Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
História da Educação
Infantil e Políticas
Públicas
Profª Shirley Rodrigues Maia
1
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Concepção de Infância 3
Referências Bibliográficas 9
A Criança na Constitutição 26
Educação 26
Direitos Sociais 26
Seguridade Social 26
Direitos da Criança 27
Lei de Diretrizes e Bases 27
Referências Bibliográficas 31
2
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
3
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
4
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as bruta do conhecimento é ‘arrecadada’, pois que é no
informações que lhe interessam deixando outras processo de construções sucessivas resultantes da
que não lhe são tão importantes, visando sempre relação sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o
a restabelecer a equilibração do organismo. pensamento lógico.
• A acomodação, por sua vez, consiste na É bom considerar, ainda, que, na medida em
capacidade de modificação da estrutura mental que toda experiência leva em graus diferentes a um
antiga para dar conta de dominar um novo objeto processo de assimilação e acomodação, trata-sede
do conhecimento. Quer dizer, a acomodação entender que o mundo das idéias, da cognição, é um
representa “o momento da ação do objeto sobre mundo inferencial. Para avançar no desenvolvimento
o sujeito” emergindo, portanto, como o elemento é preciso que o ambiente promova condições para
complementar das interações sujeito-objeto. Em transformações cognitivas, id est, é necessário que
síntese, toda experiência é assimilada a uma se estabeleça um conflito cognitivo que demande um
estrutura de idéias já existentes (esquemas) esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o
podendo provocar uma transformação nesses equilíbrio do organismo seja restabelecido, e assim
esquemas, ou seja, gerando um processo de sucessivamente.
acomodação.
Os estágios do desenvolvimento descritos por
Como observa Rappaport (1981:56): Piaget (1979) para a criança na educação infantil:
ocorre por estágios, ocorrendo uma modificação
Os processos de assimilação e acomodação são progressiva dos esquemas de assimilação,
complementares e acham-se presentes durante toda a promovendo diferentes experiências para a criança
vida do indivíduo e permitem um estado de adaptação interagir com o meio, ou seja, de organizar seus
intelectual. É muito difícil, se não impossível, imaginar conhecimentos visando sua adaptação.
uma situação em que possa ocorrer assimilação sem
acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a Os estágios evoluem como uma espiral, de modo
outro já conhecido, ou uma situação é exatamente que cada estágio engloba o anterior e o amplia.
igual à outra. Ele não define idades rígidas para os estágios, mas
sim que estes se apresentam em uma seqüência
O processo de equilibração pode ser definido constante.
como um mecanismo de organização de estruturas
cognitivas em um sistema coerente que visa a levar • Período sensório-motor (0 a 2 anos): invenção
o indivíduo a construção de uma forma de adaptação de novos meios por meio de combinações mentais
à realidade. Haja vista que o “objeto nunca se deixa (18 a 24 meses).
compreender totalmente” Piaget (1979), o conceito
de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na • Período das operações concretas (2 a 12 anos)
medida em que a constituição do conhecimento ou pré-operacional (2 a 7 anos), especificamente
coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos o pré-conceitual (2 a 4 anos).
constantes que movimentam o organismo no sentido
de resolvê-los. Neste período, após a experimentação ativa que
ocorreu no subestágio anterior, a criança internaliza
Em última instância, a concepção do as ações realizadas. A grande passagem do estágio
desenvolvimento humano, na linha piagetiana, deixa sensório-motor para o pré-operacional é quando
ver que é no contato com o mundo que a matéria a criança passa a representar mentalmente as
5
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
experiências que foram adquiridas. Por meio do início Este estágio é muito longo, indo aproximadamente
do pensamento, da coordenação de representações da idade de dois anos até os doze. Está subdividido
ou imagens que adquiriu, ocorre um grande em dois subestágios:
desenvolvimento da sua relação com o mundo.
A noção de permanência foi adquirida, a criança a) subestágio pré-operacional (± 2 a 7
lembra-se das pessoas e dos objetos mesmo que não anos).
estejam presentes naquele momento, pede coisas
que quer que lembrem. b) subestágio das operações concretas (± 7
a 12 anos).
Por exemplo: aquele pirulito que viu na rua, na
brincadeira de esconde-esconde procura objetos por Veremos neste projeto somente o preconceitual
meio das pistas em que viu serem escondidos. Não (2 a 5 anos) que se encontra dentro do subestágio
desiste facilmente de seus projetos. pré-operacional.
6
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
características básicas, que serão enumeradas a graça e harmonia; salta, corre, usa os aparelhos do
seguir: parquinho (balanço, escorregador, gangorra), sobe e
desce escadas. É o início do uso de triciclos e outros
a) egocentrismo: É a tendência da criança de tipos de veículos similares. Os movimentos finos se
ligar tudo que lhe acontece com seus sentimentos tornam mais preciosos, com o uso das duas mãos,
e ações. Ela pensa que tudo tem a ver com suas coordenado ou dissociados: a criança enfia contas,
vontades e ocorre por causa de alguma coisa que rosqueia, empilha e encaixa.
tenha feito. É incapaz de ver o ponto de vista do
outro. (por exemplo: à noite, quando eu durmo, o Neste período, ocorre um planejamento da ação,
mar pára; se eu apagar a luz e ficar escuro, o mar há uma substituição da ação ao acaso por uma
também vai dormir.) ação coordenada, preestabelecida mentalmente.
