Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Organizadores)
Volume 1
2015
Copyright © 2015 Vera Lúcia Messias Fialho Capellini; Luciene Ferreira da Silva;
Antonio Francisco Marques; Eliana Marques Zanata; Glória Georges Feres
(organizadores)
ISBN 978-85-99703-83-0
Organizadoras
Vera Capellini e Glória Feres
6
SUMÁRIO
Volume 1
INFÂNCIA
W AGNER ANTONIO JUNIOR
ÂNGELA DO CÉU UBAIARA BRITO
MALBA CUNHA TORMIN
DANIELA FAGUNDES PORTELA
VALÉRIA DE OLIVEIRA MACEDO SITTA 134
13 O GAME NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO INFANTIL
W AGNER ANTONIO JUNIOR
TIZUKO MORCHIDA KISHIMOTO 144
14 CONTEÚDO DE ENSINO E TROCA COM OS PARES POR MEIO DE
AÇÕES E TAREFAS SIMULTÂNEAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
GISLAINE ROSSLER RODRIGUES GOBBO 154
15 QUANDO O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL É UM HOMEM...
DISCUTINDO GÊNERO E SEXUALIDADE NAS REPRESENTAÇÕES
DE FORMANDOS EM PEDAGOGIA
CLAUDIONOR RENATO DA SILVA
ANA CLÁUDIA BORTOLOZZI MAIA 164
16 A PRÁTICA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O
DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA NO COTIDIANO
ESCOLAR
ROSINERI DA SILVA OLIVEIRA MARINHO
KÉZIA SIMÉIA BARBOSA DA SILVA MARTINS 176
17 O CONTEÚDO MATEMÁTICO COMO FACILITADOR DO
DESENVOLVIMENTO MORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RITA MELISSA LEPRE 186
18 HABILIDADES SOCIAIS EDUCATIVAS PARENTAIS, HABILIDADES
SOCIAIS E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DO FILHO: UMA
POSSÍVEL CORRELAÇÃO
SILVANY ELLEN RISUENHO BRASIL
FABIANA CIA 194
19 ESCOLA E FAMÍLIA: O QUE DIZEM O PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO
ANA PAULA CARRA,
RITA DE CÁSSIA S. GODOI MENEGÃO 204
20 GÊNERO E EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM OS ESTUDOS
FERNANDA FERRARI RUIS
MARCIA CRISTINA ARGENTI PEREZ 215
21 CONTEXTO POLÍTICO EDUCACIONAL: FILAMENTOS QUE NÃO
TECEM QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
MARISTELA ANGOTTI 225
22 INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ATIVIDADES
PEDAGÓGICAS COM QUADRINHOS
MARIA FERNANDA CAZO ALVAREZ
CELSO SOCORRO OLIVEIRA
ANA BEATRIZ DI NINNO FERREIRA 237
23 POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO INFANTIL: ENTRE O ESTADO,
O MERCADO E A DEMANDA SOCIAL
SAMUEL CORREA DUARTE
ARINALDA SILVA LOCATELLI 246
24 EDUCAÇÃO INFANTIL E TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL:
REFLEXÕES SOBRE IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS A PARTIR DE
8
POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM
DENISE ROCHA PEREIRA
KAROLINE REZENDE THOMAZ DA SILVA 489
48 ACIDENTES AUTORREFERIDOS POR ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
ADILSON GONÇALVES DA SILVA
SANDRA REGINA GIMENIZ-PASCHOAL 499
49 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO COMUM PARA AS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE BAURU - SP:
DANDO VOZ AOS PROFESSORES
THAÍS CRISTINA RODRIGUES TEZANI
RENATA SERRANO SILVEIRA 508
50 EFEITOS DO PRONARRAR EM ALUNOS COM ATRASO NO
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
JÁIMA PINHEIRO DE OLIVEIRA
MARIA FERNANDA BAGAROLLO
ALIANDRA CRISTINA MESOMO LIRA
CARLA LUCIANE BLUM VESTENA 519
51 ORIENTAÇÕES SOBRE O USO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NOS
DOCUMENTOS DE ORIENTAÇÕES CURRICULARES E A SUA
PRESENÇA NOS LIVROS DIDÁTICOS
MARINÉIA DOS SANTOS SILVA
ESTHER PACHECO DE ALMEIDA PRADO 529
52 PRÁTICA OU PRÁTICAS METODOLÓGICAS PARA
ALFABETIZAÇÃO?
ALINE GRACIELE MENDONÇA 539
53 LINGUAGEM ARTÍSTICA INFANTIL: O DESENHO COMO EXPRESSÃO
DA CRIANÇA
ELIETE MOURA DE SOUZA
MARIA DO CARMO MONTEIRO KOBAYASHI 551
54 AS RELAÇÕES ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA: A TAREFA DE CASA
EM FOCO
LEANDRO GASPARETI ALVES
ELVIRA CRISTINA MARTINS TASSONI 562
55 MÍDIA TELEVISIVA E EDUCAÇÃO ESCOLAR: INTERFACES DO
CONSUMO
MELISSA TEREZA CHICONI DE PIERI
THAÍS CRISTINA RODRIGUES TEZANI 573
56 PERCEPÇÕES DE PAIS E CRIANÇAS SOBRE O INGRESSO NO
ENSINO FUNDAMENTAL AOS SEIS ANOS DE IDADE REVER DAQUI
PARA FRENTE
CAROLINE RANIRO
FLÁVIA ROBERTA VELASCO CAMPOS
SILVIA REGINA RICCO LUCATO SIGOLO 584
57 ENSINO [IN] FORMAL DE CIÊNCIAS: O CASO DA SESSÃO DE
OBSERVAÇÃO DO CÉU
ALINE JULIANA OJA 594
58 FUTEBOL NA ESCOLA: UMA PROPOSTA ALÉM DO JOGO
RAQUEL FANTINELLI MUNHOZ
OSMAR MOREIRA DE SOUZA JÚNIOR 605
59 EDUCAÇÃO E CONTEÚDOS CULTURAIS RIBEIRINHOS NO ENSINO
FUNDAMENTAL
11
JONAS FERNANDES
ELVIRA CRISTINA MARTINS TASSONI 1239
126 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E INCLUSÃO:
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL ENTRE 1988 E 2010
LANA FERREIRA DE LIMA
ROSEMARY DORER
VIRGÍNIO ISIDRO MARTINS SÁ 1248
127 DISCURSO SOBRE GÊNERO, SEXUALIDADE E HOMOFOBIA NAS
AULAS DE CIÊNCIAS E NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
GENERALISTA
SILMARA SARTORETO DE OLIVEIRA
PAULA DA COSTA VAN-DALL
NATHALY DESIRRE ANDREOLI CHIARI 1259
128 DESAFIOS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO EM ASTRONOMIA E A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM LEVANTAMENTO
BIBLIOGRÁFICO
THAIS MACHADO
RODOLFO LANGHI 1271
129 CONCEPÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ENTRE
PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA DA CIDADE DE VIÇOSA-
MINAS GERAIS
ANA CECÍLIA ROMANO DE MELLO
GÍNIA CEZAR BONTEMPO 1279
130 AVALIAÇÃO DE UMA PROPOSTA FORMATIVA USANDO A
INVESTIGAÇÃO: UM ESTUDO COM BASE NOS DISCURSOS E
ATUAÇÃO DE UM GRUPO DE LICENCIANDOS EM QUÍMICA
ANA SÍLVIA CARVALHO RIBEIRO GOMES
JÚLIA KATZAROFF BALLERINI
SILVIA REGINA QUIJADAS ARO ZULIANI 1290
131 POLÍTICA EDUCACIONAL: DA LEGISLAÇÃO À PRÁTICA DOCENTE
SÉRGIO DA COSTA BORTOLIM 1299
132 SISTEMA REPRODUTOR, DOENÇAS SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS ABORDADOS NO
ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM BIOLOGIA
ALESSANDRA DOS SANTOS OLMEDO
MICHELLI CRISTINE NUNES FACHOLLI BENDASSOLLI
FERNANDA CASSARI DE OLIVEIRA SILVA
JOSIANE GRAZIELE COSTA 1310
133 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO
DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
FRANCIELE TAÍS DE OLIVEIRA
FRANCIELI CRISTINA AGOSTINETTO ANTUNES 1318
134 DISCIPLINAS ESPECÍFICAS E OBRIGATÓRIAS SOBRE EJA NA
FORMAÇÃO DO PROFESSOR: TEORIA E PRÁTICA NO CURRÍCULO
DO CURSO DE PEDAGOGIA
POLIANA DA SILVA ALMEIDA SANTOS CAMARGO 1329
135 AS ATITUDES EM RELAÇÃO À MATEMÁTICA EM UM CURSO DE
FORMAÇÃO DE PROFESSORES POLIVALENTES
EVANDRO TORTORA
GIOVANA PEREIRA SANDER
NELSON ANTONIO PIROLA 1337
136 AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DE
18
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Dessa forma o currículo deve se pautar num conjunto de práticas que buscam
articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a
24
7Discussão trazida no texto Currículo, relações raciais e cultura afro-brasileira, apresentado no programa
Salto para o Futuro/TV Escola/ SEED/MEC de 23 a 27 de outubro de 2006, disponível em
<tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/175527Relraciais.pdf> acesso em 12 ago.2012.
25
direito. Afirma que a escuta das narrativas dos pequenos atores produz e lapida
formas representativas deste cenário. O silêncio dos sujeitos discriminados se faz
perceber ou camuflar, mas sutilmente demonstram o sofrimento da exclusão. As
crianças e as discriminações étnico-raciais como incidentes na violência escolar,
violência tornada invisível por conta da não-escuta dos adultos.
Alexandre (2006) investigou como ocorrem as interações entre alunos negros e
não negros na escola. Realizou um estudo sobre os processos implícitos nas
interações escolares. Constatou que as interações entre os alunos negros e não
negros nos diferentes espaços pedagógicos são permeadas por comportamentos e
atitudes discriminatórias banalizadas no cotidiano escolar, concluindo que as
constantes situações discriminatórias a que são expostos os alunos negros no
ambiente escolar resultam tanto em relações tensas e conflituosas como também
comprometem a formação de uma identidade positiva.
Como percussores da discussão relações raciais na infância, indicamos
pesquisadores como Godoy (1996), Dias (1997) e Cavalleiro (1998) na década de 90.
Para Cavalleiro (1998) são questões silenciadas tanto na escola como no seio familiar,
resultado do processo histórico da crença da falsa democracia racial existente no país.
Percebemos que a produção do conhecimento em torno da temática relações
raciais e infância ainda é pouca, e a ênfase é dada aos processos de discriminação no
âmbito do processo de ensino e aprendizagem, relação de alunos negros e não
negros no contexto escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
1diego_souzamanaus@hotmail.com
2mlmota71@gmail.com
32
A história contada por Ariès (2006) – historiador que pesquisou a história social
da criança – postulava que o surgimento do sentimento da infância na Europa e a
necessidade de atendê-las, em locais como as creches e internatos, foram
decorrentes das mudanças que ocorreram na sociedade na transição do sec. XIII ao
XVIII, as formas de organização da sociedade, o modelo econômico e os modos de
produção adotada em cada época e lugar, foram determinantes na forma do adulto
percebê-la em seu papel na sociedade.
Segundo Kramer (2006) a educação infantil teve seu início formalmente no
Brasil por volta do fim do séc. XIX. A partir de 1875 no Rio de Janeiro e 1877 em São
Paulo surgem os primeiros jardins de infância atendendo inicialmente as crianças da
elite.
A partir desse contexto, surge o atendimento público as populações infantis de
baixa renda com a finalidade de combater a pobreza, em tese, são políticas
passageiras e de caráter compensatório, como relata autores como Kramer (2006) e
Kuhlmann Jr. (1998) sobre o disfarce entre o discurso e a realidade da educação
infantil, devido escassez do financiamento, incidindo nas precárias condições das
instituições, que geralmente tinham o atendimento feito por pessoas despreparadas
para esse fim. Desse modo era retratada a Educação Infantil pública (BRASIL, 1998,
v. 1 p.17):
Constituir-se em um equipamento só para pobres, principalmente no caso das
instituições de Educação Infantil, financiadas ou mantidas pelo poder público,
significou em muitas situações atuar de forma compensatória para sanar as supostas
faltas e carências das crianças e de suas famílias. A tônica do trabalho institucional foi
pautada por uma visão que estigmatizava a população de baixa renda. Nessa
33
A Educação Infantil foi marcada pelo seu caráter assistencialista que visava
suprir as deficiências de saúde, nutrição, higiênica, isto quer dizer, que as classes
dominantes se prevaleciam e utilizavam dessa política para preservar seus interesses
e perpetuação da ordem social que vigorava na época.
A oferta da educação infantil às populações infantis em idade pré-escolar tem
deixado muito a desejar, pois de acordo com o relatório “Síntese de Indicadores
Sociais” (IBGE, 2010, p. 153), referindo-se à relação entre ricos e pobres, “Entre as
crianças de 0 a 5 anos de idade, 30,9% das mais pobres frequentavam creche ou pré-
escola, chegando esta proporção a alcançar 55,2% no estrato 20% mais rico”.
O relatório supracitado revela segundo as estatísticas, que o Brasil não
conseguiu atingir as metas lançadas pelo Plano Nacional da Educação 2001 – 2011
para a oferta da educação infantil, que estabeleceu, até 2011, que 80% das crianças
de quatro (4) a cinco (5) anos deveriam estar sendo atendidos em instituições pré-
escolares, entretanto, os dados revelam que não houve esse crescimento no acesso e
os recursos investidos mostram serem insuficientes para ampliação da oferta.
Tem sido evidenciada na sociedade contemporânea a preocupação dos
aspectos qualitativos na educação em geral, e do mesmo modo é algo que é
esquecido e ignorado, o que é preocupante para a Educação Infantil, uma vez que
esta é o alicerce da formação humana e base para a jornada escolar do aluno.
Peter Moss (2002 apud BRASIL, 2006, v. 1, p. 22-23) fala que:
A qualidade é um conceito relativo, baseado em valores;
37
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
com toda certeza, revolucionou a Literatura Infantil. Seu ápice foi à obra “Sitio do Pica-
Pau Amarelo”, pois nascia aí um verdadeiro universo fabuloso destinado à criança, a
qual ajudou muitas crianças na boa formação de caráter.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
interessar por ele, e vai querer buscar no mesmo essa alegria, bastando apenas
conhecer a grande magia que o livro proporciona.
A literatura infantil é um campo muito amplo de estudo que exige do professor
conhecimento para saber adequar os livros de acordo com a faixa etária, e assim
gerar um momento de prazer e estimulação para a leitura.
A partir dos referencias teóricos dialogados fica evidente o quanto é importante
desenvolver estratégias norteadoras balizadas pela leitura de histórias, sendo uma
atividade prazerosa, uma forma de brincar com as palavras, de proporcionar uma rica
fonte para a imaginação e que acima de tudo ira transportar a criança para mundos
diferentes, já que as mesmas gostam de vivenciar atos de leitura.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA
decidir pela melhor solução. Pois é preciso decidir que, quando chega à escola, a
criança já viveu intensamente seus primeiros anos de vida. Já vivenciou situações de
contar, de juntar, de tirar, de distribuir, de medir e já manuseou objetos que lembram
figuras geométricas - a bola, a caixa de creme dental, etc. Com base nessa vivência, o
professor poderá iniciar seu trabalho de construir e aplicar conceitos matemáticos
baseado em um currículo sistêmico.
a desenvolver, para que o aprendizado ocorra. Tendo este a função não só de contar
o que aconteceu na sala de aula, mas tentar compreender o acontecido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAIS
INTRODUÇÃO
Todo processo educativo é importante por que traz algo novo e quando este
processo inicia na vida do ser humano desde o seu nascimento, tem grande
probabilidade de contribuir efetivamente ao longo de sua vida. E na Educação Infantil
é a fase que o ser humano recebe orientações e acompanhamentos que vão interferir
na formação de seu caráter, somado ao acompanhamento da família e
complementada pela escola não se tem dúvida que se está formando um cidadão
consciente, reflexivo, crítico e solidário, decorrente disso se dar tanta importância ao
trabalho do professor que além de incentivar e orientar o educando na construção e
reconstrução de seus conhecimentos contribui para criar uma cultura de vida
responsável ambientalmente.
Partindo deste contexto as práticas pedagógicas de Educação Ambiental/EA
que são desenvolvidas na escola São Pedro do Parananema nas séries iniciais da
Educação Infantil são fundamentais para contribuir com o desenvolvimento de uma
nova forma de conceber o meio ambiente, podendo inclusive transformar a vida de
uma geração que saberá viver de forma consciente com a natureza.
Estudos já mostraram que é na infância que a criança constrói o seu caráter e
sua personalidade que vão servir de base para a sua vida e da sociedade como um
todo. Conhecimento este que levará enquanto tiver vida. Assim conclui que o
educador sensibilizado e consciente de seu papel na formação de uma sociedade
ambientalmente responsável é extremamente importante desenvolver na educação
infantil práticas de conservação e preservação do meio ambiente pedagogicamente de
forma interdisciplinar, contribuindo para a formação de cidadãos comprometidos com a
sua e as futuras gerações.
Assim sendo nasceu a referida pesquisa com intuito de discutir as
contribuições das práticas pedagógicas de educação ambiental para a vida das
crianças que estão ingressando no ensino formal. Motivo que impulsionou o
desenvolvimento desta investigação, por acharmos de grande relevância na formação
inicial de uma nova geração capaz de cuidar do meio ambiente, pois se assim
fizermos estaremos cuidando da vida como um todo, uma vez que existe uma
interdependência entre todas as formas de vida no nosso planeta.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO E RESULTADOS
3Puxirum é um termo indígena que designa mutirão, cooperação, e união de pessoas para planejar e
realizar ações.
65
ter uma boa relação. O processo de observação foi desenvolvido com conversas
informais com os professores da escola em que uma delas faz um relato do trabalho
que vem sendo desenvolvido pela escola.
“Hoje com a escola abraçando o projeto Pé-de-Pincha tem exercido um excelente
trabalho de educação ambiental na comunidade e tem contribuído com uma grande
sensibilização tanto dos estudantes como de comunitários [...].As crianças precisam
saber mais sobre esse projeto, por isso estamos propondo aos professores que
utilizem a cartilha do projeto pé-de-pincha como conteúdo curricular em sua prática
pedagógica de forma multidisciplinar, [...] as crianças sabendo o porquê do projeto e
sua importância para a vida de todos da comunidade, poderão ser os maiores
sensibilizadores dos seus familiares, tomarem consciência [...] (PROFESSORA “B”,
2011)”
As crianças mostram-se preocupadas com o meio ambiente, desde não jogar
papel chão, há manter o ambiente de sala de aula limpo e organizado com apoio e
orientação da professora. Existe na sala deposito para lixo e as crianças são
orientadas pela professora para colocar o seu lixo lá. Segunda a (PROFESSORA “A”,
2011) enfatiza dizendo “As crianças da nossa escola já têm um pouco de consciência
em relação ao meio ambiente e tem cuidado com os animais silvestres”. A professora
relatou ainda que houve caso em que as crianças ajudaram uma preguiça a travessar
a estrada.
São atitudes como estas que demostram que as crianças sabem que a casa da
preguiça é na natureza e que eles precisam proteger esse animal e todos os outros
que ainda existem na comunidade como bem frisou o entrevistado 7 (2011), “nessa
reserva existe macaco, preguiça, aves e outros animais silvestres, que vivem
ameaçados por predadores que vem da cidade”. A reserva que o entrevistado 7 se
refere é a área do aeroporto da cidade onde ainda existem muitos animais silvestres.
A entrevistada 6 (2011) lembra que essa reserva é uma “área de mata nativa que
ainda existe na comunidade, ainda tem macaco, preguiça, pato do mato, cigana, [...]”,
razão que levou a escola a abraçar o projeto da WSPA - Sociedade Mundial de
Proteção Animal4 que é uma organização não governamental internacional que tem
como missão o respeito a todas as formas de vida, através de uma parceria com a
Secretária Municipal de Educação-SEMED. A WSPA promove a formação de
4É a maior federação de organizações de bem-estar animal do mundo. A WSPA Trabalha com projetos
educativos, campanhas, resgate de animais, suporte técnico para afiliadas, programas de treinamento e
trabalho legislativo. Para maior conhecimento acesso www.wspabrasil.org
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
68
REFERÊNCIAS
KINDEL, Eunice A. I.; SILVA, Fabiano Weber da; SAMMARCO, Yanina Micaela
(Orgs.). Educação Ambiental: vários olhares e várias práticas. 3. ed. Porto Alegre:
Mediação, 2009.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo:
Brasiliense, 2009 (Coleção primeiros passos).
REGO, Tereza Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.
18. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
REIS, Marília Freitas de Campos. Pesquisa em educação ambiental na universidade:
produção de conhecimentos e ação educativa In: TALAMONI, Jandira L. B.;
SAMPAIO, Aloísio Costa.Educação Ambiental: da prática pedagógica à cidadania.
São Paulo: Escrituras Editora, 2003 (Educação para a Ciência; 4).
TALAMONI, Jandira L. B.; SAMPAIO, Aloísio Costa. Educação Ambiental: da prática
pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras Editora, 2003 (Educação para a
Ciência; 4).
VYGOTSKY,Lev Semionovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. 7.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
71
INTRODUÇÃO
1UNESP / UNIVESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" e Universidade Virtual do
Estado de São Paulo
72
interação entre a criança e seu novo interlocutor? Qual o caminho para se favorecer o
desenvolvimento da linguagem oral?
Para tal reflexão, buscamos estudar neste trabalho alguns aspectos teóricos da
aquisição da linguagem oral e a partir da observação de cenas cotidianas de utilização
da linguagem oral em instituições de educação infantil que atendem crianças de 0 a 3
anos, eleger estratégias pedagógicas de trabalho que estimule e favoreça o
desenvolvimento desta modalidade de linguagem.
Os principais objetivos deste trabalho são: 1) Revisar teorias de aquisição da
linguagem oral; 2) Observar práticas com a linguagem oral em instituições de
educação infantil; 3) Propor práticas de estímulo à aquisição da linguagem oral por
crianças de 0 a 3 anos.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
escolar que acolhem crianças na fase de aquisição da oralidade. Tal importância está
relacionada à complexidade da linguagem e sua função para a interação do sujeito no
mundo.
Dessa forma, esperamos que os apontamentos aqui apresentados possam
servir como ponto de partida para a construção de uma prática educativa que favoreça
a aquisição e o desenvolvimento adequado da linguagem oral no interior das
instituições de educação infantil, com a conscientização dos educadores da sua
relevância nesse processo como interlocutores fundamentais para a estimulação do
desenvolvimento da oralidade da criança por meio de interações sociais diárias e
planejamento de situações direcionadas, assumindo assim a intencionalidade no
trabalho com a linguagem oral.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO
aos jogos e festas para uns ou para outros que muitas vezes se misturavam e
ocorriam de maneira unificada além do fato de não se preservar a criança de alguns
assuntos e comentários, atualmente considerados inadequados.
Fazendo críticas à Ariès e a seu modo de considerar a história, Heywood
(2004) nos traz outras concepções a respeito do sentimento de infância na Idade
Média. Ele considera simplista pensar na ausência ou presença de sentimento de
infância em um ou outro período da história. Para o autor, seria mais proveitoso
pensar que poderiam existir diferentes concepções sobre a infância em diferentes
tempos e lugares e ele identifica diversos momentos da história em que teriam
ocorrido “descobertas” da infância.
De acordo com Heywood, a infância “é um constructo social que se transforma
com o passar do tempo e que varia entre grupos sociais e étnicos dentro de qualquer
sociedade”. Exatamente por isso não é possível pensar em uma criança natural ou
universal, determinada pela constituição biológica, mas “é preciso levar em
consideração o fato de que ela se adapta com facilidade a seu ambiente, que é
produto de forças históricas, geográficas, sociais e culturais diversas” e assim, o autor
nos apresenta a ideia de que “a infância é resultado das expectativas dos adultos.”
(HEYWOOD, 2004, p. 21)
Para esse autor, os relatos medievais colhidos podem levar à ideia de que a
infância não foi ignorada nesse período, mas sim foi definida de forma imprecisa. Para
ele, é possível compreender sim, que havia um interesse limitado na infância, e que a
distância entre o mundo infantil e o mundo adulto era bem menor, ao mesmo tempo
em que o nivelamento de responsabilidades que as crianças poderiam assumir era
bem menos definido do que atualmente, porém, ele apresenta a ideia de que a
distinção entre infância e vida adulta estava presente, mesmo naquele momento.
De certa forma, Elias (1994) confirma essas ideias, pois defende que o
pensamento voltado à infância era bem restrito e a diferenciação entre formas de
tratamento para adultos e crianças era muito pequena, porém, nos mostra que os
adultos de então, se comparados em termos de estruturas de sentimentos e
comportamento social, aos adultos do século XX, não alcançavam o mesmo patamar.
Ele alerta-nos, portanto, que ao estudarmos o sentimento de infância na Idade Média,
devemos nos preocupar em compreender esses padrões existentes na época, não
sendo possível entender vida adulta e infância a partir dos critérios e padrões dos
séculos XX ou XXI.
83
acordo com o autor, ao findar a Idade Média, houve a preocupação com o estudo e
aprofundamento do conceito de civilité. E para falar sobre o assunto, analisa o tratado
de autoria de Erasmo de Rotterdam: “Da civilidade em crianças”, escrito em 1530.
Esse tratado teve grande circulação na sociedade da época e passou por sucessivas
edições. O livro de Erasmo trata do comportamento de pessoas em sociedade e do
“decoro corporal externo”. (ELIAS, 1994, p. 69)
Seu livro é dedicado ao filho de um príncipe e escrito para a educação das
crianças. Neste tratado, Erasmo versa sobre assuntos como “civilizado” e “incivil”. Os
conceitos de “civilizado” referiam-se a como as pessoas se comportavam nas grandes
cortes feudais e embora todas as recomendações do Tratado tivessem como
referência em seu título, as crianças, ele era recomendado a adultos.
Elias nos mostra que lá estavam contidos conselhos simples, como a instrução
de lavar as mãos antes de comer ou não tocar no saleiro com pedaços de comida.
Essa situação pode demonstrar que os adultos ainda não possuíam uma psique
amadurecida, tal como conhecemos hoje, pois para Elias diversos códigos de
comportamento escritos “...confirmam certo padrão de relações entre as pessoas, a
estrutura da sociedade e a psique medieval. ” E a técnica padrão de comer na Idade
Média somente representa um dos padrões das relações humanas e a estrutura dos
sentimentos (ELIAS, 1994, p. 79).
O autor nos mostra que os procedimentos à mesa são um segmento das
formas de conduta socialmente instaladas. Assim, as formas de comportamento que
nos parecem extremamente naturais porque fomos adaptados e condicionados a esse
padrão desde a mais tenra infância, na Idade Média, tiveram que ser lenta e
trabalhosamente adquiridas e desenvolvidas pela sociedade como um todo.
Alguns comportamentos que anteriormente poderiam ser considerados
normais, atualmente são completamente repulsivos e de acordo com Elias
A INFÂNCIA E A FAMÍLIA
papel social, porém, não entendia a necessidade de envolver seus filhos com cuidados
especialmente desenvolvidos para protegê-los.
Nesse sentido, Ariès (1981) nos leva a entender que os laços de sangue
formavam dois grupos distintos: a família, que pode ser comparada à nossa família
conjugal moderna e a linhagem, que era formada por todos os descendentes de um
mesmo ancestral. O grupo familiar, portanto, era composto por diversos casais com
seus filhos que moravam sob o mesmo teto para não ter que dividir as propriedades,
ocasionando assim sua desvalorização e o enfraquecimento da linhagem.
A necessidade de proteção de grupos externos às famílias levou ao
fortalecimento da linhagem. Sabendo que a qualquer momento poderiam sofrer
ataques de grupos rivais buscando tomar suas terras, os indivíduos passaram a
buscar refúgio na linhagem. A reunião dos indivíduos já unidos pela consanguinidade
proporcionava a possibilidade de preservação também do grupo familiar mais restrito
(ARIÈS, 1981; ELIAS, 1993).
Por outro lado, é importante frisar que os costumes e não os sentimentos
regiam os relacionamentos e comportamentos, por isso, atitudes que para nós hoje,
parecem frias e despossuídas de amor, representavam o modo como as pessoas da
época aprenderam a dirigir a educação e criação dos filhos. Exemplo disso era o
afastamento da criança de sua casa assim que completava sete ou oito anos de idade
para viver com outra família, servindo nos afazeres domésticos e aprendendo
costumes e ofícios diferentes, bem como as “boas maneiras”. Esses filhos retornariam
apenas de sete a nove anos mais tarde, portanto, entre os quatorze e dezoito anos de
idade (ARIÈS, 1981; HEYWOOD, 2004).
Ariès (1981) nos mostra que essas crianças eram chamadas de aprendizes e
mesmo as famílias de melhores posses agiam assim, ao mesmo tempo em que
recebiam crianças de outras famílias em suas casas. Esses aprendizes deveriam
servir as mesas, arrumar as camas e acompanhar o mestre naquilo que fizesse.
Importante compreender que esses ofícios não representavam um estado definitivo,
mas sim um estágio, um período de aprendizagem e é por isso que o autor aponta que
o serviço doméstico se confundia com aprendizagem.
Eram altos os índices de mortalidade infantil na Idade Média, e de acordo com
Ariès, se deu pouca importância à criança por tão longo período devido à facilidade em
perdê-las, por isso as pessoas consideravam não ser aconselhável se apegar a elas.
O grande número de doenças sem cura, a falta de saneamento básico, a má
alimentação, traziam muitas doenças e a sobrevivência das crianças nesse mundo era
89
algo realmente muito raro. Por isso, havia uma insensibilidade natural com relação a
uma infância demasiado frágil. O nível de mortalidade infantil era muito alto e o
sentimento existente era de que se a família perdesse uma criança, outra viria em seu
lugar.
Heywood (2004), porém, não acredita que a ideia de que os pais se
mostrassem indiferentes à perda de um filho possa ser generalizada a todas as
pessoas da época. De acordo com seus estudos, existem indícios tanto de que
houvesse sentimento de profundo pesar por seus filhos, quanto de indiferença por sua
perda. Ocorre é que algumas proposições devem ser consideradas antes de se chegar
a qualquer conclusão. Primeiro que todos os historiadores aceitam a ideia de que a
perda de um filho de mais idade, com quem os pais já estabeleceram um vínculo mais
forte, seria muito mais traumática do que a perda de um recém-nascido. Depois, que
ao mesmo tempo em que podemos encontrar essa figura de pais em luto sendo
representada por pessoas “chorando, gritando, implorando”, havia o forte sentimento
religioso de que os indivíduos deveriam se colocar submissos diante da vontade de
Deus, agradecidos por tudo que acontecesse em suas vidas, não devendo questionar
os acontecimentos fossem, eles quais fossem. O autor se refere a uma
tensão entre luto privado e estoicismo público entre cristãos devotos.
Os moralistas durante a Idade Média aconselhavam comedimento: se
o nascimento de um filho era um dom de Deus, também o era a sua
morte, e simples mortais não deveriam questionar o julgamento
divino. (HEYWOOD, 2004, p. 80)
meio do infanticídio. Por outro lado, as mães solteiras não eram bem vistas pela
sociedade e buscavam se livrar de seus bebês antes que fossem rechaçadas por ela.
Principalmente na zona rural, onde o controle sobre a vida das pessoas ocorria de
maneira mais intensa, essas mulheres precisavam ocultar sua situação devido ao
preconceito que sofriam na sociedade e acabavam assassinando seus filhos recém-
nascidos.
Porém, ao agirem assim, muitas vezes traziam para si outro problema que era
o de serem perseguidas e castigadas por o terem feito. Somente a partir do século
XIX, as sociedades europeias de um modo geral, passam a tratar essas mulheres com
mais compaixão, sendo vistas como vítimas da pobreza, da intolerância e da sedução
masculina. No início do século XX, as mães que matavam seus filhos passaram a ser
consideradas insanas, precisando de tratamento psiquiátrico.
Diversos autores nos mostram que o infanticídio não alcançou maiores
proporções devido à facilidade que existia em se abandonar os bebês. Na alta Idade
Média, as crianças já eram expostas nas ruas, vendidas pelos pais, doadas a uma
casa religiosa ou aos ricos como servas. No século XVII, a criação da Roda dos
Expostos em hospitais pertencentes a ordens religiosas, veio a ajudar na diminuição
do infanticídio. Porém, nesses lugares as crianças estavam praticamente condenadas
à morte. Contando com orçamentos mínimos, tais instituições dependiam de amas-de-
leite mercenárias para alimentar os bebês e muitas delas chegavam a alimentar até
quatro crianças ao mesmo tempo. (MARCÍLIO, 1998; PASSETI, 2000; HEYWOOD,
2004)
É importante pensar a respeito dos motivos que levavam os pais a abandonar
seus filhos sem aparentemente nenhum tipo de recato. Deixando de lado os que o
faziam por desprezo à criança, devido a uma deformidade física, ou mesmo por se
tratar de meninas, uma vez que o número de abandono de meninas era bem maior
que o de meninos em diferentes épocas e lugares, havia os que abandonavam a
criança por se tratar de fruto de adultério e também os que o faziam, devido à
impossibilidade financeira em criar seus filhos. A expectativa de muitos desses pais
era de que seus filhos poderiam ser adotados por alguém em melhores condições
financeiras, ou mesmo que pudessem retornar a seu convívio em outro momento mais
próspero. (Conf. MARCÍLIO, 1998; PERROT, 2001b e HEYWOOD, 2004)
Ao pensar a respeito das relações entre infância e família, Gélis (2001) nos
alerta à que estejamos atentos ainda à visão em relação à criança existente na Idade
Média que é a de criança “pública”. Para o autor, o sentimento em relação ao próprio
92
corpo nesse momento era bem diferente do que possuímos atualmente. Cada
indivíduo sentia seu corpo como que pertencente a uma linhagem, à grande família.
Seu corpo era seu, mas também um pouco dos outros. Assim, o indivíduo dispunha do
próprio corpo, somente na medida em que não contrariasse os interesses da família.
Seu dever se resumia em dar vida. Nesse imaginário, a criança era considerada um
“rebento do tronco comunitário”, e assim, era uma criança “pública”. Após o momento
do desmame, a parte pública da educação da criança tendia a ser ampliada. (GÉLIS,
2001, p. 313)
Vários rituais deveriam ser realizados com a criança, e esses quase que como
atos públicos, aos olhos de todos. O próprio batismo era considerado um rito de
socialização da criança, que ao mesmo tempo era a oportunidade de eliminar o
pecado de seu coração. Após esse momento, uma série de rituais era realizada,
envolvendo grande número de pessoas, sempre pensando em trazer benefícios ao
pequeno. A partir daí, apesar da educação principal da criança ser responsabilidade
dos pais, a coletividade participava de seu preparo para viver em sociedade.
De acordo com o autor, no final do século XIV, começa a surgir uma vontade
cada vez maior de se preservar a vida da criança. Não que antes os pais não
quisessem ver seus filhos vivos, “porém a consciência da vida, do ciclo vital era
diferente, e não lhes restava outro recurso senão ter mais um filho.” Agora, se começa
a pensar em como preservar essa criança especificamente e tem início também as
preocupações com a própria saúde.
No passado, os vínculos de dependência em relação à parentela
eram vividos carnalmente; agora, eles se distendem: “meu corpo é
meu”, e procuro poupá-lo de doenças e sofrimento; mas sei que ele é
perecível e, assim, continuo a perpetuá-lo através da semente de
outro corpo, do corpo de meu filho. (GÉLIS, 2001, p. 317)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BRUSCHINI, Cristina. Teoria crítica da família. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA,
Viviane N. de Azevedo. Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento.
4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Editora da UNESP, 1999.
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador: formação do Estado e civilização. Rio de
janeiro: Jorge Zahar, 1993. v. 2
______.O Processo Civilizador: uma história dos costumes. 2.ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1994. V. 1
GÉLIS, Jacques. A individualização da criança. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER,
Roger. História da vida privada: da Renascença ao Século da Luzes. SP:
Companhia das Letras, 1991.v. 3
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da criança abandonada. São Paulo:
Hucitec, 1998.
94
PASSETI, Edson. Crianças carentes e políticas públicas. In: DEL PRIORE, Mary (Org.)
História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000.
PERROT, Michelle. Figuras e papéis. In: ______ (Org.) História da vida privada: da
Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Cia das Letras, 2001b. v.4.
POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.
95
INTRODUÇÃO
1
Aluna do Programa de Mestrado da UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista – Pres. Prudente.
Linha de pesquisa: Instituição educacional, organização e gestão.acbonachini.prof@gmail.com
2Professora e Orientadora do Programa de Mestrado da UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista –
Pres. Prudente.
96
“Eu tenho lido muito sobre o desenvolvimento das crianças de Educação Infantil, como
elas se desenvolvem como aprendem... Eu tenho buscado para compartilhar com as
professoras.” (C.Z., coordenadora pedagógica)
“Eu leio muito... que nem por exemplo, uma criança de 2 anos: quais são as suas
especificidades, o que ela é capaz de fazer com essa idade, tanto no seu nível
intelectual como motor. Eu trabalho isso com as professoras e pensamos juntas, o que
podemos planejar para essa criança.” (B.C., coordenadorapedagógica)
100
“Teve uma situação em que propus um projeto, trouxe a teoria e todas colocaram em
prática, com o passar do tempo observei que a coisa amornou um pouco, percebi que
era porque o projeto era vontade minha. Então retomei a questão, partindo do que
observei e trouxe mais informações para estudo coletivo. Até que o projeto foi em
frente e foi bacana para os professores e para as crianças pelo envolvimento de todos.
A formação é necessária para compreensão da importância das coisas”. (C.C.,
coordenadora pedagógica)
Plenamente não consigo colocar todas atribuições em prática, não. Pra mim, a
atribuição mais importante é a atuação na formação dos professores porque o grande
trabalho do PCP é realmente auxiliar o professor em sua prática pedagógica. (M.P.)
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
CLEMENTI, Nilba. A voz dos outros e a nossa voz. In: PLACCO, V.M.N.S.; ALMEIDA,
L.R. (Org.). O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. São Paulo,
Loyola, 2010.
BRASIL. CNE. Resolução CEB 1/99. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de abril de
1999. Seção 1, p. 18.
COUTO, Inalda A.P. do; MELO, Valéria G. de. Reconstituindo a história da infância no
Brasil. In: BAZILIO, Luiz C.; SÁ EARP. Maria de Lourdes: NORONHA, Patricia A.,
(Org) Infância tutelada e educação. Rio de Janeiro: Ravil, 1998.p 20-38.
MAIA, Graziela Zambão Abdiam. Pesquisa etnográfica e estudo de caso. In: Machado
Lourdes Marcelino (Org.). Pesquisa em Educação: passo a passo. Marília: Edições
M3T tecnologia e Educação, 2007.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Conforme nos mostra a obra de Philippe Ariès (1978), foi-se o tempo em que a
criança era vista com um adulto em miniatura. Também ficou para trás o tempo em
que se entendia que ela não estava preparada para o convívio com o mundo adulto,
devendo ser mantida à distância das conversas dos adultos. Esta última era uma
forma de pensar que via na criança apenas o devir, a criança não era, ela seria no
futuro quando atingisse idade suficiente, por isso não tinha direito à voz, à
participação.
CURRÍCULO E CONTEÚDOS
AVALIAÇÃO
O EDUCADOR
A FORMAÇÃO DO EDUCADOR
Kishimoto (1999) já alertava para o fato de que uma vez que se exige um salto
qualitativo, seria necessário valorizar o profissional e sua formação. Afinal, o curso
superior solicita um investimento financeiro nem sempre proporcional ao benefício
salarial, status social, responsabilidade e desgaste inerentes à carreira docente.
Como reflexo das exigências do mercado, até 1996, nas faculdades de
pedagogia não havia a preocupação de formar profissionais para atender as
especificidades da educação infantil, principalmente de crianças até 3 anos. Com a
mudança na legislação as instituições de ensino superior estão sendo obrigadas a
repensar a situação (KISHIMOTO, 1999).
112
O AMBIENTE ESCOLAR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro. LTC, 1978.
CAMPOS, Maria Malta. Entrevista. Revista Educação: São Paulo, v. 2, série especial
Educação Infantil, setembro, 2011. Entrevista concedida a Rubem Barros. Disponível
em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/144/artigo234558-1.asp>. Acesso em:
29 out. 2012.
GIUDICI, Cláudia. Conhecendo Reggio Emília. UNIVESP TV: São Paulo, Série
Educação infantil abordagens curriculares, Bloco 3 – módulo 1. Programa 2. 2010.
Depoimento concedido a Univesp TV. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4>. Acesso em: 29 out. 2012.
INTRODUÇÃO
1Dra. em Educação Especial – Profa. do curso de Psicologia – Universidade Federal da Grande Dourados
(UFGD) - veronicapereira@ufgd.edu.br
2Acadêmicas do curso de Psicologia/UFGD. Bolsistas: PROEX/PROPP/CNPq/vanessa_vfm@hotmail.com
3resgatadacsos@hotmail.com
4tais.chiodelli@hotmail.com;
117
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
100.00
80.00
60.00 não faz
40.00 faz com ajuda
20.00 faz sozinho
.00
Motor Linguagem Cognição Socialização Autocuidados
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Assim, ler e discutir trabalhos que apontem nessa direção esclarece dúvidas,
sugere procedimentos, oferece orientações quanto à escolha desses objetos, e,
principalmente, poderá auxiliar a forma como nós professores se apropriam desses
conhecimentos no cotidiano para planejar, executar e avaliar o uso desses objetos
junto as suas crianças.
