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NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL
CONTEXTUALIZANDO
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anatomofuncionais que limitam funções físicas, sensoriais ou cognitivas.
Incapacidade, termo muito amplo e utilizado em situações jurídicas e
previdenciárias, por exemplo, significa falta de capacidade necessária a uma
determinada atividade.
Quando falamos em limitações funcionais, estamos nos referindo a
prejuízos resultantes de deficiências que impendem o desempenho adequado
de atividades diárias, como, por exemplo, a deficiência visual, que gera
limitações funcionais em áreas como da mobilidade e da linguagem, ou seja, a
falta de visão impede que uma pessoa se locomova com independência ou que
possa ler o cardápio de um restaurante que não esteja em Braile.
Finalmente, o termo desvantagem é mais apropriado nos prejuízos
ocasionados nos meios sociais e culturais. Podemos usar como exemplo a
desvantagem que uma pessoa cadeirante tem em espaços que não contam com
acessibilidade.
Agora que compreendemos o significado e o uso dos termos citados,
vamos entender o que significa o termo dificuldade de aprendizagem, descrito
de forma esclarecedora por Garcia (1998):
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apresentadas e uma intervenção educativa que primeiramente respeite as
limitações e estimule as potencialidades da pessoa, para que possamos dar
oportunidade de desenvolvimento da independência cognitiva ao nosso aluno.
Devemos lembrar que a inserção de um aluno em sala de aula não
garante inclusão, integração ou aprendizagem. É imprescindível que haja
investimentos consistentes e permanentes na formação dos educadores em
relação ao ensino em geral e nas especialidades das deficiências.
Dessa forma, nos próximos temas, abordaremos alguns distúrbios do
desenvolvimento frequentes em alunos matriculados em nossas escolas, sob os
aspectos neurofuncionais e educacionais, para que possamos, à luz da
Neurociência, entender as dificuldades e desenvolver estratégias que explorem
áreas do desenvolvimento neuropsicomotor e intelectual.
2 Cabe esclarecer a diferença entre hipóxia e anóxia de parto, termos frequentemente utilizados
em laudos. Quando nos referimos à anóxia, falamos de ausência total de oxigênio; já a hipóxia é
a diminuição considerável de suprimento de oxigênio às células, levando à necrose, que é a morte
celular. A maioria das lesões encefálicas perinatais se dá por hipóxia, não por anóxia.
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movimento, como uma flexão, por exemplo –, e a musculatura antagonista – que
controla o movimento principal. Geralmente, nas paralisias cerebrais atetoides,
coreicas e distônicas, os movimentos involuntários não são observados no
primeiro ano de vida, mas apenas um atraso no desenvolvimento motor; em
casos graves, vê-se hipotonia – musculatura com tonicidade diminuída – antes
de um ano de idade. Nesses casos, observamos comprometimento na fala, na
marcha e nos movimentos funcionais. A dependência pode ocorrer quanto à
alimentação, higiene e locomoção.
Quando a lesão é localizada no cerebelo ou nas vias cerebelares, temos
a paralisia cerebral atáxica, com prejuízos no controle de equilíbrio e
coordenação dos movimentos, podendo apresentar marcha cambaleante,
incoordenação dos movimentos e dificuldade para atingir alvos.
Como pudemos perceber, a paralisia cerebral tem características
bastante específicas, principalmente nos aspectos motores; no entanto, algumas
observações com relação ao desenvolvimento do aluno com paralisia cerebral
devem ser consideradas:
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A maioria das orientações básicas para o atendimento do aluno com
paralisia cerebral funciona também para outros distúrbios ou dificuldades.
Devemos lembrar sempre que a criatividade e o entendimento das
potencialidades e limitações devem ser os norteadores de um trabalho eficiente
do educador.
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Em relação ao meio ambiente, observa-se que as dificuldades familiares
possam ser elementos desencadeadores, mas, aparentemente, não seriam a
causa primária desse transtorno.
Importante destacar ainda que a causa de TDAH relacionada a fatores
alimentares (uso de conservantes, corantes e açúcares; deficiência de
vitaminas), a problemas hormonais, ao uso de lâmpadas fluorescentes, dentre
outros, jamais foi comprovada cientificamente, sendo descrita pelos
especialistas como meros mitos e especulações.