As peças dos quebra-cabeças são encaixadas num
b) centração: a criança, para dar resposta a um determinado lugar e não ao acaso, como no estágio
problema, considera só um aspecto de cada vez. anterior.
7
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Inicia-se a definição das coisas à sua volta pela O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)
sua função, isto é, para que servem as coisas. Às trata-se de uma lei que vem tratar dos direitos
vezes, os objetos recebem um nome pela sua função referentes à criança e ao adolescente, todas as
(“corta/corta’ e a faca). normas reunidas neste documento têm o intuito
de proteger integralmente crianças e adolescentes
Começa a se interessar por livros com figuras que e são devidamente fundamentadas e baseadas
identifica a partir da sua experiência: por isto, as nas diretrizes regidas pela Constituição Federal
figuras devem ser o mais próximo do real. datada do ano de 1988, mas também cabe ressaltar
que internalizou normas de âmbito internacional
O jogo simbólico inicia-se neste período a partir provenientes da ONU.
da imitação do dia a dia. Depois, a criança simboliza,
atribuindo características pessoais e interpretações
próprias à realidade, envolvendo sua percepção de
mundo. Bonecos, objetos que representam coisas de
casa, como panelinhas, mobília, vassoura, etc., já é
fonte de grande prazer para a criança e ela brinca
com eles de forma semelhante ao que vê a sua volta.
8
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Com a Educação Inclusiva muitos alunos tem sido Na Idade Média e Moderna, existiam as “rodas”
inseridos nos programas e com atenção para dar ( cilindros ocos de madeira, giratórios ), construídos
condições de acesso e permanência no sistema de em muros de igrejas ou hospitais de caridade, onde
ensino. as crianças deixadas eram recolhidas. Dentro dessa
perspectiva, fica evidenciado nas palavras de Oliveira
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS que:
9
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
10
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Começa a se delinear um atendimento com forte Essa perspectiva sócio-interacionista tem como
caráter assistencialista. principal teórico Vigotsky, que enfatiza a criança
como sujeito social, que faz parte de uma cultura
Nos anos 70, o Brasil absorve as teorias concreta (OLIVEIRA, 2002).
desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa, que
sustentavam que as crianças das camadas sociais Há um fortalecimento da nova concepção de
mais pobres sofriam de “privação cultural”e eram infância, garantindo em lei os direitos da criança
colocadas para explicar o fracasso escolar delas, esta enquanto cidadã. Cria-se o ECA (Estatuto da Criança
concepção vai direcionar por muito tempo a Educação e do Adolescente); a nova LDB, Lei nº9394/96,
Infantil, enraizando uma visão assistencialista e incorpora a Educação Infantil como primeiro nível da
compensatória, como afirma Oliveira: Educação Básica, e formaliza a municipalização dessa
etapa de ensino.
“conceitos como carência e marginalização
cultural e educação compensatória foram então Em 1998, é criado RCNEI (Referencial Curricular
adotados, sem que houvesse uma reflexão crítica Nacional para Educação Infantil), um documento que
mais profunda sobre as raízes estruturais dos procura nortear o trabalho realizado com crianças de
problemas sociais. Isso passou a influir também 0 à 6 anos de idade. Ele representa um avanço na
nas decisões de políticas de Educação Infantil busca de se estruturar melhor o papel da Educação
(OLIVEIRA, 2002:109). Infantil, trazendo uma proposta que integra o cuidar
e o educar, o que é hoje um dos maiores desafios da
Dessa forma, pode-se observar a origem do
Educação Infantil. É preciso afirmar que as propostas
atendimento fragmentado que ainda faz parte da
trazidas pelo RCN só podem se concretizar na medida
Educação Infantil destinada às crianças carentes, uma
em que todos os envolvidos no processo busquem a
educação voltada para suprir supostas“carências”, é
efetiva implantação das novas propostas, se não ele
uma educação que leva em consideração a criança
vai se tornar apenas um conjunto de normas que não
pobre como um ser capaz, como alguém que não
saem do papel.
responderá aos estímulos dados pela escola.
11
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
surgido um novo perfil de educador para essa etapa de Conhecendo cada vez mais a personalidade de
ensino. Não seria cobrado dele especificidade no seu seus alunos, Freinet foi percebendo que existiam
campo de atuação, e a criança permaneceria com um outras formas de melhorar o relacionamento entre as
atendimento voltado apenas para questões físicas, crianças e ele próprio.
tendo suas outras dimensões, como a cognitiva, a
emocional e a social despercebidas. Começou a questionar a eficiência das rígidas
normas educacionais: filas, horários e programas
Não se pode perder de vista, que o conceito de exigidos oficialmente. Para ele ficou claro que o
infância construído pela humanidade ocasionou uma interesse das crianças estava fora da sala de aula e
padronização da criança, como se esta fosse um percebeu que nos momentos da leitura dos livros de
ser universal, sem características próprias de cada classe o desinteresse era total.
sociedade e de cada contexto histórico.