Diante desse cenário, procurou-se desenvolver essa pesquisa com o objetivo
de identificar e descrever os objetos lúdicos que estão disponibilizados em uma escola
de Educação infantil municipal da cidade de Pederneiras – SP. As perguntas a serem
respondidas eram: quais objetos lúdicos estavam disponibilizados para as crianças,
como os professores se posicionam frente às possibilidades do seu uso na sala de
aula, qual a razão para disponibilizarem tais objetos para as crianças e quais eram os
parâmetros de seleção para aquisição e oferecimento à elas. Verificar, também, quais
as orientações quanto ao uso de brinquedos na educação, se devem apenas usar os
pedagógicos ou não.
METODOLOGIA
O segundo jogo mais encontrado foi o Jogo Simbólico, verificamos que foram
disponibilizados em 5 dos 24 dias observados. Porém, chamou-nos a atenção o fato
de que as professoras não ofereceram nenhum brinquedo ou jogo na categoria de
Jogo Simbólico, no decorrer das observações, as crianças transformavam seus
objetos feitos com massa de modelar em situações simbólicas, o que na categoria do
C.O.L. está no Jogo Simbólico, na subcategoria de representação.
Os brinquedos e jogos que foram observados com menos frequência, sendo
observados em 4 dias, foram os Jogos de Exercício e de Regras.
Os Jogos de Exercício foram encontrados com mais frequência nas turmas de
Maternal II. Este resultado é compreensível, pois os Jogos de Exercício, mesmo que
apareçam em toda infância, é essencialmente sensório-motor, proporcionando
atividades de repetição e motrizes, ações frequentes e características da criança por
volta dos 3 anos.
Já os Jogos de Regras foram encontrados nas turmas de Jardim II, porém, as
crianças de 5 anos ainda estão na fase da imaginação, da fantasia o que é
característico dos Jogos Simbólicos e os Jogos de Regras se constituem, sobretudo,
dos 7 aos 11 anos. Portanto, as professoras destas turmas devem sim disponibilizar
os Jogos de Regras, mas também os Simbólicos que assinala a brincadeira infantil.
Após a análise dos questionários respondidos pelas professoras verificamos
que das oito entrevistadas, seis afirmaram utilizar os brinquedos e jogos para
atividades de aprendizado quando questionadas se utilizam jogos e brinquedos em
sua prática escolar. Nenhuma professora respondeu ter utilizado os objetos lúdicos
apenas pelo simples fato do brincar/jogar. As outras duas responderam que utilizam
para as duas situações.
Em relação aos critérios para aquisição dos objetos lúdicos cinco professoras
afirmaram que é a direção quem compra os brinquedos e jogos para escola e duas
afirmaram que é o Departamento de Educação que os fornece. Apenas uma disse que
são solicitados aos professores indicações para aquisição.
Quando questionadas sobre qual era o papel do professor na utilização dos
jogos e brinquedos nas aulas observamos que a maioria das entrevistadas afirmou
que o professor tem somente o papel de orientar quanto às regras do jogo,
organização e conservação dos objetos lúdicos, apenas duas professoras
responderam que é importante possibilitar às crianças a criatividade e a imaginação
por meio dos brinquedos e jogos, deixando-as livres para criar e expor suas ideias.
128
DISCUSSÃO
são os olhos do adulto que vão identificar se o brinquedo é educativo ou não, pois
para a criança é um objeto de prazer e de descoberta.
Analisando o sistema de organização, classificação e os teóricos estudados
podemos afirmar que todos os brinquedos, jogos e brincadeiras, enfim todas as
situações que a criança vive na relação lúdica com o objeto, contribuem para seu
desenvolvimento e crescimento. Por isso é que a criança pode aprender com todos os
objetos lúdicos e não apenas com aqueles denominados educativos.
Para Oliveira (1984, p. 58):
a fim de que possam saber os seus verdadeiros papéis em relação à utilização destes
na sala de aula.
Apenas duas professoras sabem da importância dos brinquedos e jogos para
possibilitar a imaginação e a criatividade.
“O professor tem um papel importantíssimo na utilização de jogos e
brincadeiras, ou seja, o de selecionar, organizar e apresentar os materiais, procurando
através de intervenções estimular a criatividade e a imaginação, garantindo segurança
e através das observações descobrir as necessidades e desejos para enriquecer a
atividade trabalhada (Professora 4)”.
A professora 3, também, respondeu a respeito dessa importância: “O professor
deve orientar, porém nunca dizer ao aluno como se joga. Muitas vezes o próprio aluno
poderá inventar o jogo ou usar certo brinquedo de outra forma. O importante é deixar o
aluno criar, expor suas ideias”.
Segundo Vigotsky “[...] a criança desenvolve-se, essencialmente, através da
atividade de brinquedo. Somente neste sentido o brinquedo pode ser considerado uma
atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança” (1991, p. 117).
Conforme Oliveira afirma:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
E-mail: angelaubaiara@usp.br.
3Doutoranda em Educação pela USP| Faculdade de Educação| Programa de Pós-Graduação em
(mapin@usp.br). Mais informações sobre o grupo podem ser acessadas no link no Diretório dos Grupos
de Pesquisa do CNPq: <http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0067708KW2AXIV
135
envolvimento dos bebês em contato ou não com a música. A segunda etapa foi o
curso de formação musical ministrado às professoras de Educação Infantil,
pertencente ao grupo Contexto de Professores da FE-USP, dentre elas, as
professoras, gestora e supervisora pedagógica do CEI pesquisado.
A análise preliminar dos dadosdessas duas primeiras etapas da pesquisa foi
realizada da seguinte forma: Na primeira foram apresentados os resultados dos níveis
de empenho das quatro professoras dos Berçários I e II da creche e do envolvimento
dos bebês a partir da aferição dos instrumentos de avaliação de Laevers (1994). Essa
análise avaliou também o efeito do empenho das professoras e do envolvimento dos
bebês frentes as atividades musicais, pois uma das dimensões da qualidade na
Educação Infantil é o empenho do professor enquanto mediador e o envolvimento da
criança enquanto sujeito no processo, revelando a importância dessas dimensões no
trabalho junto à criança pequena (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004).
Na segunda etapa, referente ao Curso de Música, foi apresentado a análise
dos resultados a partir da categorização das falas das professoras com o suporte
teórico de Bardin (2010) e os processos de mediação de Vigotski e Feuerstein. Os
desdobramentos do curso de Música têm gerado novas ações em outras CEI’s, além
do que está sendo investigado in loco, mostrando assim importância de um trabalho
colaborativo com foco no desenvolvimento da criança pequena que visam a
transformação das práxis.
A última etapa da pesquisa será a reavaliação de todo o processo construído e
partilhado no CEI. A partir os resultados finais da pesquisa, divulgar as possibilidades
de mudanças que viabilizem propostas de musicalização de bebês e formação musical
as professoras de educação infantil de creches públicas. Espera-se que essa pesquisa
possa fornecer subsídios capazes de agregar a Educação Musical no contexto das
instituições infantis, contribuindo com o oferecimento de um serviço de qualidade
propiciador de desenvolvimento junto à criança pequena, além de ampliar e divulgar a
importância da música no desenvolvimento e aprendizagem infantil.
aprendizagem. Brincar envolve planejamento, mas os pais muitas vezes não estão
atentos às formas de brincar. Pensar na diversidade dos materiais, nos móveis, no
tempo, na limpeza, na adequação à idade é importante, mas em especial na
autonomia dos próprios filhos e na interação mútua entre os membros familiares.
Os pais necessitam de parceiros nas brincadeiras com seus filhos. Ressalta-se
a importância das escolas incluírem em suas práticas a cultura popular das crianças e
seus familiares, para dar continuidade às experiências da casa na escola.
7PORTELA, D. F. Iniciativas de atendimento para crianças negras na província de São Paulo (1871-
1888). Dissertação (Mestrado em Educação)- Faculdade de Educação – USP, 2012.
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, L. Game over: jogos eletrônicos e violência. São Paulo: Futura, 2006.
BRUNER, J. O processo da educação. São Paulo: Ed. Nacional, 1976.
______. Beyond the information given: selected, edited and introduced by Jeremy
M. Anglin. London: George Allen & Unwin. 1994.
143
1Mestrando em Educação pela Universidade de São Paulo | Faculdade de Educação | Programa de Pós-
Graduação em Educação | E-mail: wag.antonio@gmail.com.
2Livre docente, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo | Faculdade de Educação |
pode proporcionar uma fase muito rica para a criança, dependendo do que aborda e
das ferramentas que disponibiliza. Neste sentido, o uso de games é essencial, pois
possibilita à criança vivenciar situações lúdicas pelo computador, inventando e
descobrindo coisas novas.
Por meio de tentativa-e-erro, a criança passa para ações planejadas e
sistematizadas, frutos de processos cognitivos, daí resultando a compreensão do jogo.
Passaremos a compreender melhor os games partindo para uma análise dos mesmos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho buscou analisar os games por meio das teorias na área. Os
games constituem momentos de descontração, porém representam grande potencial
pedagógico, pois compõe formas desafiadoras de brincadeiras com uso do ambiente
virtual. Esses games trabalham desde regras até conteúdos e habilidades por meio de
atividades lúdicas e interativas, constituindo um novo espaço no aprendizado e na
construção do imaginário infantil.
REFERÊNCIAS
ALVES, L. Game over: jogos eletrônicos e violência. São Paulo: Futura, 2006.
ANTONIO JUNIOR, W.; KOBAYASHI, M.C.M. Os jogos eletrônicos no imaginário
infantil: 25 anos de Tetris. In: SIMPÓSIO de Comunicação, Tecnologia e Educação
Cidadã – LECOTEC, II. 2009. Anais ...Bauru, v. 1, n. 1, 2009. Disponível em:
<http://www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/eventos/lecotec2009/anais/1253-
1267JUNIORKOBAYASHI.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2012.
BARROS, D.M.V. Tecnologías de la inteligencia: gestión de la competencia
pedagogica virtual. Madri: Popular, 2008.
BROUGERE, G. A criança e a cultura lúdica. Revista da Faculdade de Educação.,
São Paulo, v. 24, n. 2, July 1998 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
25551998000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 Jun. 2009.
BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
CAILLOIS, R. Les jeux et les hommes.Paris: Gallimard, 2003.
FRAGOSO, S. Computer games: a proposal for a structured classification. VELDERS,
T. (Org.) Beeldenstorm in Deventer: Selected papers from the 4th International
Research Symposium on Visual Verbal Literacy, Rijkshogeschool Ijselland, Deventer,
1996, vol 1, n. 1, s/p.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GREENFIELD. P. M. O desenvolvimento do raciocínio na era da eletrônica: os
efeitos da Tv, computadores e videogames. Summus, São Paulo, 1988.
MYERS, D. The nature of computer games: play as semiosis. Peter Lang Publishing:
New York, 2003.
PIAGET, J. As formas elementares da dialética. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1996.
153
INTRODUÇÂO
Como dito, Vygotsky (1994) afirma que os contatos da criança com o mundo
objetivo são mediados pelo Outro. A criança começa, então, sua compreensão de
METODOLOGIA
DISCUSSÃO E RESULTADOS
3AtividadeSimultânea: Ação escolar que objetiva a execução de uma ou mais ações ao mesmo tempo,
proporcionando a inserção de faixas etárias diferentes na mesma tarefa.
159
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
infantil, a proposição de Maia (2004) faz muito sentido, pois, nos convida a refletir e a
defender a sexualidade nesta etapa da escolarização como um espaço entre a
subjetividade e a atividade corporal; atos/atitudes; relacionamentos e significados.
Acima de tudo, esse “conceito amplo” implica considerar o indivíduo um ser
sexuado, desde a infância e que, segundo Freud, esta sexualidade está presente,
inerente à personalidade da criança em sua busca incessante pelo prazer, pelo prazer
da vida, pelo prazer da descoberta de si, do outro e do mundo.
Sexualidade, no campo de atuação profissional do professor em sua relação
com as crianças e das crianças entre elas mesmas é a observação e a percepção, nas
brincadeiras, no cuidado e no educar de que a criança desenvolve-se, além de
biológica, física e cognitivamente, por meio da cultura e do meio social, também
psicossexualmente.
Carvalho (1998) afirma que
MÉTODO E PROCEDIMENTOS
Optou-se por uma pesquisa exploratória, que segundo Severino (2007, p.123)
caracteriza-se por “levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando
assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”.
Neste método têm-se uma preparação para uma pesquisa mais aprofundada.
Participaram da pesquisa 18 estudantes de graduação em Pedagogia, sob
Consentimento Voluntário. Destes, havia apenas um homem. A idade média dos
participantes está entre 25 anos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1° Momento
Dos participantes da pesquisa, no início e no final do ano letivo, 6 já trabalham
na educação infantil; 4 já trabalham há 3 anos e apenas um participante, trabalha há
mais de 10 anos, num total de 18 participantes.
Os 73% dos participantes estão em formação inicial e não atuam como
professores. Isso traz um indicador importante, se considerado, a influência que uma
reflexão educativa no tocante ao gênero e à sexualidade pode proporcionar a esses
futuros profissionais, ao contrário daqueles que, uma vez já inseridos na prática,
necessitam dessa oportunidade de se permitir refletir e mudar, no tocante a
resistências, por exemplo, à figura masculina na escola de educação infantil.
O resultado sobre a presença do professor homem na creche de educação
infantil trouxe uma reflexão importante que levou a continuidade da pesquisa para o
segundo momento, especialmente, pela questão da presença de homossexuais como
professores, e a percepção dos formandos sobre isso. As reflexões desta questão, ao
169
Seria bom
(12) 67%
Se for
homossexual,
sim (1)
5%
aula cuidando de seus filhos [...] Sinceramente, ainda tenho certa resistência a esse
assunto [...]” (RELATO 5).
Algumas outras colocações dos participantes da pesquisa: Os homens
“invadiram” o espaço escolar feminino; professores homens são poucos; o professor
homem tem pouca ou nenhuma aceitação por parte da sociedade, dos pais; o
professor homem é um professor homossexual; as resistências ao professor homem
na escola de educação infantil estão entre as próprias professoras mulheres; para
trabalhar na educação infantil é preciso uma personalidade frágil, fraca e delicada;
imagem do amor, da mãe, do carinho, imagens, portanto, que não cabe ao homem,
mas à mulher; A presença de um professor homem é estranho, causa estranheza; um
professor homem tirará o “sossego” dos pais.
A formação em pedagogia precisa buscar essa exigência de “pensamentos que
se pensem”. Para Melo (2004), envolve questionar-se a si próprio; ter a questão da
sexualidade como fator científico e de formação.
O Relato 6 é significativo para nossa análise. Primeiro porque demonstra e
valida a resistência dos pais quanto à presença de um homossexual estagiário. É
interessante que a resistência das mães não se tratava de um homem, mas,
declaradamente, se tratava de preconceito contra o estagiário homossexual.
“Como já trabalho na educação infantil tive uma ótima experiência ao trabalhar
com um estagiário homossexual,como era um berçário, houve grande insatisfação e
indagações de várias mães, muitas não aceitavam a presença de um homossexual no
berçário, no entanto, ele fazia um ótimo trabalho. Depois de muitas reuniões,
explicações, etc., as mães se acostumaram com sua presença na creche e este
passou a ser aceito normalmente com as mães” (RELATO 6).
É, sem dúvida, urgente, que não só os currículos do curso de pedagogia se
tornem sexuados, mas as pessoas, os futuros professores também reconheçam a
sexualidade em suas vidas e na vida de seus educandos.
Fica patente nos relatos que a visão dos formandos, sobre o professor homem,
traz implicações à sexualidade das crianças; trazem implicações à integridade sexual
das crianças – pois consideram os professores homens, possíveis pedófilos. Enfim,
estamos diante de uma porcentagem considerável de formandos, em um curso de
pedagogia, que serão responsáveis para a continuação do preconceito tanto aos
homens professores, sejam eles, hetero ou homossexuais: se heterossexuais; são
potencialmente anti-carinhosos, anti-afetivos e não sabem lidar com as crianças; se
homo, podem influenciar a opção sexual dos educandos infantis. Ora, pensar sobre a
172
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mais recentemente, a presença masculina na docência da educação infantil
tem dinamizado discussões e alguns movimentos de mudança no interior das escolas
de educação infantil. A questão do homem professor ainda é recoberta com grandes
desafios para estes professores (SAPAROLLI, 1997). Desafios que se iniciam nos
cursos de licenciatura, com a escolha pelo curso, fundamentalmente e, no decorrer do
curso, com as reservas das professoras titulares de sala, nos estágios
supervisionados e quando do exercício docente os desafios são inerentes à própria
prática.
Como ponta pé inicial do projeto de doutorado em andamento e estas reflexões
sobre os desafios que se iniciam na escolha da formação em licenciatura, alguns
encaminhamentos já são perceptíveis e identificáveis para o projeto:
o senso comum e as reservas sobre o professor homem na escola de
educação infantil, são posicionamentos e ideias fortes e, sobretudo, presentes,
mesmo na pessoa do futuro professor, formado em cursos de pedagogia;
os professores em formação que se mostram resistentes à presença de
homens na educação infantil, especialmente na creche, não demonstram
possibilidades de superação de seus posicionamentos referente às relações de
gênero e sexualidade na docência;
todos os posicionamentos dos participantes indicam que o professor homem
implica de alguma forma no desenvolvimento das percepções e identidades de
gênero e de sexualidade das crianças pequenas.
O professor homem, portanto, é um “perigo”, uma “ameaça” à segurança dos
educandos infantis, principalmente na creche. Contudo, é extremamente útil (67% daS
respostas) que o homem esteja representado neste espaço de conhecimento de si e
do mundo: a escola de educação infantil.
O primeiro momento da pesquisa, embora restrito a dados pontuais e, portanto,
limitados a uma análise mais ampla, foi suficiente para detectarmos, pelo menos, de
modo exploratório, que o professor homem é mais aceito na pré-escola do que na
creche e que, em ambas as modalidades, tratando-se de um professor homem
homossexual, é totalmente reprovável na fala dos participantes da pesquisa.
O segundo momento permitiu um aprofundamento dos dados que até então
eram pontuais, valorativamente numéricos, obtidos no primeiro momento. Neste
173
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo,
com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado.
Desse modo, a atuação docente necessita ser baseada em constantes
reflexões pedagógicas. Isso permitirá não só o professor conhecer e desvelar o mundo
infantil como também saber conhecer as necessidades e características do processo
de desenvolvimento da criança em questão, aliando a necessidade de ensiná-la a
humanizar-se.
Desse modo, o referido trabalho se propõe a discutir sobre a prática do
professor a partir do enfoque de aspectos referentes ao desenvolvimento social da
criança expondo alguns resultados da pesquisa de campo realizada em um centro
Educacional Infantil, no município de Parintins-Amazonas, fazendo análise e discussão
a partir das bases teóricas e experiências vivenciadas na observação.
A partir do interesse de investigar a temática, projetou-se como objetivo
principal deste trabalho, a partir de reflexões teóricas e vivências da realidade em um
centro educacional infantil, compreender as implicações da prática do professor de
Educação Infantil no processo de desenvolvimento social da criança. Para isso foi
objetivado especificamente discutir sobre as ações do professor de educação infantil
bem como analisar situações didáticas e suas interferências no processo do
desenvolvimento social da criança no contexto escolar.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Para DeVries e Zan (1998), a roda de conversa deve ser vista pelos
educadores de infância como “um dispositivo pedagógico” muito importante e
extremamente desafiante. A sua importância se justifica pelas possibilidades que
proporciona em termos do exercício da responsabilidade individual e coletiva, do
estabelecimento de metas e normas, a administração de problemas e conflitos, a
tomada de decisões coletiva e a prática da democracia.
Destaca-se ainda que a prática de organizar a sala de aula em roda para
conversar traz inúmeros significados, e um deles é a expressão por meio da
linguagem oral de sentimentos, ideias e valores que se tornam presentes nesse
espaço. Nesse momento deve haver a troca de conversas informais que contribuam
para estabelecer afetividade no grupo, oferecendo importantes elementos e
informações para que o professor possa conhecer melhor sua turma e planejar novas
situações a partir das necessidades e interesse das crianças.
No entanto, a relevância desse momento não foi tão percebida, que ao invés
de tornar-se uma ocasião prazerosa, interativa de trocas de experiências, momento de
ouvir as crianças de fazê-la se sentirem à vontade e importantes, percebeu-se uma
relação de certo modo desmotivada, exaustiva, repetitiva, desinteressante. Atitude
esta que necessita ser refletida, pois este espaço da roda de conversa, como já foi
mencionado, contribui para que as crianças sejam capazes de construir
conhecimentos importantes para seu desenvolvimento social.
Isso nos remete dizer que a formação de professores, em especial para a
educação infantil deve considerar essas atividades como um caminho de expressão e
comunicação, capazes de favorecer o desenvolvimento integral e saudável da criança,
para que sua presença nesse momento seja realmente a de um adulto mediador do
aprendizado e não um mero cumpridor de tarefas rotineiras.
Esse período da socialização escolar na vida da criança é crucial porque é o
momento propício e fértil para disseminação de ações, valores, de práticas concretas
de cooperação, solidariedade e responsabilidade, pois como já foi mencionado antes,
é a educação infantil que introduz a educação formal da pessoa humana e deve
construir bases fortes para o seu desenvolvimento social, visto que, é essa instituição
educativa que contribui de forma significativa para a transformação da sociedade.
Quanto a outras atividades presenciadas, quanto ao desenvolvimento dos
conteúdos curriculares, se verificou atividades que colaboraram para tolir e
negligenciar o desenvolvimento do pensamento da criança. Ao elaborar uma atividade
pedindo que elas escrevessem palavras que começassem com letras “R, T, P, M e J”.
181
Ela pediu para elas escreverem, passados alguns segundos a professora vai ao
quadro e escreve algumas palavras que começam com essas letras, e quando as
crianças mostram o que fizeram, a professora fala “não é assim não, olha lá no
quadro, é pra escrever aquelas que estão lá”, é como se estivéssemos retrocedendo,
em que o mestre diz qual é a pergunta e a resposta certa.
Por isso é tão importante que a ação do educador com crianças seja
diariamente permeada de reflexão das práxis para que a partir disso possa vir a
conhecer realmente a criança em sua essência com suas potencialidades e
características individuais e coletivas. Desenvolver uma atuação com sentido e
significado para a criança, só será possível quando o próprio adulto que media esse
processo reconhecer-se como ser inacabado que necessita saber desenvolver o ato
de aprender.
Percebeu-se que a prática pedagógica dos professores necessita de um novo
olhar, uma nova atitude, rever suas concepções do ser criança, pois foi presenciado
poucas vezes uma melhor interação com as crianças, que foi através da atuação da
monitora (que está ali mais para auxiliar a criança com Necessidade Educacional
Especial) que buscava uma forma positiva de “ajudar” e mediar a criança a
desenvolver-se socialmente em sala de aula, quando falava: “pergunte ao seu colega
como ele está; olhe para ele; abrace-o”. Atitudes como essas geram grandes
significados na vida de qualquer ser humano e em se tratando da criança tal reflexo
será maior, porque além de estarem construindo suas bases educativas, também
estarão desenvolvendo uma relação harmônica no meio ao qual estão inseridos.
Outra situação percebida foi à maneira de classificar as crianças na
realização das atividades propostas. A educadora dizia “esse daí[...] nunca faz, toda
vez deixa a atividade em branco, não conhece as letras[...] nem sabe fazer o nome”.
Mesmo assim a criança ainda olha pra professora e deixa seu trabalho em cima da
mesa. Isso, em minha análise é uma prática que pode marcar negativamente a criança
porque ela passa a ser rotulada pelo professor, o que a torna impossibilitada de
mostrar suas capacidades porque já passa a ser desqualificada perante aos outros
colegas.
Atitudes como essa mostram uma educação tradicional, cujo foco volta-se ao
professor como único detentor do saber, o qual passa a medir e negar a
potencialidade infantil, ao contrário disso, o professor deve buscar compreender as
reais dificuldades e necessidades das crianças, por isso que ratifico novamente a
182
Para que haja realmente educação é preciso que se saiba pra que, para quem
e com que intenção ou sentido se educa, caso contrário não haverá nem aprendizado
nem desenvolvimento seja ele cognitivo, físico ou social.
No entanto, nas práticas observadas, identificou-se que uma das educadoras
não fazia a leitura de histórias infantis com as crianças, não é que não tenha, existem
alguns livros na sala, porém não eram explorados. Notou-se que as crianças gostavam
porque sempre me pediam para ler, mas isso só era possível quando terminava o
tempo de aula, quando algumas aguardavam os pais virem buscá-las. Ao praticar esse
momento com elas é possível ver as crianças viajarem no seu imaginário, isso foi
comprovado porque quando terminava a leitura elas falavam: “conta mais” e quando
os pais chegavam elas falavam “ahhh espera só um pouco”, essas falas mostram que
a "hora da história" é um momento valioso para a educação integral, pois a criança se
torna apta a ouvir, a pensar e a sonhar o que favorece o desenvolvimento da relação
interacional entres esses sujeitos.
Diante desse contexto, é possível afirmar que a qualidade de interação social
que se estabeleceu nas classes observadas, em muitas situações, deixou a desejar
quanto à formação social da criança, principalmente em uma turma, em que a docente
perdeu oportunidades de desenvolver e melhorar sua atuação pedagógica em cima
das necessidades e diversidades das crianças presentes no espaço escolar por meio
das atividades rotineiras que numa visão ligeira poderia parecer simplista, mas no
fundo teriam respaldos significativos na vida da criança.
Dentro de uma visão mais geral pode-se constatar que as educadoras de modo
geral, muitas vezes privaram-se, de conhecer a espontaneidade infantil,
principalmente nos momentos da brincadeira e atividades extraclasses, em que a
criança mostrava realmente sua naturalidade, isto foi comprovado por meio dos
registros que muitas vezes indicaram certo distanciamento de seus alunos à medida
que usavam os momentos de interação como meio para supervisionar as brincadeiras
183
CONSIDERAÇÕES FINAIS
184
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
2 Os RCNs para a Educação Infantil estão organizados dividindo os blocos de conhecimento para
crianças entre 0 a 03 anos de idade (creche) e entre 04 e 06 anos de idade (pré-escola), uma vez que sua
elaboração é anterior ao Ensino Fundamental obrigatório de 09 anos, o que exigiu a entrada de crianças
de 06 anos no primeiro ano do Ensino Fundamental.
188
afirmar que ambas as fileiras são iguais. Mas, se afastar as moedas de uma das
fileiras, de modo que sua disposição espacial fique diferente da outra, sem acrescentar
e nem tirar moedas, continuo a ter a mesma quantidade?
Esse é um exemplo de situação problema que põe a criança a refletir sobre a
questão e a solicita a acionar determinados conhecimentos e estruturas cognitivas
previamente construídas como, por exemplo, a possibilidade de conservar
quantidades, ainda que a disposição espacial da mesma seja alterada. Uma situação-
problema é uma situação vinculada ao contexto escolar ou não, na qual se deseja
atingir um determinado objetivo, sendo que, os caminhos a serem percorridos não
estão previamente definidos, mas serão construídos pelo indivíduo.
No trabalho com os conteúdos matemáticos, na educação infantil, é possível,
ainda, relacionar seus temas à questão da moralidade como, por exemplo, propondo
jogos nos quais estejam envolvidas situações de trapaças para ganhar, delações,
castigos, no intuito de que as crianças possam pensar se tais ações são corretas ou
não. Propor, ainda, dilemas morais para serem discutidos na hora da roda ou na
divisão do lanche, por exemplo, sempre levando em conta o egocentrismo das
crianças dessa idade.
Os jogos são instrumentos privilegiados no trabalho com o conteúdo
matemático na Educação Infantil e podem propor diversas situações nas quais
questões morais, envolvendo valores e tomadas de decisões, possam estar
presentes.Os jogos simbólicos e de regras, charadas, dilemas, e outras atividades,
configuram-se como situações-problema e podem ser trabalhados com o intuito de
desenvolver a autonomia nas crianças de Educação Infantil.
Acreditamos que nosso estudo se justifica pela importância de se verificar e
analisar a possível relação entre conteúdos matemáticos e desenvolvimento da
moralidade na Educação Infantil, por meio do trabalho docente. As leituras e pesquisas
realizadas por nós na área do desenvolvimento sócio-moral, desde 2000, revelam que
existem poucas pesquisas envolvendo o tema, o que, mais uma vez, justifica um
estudo voltado a esse fim.
Desse modo, os objetivos centrais do estudo foram: analisar as concepções de
professores de Educação Infantil (pré-escola) sobre o desenvolvimento da moralidade
nas crianças;Analisar as concepções desses professores acerca das possíveis
relações entre conteúdos matemáticos e desenvolvimento da moralidade infantil, e,
Avaliar qual a melhor forma de se trabalhar a construção da autonomia moral por meio
dos conteúdos matemáticos na Educação Infantil.
189
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
193
INTRODUÇÃO
fabianacia@hotmail.com
195
METODOLOGIA
Participantes
Participaram desta pesquisa 16 mães e 1 pai, com idades variando entre 19 e
37 anos (média de 29,30 anos). Em relação à formação, 03 declararam ter Ensino
Fundamental Incompleto e 01 ter apenas cursado o Ensino Fundamental; 01 não
concluiu e 06 completaram o Ensino Médio; 02 não concluíram e 04 concluíram o
Ensino Superior. Segundo Critério Brasil, 03 destas famílias encontravam-se na
Classe Econômica B2, 11 na classe C e 03 na classe D.
Dentre as 17 crianças, 10 eram do sexo masculino e 07 do sexo feminino. As
idades variaram entre 2 e 4 anos (média de 3 anos) e todas estavam frequentando
pré-escola pública, distribuídas nas fases 2 (n=6), fase 3 (n=4), fase 4 (n=6) e fase 5
(n=1).
Coleta de dados
A pesquisa foi desenvolvida nas dependências das pré-escolas onde os pais
puderam responder aos instrumentos com o mínimo de interrupções possíveis durante
a aplicação dos mesmos. Por melhor conveniência dos participantes, algumas
entrevistas foram realizadas em outros locais, como nas suas residências. Os
professores responderam aos instrumentos na pré-escola.
Instrumentos aplicados aos pais
1. Social Skills Rating System – SSRS – Versão para Pais, queavalia o
repertório de habilidades sociais, os problemas de comportamento e a
competência acadêmica de crianças (da Pré-escola à 6a série), sendo
197
composto por duas escalas tipo Likert: (a) 38 itens de 3 pontos, em que o
respondente assinala qual a frequência que a criança emite cada uma das
situações de interação social e qual o grau de importância que atribui a
cada comportamento e (b) 17 itens em que o pai assinala qual a frequência
que a criança emite cada um dos comportamentos problema. Este
instrumento foi validado para o contexto do Ensino Fundamental no Brasil
por Bandeira et al. (2009).
2. Inventário de Habilidades Sociais Educativas (IHSE-Del Prette para pais).
Este instrumento estava em fase de elaboração e avaliação psicométrica e
avalia o repertório de habilidades sociais educativas de pais com base na
estimativa que o respondente faz sobre a frequência com que reage da
forma indicada em cada item. O inventário utilizado era composto por uma
escala tipo Likert com 83 itens de 5 pontos que descrevem situações de
interação social com o(a) filho(a) e uma possível frequência de reação a
ela. Este instrumento propõe-se a avaliar as Habilidades Sociais Educativas
Parentais em cinco distintos fatores, a saber: F1 – Estabelecer limites,
corrigir, controlar; F2 – Demonstrar afeto e atenção; F3 –
Conversar/dialogar; F4 – Induzir disciplina; F5 – Organizar condições
educativas.
Procedimento de coleta e análise de dados
Após aprovação do Comitê de Ética, foi feito contato com a Secretaria de
Educação de um município de médio porte do centro-oeste do Estado de São Paulo,
que concedeu autorização para a pesquisa nas pré-escolas que tivessem interesse em
participar. Nos Centros Municipais de Educação Infantil e nas Creches contatadas, o
projeto foi apresentado à direção da unidade de ensino, em reuniões individuais com a
direção e coletivas com os professores e funcionários (Horário Técnico Pedagógico
Coletivo – HTPC – ou Reuniões Pedagógicas).
Em seguida, foram entregues cartas-convites que deveriam ser repassadas a
pais/mães das crianças e devolvidas para a primeira pesquisadora a fim de serem
feitos os contatos telefônicos com os participantes que indicaram disponibilidade para
a pesquisa. Após o aceite em participar da pesquisa, as entrevistas foram agendadas
de acordo com a disponibilidade de dia, horário e local de cada pai/mãe. Cada
participante leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que,
uma vez autorizado, fosse iniciada a aplicação dos instrumentos (SSRS – Versão para
Pais e IHSE-Pais), em forma de entrevista. A pesquisadora lia cada item em voz alta e
198
DISCUSSÃO
Quando estou com muitas tarefas, meu filho se oferece para me ajudar. 1,35 1,58
“Procuro me informar sobre os contatos virtuais de meu filho na internet”. 0,76 1,56
Nota: A pontuação para cada item variou entre 0 (nunca) e 4 (sempre).
Segundo o autorelato dos pais, os itens que apresentaram maior média de
frequência compõem, dentre outros, estavam relacionados a Demonstrar afeto e
atenção. Os dados também indicam o alto desempenho dos pais nas Habilidades
Sociais Educativas de Monitoria Positiva, que, neste caso, são comportamentos
verbais e não verbais dos pais que expressam aprovação a comportamentos do filho
por meio de elogios sinceros e relacionados às respostas das crianças em diversos
contextos (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2008b). Desta forma, os pais também se
apresentam como modelos de comportamentos sociais desejáveis, provendo
condições favoráveis ao desenvolvimento e à aprendizagem de seus filhos,
corroborando com dados da literatura (BOLSONI-SILVA, 2003; LUBI, 2003;
SALVADOR; WEBER, 2005).
Noquadro 2, apresentam-se os escores obtidos referentes ao repertório de
habilidades sociais (tanto para cada sub escala avaliada pelo SSRS-Versão para pais
quanto para o total de Habilidades Sociais), aos problemas de comportamento
externalizantes, problemas de comportamento internalizantes, aos comportamentos de
hiperatividade e ao total de problemas de comportamento dos filhos.
Quadro 2 - Repertório de habilidades sociais, problemas de comportamento
externalizantes, problemas de comportamento internalizantes e de hiperatividade das
crianças
HABILIDADES SOCIAIS MÉDIA D.P. FAIXA MÉDIA
Fator 1 10,00 5,15 7,13 - 14,99
Fator 2 10,70 3,26 9,60 - 14,87
Fator 3 10,88 3,62 7,82 - 14,02
Fator 4 11,65 3,43 8,59 - 14,35
Fator 5 5,88 2,52 4,76 - 9,08
Fator 6 2,59 1,94 2,06 - 5,64
Habilidades Sociais totais 39,59 11,72 35,08 - 53,36
Hiperatividade 6,65 2,98 0,62 - 3,66
Problemas de Comportamento Externalizante 7,82 3,54 3,53 - 8,77
Problemas de Comportamento Internalizante 2,53 1,42 2,56 - 6,26
Problemas de Comportamento Total 15,76 6,59 8,04 - 19,18
Nota: Fator 1 – Cooperação; Fator 2 – Amabilidade; Fator 3 – Iniciativa/desenvoltura social;
Fator 4 – Asserção; Fator 5 – Autocontrole/civilidade; Fator 6 – Autocontrole passivo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1UNICAMP/FE/LOED paulinhacarra@gmail.com
2UNICAMP/FE/LOED/FAPEMAT ritamenegao@gmail.com
205
adepender das políticas e contextos dos quais são provenientes. Dessa forma, elas
apresentam semelhanças, sem, contudo, serem iguais.
Como se vê mais que nunca é preciso avançar para um modelo educativo
capaz de romper com o histórico de educação escolar enraizada numa instituição
altamente elitista, hierarquizada, seletiva, classificatória, individualista e que
desconsidera a família.
Nos estudos que realizamos não foi possível reconhecer esforços na
construção de uma parceria entre escola e famílias, percebemos que a educação
esteve, ao longo de décadas, voltada para um ensino conteúdista e com pouca, ou
sem nenhuma, relação com o meio social do aluno. Assim, diante das dificuldades
apresentadas pela educação nacional, diversos atores foram responsabilizados:
alunos que não querem aprender, professores mal pagos e mal formados e agora, a
família que não participa. Assim compreendemos que a família mais do que desejada
como parceira é buscada na tentativa de explicar o que é evidente: a educação no
Brasil carece de atenção, não de alunos, professores ou familiares, mas de políticas
públicas que permitam e possibilitema esses atores ocupar o lugar que de fato lhes
cabe na construção de uma educação que promova “[...] uma sociedade
economicamente justa, politicamente democrática, socialmente solidária e
culturalmente plural, condições básicas para o re-encontro do homem com sua
humanidade.” (DAIBEM, 1997, p. 15-16). Ao almejarmos que a escola pública seja
também uma escola de qualidade, na qual a comunidade tenha voz e vez, estamos
em busca de um mundo melhor especialmente para aqueles que têm sofrido com as
desigualdades sociais e econômicas, vivenciadas ao longo da história.
Atualmente, a educação é um direito subjetivo. Direito esse previsto na
Constituição Federal da República Federativa (1988) e reafirmado na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que determinam a participação dos
pais para a efetivação do processo da gestão democrática nas escolas.
Para Luck, (2006) “a busca pelo fortalecimento dessa parceria colaborativa se
apresenta, no atual contexto social, como um dos poucos caminhos viáveis para que
escolas e famílias consigam superar as dificuldades que vêm enfrentando na
educação”.
Para Veiga (2003, p. 268), formar um indivíduo atuante na sociedade,
consciente de seu papel, capaz de desenvolver-se pessoal e socialmente é dever da
educação que pode ser explicada pela
[...] tríplice finalidade da educação em função da pessoa, da
cidadania e do trabalho. Desenvolvendo o educando, prepará-lo para
206
Entendemos o PPP como uma tarefa a ser realizada pelo coletivo da escola,
educadores, pais, funcionários, e equipe gestora para que se tornem claras as
finalidades da instituição e a participação como indispensável para traduzir e
implementar as necessidades e aspirações da comunidade escolar. Nesse sentido,
planejar significa prever ações com base nos objetivos traçados, para que as ações
futuras sejam resultantes dos desejos dos atores e da comunidade escolar. Porém, ele
é um processo que exige a constante (re)construção, o que demanda muitos esforços.
O PPP é entendido como propõe Vale in Bicudo (1999, p.69) uma ação efetiva e
intencional que busca tornar realidade o desejo de muitos, algo que exige
envolvimento das pessoas em função dos objetivos e metas, ou seja, “é a marca da
liberdade humana de querer mudar e transformar a realidade natural e social
existente”.
Desse modo entendemos que este projeto pode ser para a escola uma via de
emancipação frente à desvalorização e desinteresse dos poderes públicos em relação
à educação quando assumido como um documento político e pedagógico. É crescente
na rede, lócus do estudo, a omissão do político passando-se a chamar apenas Projeto
Pedagógico ao invés de PPP.
207
Para que a escola cumpra de fato sua função social e seja capaz de oferecer
educação de qualidade social é imprescindível que, cada vez mais, assuma sua
função política na formação dos sujeitos e na tomada de decisões, assim o PPP é uma
possibilidade pensada e implementada para e pelo coletivo da escola.
Para Malavazi (2000, p. 263)
Pois, “todo projeto traz em si uma concepção de ser humano e uma concepção
de sociedade, mesmo quando finge passar por não-ideológico” (VALE apud BICUDO,
1999 p. 70-71).
Para o autor:
[...] o projeto pedagógico é sempre um projeto político-pedagógico na
medida em que realiza opções, toma partido diante da realidade
existente e diz (ou deveria dizer) a que veio de maneira transparente.
Essa atitude de definição em relação aos fins e valores evidencia que
o projeto, seja social, educacional, político, individual, será sempre
um instrumento de ação e, nesse sentido, terá de definir em termos
não apenas teleológicos (em função de fins), axiológicos (em função
de valores), mas também, em termos políticos (em função do sentido
social e abrangência), social (em função de prioridades) e científicos
(em função do conhecimento existente). (grifos do autor)
posicionará diante dos desafios diários. Toda tomada de decisão, seja ela para validar
as práticas correntes ou para mudar o rumo do trabalho, é fruto de uma avaliação e
por isso o PPP construído, revisto e atualizado é também uma forma de avaliar a
escola.
Alguns projetos relataram as reflexões e as tomadas de decisões coletivas na
tentativa de promover a gestão democrática e participativa, nesse sentido os órgãos
colegiados ganharam destaque.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como é comum nesse tipo de trabalho saímos com mais perguntas que
respostas. Se o PPP for concebido como um instrumento de construção coletiva que
reflete as finalidades e valores necessários para o cumprimento da função social da
escola, cabe-nos indagar: por que eles não são facilmente acessíveis a comunidade
interna e externa à escola? O que se assume neste documento não é coerente com a
prática cotidiana da escola? Ou será que o documento e a prática revelam uma
educação seletiva, fragmentada e apolítica, longe dos ideais de democracia e de
educação como direito de todos e de cada um?
Compreendemos e defendemos que todo PPP se identifica como projeto
político. Mas, dentre os sete projetos escolares pesquisados apenas um se intitula
Projeto Político Pedagógico (PPP), os demais apenas Projeto Pedagógico (PP).
Resta-nos perguntar: Qual a intencionalidade de se assumir um projeto de educação
que não seja político? Se não, porque negar o político na nomenclatura? Uma vez
que, educação e política não se separam, cabe aos educadores atentarem-se para
esta especificidade, pois todo projeto/ato traz em si a concepção de ser humano e de
sociedade que se deseja formar.
