como:
Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e
com esforço;
Dificuldade na interpretação do que é lido;
Dificuldade ortográfica (como a troca de letras);
Dificuldade com a expressão escrita (como a falta de
clareza ou uso da gramática);
Dificuldade com números (contagem com os dedos,
perder-se no meio dos cálculos por não apreender o
processo etc);
Dificuldades no raciocínio (por exemplo, para aplicar
os conceitos apresentados).
Habilidades acadêmicas substancialmente alteradas,
havendo desempenho destoante com a idade
cronológica;
As dificuldades podem não se manifestar até que as
exigências excedam as capacidades limitadas - por
exemplo em testes cronometrados (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
O QUE CONTRIBUI PARA O
DESENVOLVIMENTO DO
5 TRANSTORNO?
.......Ainda não há um consenso em relação ao que causa os
transtornos de aprendizagem, porém, acredita-se que eles
possam ser causados por problemas na interligação de
informações em diferentes regiões do cérebro. Isso pode ser
explicado pelo fato de os transtornos de aprendizagem não
terem uma “cura”, ou seja, serem total ou parcialmente
irreversíveis. Nessa perspectiva, então, é possível que
fatores biológicos interfiram no desenvolvimento destes
transtornos. A exemplo disso, temos a atribuição de uma
causa genética para a dislexia, uma vez que alterações
genéticas podem gerar malformações no sistema nervoso
central (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2015).
.......Devemos considerar, porém, que os transtornos de
aprendizagem são complexos e multifatoriais e suas causas
não podem ser reduzidas aos fatores biológicos. É
necessária, também, uma análise deste fenômeno a partir
das condições sociais e econômicas de um determinado
período histórico para que possamos traçar os
determinantes sociais no qual se desenvolvem. Nesse
sentido, é preciso considerar a qualidade das mediações
entre o sujeito e o conhecimento que são estabelecidas em
contextos sociais diversos, tais como a família e a escola
(TULESKI; EIDT, 2007).
FATORES DE RISCO
6
.......A interação de eventos negativos que ocorrem na vida
de um indivíduo determina o desenvolvimento, podendo
gerar uma organização patológica de seus sistemas
biológico, emocional, cognitivo, linguístico, interpessoal e
representacional.
.......No contexto escolar, a dificuldade de aprendizagem
pode ser sobreposta a fatores de risco como a pobreza,
conflitos familiares, violência e maus tratos. Dentre outros,
a solidão, depressão, comportamento suicida e
delinquência também podem potencializar tal dificuldade e
refletir em resultados negativos na vida adulta. É
importante analisar se o problema é uma causa ou
consequência aos fatores de risco, para também ser
possível uma intervenção apropriada, prevenindo
consequências psicossociais associadas (MAZER; DAL
BELLO; BAZON, 2009).
.......A baixa renda reflete em problemas de saúde mental em
crianças devido ao acesso limitado à saúde e educação,
além da maior exposição ao estresse (RAMIRES et al., 2009).
Da mesma forma, existe uma relação desses problemas
com a depressão e a ansiedade, como no prejuízo em
leitura, que por sua vez, pode ser reconhecido pelos
professores (PARTELINI et al., 2019).
.......Fatores genéticos, alterações agudas no sistema
nervoso central, baixo peso ao nascimento, desnutrição,
problemas sensoriais e motores, doenças crônicas, uso de
medicamentos, problemas familiares, psicossociais,
psiquiátricos, pedagógicos e outros, também representam
fatores de risco para as dificuldades de aprendizagem
(FERRAZ, 2003; VOGLER, DECKER, 1985).
O uso de substâncias psicoativas na tentativa de amenizar
conflitos e entraves vivenciados, como no caso de
adolescentes usuários de drogas, é desencadeador de
.............
prejuízos a curto e longo prazo. O uso dessas substâncias
leva a comprometimentos neuropsicológicos, na atenção,
memória, sensação, percepção e linguagem, refletindo em
dificuldades no processo de aprendizagem, na formação de
novas ligações sinápticas (VELASQUES, 2014).
O estresse, medo do fracasso, falta de estímulos,
significado, perseverança e cobrança, causam um impacto
negativo no adolescente e em seu processo de
aprendizagem (ROCHA, 2020).

SÃO MULTIFATORIAIS

O indivíduo interage com o meio.