Questiona, então, que se o interesse das crianças
Por isso, a Educação infantil terminou sendo um está lá fora, porque ficar dentro da classe?
bem da criança burguesa, e uma proposta distante
das crianças pobres. Apesar da Educação Infantil Então surge a ideia da aula-passeio, onde Freinet
no Brasil ter sido institucionalizada como direito das decide dar aulas onde seus alunos se sentiam felizes,
crianças, poucas têm acesso a um atendimento de fora da sala de aula. Saíam então para observar o
qualidade, com professores que desconhecem os trabalho de um marceneiro, passear pelos campos
pressupostos pedagógicos que devem direcionar o que despertavam o interesse das crianças em
trabalho com crianças pequenas, descaracterizando como as flores abriam na primavera, etc.. Na volta
a especificidade da Educação Infantil. dos passeios a atmosfera era outra. Não havia a
tradicional separação entre professor e alunos: todos
TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL se comunicavam num tom familiar, discorrendo sobre
os elementos de cultura adquiridos.
FREINET:
“A atividade espontânea, pessoal e
produtiva, eis o ideal da escola ativa... Partir
da atividade espontânea das crianças; partir
de suas atividades manuais e construtivas;
partir de suas atividades mentais, de suas
afeições, de seus interesses, de seus gostos
predominantes; partir de suas manifestações
morais e sócias tais como se apresentam na
vida livre e natural de todos os dias, segundo
as circunstâncias, os acontecimentos previstos
Fonte da imagem: http://www. ou imprevistos que sobrevêm eis o ponto inicial
pedagogiaemfoco.pro.br/freinet.jpg da educação”.
É um teórico que se diferencia dos outros pelo Naquele passeio eles entravam em contato com a
fato de desenvolver uma pedagogia diferente, ou geografia, a história, com as ciências, o que significava
seja, que partia da vontade e interesse dos próprios um despertar para a compreensão do mundo. Como
alunos a fim de propiciar relações mais autônomas, dizia Freinet, era a escola que tinha se aberto para
críticas, democráticas e livres. a vida.
12
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
13
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
companheiros mais capacitados. Essa possibilidade ambiente cultural é parte essencial de sua própria
de alteração no desenvolvimento de uma pessoa constituição enquanto pessoa. È impossível pensar
pela interferência de outra é fundamental na teoria o ser humano privado de contato com um grupo
de Vygotsky; isto porque representa um momento de cultural que lhe fornecerá os instrumentos e signos
desenvolvimento: não é qualquer indivíduo que pode, que possibilitarão o desenvolvimento das atividades
a partir da ajuda de outro, realizar qualquer tarefa, psicológicas mediadas. O desenvolvimento da
isto é, a capacidade de se beneficiar da colaboração espécie humana e do indivíduo está baseado no
de uma outra pessoa vai ocorrer num certo nível de aprendizado que para Vygotsky sempre envolve a
desenvolvimento, não antes. interferência, direta ou indireta, deoutros indivíduos
e a reconstrução pessoal da experiência e dos
A idéia de nível de desenvolvimento capta, assim, significados.
um momento do desenvolvimento que caracteriza
não as etapas já alcançadas, já consolidadas, mas PIAGET:
etapas posteriores, nas quais a interferência de
outras pessoas afeta significativamente o resultado
da ação individual.
14
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
basicamente do conhecimento e procurou estudar sujeito irá modificar suas estruturas antigas para
cientificamente quais os processos que o indivíduo poder dominar uma nova situação.
usa para reconhecer a realidade. Considera que só
o conhecimento possibilita ao homem um estado de A este processo de modificação de estruturas
equilíbrio interno que o capacita a adaptar-se ao meio antigas com vistas à solução de um novo problema de
ambiente. Assim, sua obra é de epistemologia genética ajustamento a uma nova situação, Piaget denomina
e mostra como o conhecimento se desenvolve, desde acomodação e, no momento em que a criança
as rudimentares estruturas mentais do recém-nascido conseguir dominar adequadamente o segundo
até o pensamento lógico-formal do adolescente. veículo, diremos que se acomodou a ele e, portanto
adaptou-se a esta nova exigência da realidade.
Piaget passou a observar, portanto, o
desenvolvimento de seus próprios filhos, registrando Esquema é uma unidade estrutural básica de
suas reações desde os primeiros dias de vida. pensamento ou ação que corresponde à estrutura
biológica que muda e se adapta. O termo esquema
Através do método clínico, que eram entrevistas pode referir-se tanto a uma seqüência específica de
que fazia com as crianças, Piaget aprofundava o ações motoras realizadas por um bebê até estratégias
conhecimento dos processos mentais das crianças. mentais que utilizamos para a solução de problemas.
15
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
16
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
senhores de terra possuíam um poder quase que criança. Essas duas atitudes começam a modificar a
monárquico nos seus domínios, construindo suas leis, base familiar existente na Idade Média, dando espaço
sua cultura, suas moedas, seus valores etc. A Igreja e para o surgimento da família burguesa.
o Estado serviam para legitimação política e limitação
dos poderes dos senhores feudais. Nesta época, a Na Idade Moderna, a Revolução Industrial,
criança era considerada um pequeno adulto, que o Iluminismo e a constituição de Estados laicos
executava as mesmas atividades dos mais velhos. As trouxeram modificações sociais e intelectuais,
mesmas possuíam pequena expectativa de vida por modificando a visão que se tinha da criança. A criança
causa das precárias formas de vida. O importante era nobre é tratada diferentemente da criança pobre.
a criança crescer rápido para entrar na vida adulta. Tinha-se amor, piedade e dor por essa criança.