As escolas colocam em seus PPPs, (PPs) as características da família dos
seus alunos como participantes e colaborativos. Pareceu-nos também que a própria
escola define onde deve ser a participação da família, elegendo para tal, alguns
espaços e suprimindo outros. Um reiteradamente colocado é o da manutenção da
ordem, obediência às regras, sejam estas propostas ou não coletivamente. Sendo
outro o chamamento para ajudar no custeio e despesas orçamentárias. Encontramos
assim, incoerência entre o discurso existente no senso comum (não participação das
famílias) e os achados nos PPPs pesquisados.
213
Se o que se ouve é que a família está distante da escola e da vida escolar das
crianças e os documentos apontam que a família, quando convidada, tem atendido as
solicitações da escola. Diante de tal fato pode-se entender que possivelmente as
famílias estão sendo “cobradas” por ações para as quais nem sequer foram
chamadas. Se as escolas definissem e facilitassem o que esperam dessas famílias de
fato não encontrariam melhor forma de concretizar esse desejo? Será que a forma de
aproximação ou de participação proposta pelas escolas à família não está
equivocada?
As unidades escolares não deixam de constituir seus mecanismos de
representação coletiva, por falta de participação dos pais. Pois eles se fazem
representar em seus segmentos de acordo com o que vimos nos PPPs. Porém, saber
mais sobre a qualidade desta participação, exigiria outra estratégia de coleta de
dados, não prevista neste trabalho. Mas, mesmo assim, não nos pareceu haver nos
documentos, preocupação e nem mesmo a definição de ações e de profissionais para
viabilizar uma participação política por parte das famílias.
Ao finalizar este estudo percebemos que o PPP e a participação da família na
escola é um campo complexo e contraditoriamente repleto de possibilidades para se
constituir em um movimento em prol de uma educação emancipatória, desde que
assumida e comprometida coletivamente pelos atores locais, sem, contudo
desresponsabilizar as demais instâncias (meso e macro) de suas
atribuições.Alertamos que não se trata de contribuir com as políticas de
desresponsabilização do Estado e de responsabilização das famílias, mas da junção
dos esforços destes para uma educação de qualidade social.
O trabalho não se esgotou, havendo necessidade de imprimir novos olhares e
metodologias na tentativa de aprofundar os conhecimentos abordados.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
físicas e comportamentos esperados para cada sexo nos pequenos gestos e nas
práticas rotineiras da educação infantil.” (VIANNA; FINCO, 2009, p.274). Na busca por
compreender como ocorria a educação de meninos e meninas que transgrediam as
fronteiras do que lhes era imposto, as autoras verificaram “como as características
aparentemente naturalizadas e direcionadas à masculinidade e à feminilidade são
resultantes de muitos esforços para deixar marcas distintas no corpo, no
comportamento e nas habilidades dessas crianças.” (VIANNA; FINCO, 2009, p.274).
Neste sentido, ao longo do artigo, procuraram evidenciar as complexas
interações entre professoras da educação infantil e crianças que transgrediam as
fronteiras de gênero.As autoras constataram que as crianças que transgridem ao que
lhes é imposto são acompanhadas e investigadas pelos professores de forma
individual, tornando-se um “caso”.
Dessa forma, no artigo, as autoras apresentam relatos de uma professora de
dois casos de transgressões das fronteiras de gênero e as percepções sobre cada um
deles. O “caso do menino que se veste de noiva” e o “caso da menina que usa tênis
de dinossauro”. (VIANNA; FINCO, 2009).
Diante dos relatos as autoras concluem que as preferências são construídas e
que a classe da pré-escola observada tende a contribuir para que as crianças sigam
um padrão socialmente imposto do que seria certo ou errado para cada sexo.
Constataram que o modelo binário masculino-feminino é apresentado diariamente
para elas e que é impresso em seus corpos de acordo com as expectativas colocadas
cotidianamente, na forma como as professoras interagem com elas.
As autoras afirmam que a transgressão dos padrões socialmente aceitos
costuma ser socialmente mal vista. E que a criança transgressora desafia as normas
pressupostas e coloca-as em discussão, mostrando que é possível fazer educação
produzindo diferenças.
Em seu artigo intitulado “Expansão da educação infantil e processos de
exclusão”, Fúlvia Rosemberg analisa o processo de expansão da educação infantil
que ocorreu durante o governo Geisel e seus desdobramentos após alguns anos. De
modo que seu texto revela novos processos de exclusão gerados pela política de
democratização da educação infantil.
Como fonte de pesquisa foram utilizados dados coletados, sistematizados e
divulgados pelo IBGE e SEEC/MEC, bem como documentos nacionais e de
organismos intergovernamentais (UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
e UNESCO).
220
uma vez que a formação proposta deve ser breve. Classificando os documentos como
manuais e/ou receituários para o educador pré-escolar.
As análises tecidas pela autora durante a pesquisa levaram a concluir que, ao
longo da história, tem-se reforçado a imagem do profissional da educação infantil
como sendo o da mulher “naturalmente” educadora, passiva, amorosa, que sabe agir
com bom senso, em detrimento da formação profissional. Além disso, a autora aponta
para o fato de que a não valorização salarial, a inferioridade perante aos demais
docentes, a vinculação com o trabalho doméstico e a deficiência de conhecimentos
articulam-se à difusão da figura mitificada, que não consegue desvincular-se das
significações que interligam a mãe e a criança.
Em seu artigo intitulado “pequena infância, educação e gênero: subsídios para
um estado da arte”, Ana Lúcia Goulart de Faria reúne pesquisas da área da educação
infantil que analisam as relações de poder entre meninas e meninos de zero a seis
anos que frequentam creches e pré-escolas, as relações entre as crianças e as
profissionais predominantemente do sexo feminino e também as que investigam as
relações de poder entre essas mulheres adultas. Desse modo, apresenta como
objetivo iniciar a descrição de um estado da arte. A autora destaca as mulheres
pesquisadoras que desde meados dos anos de 1970, no interior dos movimentos
feministas, vem identificando o papel da infância na construção da realidade social.
Faria (2006), expõe os resultados de pesquisas realizadas na área educacional
que mostram que as crianças pequenas são portadoras de história, produtoras de
cultura, são sujeitos de direitos. Com relação às pesquisas sobre a pequena infância e
as relações de gênero na educação infantil, tanto em creches como em pré-escolas, a
autora aponta que estão em uma trajetória promissora. Dessa forma, elenca os
estudos realizados por Finco (2004) e Gobbi (1997) que tem mostrado outras formas
de construção cultural do feminino e do masculino. E também faz referência o estudo
realizado por Sayão (2005) que, segundo a mesma, aponta para a construção de uma
sociedade mais justa e menos sexista.
Em suas conclusões a autora menciona a pesquisa realizada por Eloísa Rocha
(1999) que elaborou um primeiro estado da arte das pesquisas sobre educação das
crianças de zero a seis anos em creches e pré-escolas surpresa com a ausência das
análises sobre as relações de gênero e o reduzido número de pesquisas sobre
crianças pequenas. A autora finaliza seu artigo, apontando que nos últimos anos essa
carência de pesquisas não foi resolvida, porém foi amenizada. E defende que a
223
superação da desigualdade passa pela educação das crianças desde a mais tenra
idade em espaços coletivos na esfera pública convivendo com as diferenças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Maristela Angotti1
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO E RESULTADOS
mas um professor que possa desenvolver as crianças por meio das contribuições que
a Arte ofereceu à Educação.
Um fazer tão complexo como o promover o desenvolvimento integral de
crianças coloca-se como imprescindível, absolutamente necessário de conhecimento
para que possa traçar finalidades, ou seja, ações intencionadas e consequentes, o que
nos diferencia de leigos que educam.
Os processos formativos de reconhecida especificidade para constituir e
contribuir para a estruturação da profissionalidade do professor na EI parecem não ser
objeto de reconhecido valor e importância para as próprias profissionais.
Causa estranheza quando as questões se definem por um caráter das ações
práticas do docente, como por exemplo, na definição de com quais linguagens você
mais trabalha com as crianças. Como primeira opção escolhida destaca-se a Literatura
Infantil (sete professoras a indicaram, 31,82%) e outras seis identificam a música
(27,27 %), na sequência a terceira maior primeira opção ficou com a linguagem oral,
quatro professoras (18,18%).
A perspectiva de destacar uma linguagem para analisar o como tem sido
trabalhada em termos de práticas pedagógicas com crianças na Educação Infantil traz
revelações bastante críticas em termos de seu uso, contrariando em muito o que as
DCNEI (2009) definem, tal como expressa o artigo abaixo citado.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
iniciadas as atividades, é necessário escolher algo que atraía as crianças para o uso
do computador e possa ser relacionado aos conteúdos pedagógicos passados pela
professora.
Quadrinhos sempre chamaram a atenção de vários públicos e por oferecer
uma linguagem midiática favorece o seu uso em diversos contextos. O uso do trabalho
com histórias em quadrinhos é uma prática que traz outras implicações, como a
compreensão por parte das crianças de conceitos como cenários, personagens,
objetos, de que há uma sequência nesta história, com começo, meio e fim. Atividades
simples de cópia e leitura de textos, posicionamento de personagens e expressões
faciais associadas a símbolos gráficos de balões são outros exemplos de
compreensão implícita indicados por Marsiglia e Oliveira (2008). A compreensão
destes conceitos também atua no desenvolvimento da prática acadêmica funcional de
contar histórias, como pode ser visto no artigo de Ribeiro et al. (2009).
O uso de Histórias em Quadrinhos, sob diversas formas (imantados, dedoches,
software, etc.), foi utilizado como recurso pedagógico por Marsiglia e Oliveira (2008),
em um projeto de capacitação de professores que durou dois anos, em uma escola da
rede estadual localizada numa cidade do interior paulista. O trabalho utilizou uma
metodologia sócio-histórica baseada em cinco passos que incluíam o (a)social inicial;
(b)problematização; (c) instrumentalização; (d) catarse e (e) social final. Para as
tarefas do dia-a-dia, houve uma preparação planejada que modelou as etapas de
aprendizagem dos alunos para o uso de informática e de histórias em quadrinhos
fosse de acordo com os conteúdos pedagógicos e com passos pequenos o suficiente
que permitia aos alunos evoluir nas tarefas sem que elas fossem um ônus para a
criança. Ao final do projeto os professores relataram resultados positivos em relação
ao interesse, disciplina e aprendizagem dos alunos.
Além disso, as crianças trabalharam em grupo (em duplas ou trios), para
realizar suas atividades, buscando com isso um melhor desempenho em sala de aula,
com os alunos percebendo a existência de respostas diferentes das suas e a partir
disso poderem trocar ideias e refazer tais respostas. Isso também pode ser visto a
partir dos resultados de um experimento de Leal e Luz (2001), em uma escola
municipal de Recife, com crianças da 3ª série do ensino fundamental, trabalhando
individualmente e em duplas nas atividades de escrita de textos.
Apesar dos diversos relatos de ensino fundamental, pouco se tem sobre a pré-
escola e as atividades pedagógicas computacionais com crianças da faixa etária de 4
a 5 anos. Consideram-se aqui as seguintes contingências que facilitam o experimento:
239
existe a curiosidade sobre o que fazer com crianças nessa faixa etária; as crianças
nessa faixa são curiosas e o computador em si é reforçador assim como quadrinhos
que já normalmente conhecido pela criança mesmo que ainda não alfabetizada.
Questiona-se então como poderia se afirmar que as intervenções a serem propostas
efetivamente estariam modificando o comportamento das crianças e garantindo um
aprendizado efetivo. Uma tendência filosófica tende a afirmar que bastaria deixar as
crianças em contato com o equipamento que elas aprenderiam sozinhas a usar. É
possível, mas o que se quer saber é se a participação planejada do professor
realmente estaria interferindo nesse aprendizado e se o tipo de atividade proposto
poderia modificar o controle em sala de aula que beneficiasse o professor no seu
planejamento, o que foi realizado por esse trabalho.
O objetivo deste trabalho consistiu em utilizar o computador como máquina de
ensinar, que aliado a atividades pedagógicas, estabeleça um esquema de reforço para
o desenvolvimento de comportamentos de atenção e concentração nas crianças, cuja
base teórica para isto é encontrada no livro de Skinner (1972). Parte-se do
pressuposto que quadrinhos e computadores são reforçadores intrínsecos, mas as
crianças ainda não têm o hábito coletivo de usar computadores em sala. A
disponibilidade de uma sala de informática que estava sem uso pedagógico é outra
razão para o desenvolvimento de tal atividade.
Com essa finalidade, foi escolhido um programa de elaboração de histórias em
quadrinhos da Turma da Mônica, que é disponibilizado gratuitamente na internet. O
uso desse software para turmas de alfabetização já foi satisfatório (MARSIGLIA e
OLIVEIRA, 2008). Apesar do software gratuito não conter todos os cenários, nem
todos os personagens que populam o software original da Mauricio de Souza ®,
servem para o experimento.
Considerando como VI – variável independente ou experimentais e VD –
variáveis dependentes ou observáveis, é importante identificar que a variável
independente está relacionada com todos os membros da classe em atividade
prestando atenção devido à presença de um computador. Observar a atenção da
criança com esse equipamento durante a aula e sem ele, causada pelo professor,
pode ser considerada a VD. O procedimento utilizado no experimento citado no
presente projeto foi um delineamento do tipo ABAB ou de reversão, com sucessivas
comparações entre condições controle (A) e condições experimentais (B).
Todo experimento envolve duas condições básicas: condição controle
(ou linha de base) e condição experimental. A condição controle é
aquela na qual a VI não está presente. Ela permite avaliar os efeitos
240
Neste caso, a condição controle (A) das aulas é a condição de apenas um dos
computadores estar ligado para todas as crianças o utilizarem enquanto a professora
explica a atividade ou o seu uso (é semelhante ao fato de o professor ter um
computador na frente da sala de aula e os alunos assistirem à aula), e a condição
experimental (B) das aulas é quando todos estão ligados, para que os alunos possam
realizar a mesma atividade ao mesmo tempo, em duplas ou trios e o professor se
movimenta ao longo das fileiras para mediar essa relação e prover outras atividades
conforme o desempenho dos alunos (justificando a preparação da aula para níveis
diferenciados de desempenho individual ou em dupla).
MÉTODO
Procedimento
O procedimento foi dividido em aulas com objetivos diferenciados para poder
aferir e modelar os comportamentos observados nas crianças.
AULA 1: Os materiais utilizados na primeira aula foram 5 tirinhas da Turma da
Mônica, impressas em papel sulfite, tamanho A4, e em preto e branco, para
apresentar os quadrinhos às crianças e perceber a reação delas, as tirinhas foram
entregues a duplas de crianças, todas sentadas em um mesmo círculo. Após isso foi
usado um dos computadores da sala, que já estava ligado e com o software aberto,
para que os alunos conhecessem o programa e tentassem utilizá-lo. Para isso, uma
dupla sentava ao computador e faziam algumas instruções que a professora indicava,
enquanto os outros membros da sala assistiam atrás da dupla. Essa aula representa a
condição A, ou condição controle no experimento.
AULA 2: Na segunda aula foram usados os cinco computadores, estabelecendo
uma condição experimental (B), com as crianças divididas em duplas (ou trios) em
cada um deles, onde o mesmo programa de histórias em quadrinhos já se encontrava
aberto. A atividade foi transmitida pela professora oralmente, em condição
experimental, para verificar se eles conseguiriam se concentrar na atividade de colocar
personagens em cada quadrinho. Durante a aula a professora ia corrigindo ou
ajudando de diversas formas (dicas, indicação motora, etc.) na atividade para que a
dupla (trio) fosse realizando a tarefa de completar a história com os personagens que
faltavam.
AULA 3 e 4: Na terceira e quarta aulas, o material utilizado foram os cinco
computadores, estabelecendo a condição B, e o mesmo software, só que dessa vez
as crianças deveriam montar histórias em quadrinhos trazidas pela pesquisadora,
impressas em papel sulfite tamanho A4, coloridas, sem textos. Aquelas que
conseguiram terminar a primeira história deveriam montar outra, no mesmo nível de
dificuldade da anterior, também trazida pela pesquisadora, impressas em papel sulfite
A4, mas dessa vez em preto e branco. Nessa atividade estava incluída a busca do
personagem dentro dos comandos do software.
AULA 5: Na quinta aula, a condição controle (A) da primeira aula foi
reestabelecida para verificar se havia alguma mudança de comportamento nas
crianças, dessa forma o material utilizado foi apenas um computador e o software de
quadrinhos. Foram apresentados novos comandos do software e a maioria das
crianças assistia, enquanto uma dupla sentada ao computador seguia as instruções.
242
RESULTADOS
O delineamento ABAB foi utilizado para que pudessem ser vistos os fatores
que interferem no estabelecimento de um controle sobre a realização de uma atividade
pelos alunos, quais as variáveis que interferem para eles se concentrarem em uma
tarefa sem precisar de total supervisão, e uma das variáveis observada que interfere
nos resultados obtidos até agora é a proposição de uma atividade que todos
pudessem realizar ao mesmo tempo, favoreceu para que as crianças se
concentrassem para realizá-la.
Um reforçador para as crianças se concentrarem na atividade é o fato de esta
ser a montagem de quadrinhos da Turma da Mônica, já que todos os alunos relataram
conhecer e gostar dessa Turma, além de gostarem também de montar quadrinhos. O
fato de ser uma atividade nova para eles e o uso do computador também contribuiu
para que as crianças permanecessem interessadas em todas as aulas, o que favorece
a concentração na atividade.
Através dos vídeos das aulas, foi possível perceber a evolução das crianças,
após cada aula. As duplas (trios) de alunos descobriram uma nova ferramenta do
software utilizado a cada aula, como por exemplo, a inserção de textos, e isso
promovia um maior interesse pela atividade, o que fez diminuir o número de crianças
que se dispersavam durante a aula e também o número dos que apenas olhavam o
colega realizar a atividade. Através disso pode ser entendido que o projeto alcançou
os resultados iniciais que foram propostos.
243
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas sete aulas ministradas aos alunos do Centro de Convivência Infantil até
agora, observa-se que alguns fatores influenciam nos resultados obtidos, um deles é a
presença da professora desse grupo de alunos na sala de informática durante todas
as aulas, outro é a capacidade do pesquisador de estabelecer certo controle sobre o
grupo, além da importância de se estabelecer regras antes do começo e reforçá-las
durante a aula.
Como é um número grande de crianças que frequentam as aulas de
informática (14), em alguns momentos há dificuldade de controlar o comportamento de
todos e fazer com que entendam que eles precisam realizar as atividades propostas,
com isso concluiu-se a importância da professora de classe estar presente em todos
os momentos que as crianças estão na sala de informática, já que eles são
acostumados a obedecê-la durante as outras atividades, então permanecem
obedecendo-a. Além disso, a presença dela nas aulas facilita um diálogo entre
pesquisadora e professora, para que possam articular os quadrinhos com o conteúdo
passado durante o ano para aquelas crianças.
Também é importante o exercício de controle da classe durante a aula pela
pesquisadora, e logo no primeiro dia chamou a atenção o exercício desse controle,
pois ao pedir para que eles se sentassem em círculo no chão, eles atenderam ao
pedido sem maiores dificuldades, e isso se seguiu nas outras aulas. Essa era uma
regra que já estava generalizada, pois várias professoras anteriores seguiam-na.
Dessa maneira eles realizaram as atividades propostas sem maiores resistências, o
que facilita o bom andamento da aula e também o alcance do objetivo desejado, a que
eles realizem a atividade sem se dispersarem. O estabelecimento de regras claras e o
cumprimento destas também facilitou o bom andamento da aula.
Com os resultados obtidos já pode se ver que as crianças estão bem
envolvidas com as aulas, e realmente gostam de fazer histórias em quadrinhos no
computador. Um indicador disso é que a maioria das crianças contou para os pais das
atividades realizadas, e os pais pediram para a professora da classe passar o software
utilizado para que eles possam instalar em seus respectivos computadores.
Apesar dos resultados positivos ainda há dispersão de alunos durante as
atividades, e foram formuladas hipóteses para esse fato: uma das hipóteses para isso
seria a organização das duplas, que é feita com a ajuda da professora, na maior parte
dos casos de dispersão apenas alguém da dupla deixa o computador ou procura
244
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
1Universidade Federal do Tocantins, membro do Grupo de Pesquisa CEP – Cultura, Educação e Política.
E-mail: samuelcorrea@uft.edu.br;
2Universidade Federal do Tocantins, líder do Grupo de Pesquisa NEIL – Núcleo de Estudos sobre
Infância e Linguagem. E-mail: naldalli@mail.uft.edu.br
247
Podemos iniciar nossa discussão dizendo que política pública consiste menos
em um objeto de estudo específico e mais em um cabedal de conceitos inseridos
numa abordagem sobre as ações do governo que são coletivizadas para a sociedade
(SOUZA: 2006). Geralmente se procura entender as políticas públicas tomando como
referência aquilo que o Estado faz. Mas será que tudo o que o Estado produz
efetivamente tem um caráter público? No contexto do capitalismo, talvez a pergunta
mais objetiva seja no sentido de se saber porque o Estado participa da produção
social. Esssa questão ganha ainda mais relevo quando se nota que longe de atender
ao bem comum, as políticas públicas propostas pelo Estado no contexto do
capitalismo visam a atender interesses particulares ou de coletivos privilegiados
socialmente.
Então porque o Estado realiza políticas públicas e com qual finalidade? A
sociedade capitalista enfatiza o papel do mercado como produtor e distribuidor de
produtos, mas uma parte significativa de esforços dos quais a sociedade precisa não
são de interesse ou não estão ao alcance do sistema privado, de modo que emerge a
responsabilidade do Estado no antendimento dessas demandas que extraploram a
esfera do mercado. Desse modo temos de um lado uma esfera econômica qus
distribui de modo desigual seus bens e produtos e de outro uma esfera política que
procura corrigir, mesmo de forma limitada, essas distorções.
Como é possível se contrapor a este sistema? Uma alternativa passa pela luta
por mecanismos de ajuste social, dentre os quais, cabe mencionar o aprofundamento
da democracia no sentido social e participativo do termo, visando uma participação
efetiva da população enquanto coletividade, de modo que a mesma ocupe os espaços
públicos, tomando parte das ações em todas as etapas de produção das políticas
públicas.
A luta em tela não é de fácil resolução, haja visto que o Estado capitalista tem
seus objetivos atrelados a uma classe dominante do ponto de vista econômico,
expressando esse poder através das normas e leis que vigoram na sociedade com
vistas ao processo de acumulação.
248
que orientam a oferta de educação infantil nos termos da Declaração Universal dos
Direitos da Criança, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA (Lei nº 8069 de 1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – (LDB nº 9394/96), o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
(RCNEI – 1998), as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (Res.
01/99 e Res. 05/09) e por fim, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
Educação Infantil – PNQEI - 2006 (CORRÊA, 2003).
A Constituição Federal de 1988, em seu art. Art. 205 diz que a educação
constituiu-se um direito de todos e dever do Estado e da família. E no seu Art. 208,
inciso IV, explicita que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de: “educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006” (BRASIL, 1988)
Em suma, o marco legal da Constituição Federal de 1988 prevê a ampliação do
atendimento em Educação Infantil e melhoria na qualidade dos serviços, bem como
critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das
crianças (CORREA, 2011).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) vem ratificar os direitos
preconizados pela CF/1988, estabelecendo em seu Art. 53 que: A criança e o
adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. E
continua em seu Art. 54, inciso IV, especificando como dever do Estado o atendimento
em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 1990).
Podemos considerar como divisor de água, no campo de garantida à educação
como um direito, a LDB 9.394/96 de 1996, que incorporou oficialmente a Educação
Infantil no sistema de ensino: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica,
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade.” (BRASIL, 1996, Art. 29). Apresenta assim, uma seção
específica para este nível de ensino com três artigos próprios. Especifica a sua
finalidade, o local onde será oferecida, a faixa etária, como será avaliação e a
formação do profissional para atuar na Educação Infantil.
Vale registrar ainda que em 1998 foi lançado pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC) o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que por sua
vez, indica os princípios para um trabalho de qualidade nos seguintes termos: respeito
à dignidade e aos direitos das crianças em sua diversidade cultural; o direito à
253
CONSIDERAÇÕES FINAIS
255
REFERÊNCIAS
Jeniffer de Arruda1
Elieuza Aparecida de Lima2
Amanda Valiengo3
INTRODUÇÃO
Essa teoria defende que, “[à] medida que ocorre a interação com outras
pessoas, a criança é capaz de movimentar vários processos de desenvolvimento que,
sem ajuda, seriam impossíveis de ocorrer.” (FACCI, 2006, p. 22) E ainda, como afirma
Facci (2006, p. 23), no fim de seu artigo,
que não fossem da USP, da Unesp ou da Unicamp. Dos 209 trabalhos analisados, 36
têm a Teoria Histórico-Cultural como base teórica. Dos 36, encontramos vários temas
pertinentes para discussões sobre o campo da Educação Infantil, como, por exemplo,
o lúdico/brincar; a formação de professores; alfabetização e a relação entre Educação
Infantil e Ensino Fundamental. Dentre esses trabalhos, foram escolhidos aqueles cujos
temas eram mais relevantes, na tentativa de revelar, modestamente, contribuições da
Teoria Histórico-Cultural para embasamento teórico-prático das ações de ensino e
aprendizagem na Educação Infantil.
Este texto explicita o caminho percorrido durante a pesquisa, explicando as
escolhas para a realização deste trabalho, destacando notas sobre o recente olhar que
se tem para essa área da Educação como objeto de estudo e algumas discussões
sobre os dados produzidos na investigação. Nessas explicitações, destaca-se que
indicações sobre três pesquisas com base nessa Teoria (foi selecionado um trabalho
de cada um dos quadros finais da Unesp, Unicamp e USP).
A pesquisa teve como objetivos:
refletir sobre as implicações da Teoria Histórico-Cultural para a atuação
de professores de crianças pequenas, a partir de produções
acadêmicas encontradas na Universidade de São Paulo (USP),
Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), no período de 1990 a 2010;
compreender com mais profundidade a atualidade da Teoria Histórico-
Cultural, por meio dos textos acadêmicos localizados;
e discutir sobre práticas pedagógicas potencialmente humanizadoras na
Educação Infantil, por intermédio dos trabalhos acadêmicos
encontrados.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
A linguagem corporal é considerada como um elemento mediador no processo
de aprendizagem e conhecimento. Na Educação Infantil, período de 0 a 05 anos,
principal fase do desenvolvimento da capacidade cognitiva e de socialização, a
manifestação dos sentimentos é através de gestos, e expressões faciais, algo
facilmente observado possibilitando a comunicação da criança com o adulto. A revisão
da literatura é unânime em constatar que o educador deve aprimorar seus métodos de
observação para ter um conhecimento maior da criança e do meio que a cerca,
visando sempre o bem estar da criança no ambiente pedagógico.
Em outras palavras a expressão corporal é considerada como um:
institucionais. Começa ao nascer e termina com a morte; pode e deve ser realizada
em todos os âmbitos nos quais o homem atua.
Não se pode negar que as crianças são curiosas por natureza, sendo
importante não aguçar ainda mais essa curiosidade além do que elas já apontam em
sala de aula como dúvida. Nesta fase elas precisam de estímulos para aprenderem
desenvolver suas qualidades, sendo estimuladas à curiosidade, sempre com fins
pedagógicos, em momentos propícios com a faixa etária e com objetivos definidos, já
que, as experiências vivenciadas pelas crianças nesse período, pode influenciar seu
comportamento em todo seu convívio social e familiar.
Harf e Stokoe (1980, p. 32-33) afirmam que:
Uma criança que desenvolve bem seus sentidos pode conseguir boas
percepções. Com boas percepções formam-se imagens claras. Numa
imagem clara baseia-se uma linguagem (seja verbal, escrita ou
corporal) ampla e precisa, graças à qual estabelece uma boa relação
consigo mesma e o mundo exterior.
excessiva, e reais sentimentos, de forma que, prenda-se a atenção e faça com que se
envolvam no processo de aprendizagem facilitando a capacidade de fortalecimento da
mente humana (consciência), maior equilíbrio e autoestima. Trabalhos como estes são
considerados elementos propiciadores de aquisição de conhecimento e aprendizagem.
Observa-se também, que o jogo desperta a curiosidade nas crianças, através
de interações e este é um grande incentivo para o convívio social entre todos os
envolvidos neste contexto educacional além de ser estimulante à comunicação e
auxiliar no desenvolvimento crítico. Despertam a curiosidade e estimulam o processo
de ensino-aprendizagem promovendo o desenvolvimento da estrutura psicológica que
os fundamentam como cidadãos.
Sobre o fator social, constata-se que o jogo possua uma forte relação com o
ato de brincar. Vivenciando a realidade externa (mundo), como aponta Vygotsky
(1991), é que a criança imita por intermédio das brincadeiras, a sua realidade,
exercendo os papéis imaginários criando e recriando seus conceitos e culturas.
Considerando o apontamento do autor, o papel do educador é ser um mediador
da aprendizagem. Não se pode perder as diretrizes do jogo, estando sempre atento às
reações dos participantes de forma que seja possível identificar comportamentos
verbais e não verbais, levando-se em consideração o todo e a individualidade das
crianças de acordo com os objetivos pedagógicos. Esta é uma maneira de aprender
desenvolvendo a sensibilidade para com o outro e uma alternativa diferenciada para
lidar com as situações de vida cotidiana em ambiente escolar.
Na realidade externa (mundo em que vivemos) existem muitas regras embora
nem sempre as pessoas as cumpram, mas existem e deveriam ser cumpridas. Este é
um fato e deveria ser incorporado pelas crianças o quanto antes, em sala de aula,
para que aos poucos tenham consciência de que para tudo existe limite, regras e
valores sendo que os mesmos devem ser cumpridos dentro e fora do contexto escolar.
São as regras do dia a dia que devem ser cumpridas para que haja um bom convívio
social.
É importante frisar também que as crianças precisam brincar e aprender a ser
autônomas pensando no futuro, mas que também precisam de limites e compreender
que alguns destes não devem ser ultrapassados. Os jogos são instrumentos
pedagógicos considerados importantes porque através deles, da brincadeira, a criança
passa a compreender de forma lúdica determinadas regras e valores morais e desta
forma, começam a transportar estes conceitos conforme vão crescendo.
270
Os jogos podem ser trabalhados de acordo com o fim pedagógico, mas quando
o assunto é sexualidade, um tema considerado antigo, nem sempre é trabalhado como
deveria dentro do ambiente escolar. Um dos motivos (possibilidade) se deve pela
insegurança de falar sobre o assunto por falta de preparo profissional. Este é um tema
gerador de dúvidas e curiosidades. Desde que adaptado à faixa etária é possível ser
trabalhado desde cedo possibilitando a eliminação de dúvidas, na prevenção de
gravidez indesejada, preconceitos sociais e demais discriminações relacionadas ao
tema.
Para tanto “Os pais devem ser informados sobre os pressupostos e objetivos
do trabalho de Orientação Sexual, o que pode ser feito por meio de reuniões,
entrevistas ou comunicações por escrito.” (BARBIRATO et al. 2004, p. 148)
A sexualidade está relacionada ao campo afetivo e não necessariamente está
relacionada ao relacionamento íntimo. Propostas de atividades sobre este assunto
poderão ser baseadas em filmes, dinâmicas, jogos educativos, dentre outros, como
ferramentas no processo de apreensão e aprendizagem da criança. É fundamental a
participação dos pais neste processo.
Sendo assim, aquela criança a qual se isola dos colegas de sala em momentos
quaisquer, precisa ser avaliada de forma diferenciada. É importante que se procure
compreende-la de outras formas, conversando com ela e com os seus pais, de forma
que não os intimide, nem que os exponha para que a criança sinta-se bem e acolhida.
A ética é fundamental para que qualquer trabalho seja bem desenvolvido, uma
vez que ela pode ser um fator influenciador nos resultados dependendo da maneira
como a questão for abordada e recebida pela população envolvida no processo
educacional. Este fator é de suma importância para o relacionamento interpessoal e o
mesmo diz muito sobre a personalidade da pessoa e seu envolvimento com o
compromisso social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
273
Trabalhar com a qualidade de vida não é uma tarefa fácil já exige muito esforço
e dedicação. Comprometimento e responsabilidade também devem ser seguidos
como um forte compromisso ético.
Acredita-se na possibilidade de mudança de forma mais consciente, com
prazer e flexibilidade na internalização de novos conceitos, normas e valores culturais.
Para que isto aconteça é necessário que as pessoas estejam dispostas a agregarem
novos valores, utilizando-se da sensibilidade com o próximo e desta forma,
apresentarem-se mais dispostos a colaborar com o bem estar pessoal e social da
comunidade.
Projetos educacionais relacionados à qualidade de vida, em educação escolar,
são uma tentativa de colaborar na prevenção de conflitos subjetivos existentes,
desenvolvimento de pensamentos preconceituosos, orientação quanto à sexualidade e
também, são considerados, um incentivo à interação social, além de despertar nas
crianças curiosidade e pensamento crítico.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
LINGUAGEM E ORALIDADE
Pois um conto, para ser vivo e compreendido, não lhe basta ser
transmitido pelo texto: necessita despregar-se mais amplamente por
meio da voz e do gesto, a melodia do discurso. [...]
[...] a construção do imaginário e a construção do sujeito, e o ato da
palavra funcionam como um duplo espelho, reflexo do que somos e
do que dizemos. Toda relação com a criança é, de alguma maneira,
relação de linguagem. A mãe, o professor e o adulto em geral se
colocam ante a criança como seres de palavras. [...]
A metamorfose não se revela somente nos personagens da história,
mas também nos ouvintes da história, nos que ouvem e nos que
narram os contos (CUINENIER, apud JEAN, 1990a, p. 24-26).
dos significados dados por eles às narrativas, da forma como recebem e interpretam
uma ficção, ou pelo modo como se apropriam dos personagens e de seus atos.
suas funções quando empregadas como subsídios para atividades pedagógicas sem
fundamentos ou sequências didáticas definidas, deixando de lado sua função lúdica,
usados só como pretexto para atividades complementares ou de lazer.
Alguns teóricos, como Zilberman (1987, p. 118) acreditam que “a literatura
infantil, parte de uma perspectiva pedagógica, priorizando sua função formativa social
e educativa, em detrimento de sua função artística e estética”. Na escola tais contos
se relacionam à concepção da infância, na qual permeia o discurso institucional.
Geralmente espera-se que a criança, quando inserida no ambiente escolar, crie uma
fantasia normatizada e encaixe-se em um modelo cientificamente determinado.
Priorizamos o estudo da oralidade, quando entendemos que a escola, na sua
forma mais expressiva, valoriza a linguagem escrita, menosprezando a fala, porque
não está pronta para acolher a criança em sua totalidade, nem aceitar suas emoções e
fantasias como componentes no seu processo de conhecimento, sem saber, na
prática, lidar com o imaginário infantil.
A leitura, encenação ou a contação de um conto de fadas, por sua vez, faz fluir
a imaginação, possibilitando ao educador e aos educandos compartilhar novas
emoções. Essa modalidade literária acolhe a criatividade, a imaginação e a fantasia.
Evidentemente, não queremos dizer que todo aluno deva manter eternamente
a inocência de sua infância, mas precisamos considerar os interesses dele, respeitá-
lo, sem privá-lo do mundo das imagens simbólicas. O papel dos pais, professores e
pesquisadores foca-se em fornecer subsídios do interesse pela leitura, que leva ao
universo do maravilhoso, sem tirar o foco da construção narrativa. Todo processo
constitui-se de etapas: a oralidade, depois a escrita e a compreensão. Nesse momento
o narrador assume sua função: de contador/escritor e criador de contos.
Por representação, a criança cria o seu livro, antes mesmo da alfabetização,
através da sequência dos elementos narrativos, das montagens, das ilustrações, de
sua própria releitura. Esse texto é único, provém de seu íntimo, da sua interpretação
do ato de ler e compor. A infância ganha um novo sentido, uma nova visão,
encontrada em caminhos mágicos, nunca antes percorridos.
O principal objetivo das escolas situa-se em formar leitores realmente com o
hábito de ler, e acima de tudo, gostar desse ato. Encontrar formas para o aluno buscar
281
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Cecilia Nomiso1
Maria do Carmo Monteiro Kobayashi2
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
A PESQUISA
Escola A
É uma escola de pequeno porte aprovada pelo MEC, em 2010, em
funcionamento desde 2008. A equipe de trabalho conta com nove funcionários: um
diretor administrativo,uma secretária, duas professoras, duas monitoras, dois
motoristas e uma cozinheira. O funcionamento das turmas de período integral
(07h30min~18h00min) e parcial (07h30min~11h00min) com salas de berçário,
maternal I e II, jardim I e II e ciclo I do Ensino Fundamental.
O calendário escolar segue parcialmente o calendário das escolas brasileiras,
exceto pelo recesso escolar, que acompanha em parte, os feriados prolongados do
Japão.
288
Escola B
A escola B localiza-se na cidade de Toyohashi, com o horário de
funcionamento entre 08h00min às 17h30min, dividindo-se em dois períodos para
atender o ensino fundamental (ciclo I e II) de manhã e o ensino médio, no período da
tarde, em um prédio de quatro andares.
A escola pertence ao sistema de ensino particular, oferecendo Ensino Infantil
no período parcial ou integral, atualmente com turmas de Jardim I com três alunos e
com dez no Jardim II, todos em uma mesma sala.
290
É seguido o ano escolar brasileiro com início em fevereiro, mas com adaptação
do período de recesso aos feriados prolongados japoneses, inclusive, considerando os
feriados do Japão e não os brasileiros. Não por isso, deixam de realizar atividades nas
datas comemorativas do Brasil.
A professora tem um horário de trabalho pedagógico individual, um com a
coordenadora e um com o grupo das demais professoras semanalmente. A escola
possui dez salas de aulas, uma sala de informática, um refeitório, uma sala de
professores, um salão, banheiros e copa em cada andar, parque e um setor
administrativo no térreo. Para além do reconhecimento do MEC tem a aprovação do
governo japonês, o qual realiza constante acompanhamento e fiscalização. Conta
também com uma parceria de uma empresa, responsável pelo custeio de 50% da
mensalidade dos filhos de seus funcionários.
A observação teve início nas atividades do Jardim, a partir da segunda aula,
com a aula semanal de japonês, essas aulas são ministradas por uma professora
especialmente contratada para isso. Durante 40 minutos a professora ministra a aula
utilizando a língua portuguesa e a japonesa, ensinando nomes de bichos, objetos e
cores. Trabalha a música para o aprendizado das partes do corpo humano com
grande participação das crianças. Nessa data a finalização da aula ocorreu com a
confecção de um origami de cachorro a ser utilizado na próxima aula.
Ao término da aula de japonês a professora titular da sala e retoma o trabalho
de arte, pintura de um desenho para o dia internacional das mulheres. Novamente, é
proposto aos alunos a montagem de um origami, desta vez de uma tulipa, para colar
junto ao desenho e ser entregue para as mães. No término da atividade a professora
leva as crianças para o térreo, onde há uma área coberta com o playground e outra
aberta, com meia quadra de basquete, para as crianças brincarem livremente.
Após aquecerem bem o corpo, no frio de 6ºC, voltam para sala e desenham até
o horário do almoço. As refeições na escola são fornecidas por uma empresa
“bentoya” que faz a entrega do bento (marmita) de acordo com o pedido mensal feito
pelos pais. Apesar do serviço oferecido, a maioria traz seu bento caseiro. Conforme as
crianças terminam a refeição escovam os dentes e fazem atividades livres, tais como
desenhos, brincadeiras com bonecos ou assistem televisão até o horário do soninho.
A saída dos alunos do período parcial é realizada entre 12h00min e 12h30min
quando o responsável vem buscar a criança na sala de aula. A partir do ensino
fundamental, as crianças podem sair sozinhas, mas a maioria opta por utilizar o
transporte fornecido pela escola com um custo mensal de dez mil ienes. Após duas
291
horas e meia, das 13h00min às 15h30min, a turma do Jardim toma o lanche da tarde e
ocupa-se de atividades livres até o horário da saída.
A utilização dos Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009)
como ferramenta de auto avaliação da escola, é de fácil uso, os parâmetros utilizados
para a avaliação são as cores, assim tem-se: VERDE para ações, atitudes ou
situações existentes e consolidadas na instituição de educação infantil indicando boa
qualidade no processo; AMARELO indicando atitudes, práticas ou situações realizadas
com certa frequência, mas não estão consolidadas merecendo mais atenção e
cuidado e VERMELHO para sinalizar a inexistência das ações, práticas e situações na
instituição, revelando uma grave situação onde providências imediatas são
necessárias.
Conforme os Indicadores (BRASIL, 2009) os itens avaliados foram avaliados:
planejamento institucional; multiplicidade de experiências e linguagens; interações;
promoção da saúde; espaços, materiais e mobiliários; formação e condições de
trabalho das professoras e demais profissionais e, cooperação e troca com as famílias
e participação na rede de proteção social.
Os dados coletados podem ser vistos nas tabelas que se seguem:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MEXT. (s.d.). Ministry of Education, Culture, Sports, Science and Tecnology Japan.,
Disponível em: <MEXT: http://www.mext.go.jp/.>Acesso em: 02 jul. 2012
MEXT. (2005). Redesinging Compulsory Education. Disponível em MEXT:
<http://www.mext.go.jp/b_menu/shingi/chukyo/chukyo0/toushin/06051511.pdf>.
Acesso em: 05 jul. 2012.
RELATÓRIO de Monitoramento Global 2005 da Educação para Todos – O imperativo
da Qualidade – UNESCO, 2005.
RESOLUÇÃO CEB n. 2, de 7 de abril de 1998. “Institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental” Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 de abril
de 1998.