É necessário compreender o processo de ensino-
aprendizagem como um processo que não é
individual, mas múltiplo em termos de sujeitos e
ações. Assim, os transtornos de aprendizagem
também decorrem de diversos aspectos.
COMO É FEITO O
7 DIAGNÓSTICO?
.......Os transtornos da aprendizagem possuem aspectos
específicos. Estes são considerados patológicos quando há
sofrimento e dificuldades significativas para o indivíduo em
suas atividades cotidianas. Também baseia-se, para o
diagnóstico desses transtornos, nos critérios expostos no
DSM-V, considerando o contexto do sujeito e que não
podem ser justificados como decorrência de uma
deficiência intelectual (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014).
.......Dessa forma, os critérios e características destes
transtornos incluem: déficits em capacidades mentais
genéricas (Critério A), prejuízo na função adaptativa diária
na comparação com indivíduos pareados para idade,
gênero e aspectos socioculturais (Critério B), como também
o início aparente durante o período do desenvolvimento
(Critério C), baseando o diagnóstico tanto em avaliação
clínica, quanto em testes padronizados das funções
adaptativas e intelectuais (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014).
.......Neste sentido, especificando ainda mais, temos no
Critério A a referência às funções intelectuais que envolvem
raciocínio, solução de problemas, planejamento,
pensamento abstrato, juízo, aprendizagem pela educação
escolar, experiência e compreensão prática. Estes
funcionamentos costumam ser mensurados a partir de
testes de inteligência administrados individualmente, com
validade psicométrica. E, para obter-se o diagnóstico de
transtorno de aprendizagem, é necessário apresentar
escores em torno de dois desvios-padrão abaixo da média
populacional (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
.......No que diz respeito ao Critério B, têm-se as questões do
funcionamento adaptativo, que envolvem raciocínio
adaptativo em três domínios: conceitual, social e prático.
.......
.......Assim, avalia-se se as habilidades do indivíduo alcançam
os padrões sociais, em termos de independência pessoal e
responsabilidade em comparação a outros, com idade e
antecedentes socioculturais similares. Dessa maneira, os
déficits no funcionamento adaptativo são investigados
mediante uso tanto da avaliação clínica quanto de medidas
individualizadas, utilizando-se do seu contexto social, bem
como de testes psicométricos adequados para o caso em
questão, como auxiliares da avaliação (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
.......Dessa forma, algumas medidas padronizadas são
empregadas com informantes (como pais ou outro membro
da família, professor, conselheiro ou provedor de cuidados)
e com o indivíduo, sendo assim, considerada uma avaliação
de cunho multidisciplinar, já que, engloba as áreas
educacionais, médicas, familiares e psicológicas. Então, o
Critério B é preenchido quando pelo menos um domínio do
funcionamento adaptativo – conceitual, social ou prático –
está suficientemente prejudicado, a ponto de ser necessário
apoio contínuo para que a pessoa tenha desempenho
adequado em um ou mais de um local, tais como escola,
local de trabalho, casa ou comunidade (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
.......Logo, para que sejam atendidos os critérios
diagnósticos, os déficits no funcionamento adaptativo
devem estar diretamente relacionados aos prejuízos
intelectuais descritos no Critério A. E por último o Critério
C, que diz respeito ao reconhecimento da presença de
déficits intelectuais e adaptativos ao longo do
desenvolvimento, durante a infância ou adolescência
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
COMO É FEITO O
8 TRATAMENTO?
.......O tratamento dos transtornos de aprendizagem focaliza
a conduta educacional, mas também pode envolver terapia
médica, comportamental e psicológica. Os programas de
ensino com uma abordagem estratégica, ensinando a
criança como aprender, compensam, muitas vezes, os
fármacos. Uma má combinação de métodos educativos
aplicados à criança com transtorno de aprendizagem
agrava o problema.
.......Algumas crianças necessitam de instruções
especializadas em apenas uma área enquanto continuam a
frequentar classes regulares. Outras crianças precisam de
programas educacionais separados e intensos. As leis norte-
americanas colocam estas crianças em salas de aulas de
crianças sem estas dificuldades.
.......Os fármacos afetam minimamente as aquisições
acadêmicas, inteligência e habilidades de aprendizagem,
embora certos fármacos (p. ex., psicoestimulantes como o
metilfenidato e várias preparações anfetamínicas) possam
melhorar a atenção e a concentração, permitindo que a
criança possa responder mais eficientemente às instruções.
Muitos remédios populares e terapias não foram
comprovados (p. ex., eliminar temperos alimentares, uso de
antioxidantes ou megadoses de vitaminas, estimulação
sensorial e movimentação passiva, terapia sensorial
integrada, mediante exercícios posturais, treinamento do
nervo-auditivo e treinamento optométrico para melhorar a
percepção visual e processos de coordenação sensório-
motor).
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
9
.......No campo dos transtornos de aprendizagem, muitos
pontos positivos e negativos podem ser levantados a
respeito da forma como este tema é conduzido na
contemporaneidade. É interessante destacar, por exemplo,
uma iniciativa que busca aumentar o número de
diagnósticos precoces de transtornos de aprendizagem e
oferecer melhores condições de estudo e desenvolvimento
acadêmico para estas crianças, através do projeto de lei (PL)
3.517/2019 - aprovado pelo Senado em setembro deste ano
(2021) – conforme disposto prevê um programa de
identificação e tratamento de alunos da educação básica
diagnosticados com dislexia, transtorno de déficit de
atenção com hiperatividade, entre outros transtornos de
aprendizagem, sendo uma proposta bastante progressista
em relação à saúde mental da população.
.......No entanto, também, muito se discute o aumento da
medicalização de crianças no país. Haja vista que diversos
medicamentos indicados para transtornos de
aprendizagem, especialmente o TDAH, têm sido receitados
a jovens e crianças que não se encaixam no quadro destes
transtornos, levando a uma discussão sobre a medicalização
da vida contemporânea. Nessa linha, Angell (2011) faz
importantes críticas ao que ela chama de “Epidemia de
doenças mentais” e suas implicações na sociedade, pois é
necessário que se pense nos limites entre um “sofrimento
saudável” e um “sofrimento patológico”, especialmente
numa época de aumento de queixas em relação às
dificuldades de aprendizagem.
.......Ainda nesse sentido, o Instituto ABDC (2021) produziu
um e-book intitulado de “Covid-19 e transtornos específicos
de aprendizagem - possíveis impactos e estratégias de
enfrentamento no pós-pandemia”, trazendo um conteúdo
bastante enriquecedor sobre as relações entre a pandemia
..
da Covid-19 e os transtornos específicos de aprendizagem,
oferecendo diversas estratégias de enfrentamento pós-
pandemia e reflexões importantes que pode ser acessado
de maneira on-line e gratuitamente pela página do
Instituto ABCD.
REFERÊNCIAS