Havia um direcionamento para as crianças de sete Lamentava-se a morte de dela, guardando retratos
anos, ou seja, a criança (tanto rica quanto pobre) era para torná-la imortal. A criança da plebe não tinha
colocada em outra família para aprender os trabalhos esse tratamento.
domésticos e valores humanos, através de aquisição
de conhecimento e experiências práticas. Surgem as primeiras propostas de educação
e moralização infantil. Se na sociedade feudal, a
A experiência de ir para outra casa fazia com criança começava a trabalhar como adulto logo que
que a criança saísse do controle da família genitora, passa a faixa da mortalidade, na sociedade burguesa
não possibilitando a criação do vinculo e assim o ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada,
desenvolvimento do sentimento entre pais e filhos. escolarizada e preparada para uma atuação futura.
Naquela época os colégios existentes, eram dirigidos Essa missão é incumbida aos colégios, muitos leigos,
pela Igreja, eram reservados para um pequeno grupo abrindo portas para os leigos, nobres, burgueses e
de clérigos (principalmente do sexo masculino), de classes populares (não misturando as classes – surge
todas as idades. a discriminação entre o ensino de rico e de pobre).O
ensino é, primeiramente, para os meninos (meninas,
As roupas dos adultos e das crianças não eram só a partir do século XVIII).
diferenciadas pelas características da idade como
acontece nos dias de hoje e sim pelas classes sociais. A educação se torna mais pedagógica, menos
empírica. Nessa época surge o castigo corporal como
A partir do século XIII, há um crescimento das forma de educação (disciplinar), por considerar a
cidades devido ao comércio. A Igreja Católica perde criança frágil e incompleta. É utilizado tanto pelas
o poder com o surgimento da burguesia, sendo este famílias quanto pelas escolas. Isso legitimava o
o responsável pela assistência social. Concentra-se a poder do adulto sob criança. Com a educação e
pobreza. com os castigos, crianças e adolescentes foram se
unindo cada vez mais devido ao mesmo tratamento,
E a partir do século XVI, descobertas científicas passando a se distanciar da vida adulta.
provocaram o prolongamento da vida, ao menos da
classe dominante. Neste mesmo momento surgem Também surgem as primeiras creches para
duas atitudes contraditórias no que se refere à abrigarem filhos das mães que trabalhavam na
concepção de criança: uma a considera ingênua, indústria.
inocente e é traduzida pela paparicação dos adultos;
enquanto a outra a considera imperfeita e incompleta
e é traduzida pela necessidade do adulto moralizar a
17
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Também surgem as primeiras creches para E para resolver esse problema, criaram-se os
abrigarem filhos das mães que trabalhavam na programas de cunho compensatório para suprir as
indústria. deficiências de saúde, nutrição, educação e as do
meio sócio cultural.
A partir da segunda metade do século XVII, a
política escolar retardou a entrada das crianças nas Essa educação compensatória começou no século
escolas para os dez anos. A justificativa para isso XIX com Pestalozzi, Froebel, Montessori e McMillan.
era que a criança era considerada fraca, imbecil e
incapaz. A pré-escola era encarada por esses pensadores
como uma forma de superar a miséria, a pobreza, a
No capitalismo, com as mudanças científicas e negligência das famílias.
tecnológicas, a criança precisava ser cuidada para
uma atuação futura. A sociedade capitalista, através Mas sua aplicação ocorreu efetivamente no século
da ideologia burguesa, caracteriza e concebe a XX, depois muitos movimentos que indicavam o
criança como um ser a - histórico, acrítico, fraco e precário trabalho desenvolvido nesse nível de ensino,
incompetente, economicamente não produtivo, que prejudicando a escola elementar.
o adulto deve cuidar. Isso justifica a subordinação da
criança perante o adulto. A educação pré-escolar começou a ser
reconhecida como necessária tanto na Europa
Na educação, cria-se o primário para as classes quanto nos Estados Unidos durante a depressão
de 30. Seu principal objetivo era o de garantir
populares, de pequena duração, com ensino
emprego a professores, enfermeiros e outros
prático para formação de mão-de-obra; e o ensino
profissionais e, simultaneamente, fornecer
secundário para a burguesia e para a aristocracia, de
nutrição, proteção e um ambiente saudável e
longa duração, com o objetivo de formar eruditos,
emocionalmente estável para crianças carentes
pensantes e mandantes. No final do século XIX, de dois a cinco anos de idade. (idem – p26)
difunde o ensino superior na classe burguesa.