RESOLUÇÃO CEB n. 1, de 7 de abril de 1999. “Institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil” Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 de abril de
1999.
295
INTRODUÇÃO
1danitielemarques@hotmail.com
2Universidade Federal de São Carlos - Programa de Pós Graduação em Educação Especial
296
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Series1, vinte e um
a vinte e cinco,
0.065217391, 7% uma a cinco
Series1, uma a
Series1, seis a dez,
cinco, seis a dez
0.173913043, 17%
0.565217391, 56%
onze a quinze
Series1,
dezesseis dezesseis a
a vinte, vinte
0.086956 vinte e um a
522, 9% vinte e cinco
vinte e seis a
trinta
trinta e um a
trinta e cinco
trinta e seis a
quarenta
301
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
O interesse dos alunos era evidenciado com as atividades propostas, pois era
foi possível ver a alegria dos alunos durante as brincadeiras, a espontaneidade e o
interesse. Portanto trabalhou-se o lúdico, pois segundo Olivier (1999), a alegria e a
espontaneidade fazem parte do lúdico, assim como a criatividade.
A brincadeira de faz-de-conta, apontado por Freire e Scaglia (2003) e Brasil
(1998), foi muito utilizado, já que era uma forma natural para eles de se relacionarem
consigo próprios, com os colegas e com o entorno, inclusive com a pesquisadora,
durante as brincadeiras com animais, por exemplo, nestas os alunos começavam a
imitar os animais, sem precisar falar nada, via-se a espontaneidade. Quando colocava-
se uma música alguns alunos perguntavam: “pode dançar?”, outros simplesmente
levantavam e dançavam. Os alunos se divertiam quando podiam dançar uma música
livremente, quando brincavam com materiais como a bexiga e o bambolê nas aulas,
quando podiam se expressar sendo personagens das histórias contadas. Scarpato
confirma: “A escola precisa realizar experiências com o corpo dos alunos, que não é
um esqueleto a ser treinado pela repetição de movimentos, mas por atividades
prazerosas.” (SCARPATO, 2001, p. 61).
O desenvolvimento da criatividade só é possível a partir da liberdade que se
estabelece, assim, as brincadeiras, não tinham controle, direcionamento, regras
“amarradas”, mas tinham momento inicial que desdobravam outros que variavam
muito do estado de cada um e do grupo. Tal liberdade metodológica proporcionava
interesse pela aprendizagem, desenvoltura para participação das atividades e
familiaridade com atividades ligada à dança. Foram realizadas brincadeiras que
permitissem que os alunos criassem seus próprios movimentos, explorando assim a
criatividade dos alunos com liberdade. Scarpato (2001) afirma que a dança propicia a
criatividade.
308
Os alunos puderam criar suas próprias danças tanto sozinhos como em duplas
e em grupos. Além de criar movimentos, brincar com materiais: bambolê, bola,
chocalho e tamborzinho.
As atividades permitiram que os alunos vivenciassem diversos movimentos
corporais e se expressassem da forma que quisessem. “A criança se expressa com
seu corpo, através do movimento.” (BASEI, 2008, p. 5). Além disto, segundo Ossona
(1988), a dança ocorre por meio do movimento.
Dançar então, foi para eles, como conceituou Fux (1983), uma forma de se
expressar, comunicando-se por meio da dança, brincando e sendo feliz. A dança foi
trabalhada sempre com participação dos alunos, eles tiveram liberdade para dançar,
criar e expressar-se. Esta dança com participação ativa do aluno durante a criação
chama-se, segundo Marques (2011), Dança Criativa.
Nas aulas trabalhou-se o conhecimento corporal, a expressão corporal, o ritmo
e a liberdade para criar e se movimentar. Permitindo com as brincadeiras, segundo os
autores pesquisados como: Kishimoto (2001), Freire (1993), Freire e Scaglia (2003),
criar, sonhar, refazer papéis.
“Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente,
possibilitam a percepção rítmica, a identificação de segmentos do corpo [...].”
(BRASIL, 1998, p. 30). Foram propostas atividades com músicas e danças para o
conhecimento corporal e aprendizagem do ritmo.
Utilizou-se brincadeiras como teatro e jogos de imitação para trabalhar a
expressão corporal. Pois segundo Ossona (1988), na dança expressa-se algo
corporalmente.
Permitiu-se liberdade às crianças durante as danças. “A aprendizagem da
dança pelas crianças, porém, não pode estar determinada pela marcação e definição
de coreografias pelos adultos.” (BRASIL, 1998, p. 30).
Pode-se observar que os alunos brincam, dançam, correm, pulam, são ativos,
gostam e estão sempre dispostos a fazer atividades que mexem com o corpo.
Mostraram-se participativos e interessados durante todo o trabalho realizado. Apesar
de em algumas brincadeiras como o Siga o mestre, alguns ficaram tímidos, pois
tinham que fazer os movimentos sozinhos para os outros imitarem, todos queriam
participar das atividades.
As brincadeiras influenciaram nos interesses pela aprendizagem dos alunos, ou
seja, com as brincadeiras e jogos, os alunos se interessavam mais, aprendiam
naturalmente.
309
CONCLUSÃO
danças apresentadas aos alunos como: valsa, samba e frevo. Os alunos conheceram
diferentes formas de dançar, sozinhos, em duplas e gostaram de ver os vídeos, mas,
sobretudo, de dançar, criar e recriar as danças.
Dessa forma, há confirmação sobre o entendimento de cultura construída,
vivenciada e fruída, portanto com grande chance de desenvolvimento educacional em
aulas e educativos no meio social, sobretudo no lazer.
A dança e o lazer se relacionam intimamente por conta do componente lúdico e
o respeito às formas de diversão, jogando, dançando devendo ser aprendidas e
exercitadas nas escolas. Desta forma, foram realizadas as intervenções com os alunos
da creche investigada e observou-se a alegria das crianças nas aulas, a satisfação em
aprender naturalmente, ser livre para brincar, dançar, explorar os materiais.
REFERÊNCIAS
1http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm
317
2 Grifo nosso
3 Grifo nosso
318
Tarcísio Padilha, o CFE “estabelecia como pauta as discussões dos temas conflitantes
ou prementes na educação nacional no período” (MARTINS, 2002, p.81). Dessa
forma, embora não se apresentasse como elaborador de doutrinas, o conselho
efetivamente atuava como tal, uma vez que exercia a função intelectual e propunha
soluções para a educação: “O aspecto normativo e a busca pelo consenso nas
decisões dos conselheiros evidenciam essa função doutrinária” (p.86).
O artigo 8º. da Lei 4024 dispunha que o presidente da República escolheria os
membros do CFE entre “pessoas de notável saber e experiência, em matéria de
educação”, ou seja, indivíduos dotados de competência para exercerem essa
atividade, decidindo “a respeito de quem pode falar e ouvir, o que pode ser dito e
ouvido, onde e quando isto pode ser feito” (CHAUÍ, 1988, p..27), estabelecendo uma
separação no circuito de comunicação e de informação entre os que sabem e os que
não sabem (mas que desejam saber). Analisando essa regra da competência, Chauí
(1988) questiona:
[...] quem se julga competente para falar sobre a educação, isto é,
sobre a aescola como forma de socialização? A resposta é óbvia: a
burocracia estatal, que por intermédio dos ministérios e das
secretarias de educação, legisla, regulamenta e controla o ptrabalho
pedagógico. (p.27, apud MARTINS, 2002, p.87)
Com o poder de emitir pareceres sobre a educação, colaborando não mais com
a instituição democrática, mas com o autoritarismo, as ações dos conselheiros
refletiram-se na elaboração de novos programas, substituindo “disciplinas escolares
tradicionais e especializadas nos currículos escolares, por áreas de conhecimento que
fossem amplas, generalistas e abrangentes”, instituindo-lhe um caráter nacional, o que
interferiu diretamente na formação de professores. Se por um lado essas medidas
visavam a sanar deficiências na escola de norte a sul do país; por outro, não permitiu
que questões de caráter regional pudessem ser aplicadas ao ensino das disciplinas,
adotando como base correta o ensino elaborado principalmente em São Paulo.
Max Weber (1991), citado por Martins (2002, p.61), enfatiza que a dominação
pode fundamentar-se em diversos motivos de submissão, mas nas relações entre
dominantes e dominados, legitima-se ao apoiar-se em bases jurídicas, e o abalo nessa
legitimidade pode gerar “consequências de grande alcance”, principalmente quando o
Estado quer se fazer obedecer por “razões de ordem pública”. Dessa forma, elabora
discursos que abordam a melhoria no sistema, com o objetivo de legitimar as ações de
intervenção na política educacional, papel desempenhado pela CFE durante a ditadura
militar.
319
A ética está vinculada aos valores, que se modificam de acordo com a época
em que vive uma sociedade, ou seja, o contexto sócio-histórico em que estiver
inserida: “As ações humanas seriam, assim, avaliadas de acordo com os costumes
locais; algo considerado um dia como correto e justo poderia ser, em outra época,
considerado errado ou injusto” (MENIN, 2002, p.93)
No tocante ao ensino, há posturas acerca de como se transmitir os valores, de
forma a educar, utilizando-se bases doutrinárias, a partir de verdades prontas. Dessa
forma, não se usa o método hipotético dedutivo ou o dedutivo, mas o indutivo para
levar o aluno a alcançar certas “verdades”, que podem ser interpretadas como
doutrinação. A história abaixo exemplificada sobre as três peneiras seria um exemplo
clássico de raciocínio impositivo, em que não permite que a criança alcance o
ensinamento do valor a partir da lógica do raciocínio, na verdade não lhe é dado
sequer tempo para refletir. Menin (2002) esclarece que se esse tipo de ensino é
comum em escolas religiosas, embora também não deixe de se manifestar em escolas
laicas, em que alguns professores “assumem para si a transmissão de valores
considerados por eles como essenciais” (IDEM)
Um exemplo adotado em escolas de primeiro grau na década de 60 foi o livro
Brasília – Leitura7, de Daisy Bréscia, destinado ao 2º. Ano, em sua 12ª. edição, de
1965, que traz no Prefácio de Máximo de Moura Santos (de 1960) a justificativa por ter
sugerido à autora que criasse uma “série escolar boa, diferente das que existem, e
sobretudo, interessante” (p.3). Esclarece que a autora, uma leitora de Voltaire,
Shakespeare, Daudet e La Fontaine, entre outros, defendeu a inclusão de textos com
histórias de fadas, adotando a visão de Theodore Ribot, em “Ensaio sobre a
imaginação criadora”
AS TRÊS PENEIRAS
aos quais se dava maior ênfase. No questionário que se segue ao texto, as únicas
perguntas são: “Que fez Pedrinho ao chegar da escola? Em seguida que disse à mãe?
Que lhe respondeu ela? Quantas e quais são as peneiras? Que nos ensina esta
lição?”
Considerando-se que o livro contém 52 histórias, das quais cinco são poesias
(algumas trazendo vocabulário, outras nem mesmo isso, o que sugere serem
atividades apenas para leitura e entonação), observa-se o pouco tempo que a
professora disporia para dar conta do livro ao longo do ano, considerando-se as outras
atividades como aritmética, artes etc. é pequeno, o que talvez a levasse a intensificar
as atividades gramaticais que reforçariam a alfabetização que ocorrera no ano
anterior.
Outro aspecto que o governo totalitário adotou no país, no tocante à formação da
criança, foi a da ênfase ao trabalho, à simplicidade da vida, à religiosidade e ao
conformismo, que pode ser observada na história a seguir:
O REI E O LAVRADOR
Um rei passeava pelos campos em sua linda carruagem quando viu um homem que
trabalhava cantando. Desceu da carruagem e, dirigindo-se ao lavrador, perguntou-
lhe:
-- Bom dia, amigo! Por que está tão contente?
Tirando o chapéu e curvando-se respeitosamente, o camponês respondeu:
-- Por que não haveria de estar, se sou muito feliz? Acordo cedo, trabalho e ganho
meu pão. Adoro a Deus, amo minha mulher, meus filhos e meu próximo. Que mais
poderia desejar?
Emocionado, o rei disse:
-- Seu chapéu velho e furado vale mais que minha coroa. Apesar de rei, não tenho a
felicidade que vejo retratada nos seus olhos. Responda com sinceridade: Você
trocaria sua sorte pela minha?
Encabulado, o camponês respondeu:
-- Não, Majestade. Cada um deve contentar-se com o que tem.
-- Eu o felicito, bom homem, e daqui por diante procurarei seguir seu exemplo. Você
me deu uma grande lição!
O rei despediu-se e prosseguiu no seu passeio, satisfeito em saber que existiam no
seu reino homens felizes e sem ambição. (p.52-53) [grifo nosso]
CONCLUSÃO
325
REFERÊNCIAS
MENIN, M.S.S. Valores na escola. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28,
no.1, jan/jun 2002. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11657.pdf. Acesso
em 20/01/2011
INTRODUÇÃO
1Universidade Estadual Paulista – UNESP – Bauru – Programa de Pós Graduação em Educação para
Ciência, Bauru-SP. maria.maangela@gmail.com
2Universidade Estadual Paulista – UNESP – Bauru. ivete.baraldi@fc.unesp.br
329
Percebemos com isso que trabalhar com projetos gera por si só uma
necessidade inerente de resolução de problema, indo ao encontro de nossa proposta
de desenvolver conteúdos matemáticos por meio de projetos e resolução de
problemas.
Hernández (1998) diz que o maior objetivo da organização dos conhecimentos
por projetos é levar os alunos a interpretar o que lhes é apresentado para que eles de
fato compreendam o que estão aprendendo. A compreensão, por sua vez, estaria
vinculada à diferentes capacidades, dentre elas a “[...] de pesquisar um tema mediante
estratégias como explicar, encontrar evidências e exemplos, generalizar, aplicar,
estabelecer analogias e representar um tema mediante uma nova forma.”
(HERNÁNDEZ, 1998. p.51)
Apresentaremos a seguir alguns dados coletados durante nossa pesquisa de
mestrado. Os dados retratam o desenvolvimento de aulas de Matemática para os anos
iniciais inseridas em um contexto de ensino por projetos e resolução de problemas.
330
METODOLOGIA
3Multidisciplinar
no sentido de referido às disciplinas curriculares de responsabilidade de uma professor
pedagoga dos anos iniciais: Matemática, História, Geografia, Ciências e Linguagem (Língua Materna ou
uma segunda língua).
331
que nesse trabalho serão discutidos podem aparecer em Língua Inglesa. Da amostra
de vinte alunos apenas quatro, por serem ingressantes na escola nesse ano(2013),
não compreendiam Inglês; mesmo assim participaram das aulas, e foram
posteriormente atendidos pela professora de Língua Portuguesa. A pesquisa de
mestrado traz maiores informações sobre a escola, pois não nos ocuparemos nesse
trabalho de apresentar detalhes sobre o cenário da pesquisa e sobre a língua utilizada.
Para o desenvolvimento desse estudo de caso, adotamos como instrumentos
de coleta de dados:
observação participante,
diário de matemática para a professora-pesquisadora e para os alunos,
entrevistas com alunos
pré e pós-testes dos conteúdos matemáticos trabalhados.
DISCUSSÃO
Todos os dias, os alunos tinham acesso a esse diário e foram instruídos, além
de a ideia ter sido discutida, a escreverem sobre a Matemática vivenciada em cada
dia. Powell e Bairral (2006) destacam que a escrita de diários é uma forma de
comunicação do aluno com o professor e do aluno com seu próprio texto e que ao
incorporarmos a escrita de diários às aulas de Matemática estamos otimizando a
333
aprendizagem por possibilitar que os alunos reflitam sobre suas experiências com a
Matemática.
respostas dos alunos foram anotadas em um cartaz e a lista ficou extensa. Tivemos
que solicitar que demais ideias fossem anotadas no cartaz em outro momento para
podermos prosseguir com as demais atividades do dia, pois os alunos estavam
envolvidos e muito participativos.
Em outra etapa da aula, os alunos foram questionados sobre a existência dos
algarismos como conhecemos hoje: “Será que o homem sempre usou números?” Os
alunos tiveram um tempo para discutir e expor suas ideias, e depois assistiram ao
vídeo “História dos números – Das pedrinhas ao computador”
(http://www.youtube.com/watch?v=uguJRmQhbIs). Vídeo este comentado no registro
do diário que comentamos anteriormente.
Após o vídeo, discutimos sobre o uso de ossos, de pedras, de nós e de outros
meios para registrar quantidades, bem como a criação dos algarismos. A palavra
algarismo levantou dúvidas e tivemos que conversar e exemplificar com os alunos.
Lançamos então um problema. Os alunos deveriam escolher um número e representa-
lo em um pedaço de papel sem usar algarismos. Todas as representações foram
coladas em um cartaz para serem analisadas.
A análise feita com os alunos trouxe conclusões importantes a respeito de
agrupamentos até chegarmos na organização do nosso sistema de numeração
decimal. Discutimos o agrupamento por cinco e depois o agrupamento por dez,
chegando na representação numérica baseada no nosso sistema de numeração
decimal.
Para concluir, distribuímos alguns livros didáticos, aos alunos organizados em
pequenos grupos, com informações sobre os sistemas de numeração egípcio e
romano. Após um tempo para o manuseio dos livros e discussão nos grupos, os
alunos foram questionados sobre as descobertas feitas sobre cada sistema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Andressa Parra4
Beatriz Sanches5
Denise Garcia6
Hayanne Zahra7
INTRODUÇÃO
também se encontra em dificuldades para lidar e tratar desse assunto, pois ela associa
valores aos seus alunos e tenta mostrar de forma sutil, sem explorá-lo com afinco. Isso
ocorre porque dentro da escola não existe um profissional preparado e capacitado
para tratar desse tema com propriedade e seriedade. O que se percebe é um forte
estresse social, talvez por motivos econômicos, religiosos, étnicos e moral.
A finalidade desse trabalho é, pois, contribuir para que jovens e crianças
saibam exercer e desenvolver sua sexualidade com prazer, tranquilidade e
responsabilidade, pois para isso é importante despertar o exercício da cidadania na
medida em que se propõe o desenvolvimento do respeito de si e do outro, elementos
fundamentais para a formação de um indivíduo responsável e consciente de sua
capacidade.
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
I. Sexualidade
338
Podemos concluir que há muito para ensinar a esses jovens, os quais precisam
obter mais informações, pois, como visto, há um número elevado de indivíduos que
342
não utilizam preservativo e não possuem parceiro fixo, o que os leva a se exporem a
doenças sexualmente transmissíveis. O mais importante é incentivar os alunos a
usarem o preservativo, sendo esse o principal objetivo.
Tudo isso contribuiu para que esses valores fossem questionados e, por que
não, trabalhados na escola — considerando que esta detém uma sensibilidade maior
para tratar das particularidades e especificidades desse assunto tão polêmico e
abrangente. As escolas, de uma maneira didática, com discussões e palestras, devem
tratar da sexualidade de maneira igual tanto para os meninos quanto para as meninas,
uma vez que as mesmas conseguiram esse direito. Não deve haver diferenciação de
explicação entre os jovens de ambos os sexos, pois eles têm o direito e precisam
saber como funciona a sexualidade masculina e feminina de maneira adequada e
séria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARATANGY, L. A difícil arte do encontro. 2. ed. São Paulo: Ática, 1996.
BRASIL. Sec. da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 2008.
347
INTRODUÇÃO
de uma atividade que tem como finalidade a formação humana aproxima o indivíduo
das realizações humano-genéricas elevando o patamar do Em-si ao Para-si do
conhecimento. Por esta perspectiva entendemos que a Matemática como um produto
das objetivações para-si da sociedade, possui um potencial de emancipação do
homem. Significa afirmar que o conhecimento da matemática lhe permite uma maior
liberdade em relação à Natureza permitindo-lhe conhecer e sistematizar os fenômenos
naturais por meio das ferramentas que a matemática oferece, assim como sua
emancipação frente aos outros homens em suas relações sociais.
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA
RESULTADOS OBTIDOS
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
será ensinado. A mudança ocorrida em nossa programação fez com que a pré-seleção
dos conteúdos ocorresse de modo aligeirado sem a discussão necessária que
havíamos planejado.
A respeito dos êxitos de nosso trabalho, destacamos o caráter formativo dos
encontros que favoreceram não só a discussão teórica, mas a aprendizagem técnica e
prática dos materiais empíricos no favorecimento da educação matemática.
Ressaltamos que foi possível explorar todo acervo de materiais didáticos e jogos
voltados para a matemática, existente na escola. Isso de certa maneira tem uma
implicação fundamental quanto à utilização das técnicas apresentadas, tendo como
parâmetro os materiais já existentes, sem, dessa forma, exigir do professor algo que
esteja fora de seu alcance.
Para finalizar é importante registrar os agradecimentos a todos os participantes
e à direção da escola “Lila Maia” que disponibilizou o espaço e os materiais para a
concretização de nosso projeto.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODO
RESULTADOS
educativo de seus filhos. A partir do projeto houve relatos de familiares sobre como o
aluno trouxe a prática do brincar em família.
Com relação aos materiais adaptados, foram confeccionados oito vai e vem,
cinco jogos de Dama e Jogo da Velha, 4 Bingos dos Sons Iniciais e 50 jogos de
palitos. Os jogos de dama e velha foram confeccionados com e.v.a, o outros,
impressos em folhas sulfites, plastificadas, o vai e vem, com garrafa pet, fio de varal e
rolo de fita crepe.
Parte dos professores e estagiários que antes não sabiam jogar xadrez
passaram a compreender as grandes contribuições para desenvolver o pensamento
lógico-matemático, uma vez que o aluno deve de forma concentrada antecipar as
ações, pensar com lógica, dominar as regras e objetivos a serem alcançados para
alcançar a vitória.
Para auxiliar nas atividades de leitura e escritas de palavras foram orientados a
montar objetos com o auxílio do jogo LEGO e a partir da criação, contar as histórias.
Os jogos Perfil, Responda se Puder e Jogo do Milhão, passaram a fazer parte
da rotina dos alunos nas oficinas e recreio trazidos pelos estagiários e também
despertaram o interesse do professor da sala regular. As contribuições mais
específicas desses jogos são os aspectos de leitura, classificação de categorias,
ortografia além de outros benefícios que os jogos de uma maneira geral possibilitam
ao desenvolvimento infantil.
Para Kishimoto (2002), a implementação dos jogos e brincadeiras no ambiente
escolar, não é uma tarefa fácil. É necessária a aplicação de um programa estruturado
com a participação de uma equipe formada pelo usuário, família, profissionais da
saúde e educação, principalmente o professor, de forma a garantir às crianças e
jovens esse novo jeito de aprender. Por isso é de extrema importância o que professor
conheça os diferentes tipos de jogos, receba orientações sistemáticas quanto ao uso
nos diferentes contextos e atividades, além de estabelecer critérios e estratégias que
facilitem o acesso do educando nas atividades de leitura escrita e raciocínio
(CAMARGO; CARNEIRO, 2010).
Todo programa necessita de um planejamento, experimentação, de forma a
garantir o acesso, a efetividade e a permanência do aluno no programa para melhorar
seu rendimento escolar (MACEDO, 2005).
Os resultados identificados neste trabalho possibilitaram a reflexão sobre
questões imprescindíveis para orientação e capacitação do professor e demais
362
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORBA, A. O Brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: BRASIL. Ministério
da Educação. Ensino Fundamental De Nove Anos: Orientações para a Inclusão da
Criança de Seis anos de idade. Brasília: FNDE/Estação Gráfica, 2006, p.109 -128
BROUGÉRE, G.A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, T. M. (Org).
O brincar esuas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002.
CAMARGO, R. L.; CARNEIRO, K. T. O jogo e a Educação. In: ANGOTTI, M. (Org).
Educação Infantil: para que, para quem e por quê? Campinas: Alínea, 2010.
CAPOVILLA, F.C. Comunicação alternativa: modelos teóricos e tecnológicos, filosofia
educacional e prática clínica. In: CARRARA, K. Universidade, sociedade e
educação. Marília: Unesp-Marília-Publicações, 2001.
DEVRIES, R.; KAMII, C. Jogos em Grupo na Educação Infantil: implicações da
teoria de Piaget. Porto Alegre: Artmed, 1991.
IDE, S. M. . O jogo e o fracasso escolar. In: Kishimoto, T. M.. (Org.). Jogo,
Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cortez, 1996.
HOUAISS. Dicionário eletrônico. Disponível em
<https://acesso.uol.com.br/login.html?skin=houaiss&dest=REDIR|http://houaiss.uol.co
m.br/busca?palavra=escola>. Acesso em 10/02/2013.
KISHIMOTO, T. M. . Pré-Escola e Democratização do Ensino. A pré-escola e a
criança, hoje. Ideias nº 2. São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da
Educação, 1988.
________. O jogo na educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
________. Jogos Infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 2010.
MACEDO, L. .Faz-de-conta na escola: a importância do brincar. In: Pátio Educação
Infantil. Porto Alegre, 2003.
________. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed,
2005.
MALUF, A. C. M. Brincar: prazer e aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2003.
MANTOAN, M.T.E. A formação de professores, no âmbito da integração escolar.
Integração. Brasília, n.18. 1997.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA,A.(Org), Os
professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995.
OLIVEIRA, P. S. O que é brinquedo. Brasília: Brasiliense, 2010.
SOLÉ, M. B. O jogo infantil: organização das ludotecas. Lisboa: Instituto de apoio à
criança. 1992.
364
INTRODUÇÃO
1Licenciadaem História pela UNESP/Assis. Mestre em Educação pela UNESP/Marília, sendo bolsista
CNPq. Atualmente é professora de História do Ensino Fundamental. Contato: crisbigeli@gmail.com
365
METODOLOGIA
discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e ideologia [...]”
(p. 17).
2Para mais, ler Jares, 2002; 2007, Rabanni, 2003 e Guimarães, 2011.
367
movimentos religiosos dentro do espaço das escolas públicas refletimos que estimular
a participação de movimentos religiosos dentro do espaço escolar não infringe a
Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) vigente, isto a
depender da forma que esses movimentos religiosos atuariam dentro das escolas.
Convidá-los para debates, reflexões, conversas, para apresentar suas crenças etc.,
ampliaria as percepções dos alunos, pais e professores acerca das diversidades
religiosas e das diversas visões de mundo que as religiões detêm; contudo, convidá-
los para que realizem rituais religiosos dentro das escolas públicas é um desrespeito à
separação entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro, ocorrida em 1890 (BRASIL,
1890), além de ser contra o artigo 19º da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 (BRASIL, 1988), no qual está explicitado que “é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos [...]”.
Na área dedicada aos procedimentos metodológicos para os alunos, um que
nos cabe nesta análise é o que diz: “As escolas trabalharão individualmente
promovendo ações com as respectivas comunidades: palestras, reflexões, debates,
campanhas, atividades culturais, grupos de evangelização, desenvolvendo nos
alunos o protagonismo juvenil e a Cultura da Paz e do Diálogo (PASTORAL DA
EDUCAÇÃO, 2007, p. 4, negrito nosso).
Neste ponto, ocorre o contrário do que pontuamos na análise do objetivo que
incentiva a entrada de movimentos religiosos no espaço escolar, uma vez que a partir
do momento em que há um direcionamento para determinada religião, como vemos
neste procedimento metodológico, o artigo 19º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 é desrespeitado, pois, ao se fazer menção a grupos de
evangelização, se está privilegiando religiões que fazem parte do cristianismo, já que a
primeira definição que encontramos no Dicionário Michaelis para a palavra
“evangelho” é “1. Doutrina de Jesus Cristo” (EVANGELHO, 2009) e as outras quatro
definições para este verbete também estão diretamente vinculadas à religião cristã.
Outro sentido que atribuímos a essa promoção de grupos de evangelização é a
possibilidade de ocorrer à doutrinação dos alunos e das alunas, desrespeitando, além
do já citado artigo da Constituição e a laicidade do Estado, a liberdade de crença, que
é direito do ser humano, como consta no parágrafo VI do artigo 5º da Constituição da
República Federativa do Brasil: “VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
crença” (BRASIL, 1988). Assim, podemos concluir que os proponentes do SJMU
concebem os grupos de evangelização como uma das formas de desenvolver nos
alunos a cultura da paz.
369
Aliás, consideramos que a busca pela paz não se faz por meio das religiões,
porque podemos ver em nosso cotidiano que o desrespeito entre as diversas crenças
provenientes de diferentes religiões causa mais violência do que paz. A paz só poderia
ser alcançada, utilizando as religiões, por aqueles que possuem crenças semelhantes
e fazem parte do mesmo movimento religioso, ou, pensando na execução do SJMU,
se houvesse um trabalho para promover o respeito às diversidades religiosas
envolvendo professores, pais e alunos. Trabalhar com uma religião como sendo a
verdadeira e passar aos alunos os ensinamentos desta religião, não nos parece uma
forma de se alcançar e promover uma cultura de paz.
No módulo “estrutura e afeto”, dedicado aos pais, encontramos mais uma
alusão à religião, no qual os proponentes consideram que “[...] é fundamental a
promoção de uma consciência religiosa no âmbito familiar” (PASTORAL DA
EDUCAÇÃO, 2007, p. 5). Este é, em nossa concepção, um assunto a ser discutido de
forma particular entre os membros da família, uma vez que a escola e os trabalhos
que compõem o currículo escolar não deveriam ter nenhuma relação com a religião
seguida por seus alunos e familiares, e tampouco se há ou não alguma “consciência”
religiosa dentro da casa de seus alunos, professores, gestores e funcionários. Sendo
assim, um projeto desenvolvido em escolas públicas não teria que impor em que a
família do aluno deve ou não deve acreditar. Adotando tais procedimentos
metodológicos, uma família ateia (a denominação “ateu” se refere a quem não acredita
na existência de deuses) teria que se converter e passar a crer em uma religião? Além
disso, se a família seguir alguma religião diferente da professada pelos proponentes
do projeto, aquela deveria trocar de religião? Os agnósticos (aqueles que afirmam a
impossibilidade de conhecer a deus. Para os religiosos, os agnósticos são aqueles
que não possuem religião) precisariam passar a acreditar em algo? Etc.
Ademais, os proponentes do SJMU consideram que “ter um filho representa
receber a missão de criar um ambiente bem estruturado com amor para que o novo
ser se realize [...]” (PASTORAL DA EDUCAÇÃO, 2007, p. 5, negrito nosso). Podemos
remeter alguns significados, que são condizentes com o discurso do nosso objeto de
pesquisa, para a palavra grifada na citação: podemos conceber o termo missão por
uma obrigação, sendo que ao ter um filho, os pais têm a obrigação de criar um
ambiente bem estruturado; a palavra missão também pode ter cunho religioso, no
sentido de os pais terem recebido uma delegação divina que é a criação dos filhos.
Após a explanação dos procedimentos metodológicos, dá-se início aos planos
de ações que os proponentes do SJMU utilizarão para alcançar as finalidades
370
propostas para cada um dos segmentos formadores do projeto, ou seja, alunos, pais e
professores. O primeiro plano de ação para os alunos é a viabilização da participação
destes em eventos religiosos, como encontros de jovens, acampamentos, etc.
Viabilizar é tornar algo possível e aqui retomamos o fato de inserir religião no
planejamento curricular de escolas públicas. Tomando como base as duas
possibilidades de eventos religiosos descritas acima (encontro de jovens e
acampamentos), podemos cogitar que as diversas religiões provavelmente realizam
encontros e acampamentos destinados ao público jovem. Contudo, se estabelecermos
relações entre esses dois exemplos de eventos religiosos e as concepções sobre
religião contidas no SJMU, podemos associar que tais eventos são ligados tão
somente à religião cristã.
Ademais, os planos de ação para professores e pais são mais ligados a
planejamentos, e não encontramos menções que remetem ao Ensino Religioso.
Finalizando o projeto, os proponentes recomendam algumas estratégias que podem
ser utilizadas durante a aplicação do mesmo, como palestras, criação de peças
teatrais, utilização de músicas, realização de testes, dentre outras, além de sugerirem
em como se dará a avaliação, trechos em que também não encontramos conteúdo
dentro da perspectiva do Ensino Religioso.
Entretanto, o discurso moral que encontramos nas páginas do SJMU nos
chamou a atenção durante a análise. Em diversas partes se nota o modelo patriarcal
da família como sendo o modelo “correto” a ser seguido, além de algumas afirmações
acerca de determinados valores éticos e morais, os quais são tratados como
necessários para que não haja violência. Há um trecho, por exemplo, no momento em
que os proponentes discursam sobre as relações entre pais e filhos, no qual contém a
afirmação de que “há uma lacuna nesta tarefa importante de ser pai, causada pela
constante mudança a que estamos submetidos a todo instante, desestabilizando os
valores reais da família.” (PASTORAL DA EDUCAÇÃO, 2007, p. 3). Podemos ver
neste trecho alguns dos valores éticos e morais que são explicitados, como, por
exemplo, a exclusividade de menção ao pai como a figura mais importante do
ambiente familiar, o que pode demonstrar que os proponentes entendem o patriarcado
(sistema no qual quem tem o poder na família é o pai) enquanto forma estruturante da
sociedade. A figura materna não é mencionada, o que nos remete mais uma vez a
esta possível visão do pai como o indivíduo que não pode falhar na formação do
caráter de sua prole.
371
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do espaço da aula para fazer discursos religiosos, utilizar o horário em que os alunos
estão nas escolas para realizar ritos de adoração (orações, por exemplo), obrigar os
alunos a rezarem ou a aprenderem uma oração, obrigar que os alunos aprendam algo
que o professor acredita no campo das crenças religiosas como sendo “a verdade”,
são atos de desrespeito à laicidade do Estado e desrespeito à Constituição nacional.
Finalmente, após nossa análise do SJMU pudemos concluir que este projeto
utiliza da doutrinação religiosa, disfarçando-a de Educação para a Paz, com um
pretenso intuito de mitigação da violência no espaço escolar.
REFERÊNCIAS
ASSIS (São Paulo). Lei orgânica do município de Assis. 1990. Disponível em:
<http://www.camaraassis.sp.gov.br/leis/lei-organica/leiorganica.pdf>. Acesso em: 29
out. 2012.
BRASIL. Constituição (1988) “Constituição da República Federativa do Brasil”.
Brasília – DF: Senado Federal, 1988.
CEFEP. Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara. Os Passos do Pastor:
breve relato da vida de Dom Hélder Câmara. Disponível em:
<http://www.cefep.org.br/bio_dom_helder>. Acesso em: 17 out. 2012.
EVANGELHO. In DICIONÁRIO Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa.
Brasil: Melhoramentos, 2009. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=Evangelho>. Acesso em: 29 out. 2012.
GPER. Grupo de Pesquisa Educação e Religião. Disponível em:
<http://www.gper.com.br/index.php?sec=bib>. Acesso em: 13 de jul. 2011.
ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP:
Pontes, 1999.
PACHECO, José Augusto. Políticas Curriculares: referenciais para análise. Porto
Alegre: ArtMed, 2003.
PASTORAL DA EDUCAÇÃO – DIOCESE DE ASSIS; ASSIS (São Paulo); Secretaria
Municipal de Educação de Assis; Diretoria de Ensino: Região de Assis. Projeto
“Sonhando juntos por um Mundo Unido”. 2007.
SÃO PAULO (Estado). Constituição Estadual. 1989. Disponível em
<http://www.legislacao.sp.gov.br/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/
46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument>. Acesso em 13 jun. 2011.
373
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
“No meu entender, currículo são os conteúdos que são elaborados para os
professores transmitirem para os alunos, de forma escrita, falada. Muitos conteúdos
que estão na proposta não são trabalhados, pois a SEMED dá o texto pronto e tem
assuntos que não condizem com as necessidades dos alunos e a realidade, não tem
no livro o assunto da proposta e aí fica difícil fazer um trabalho”. (Lindomar)
“Bem, o currículo é um instrumento norteador que vai me dar direção em tudo que eu
vou fazer, pois se você não tiver atento ao currículo você pode se perder”. (Anita)
instrumento norteador que direciona suas ações; como programa e curso e comoos
conteúdos importantes voltados à realidade do aluno.
Os quatro (04) professores entrevistados declararam que deve ser dada uma
atenção à realidade do aluno no processo educativo. No entanto verificaram-se
algumas disparidades entre discurso teórico e a prática curricular. Na maioria das
observações evidenciamos uma prática tradicional de ensino, pautada na transmissão-
recepção de conteúdo. Alguns professores demonstram pelas suas falas e pelas suas
atitudes que estão presos aos conteúdos formais e pré-estabelecidos por série e
também aos livros didáticos. Em função disso, realizam um ensino fragmentado e
descontextualizado.
Apple (1999) aponta como o currículo prescrito favorece a hegemonia cultural
dos grupos que detêm o poder econômico, viabilizando diferentes formas de opressão
e a dominação desses grupos sobre os outros. Não há uma discussão coletiva sobre
como se dá, historicamente a seleção do conhecimento, sobre a maneira como esse
conhecimento se organiza e se relaciona na estrutura curricular e, consequentemente,
o modo como as pessoas poderão compreender o mundo e atuar nele.
Sacristán (2000) observa que o currículo não pode ser somente um conjunto de
conteúdos e conhecimentos a serem superadas pelo aluno dentro do nível educativo
ou modalidade de ensino, ou como programa de atividades planejadas, devidamente
sequencializadas, tal como se mostram num manual ou num guia do professor. O
currículo deve ser entendido como experiência recriada nos alunos por meio da qual
podem desenvolver-se. Um processo vivo e dinâmico que proporciona conteúdos e
valores para que os alunos melhorem a sociedade em relação à reconstrução social
da mesma.
Quando se considera o currículo tão somente como um documento impresso,
uma orientação pedagógica sobre o conhecimento a ser absorvido na escola ou mera
lista de objetivos, métodos e conteúdos necessários para o desenvolvimento dos
saberes escolares, despreza-se seu caráter político, sua condição de elemento que
pressupõe um projeto de futuro para a sociedade que o produz. É indispensável uma
análise mais ampla e crítica, ancorada na ideia de que, nesse documento, está
impresso o resultado de embates políticos que produzem um projeto pedagógico
vinculado a um projeto social.
É também necessário que se compreenda o currículo como algo que acontece
nas mediações pedagógicas que acontecem no dia-a-dia da escola, onde se deve
378
“Bom, eu vejo que é mais no teórico, pois os assuntos do município é mais no 3º ano’.
(Lindomar)
“Por meio do folclore, das lendas, dos mitos, da história do Amazonas que é o
caminho para falar daqui. Faço uma ligação com arte, faço experiências,
dramatização, exposição oral, trabalho contos, produção de textos com eles, pois eu
quero que eles apresentem saberes com animação, criatividade”.(Anita)
“Eu aproveito datas comemorativas locais, assuntos, por exemplo, agora se fala muito
da saída do Davi Assayag do Garantido, aí eu falo sobre o Festival, o
desenvolvimento, o comércio, em que ele já contribuiu socialmente e financeiramente
para o município. Na minha visão, eu percebo que embora eles sejam pequenos, eu
tento colocar essas informações locais para eles”.(João)
“Eu tenho tentado trabalhar, não assim em 70%, 80%, um pouco a gente trabalha na
parte da literatura, das artes e também da língua portuguesa, quando a gente faz
atividades de produção de textos, que aí vem a questão da prosa, da poesia, trabalhos
sobre a cultura local, a produção de desenhos, de imagens, fotografias. Até mesmo
nós assistimos vídeo, dvd, que tratam de como é o costume do caboclo. Mas, eu sei
que ainda é pouco, mas na medida do possível trabalhamos. Mas acredito que se
pudéssemos trabalhar mais, seria bem melhor”.(Lucas)
“Eu acho que sim, pois tem muitas dificuldades, falta de recursos que impedem de
acontecer um trabalho que explore mais esses conteúdos. Acho que tenho que
melhorar minha prática, mais falta orientação pedagógica, e aí acabamos ficando na
mesma”. (Lindomar)
“Por um lado sim, pois temos que dar conta de muitas disciplinas e alunos com
dificuldades diferentes. Mais tenho procurado em minha prática trabalhar os assuntos
do dia-a-dia dos alunos, sempre faço uma ligação desses saberes da nossa realidade
com artes, história, português, geografia, dependendo do assunto. Mais é claro que
sempre precisamos melhorar, renovar nossas metodologias, pesquisar novos
conteúdos, para ir melhorando nossa prática”.(Anita)
“Bom, eu acho que como educadores, em meio a tantas mudanças, sempre temos que
melhorar, fazer melhor nosso trabalho, dando mais significado aos assuntos. Eu
procuro explorar os saberes locais nas atividades que eles fazem, relacionando os
conteúdos das disciplinas com as coisas que fazem parte do meio em que eles vivem,
mais sei que ainda há muito a fazer”. (João)
380
“Considero que sim, pois às vezes nossa prática fica repetitiva, devido a falta de tempo
e de material para pesquisar, e até devido ao acúmulo de atribuições que temos na
escola. No entanto procuro fazer um trabalho que tenha significado real para o aluno
embora eu reconheça que ainda é muito pouco. Na minha prática curricular tenho
tentado trabalhar, busco explorar esses assuntos da forma que é possível e de modo
que os alunos entendam. Mas sei que é preciso fazer muito mais para melhorar a
nossa atuação no trabalho com esses conteúdos, pois como já disse, eles são muito
importantes.” (Lucas)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Conhecendo o município de Álvares Machado
O município de Álvares Machado integra a 10ª Região Administrativa do
Estado de São Paulo – RA de Presidente Prudente, localizada geograficamente no
extremo oeste do território paulista e composta por 53 municípios.
Fundado em 1944, Álvares Machado está localizado a 576 km da capital
paulista e a 13 km de Presidente Prudente (município sede da RA), tem 346 km² de
extensão territorial e possui uma população de 23.596 habitantes (SEADE, 2012).