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AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V. Porto Alegre. Artmed,
2014.

BINET, A.; SIMON, T. Sur la nécessité d'etablir un diagnostic


scientifique des états inférieurs de l'intelligence. L'année
psychologique, v. 11, p. 163-190. 1904.

FLETCHER, J. M., et al. Transtornos de aprendizagem: da


identificação à intervenção, Grupo A - Artmed, 2009.

GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto


Alegre: Artes Médicas, 2000.

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INSTITUTO ABCD, Covid-19 e transtornos específicos de


aprendizagem. 2021. Disponível em:
<https://institutoabcd.org.br/e-book-covid-19-e-transtornos-
especificos-de-aprendizagem/>. Acesso em: 15 out. 2021.

ITARD, J. M. G. The wild boy aveyron. New York - Century, 1932.

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MANUAL MERCK ON-LINE. Visão Geral dos Transtornos de
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Acesso em: 13 out. 2021.

MAZER, Sheila Maria; DAL BELLO, Alessandra Cristina; BAZON,


Marina Rezende. Dificuldades de aprendizagem: revisão de
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ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar.
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SÉGUIN, E. Traitement hygiene et moral des idiots et des autres


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SILVA, Cláudia da; CAPELLINI, Simone Aparecida. Desempenho de


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SILVA, M. C. V, M. História dos testes psicológicos. São Paulo:


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TULESKI, Silvana Calvo; EIDT, Nadia Mara. Repensando os


distúrbios de aprendizagem a partir da psicologia histórico-
cultural. Psicologia em estudo, v. 12, p. 531-540, 2007.
Cartilha 2 - Transtornos de
@lapto.pucpr
Aprendizagem

Coordenação docente:
Dra. Cláudia Lucia Menegatti.

Organização:
Daniela Coelho Zys;
Francesca Ferraz de Paola;
Maria Fernanda Fernandes.

Diagramação:
Maria Fernanda Fernandes.

SEAP
LAPTO
Serviço de Apoio
Liga Acadêmica de
Psicopedagógico
Psicopatologia
PUCPR

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