E somente depois da Segunda Guerra Mundial é
As aspirações educacionais aumentam à
que o atendimento pré-escolar tomou novo impulso,
proporção em que ele acredita que a escolaridade
pois a demanda das mães que começaram a trabalhar
poderá representar maiores ganhos, o que
nas indústrias bélicas ou naquelas que substituíam
provoca frequentemente a inserção da criança
o trabalho masculino aumentou. Houve uma
no trabalho simultâneo à vida escolar. (...) A
educação tem um valor de investimento a médio preocupação assistencialista-social, onde se tinha
ou longo prazo e o desenvolvimento da criança a preocupação com as necessidades emocionais e
contribuíra futuramente para aumentar o capital sociais da criança. Crescia o interesse de estudiosos
familiar. (Sônia Kramer, 1992 - p23). pelo desenvolvimento da criança, a evolução da
linguagem e a interferência dos primeiros anos em
atuações futuras. A preocupação com o método de
E por causa da fragmentação social, a escola ensino reaparecia.
popular se tornou deficiente em muitos aspectos.
O padrão de criança era a criança burguesa, mas
nem todas eram burguesas, nem todas possuíam
uma bagagem familiar que aproveitada pelo sistema
educacional.
18
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
19
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Da década de 60 e meados de 70, tem-se um e segurança física, sendo muito vezes prestado
período de inovação de políticas sociais nas áreas de de forma precária e de baixa qualidade enquanto
educação, saúde, assistência social, previdência etc. as creches particulares desenvolviam atividades
Na educação, o nível básico é obrigatório e gratuito, o educativas, voltadas para aspectos cognitivos,
que consta a Constituição. Há a extensão obrigatória emocionais e sociais.
para oito anos esse nível, em 1971. Neste mesmo
ano, alei 5692/71 traz o princípio de municipalização Consta-se um maior número de creches
do ensino fundamental. Contudo, na prática, muitos particulares, devido à privatização e à transferência
municípios carentes começaram esse processo sem de recursos públicos para setores privados.
ajuda do Estado e da União.
Nos anos 80, os problemas referentes à educação
Em 1970 existe uma crescente evasão escolar e pré-escolar são: ausência de uma política global e
repetência das crianças das classes pobres no primeiro integrada; a falta de coordenação entre programas
grau. Por causa disso, foi instituída a educação educacionais e de saúde; predominância do enfoque
pré-escolar (chamada educação compensatória) preparatório para o primeiro grau; insuficiência
para crianças de quatro a seis anos para suprir as de docente qualificado, escassez de programas
carências culturais existentes na educação familiar inovadores e falta da participação familiar e da
da classe baixa. sociedade.
20
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
deixando o ensino de baixa qualidade, favorecendo ...Uma, defende a acolhida de crianças nas
as privatizações. instituições desde muito cedo, ainda antes de ela
completar um ano de idade, como conseqüência
Com a Constituição de 88 tem-se a construção de das exigências de realização pessoal das mães e
um regime de cooperação entre estados e municípios, dos ganhos da educação coletiva. Essa atitude se
nos serviços de saúde e educação de primeiro grau. intensifica cada vez mais nos últimos tempos a
Há a reafirmação da gratuidade do ensino público em partir das conquistas obtidas pelos movimentos
todos os níveis, além de reafirmar serem a creche feministas.
21
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
de vocabulário, devido à convivência desde cedo em das favelas procuraram criar espaços coletivos para
diferentes ambientes (Haddad, 2006; Relatório efa- acolher suas crianças, organizando creches e pré-
2006; Griffin, 2006). escolas comunitárias.
A criança que freqüenta a educação infantil tem, Para tal, construíram e adaptaram prédios com
em média, um ano a mais de escolaridade do que seus próprios e parcos recursos, o que seguem
aquela que ingressou na escola diretamente no fazendo na ausência do Estado (mec; 2006).
ensino fundamental. E tem 32% a mais de chances
de concluir o ensino médio (mec, 2006). A Constituição de 1988 representou um gran de
avanço, ao estabelecer como dever do Estado, por
No entanto, há outras concepções em voga meio dos municípios, a garantia à educação infantil,
na atualidade. Particularmente interessante é a com acesso para todas as crianças de 0 a 6 anos a
visão decorrente do desenvolvimento de uma nova creches e pré-escolas. Essa conquista da sociedade
«sociologia da infância».Esta visão está presente significou uma mudança de concepção. A educação
na convenção de direitos da criança (2005) que infantil deixava de se constituir em caridade para
concebe-a como um sujeito de direito, com voz se transformar, ainda que apenas legalmente, em
própria e entende a educação infantil como uma obrigação do Estado e direito da criança.
etapa de desenvolvimento, uma etapa importante
para o momento presente da criança e não um Tanto as pesquisas e os estudos quanto as
«investimento» em longo prazo como na tradicional pressões da sociedade civil organizada reafirmaram
visão centrada na formação de capital humano esses valores na ldb, promulgada em 1996, que
(Haddad, L. 2002; Trisciuzzi, L. e Cambi, F. 1993). considera a educação infantil a primeira etapa da
Educação Básica. Na LDB, a construção de novas
Devido ao amplo reconhecimento da contribuição unidades e a conservação das instalações escolares
da pré-escola para as crianças (independentemente foi incluída nos orçamentos de educação com o
da visão adotada), e para o sistema educacional objetivo de aumentar quantitativa e qualitativamente
como um todo, alguns países, como por exemplo, a oferta deste serviço.
o México, já incluíram este segmento como etapa
obrigatória da educação. A partir daí, uma série de documentos legais é
produzida com o objetivo de definir critérios de
No Brasil, ainda não se dá esta obrigatoriedade. A qualidade das unidades destinadas à educação da
história de atendimento à criança em idade anterior criança de 0 a 5 anos. Entretanto, particularmente
à escolaridade obrigatória foi marcada, em grande quanto a estes aspectos, atendimento e instalações,
parte, por ações que priorizaram a guarda das ainda há sérios problemas a serem enfrentados,
crianças. conforme o diagnóstico apresentado no Plano
Nacional de Educação.