Tal qual no conjunto dos municípios da região, em Álvares Machado o setor
primário prevalece sobre os setores secundário e terciário, estando a agropecuária na
condição de atividade econômica principal.
A municipalização do ensino fundamental em Álvares Machado:
contextualização e processo
O município de Álvares Machado, contemplado pelo presente estudo, não ficou
imune aos efeitos no plano local das contemporâneas políticas/reformas educacionais
gestadas e implementadas nos âmbitos nacional e estadual a partir de meados da
década de 1990, indubitavelmente atreladas ao projeto neoliberal de
reforma/minimização do Estado e fortemente alinhadas à cartilha do Banco Mundial,
notadamente no que se refere à indução a municipalização do ensino fundamental.
Conforme estudo (SÃO PAULO, 1997) da Secretaria de Estado da Educação
de São Paulo (SEESP) a respeito dos impactos da implementação do FUNDEF em
cada um dos 645 municípios paulistas, à época da criação deste Fundo a
municipalidade em estudo não apresentava qualquer participação direta na oferta de
matrículas do ensino fundamental, o que acarretaria “perda” de recursos caso
mantivesse tal posição diante da oferta deste nível de ensino na durante a vigência do
Fundo. Caso o município em questão assumisse a totalidade das matrículas de 1ª a 4ª
séries do Estado ele teria um considerável saldo positivo de recursos a receber do
Fundo. Considerada, ainda, a hipótese de que este município assumisse a totalidade
386
Fonte: Adaptado da Fundação Seade (SEADE, 2012) e dos Censos Escolares INEP/MEC
(BRASIL, 2012).
Fonte: Adaptado da Fundação Seade (SEADE, 2012) e dos Censos Escolares INEP/MEC
(BRASIL, 2012).
Fonte: Adaptado da Fundação Seade (SEADE, 2012) e dos Censos Escolares INEP/MEC
(BRASIL, 2012)
Fonte: Adaptado da Fundação Seade (SEADE, 2012) e dos Censos Escolares INEP/MEC
(BRASIL, 2012).
Se por um lado a completa municipalização do ensino fundamental (ciclos I e II)
em Álvares Machado pode sugerir a utilização dos Fundos (antes do FUNDEF, agora
do FUNDEB) como uma “fonte adicional de recursos” para a esfera municipal; por
outro, pode expressar a preocupação da municipalidade em evitar a segmentação do
ensino fundamental em seu território – um dos efeitos colaterais trazidos pela corrente
política de Fundos e a decorrente municipalização de tal nível de ensino no Estado de
São Paulo – uma vez que ela pode configurar-se como forte complicador da conclusão
com êxito do ensino fundamental, conforme já alertado por Pinto (2007).
Se para concluir o ensino fundamental a maior parcela dos alunos paulistas
tem que passar, necessariamente, por duas redes de ensino (estadual e municipal),
“[...] com padrões de funcionamento e de qualidade distintos e que dificilmente
conseguem estabelecer um sistema de colaboração” (PINTO, 2007, p. 888), em
Álvares Machado, desde 2009, os alunos do ensino fundamental podem cursar tal
nível de ensino somente em escola (s) da rede municipal de ensino.
Autônomo para definir os rumos da educação sob sua responsabilidade, o
município de Álvares Machado, após iniciar a municipalização do ciclo II do ensino
fundamental (cuja gestão é sabidamente mais complexa/difícil), decide também pela
adoção de sistema de ensino apostilado privado para o conjunto de suas escolas
municipais de ensino fundamental, o que se mantém até os dias atuais.
A partir da literatura especializada, pode-se inferir, então, que Álvares
Machado, quando se vê diante da nova e crescente responsabilidade educacional
assumida (municipalização do ciclo II), para a qual não tinha devido
preparo/experiência, passa a buscar “soluções rápidas e prontas” no “apostilamento”,
tendência crescente5 no território paulista.
5Segundo recente pesquisa realizada pela Fundação Lehman, praticamente um terço dos municípios
paulistas contam atualmente com sistemas apostilados de ensino privados.
392
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
5Segundo recente pesquisa realizada pela Fundação Lehman, praticamente um terço dos municípios
paulistas contam atualmente com sistemas apostilados de ensino privados.
395
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Conhecendo o município integrante da pesquisa
8No ano de 2012, as sete escolas municipais atenderam, juntas, a 2.569 alunos do ciclo I e II.
397
na tem benefício, nós ficamos engessados naquilo. Você tem que trabalhar aquilo e se
der tempo você traz alguma coisa diferente. É diferente de eu trabalhar meu próprio
conteúdo, eu faria o planejamento do que eu iria trabalhar no primeiro bimestre,
segundo bimestre, terceiro bimestre” (Entrevistado G, 2012).
Segundo os depoentes, a empresa Positivo disponibiliza para o conjunto das
escolas municipais de Álvares Machado os seguintes produtos/serviços educacionais:
apostilas bimestrais para alunos e professores, agendas, site para pesquisar/tirar
dúvidas, assistência via e-mail aos professores, cursos de capacitação/formação
semestrais para professores/gestores e sistema de avaliação externa.
A tabela 1 registra a opinião dos profissionais do magistério sobre o material
didático do sistema apostilado de ensino.
Tabela 1 -Qual sua opinião sobre o material didático do sistema apostilado de ensino?
Categorias Freq. %
Possui conteúdo fraco/desinteressante/erros 5 20,0
Tem que ser complementado com outros conteúdos/atividades 5 20,0
É bom/gosto do material 4 16,0
Faço adaptações para adequar à realidade dos alunos 2 8,0
Pulo o que não é significativo para o aluno 2 8,0
É um material “fechado” 1 4,0
Tira a autonomia do professor 1 4,0
É tradicionalista 1 4,0
Os conteúdos são bem segmentados 1 4,0
Diminui bastante o trabalho do professor 1 4,0
É aprovado 1 4,0
Já está relacionado às avaliações externas oficiais 1 4,0
TOTAL 25 100,0
Fonte: Pesquisa realizada (2012).
Categorias Freq. %
Sim 5 33,3
Não os cursos (semestrais) são insuficientes 3 20,0
Não os cursos são desinteressantes 2 13,3
Não, os cursos são repetitivos e não tratam dos temas solicitados pela 1 6,7
escola
Não, é distante da nossa realidade escolar 1 6,7
Não, pois não há espaço para questionar/criticar o material fornecido 1 6,7
Não, só é para se passar maneiras de como usar o material fornecido 1 6,7
Não, trata-se mais de uma capacitação 1 6,7
TOTAL 15 100,0
Fonte: Pesquisa realizada (2012).
A partir dos depoimentos coletados pela pesquisa (tabela 3), depreende-se que
a maioria (10 ou 66,7%) dos profissionais do magistério classifica como insatisfatória a
formação continuada de professores promovida pela empresa Positivo, sendo que 5
(ou 33,3%) das respostas obtidas aponta para uma satisfatória formação continuada.
Sobre tal tema, um dos entrevistados assim se manifestou: “Mas é o que eu estava
reclamando das oficinas, que são repetitivas. Elas não trazem algumas novidades que
a gente gostaria e não contempla o necessário. Ás vezes, nós falamos que
precisamos de cursos de matemática, porque os professores estão com dificuldades
para trabalhar a matemática do material, mas eles mandam algo bem vago, que não
aprofunda. Tem alguns palestrantes que vêm aplicar os cursos que não sabem nem
quem foram as pessoas que escreveram o material, e eles são representantes da
Positivo. Então é bem complicado”. (Entrevistado L, 2012).
Claramente delegada à empresa Positivo, a formação continuada de
professores no município contemplado pelo estudo vem ocorrendo na contramão do
apontado pela literatura especializada. O acúmulo de pesquisas na área indica que o
ponto de partida das ações de formação continuada deve ser aquilo que os próprios
docentes apontam como suas necessidades de formação. Ao centrar-se na escola –
401
Categorias Freq. %
Com o livro didático, que é melhor/dá mais liberdade de trabalho ao professor 5 38,5
Indiferente 5 38,5
Com o livro didático, desde que o professor seja bem formado 1 7,7
Com o sistema apostilado, quando o professor não é bem formado 1 7,7
Com o sistema apostilado, que é mais elaborado 1 7,7
TOTAL 13 100
Fonte: Pesquisa realizada (2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
403
INTRODUÇÃO
Ensino/PROGRAD.aninha.smendes@hotmail.com
3Discente de Pedagogia FCT-UNESP. Colaboradora Núcleo de
Ensino/PROGRAD.danielaamaral18@hotmail.com
4Professor Assistente Doutor do Departamento de Educação da FCT-UNESP/Campus de Presidente
sistema não seriado de aulas avulsas ministradas por professores mal remunerados e
custeadas pelo novo imposto criado para a educação: o subsídio literário.
Já em pleno Império, o governo central edita o Ato adicional de 1834,
delegando às Províncias (nossos atuais Estados) a responsabilidade pelo Ensino
Primário e Secundário, apesar das mesmas não possuírem à época os recursos
necessários para atendimento de tal demanda. Não é por acaso que, ao final do
Império, havia no país poucas escolas primárias e secundárias públicas para
atendimento da população escolarizável, assim como poucos colégios particulares e
cursos superiores.
É justamente depois do Ato Adicional de 1834 que as Províncias, incumbidas
de tamanha responsabilidade educacional e desprovidas de recursos financeiros,
buscam cada vez mais “socorro” nas Câmaras Municipais.
Findado o Império e no limiar da República, a ideia de municipalização do ensino
primário passa a ser fortemente defendida por Anísio Teixeira, o qual ficou encantado
com o funcionamento do descentralizado sistema educacional norte-americano que
conhecera nos anos 1920.
Mesmo a partir de então entrando sistematicamente na pauta dos debates
educacionais e políticos, a materialização da municipalização do ensino obrigatório
não avança muito em termos nacionais.
A municipalização do ensino obrigatório, contudo, passa a ser fortemente
fomentada pelo Governo Militar que, na década de 1970, estabeleceu a passagem da
responsabilidade pelo ensino de primeiro grau (atual ensino fundamental) para a
esfera municipal, por meio do artigo 58 da Lei nº 5.692/1971.
Sendo tal legislação dependente da aceitação da esfera municipal, a
municipalização do ensino obrigatório acabou não vingando em parte considerável dos
municípios, o qual continuou praticamente “estadualizado” em muitas Unidades da
Federação.
No Estado de São Paulo, especificamente, a orientação municipalista do
governo militar “não vingou” e, a partir dos anos 1980, os governadores estaduais
eleitos (Montoro, Quércia e Fleury) foram deflagrando novas ações municipalizadoras,
na intenção de envolver mais os municípios paulistas nas questões da educação,
sobretudo impulsionando programas de municipalização da merenda, das construções
escolares e de recursos humanos.
Segundo Militão (2009), apesar das várias tentativas, o índice de
municipalização do ensino obrigatório no âmbito do território paulista permaneceu
406
baixo até a primeira metade da década de 1990, onde a cobertura educacional dos
municípios estava focalizada na educação infantil, ficando a oferta do ensino
fundamental majoritariamente a cargo da rede estadual e, no plano municipal, limitada
a programas específicos (como a merenda escolar, por exemplo) desenvolvidos via
parcerias entre Estado-Município.
Tal quadro, contudo, sofre significativa alteração a partir de 1995 por força de
dois acontecimentos: a eleição de Mário Covas para governador do Estado paulista e
a criação/implantação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF).
Após três mandatos consecutivos do PMDB à frente da administração estadual
paulista, em 1995 São Paulo passa a ser dirigido pelo governador Covas (PSDB) que,
alinhado ao ideário hegemônico de reforma/enxugamento do papel do Estado e
insatisfeito com o quadro descrito anteriormente, formula novas Diretrizes
Educacionais para o estado, deflagrando assim uma ampla reforma na educação
paulista e estimulando sobremaneira a transferência do ensino fundamental para as
administrações municipais.
Tal documento, formulado pela Secretaria de Estado da Educação de São
Paulo (SEESP) para nortear a política educacional paulista no quadriênio (1995-1998),
[...] fazia um breve diagnóstico situação da educação pública no
Estado de São Paulo e apontava os seus principais entraves: a
ineficiência e ineficácia do sistema de ensino paulista, traduzido na
baixa qualidade do ensino oferecido; nos altos índices de evasão e
repetência escolar; na estrutura gigantesca, morosa e centralizadora
da SEESP; na duplicidade de instâncias de decisões; na ausência de
mecanismos de controle e de avaliação sobre o sistema de ensino; e
na sobrecarga da esfera estadual em relação à municipal no tocante
a oferta do ensino fundamental e médio (MILITÃO, 2009, p. 199).
O grupo COC também foi criado quase na mesma época (em 1963), por alunos
de medicina da USP de Ribeirão Preto. E o grupo Positivo foi criado em 1972, quando
alguns professores criaram o primeiro curso pré-vestibular de ensino.
Esses três grupos têm grande inserção na educação dos municípios paulistas,
possuindo inclusive setores específicos para atendimento dos “clientes” públicos
municipais: o Objetivo criou o Sistema Objetivo Municipal de Ensino (SOME/Objetivo),
o COC possui o Núcleo de Apoio a Municipalização do Ensino (NAME/COC) e o
Positivo opera por meio do Sistema de Ensino Aprende Brasil (SABE/Positivo).
Como bem sintetizam Galzerano, Gobi e Luiz (2011, p. 110), os
materiais/serviços oferecidos/prestados pelos Grupos Objetivo, COC e Positivo aos
municípios parceiros, (por meio do NAME, SOME e SABE, respectivamente), “[...] são
bastante semelhantes: material didático padrão para todas as escolas, encontros
pedagógicos, assessoria oferecida pelos departamentos educacionais e portais
online”.
Apesar dos municípios adotarem sistema apostilado de ensino privado para
sua rede escolar, em muitos casos não lhes é fornecido o mesmo material didático
(notadamente as apostilas) que é confeccionado para as escolas particulares que
estampam a mesma marca empresarial nas suas fachadas, tratando-se muitas vezes
de material inferior.
Além do aspecto mencionado anteriormente, a adoção de sistema apostilado
de ensino privado também vem sendo bastante questionada por ser muitas vezes uma
decisão exclusiva do próprio prefeito, que contrata determinada empresa sem
consultar os profissionais da educação. Assim, sem passar por crivo de uma equipe
pedagógica, as apostilas compradas têm maior possibilidade de apresentarem
qualidade abaixo do esperado.
Explorando o marketing político, muitos prefeitos se valem do discurso de que
as crianças que estudam em escolas públicas municipais estão recebendo o mesmo
ensino que as crianças que estudam em escolas particulares. Isso se dá pelo fato da
marca do material comprado ser a mesma usada nas escolas particulares. O que não
se fala, é claro, é que os materiais comprados para as escolas municipais não são
iguais aos que são usados nas redes particulares, tratando de um material inferior
para que não haja disputa entre o alunado dos sistemas municipais e particulares de
412
ensino, caso contrário não faria sentido pagar uma escola que oferece o mesmo
material que uma pública, não é?
Sem dúvida, o “apostilamento” das escolas das redes municipais de ensino trás
consideráveis implicações, sobretudo para o professorado, agentes diretos na
“execução” de tal política educacional.
Ao propor para a rede municipal um material único, padronizado e sequencial,
os sistemas apostilados de ensino “engessam” o trabalhado professor, incidindo
consideravelmente sobre a autonomia docente. Por ter que seguir o que o material
propõe, o professor acaba por não mais elaborar e ministrar a aula conforme suas
convicções pedagógicas, sendo expropriado da concepção do seu próprio trabalho.
Nesse sentido, o trabalho do professor passa a ser comparado com o de um operário
qualquer, pois as empresas educacionais privadas já
Planejam o que será ensinado, como será ensinado, transformam
isso em apostilas e em algumas vezes ainda determinam como será
avaliadas a aprendizagem [...]. E o professor, como é que ele entra
nesse processo? Ele é um mero executor. É uma mentalidade
empresarial, por que você já tem um processo estabelecido, o
professor entra só como um mero executor, pode-se pagar menos
para o professor, porque a final ele não precisa ser muito qualificado
já que a apostila garantirá supostamente o conteúdo [...]. Não
depende do professor a qualidade do processo educativo. Já está
tudo estabelecido na apostila (DUARTE, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Para ensinar a ler, escrever e falar, a escola sempre trabalhou com gêneros, já
que toda forma de comunicação transforma-se em formas de linguagem específicas
(SCHNEUWLY E DOLZ, 2010, p. 65).
Questiona-se, porém, como os gêneros são inseridos no ensino das
capacidades de linguagem. Eles podem se desdobrar em instrumento de
comunicação, somente, ou em objeto do ensino e aprendizagem. Podem também
fundar uma prática de linguagem em parte fictícia, para fins apenas de aprendizagem
escolar; assim como podem trazer práticas de linguagem autênticas, tornando-se
instrumento e objeto de ensino e aprendizagem simultaneamente.
O material didático analisado neste trabalho propõe o ensino de LE (Língua
Estrangeira) ancorado na abordagem de gêneros, na teoria sociointeracionista e na
formação do leitor crítico. Para esta pesquisa, optou-se pela análise de uma atividade
de leitura por meio dos gêneros.
Este trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico,
cujo objetivo é o trabalhar com as questões sobre ensino de leitura em LE,
desenvolvendo discussões sobre tal prática em uma proposta de ensino com base em
uma visão de ensino-aprendizagem e de linguagem como defendidos pela noção de
gênero, destacando os conceitos de gêneros de discurso de Bakhtin (1997), de gênero
como instrumento e objeto para o ensino (SCHENEUWLY, 2004) além das questões
voltadas para o desenvolvimento de capacidades de linguagem necessárias para a
compreensão do gênero que está sendo estudado.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Especialista no Ensino de Línguas pela Universidade do Sagrado Coração – USC – Bauru.
Professora de Educação Infantil bilíngue; e-mail: alinnerios@hotmail.com.
415
Para que o gênero seja definido como suporte de uma atividade de linguagem,
deve contemplar três dimensões essenciais:
seleção dos textos a serem trabalhados como unidades de ensino”. Cristovão (2001,
p.55), fundamentada em Schneuwly e Dolz (1998), afirma que a identificação dos
gêneros apontará os elementos a serem ensinados, ou seja, os objetos de ensino e
aprendizagem.
Nesta pesquisa, o foco do ensino da língua através dos gêneros (tanto como
instrumento como quanto objeto) será na leitura, tida aqui não como uma habilidade
linguística, mas como uma ação de linguagem, cuja noção “reúne e integra os
parâmetros do contexto de produção e do conteúdo temático, tais como um
determinado agente os mobiliza, quando empreende uma intervenção verbal.”
(BRONCKART, 1997/1999, p.99). De maneira mais concreta, Schneuwly e Dolz (1999,
apud CRISTOVÃO, 2001)explicam ação de linguagem como: produção, compreensão,
interpretação e/ou memorização de um conjunto organizado de enunciados orais ou
escritos.
Assumindo a concepção bakhtiniana (1997) sobre a natureza social da língua,
o ensino e a aprendizagem da ação de linguagem da leitura seriam mais relevantes se
organizados pelos gêneros, envolvendo o aluno na compreensão de capacidades de
linguagem específicas para diferentes situações. Citamos capacidades de linguagem,
e não competência, pois enquanto esta está ligada a dimensões inatas e inerentes ao
ser, as capacidades estariam relacionadas com a dimensão da aprendizagem,
exigindo do sujeito sua participação prática no processo (BRONCKART; DOLZ 1999
apud CRISTOVÃO, 2001, p.34).
Para a análise da atividade de leitura deste trabalho, será utilizado o quadro
criado por Cristovão (2001, p.36) estabelecendo relações entre as capacidades de
linguagem propostas por Schneuwly e Dolz (1998) e alguns critérios de avaliação
sugeridos pelos PCN-LE (BRASIL, 1998) conforme apresentadas no quadro 1.
Quadro 1: Critérios para avaliação da aprendizagem da compreensão escrita em
língua estrangeira, segundo os PCN-LE e a correlação com as capacidades de
linguagem
Compreensão escrita Capacidades de linguagem correspondentes
1. capacidade de ação, explorando a situação de
1. “demonstrar compreensão geral de tipos de produção do texto, a capacidade discursiva, usando
textos variados, apoiado em elementos inferência em relação às informações implicitamente
icônicos (gravuras, tabelas, fotografias, mencionadas por meio dos elementos icônicos e a
desenhos) e/ou em palavras cognatas”; capacidade linguístico-discursiva para o
reconhecimento dos cognatos.
2. capacidade discursiva, usando o plano textual
2. “selecionar informações específicas do
global e capacidades linguístico-discursivas, usando
texto”;
conhecimento lexical e de estruturas linguísticas.
3. “demonstrar conhecimento da organização 3. capacidade discursiva, reconhecendo o plano
textual por meio do reconhecimento de como textual global de cada tipo de texto e a capacidade
418
information can be found on it?Where can we find information about this actor? Who
wrote this text? What is the purpose of it? Which type of text brings information about
one’s life?
Ao chegarem à conclusão de que se trata de uma biografia, mais perguntas
sobre o gênero poderiam ser feitas, para que, ao ler, o aluno saiba que tipo de
informação será exposta e a linguagem com que ele se deparará: Have you ever read
a biography? Which ones? How do you like reading biographies? Where can a
biography be published? Can a writer publish all the details of one’s private life?
Na fase de leitura, as atividades que seguem o texto são quatro perguntas
sobre o conteúdo, nas quais o aluno deverá escolher a alternativa correta, conforme
pode-se observar na imagem 1.
Nestes exercícios, trabalha-se a capacidade discursiva, utilizando o plano
textual global e a capacidade linguístico-discursiva de conhecimento lexical e de
estruturas linguísticas para selecionar informações específicas no texto, fazendo uso
da técnica de leitura conhecida como scanning, não necessitando de inferências, nem
mesmo de leituras mais profundas.
Há também um exercício que coloca o vocabulário em foco, os alunos são
convidados a fazer uma correspondência entre as palavras provavelmente ainda não
conhecidas em Inglês com seu significado em português.
Tal atividade é um exercício para aquisição de vocabulário e, sobre isso, os
autores Cotta e Fonseca (2011, p.3) afirmam que as atividades para compreensão de
vocabulário exigem do aluno capacidade de inferência e dedução, o que significa
promover sua independência como leitor crítico e competente, capaz de reconhecer
maior variedade de itens lexicais. No exercício em questão, as palavras a serem
traduzidas não são cognatas, levando o aluno a recorrer ao contexto para decodificá-
las.
Para os PCN-LE (Brasil, 1998), a fase de leitura é aquela em que o aluno é
convidado a projetar seu conhecimento de mundo e de organização textual, tendo em
mente o contexto em que a atividade de leitura se insere. Para que esta fase seja bem
aproveitada, é necessário que o aluno transponha as estratégias que usa para ler em
língua materna também para a língua estrangeira, além de ser capaz de inferir
significados de palavras que não conhece pelo contexto. O aluno deve também
conseguir diferenciar as informações centrais dos detalhes.
422
A seção é encerrada com a pergunta: “Who are your favorite actors and
actresses? Why?”, que foge à análise de gênero, saindo do contexto em que deveria
estar inserida, voltando ao conteúdo temático e pedindo a opinião dos alunos sem
levá-los ao pensamento crítico sobre o que se leu.
Estes exercícios seriam um fechamento ao que foi estudado, mas o estudo
deste gênero específico não deveria estar em um só texto, mais exemplos de biografia
deveriam ser trabalhados, de forma a levar os alunos a compararem textos com o
mesmo tipo de informação, porém em veículos de comunicação diferentes, sobre
outras personalidades e para que houvesse repertório suficiente para enfatizar a
capacidade discursiva de demonstrar conhecimento da organização textual por meio
do reconhecimento de como a informação é apresentada no texto.
Percebe-se que, da forma exposta nas orientações didático-metodológicas, o
gênero é apenas instrumento de aprendizagem, ainda que de forma superficial, e não
objeto. O texto é adaptado de forma a trazer diversos exemplos sobre o ponto
gramatical a ser estudado (voz passiva) perdendo, assim, sua autenticidade, tornando
a lição supostamente sociointerativa e baseada em gêneros textuais, estrutural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
______.Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara F.
Vieira. São Paulo: Hucitec, 2004.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRONCKART, J. P.Atividade de Linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo. Anna Rachel Machado, Pericles Cunha (Trad.). São
Paulo : Educ. 1999.
COTTA, E. B.; FONSECA, P. D. Inglês: ensino fundamental: livro 2: volume 8. Belo
Horizonte: Editora Educacional, 2011.
CRISTOVÃO, V. L. L. Gênero e ensino de leitura em LE: os modelos didáticos de
gênero na construção e avaliação de material didático. 2001. Tese. (Doutorado em
Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – LAEL, Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo, 2001.
FELIPINI, L. M. G. O desenvolvimento da habilidade de compreensão oral em
alunos intermediários de língua inglesa durante um curso baseado em gêneros.
2012 Tese. (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – LAEL,
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2012.
LOPES, R. F. S. A elaboração de material didático: instrumento de (re)constituição
do professor de inglês. 2009. Tese. (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagem) – LAEL, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2009.
LOUSADA, E. G. Elaboração de material didático para o ensino de francês.In:
DIONISIO, A.P.; MACHADO, A.R.; BEZERRA, MA. Gêneros textuais e ensino. São
Paulo: Parábola Editorial, 2010.
MACHADO, A. R. Linguagem e Educação: o ensino e a aprendizagem de gêneros
textuais. Campinas: Mercado de Letras, 2009.
ROJO, R. H. R. Modos de transposição dos PCN às práticas de sala de aula:
progressão curricular e projetos. In:______(Org.) A prática de linguagem em sala de
aula: praticando os PCN. São Paulo: EDUC; Campinas: Mercado de Letras, 2000.
SCHNEUWLY, B; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado
de Letras, 2010.
SCHNEUWLY, B Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e
ontogenéticas. In: SCHNEUWLY, B; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004.
426
EXPRESSÕES INICIAIS
2Mestranda em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos. Especialista
em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas. Docente de
Educação Física para o Ensino Fundamental I pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
(SEESP), Piratininga. Contato: <catiacosta.ef@gmail.com>
3Pós-Graduação em Especialização para Docentes em Educação Física, financiada pela Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo (SEESP) e implementada pela Rede São Paulo de Formação Docente
em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (REDEFOR/UNICAMP).
427
4Areferência ao PCN (BRASIL, 1998), cujo ensino é de 5ª à 8ª séries, se justifica mediante a necessidade
sentida pela professora-autora de fazer menções as dimensões do conteúdo, as quais são apresentadas
somente nesta publicação, não compondo os textos existentes nos PCN de 1ª à 4ª séries (BRASIL,
1997).
431
componente curricular, uma vez que seja utilizada para fins diversos, despende todo o
tempo de desenvolvimento de um trabalho pedagógico e provavelmente não se
manifestará completamente em sua especificidade (DAÓLIO, 2009).
Essa situação, decorrente da perspectiva escolar sobre a Educação Física, em
que a área é compreendida como um tempo utilizado para o desenvolvimento de
atividades ligadas à produtividade (SOARES,2001) deveriaestar superada. Ao menos
no discurso de algumas instituições parece estar. Porém, as práticas revelam visões
da Educação Física como uma disciplina que não contribui para a formação do aluno.
No caso do contexto escolar da autora desta análise, tal perspectiva foi,
gradativamente, apresentando coerência entre o discurso e a prática da direção, da
coordenação, da equipe docente (incluindo as demais áreas do conhecimento) e dos
funcionários da escola em geral (COSTA; FERREIRA, 2011).
A mudança de olhar dos atores do ambiente escolar, efeito de uma atuação
docente pautada na reflexividade e na autoavaliação, promoveu uma valorização da
Educação Física, na qual a disciplina passou a ser considerada, tanto no discurso
quanto na prática, com a mesma importância das demais áreas, colaborando também
para a aprendizagem e para a formação do aluno (COSTA; FERREIRA, 2011;
GONÇALVES, 2006).
Subsidiada por estudos precedentes e nas referências teóricas supracitadas, a
professora-autora conclui que é humanamente impossível tratar pedagogicamente os
conteúdos da cultura de movimento em todas as suas dimensões se todas as aulas da
Educação Física forem utilizadas sempre para ensaios cívicos e/ou juninos em alguns
períodos do ano. Além disso, somente o ensaio não garante a compreensão do aluno
sobre o assunto, já que recai no chavão da aula prática sem sentido. Essas reflexões
constam no Plano de Ensino Anual.
O propósito nessa argumentação não é eximir o compromisso e a participação
que a Educação Física deve apresentar nesses eventos, mas afirmar que a
responsabilidade nesses acontecimentos deve ser de todas as áreas do
conhecimento. Destarte, vale revelar que tal fato foi se modificando positivamente no
contexto escolar da professora-autora.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
434
INTRODUÇÃO
1Unesp, Doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, São Paulo, APOIO:
FAPESP, luluponce@gmail.com
2Unesp, Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Educação e do Programa de Pós-
METODOLOGIA
Para atender ao objetivo desta proposta foram organizadas revisões
bibliográficas nas publicações da Fundação Carlos Chagas, com a Revista Estudos
em Avaliação Educacional e na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP).
Tais periódicos foram selecionados por serem conhecidos pela divulgação da
temática avaliação. E, além disso, a RBEP é associada ao Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e, isto precisa ser
considerado ao analisar a sua produção neste campo de saber, afinal como lembra
Sousa (2012, p.375):
DISCUSSÃO
3 Conforme Sass (2011) a Psicometria se originou quando ciência psicológica se aproximou das ciências
físico-matemáticas/estatísticas para fortalecer a racionalidade numa sociedade industrial e, foram levados
ao contexto escolar desde os anos de 1930. Basicamente, argumenta que os testes de inteligência
trouxeram às escolas um mecanismo de exclusão, além disso, a eles serviam para graduar o ensino,
sendo mais comuns no início do ano. Entretanto, havia também a exigência de acompanhamento do
desempenho escolar de forma quinzenal ou semanal, o que seria estabelecido por meio dos testes
pedagógicos.
440
4Essas ideias tem origem na Europa, em países como a França e Portugal, passaram a estudar o que
chamaram de Docimologia, a ciência do estudo sistemático dos exames, ou, do processo de atribuição de
notas e das ações dos avaliadores. Pesquisas com essa perspectiva buscavam analisar as distintas
variáveis que influenciam a possibilidade de medir conhecimentos.
441
Wall (1959) se referiu acima aos exames orais e escritos que, segundo ele,
possuía um número considerável de elementos arbitrários não plenamente assumidos.
Sendo assim e, com base em estatísticas das probabilidades de erros nos exames,
estabelecidas naquela época; as indicações mais preocupantes de tais arbitrariedades
não estariam nos alunos que alcançaram considerável aprovação ou reprovação, mas
sim, nos estudantes que ficariam neste entremeio.
Dessa maneira e, com base em estudos desenvolvidos ao longo do tempo,
Wall (1959) relatou que a avaliação mais efetiva de ingresso em níveis diferentes de
estudos seria os testes coletivos5, chamados assim, por serem mais fidedignos,
poderem ser aplicados em diferentes escolas e sobre diversos métodos de ensino.
Contudo, trouxe como desvantagens aos mesmos, a impossibilidade de evitar erros
nas zonas limítrofes, ter como consequência empresas que se organizaram para
ensinar os alunos a “passarem” nos testes e, sem a possibilidade de escrita ou a
organização de cálculos, não ser possível ter certeza de que os conceitos foram
atingidos, embora sejam capazes de assinalar a resposta correta.Nesse contexto,
duas discussões ainda permeiam os debates. Uma delas seria a questão da
5As avaliações ocorridas nas escolas ou em processos de seleção estavam organizadas em questões
dissertativas abertas e arguições orais.
442
organização de testes, provas e o uso ou não das mesmas, o que ficaria mais restrito
ao âmbito técnico do processo.
Na conjuntura técnica, as provas, segundo Gatti (2003), são vistas pelos
professores como um instrumento para medir a aprendizagem, sendo muitas vezes o
único ou o principal meio utilizado na escola.
Sobre os testes, ainda há questões postas por alguns professores a propósito
da validade dos mesmos, visto que os alunos podem assinalar qualquer item, o que
não indicaria que ele saiba ou não responder a questão.
Todavia, Gatti (1994) expôs que apesar de professores problematizarem a
utilização das provas objetivas ou discursivas, a literatura já demonstrou, de forma
evidente, que ambos os instrumentos podem medir os mesmos traços, o que depende
é o contexto no qual seriam estabelecidas, ao considerarem os custos para aplicação,
tempo disponível e público a ser atingido.
Ainda numa conjuntura técnica, Raphael (1995) apresentou três tipos de
avaliações: a diagnóstica que deve ocorrer antes do início do processo de ensino-
aprendizagem e tem como objetivo subsidiar o planejamento e as possíveis ações
pedagógicas. Existe também a avaliação formativa que seria organizada com vistas à
melhoria da aprendizagem e, por fim, a avaliação somativa, que possui um caráter
quantitativo ao verificar os objetivos a serem alcançados e o que foi atingido.
Com relação à avaliação e sua interação com a perspectiva de futuro, expressa
também nos textos de Pieron (1957) e Wall (1959), tem-se a identificação de dois
olhares possíveis. Por um lado, o caráter seletivo se mostra intrínseco a avaliação,
como pode ser visto na preocupação com os testes que teriam a postura de ingresso e
seleção.
Numa vertente reprodutora, Ludke (1991) problematiza a percepção de
avaliação e futuro dos sujeitos por meio do desempenho escolar. Ele afirma que a
avaliação exerce uma função sutil ao selecionar os alunos que no futuro iriam assumir
as posições dominantes ou não. A relação entre futuro e avaliação do desempenho,
sob outro olhar, também constituiria um dos principais objetivos de muitos educadores:
a possibilidade de haver mudanças. Como relata Buriasco (2000), a passagem pela
escola implica que um aluno que ali entrou, após incidir por tal experiência, ao longo
do tempo; deve sair diferente, isso porque o acesso ao conhecimento oportunizaria
outras maneiras de abranger o mundo.
A percepção do futuro, neste sentido na avaliação, estaria atrelada a influencia
que a escola pode trazer à vida das pessoas. Buriasco (2000, p.158) ainda afirma que
443
a avaliação: “[...] define, muitas vezes, a trajetória escolar do aluno, não só em termos
da sua manutenção, eliminação da escola, como também no tipo de profissão que terá
no futuro. [...].”6 Ou, numa perspectiva econômica, Nascimento (2007) revela que na
literatura da área se configura numa preocupação com os investimentos feitos no
campo educacional e a influencia que eles trazem ao processo de escolarização,
neste contexto, adverte o estabelecimento de discussões que cogitaram avaliar as
influencias das escolas, em longo prazo, por meio do nível salarial que ex-estudantes
possam atingir.
Todavia, é sempre valido lembrar que a escola está imersa em uma sociedade
de classes em que ela é apenas uma das instituições que compõem diferentes
vivencias pelas quais passam os indivíduos.
Vale acentuar que, para Vianna (1997, p.72), a “[...] Avaliação nada tem a ver
com a manutenção do status quo, a reprodução do pensamento acabado; a avaliação
não gera um quadro de revolução, mas conduz a mudanças desejáveis, com as quais
está comprometida”. Perspectiva coerente com o seu posicionamento ao considerar a
avaliação associada a um caráter interventor no âmbito escolar, sem extensão ao
futuro dos alunos.
Destarte, a avaliação do desempenho escolar foi identificada com funções
distintas. Ela está atrelada à mensuração, à descrição, ao julgamento, à negociação.
Pode auxiliar os avaliadores a tomarem decisões, ser seletiva, comparativa ou,
essencialmente, trazer informações sobre a trajetória escolar dos alunos, em um
caráter qualitativo, que incluiria a possibilidade de transformação. Inclusive, ela
também vem acompanhada do viés reprodutor quando associada à manutenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6Atualmente há ciência sobre redes de relações estabelecidas no âmbito escolar que vão além da
determinação por meio da avaliação.
444
Ficou claro que há uma rede de relações amplas que envolvem a avaliação dos
desempenhos escolares e que não parece possível separá-los da lógica excludente
que o perpassa.
REFERÊNCIAS
ALLEN, Nancy. Avaliação de desempenho escolar. Est. Aval. Educ. São Paulo, n.
13, jun. 1996.
BURIASCO, Regina L. C. de. Algumas Considerações sobre Avaliação Educacional.
Estudos em Avaliação Educacional, n. 22. p. 155-178. Jul./dez. 2000.
CHUEIRI, Mary Stela Ferreira. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em
Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008.
GATTI, Bernadete. Avaliação educacional no Brasil: experiências, problemas,
recomendações. Est. Aval. Educ.1994, n.10, pp. 67-80.[online].
______. O professor e a avaliação em sala de aula. Estudos em Avaliação
Educacional, n. 27, jan-jun/2003.
LUDKE, Menga. O professor, a escola e a avaliação. Est. Aval. Educ. São Paulo, n.
3, jun. 1991.
NASCIMENTO, Paulo A. Meyer M. Recursos destinados à Educação e Desempenho
Escolar: uma revisão na literatura internacional. Estudos em Avaliação Educacional.
V. 18, n. 36, jan./abr. 2007.
NUHS, Aline Cristiane; TOMIO, Daniela. A prova escrita como instrumento de
avaliação da aprendizagem do aluno de Ciências. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 22,
n. 49, p. 259-284, maio/ago. 2011.
PIÉRON, Henri. A docimologia nos Exames e Concursos. R. bras. Est. pedag., Rio de
Janeiro, v. XXVII, nº 66, p.44-52, abr./jun. 1957.
POLTRONIERI, Heloísa; CALDERÓN, Adolfo Ignacio. Avaliação na Educação Básica:
a Revista Estudos em Avaliação Educacional. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 23, n.
53, p. 82-103, set/dez. 2012.
RAPHAEL, Hélia Sonia. Avaliação: questão técnica ou política? Est. Aval. Educ. São
Paulo, n. 12, dez. 1995.
SILVA, Eleonora Maria Diniz da. A Virtude do Erro: uma visão construtiva da
avaliação. Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008.
SETÚBAL, Maria Alice. Equidade e desempenho escolar: é possível alcançar uma
educação de qualidade para todos? R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 91, n. 228, p.
345-366, maio/ago. 2010.
SOUSA, Sandra Zákia. 40 Anos de Contribuição à Avaliação Educacional. Estudos
em Avaliação Educacional, v. 16, n. 31, jan./jun. 2005.
______. Avaliação da aprendizagem na legislação nacional: dos anos 1930 aos dias
atuais. Est. Aval. Educ. v. 20, nº 44, São Paulo, set./dez., 2009.
______. Avaliação educacional: tratamento do tema na Rbep no período de 1998 a
2010. R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 93, n. 234, p. 372-388, maio/ago. 2012.
VIANNA, Heraldo Merlim. Avaliação: considerações teóricas e posicionamentos.
Estudos em Avaliação Educacional. jul./dez.1997 n.16. São Paulo. FCC. 1997.
445
INTRODUÇÃO
1Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP.
E-mail: carolinearruda2@gmail.com
2Professor Associado do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da Universidade
METODOLOGIA
ANÁLISE E DISCUSSÃO
Após a aplicação dos questionários iniciais (QI) e finais (QF) e também com os
diários de aula feitos, iniciei a leitura destes a fim de organizá-los em categorias de
análises, conforme indicado por Gomes (2004).
Nessa perspectiva organizamos duas categorias, a saber: “Concepções de
saúde” e “Conhecimento sobre diabetes e sua relação nas aulas de Educação Física”.
Porém, como afirma Lüdke e André (1986, p. 49) “A categorização, por si só,
não esgota a análise. É preciso que o pesquisador vá além, ultrapasse a mera
descrição, buscando realmente acrescentar algo à discussão já existente sobre o
assunto focalizado”. Desta forma, ao apresentar os dados da pesquisa procurei
dialogar com a literatura a fim de subsidiar a discussão.
Para identificar as respostas de cada aluno foram utilizados apelidos
escolhidos por eles próprios (CR7, Kor,...) e para indicar os diários de aula utilizarei
DA1, DA2...
Concepções de saúde
pode comer doce (QI Japinha)”, “Uma aluna disse que era o excesso de açúcar no
sangue e logo algumas meninas também concordaram com essa afirmação (DA 5)”.
Na pergunta fechada relativa sobre o que era diabetes, 18 afirmaram ser uma
doença causada pela falta ou mal funcionamento da insulina no organismo, 14
disseram ser uma doença causada somente pelo excesso de glicose no sangue e 2
colocaram ser uma doença causada somente pelo excesso de insulina no organismo.
Com esses dados percebemos uma confusão apresentada entre as respostas
às perguntas abertas e fechadas no que se refere ao conhecimento deles acerca da
diabetes, demonstrando o quão difícil é, para os alunos, conceituar diabetes, por mais
que já tenham ouvido falar sobre esta doença (33 alunos).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) conceitua a diabetes mellitus (DM)
como:
saúde (10), pela simples prática de atividade física nas aulas (2), por ser um assunto
interessante (4), para ficarem informados e desta forma ajudar na prevenção (12), pela
frequência que a doença está atingindo crianças e adolescentes (5) e um aluno fez
referência a ter aula teórica e não apenas prática.
Algumas respostas dos QI representam as justificativas acima: “Sim, pois eu
sei muito pouco deste assunto e acho que seria superinteressante saber mais e
também acho que hoje em dia muitas crianças têm, então seria muito interessante me
informar mais sobre o assunto (QI Bruninha)”, “Sim, para podermos ter consciência do
que é, os riscos que essa doença tem e como prevenir (QI Mah)”, “Sim, pois a
diabetes está se agravando cada vez mais em adolescentes e criança e acho que com
a orientação de algumas pessoas os riscos são um pouco menores (QI Stefani
Beatriz)”.