Historicamente, esse transtorno já recebeu várias denominações: desde
Disfunção Cerebral Mínima, Síndrome da Reação Hipercinética da Infância,
Síndrome da Ausência de Controle Moral até os termos mais atuais, como as
siglas TDAH, DDA, DA/H. Seus subtipos estão todos reunidos formando as
siglas TDAH e DDA.
Nota-se que a expansão da percepção dos sintomas desse distúrbio é
recente, sendo o déficit de atenção a base de todo o processo; a hiperatividade
e a impulsividade agregaram-se aos poucos, conforme os estudos avançaram.
Podemos verificar em diversos estudos estatísticos que, com o
diagnóstico de TDAH, temos maior incidência de problemas educacionais. Esses
estudos indicam que o TDAH contribui em até 45% para a repetência escolar;
em até 14% nas suspensões e expulsões; em até 32% na desistência escolar;
em cerca de 70% nas notas abaixo da média, em aproximadamente 77% menos
ingressos no ensino superior e 5% a 35% em menor número de graduados.
Outros prejuízos sociais também são descritos nesse transtorno, como
problemas no ambiente profissional, com demissões mais frequentes, maior
troca de empregos e dificuldades com hierarquia; algumas influências na vida
sexual, incluindo início precoce, maior número de parceiros, relacionamentos de
curta duração, maior risco de gravidez na adolescência e maior risco de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
O TDAH apresenta alguns déficits, como o de memória operacional, o de
transferência de atenção da memória operacional (frontal) para a memória de
longa duração (hipocampo); o da excitação do lobo frontal; o de deficiência de
recompensa e o de inibição do comportamento. Também são observadas
alterações em quatro componentes da atenção: excitação, orientação motora,
detecção da novidade (recompensa) e organização executiva.
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3.1 Quais os sintomas do TDAH?
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complementares, prontuário clínico, testes psicométricos e linguísticos, escalas
comportamentais e também pelo DSM IV (2014), que fornece critérios para
diagnósticos e tratamentos das perturbações e doenças mentais.
Veja que não são apenas comportamentos desatentos ou hiperativos que
determinam esse transtorno.
Os tipos de TDAH e suas principais características seguem abaixo. Os
tipos assemelham-se muito nas características de base: início dos indicativos
antes dos sete anos; interferência em, no mínimo, dois ambientes (lar, escolar e
profissional); baixo rendimento acadêmico, social e profissional.
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3.2 Implicações educacionais
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Muitas ações podem amenizar os problemas e as dificuldades na
aprendizagem de uma criança com TDAH. As instituições escolares deverão se
adequar para subtrair esses problemas, revendo a política educacional e
inserindo ações de disciplina peculiar. Indispensável é uma comunicação eficaz
entre escola, família e profissionais especializados, com incessante atualização
daqueles que cuidam das crianças, os quais, com a equipe técnica, mediante
uma abordagem educacional, devem oferecer apoio teórico, pedagógico e
prático aos educadores, que devem adequar e aplicar novas metodologias e
técnicas de modo estratégico. Partindo do entendimento do transtorno, já se
pode evitar o preconceito, desencorajando outras crianças a tratarem os colegas
dessa forma, evitando julgamentos impróprios e afastamento e isolamento da
criança com TDAH.
Algumas providências simples podem trazer resultados bastante positivos,
como a amenização dos conflitos, dando à criança com TDAH chances de evoluir
suas habilidades. Algumas medidas que podem trazer resultados bem positivos
são:
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Para facilitar a escrita, permitir que digitem no computador ou outro
aparelho.
Dar valor ao conteúdo, e não à grafia ou letra da criança.
Em casos extremos de dificuldade na escrita, consentir respostas orais.
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Doenças e condições crônicas são fatores que também levam ao fracasso
escolar. A inconstância na sala de aula, o uso de medicamentos e tratamentos
e sentir dores são circunstâncias que não permitem a atenção necessária para
compreensão de conceitos básicos na escola.
Certamente, não poderia deixar de destacar a exposição à alfabetização
precoce, tema já discutido em aula anterior, que priva a criança em
desenvolvimento de experimentar o meio pela ludicidade, levando
frequentemente a dificuldades em séries mais avançadas.
Veja que todos esses fatores são frequentemente a origem de fracassos
escolares, devendo ser descartados antes de um possível diagnóstico de
distúrbios específicos de aprendizagem.
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planejamento de movimentos. As habilidades com a escrita dependem de
um desenvolvimento de habilidades linguísticas e integração visuomotora.