Em geral, a educação infantil, e em particular as
creches, destinava-se ao atendimento de crianças É importante ressaltar, entretanto, uma mudança
pobres, isto é, os serviços prestados – sejam recente feita na legislação: até o ano de 2005, o
pelo poder público ou por entidades religiosas e atendimento obrigatório focava crianças de 7 a 14
filantrópicas – não eram considerados um direito das anos, mas, a partir da Lei 11.274/2006, foi feita a
crianças e de suas famílias, mas sim uma doação, inclusão de mais um ano e estendido o atendimento a
que se fazia sem grandes investimentos. Além dessas crianças de 6 anos. Esta foi uma medida importante,
iniciativas, também as populações das periferias e na perspectiva da garantia do direito à educação e da
22
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
existência de oferta correspondente à demanda, ao além de servir como guardiãs de crianças órfãs e
considerar a diferença entre a matrículas de crianças filhas de trabalhadores. Nesse sentido, a pré-escola
até 1 ano e o de crianças com 6 anos]. tinha como função principal a guarda das crianças.
Concluindo, a educação infantil é muito nova, No século XIX, uma nova função passa a ser
sendo aplicada realmente no Brasil a partir dos anos atribuída a pré-escola, mais relacionada à idéia
30, quando surge a necessidade de formar mão-de- de“educação” do que a de assistência. A função
obra qualificada para a industrialização do país. dessa pré-escola era a de compensar as deficiências
das crianças, sua miséria, sua pobreza, a negligência
Hoje com as novas normas muitas instituições de suas famílias.
em São Paulo, estão melhorando o seu atendimento,
tendo em seu corpo de professores, profissionais
formados para cumprir a legislação vigente, para
atender de fato as necessidades das crianças da A elaboração da abordagem da privação cultural
Educação Infantil veio fundamentar e fortalecer a crença na pré-escola
como instância capaz suprir as “carências” culturais,
lingüísticas e afetivas das crianças provenientes das
classes populares.
23
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
escolar, e que não foram transmitidos por seu meio hábitos significa treinar, condicionar a regras e
social imediato. padrões estabelecidos, enquanto que, propiciar o
jogo criativo, num clima “espontâneo e livre” requer
A pré-escola, dentro desta visão, serviria para flexibilidade e possibilidade de invenção.
prever estes problemas (carências culturais,
nutricionais, afetivas), proporcionando a partir daí a Mas, numa análise mais cautelosa, podemos
igualdade de chances a todas as crianças, garantindo perceber que essas duas finalidades não se opõem,
seu bom desempenho escolar. ao contrário, elas se baseiam na mesma concepção
abstrata e genérica de criança, já que não leva em
Nos últimos anos, portanto, se ampliou o consideração a sua inserção social. Tratam de uma
questionamento dos programas compensatórios na infância fora da história.
medida em que se foi estabelecendo um consenso
de que não prestam um benefício efetivo às crianças Os dois enfoques se assemelham, na medida
das classes populares, servindo, muito ao contrário, em que falta a ambos, a percepção das crianças
para discriminá-las e marginalizá-las com maior como sendo parte da totalidade que as envolve.
precocidade. E é justamente essa ausência (nada casual, mas
vinculada a toda uma visão idealista e liberal de
É necessário, portanto, reivindicar uma pré-escola criança, de educação e de sociedade) que a instância
de qualidade, pois se os filhos das classes médias a pedagógica pode preencher, substituindo uma prática
conseguem via rede privada (com grandes sacrifícios, “formadora permissiva” por uma prática política e
é verdade, mas ainda possível de ser obtida), os social.
filhos das classes populares têm direito a mais do
que meros depósitos. Quando dizemos que a pré-escola tem uma função
pedagógica, estamos nos referindo, portanto, a um
Assim, se por trás do interesse oficial podemos ver trabalho que toma a realidade e os conhecimentos
um avanço no sentido de uma maior democratização a infantis como ponto de partida e os amplia, através
pré-escola, é preciso, mais do que nunca, apontarmos de atividades que têm um significado concreto para a
para um tipo de pré-escola que esteja a serviço das vida das crianças e que, simultaneamente, asseguram
crianças das classes populares. Nem depósito, nem a aquisição de novos conhecimentos.
corretora de carências, a pré-escola tem uma outra
função, que necessita ser explicitada e concretizada; Desta forma, um programa que pretenda atingir
a função pedagógica. tais objetivos não pode prescindir de capacitação dos
recursos humanos nele envolvidos, nem tampouco
No que diz respeito, porém, a pré-escola, tal de supervisão constante do trabalho.