Notamos que os alunos utilizaram de diversas justificativas para defenderem o
conteúdo diabetes nas aulas de Educação Física (EF). Nesse sentido, com a atual
LDB, de 1996, a EF passou a ser considerada como um componente curricular da
educação básica (DIANA, RAMOS, 2000) e, com isso, traz consigo algumas
responsabilidades sociais perante o seu objeto de estudo: a cultural corporal de
movimento. Portanto, considerar uma EF responsável por inserir os alunos nessa nova
dimensão, não se restringe somente à aptidão física ou até mesmo ao esporte, como
se achava adequado até então. Logo, há a necessidade de implantação de novos
conteúdos no currículo da EF na escola, para propiciar as mais variadas vivências e
conhecimentos da cultura corporal de movimento aos alunos.
Podemos notar em um trecho retirado dos DA essa relação da doença com os
adolescentes e o professor: “A aluna ‘Bela Adormecida’ veio até mim falar que ela foi à
médica e descobriu que tinha resistência a insulina, e me perguntou o que era... Esta
aluna sempre se demonstrou muito interessada nas aulas e talvez seja também pelo
motivo dela apresentar já um quadro da doença, que vim a saber apenas hoje (DC 6).
Sabe-se hoje que uma educação voltada à saúde não deve ter o foco em uma
doença específica, pois há uma redução aos aspectos biológicos, entre o agente
causal e o doente, tornando uma tarefa difícil ao aluno de aplicar as informações às
suas situações concretas de sua vida cotidiana (BRASIL, 1998).
Ciente desse fato e mesmo enfatizando uma doença, a diabetes, procurei
primeiramente desvincular a ideia reducionista de saúde, cujo individuo é responsável
pela aquisição ou não da doença, desconsiderando todas as relações existentes para
tal. E ao tratar da diabetes, remetia ao que havíamos estudado anteriormente sobre os
455
CONSIDERAÇÕES FINAIS
para toda a vida desses alunos. Entretanto, um trabalho realizado durante toda a vida
escolar baseada nessa visão mais ampla e trabalhada nas mais variadas disciplinas e
não somente na EF, os alunos poderiam sim desenvolver tais atitudes positivas em
relação a sua saúde.
REFERÊNCIAS
BETTI, Mauro. Educação física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
BRACHT, Valter. A educação física no ensino fundamental. In: I SEMINÁRIO NACIONAL,
2010, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Universidade Federal do Espírito Santo,
2010, 14 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Diabetes Mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 64 p. il. – (Cadernos de
Atenção Básica, n. 16) (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de políticas e Saúde. Plano de reorganização
da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: manual de hipertensão arterial
e diabetes mellitus. Brasília, 2002.
_______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental (Os Temas Transversais). Secretaria de
Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998.
CARVALHO, Yara M. Saúde, sociedade e vida: um olhar da educação física. Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 27, n. 3, p. 153-168, maio, 2006.
DIANA, Fernando; RAMOS, Glauco N. S. A perspectiva discente da educação física no
ensino médio. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO DESPORTO
DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 8.Anais...Lisboa: Universidade Técnica de
Lisboa, 2000.
FLEURY, Paulo. et al. Construção e validação de instrumento de avaliação de promoção
da saúde ao nível local.Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, n.3, p.44-99,
s/d.
GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Educação física progressista: a pedagogia crítico-social
dos conteúdos e a Educação Física. São Paulo: Loyola; 1992. 63p.
GONZÁLEZ, Fernando J.; FENSTERSEIFER, Paulo E. Entre o “não mais” e o “ ainda
não”: pensando saídas do não- lugar da EF escolar I. Cadernos de formação RBCE,
2009. P. 9-24.
HALLAL, Pedro C. et al. Prevalência de sedentarismo e fatores associados em
adolescentes de 10-12 anos de idade. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, junho,
2006
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
NEGRINI, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In:
MOLINA NETO, V.; TRIVIÑOS, A. A. N. S. (Org). A pesquisa qualitativa na educação
física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS/ Sulina, 1999,
p. 61 – 93.
PALMA, Alexandre. Educação física, corpo e saúde: uma reflexão sobre outros “modos de
olhar”. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.22, n.2, p. 23-39, janeiro,
2001.
457
Miriam Suleiman1
Maria Cristina de Senzi Zancul
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
para uma mudança de paradigma que favoreça uma alternativa para o uso infinito dos
recursos naturais na direção de um desenvolvimento que leve em conta a preservação
desses recursos e a sustentabilidade ambiental.
Segundo Guimarães (2004), um projeto de Educação Ambiental conservador,
voltado apenas para a educação comportamental do indivíduo, não é capaz de
produzir as transformações significantes na realidade socioambiental. Assim, uma
Educação Ambiental crítica aponta para a necessidade da construção de uma
cidadania ativa, para a percepção dos problemas ambientais e suas relações de causa
e efeito, bem com para a efetiva participação nos processos de transformação social e
constituição de novos paradigmas que consolidem a construção de uma sociedade
mais justa e ambientalmente saudável.
Loureiro (2002), afirma que as ações ambientais não devem ter como foco
apenas o indivíduo, com ênfase em aspectos comportamentais e morais, mas que a
estrutura social deve ser analisada. Essas ações precisam vir associadas a
“mudanças estruturais, assegurando uma sociedade sustentável nas múltiplas
dimensões que compõem a vida” (LOUREIRO, 2002, p. 21).
Carvalho (2008) explica que a prática educativa é um processo que visa à
formação de um sujeito enquanto ser social e historicamente situado. A educação não
se reduz a uma intervenção focalizada no indivíduo, mas deve ser pensada em
conexão com o mundo em que vivemos e pelo qual somos responsáveis. Nesse
sentido, a Educação Ambiental crítica deve “contribuir para uma mudança de valores e
atitudes, formando um sujeito ecológico capaz de identificar e problematizar as
questões socioambientais e agir sobre elas” (CARVALHO, 2008, p. 156/157).
Reigota (2004) afirma que a Educação Ambiental deve ser compreendida como
uma educação política, que prepare os sujeitos para “exigir justiça social, cidadania
nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza”
(REIGOTA, 2004, p. 10). Para o autor, a Educação Ambiental deve proporcionar ao
indivíduo o conhecimento e a consciência dos problemas globais e procurar incentivá-
lo a participar de forma ativa na solução destes problemas dentro de seus contextos e
de sua realidade.
De acordo com Tozoni-Reis (2006), para além de uma transmissão de
conteúdos, a Educação Ambiental crítica considera que os conhecimentos devem ser
“apropriados, construídos, de forma dinâmica, coletiva, cooperativa, contínua,
interdisciplinar, democrática e participativa” (TOZONI-REIS, 2006, p. 97), de forma a
463
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
0 1 2 3 4 5
Número de respostas
465
conscientização e preservação
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Número de respostas
individuais no dia a dia para que haja preservação dos recursos do planeta,
garantindo-os para as futuras gerações.
Sobre a visão dos professores a respeito da importância de se trabalhar as
questões ambientais na escola, grande parte dos docentes apontou a conscientização
dos alunos como essencial para a preservação do meio ambiente local (a casa, a rua,
a sala de aula, a escola), no sentido de desenvolver posturas individuais de
preservação da natureza (não desmatar, não jogar lixo na rua, etc). Percebemos uma
ênfase por parte de alguns educadores em formar cidadãos para o futuro, isto é,
pessoas que na vida adulta terão atitudes corretas em relação ao meio ambiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1Psicóloga. Doutora em Educação para a Ciência. Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru. Membro do
grupo de pesquisa em Ensino de Ciências e Epistemologia da Bilogia. Email:
carolinatalamoni@gmail.com
470
METODOLOGIA
O livro didático elencado para análise foi O corpo humano - Coleção Novo
Pensar, de Demétrio Gowdak, Editora FTD (GOWDAK, 2006) o que se deu em função
da indicação da coordenação de uma escola municipal de Bauru; esta escolha se deu
em função deste livro estar sendo utilizado pela população pesquisada no âmbito de
uma investigação maior de mestrado, destinado à investigação das concepções de
corpo junto a alunos e professores do ensino fundamental (TALAMONI, 2007).
Os conteúdos do livroforam tratados a partir das técnicas da análise de
conteúdo que, segundo Bardin (1977), envolvem “um conjunto de técnicas de análises
das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que
permitam a influência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
(variáveis inferidas) destas mensagens”.Para tanto, deverão ser construídas
categorias que, para o autor, representam “uma operação de classificação de
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por re-
agrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”
(BARDIN, 1997, p. 117).
471
Assim sendo, foi realizada uma breve leitura do livro, com o intuito de verificar
as abordagens metodológicas utilizadas bem como identificar as possíveis
representações de corpo, contidas nos conteúdos por ele veiculados.
Dentre os diversos motivos pelos quais se torna relevante considerar os
conteúdos veiculados pelo livro didático, é possível apontar o fato de que o livro
didático muitas vezes é uma “referencial essencial” na prática profissional do professor
de ciências, além de se constituir em uma fonte importante de informações que
contribui para a construção e/ou manutenção das representações de corpo. Além
disso, as representações implícitas e explícitas no livro, além da organização e
distribuição dos conteúdos, poderão favorecer, ou não, a representação de um corpo
integrado, que corresponda ao corpo do aluno (SHIMAMOTO, 2004), e que é um
desafio não só à prática docente, mas também aos próprios autores de livros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seu conteúdo está dividido em seis “grandes blocos” nos quais estão inseridos
treze capítulos. Observa-se que todos os capítulos possuem uma formatação
semelhante; primeiro, faz uma breve introdução sobre o assunto a ser estudado,
seguido pelo conteúdo de ciências propriamente dito. Ao final de cada capítulo ou
assunto específico, são apresentados dois “quadros” coloridos, cada um ocupando
aproximadamente uma página inteira, com os respectivos enunciados: “Fique mais
informado” e “Esclarecendo”. Nestes espaços, são abordados conteúdos científicos
mais atuais, a história da ciência, dados de pesquisa recentes, ou ainda, informações
que correlacionem o conteúdo estudado com aspectos sociais, culturais ou médicos,
numa tentativa de contextualizar o que foi aprendido com a vida dos alunos, porém a
título de “curiosidade”.
Logo após estes quadros, há uma outra seção, denominada “Agora é sua vez”
caracterizada por um conjunto de atividades, mais especificamente de perguntas,
acerca do assunto abordado, seguido de um “Desafio”, que consiste em atividades ou
problemas que partem de questões cotidianas, provavelmente com o intuito de impelir
o aluno a correlacionar os conteúdos estudados com sua aplicação prática na vida dos
indivíduos. Ao final do capítulo, há sempre a sugestão de sites e filmes.
O conteúdo a ser desenvolvido ao longo do ano está dividido, portanto, em seis
grandes blocos e treze capítulos, sendo que, pelo interesse de pesquisa que resultou
neste trabalho, as análises mais minuciosas ficaram foram dirigidas ao conteúdo do
bloco 3 -Reprodução, desenvolvimento e hereditariedade- que tratava do tema corpo
humano. No entanto, foi realizada uma breve descrição dos outros blocos com o intuito
de verificar como o corpo aparece subliminarmente nos outros blocos.
No Bloco 1: “Organização geral do ser humano”, está contida a introdução do
livro bem como uma breve introdução dos assuntos a serem estudados nos primeiros
dois capítulos: “Existe uma grande variação na aparência dos seres humanos, mas
todos têm um corpo com as mesmas estruturas básicas, com uma organização geral
semelhante, iniciando pelo nível molecular, passando pelos níveis celular e histológico
e chegando aos órgãos e sistemas” (GOWDAK, 2006, p. 7).
De acordo com esta introdução, fica claro logo de início que, ao longo do livro,
o corpo humano será concebido como algo “natural”, semelhante em todos os
indivíduos, o que fará pressupor que, também as percepções corporais são
semelhantes, como no caso, as vivências referentes à menarca e às transformações
corporais decorrentes da adolescência.
473
que até então, a ciência não encontrou nenhum fator genético que determine a opção
sexual.Logo após estas explanações, ainda no mesmo capítulo, são abordados os
“riscos associados à sexualidade”, reiterando a importância do acesso às informações
para que o jovem fique apto a “mudar seu comportamento”, sentindo-se seguro com
relação às atitudes que deve tomar. O primeiro risco associado à sexualidade é a
gravidez, que até então, não foi abordada pelo livro em nenhum de seus aspectos
(concepção, gestação, alterações fisiológicas, anatômicas, psicológicas, etc.). Logo
em seguida, são apresentados os principais métodos contraceptivos (alguns com
fotos) sequenciados pela questão do aborto e sua ilegalidade no Brasil. O problema
das doenças sexualmente transmissíveis é abordado através da apresentação de uma
tabela com as principais doenças, formas de contágio e prevenção, sendo que o texto
dá uma ênfase maior na Aids, por ser ela uma “doença letal”.
Ainda como um último subitem deste capítulo, encontra-se a reprodução
humana, quando são explicados os processos de fecundação, nidação, gestação e
nascimento, com algumas ilustrações: “representação do acesso dos espermatozoides
às tubas uterinas”, “diagrama da fecundação até a nidação”, “vista lateral colorida de
embrião de seis semanas” (foto), “representação de momentos do parto normal”, e
para finalizar o “processo” uma foto de uma criança, no momento de seu nascimento
(ainda com o cordão umbilical, porém já limpa).
O livro ainda é constituído por: Bloco 4: Evolução dos seres vivos (Os
evolucionistas e os mecanismos da evolução); Bloco 5: Biotecnologia (Saúde e
tecnologia; Ética e tecnologia); Bloco 6: Ecologia (O ambiente e o ser humano) cujos
conteúdos deverão ser analisados pela pesquisadora em trabalhos vindouros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros
curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. 2.ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
GOWDAK, D. Novo pensar: com atualizações. São Paulo: FTD, 2006 (Coleção Novo
Pensar), 4v. para alunos de 5ª a 8ª séries Conteúdo: 7ª ser. Corpo Humano.
MACEDO, E. Esse corpo das ciências é o meu? In: AMORIM, A. C.; et alEnsino de
Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff, 2005.p.131-140
ROSA, G. F. O corpo feito cenário. In: MEYER, D.; SOARES, R. F. R. (Orgs.) Corpo,
Gênero e Sexualidade. Porto Alegre: Mediação, 2004, p. 17-30.
SILVA, E. P. Q. Quando o corpo é uma (dês) construção cultural. In: AMORIM, A. C.;
et alEnsino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff, 2005, p.
141-150.
TALAMONI, A. C. B.Corpo, ciência e educação: representações do corpo junto a
jovens estudantes e seus professores. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação
para a Ciência)- Faculdade de Ciências. UNESP, Bauru, 2007.
TRIVELATO, S. L. F. Que corpo/ ser humano habita nossas escolas? In: AMORIM, A.
C.; et alEnsino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff,
2005, p.121-130.
479
INTRODUÇÃO
1 Mestranda do Programa Educação para a Ciência. Pedagoga. Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” Faculdade de Ciências/ Bauru. E-mail: anapaulafmoliveira@gmail.com – PIBIC /CNPQ.
2 Psicóloga. Doutora em Educação. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade
METODOLOGIA
Vale ressaltar que segundo Piaget as crianças da faixa etária entre 6 e 9 anos
encontram-se entre o período pré-operacional e o período das operações concretas,
podendo ser observado um
[...] um marcante declínio do egocentrismo intelectual e um crescente
incremento do pensamento lógico. Isto é, em função da capacidade,
agora adquirida, de formação de esquemas conceituais, de
esquemas mentais verdadeiros, a realidade passará a ser estruturada
pela razão e não mais pela assimilação egocêntrica, como ocorria na
fase anterior. A criança terá um conhecimento real, correto e
adequado de objetos e situações da realidade externa (esquemas
conceituais), e poderá trabalhar com eles de modo lógico. [...] A
criança não irá mais tolerar contradições no seu pensamento, ou
entre o pensamento e a ação como antes, mas sim, irá sentir
482
DISCUSSÃO
apto para aprender e ensinar, um sujeito pleno e ativo, que apresenta suas
especificidades em cada etapa de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo.
Conforme descrevem Bazílio e Kramer
Diante das respostas encontradas tanto nas historietas como das questões
abertas verificamos a necessidade de ações concretas para melhor compreensão das
crianças nessa faixa etária (entre 6 e 9 anos), e quando estas remetem à questões de
direitos e igualdade, em sua maioria apoiam-se em diferenças observáveis, porém
esses fatos não são determinantes e nem limitantes para a construção de noções
sobre os Direitos Humanos, pelo contrário nos apresenta a certeza da possibilidade e
da necessidade de uma educação em e para os Direitos Humanos, que podem e
devem ser ensinadas juntamente com o processo de desenvolvimento da noção de
justiça, pois conforme afirma Piaget
o pleno desenvolvimento da personalidade, sob seus aspectos mais
intelectuais, é inseparável do conjunto de relacionamentos afetivos,
sociais e morais que constituem a vida da escola [...] Não se pode
formar personalidades autônomas no domínio moral se por outro lado
o indivíduo é submetido a um constrangimento intelectual de tal
ordem que tenha de se limitar a aprender por imposição sem
descobrir por si mesmo a verdade: se é passivo intelectualmente, não
conseguiria ser livre moralmente. (PIAGET, 2002, p.61).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
desses alunos. Além disso, o artigo se propõe a analisar a estrutura do jogo, suas
regras, como são inseridas na escola, a aceitação dos alunos, suas dificuldades e
habilidades para desenvolvê-lo e o porquêde propor o jogo Perfil para os alunos.
A pesquisa teve como objetivo compreender as necessidades da modificação
dos espaços e possibilidades de ofertar jogos e brincadeiras para os alunos do ensino
fundamental respeitando a cultura da infância e refletir sobre as contribuições do
trabalho com o jogo perfil para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais
assim como refletir sobre as dificuldades de aprendizagem e as correlações com as
dificuldades do brincar com o jogo perfil.
METODOLOGIA
a) Sujeitos e local: A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal da
cidade de Lins-SP, com turmas do ensino fundamental I, a escola atende 63
alunos no período da manhã e 57 no período da tarde totalizando 120 alunos.
b) Material utilizado: Jogo perfil e folha de observação
c) Procedimentos da coleta: Os jogos foram propostos e desenvolvidos nos
momentos de recreio (pátio externo) e oficinas (sala de aula própria) durante
dois meses, por quatro dias na semana, sendo mediados pelos estagiários do
projeto: Contribuições dos jogos e brincadeiras para a aprendizagem escolar
no ensino fundamental do alunos 2º ao 5º ano com dificuldades de
aprendizagem, feito em parceria da CAPES/PIBID e a Licenciatura de
Pedagogia do Centro Universitário UNISALESIANO. Os jogos foram
disponibilizados aos alunos com agrupamentos menores (quatro) e em
alguns momentos números maiores participaram de um mesmo jogo. Levou-
se em consideração e respeitou-se a vontade dos alunos em participarem,
uma vez que os jogos devem ser prazerosos para as crianças.
Partindo de observações dos acadêmicos estagiários do projeto aos alunos
participantes, foi feita a análise qualitativa das possibilidades e dificuldades
encontradas pelos alunos na participação dos jogos de perfil.
Para auxiliar na observação utilizou-se de pautas com as descrições: memoriza
as dicas dadas; tem concentração na sua jogada e na do parceiro; persiste na
continuidade da jogada; Ouve a categoria pedida e pensa para tomada de decisão na
jogada, analisando as possibilidades, calcula mentalmente as casas a andar fazendo a
subtração, sabe ler, ouve melhoria da leitura, sente-se bom jogador.
491
DISCUSSÃO
Cada vez mais, os jogos e brincadeiras vêm sendo utilizados como objeto de
estudo e pesquisa para o trabalho em sala de aula, apesar disso, a prática de jogos e
brincadeiras no ensino fundamental necessita ser ampliada, pois é algo pouco
valorizada no ensino fundamental principalmente.
Para Macedo (2005) a escola fundamental obrigatória não é lúdica, e apresenta
ao universo infantil uma proposta de benefícios futuros, incompatíveis ao pensamento
infantil de viver o aqui e o agora.
É de suma importância que a escola utilize jogos e brincadeiras com função
educativa, mas sobretudo, não deixar de lado o prazer funcional. É através do lúdico
que se desenvolvem diversos conhecimentos e habilidades que auxiliam os alunos a
conhecerem e reafirmarem aspectos cognitivos e sociais que serão utilizados na
sociedade ao qual estão inseridos.
De uma maneira geral o ato de jogar requer planejar as ações
antecipadamente, fazer inúmeras relações, prestar atenção e concentrar-se, respeitar
as regras, descentrar- se. Essas atitudes podem mobilizar recursos internos que não
servirão apenas para o momento do jogo, mas para outras situações vividas na escola
e no meio social (MACEDO, 2005).
Neste sentido, é preciso ter clareza que os jogos e brincadeiras no contexto
escolar atingem objetivos diferentes para quem ensina e para quem aprende:
Na perspectiva das crianças, não se joga ou brinca para ficar mais
inteligente, para ser bem sucedida quando adulto ou para aprender uma
matéria escolar. Joga-se e brinca-se porque isso é divertido, desafiador,
promove disputas com os colegas, possibilita estar juntos em um contexto
que faz sentido, mesmo que às vezes frustrante e sofrido, por exemplo,
quando se perde uma partida ou não se consegue uma certa realização. Em
jogos e brincadeiras, as crianças são sérias, concentradas e atentas. Elas
não se perdem em conversas paralelas permanecendo interessadas e
envolvidas nas atividades.(MACEDO, 2005, p17)
O jogo é composto por 1 tabuleiro, 216 cartas com dicas, 6 peões, 20 fichas
vermelhas e 5 fichas azuis e tem como objetivo ganhar quem levar o peão até a
chegada primeiro. As cartas são de conhecimentos gerais, existem categorias de
pessoas/personagens, lugares, anos, coisa e animais. Cada carta possui 20 dicas e
cada jogador pode escolher a sua, estas dicas ajudam a chegarem nas respectivas
respostas.
O jogo perfil Junior através de suas cartas e dicas reveladas uma a uma leva o
participante a se esforçar a raciocinar em reconhecer ou descobrir pessoas/
personagens, lugares, datas (ano) coisas e animais. Dando assim mais animação e
entusiasmos no jogo.
As cartas do jogo podem ser descritas da seguinte forma:
Pessoa/Personagem: esta carta pode ser de qualquer ser humano vivo,
morto, fictício (Lobisomem, mágico) ou animais com personagens (Nemo);
Lugar: esta pode ser qualquer criação da natureza (Mar, Rios, Planetas) ou
qualquer local ou ambiente que se pode ir;
Coisa: são objetos inanimados e itens não encontrados nas outras categorias
(óculos, livro) conceitos intocáveis e abstratos (Páscoa, gripe);
Animais: trata de qualquer tipo de bicho (cavalo, borboleta);
Ano: trata de datas de acontecimentos históricos. (Apenas no perfil 4).
A escolha do primeiro a jogar fica a critério dos participantes, depois de
escolhido começa o jogo. O participante que está com a ficha na mão será o mediador
dessa rodada, assim que pegar a primeira carta do monte diz aos outros a que
categoria ela pertence. Em seguida cada jogador escolhe uma dica colocando a ficha
vermelha sobre o tabuleiro em cima do número escolhido o mediador revela a dica e o
jogador tem apenas uma chance de dizer o que é nesta rodada. Se acertar a resposta
o mediador ganha os pontos preenchidos com as fichas vermelhas, ou seja, dicas
reveladas. O jogador recebe os pontos das dicas não reveladas. Assim até algum dos
participantes acertarem a resposta correta. O registro dos pontos ocorre através dos
peões avançando as casas.
Em alguns momentos o número escolhido pode trazer uma instrução ao invés
de dica são elas: Perca sua vez: o participante fica sem opinar naquela rodada.
Avance (ou volte) espaços: o peão deve avançar ou recuar a quantidade de casas
mencionadas. Um palpite a qualquer hora: o jogador recebe uma ficha azul que lhe dá
o direito de palpitar imediatamente antes da jogada do outro e por fim escolha um
494
Fazer classificações
A operação de classificação está presente em todas as relações do
pensamento. Na classificação, ocorrem dois tipos de relação: a relação de pertinência
e a relação de inclusão (SANTOS, 1990). O jogo perfil solicita do sujeito que reflita o
tempo todo quanto a inclusão e pertinência.
São grandes categorias: pessoas/personagens, lugares, coisas, ano e animais.
Na operação de inclusão de classe estabelece-se a relação entre parte e todo.
Quando se fala a classe maior, por exemplo, animais, o participante foca em uma só
classe, mas ao mesmo tempo deve pensar um leque de possibilidades, as
subcategorias dessa grande classe. À medida que cada pista da carta é lida, também
representando a parte de um todo de 20 características/pistas do animal lido, o
jogador deve estabelecer relação parte e todo a cada pista lida.
Na operação de classificação por pertinência, a relação ocorre pela
semelhança que se estabelece a cada elemento a classe pertencente. A cada pista
lida, requer do sujeito que ele estabeleça a relação de algo em comum com a pista
anterior, não fugindo da classe pertencente que se tem em comum, como no caso do
exemplo animal girafa e suas pistas: a) tenho uma língua bem grande, b) chego até 5
metros; c) leões, leopardos e hienas são meus inimigos naturais. As
pistas/característica que são dadas fazem com que o sujeito brincante busque todas
estas características em um único animal, mas ao mesmo tempo pode pensar nas
semelhanças existentes entre os animais. Na pista a) poderia levantar a hipótese do
animal ser um tamanduá, na pista b) poderia levantar a hipótese de ser elefante, já
pista c) poderia levantar inúmeras hipóteses além dos animais citados, tendo em vista
que na cadeia alimentar os animais leões, leopardos e hienas estão no topo da escala
de predadores.
É essencial que o jogador ouça com atenção e analise as pistas antes de
responder, fazendo as relações mentais possíveis. Esta ação estimula a memória
495
estagiário do Projeto foi essencial, porque buscava fazer os questionamentos para que
os alunos chegassem a autorreflexão e repensasse a resposta dada.
Para fazer a classificação muito além da memorização e concentração é
preciso que o sujeito estabeleça relações, coordenando todas as informações.
Persistência para chegar até o final do jogo.
Nas primeiras vezes que o jogo foi proposto, era comum que os alunos
desistissem da brincadeira, porque não compreendiam as regras e não se sentiam
atraídos para continuar o percurso. À medida que foram se apropriando das regras,
passaram a concluir as partidas, até a chegada do vencedor. Conforme Macedo
(2005), persistência e investimento são atitudes que os alunos construirão ao longo de
sua vida escolar, necessários para a vida social de uma forma geral. Na experiência o
autor retrata com o jogo Pega-Varetas no Laboratório de Psicopedagogia do Instituto
de Psicologia da USP como um recurso interessante e que trabalha conceitos
abstratos - persistência, de forma significativa e atraente aos alunos.
Leitura das pistas:
Para os alunos com leitura sem fluência, que silabam ao ler, muitas vezes
comprometia o sentido da leitura, porém o estagiário do Projeto PIBID, como o papel
de educador incentivava a leitura e contribuía para que o sentido não fosse
prejudicado. O fato das fichas provocarem a leitura é um aspecto bastante favorável
no jogo, pois amplia o sentido da leitura para àqueles que estão em processo de
formação de sua trajetória como leitor. A leitura do texto instrucional do Jogo favorece
a leitura significativa ao aluno.
Operação de subtração da contagem das fichas para o caminhar no
tabuleiro
Foi observado que os alunos utilizavam os dedos para realizar a operação
matemática de subtração, quando tinham que caminhar sobre o tabuleiro, pois não
conseguiam fazer as operações mentalmente, necessitando de recursos concretos
para fazer a operação (dedos das mãos). Os estagiários incentivavam a contagem
mental solicitando que fizessem contagens mentalmente, fazendo as operações com
base dez (sistema decimal).
Autodisciplina
Para muitas crianças, a questão da disciplina na escola é algo desafiador.
Reconhecer o educador como autoridade significa reconhecer o adulto como alguém
que eu respeito e que me ajuda a construir limites. Em jogos de regra como o perfil,
aceitar as regras é reconhecer a autoridade das regras e comporta-se de forma
apropriada conforme o jogo nos diz. Percebeu-se no início do projeto uma grande
497
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
498
INTRODUÇÃO
1Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/Marília; Programa de Pós Graduação
em Educação, Marília – SP, e-mail: adilson.gsilva@bol.com.br.
500
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre os quatro acidentes que foram referidos com menor frequência, três
estão relacionados aos acidentes no trânsito, apesar de algumas pesquisas
relacionarem os acidentes de trânsito como os mais frequentes entre os jovens
(MARTINS; ANDRADE, 2005; MATOS; MARTINS, 2012; MALTA et al, 2012).
Observa-se que na população estudada, provavelmente em razão das características
próprias da amostra, os acidentes com bicicleta são os mais comuns e frequentes
entre aqueles ocorridos no trânsito.A prevalência dos principais acidentes investigados
no presente estudo corrobora com outros estudos dessa natureza envolvendo crianças
e adolescentes (CARVALHO; PUCCINI; SILVA, 2007; COCCO; LOPES, 2010;
HEDSTRÖM; BERGSTRÖM; MICHNO, 2011;DEL CIAMPO et al, 2012; BRASIL,
2013).
Foram selecionados os acidentes mais frequentes entre os escolares, tabela 3,
e apresentados, separadamente por escola, extraindo-se a percentagem de cada
acidente, em cada escola, em relação ao número máximo que poderia ser atingido em
cada acidente em cada escola, ou seja, quatro ocorrências para cada um dos
acidentes. A escola D teve resultados diferenciados em relação às outras escolas,
apresentando percentagens acima daquelas observadas nas demais escolas, em
relação a todos os acidentes. Nos resultados encontrados para a escola C também se
verificou comportamento diferenciado em relação às demais escolas, observando-se
as menores percentagens obtidas na análise, em todos os itens listados entre os seis
principais acidentes. Também se verificou o nível de significância, por meio de análise
estatística com o uso do programa estatístico SPSS (SPSS, 2003). Em análise de
variância (ANOVA), considerando-se os totais de cada acidente em relação às
escolas, verificou-se que as quedas, contato com material cortante, choque elétrico e
as queimaduras foram altamente significativos. Não foram observadas, durante a
realização das análises, diferenças significativas entre os resultados identificados nas
escolas estaduais em relação às escolas municipais. Também não foram encontrados
estudos comparativos relacionados aos acidentes ocorridos entre escolas
administradas pelo Estado ou pelos municípios.
Tabela 3 - Frequência e percentagem, por escola, dos seis acidentes mais referidos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
UNICEF. A league table of child deaths by injury inrich nations – Innocenti Report Card
Nº2. Florence:Unicef Innocenti ResearchCentre; 2001.
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
continua apresentando o “como”, mas agora possui uma perspectiva, surgindo então o
“por que”. Dessa forma, há possibilidade de nova organização do conhecimento
escolar.
Jonnaert (2010) fala sobre a especificidade que existe na estrutura do currículo,
dizendo que ele é característico, mas não rígido, assim o seu principal papel é a
possibilidade de adaptação que o sistema educativo pode efetuar diante dele. O
currículo é um material flexível, pois é necessário que existam as adaptações para que
se tenham respostas adequadas às questões atuais de cada sociedade. Um currículo
não pode ser fechado, pois dessa forma ele poderia causar inadequações na escola
com relação às questões da evolução da sociedade e não atenderia as necessidades
da comunidade escolar.
Silva (2005) afirma que existem três principais teorias que antecedem o
currículo, que são: Teorias Tradicionais, Teorias Críticas e Teorias Pós- críticas. As
teorias tradicionais nascem quando surgem os estudos sobre currículo. O autor
apresenta que os professores de alguma forma sempre estiveram envolvidos com
esse tema, mesmo antes de surgir o termo currículo, e diz que de certa forma todas as
teorias pedagógicas e educacionais acabam falando sobre o currículo.
Moreira (2003) afirma que a teoria curricular crítica no Brasil teve início no final
da década de 1970, na época estava ocorrendo à explosão de uma literatura
pedagógica mais progressista. O autor nos mostra também grande preocupação
educacional situada nas questões dos conteúdos curriculares nas escolas de primeiro
grau. Foi uma preocupação geral dos especialistas na época. Existia grande debate
entre ter conhecimento universal objetivo para todos, independe de sua colocação
social, ou propor uma escola alternativa que integrasse construção de conhecimento e
conscientização. Porém, a pedagogia dos conteúdos perde a força e o debate fica
estancado, sem apresentar uma solução.
Na década de 1990, ocorreu no Brasil uma demanda grande de publicações de
livros, artigos, na área do currículo, os quais receberam forte influência europeia.
Nessa década, também estudiosos debateram a respeito dos Parâmetros Curriculares
Nacionais.
Nessa década, foram intensos os estudos sobre currículo no Brasil, mas
independente disso, a teoria curricular crítica, assim como nos Estados Unidos,
continuava sendo vista como uma crise e não homogêneo.
Os principais estudiosos dessa área têm como foco a sala de aula, sempre
buscando responder algumas questões, como: a quem pertence o conhecimento?
511
METODOLOGIA E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Caracterização do estudo
O estudo caracteriza-se por ser do tipo descritivo observacional, com proposta
de delineamento do tipo quase-experimental. Para o seu desenvolvimento foram
realizadas revisão sistemática de literatura e pesquisa de campo (COZBY, 2003; GIL,
1999; LAKATOS; MARKONI, 1991).
Participantes
Participaram dessa amostra dois alunos que cursam 2° e o 3° ano do ensino
fundamental com queixas de dificuldades escolares (familiares e/ou professores) e
também os pais e/ou responsáveis pelos alunos e seus respectivos professores. Como
principais critérios de seleção dos participantes foi estabelecido: a participação
voluntária, após leitura, concordância e assinatura de um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), a presença de queixa em relação ao desempenho escolar
da criança e ausência de qualquer alteração orgânica que pudesse interferir no
desenvolvimento perceptual, sensorial ou cognitivo dessa criança.
Locais
O estudo foi realizado em uma escola da rede municipal de uma cidade de
pequeno porte do interior do Estado do Paraná. Algumas etapas da coleta ocorreram
522
Análise de dados
A análise de dados contemplou as medidas sugeridas em Oliveira e Braga
(2012). Essas medidas foram obtidas mediante instrumentos construídos para uso
exclusivo desse programa (OLIVEIRA, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
epaprado@icmc.usp.br
3De autoria de Marinéia dos Santos Silva e orientado por Esther Pacheco de Almeida Prado.
530
METODOLOGIA
E acrescentam que:
[...] a pesquisa bibliográfica tem a finalidade de levantar as
contribuições culturais e científicas já existentes sobre um
determinado tema. Deve também explorar áreas nas quais os
problemas foram estudados de forma insuficiente. (ANDRADE et al,
2009, p. 24).
DISCUSSÃO
532
E acrescentam que:
A partir das orientações dos PCN (BRASIL, 1998) e de Miguel e Miorim (2004)
podemos entender os motivos dos autores de Livros Didáticos que se mostram
preocupados em inserir a História da Matemática em seus livros.
Com a implantação de novas políticas educacionais na década de 1990, muitas
editoras e autores se preocupam com a produção de Livros Didáticos, pois os mesmos
auxiliam a promoção da aprendizagem dos alunos em sala de aula. Os professores
estão atentos e procuram trabalhar com livros que os auxiliem no processo de ensino
e aprendizagem. Os Livros Didáticos trazem conteúdos, exemplos e exercícios que
estão mais próximos ao cotidiano dos alunos, favorecendo assim uma melhor
assimilação pelos alunos.
Muitos termos são usados para estabelecer as denominações dos livros
utilizados no contexto escolar. Segundo Ossenbach e Somoza (2001) os livros podem
receber diversos nomes, entre eles: livros escolares, manuais, Livros Didáticos, textos
didáticos, livros de textos, textos escolares entre outros. No Brasil, geralmente,
usamos o termo Livro Didático para o contexto escolar até o Ensino Médio.
Acredito que a utilização de conceitos claros e objetivos é fundamental nos
Livros Didáticos, pois segundo Choppin (2000):
O Programa Nacional do Livro Didático – PNLD foi criado por uma iniciativa do
MEC por meio do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação – FNDE. O PNLD
foi instituído em 1985 e é o responsável pela distribuição dos Livros Didáticos para
todos os estudantes matriculados nas escolas públicas de Ensino Fundamental e
Médio nacionais.
Foi crescente o emprego de erros nas definições, exemplos e exercícios nos
Livros Didáticos. Com base nisso a Secretaria do Ensino Fundamental – SEF – criou
uma avaliação do PNLD, visando a melhoria dos Livros Didáticos. Um dos itens
avaliado é a inserção da História da Matemática. A primeira dessas avaliações foi em
1997 para o primeiro e segundo ciclos e em 1999 para os terceiro e quarto ciclos.
O PNLD tem como objetivo contribuir para a socialização e universalização do
ensino, bem como para a melhoria de sua qualidade por meio de seleção, aquisição e
distribuição de Livros Didáticos, além disso, possibilitar a participação ativa e
534
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL, CONGRESSO NACIONAL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional: LDB 9394/96. Brasília: Congresso Nacional, 1996.
_______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Introdução. Brasília: MEC / SEF, 1998.
CHOPPIN, A. Passado y presente de los manuales escolares. In: La cultura escolar
de Europa: Tendências históricas emergentes. Madrid: Biblioteca Nueva, 2000.
D’AMBROSIO, U. Palavras do Presidente da SBHMat na sessão de abertura do IV
SNHM. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA, 4, 2001, Natal.
Anais... Rio Claro: Editor da SBHMat, 2001.
D’AMBRÓSIO, U. A História da Matemática: questões historiográficas e políticas e
reflexos da Educação Matemática. In: BICUDO, Maria Aparecida V. (Org). Pesquisa
em Educação Matemática: Concepções& perspectivas. Rio Claro: UNESP, 1999.
D'AMBROSIO, U. EtnoMatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. 5. ed. São
Paulo: Ática, 1998.
538
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
frases, textos), nesses os alunos tinham que aprender sozinhos pela memorização e
combinação das letras, sendo privilegiada a relação de transformação da fala em
sinais gráficos. Em oposição a esses, surgiram os métodos globais ou analíticos que
partiam do todo para as partes, focalizando primeiro o sentido para depois analisar
sílabas e fonemas privilegiando a organização mental das crianças, porém muitas
vezes não garantiam a leitura autônoma pelo aprendiz.
Após esta querela entre os métodos surgem os estudos da psicogênese,
apoiado na teoria construtivista, e assim se instala uma nova discussão, modificando a
questão “qual o melhor método?” para “é necessário um método?”. Isto porque se
instaurou um novo paradigma que considera o aluno um sujeito ativo capaz de
construir seu conhecimento. Paradigma que muito contribui para compreensão de
como o aluno aprende, porém esses estudos não didatizaram o processo, ou seja, não
se explicou como fazer para o aluno avançar em seu nível de escrita, nem tão pouco
sistematizou estratégias para que o professor mediasse este conhecimento.
Apesar da Psicogênese da língua escrita, por Ferreiro e Teberosky (1999)
trazer uma valiosa contribuição à compreensão de como as crianças aprendem no
processo de alfabetização, Morais (2010, p. 5) comenta que estes estudos trouxeram
à tona o seguinte dilema para os professores: “sei que vários de meus alunos estão
silábicos ou pré-silábicos e que não compreendem, ainda, como as letras representam
os sons. O que faço?”, sendo esse dilema fruto de uma formação voltada apenas à
descrição do percurso evolutivo vivido pelo aprendiz e não para discussão sobre
intervenções necessárias para didatizar aquela informação.
Uma das respostas para estarmos questionando sobre a busca de um método
é a teleologia que a escola impõe, tendo a função de levar as novas gerações à
apropriação da cultura, sendo um dos componentes primeiros desta, a escrita. A
escola para dar conta de sua função tem que selecionar conteúdos, aplicar avaliações,
distribuir este conhecimento com marcação de tempo em séries, anos, semestres,
bimestres fazendo com que a prática pedagógica exija uma sistematização. Portanto,
precisamos sim de método na alfabetização, claro que não os tradicionais, mecânicos,
mas os capazes de conciliar nossa nova compreensão do processo pelo qual a
criança aprende ler e escrever com a função da escola e suas condições objetivas,
trata-se de direcionarmos, sistematizarmos o conteúdo para garantir aprendizagem e
para não tornarmos o ensino espontaneísta levando nossos alunos ao fracasso
escolar. (SOARES, 2010)
Discorrido a possibilidade de trabalhar com método, recapitulamos a pergunta
545
este trabalho não é suficiente, junto a ele deve ser desenvolvido um trabalho com
atividades de leitura diversificada de textos naturais.
Segundo Bozza (2008. p.17) “para compreender o valor da escrita e apropriar-
se, de fato, dela não há outro caminho a não ser aquele que perpassa pelo uso social
que a humanidade faz da mesma”. A autora defende práticas de alfabetização que
contribuem para a sistematização dos conteúdos de Língua Portuguesa de forma
reflexiva, lúdica e a partir do conhecimento prévio das crianças. Em seu livro Ensinar
a ler e escrever: uma possibilidade de inclusão social, apresenta atividades para o
processo de alfabetização que trabalha com textos de diferentes topologias e função
social enfatizando as duas instâncias inseparáveis da linguagem: o código e o
significado, que se trabalhados com práticas de leitura e produção podem acelerar
este processo. Trata-se de pensar sobre a escrita, sobre o que ela representa e sobre
como ela representa, em que o professor neste processo é o principal mediador,
possibilitando aos alunos lerem e escreverem mesmo antes de saberem estes
processos.