Também devemos destacar o envolvimento da memória no
armazenamento de regras da língua falada. Do ponto de vista
neuroanatomofuncional, essa dificuldade indica disfunção por diminuição
de tamanho ou quantidade de células nervosas em áreas como lobos
parietais, temporais e occipitais, causando um processamento lentificado.
Vale lembrar que não há nenhuma relação entre a disgrafia e prejuízo
intelectual. Na disgrafia, é frequente a escrita espelhada, omissão e
inversão de letras ou sílabas e orientação na escrita da direita para a
esquerda. Assim como a discalculia, a disgrafia pode se apresentar de
forma isolada ou em conjunto com a dislexia. Neste último caso, sua
origem será congênita
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Somente após o avanço tecnológico, a partir dos anos de 1960, a dislexia
passou a ser pesquisada em áreas das neurociências, ou seja, Neuropsicologia,
Neuroanatomia, Neurobiologia e Neurobioquímica.
Uma referência ao estudo da dislexia de desenvolvimento é o neurocientista
Albert Galaburda, que baseia suas pesquisas na área da Neurobiologia. Galaburda
(2006) identifica as evidências de distúrbios no desenvolvimento do córtex cerebral
não em uma área específica, mas generalizada. Galaburda (2006) também aponta
uma possível diminuição de neurônios no giro angular e de células menores nos
corpos geniculados. Isso, teoricamente, acarretaria um congestionamento de
informações, provocando dificuldades com fonemas e grafemas.
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A dislexia de desenvolvimento somente poderá ser constatada com base
em um diagnóstico por exclusão por uma equipe multidisciplinar, composta por
psicólogo, neuropsicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neuropediatra, além
de outros profissionais capacitados para o tratamento desse distúrbio.
O diagnóstico de dislexia não deve ser visto como uma justificativa para o
fracasso escolar, mas sobretudo como uma direção para o estabelecimento de
um programa de reeducação para a criança nessa condição.
A dislexia não tem características comuns a todos, pois podemos ter uma
combinação de sinais e sintomas bastante diferentes para cada disléxico. Ainda
que a dislexia tenha como principal característica o distúrbio de leitura e escrita,
nem todo distúrbio de leitura e escrita é dislexia.
A biografia da criança é essencial para a compreensão de suas
dificuldades; para tanto deverão ser realizadas entrevistas com os pais ou
responsáveis e com a própria criança. A biografia deverá contar também com
um relatório detalhado do educador, que, com sua experiência e observação,
terá uma contribuição significativa no entendimento do quadro da criança.
O uso de testes visuomotores, neuropsicológicos e de personalidade
poderá revelar comprometimentos na inteligência, indícios de lesões
neurológicas e comprometimentos emocionais, possibilitando o diagnóstico de
outros distúrbios que, ainda que apresentem um comprometimento no processo
de aprendizagem, descartam a possibilidade de um diagnóstico de dislexia. Um
teste de inteligência poderá determinar as habilidades globais de aprendizagem
do indivíduo.
Sabendo que as pessoas com dislexia têm dificuldades para decodificar,
leitura lenta e dificuldade para memorizar ou armazenar a informação lida,
tornando a leitura uma tarefa complicada, é imprescindível um teste de leitura e
escrita.
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Dislexia disfonética: dificuldade na percepção auditiva, na análise e
síntese de fonemas, dificuldades temporais, nas percepções de sucessão
e duração, apresentando maior dificuldade na escrita.
Dislexia diseidética: maior dificuldade na leitura, tendo como característica
principal a dificuldade na percepção visual, na análise e síntese de
fonemas, como a leitura silábica, sem conseguir a síntese das palavras.
Dislexia visual: deficiência na percepção visual e na coordenação
visuomotora; a pessoa com esse tipo de dislexia não consegue visualizar,
ou seja, processar neurologicamente o fonema, como se sons e letras
semelhantes se misturassem no cérebro.
Dislexia auditiva: seu eixo principal é a deficiência na percepção e
memória auditiva, fazendo que haja grande dificuldade em processar
auditivamente o fonema.
Dislexia mista: combinação de quaisquer dos tipos apresentados
anteriormente.
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FINALIZANDO
LEITURA COMPLEMENTAR
SIGNOR, R. Dislexia: uma análise histórica e social. Rev. Bras. Linguist. Apl.
Belo Horizonte, v. 5, n. 4, 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982015000400971>. Acesso em: 7 set. 2018.
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Saiba mais
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REFERÊNCIAS
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