formação de habito é considerada praticamente
inquestionável, função básica das atividades A capacitação (prévia e em serviço) e a supervisão,
desenvolvidas. Por outro lado, revela-se também aliados à dotação de recursos financeiros específicos,
como fundamental na pré-escola o incentivo à bem como à definição da vinculação trabalhista dos
criatividade e as descobertas das crianças, ao jogo e recursos humanos, se constituem em condições
à espontaneidade, que deveriam permear as relações capazes de viabilizar, então, um tipo de educação
infantis. pré-escolar que não apenas eleve seus números,
mas, principalmente, a qualidade do serviço prestado
Numa visão apressada, esses dois objetivos à população.
poderiam nos parecer contraditórios afinal, formar
24
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Alfabetizar não se restringe à aplicação de rituais uma parte integrante do processo, que é beneficiada
repetitivos da escrita, leitura e cálculo. Ela começa no pelas etapas anteriores.
momento da própria expressão, quando as crianças
falam de sua realidade e identificam os objetos que Nossa ênfase recai sobre o papel efetivo que a pré-
estão ao seu redor. escola desempenha, do ponto de vista pedagógico,
garantindo às crianças a aquisição gradativa de
O objetivo primordial é a apreensão e a novas formas de expressão e reconhecimento-
compreensão do mundo, desde o que está mais representação de seu mundo.
próxima a criança até o que lhe está mais distante,
visando à comunicação, à aquisição de conhecimentos, Se uma pessoa não fala, nossa atuação se dirige
à troca. antes a proporcionar sua fala do que a ensiná-la a
falar corretamente. Corrigir seus erros, antes que ela
Assim, se as atividades realizadas na pré-escola possa falar, é levá-la a se calar...
enriquecem as experiências infantis e possuem um
significado para a vida das crianças, elas podem Similarmente, assegurar a compreensão por
favorecer o processo de alfabetização, quer ao nível parte da criança de que ela lê quando identifica um
do reconhecimento e representação dos objetos e objeto, um gesto, um desenho, uma palavra e ainda
das suas vivências, quer a nível da expressão de seus propiciar a confiança dessa criança na sua própria
pensamentos e afetos. capacidade de entender e se expressar sobre seu
mundo, precede o ensino das técnicas de leitura e
escrita e, indubitavelmente, o beneficia.
Mas as formas de representação e expressão vão Destacando-se para assumir o ponto de vista da
se diversificando, aos poucos, e se complexificando: criança enquanto avalia caminhos capazes de se
de início são motoras e sensoriais (aparecem mostrarem mais produtivos para ela, o professor pode
basicamente com ação); em seguida, simbólicas criar um ambiente educativo que propicie a realização
(aparece como imitação, dramatização, construção, de atividades significativas em que a criança procura
modelagem, reconhecimento de figuras e símbolos, explicar o mundo em que vive e compreender a si
desenho, linguagem); posteriormente são codificadas mesma.
(aparecem como leitura e escrita).
A Educação Infantil visa o apoio do desenvolvimento
Compreender que a alfabetização tem esse caráter da criança, mas ao passar para as series iniciais
dinâmico de construção significa compreender que as crianças tem uma quebra nas diretrizes do
os mecanismos da leitura e da escrita se constitui desenvolvimento e na construção de conhecimento
25
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
26
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Grande parte dos programas existente da creche e habilitação legal em curso normal médio ou de nível
da pré-escola funciona através de repasses de verbas superior (art. 62).
para entidades privadas.
Pelo art. 30 da L.D.B., ficou clara a divisão
Portanto, a possibilidade de repasse de verbas tem da educação infantil em duas etapas. A primeira
representado uma evasão considerável dos recursos destinada a crianças de até 3 anos de idade, poderá
públicos disponíveis para a educação, desvalorizando ser oferecida em creches ou entidades equivalentes.
a rede pública. A 2ª, para as crianças de 4 a 6 anos de idade, a ser
desenvolvida em pré-escolas.
Direitos da Criança
A lei, em seu art. 31, determinou que, na fase
O art. 227 define, mais abrangentemente, os de educação infantil, a avaliação deverá ser feita
direitos da infância brasileira: “É dever da família, apenas mediante acompanhamento e registro do
da sociedade e do Estado assegurar à criança desenvolvimento da criança e sem qualquer objetivo
e ao adolescente, com absoluta prioridade, de promoção ou de classificação para acesso ao
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à ensino fundamental.
educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e CURIOSIDADE NA HISTÓRIA DA
a convivência familiar comunitária”. EDUCAÇÃO INFANTIL
À promulgação da nova Carta é verificada Fonte deste artigo: Revista Escola
a tarefa de elaborar legislação complementar,
formular políticas sociais, estabelecer prioridades Maria Montessori - A médica que
orçamentárias e expandir o atendimento em creches valorizou o aluno
e pré-escolas.
Segundo a visão pedagógica da pesquisadora
Lei de Diretrizes e Bases italiana, o potencial de aprender está em cada um
de nós.
A educação infantil foi conceituada, no art. 29 da
L.D.B., como sendo destinada às crianças de até 6
anos de idade, com a finalidade de complementar
a ação da família e da comunidade, objetivando o
desenvolvimento integral da criança nos aspectos
físicos, psicológicos, intelectuais e sócias.