No trabalho supracitado temos exemplo de uma aprendizagem sistemática com
metodologias variadas como explicita Soares (2004, p. 16) ao propor o
reconhecimento das diferentes dimensões ou facetas da alfabetização e afirmar que
“[...] a natureza de cada uma delas demanda uma metodologia diferente, de modo que
a aprendizagem inicial da língua escrita exige múltiplas metodologias, algumas
caracterizadas por ensino direto, explícito e sistemático [...]”. Outra razão para
utilização do termo metodologias é o fato de não existir uma metodologia capaz de
ensinar a todos ao mesmo tempo, por não serem receitas prontas, ao contrário,
necessitam ser estudadas e refletidas continuadamente, caso se verifique, no
processo de avaliação, que os alunos não estão aprendendo.
Portanto aliada ao processo de ensino da alfabetização está a avaliação da
aprendizagem, uma vez que quando falamos em metodologias, não nos referimos as
quaisquer metodologias nem tampouco a receitas prontas, mas sim um trabalho
sistematizado que parta de uma avaliação inicial para conhecimento das dificuldades
dos alunos e a partir desta elabore um plano com metodologias diversificadas que
atendam as especificidades da alfabetização, aliadas a realidade da sala de aula.
Consideramos fundamental realizar no início do ano uma avaliação diagnóstica
para o professor conhecer o perfil de sua sala, os conhecimentos prévios de seus
alunos podendo comparar o saber do aluno com o saber pretendido, enxergando a
contradição que existe em ambos e assim planejar suas atividades. Após esta etapa
547
fica mais fácil para o professor elaborar sua intervenção para que o aluno supere seu
conhecimento inicial e aprenda o saber pretendido pelo professor, ou seja, pelas
intervenções realizadas por meio de questionamentos do professor acontece a
superação dos conhecimentos prévios pelos alunos (ARNONI, 2007).
Concordamos com Hoffmann (2010, p.59) que atribui ao significado de
avaliação em educação o acompanhamento dos alunos, em suas especificidades, em
seus jeitos de viver, de aprender a ler e a escrever, ajudando-os a superar os
obstáculos naturais do desenvolvimento. Segundo a autora “Ninguém aprende
sozinho. E os alunos não aprendem sem bons professores. Para favorecer, de fato, o
melhor desenvolvimento possível, é necessário conhecê-los muito bem, conversar
com eles, estar junto deles”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve como objeto, estudar a linguagem artística infantil, mais
precisamente o desenho da criança nos anos iniciais do ensino Fundamental, com
enfoque na sensibilização e expressão da criança. Buscou-se conhecer as
concepções e as linhas teóricas que concebem a relação entre a criança e o desenho,
como as teorias da educação e da arte apontam o desenvolvimento histórico da arte
educação no Brasil e na observação do aluno em vários anos.
De acordo com Iavelberg (2003), atualmente, várias tendências pedagógicas
estão presentes em distintos contextos educativos. Há duas correntes existentes na
educação escolar: a idealista liberal, que tem como teoria que a educação sozinha
pode garantir uma sociedade democrática e igualitária. Participam dessa concepção a
Escola Tradicional, Escola Renovada Progressista, Escola Renovada não diretiva e a
Escola Tecnicista. A outra corrente é a Realista Progressista que discute as
contribuições da escola (com enfoque especial para a escola pública) para a
conscientização do povo. São dessa concepção: Escola Libertadora, Escola Libertária
e Crítico Social dos conteúdos.
Os teóricos que merecem destaque nas tendências educacionais foram:
Lowenfeld (1970) que influenciou os arte-educadores brasileiros. Ele identificou oito
critérios para dimensionar a criatividade: sensibilidade a problemas, fluência,
flexibilidade, originalidade, habilidade para refletir e para rearranjar, análise, síntese e
coerência na organização. Herbert Read (2001) rompeu com o conceito “a criança
desenha o que vê e não o que imagina”, afirmando que as ideias são pensadas e
experimentadas, e Vygotsky, que analisa as etapas infantis, assim como a relevância
dos seus experimentos que visavam à expressão e a resolução de problemas pelas
crianças.
O objetivo para o ensino de artes durante o ensino fundamental, conforme os
documentos oficiais, é que os alunos sejam capazes de expressar suas ideias por
meio de várias linguagens. O desenvolvimento de uma vivência expressiva e artística
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
várias experiências de arte na escola (isso sem considerar a produção fora da escola).
Assim, como no primeiro ano, esta turma também não tinha uma professora específica
de arte. A terceira turma escolhida, para ser pesquisada, foi o oitavo ano. Tal escolha
deveu-se à proximidade com o final do ciclo e por força de lei e de currículo terem aula
de arte ministrada, por uma professora especialista nessa área de conhecimento.
Para a coleta de dados de campo, foram realizadas as seguintes ações: ao
chegar na sala de aula, foi entregue uma folha de formato A4, para os alunos. A
solicitação era para que desenhassem um lugar importante para eles e escrever no
verso do desenho, o porquê deste lugar ser importante. A explicação da proposta foi
feita sem nenhuma demonstração de exemplos de referência, e sem nenhuma
restrição quanto a se sentarem em duplas ou grupos para realização da atividade. O
objetivo era de que os alunos se sentissem a vontade para realizar a ação solicitada,
sem restrições quanto à técnica e que não fossem influenciados por exemplos
apresentados.
A pesquisa de campo foi analisada conforme as definições dos momentos
conceituais citadas por Iavelberg (2008).A coleta de dados foi realizada pela
pesquisadora, que é a professora especialista de artes dos alunos do oitavo ano,
portanto no primeiro e quinto ano foi necessária uma breve apresentação.
A aula foi iniciada com duração de cinquenta minutos (mesmo tempo nas
outras séries pesquisadas), com uma apresentação da pesquisadora. Para realização
da coleta de dados, foi pedido aos alunos que desenhassem um lugar “legal” para
eles.
No que se refere à disponibilidade frente à proposta solicitada, os alunos do
primeiro ano não expressaram descontentamento, iniciaram o desenho sem perguntar
como deveria ser feito. Alguns alunos, depois de terem realizado o seu desenho,
pediram uma folha para fazer outro desenho. Quanto ao grau de interação entre eles
durante a atividade, presenciamos a troca de materiais entre eles e conversas sobre
os lugares que eles gostaram de ter ido.
Quanto a expressar-se por meio do desenho, em geral, os alunos conseguiram
expressar o lugar que queriam. Exceto um desenho que tinha características da
garatuja, realizada de forma circular – fato interessante a ser observado, pois fugiu ao
padrão do grupo estudado.
Quanto à criatividade dos elementos representados (não com a intenção de
julgar o melhor trabalho, mas como os alunos variaram na escolha de elementos), os
alunos atenderam à proposta, e os lugares desenhados por eles foram variados.
555
Assim distribuídos: dois desenhos do circo, sendo que um deles é apresentado, (figura
1), um desenho de uma loja de brinquedos, um lugar secreto (provavelmente algum
parquinho que o aluno foi, que havia um labirinto), dois desenhos do parque da cidade
(onde há brinquedos e uma grande área de lazer), um desenho do zoológico de outra
cidade, o desenho do rancho da família, e dois desenhos de praia.
Figura 1 – Desenho do Circo, realizado por aluno do 1º ano(acervo da pesquisadora)
Quando o aluno foi questionado que lugar seria este, ele disse que era o circo,
quando “a cobra pulou sobre o arco de fogo”.
O desenho da figura 1 foi realizado por um aluno. A partir da explicação dada
pelo aluno, podemos verificar que as formas circulares em vermelho são o fogo e o
risco semicircular é a cobra. Outro elemento interessante é a maneira como ele
representa a figura humana – cabeças em formas circulares, o corpo retangular e as
pernas como dois riscos paralelos. Os braços foram retirados da figura. A expressão
do rosto das figuras sugere alegria que a cena representou para o menino. O espaço
da folha não foi usado completamente pelo autor, que desenhou apenas em uma
parte.
No desenho da figura 1, percebemos que o momento conceitual, conforme
Iavelberg (2008, p. 66), que a criança demonstrou, foi o início da imaginação II,
momento em que os desenhos são mais estruturados e relacionam os elementos
representados.
Os alunos do quinto ano demonstraram interesse pela proposta – não teve nenhum
aluno que não realizou o desenho. Comparando com o primeiro ano, os alunos
demoraram um tempo maior para realização do desenho e demoraram mais tempo
para pensar no lugar que iriam desenhar. Alguns alunos fizeram várias tentativas, até
conseguirem desenhar algo que lhes agradasse.
Alguns alunos emprestaram materiais, não porque não tinham, mas porque
queriam usar uma cor diferente. Logo depois da explicação do que seria feito, os
556
Os desenhos desta sala foram muito diferentes das outras salas. Devido à
idade dos alunos, de descobertas de si mesmo e das angústias e dúvidas dos alunos,
os desenhos foram muito intimistas, demonstrando muito deles no próprio trabalho. Os
desenhos foram: um desenho de praia, um desenho do computador, três desenhos de
uma cama, um desenho de um quarto de som, um desenho de uma sala de futebol, o
desenho de um cemitério (chamou muita atenção e a aluna explicou que eram os
túmulos de parentes que haviam falecido recentemente e a única forma de se
encontrar com eles, era visitando o cemitério), o desenho de um shopping, dois
desenhos da residência em que moram, um mapa do Japão (o aluno morou vários
anos lá), um desenho da sala de aula (o aluno explicou que fica muito tempo na sala,
por isso ela é o lugar mais importante para ele), o desenho da entrada de um
zoológico, o desenho de uma praça, o desenho de uma estrada, o desenho de um
clube e doze desenhos de quartos (um deles é a figura 3).
Figura 3 – Desenho do quarto
CONSIDERAÇÕES FINAIS
cemitério, como lugar mais importante para ela. Neste caso, a aluna refletiu e
expressou toda perda de entes queridos. Ou como no caso do aluno que desenhou a
casa em que mora, e escreveu no verso da folha que era a casa de sua avó, com a
qual ele morava desde seus nove anos, quando seus pais se separaram – para
realizar este desenho, o aluno repensou em sua própria história – neste momento não
havia diferença entre o artista e o aluno, que estava colocando em sua criação toda
sua sensibilidade e expressão.
A série que mais expressou suas intimidades por meio dos desenhos foi o
oitavo ano. Acreditamos que esta perda está mais no sistema de ensino e
metodologias usadas por alguns professores do que na criança/adolescente em si.
A imposição da sociedade em priorizar as disciplinas que prezam o
racionalismo e a importância para a vida prática com áreas do conhecimento que
priorizam os processos de leitura e da ciência e da tecnologia afastam os alunos da
arte (condicionam o pensamento geral), e indiretamente, reduzem a (inclusive do
aluno da falta de) importância da arte e, mesmo assim, os alunos tendem a considerar
a aula de arte como uma oportunidade de interagir com os colegas, de criar algo que
diga sobre eles.
Em todas as áreas do conhecimento (da educação), inclusive na arte-
educação, os professores que consideram que não precisam mais se questionar sobre
sua prática educativa, estão sujeitos ao fracasso em sua profissão. Para o professor,
no decorrer de sua vida, a pesquisa, os estudos e a tentativa de novas abordagens
que os aproxime dos alunos para tentar responder alguns de seus questionamentos e
enfrentar os desafios cotidianos irá gerar uma qualidade de seu trabalho.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. Arte educação no Brasil. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
BARBOSA, Ana Mae (Org.). Arte-educação. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
DEWEY, John. Vida e educação. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
FERRAZ, Maria Heloísa C. de Toledo; FUSARI, Maria F. de Rezende. Arte na
Educação Escolar. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1993.
______; ______. Metodologia do Ensino de Arte. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: UNESP, 2001.
HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual. Porto Alegre: Mediação,
2007.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte. Porto Alegre: Artmed, 2003.
561
INTRODUÇÃO
contato: cristinatassoni@gmail.com.
563
REGATTIERI, 2010)3. Salientam as autoras que tal compreensão não é suficiente para
uma transformação mais profunda da atual conversão das desigualdades sociais em
desigualdades escolares e por isso deve ser enfrentada em outros âmbitos.
3Material elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura
(UNESCO) em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Disponível em
http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001877/187729.pdf. Acesso em 20/02/2012.
564
Por isso é importante destacar que no contexto das últimas décadas do século
XX, algumas variáveis são importantes no âmbito do contexto educacional, como a
ênfase na produtividade e na avaliação do que se produz, na competitividade
econômica em nível internacional e na valorização do capital escolar (CARVALHO e
BURITY, 2006). Nesta realidade que as autoras enfatizam, a prescrição de tarefas
para casa tende a aumentar como importante fator de sucesso escolar. Porém, não se
leva em conta que pais e mães nos dias atuais compartilham funções tanto no que diz
respeito ao trabalho e sustento do lar como na educação que corresponde aos traços
culturais das famílias.
Em relação à quantidade de TC que vão sendo prescritas para os alunos,
algumas pesquisas refletem sobre o cuidado que os profissionais devem ter para não
prejudicar o aluno e sua dinâmica familiar, de modo a não desviar dos objetivos
fundamentais da tarefa, dentre eles: promover o desenvolvimento e aprendizagem
(REZENDE, 2007; CARVALHO e BURITY, 2006; CARAVALHO, 2006, 2004;
FERNANDEZ, 2006; NOGUEIRA, 2002; WIEZZEL, 2003).
Nogueira (2002) registrou que as TC têm ocupado boa parte do tempo
tomando o lugar das brincadeiras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento
psicológico, causando muitas vezes cansaço nas crianças. Registrou ainda que,
geralmente, há uma distinção entre TC e estudo não compreendendo que ambas as
atividades não são dicotômicas. Além disso, em várias situações as TC são utilizadas
como castigo. Deste modo, na perspectiva da autora, os alunos estão sendo induzidos
à realização das tarefas sem compreender os objetivos essenciais para o seu
desenvolvimento escolar e encarando-as como algo negativo e punitivo.
Na perspectiva de outros autores como os trabalhos de Carvalho e Burity
(2006), Moraes (2006), Tanno (2005), Wiezzel (2003), Hila (1999) e Almeida (1997) os
professores usam a tarefa como forma de controle do comportamento em sala de aula,
estabelecendo uma variação de quantidade da mesma em função de corresponderem
ao esperado pelo educador. No estudo de Paula (2000) consta que esta prática vem
ocorrendo e se cristalizando há mais de 400 anos.
Almeida (1997) registrou, em sua pesquisa, que as TCs podem ser significar
para os alunos experiências muito diferentes: desestimulantes, aborrecedoras, apenas
para ganhar nota, obrigatórias, descartáveis, punitivas, não-significantes,
enriquecedoras, prazerosas, interessantes, produtivas e conscientizadoras.
Nogueira (2002) ressalta que nas escolas que seguem uma tendência
fundamentada na pedagogia tradicional as tarefas propostas referem-se mais a
566
PROBLEMA DE PESQUISA
A partir das proposições feitas sobre o assunto em destaque que vem sendo
posto pelas pesquisas e que é motivo de polêmica, mas pouco discutido e
problematizado tanto na produção acadêmica como no interior dos estabelecimentos
de ensino, este trabalho pretende responder algumas perguntas sobre as pesquisas
que estudam a TC como vêm se desenvolvendo as dissertações e teses que se
propõem a investigar a TC? Quais são os enfoques privilegiados para tal discussão?
567
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
4Site de busca dos resumos das teses e dissertações da Capes. Disponível em:
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/. Acesso em 07/06/2012.
568
1987-
1995
Ano
1986
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Teses 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Dissertações 0 1 2 0 2 1 0 1 1 1 1 2 1 1 1 0 4
Pelos dados apresentados observamos que a produção é pequena e existe
pouca variação quantitativa em relação aos anos, com exceção de 2011 com quatro
estudos. Esta baixa incidência de estudos reforça o que as pesquisas descritas na
introdução relatam sobre a baixa produção no contexto brasileiro.
Dentre os 21 trabalhos, seis dissertações não puderam fazer parte das
análises, pois os textos completos não foram encontrados nas bases de busca
indicadas no método.
Deste modo cabe um questionamento diante das dificuldades encontradas: Se
as Teses e Dissertações são enviadas a Capes, quando defendidas, por que não
disponibilizar o acesso direto a elas por este banco de dados? O acesso direto pela
Capes dos trabalhos na íntegra, não apenas o resumo facilitaria muito a divulgação do
conhecimento e o tratamento dos mesmos nas pesquisas de revisão bibliográfica
como também o acesso àqueles que precisam das discussões acerca do tema nas
escolas. Duas dissertações que não puderam ser encontradas na íntegra, foram
localizadas em forma de artigos divulgando os resultados da pesquisa e uma tese
localizada em forma de artigo explorando o estudo realizado. Assim, foi possível
tabular e analisar os dados de 13 dissertações e duas teses.
Das 15 pesquisas encontradas, onze delas estão vinculadas à área da
Educação. Dentre as onze, duas pertencem à subárea Educação Especial.
Encontramos ainda três trabalhos nas áreas da Linguística Aplicada e um na área da
Psicologia.
Uma dissertação se referiu à pesquisa bibliográfica e as demais, embora nem
todas evidenciassem um levantamento bibliográfico sobre a temática, trabalharam com
dados empíricos. A partir da leitura das 14 pesquisas de campo, buscamos identificar
algumas informações que compõe a estrutura deste artigo.
Entre os níveis educacionais mais presentes, a maior parte ficou concentrada
no Ensino Fundamental com 12 trabalhos. No Ensino Médio e na Educação Infantil
encontramos um trabalho em cada um dos respectivos níveis. Também foi possível
observar que as pesquisas realizadas no Ensino Fundamental contemplaram todos os
anos deste nível de ensino, com especial destaque para o 5º ano com cinco estudos.
569
Das instituições pesquisadas, a escola pública foi a que mais se destacou entre
os pesquisadores, totalizando oito investigações. Duas pesquisas selecionadas foram
realizadas em escola privada e quatro realizaram investigações em ambas as redes
educacionais.
Reforçamos aqui um questionamento já realizado em outra pesquisa de revisão
bibliográfica sobre o tema das relações entre escola e família em um evento da
Educação (Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação – ANPEd) e da
Psicologia (Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional – CONPE).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. C. P. R.A lição de casa como extensão da sala de aula de língua
estrangeira (inglês) 1997. 223f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada)-
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A Reprodução: elementos para uma teoria do
sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1975.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 5.ed. Brasília: Edições
Câmara, 2010.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2008.
CARVALHO, M. E. P. O dever de casa como política educacional e objecto de
pesquisa. Revista Lusófona de Educação, n.8, p. 85-102, 2006.
______. Escola como extensão da família ou família como extensão da escola? O
dever de casa as relações família-escola. Revista Brasileira de Educação, n.25, p.
94-104, 2004.
CARVALHO, M. E. P.; NASCIMENTO, C. S.; PAIVA, C. M. O lugar do dever de casa na
sala de aula. Revista Olhar de Professor. Ponta Grossa, v. 9, n. 2, p. 341-357, out.
2006.
CARVALHO, M. E. P., BURITY, M. H. Dever de casa: visões de mães e professoras.
Revista Olhar de Professor. Ponta Grossa, v. 9, n. 1, abr. 2006.
CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. (Orgs.) Interação Escola – Família: subsídios para
práticas escolares. UNESCO; BRASIL, Ministério da Educação Brasília: 2010.
FERNANDEZ, A. P. O. Envolvimento parental na tarefa escolar: um estudo
realizado com adolescentes de classe média. 2006. 126 p. Dissertação (Mestrado em
Teoria e Pesquisa do Comportamento)- Universidade Federal do Pará, Belém, 2006.
HILA, C. V. D. Quem propõe as tarefas de casa? 1999. 150 p. Dissertação (Mestrado
em Linguística Aplicada), Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 1999.
MORAES, F. B. C. O Dever de Casa: uma análise das práticas educativas familiares.
2006. 144 p. Dissertação (Mestrado em Educação)- Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2006.
NOGUEIRA, M. G. Tarefa de casa: uma violência consentida? São Paulo: Loyola,
2002.
PATTO, M. H. S. Produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia.
3.ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
PAULA, F. A. Lições, deveres, tarefas, para casa: velhas e novas prescrições para
professoras. 2000. 250 p. Dissertação (Mestrado em Educação)- Universidade de
Campinas, Campinas, 2000.
REZENDE, T. F. Entre escolas e famílias: revelações dos deveres de casa. Revista
Paidéia, Ribeirão Preto, v. 18, n. 40, p. 385-392, 2008.
REZENDE, T. F. Dever de casa: questões em torno de um consenso. In: Reunião
Anual da Anped, 29, 2007, Caxambu. Anais ... Caxambu, 2007.
ROCHA. M. S. P. M. L.; SANTOS, T. C.; ALVES, L. G. Relações escola-família: estudo
bibliográfico na Anped e Conpe. Revista Educativa. Goiânia, v. 15, n. 1, 2012.
572
INTRODUÇÃO
1Disponívelem:
http://www.mp.pe.gov.br/uploads/opkahHvS70NjgBjvGg9exg/DCdack9qQHNCbfBTJGy6DQ/Capacitao_Al
ana.pdf. Acesso em: 03 out. 2012.
575
buscam envolvê-las e utilizam artifícios que as encantam. Ainda segundo Linn (2006)
o marketing voltado às crianças é direcionado de maneira precisa e lapidado por
psicólogos infantis, tornando-se mais penetrante e importuno do que nunca.
Atualmente, a criança possui seu lugar na economia, é um cliente que opina,
exige e consome, mostrando a todos ser um consumidor ativo (SOUZA; FORTALEZA;
MACIEL, 2009).
O Instituto Alana2 diante de diversos estudos aponta o consumismo como um
dos principais impactos negativos causados pelo alto investimento da publicidade na
mercantilização da infância. Para Lessa (2011, p. 22) “O consumismo decorre
justamente do objetivo apregoado pelo mercado: o consumo exacerbado”. Ainda
segundo a autora o estímulo ao consumo promovido pela publicidade às crianças se
encaixa justamente na fase de formação deste público, na qual os valores e princípios
sociais, éticos, morais e culturais estão se modificando.
Segundo Linn (2006, p. 21-22) “Cada aspecto de vida de uma criança – saúde
física e mental, educação, criatividade e valores – é afetado negativamente por seu
status involuntário como consumidor no mercado”.
Portanto, acreditamos ser necessário instruir nossas crianças em relação às
programações e mensagens acompanhadas por elas diariamente por meio da mídia
televisiva e demais mídias. Para que isso ocorra, além do papel dos pais neste
processo de conscientização, a escola e os docentes também podem colaborar.
A Rede Andi3 nos explica que “a educação para a mídia contempla ações de
cunho pedagógicos que fornecem ao indivíduo instrumentos voltados ao
fortalecimento da capacidade de avaliar criticamente os conteúdos midiáticos”. No
Brasil, estas ações são desenvolvidas por organizações não governamentais,
universidades, empresas jornalísticas e de comunicação e por diversos níveis de
governo. Contudo, para a difusão da educação para a mídia é preciso que seja
estabelecido uma política integrada nacionalmente e que esteja presente nos sistemas
da educação básica do país.
Os professores não precisam separar a cultura dos meios de comunicação da
cultura escolar, pelo contrário, a partir das informações adquiridas pelos alunos eles
podem iniciar uma rica discussão, relevando pontos, como a linguagem publicitária.
3Disponívelem: http://infanciaecomunicacao.redeandibrasil.org.br/10-pontos-fundamentais/educacao-
para-a-midia. Acesso em: 03 set. 2012.
578
METODOLOGIA
A pesquisa teve por objetivo verificar qual a relação que as crianças possuem
com a mídia televisiva e a influência deste meio de comunicação nos seus atos de
consumo. A pesquisa também visou por meio do docente identificar como as escolas
trabalham a mídia televisiva e o consumo com seus alunos.
Para entendermos melhor, Andrade (2010, p. 131) salienta que “a pesquisa de
campo utiliza técnicas específicas, que têm o objetivo de recolher e registrar, de
maneira ordenada, os dados sobre o assunto em estudo”.
Para tal, considerando o papel do docente diante desse meio de comunicação
e a busca pela formação crítica do alunado, nada mais viável do que a realização das
coletas de dados terem sido efetuadas no campo escolar.
A escola é tomada como mola propulsora desta pesquisa, já que tem presença
fundamental na vida das crianças colaborando na formação de valores. Além de ter
como dever educar seus alunos para além dos conteúdos específicos, englobando
também o contexto histórico e social em que os alunos estão situados.
Diante das escolhas e características da pesquisa, a recolha de dados foi
efetuada em duas escolas: pública e privada, que atendem ao ensino fundamental I.
Ambas localizadas na cidade de Jaú, interior do estado de São Paulo.
A realização da pesquisa nas escolas aconteceu devido à importância de se
analisar o envolvimento das crianças com a mídia televisiva em diferentes realidades
sociais, mas que ao mesmo tempo convivem em um mesmo mundo televisivo e
consumista. Também se tornou pertinente pesquisar como cada escola e como os
professores trabalham os meios de comunicação, focando a relação mídia e consumo.
Foi realizada uma pesquisa quantitativa e qualitativa. Para André (1995, p.24),
é possível fazer uma pesquisa tanto nos aspectos quantitativos, quanto nos aspectos
qualitativos, de forma conjunta.
Para o desenvolvimento da pesquisa, o instrumento utilizado para coleta de
dados foi o questionário (questões fechadas de múltipla escolha e questões abertas).
O modelo do questionário de questões fechadas utilizado foi baseado no questionário
já aplicado por Mosquette (2005) em sua pesquisa, porém entendemos que agora nos
encontramos em outra época e em outro contexto para a utilização do mesmo.
579
DISCUSSÃO
anúncios publicitários televisivos. Constatamos que por parte dos alunos da escola
pública, os pedidos aos pais sempre acontecem por 40% dos alunos e nunca
acontecem por também 40% dos alunos. Já 20% dos alunos alegaram que raramente
fazem esses pedidos. Na escola privada a maioria dos alunos (46,6%) costumam pedir
sempre os produtos anunciados na televisão para seus pais e 40% raramente, apenas
13,3% nunca pedem.
Os publicitários, de acordo com Linn (2006), buscam cultivar nas crianças,
desde bebês, a lealdade às marcas. As logomarcas das empresas, que
constantemente invadem a programação televisiva são facilmente reconhecidas pelo
público infantil. Apresentamos as crianças 08 logomarcas para que elas pudessem
identificar e com isso constatamos que grande parte das crianças das duas escolas
conseguiram identificar as logomarcas apresentadas, havendo poucos erros.
Questionamos os alunos também, para sabermos se eles acreditam que os
programas televisivos tiveram influência em seus comportamentos. Frente às
respostas, tanto da escola pública quanto da privada, a maioria acredita que os
programas televisivos influenciaram sim seus comportamentos, sendo que a
porcentagem de alunos de ambas a escolas se igualaram em aproximadamente
53,5%.
As professoras participantes também acreditam que a mídia televisiva
influencia o comportamento das crianças, segundo a professora da escola pública a
personalidade das crianças está sendo moldada por fatores destorcidos. Já a
profissional da escola privada acredita que a mídia televisiva influencia na moda,
vaidade, consumismo e comportamentos que não condizem com a idade da infância.
Podemos constatar estes pensamentos nas palavras de Tanaca (2006, p. 64-65):
“atenta à audiência infantil, a televisão veicula valores e aspectos do mundo adulto
como o consumo, sexualidade e outros diluídos em cenários coloridos, alegres,
enredos envolventes com linguagem cativante”.
Referente aos anúncios publicitários, as docentes acreditam que interferem no
consumo das crianças. A professora da escola privada acredita que os anúncios levam
as crianças a querer pelo “ter” e não pelo “preciso” e acredita que o papel do professor
é relevante neste processo de conscientizar as crianças. Já a professora da escola
pública acredita que a linguagem direta da publicidade tem tornado as crianças
sujeitos ativos das decisões de consumo e para ela o professor é um ator social e
pode desenvolver em sala de aula um trabalho para auxiliar as crianças de como agir.
581
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Caroline Raniro1
Flávia Roberta Velasco Campos2
Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo3
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
F2 – (...) Ela chora pra ir. Ela teve caxumba e queria ir pra escola (...)
não quer ficar em casa. (...) Ela chega contando tudo o que fez na
4Entende-se F, por membro da família. F1 corresponde à família1, F2, à família 2 e assim por diante.
587
escola, como que foi, sabe? Sempre ta querendo levar alguma coisa
pra mostrar pra professora, ou quer trazer as coisas pra mostrar pra
nós. (...)
nada que não gostem neste espaço e que, portanto, não gostariam que a escola
mudasse em nada.
Já uma das crianças revelou que o que a incomoda na escola é a quantidade
das tarefas – que ela julga ser em demasia. E alega que “dói a mão”, de tanto
escrever. Embora somente esta criança tenha revelado para pesquisadora o cansaço
devido à quantidade de tarefas de sala de aula, parece que uma das crianças já se
queixou em casa também segundo relato da sua família: “Ela ficou um pouquinho mais
cansada, é porque ela fala assim: mãe, agora a gente escreve muito. Ela fala isso.”,
relata F1.
As famílias se posicionaram a favor da antecipação do ingresso no Ensino
Fundamental. Uma delas chegou a dizer que o primeiro ano está sendo uma
experiência ótima e muitas outras relataram as vantagens que a mudança pôde
proporcionar para os filhos: a criança está “mais esperta”; “com a mente fresca para
aprender”; “as crianças hoje estão mais evoluídas”; “quando antes entrar pra escola,
menos eles se acomodam”; “a vontade de aprender aumentou”, “mostram vontade de
ler e escrever”; entre outras proposições.
Porém, os pais apresentaram pouca clareza do processo de inserção no
primeiro ano e do funcionamento desta nova proposta. Demonstraram incerteza no
entendimento do que é de fato esse primeiro ano e do que ele representa em termos
de escolaridade, e confundiram a nomenclatura “primeiro ano” com “primeira série”.
Em relação ao ingresso dos alunos na escola pesquisada, a prefeitura
municipal realizou um sorteio de vagas entre as famílias interessadas e todos os
entrevistados tinham esta escola como sua primeira opção para matrícula de seus
filhos – ficando então plenamente satisfeitos com o resultado do sorteio. Pelos
depoimentos dos familiares, foi possível apreender ainda que eles se preocuparam em
preparar os filhos para a transição de nível de ensino – provavelmente com o intuito de
orientá-los e, assim minimizar o impacto para possíveis mudanças.
A notícia da antecipação escolar chegou às famílias por meio das diretoras e
professoras das CEMEIs5. Algumas mães principalmente se “assustaram” inicialmente,
mas sendo esclarecidas pelas CEMEIs e vivenciando o momento junto com os filhos
puderam perceber que eles se adaptaram muito rapidamente, e foram se
tranqüilizando.
F14 – (...) quando foi no pré, que falo que ia vim com seis anos eu entrei em desespero. Falei:
“Meu Deus!” Mas nossa,... Ele ta pegando bem. (...)
P – Você concorda com essa mudança?
F14 – Ah, eu concordei sim. (...) se ele não conseguisse acompanhar talvez eu pensasse
diferente né? Não sei. Pra ele deu certo, foi bom. Acho que se ele ficasse mais um ano fazendo
o pré sem aprender ele ia enjoar. Que ele tem aquela coisa pra lê. Sempre quis lê.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABREU, M. Mudanças na educação – Nova lei altera o ingresso e a permanência no
Ensino Fundamental. Revista do professor, Porto Alegre, n.87, p.42-43, jul.set. 2006.
BATISTA, A. A. Ensino Fundamental de nove anos: um importante passo à frente.
Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/noticias_ler_coluna.php?txtId=208.
Acesso em: 25 dez.2008
592
BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30,
32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o
ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino
fundamental de nove anos: Orientações Gerais. Brasília/DF, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Ensino fundamental de nove anos: orientações
para a inclusão da criança de seis anos de idade (+ 1 ano é fundamental). Brasília:
FNDE, Estação Gráfica, 2006.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino
fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão da criança de seis anos de
idade (+ 1 ano é fundamental). 2ª edição. Brasília, 2007.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ampliação do
Ensino Fundamental para Nove Anos – 3º Relatório, 2006. Disponível em:
http//portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/relatório_internet.pdf. Acesso em 10 out.2008.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino
fundamental de nove anos: Passo a passo do processo de implantação. 2ª edição.
Brasília, 2009.
______. Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica.
BRONFENBRENNER, Urie. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos
naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
COLELLO, S.M.G. Educação e Intervenção Escolar. Revista Internacional
d’humanitats, Barcelona, v.4, p.47-56, 2003. Disponível
em:http://www.hottopos.com/rih4/silvia.htm. Acesso em: 23 jul. 2007.
FERNANDES, F.C. Política de Ampliação do Ensino Fundamental para Nove
Anos – Pela inclusão das crianças de seis anos de idade na educação
obrigatória.Disponível em:
www.portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/chagas_ensfundnovanos.pdf.Acesso
em: 25 dez.2008.
FERREIRA, M. C. T. As tarefas de desenvolvimento da meninice e a transição
para o ensino fundamental, 2005. Tese (Doutorado emCiências, Área: Psicologia) –
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de RibeirãoPreto da USP, Ribeirão Preto,
2005.
LOLLATO, Sarah O. Família e escola: vivências e concepções de pais, professores e
crianças de primeira série do ensino fundamental, 2000. 125f.Dissertação (Mestrado
em Educação Escolar) - Faculdade de Ciências e Letras daUniversidade Estadual
Paulista, Araraquara, 2000.
MARANGON, Cristiane. O direito de aprender. Revista Nova Escola. Ano XXII, nº
208, dez. 2007.
MARTINS, L. M.; ARCE, A. (Orgs.) A Educação Infantil e o Ensino Fundamental de
Nove Anos. In: MARTINS, L. M.; ARCE, A. Quem temmedo de ensinar na Educação
Infantil. Campinas: Editora Alínea, 2007. Capítulo 2, p.37-62.
RANIRO, Caroline. Um retrato do primeiro ano do ensino fundamental: o que
revelam crianças, pais e professoras, 2009. Dissertação (Mestrado em Educação
593
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
científico, não se pode pensar no ensino de seus conteúdos de forma neutra, sem que
se contextualize o seu caráter social, nem há como discutir a função social do
conhecimento científico sem uma compreensão do seu conteúdo (SANTOS, 2007, p.
478)”.
A literatura apresenta diversas conceituações para AC e LC, todavia, o foco do
presente trabalho não esteve voltado para a busca por uma denominação correta e
adequada para as referidas abordagens e sua aplicabilidade tanto no contexto escolar
como fora dele. Ressalta-se que o essencial é que se promova uma educação
científica que possa garantir tanto o domínio da linguagem científica como o seu uso
em práticas sociais e que tais propostas envolvem, de certa forma, conceitos
vinculados ao que se entende por AC e LC.
Assim como pôde ser visto, além da contribuição da educação formal no
âmbito da educação científica, estudos e pesquisas indicam novas abordagens para a
aprendizagem dos conceitos científicos que transcendem os muros da escola, ou seja,
espaços informais caracterizados por instituições ou iniciativas que podem atuar a
serviço educação científica do público, tais como centro de ciências, museus,
planetários, dentre outros ambientes e situações do dia-a-dia das pessoas.
Em artigo sobre os saberes da mediação humana em centros de ciências,
Ovigli e Freitas (2009) indicam que o papel educacional de museus e centros de
ciências tem sido ampliado nas últimas décadas, caracterizando as múltiplas formas
pelas quais estes espaços participam da educação científica das pessoas. Além disso,
salientam sobre o reconhecimento do potencial desses espaços em despertar o
interesse e a motivação para a aprendizagem de conceitos científicos, por meio das
diferentes formas de experimentá-los em um ambiente extra-escolar. Considerando o
fato de que a dimensão educativa das instituições voltadas ao ensino informal de
ciências tem sido expandida, preconiza-se a necessidade de uma fundamentação
pedagógica coerente com tal realidade, visando fazer com que a educação informal
seja viabilizada significativamente nestas instituições, podendo atuar positivamente na
educação científica dos indivíduos.
É preciso que sejam compreendidos pontos essenciais acerca do processo de
ensino e aprendizagem em ciências nestes ambientes, pois o mesmo precisa se
desenvolver sem a sistematização linear dos currículos, sem material instrucional
específico e sem avaliações formais ou burocráticas. Vale frisar também que é
imprescindível que exista uma preocupação com a garantia de que essa
aprendizagem informal em ciências não irá depreciar ou criar impedimentos a uma
597
futura aprendizagem formal, já que o objetivo principal é que tais momentos auxiliem
no processo de desenvolvimento dos conceitos científicos e seja frutífero
educacionalmente (GASPAR, 1992).
Em relação às visitas realizadas nesses espaços informais, Ovigli e Freitas
(2009) assinalam que a ação do sujeito é fundamental e pode favorecer as
possibilidades de sua interação com a exposição, todavia, a interatividade não ocorre
apenas na ação física do sujeito, mas também se relaciona ao cognitivo e afetivo,
inclusive pela interação com outras pessoas, podendo ser os acompanhantes do
visitante ou os profissionais da instituição. Fundamentados nessas considerações e
nos estudos de Queiroz e colaboradores (2002), os autores supracitados argumentam
que as atividades interativas presentes em museus e centros de ciências se dão de
forma mais rica e estimulante quando têm o suporte da mediação humana.
Corrobora-se com essas ideias, na medida em que tal abordagem favorece
uma aproximação com a dimensão educativa que precisa ser priorizada nestes
espaços, pois os profissionais destas instituições precisam ser bem preparados para
atuar e interagir, conforme indica Vigotski (2001), como “parceiros mais capazes” em
contextos de ensino informal de ciências.
A partir destas considerações, pode-se concluir que a educação científica não
apresenta limites espaciais, ou seja, não está definitivamente restrita à educação
escolar oferecida nas escolas, pois faz parte de uma rede de conexões que integra
diferentes ambientes e situações de aprendizagem da vida cotidiana das pessoas.
Uma educação científica de qualidade precisa ser iniciada desde a infância e se faz
por intermédio de ações contextualizadas e integradas nas esferas da educação
formal, não formal, informal.
Caracterizado pelos aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, tendo a
ciência como resultado da construção humana, o ensino de ciências pode contribuir
com a superação de visões distorcidas e empobrecidas acerca do conhecimento
científico que são disseminadas tanto no contexto escolar como fora dele a partir de
fontes diversas (livros didáticos, mídia, prática pedagógica, etc.). Os aspectos acima
elencados preconizam a construção de práticas educativas que superem o atual
modelo predominante tanto nas escolas como nos ambientes de educação informal e
não formal, tendo como foco a integração desses espaços educativos, pois
um povo culto não é aquele que passa apenas algumas horas diárias
numa sala de aula, via de regra despojada de qualquer outro
equipamento que não carteiras e quadro-negro. É necessário que ele
viva num ambiente permeado de estímulos culturais, que no pátio de
598
sua escola, nas ruas e praças de sua cidade ele se encontre com a
história e as conquistas de seus semelhantes e, nesse sentido, a
contribuição de instituições como os centros de ciências nos parece
indispensável (GASPAR, 1992, p. 162).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R. BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação. Uma introdução à
teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora,1994.
BRASIL, Secretaria de Educação Média e Tecnologia, Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. MEC/SEMTEC,
Brasília, 1999.
DUCATTI-SILVA, K.C. A formação no curso de Pedagogia para o ensino de
ciências nas séries iniciais. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de
Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília,
SP, 2005.
FUMAGALLI, L. O ensino de ciências naturais no nível fundamental de educação
formal: argumentos a seu favor.In: WEISSMANN, Hilda (Org.). Didática das
ciências naturais: contribuições e reflexões, Porto Alegre: ArtMed, 1998.
GASPAR, A. O ensino informal de ciências: de sua viabilidade e interação com o
ensino formal à concepção de um centro de ciências. Cad.Cat. Ens. Fis.,
Florianópolis, v.9,n.2: p.157-163, ago.1992.
KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciências. São Paulo em
Perspectiva, v. 14, n. 1, p. 85-93, 2000.
LANGHI, R. e NARDI, R. Ensino da astronomia no Brasil: educação formal, informal,
não formal e divulgação científica. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 4,
4402, 2009.
LORENZETTI, L. O ensino de ciências naturais nas séries iniciais, 2005.
Disponível em:
www.faculdadefortium.com.br/ana_karina/material/O%20Ensino%20De%20Ciencias%
20Naturais%20Nas%20Series%20Iniciais.doc.
LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries
iniciais ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências V. 3 / N. 1, 2001.
MARANDINO, R.V.M. et al., in: Atas do IV Encontro Nacional de Pesquisa em
Ensino de Ciências.ENPEC, Bauru, 2004.
OVIGLI, D. F. B., FREITAS, D. Mapeando os saberes da mediação humana em
centros de ciências: contribuições para a formação inicial de professores. Trabalho
apresentado no ENPEC/2009.
QUEIROZ, G. et al. Construindo saberes da mediação na educação em museus de
ciências: o caso dos mediadores do museu de astronomia e ciências afins/Brasil.
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 2, p. 77-88,
mai/ago, 2002.
SANTOS, W. V. B. Educação científica na perspectiva de letramento como prática
social: funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação. v. 12 n. 36
set./dez. 2007.
SILVA, A.F.A. Ensino e aprendizagem de Ciências nas séries iniciais: concepções
de um grupo de professoras em formação. Dissertação em Ensino de Ciências)-
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de
São Paulo, São Paulo, SP, 2006.
604
INTRODUÇÃO
Daolio (2006). Na aula da semana seguinte o tema abordado foi gênero e trabalho, e
para tal abordagem os alunos assistiram a edição de um documentário sobre o futebol
feminino, seguido de uma atividade em quadra chamada “futebol generificado”.