27
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
profundamente esse método ou sua fundadora, a A educadora acreditava que esses seriam os
italiana Maria Montessori (1870-1952). fundamentos de quaisquer comunidades pacíficas,
constituídas de indivíduos independentes e
Primeira mulher a se formar em medicina em seu responsáveis.
país foi também pioneira no campo pedagógico ao
dar mais ênfase à auto-educação do aluno do que A meta coletiva é vista até hoje por seus adeptos
ao papel do professor como fonte de conhecimento. como a finalidade maior da educação montessoriana.
“Ela acreditava que a educação é uma conquista
da criança, pois percebeu que já nascemos com a Ambientes de liberdade
capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem
dadas as condições”, diz Talita de Oliveira Almeida, Ao defender o respeito às necessidades e aos
presidente da Associação Brasileira de Educação interesses de cada estudante, de acordo com os
Montessoriana. estágios de desenvolvimento correspondentes às
faixas etárias, Montessori argumentava que seu
Individualidade, atividade e liberdade do aluno método não contrariava a natureza humana e, por
são as bases da teoria, com ênfase para o conceito isso, era mais eficiente do que os tradicionais. Os
de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto pequenos conduziriam o próprio aprendizado e ao
do ensino. Montessori defendia uma concepção professor caberia acompanhar o processo e detectar
de educação que se estende além dos limites do o modo particular de cada um manifestar seu
acúmulo de informações. O objetivo da escola é a potencial.
formação integral do jovem, uma “educação para a
vida”. A filosofia e os métodos elaborados pela médica Biografia
italiana procuram desenvolver o potencial criativo
desde a primeira infância, associando-o à vontade de Maria Montessori nasceu em 1870 em Chiaravalle,
aprender – conceito que ela considerava inerente a no norte da Itália, filha única de um casal de classe
todos os seres humanos. média. Desde pequena se interessou pelas ciências
e decidiu enfrentar a resistência do pai e de todos à
O método Montessori é fundamentalmente sua volta para estudar medicina na Universidade de
biológico. Sua prática se inspira na natureza e seus Roma.
fundamentos teóricos são um corpo de informações
científicas sobre o desenvolvimento infantil. Segundo Direcionou a carreira para a psiquiatria e logo se
seus seguidores, a evolução mental da criança interessou por crianças com retardo mental, o que
acompanha o crescimento biológico e pode ser mudaria sua vida e a história da educação.
identificada em fases definidas, cada uma mais
adequada a determinados tipos de conteúdo e Ela percebeu que aqueles meninos e meninas
aprendizado. proscritos da sociedade por serem considerados
ineducáveis respondiam com rapidez e entusiasmo
Maria Montessori acreditava que nem a educação aos estímulos para realizar trabalhos domésticos,
nem a vida deveriam se limitar às conquistas exercitando as habilidades motoras e experimentando
materiais. Os objetivos individuais mais importantes autonomia.
seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver
um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade Em pouco tempo, a atividade combinada de
interiores para ter capacidade de amar. observação prática e pesquisa acadêmica levou a
médica a experiências com as crianças ditas normais.
28
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Nas escolas montessorianas, o espaço interno Nessas escolas as aulas não se sustentam num
era (é) cuidadosamente preparado para permitir único livro de texto. Os estudantes aprendem a
aos alunos movimentos livre, facilitando o pesquisar em bibliotecas (e, hoje, na internet) para
desenvolvimento da independência e da iniciativa preparar apresentações aos colegas. Atualmente
pessoal. Assim como o ambiente, a atividade sensorial existem escolas montessorianas nos cinco
e motora desempenha função essencial, ou seja, dar continentes, em geral agrupadas em associações que
vazão à tendência natural que a garotada tem de trocam informações entre si. Calcula-se em torno de
tocar e manipular tudo o que está ao seu alcance. 100 o número dessas instituições no Brasil.
29
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
Muitos dos exercícios desenvolvidos pela Escolheu uma profissão “de homens” e mais
educadora – hoje utilizados largamente na Educação tarde teve um filho sem se casar – o que a obrigou a
Infantil – objetivam chamar a atenção dos alunos afastar-se dele nos primeiros anos de vida, para não
para as propriedades dos objetos (tamanho, forma, causar escândalo.
cor, textura, peso, cheiro, barulho).
No auge de sua carreira, a educadora viu, na
O método Montessori parte do concreto rumo ao ascensão do regime fascista de Benito Mussolini, o
abstrato. Baseia-se na observação de que meninos triunfo momentâneo dos valores opostos aos que
e meninas aprendem melhor pela experiência direta defendeu. Abandonou seu país, mas não a batalha
de procura e descoberta. Para tornar esse processo o por uma educação melhor.
mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu
os materiais didáticos que constituem um dos Para pensar
aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São
objetos simples, mas muito atraentes, e projetados O principal legado da italiana Maria Montessori foi
para provocar o raciocínio. Há materiais pensados afirmar que as crianças trazem dentro de si o potencial
para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema criador que permite que elas mesmas conduzam o
decimal à estrutura da linguagem. aprendizado e encontrem um lugar no mundo.
30
História da Educação Infantil e Políticas Públicas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIES, Philippe. História Social da Criança e
da Família. Rio de Janeiro. LTC,1978
31