Autores como Darido e Souza Júnior (2011), Goellner (2005). Na última aula lecionada
o tema em questão foi o dom e o talento, que margeiam o mundo futebolístico e para
tanto se realizou um júri simulado acompanho de uma discussão sobre o tema que
teve como base Giglio et. al. (2008) e Damo (2007).
FUTEBOL E POLÍTICA
Ao pensar nas ligações possíveis entre futebol e política verifica-se que a
variedade de aspectos em comum entre ambos é grande e que esses aspectos são
possíveis de serem trabalhados no âmbito escolar.
O futebol, originado como esporte na Inglaterra e trazido ao Brasil pela elite,
era uma atividade praticada pela minoria que detinha o poder e foi introduzido às
fábricas e indústrias como mais uma forma de disciplinar os operários, de mantê-los
sob controle, mas sem que esses funcionários soubessem, pois o futebol, apesar de
ser usado como modo de favorecer a elite, era e ainda é prazeroso aos que o praticam
(DAMATTA, 2006).
Observando as variadas faces políticas que o futebol demonstra para com a
sociedade, escolhi dentre todas abordar o funcionamento dos clubes de futebol, para
aproximar o conteúdo à política para os alunos com o intuito de apresentar aos
mesmos um lado da política que representa a ideologia de classes dentro dos clubes
brasileiros de futebol.
Nas primeiras aulas (aulas duplas) em que houve contato direto com os alunos
foi aceita a sugestão da professora da turma para que os alunos pudessem se adaptar
com o fato de outra pessoa lecionar as aulas, sugestão essa que era contextualizar a
origem do futebol aos alunos e para isso foi realizada uma atividade na qual os alunos,
em duplas, teriam que redigir uma redação criativa que abordasse o surgimento do
futebol. Já na segunda aula, o tema foi a política. Para tanto, juntamente com a
professora, direcionamos os alunos para a quadra e lá propusemos aos alunos um
jogo denominado “jogo opressores e oprimidos”.
“A atividade era um jogo de futebol no qual um time seria composto pela maioria da
sala e o outro time por apenas 5 alunos. O time que era minoria tinha direito de
escolher as regras do jogo que eram inseridas pouco a pouco, a única regra proibida
foi o fato de jogarem com as mãos, fora esta, qualquer outra era possível e o maior
time tinha que jogar da maneira como lhes era imposto” (DIÁRIO DE AULA I e II).
Para explicar a atividade, me reuni com os alunos no centro da quadra e
explicitei as regras. Seriam formados dois times, um deles seria formado por apenas
608
cinco alunos (time A), como em uma partida de futsal3, já o outro time era composto
pelo restante de alunos da sala. O time A tinha o direito de ditar as regras, de modo
que o outro time teria que acatá-las para poder jogar. Pensando na didática do jogo, o
primeiro time de cinco jogadores teve seus integrantes escolhidos pela professora-
pesquisadora de modo que se formassem um grupo mais heterogêneo do que as
famosas “panelinhas” presentes no meio escolar. Este mesmo time era por vezes
alterado, com o objetivo de fazer com que outros alunos pudessem vivenciar “o fazer
as regras”, porém não poderiam excluir o que já estava vigente. Quando houve a
alteração do time A, os alunos que seriam os novos componentes foram escolhidos
pela professora da turma. O time A sugeriu regras como impedir que o outro time
jogasse com a perna dominante, a não existência de goleiro e também impediram que
os meninos do outro time pudessem correr, ou seja, os meninos poderiam se mover
apenas andando. Ao acatarem todas essas regras o time B começou a ser desfalcado
por alguns alunos que desistiram de participar da atividade, principalmente por
acharem que ela se tornou chata, como chegaram a dizer.
A atividade tinha como finalidade mostrar aos alunos que aceitar as imposições
de uma minoria detentora do poder pode ser uma tarefa desagradável, mas que por
ser a minoria quem detém o poder, esses podem ceder à maioria, e para que isso
ocorra é necessário que esta última se organize em um movimento de transformação.
O objetivo da atividade foi relacionado diretamente com o futebol e suas relações com
a política, usando como pano de fundo o time paulista Corinthians, que teve um
processo histórico denominado Democracia Corinthiana. A Democracia Corinthiana,
foi um movimento dos jogadores do time Corinthians, ocorrido na década de 1980, no
qual os jogadores não aceitavam a submissão aos dirigentes e diretores do clube e se
organizaram de forma a modificar a maneira de pensar de outros jogadores. Ao
encerrar a atividade do jogo “opressores e oprimidos”, professora-pesquisadora,
alunos e professora sentamos no centro da quadra para discutirmos alguns pontos da
atividade e também para poder relacionar a mesma com a política dos clubes de
futebol.
O diálogo promovido, a fim de obter um respaldo dos alunos quanto à
compreensão da atividade, teve como base algumas perguntas como: “É fácil ter que
aceitar as regras sem poder contestar? Qual é o sentimento de poder fazer as regras?
Para quem teve que obedecer, o que vocês poderiam ter feito?” (DIÁRIO DE AULA I e
3Cabe retomar neste momento que em toda pesquisa a prática do futsal na escola era abordada como
futebol.
609
II). Com essas perguntas os alunos deram suas opiniões pouco a pouco. Quando a
pergunta relacionada à possibilidade de acontecer hoje o que ocorreu no time do
Corinthians, os alunos se mostraram mais críticos: “ALUNA: ah, possível é, só que
eles querem só dinheiro, não tão nem ai para o que acontece, tudo é dinheiro hoje”
(DIÁRIO DE AULA I e II). Assim pode-se concluir que houve uma participação dos
alunos em uma atividade com foco na lógica externa do futebol que trabalhou em
diferentes dimensões de conteúdo, mas que a discussão apesar da participação dos
alunos não foi intensa. A discussão pode ter se mostrado supérflua em alguns pontos
talvez pelo fato dos alunos não estarem acostumados com o tipo de aula abordado,
por ter sido o primeiro contato com a relação futebol e sociedade e também pela
presença da professora-pesquisadora ser novidade.
FUTEBOL E GÊNERO
Para abordar futebol, gênero e trabalho na aula, foi reproduzido uma edição de
um documentário chamado “Deixa que eu chuto”, o qual tem como objetivo mostrar a
condição das mulheres no futebol feminino, o preconceito que sofrem desde
pequenas, as más condições de ser atleta feminina desta modalidade, a falta de apoio
financeiro dos times, a ilusão de se sustentar financeiramente e a exceção de uma
atleta dentro de um clube bem estruturado. Durante o filme pode-se visualizar que
alguns alunos mantinham interesse no tema, no entanto, alguns acreditavam que
aquilo não era necessário ser visto e esses mesmos alunos foram a minoria que não
quis participar da discussão, porém nesta aula a reivindicação das meninas por causa
da não participação, ou mínima participação delas nas aulas que tinham o conteúdo
futebol foi grande, pois as discentes afirmaram que os meninos não as deixavam
praticar tal modalidade, não havendo uma interferência de resultado por parte da
professora.
Além do vídeo ocorreu uma atividade chamada “futebol generalizado”. Nesta
atividade os alunos eram divididos em dois times que tinham a mesma quantidade de
meninos e meninas. A princípio as regras eram basicamente as mesmas de uma
partida de futsal, porém a pontuação ocorrida de forma diferente. Nas áreas
delimitadas como espaço para o goleiro atuar com as mãos, ficavam as meninas, cada
uma responsável por uma garrafa pet (com água); os meninos tinham como espaço o
restante da quadra, menos as áreas. Para pontuar os meninos deveriam derrubar as
garrafas das meninas e estas não poderiam exercer nenhuma função que não fosse a
de proteger a garrafa dentro da área. Cada garrafa derrubada pelos meninos do time
adversário correspondia a um ponto e se derrubada a garrafa, as meninas tinham que
610
repor a bola em jogo e somente depois arrumar sua garrafa, possibilitando aos garotos
mais uma vez derruba-la. No decorrer do jogo as meninas começaram a se irritar e
queriam participar mais da partida. Em um determinado tempo, houve alteração das
regras. As regras seriam as seguintes a partir daquele momento: as meninas poderiam
sair da área e tentar pontuar, entretanto, cada garrafa derrubada por elas valeria meio
ponto e se algum dos meninos derrubasse a garrafa que era de responsabilidade da
aluna que saiu da área, ele conquistaria não um ponto, mas dois pontos para sua
equipe.
O objetivo da atividade era de apresentar aos alunos com o exemplo do futebol
a estratificação de gênero que também ocorre na sociedade, na qual as mulheres
continuam a ser desvalorizadas (pontuação no jogo diferente) e ainda são
responsabilizadas por cuidarem do lar (das garrafas), enquanto os homens continuam
sendo responsabilizados pela maior renda financeira da casa (maior pontuação) sem
se preocupar com a vida domestica.
Foi possível visualizar que os alunos gostam e conseguem relacionar temáticas
da sociedade com aquilo que aprendem na escola, mas que para isso precisam ser
estimulados a pensarem de forma diferente; cabe também ao professor incitar e
promover um “empurrãozinho” para que os alunos possam refletir sobre futebol
extrapolando a dimensão procedimental.
FUTEBOL, DOM E TALENTO
Discutir sobre dom e como ele é visto pela sociedade estimula os alunos a
criticarem o que recebem de informação dos meios de comunicação, de forma que
podem pensar sobre as dificuldades de se tornar um jogador de futebol e de que forma
os grandes craques atingem o sucesso, tanto profissional como artístico. Cabe lembrar
que não há um entendimento correto do que seja dom ou talento para ser discutido
nas aulas de Educação Física, mas sim variados pontos de vista a serem debatidos e
relacionados com a sociedade.
Para abordar esse assunto nas aulas, foi proposta uma atividade de “júri
simulado”, na qual os alunos foram divididos em dois grupos: um grupo que defendia a
primeira categorização de dom de Giglio et. al. (2008) - dom como algo inato, genético
e divino - e o outro grupo defendia a ideia de que o dom era como um talento, uma
habilidade treinável. Havia ainda a participação da professora e mais uma aluna como
juízas e que tinham como função julgar e por vezes questionar os grupos sobre as
hipóteses que apresentavam para defender suas ideias. Cada grupo teve chance de
611
expor seus pensamentos e direito a uma testemunha, criada por eles mesmos no
momento da atividade.
Antes de darmos início ao júri, os grupos receberam alguns trechos adaptados
do artigo “O dom de jogar bola” de Giglio et. al. (2008) para apresentarem mais
argumentos no momento destinado às discussões. Notou-se que os alunos tinham
dificuldades de discutir, pois não acreditavam no ponto de vista que tinham que
defender, mas eles incorporaram a simulação e foram adiante com as discussões.
Apesar da presença de poucos, pode-se notar que esta aula foi uma das mais
produtivas diante das outras do programa, pois os alunos se envolveram com a
atividade e com o tema em questão, como pode ser evidenciado pelas declarações de
alguns alunos no grupo focal. O caráter do dom é algo que se vê constantemente na
mídia e que mistifica a fama dos jogadores em alta nos clubes. No sentido de
problematizar este estereótipo que idealiza um atleta como portador de uma dádiva
divina, é conveniente que os alunos tenham a oportunidade de discutir outros aspectos
que compõem o perfil de um jogador bem sucedido, superando a visão do senso
comum, por meio da reflexão crítica.
Mesmo com a participação dos alunos, houve na primeira aula uma resistência
maior diante das outras. Os alunos não imaginaram que a aula seria diferente e
estavam programados para jogar o futebol como rotineiramente faziam nas aulas de
Educação Física. Essa rotina dos alunos foi observada pela pesquisadora antes das
intervenções se iniciarem e também confirmada pelos alunos no grupo focal.
Nesta categoria foi observado o interesse e a participação dos alunos diante
das aulas propostas, bem como a resistência que os mesmos apresentaram nas
aulas, momentos nos quais os alunos desistiram das atividades, ou ainda a insistência
deles em ter a aula livre (aula intitulada pelos alunos), o rola-bola, no qual os alunos
são detentores da aula, determinam as atividades e quem pode ou não participar delas
(na maioria das vezes o futebol é a atividade escolhida e as meninas têm menos
tempo de quadra que os meninos). Quanto ao interesse, participação e a resistência
ressalto que é sabido que um conteúdo não agrada a todos os alunos e a intenção
nesta categoria não é focar apenas nos sujeitos que gostaram dos temas, mas sim a
participação dos alunos e a resistência em ser receptivo a um novo sistema de aulas.
Houve na questão de participação de resistência dos alunos uma percepção de
que os mesmo interpretam a aula de Educação Física como uma ocasião de descanso
612
e descontração, o que também justifica a preferência dos alunos pelas aulas rotineiras
de rola-bola. Cabe neste momento refletirmos sobre a autonomia alcançada pelos
alunos, que não é a que se busca como objetivo nas aulas de Educação Física, mas
sim aquela autonomia advinda pela não presença do professor, que fica oculto no
processo de aprendizagem, nas aulas de rola-bola que são os momentos de
descontração interpretados pelos alunos. O fato das aulas serem legais para os alunos
não é sinônimo de que a aula teve relevância para a formação dos mesmos, o que nos
faz questionar o modelo rola-bola que se cria no ambiente escolar.
Pode-se concluir desta categoria que os alunos participaram sim das atividades
e das discussões, uns mais que os outros. No entanto, o sistema de “aulas livres”
enraizado nos alunos estimulava a resistência dos mesmos diante das novas aulas e
dos temas, pois eles, mesmo discutindo aspectos da lógica externa do futebol,
preferiam a dimensão procedimental, sem orientação e desprovida de um
embasamento conceitual e atitudinal.
CONCLUSÃO
Retomando o objetivo de ação deste estudo, que foi procurar implementar uma
proposta de ensino do futebol a partir de sua lógica externa e retomando também o
objetivo de pesquisa, analisar os resultados da implementação desta proposta, do
ponto de vista dos alunos e das discussões ocorridas nas aulas, cabe neste momento
refletirmos sobre o alcance dos mesmos.
Sobre o objetivo de ação, através das discussões dos diários e do grupo focal
foi possível notar que houve uma implementação do ensino do futebol tomando a
lógica externa como ponto de partida. Esta implementação foi novidade para os
discentes, que até então não tinham recebido uma abordagem externa dos conteúdos
lecionados. Foi possível verificar através das aulas propostas que os alunos, quando
estimulados, discutem sobre o que se propõe, mesmo se o tema da aula não for o seu
predileto e isso se aproxima da construção da Educação Física como componente
curricular. Isso ocorreu principalmente nas aulas que trataram de gênero, dom e
talento, pois os alunos se utilizaram das discussões e conceitos de uma aula para
aplicarem esse conhecimento no contexto social em que se inserem.
A respeito das percepções da proposta implantada foi possível notar que os
alunos conseguem incorporar as discussões trazidas nas aulas como já dissemos,
mas que existem nesse processo fatores que embaraçaram a maneira de pensar dos
alunos. Os fatores referidos são: a aula livre (na qual os alunos determinam as
613
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. p. 288.
COLL, C. et al. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed, 2000. 184 p.
DAMATTA, R. A bola corre mais que os homens: duas copas, treze crônicas e três
ensaios sobre futebol. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. 209 p.
DAMATTA, R. Esporte na sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro. In:
DAMATTA, R.; et al. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de
Janeiro: Pinakotheke, 1982. p. 19-42.
DAOLIO, J. Cultura: educação física e futebol. 3.ed. Campinas: Unicamp, 2006. 150p.
DARIDO, S. C.; SOUZA JÚNIOR, O. M. Para ensinar educação física: possibilidades
de intervenção na escola. 7. ed. Campinas: Papirus, 2011.
FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.
31, n.03, p 483-502. Set/Dez, 2005.
614
INTRODUÇÃO
Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre
Linguística pela UFPA. E-mail: casadaredacao@yahoo.com.br
3Prof. do Curso de Pedagogia do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia-ICSEZ da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Estudante de Pós Graduação Lato Senso pela ESAB. E-
mail: edilsonalbarado@gmail.com
616
METODOLOGIA
receptora das contribuições da cultura urbana”. São dimensões distintas que estão
inter-relacionadas.
É possível perceber essa interação nas comunidades do Zé Açu, a partir de
algumas trocas simbólicas e materiais, e mudanças percebidas na dinâmica cultural
daquela comunidade. Dentre essas trocas, cita-se a comercialização de produtos
agrícolas e pescados transportados dessas comunidades para a cidade, bem como de
produtos industrializados transportados da cidade para a comunidade.
De maneira geral, essa perspectiva de interação entre rural e urbano ocorre por
meio da iniciativa de lideranças comunitárias e professores que atuam para preservar
e cultivar valores peculiares relacionados à arte, ao meio ambiente, à produção e à
manifestação cultural e religiosa, bem como pela necessidade de os moradores
rurais/ribeirinhos se desenvolverem e terem acesso aos bens culturais que a
sociedade moderna propaga.
As comunidades rurais/ ribeirinhas não estão isentas das interferências
externas de contextos locais, regionais ou nacional, e essas interferências dinamizam
sua cultura. Entretanto, é necessário ter cuidado com os processos de hierarquização
e de negação cultural, fato que ocorre com comunidades rurais, historicamente
marcadas por exclusões e descasos, no que tange à assistência educacional, saúde,
produção e transporte.
Assim, lado desse processo de interação, as comunidades estudadas
experimentam processos de negação da cultura. As transformações sócio-culturais
dos grandes centros e das mídias informacionais que atingem a Região Amazônica,
também, atingem os espaços de produção da cultura ribeirinha.
Uma das formas de negação que discutimos neste trabalho decorre da
influência dos meios de comunicação, principalmente da televisão. Há uma cultura da
televisão importada para a vida das comunidades. Isso acentua mudança de hábitos e
de valores de jovens e demais comunitários.
Essa forma de negação foi ressaltada por estudantes e docentes nas
entrevistas. Por um lado, quando interpelamos os discentes sobre o que pensam a
respeito da influência da mídia e da vida moderna na alteração da vida cultural da
comunidade, eles citaram as interferências positivas, mas também enfatizaram as
interferências negativas, que reforçam a violência entre os jovens e negam a cultura.
Por outro lado, os professores se ativeram em destacar as interferências
negativas. Aproveitamos um fragmento da resposta da professora Raimunda Lima5
entre familiares e amigos. É nela que se reúne a família, antes das novelas, para ouvir
o rádio ou o contar de casos ocorridos na comunidade ou ainda para viabilizar a
transferência de saberes por meio de histórias, mitos, contos, experiências de vida.
Meio ambiente
Os danos ambientais provenientes, principalmente, de agentes externos,
afetam as comunidades rurais/ribeirinhas e colocam sob risco a conservação de seus
espaços produtivos, como lagos, florestas, lavouras (FURTADO, 1994). Assim, são
forçadas a criarem estratégias de produção e sobrevivência ou, então, migrar para as
cidades da região. A degradação ambiental causada ao Lago do Zé Açu é denunciada
desde os mais antigos moradores, como Simas (2000) que faz o seguinte alerta:
6Gigante peludo com olho na testa e boca no umbigo. Ele emite um grito semelhante ao grito dado pelos
caçadores. Se alguém responder perde a vida, porque o mapinguari vai correndo ao seu encontro para
devorá-lo.
7Considerado como guardião da floresta e dos animais, o Curupira é um ser com traços de índios, cabelo
de fogo e com pés virados para trás; possui o dom de ficar invisível. Ele pode se transformar em caça
para fazer os caçadores se perderem na floresta.
8Essa lenda fala de uma cobra que cresce de forma desmensurada e ameaçadora, habita a parte
profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme deixas marcas que se transformam em igarapés.
9Durante as noites de festas o boto transforma-se em um belo rapaz que conquista e encanta a jovem
mais bonita da festa e a leva para o rio. Depois a moça aparece grávida.
622
de vida, morte, apego, paixões, perigos, cuidados, sentimentos cujas explicações são
de ordem não material. Essas explicações são reproduzidas culturalmente.
Manifestação cultural
Quanto às manifestações culturais que ocorrem na comunidade Bom Socorro,
registramos a dança do Boi Teimozinho, Quadrilhas, Dança Pequenos Portugueses,
Rip Rop, Carimbó, essas realizadas pela escola, já a festa que homenageia a Santa
Padroeira Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a Pastorinha são realizadas por toda
a comunidade.
Algumas manifestações que dependiam de maior esforço coletivo deixaram de
ser realizadas, como a Dança do Pássaro Massarico, o Festival da Banana e o
Festival da Canção Rural. Atualmente, as comunidades desenvolvem algumas
manifestações culturais que não são peculiares ao meio rural/ribeirinho, mas derivadas
das atividades culturais da cidade de Parintins, tais como Rip Rop.
Não foi intuito desta pesquisa aprofundar a análise a respeito dessas
manifestações, contentamo-nos em destacar sua ocorrência, cabendo a estudos
posteriores o entendimento da dinâmica dessas comunidades a partir das
manifestações culturais e/ou eventos que há décadas são realizados ou estudos de
eventos que deixaram de existir.
de fazer o jovem sentir-se envergonhado de sua condição cultural, contribua para que
sinta-se respeitado, valorizado e tenho mais motivos para ficar no campo do que
abandoná-lo.
Assim com o objetivo de demonstrar essas alternativas, apresentamos
contribuições da prática pedagógica que mediam a construção da identidade cultural
dos estudantes pesquisados, com base em duas estruturas que denominaremos de
estrutura de mediação formal e estrutura de mediação informal. Formal porque
depende de processos de planejamentos, sistematização de temas, conteúdos e
metodologia de trabalho, ou seja, exige um direcionamento, uma intenção e ações
planejadas. Informal porque decorre da prática cotidiana do professor, dos saberes da
prática, das experiências reunidas para promover o estímulo cultural, das relações
espontâneas e não planejadas, embora refletidas e comprometidas.
Ambas as formas de mediação dependem do compromisso do professor, por
isso o termo mediação utilizado nesse trabalho aparece com significado de
interferência, no sentido expresso por Fleury (2003). Essa interferência não está
limitada a mediação tecnológica, institucional, mas também decorre das mediações
individuais que levam em “[...] conta as dimensões cognoscitivas e subjetivas dos
atores sociais (articuladas às categorias de gênero, orientação sexual, idade,
etnicidade e classe social). Analisamos que, no campo da mediação cultural e
identitária, os atores sociais são os professores, com suas interferências que se
movimentam nas práticas pedagógicas.
No campo das mediações formais, elucidamos atividades educativas
desenvolvidas de acordo com cada disciplina, cujo planejamento teve o intuito de fazer
a mediação cultural ou pelo menos evidenciá-lo no processo educativo. Observamos,
na disciplina Arte a construção de paródias. De forma criativa, os discentes trouxeram
à tona especificidades rurais/ribeirinhas, tais como a forma de falar, expressar,
gesticular, cantar. Eles escreveram temas desde as questões de gênero à denúncias
da situação de precariedade da escola.
No campo das mediações informais, percebemos que essas ocorreram nos
momentos de reflexão sobre a realidade circundante, nas atitudes de respeito para
com os discentes. Além disso, quando os professores chamavam os discentes pelo
nome e se mostravam preocupados quando esses faltavam, indagavam sobre o
estado de saúde e sobre o uso do transporte escolar, que muitas vezes falhava e
impedia que os discentes chegassem à escola.
624
A riqueza dessa forma de mediação está nas práticas pedagógicas que são
resultantes de concepções participativas e dialógicas; de intenções de acertar; de
fazer diferente; de contribuir com a comunidade escola. Nesse sentido, quando os
professores participam e se comprometerem com a vida rural/ribeirinha, podem
contribuir para prevenir o aumento dos índices de violência, de uso de droga e da
ociosidade que atinge os jovens, decorrente da falta de geração de renda, de
atividades artísticas e culturais.
Assim, cada discente responde de maneira diferente aos conteúdos escolares,
a cada postura pedagógica e às atividades propostas. Por isso, quanto mais próximo a
sua cultura, mais consciente o discente estará do não isolamento, e,
conseqüentemente, terá mais condições de experimentar outros valores culturais sem
se anular (VASCONCELOS, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Participantes
No início de 2009, foram indicados nove alunos pelas professoras como tendo
dificuldade de aprendizagem em leitura e escrita, os nove alunos realizaram a
Avaliação de Levantamento Diagnóstico de Leitura e Escrita de Clay (1985). Foram
selecionados para participar da pesquisa uma menina e três meninos, todos tendo
completado oito anos no decorrer de 2009. Os participantes escolhidos foram
divididos em dois grupos: o primeiro com os participantes 1 e 2, que tiveram escores
bem parecidos e menores do que os escores dos outros nove alunos, e o segundo
grupo com os participantes 3 e 4, cujos escores também foram mais baixos que os
demais alunos e mais alto que o escore dos participantes 1 e 2, os participantes 3 e 4
apresentaram dificuldades semelhantes, como frequentes trocas de letras, fluência na
leitura semelhante. Foi considerada como pré-teste a avaliação realizada no início de
2009.
Os participantes só iniciaram a intervenção após a assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido e da aprovação do projeto pelo comitê de ética.
Instrumentos e materiais utilizados
Para realizar a seleção dos participantes foi aplicado o Teste de Levantamento
Diagnóstico de Leitura e Escrita de Clay (1993) adaptado por de Rose, Braz, e
Dominiconi (2000), o qual consiste na avaliação de seis conjuntos de atividades
relacionadas a: domínio de conceitos de escrita, escrita livre de palavras, escrita de
palavras ditadas, identificação de letras, leitura de palavras e leitura de livros.
Nas sessões de intervenção foram utilizados jogos pedagógicos (como ABC
animado, jogo da memória), alfabeto móvel, livros de história infantil nacional.
Procedimento de intervenção
Foram realizadas em média 40 sessões, sendo 44 com o participante 1, 37
com o participante 2, 37 com o participante 3 e 33 com o participante 4. As sessões
ocorreram em média 3 vezes por semana – com a duração média de trinta minutos – e
foram realizadas pela pesquisadora.
As lições do Reading Recovery são diárias, com duração média de 30 minutos
cada uma, e são baseadas em seis componentes básicos que trabalham a leitura e
escrita. Cada lição tem sete partes distintas:
A criança relê alguns livros que lhe são familiares. Esses livros constituem
uma variada gama de publicações contendo narrativas e textos expositivos
de níveis variados de dificuldade;
A criança relê um livro introduzido na aula anterior enquanto o professor
630
É muito importante destacar aqui a relação direta que tem o surgimento das
estratégias com o aumento da acurácia na leitura pelos participantes.
As tabelas a seguir mostram o desempenho dos quatro participantes nas
atividades de leitura do Levantamento Diagnóstico de Leitura e escrita realizado no
início da intervenção (Pré teste), no meio da intervenção (Teste Intermediário) e no
término da intervenção (Pós teste).
O participante 1 apresentou muita dificuldade em leitura na primeira avaliação.
Na leitura das listas A e B e na leitura dos dois livros seu desempenho foi muito
insatisfatório na primeira avaliação, apresentando uma melhora de aproximadamente
50% na avaliação intermediária como nos mostra o gráfico abaixo chegando a acertar
91% das palavras na leitura do livro “A foca famosa”. Na última avaliação ele
apresentou um desempenho médio na leitura das listas A e B tendo dificuldade em ler
palavras com encontros consonantais como “globo”, “pronto socorro”, entre outras, na
leitura do livro “A foca famosa” seu desempenho foi de 99%. Na identificação de letras
ele terminou a intervenção com um rendimento muito satisfatório mas ele ainda não
631
reconhece algumas letras como o “w”, “y” e “k” minúsculo e comete algumas trocas
como “p” e “q”. O gráfico a seguir mostra o desempenho do participante nas atividades
de leitura nas três avaliações realizadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
palavras um pouco mais difíceis, dar algumas dicas quando necessário e reler a
história com ela em caso de dificuldade mais acentuada, verificando o que ela sabe.
Os livros normalmente eram relidos pela criança nas tutorias seguintes a fim de ajudá-
la a melhorar a fluência da leitura.
A cada nova atividade ou a cada dificuldade apresentada a criança era
estimulada a fazer um trabalho de leitura utilizando inicialmente suas próprias teorias
em relação a leitura e escrita. Nesse momento era possível observar os “caminhos” e
estratégias utilizadas pelas crianças para tentar ler ou escrever a nova palavra. De
acordo com Clay (1985), nesse momento as crianças fazem uma busca por dicas,
sinais ou semelhanças entre a nova palavra e palavras que ela já conhece.
A postura do professor é fundamental para a emergência das estratégias nos
alunos. O professor deve estar atento às dificuldades e habilidades dos alunos, ter
uma postura questionadora perante as estratégias apresentadas pelas crianças e
questionar para ajudar no direcionamento do uso da estratégia mais eficaz (CLAY,
1993).
O professor alfabetizador precisa ter clareza acerca dos procedimentos
utilizados para alfabetizar e principalmente conhecer as estratégias utilizadas pelas
crianças para aprender. Dessa forma, ele poderá otimizar a aprendizagem dos alunos
– sobretudo daqueles que apresentam dificuldade em aprender – trabalhando de
forma mais direta as dificuldades de cada aluno e desenvolvendo o quanto antes as
estratégias de leitura.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
coordenado pelo Instituto de Física de São Carlos – IFSC/USP, São Carlos, SP, Brasil. Contato:
raissamoda@gmail.com
637
3PPC: é um projeto desenvolvido na USP, mas patrocinado integralmente pela empresa KPMG. Como
uma extensão de caráter esportivo, educacional e cultural, esse projeto promove a formação
complementar para alunos matriculados em escolas regulares do sistema público de ensino, sendo
apartidário e desvinculado de instituições religiosas.
639
lápis, papel e borracha. Dentre estas, podemos destacar o que aborda divisão de
frações (Objeto 4). Contudo, o único objeto em que foi observado essa possível
necessidade de dividir seu conteúdo em dois encontros é o Objeto 2, já os demais
puderam tranquilamente ser aplicados em apenas um encontro cada.
dos objetos não foi prejudicada, pois os mesmos tratam de ensinar os itens B e C. Já
quanto ao item A e o item D, necessários ao aprendizado de soma e subtração de
frações com diferentes denominadores e de multiplicação de frações, a aplicadora
precisou retomar este assunto previamente à aplicação.
A análise desta avaliação pôde ser comprovada nos outros encontros, nos
quais se percebeu que estas dúvidas em assuntos que antecedem Números Racionais
tornaram-se as dúvidas mais recorrentes no decorrer das aplicações, tais como
mínimo múltiplo comum e potenciação. Por exemplo, na aplicação do Objeto 2 notou-
se que a maior dificuldade dos alunos para a realização de soma e subtração de
Frações com diferentes denominadores foi no que se trata em achar um múltiplo
comum. Depois que resolvida esta questão com os alunos, eles conseguiram com
facilidade concluir suas etapas na atividade. Outra situação ocorrida em uma das
aplicações foi em que um aluno relatou nunca ter visto potenciação na escola e que,
por isso, não conseguia realizar as contas contidas no Objeto 3. Em relação a estas
dúvidas, a aplicadora teve que retomar estes assuntos, explicando aos alunos os
procedimentos necessários para se achar um mínimo múltiplo comum, como também
o significado de potenciação.
Dentre os quatro primeiros objetos de aprendizagem, responsáveis,
respectivamente, por ensinar representação/equivalência/comparação de fração, soma
e subtração de fração, multiplicação de fração e, por último, divisão de fração, foi
observado que os de menor dificuldade para a aplicação foram o Objeto 1 e o Objeto
3. Quanto aos assuntos de maior dificuldade para os alunos, os mesmos relataram
serem operações de divisão, pois alegavam não ter aprendido na escola ainda, e,
também, a soma e subtração de frações de denominadores diferentes, assim como
equivalência. Perante esta situação, a aplicadora atendia às dúvidas específicas dos
alunos e, com isso, eles conseguiam realizar as atividades. Em relação a este fato,
percebe-se que a forma como as atividades se apresentaram favoreceu bastante no
envolvimento e desenvolvimento das atividades.
Por fim, para fechamento dessa parte de aplicações, os alunos realizaram no
último encontro uma segunda avaliação diagnóstica. Composta por quatro exercícios,
o diagnóstico final foi formado unicamente por questões envolvendo os temas
encontrados nos quatro primeiros OA’s. O primeiro exercício, referente ao Objeto 1,
aborda a representação de fração, a equivalência, e a comparação de frações. Já o
exercício 2 retoma o assunto abordado no Objeto 2, soma e subtração de frações. O
terceiro, que se refere ao Objeto 3, traz ao aluno os assuntos de multiplicação de
642
frações, assim como potenciação e radiciação. E por ultimo o exercício 4, cujo assunto
é divisão de frações, refere-se ao que foi abordado no Objeto 4.
Para a realização do diagnóstico, os alunos teriam que responder às questões
e justificá-las, tanto na própria prova, como diretamente à aplicadora, explicando a ela
seu raciocínio para chegar àquele resultado. A título de ilustração, segue uma
justificativa de um aluno ao segundo exercício do diagnóstico, quanto à subtração de
frações com diferentes denominadores (Figura 4).
Figura 4 - Fragmento do diagnóstico final respondido por um aluno do Projeto
Justificativa:
- Ai, professora. Coloquei um mesmo numero embaixo das duas frações, dividi
aqui o 6 pelo 3 e multipliquei pelo numero de cima. Depois eu só subtraí, ué!
25%
75%
2/5 é maior
3/4 é maior
Em branco
Potenciação
Multiplicação
Divisão Em branco
Subtração Não lembra/não sabe
Errado
Soma
Correto
Comparação
Equivalencia
0 2 4 6 8
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
METODOLOGIA
3(http://paje.fe.usp.br/estrutura/index_lapef.htm).
651
O professor apresentou aos alunos o problema a ser resolvido: Como será que
a gente faz para construir um barquinho que, na água, consiga carregar o maior
número de pecinhas (arruelas de metal), sem afundar? Portanto, as crianças são
desafiadas a construir um barquinho que possa carregar o maior número possível de
arruelas, sem afundar.
Existem neste problema dois conceitos físicos envolvidos. Primeiro, a relação
entre a massa e a área do casco do barco. Sabe-se que um corpo afunda se sua
densidade for superior a densidade da água. Uma vez que a densidade é a razão
entre massa e volume, “a massa não é a única variável responsável pela flutuação,
sendo a área do casco outra condição determinante”. Um segundo conceito diz
respeito a condição de equilíbrio, pois “a distribuição uniforme das arruelas evita que o
barco gere, o que faria a água transbordar por um de seus lados” (CARVALHO, et. al.,
p. 79).
DISCUSSÃO
Podemos verificar por meio do Quadro 1 que embora nem todos alunos
apresentaram todas as categorias desejáveis, houve muitos alunos que apresentaram
pelo menos duas categorias e alguns que se destacaram por apresentar em seus
textos todas as categorias (alunos 2 e 3).
Para ilustrar a “fala” dos alunos daremos a seguir alguns exemplos de cada
categoria proposta por Campos et. al. (2012).
Exemplos:
Exposição
[Aluno 10] - Nós fizemos um barco e colocamos papel alumínio emendado um no outro
[...]
[Aluno 24] - Tinha 22 pecinhas para colocar dentro do barquinho [...]
[Aluno 04] – [...] o barquinho afundou porque as pecinhas estavam juntas e misturadas
e, também, estava com água dentro [do barco], o papel estava molhado e pesado e,
também estava muito amassado.
Relato
[Aluno 06] - É assim que você faz um barquinho: pegue uma bacia e ponha água;
depois ponha o barquinho e depois coloque as arruelas.
[Aluno 16] - Nós começamos fazendo um navio, e depois, fizemos um barco redondo,
e depois, nós começamos a fazer um barco grande [...]
Estabelece relações
[Aluno 02] - Primeiro a gente fez um barco [...] Depois fomos pondo [as pecinhas] uma
por uma, só que a gente colocava muito de um lado, e ele afundava. Se a gente
colocar o mesmo peso de todos os lados, ele não afunda.
[Aluno 13] - [...] descobri que se colocar todo peso no mesmo lugar ele afunda. Nós
temos que colocar o mesmo peso separado.
Argumenta
[Aluno 20] – O primeiro barco foi aquele que todo mundo sabia fazer, e não deu certo.
Já no segundo [barco] a gente teve uma ideia, a gente pôs duas folhas e fizemos um
quadrado, e para dar certo, a gente pôs todas as pecinhas esparramadas, e deu certo!
Faz inferências
[Aluno 01] – Nós [o grupo] ficamos muito felizes. Eu adorei essa “coisa” de barco!
654
[Aluno 26] - Eu e meus amigos, tivemos a ideia de fazer um barco de papel para ver se
flutuava. Meu amigo disse: não vai funcionar [...] Nós fizemos, e então ele disse: Não é
que funciona mesmo!
As escritas dos alunos expressam que antes de colocar sua ideia no papel,
esses estudantes refletem sobre o que foi feito. Eles são capazes de refletirem,
argumentarem e se posicionarem frente a atividade desenvolvida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
desenvolver atividades que trabalhem com conceitos físicos nesta faixa etária, é
desafiar os alunos a resolverem problemas de forma cooperativa, refletindo sobre suas
ações.
Conclui-se que é possível trabalhar conceitos físicos no primeiro ciclo do
ensino fundamental. Não a física cientificamente estruturada, mas a física que faz
sentido para o aluno, que o desafia na busca por novas alternativas. Atividades como
esta, estimulam e desenvolvem no aluno a capacidade de formular perguntas e
suposições sobre determinado assunto, organizar e registrar informações de diversas
formas, como a escrita, o desenho e gráficos.
Nesta etapa da escolaridade, o importante é despertar o interesse motivacional
nas crianças pela Física, despertando o gosto pela disciplina. Acreditamos que,
proporcionado experiências prazerosas neste nível de ensino e trabalhando a Física
de modo “vivo” e atual, posteriormente os estudantes terão facilidade no entendimento
do conhecimento socialmente estabelecido e cientificamente aceito.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: ciências naturais.Secretaria de Educação Fundamental – Brasília:
MEC/SEF, 1997. 136p.
CAMPOS, B. S. et al. Física para Crianças: abordando conceitos físicos a partir
de situações problemas. Revista Brasileira de Ensino de Física. v. 34, n. 1,
p. 1402, 2012)
CARVALHO, A. M. P. et al. Ciências no Ensino Fundamental: o
conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 1998.
GOMES, L. C.; BELLINI, L. M. Uma revisão sobre aspectos fundamentais da
teoria de Jean Piaget: possíveis implicações para o ensino de Física. Revista
Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 2, p. 2301, 2009.
GONÇALVES, M. E. R. O conhecimento físico nas primeiras séries do
primeiro grau. 1991. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo,
Instituto de Física, Departamento de Física Experimental, São Paulo, 1991.
PIAGET, J. A linguagem e o Pensamento da Criança. 2. ed.Rio de
Janeiro:Editora Fundo de Cultura, 1961a.
PIAGET, J. Psicologia da Inteligência. 2. ed.Rio de Janeiro:Editora Fundo de
Cultura, 1961b.
PULASKI, M. A. S. Compreendendo Piaget: uma introdução ao
desenvolvimento cognitivo da criança. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos, 1986.
656
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Dentro deste papel, em que o aluno figura como o agente histórico, Carmem
Guerreiro (2012) contrapõe a proposta, já que o aluno deveria, por meio dos currículos
executados em sala de aula, desenvolver no fim do período, uma série de habilidades
esperadas por meio da elaboração. Percebe-se está posição da autora em seu artigo
“A busca pelo currículo”, publicado na Revista Educação, em que a mesma diz:
5São Paulo (Estado). Secretaria de Educação. Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a
disciplina de História. Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio. In: Proposta Curricular para o
Estado de São Paulo: História. São Paulo: SEE, 2008. p.42
661
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1 Unesp – Faculdade de Ciências e Letras/Araraquara SP., Gepife- grupo de estudos e pesquisas sobre
infância, família e escolarização UNESP-CNPq. e.mail: dea.unesp@gmail.com
2 Unesp – Faculdade de Ciências e Letras/Araraquara SP., Gepife- grupo de estudos e pesquisas sobre
infância, família e escolarização UNESP-CNPq. e.mail: marciacap@fclar.unesp.br.
666
Para Perez (2012) é valido, também, não podermos deixar de rever práticas
escolares que tendam a uma “didatização” das atividades lúdicas, como bem lembra
Wajscop (2001) ao tratar das situações de propostas pedagógicas que visam apenas à
repetição de exercícios, focando, por exemplo, coordenação motora e auditiva por
meio de brinquedos, desenhos mimeografados e músicas ritmadas. O que ocorre
nessas atividades, segundo a autora, é que as crianças não têm oportunidade de
decidir sequer os seus temas. O controle pertence totalmente ao adulto, que, por sua
vez, garante que o conteúdo contido naquela atividade seja trabalhado unicamente em
prol de um objetivo escolar predeterminado.
Claro que a questão não é emitir um posicionamento contra a alfabetização no
primeiro ano, todavia é necessário o trabalho com múltiplas formas de linguagem e
expressão, que devem constituir o currículo nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Como já sinalizamos, as especificidades da infância apontam para a importância do
jogo e da brincadeira no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
É estabelecida por lei a carga horária de oitocentas horas anuais onde se
devem ministrar todos os conhecimentos citados, isso engessa boa parte dos
professores, que se tornam preocupados apenas em cumprir esse roteiro, e não é
difícil encontrar escolas onde o lúdico foi abolido dando prioridade a roteiros de
estudos arcaicos sem demais preocupações.
Fica comprovada a necessidade do olhar minucioso do educador para uma
sala agora mais mista em relação aos níveis de conhecimento e mais do que nunca a
necessidade de respeito ao cognitivo de cada criança como individuo.
No momento em que nos debruçamos para pesquisar sobre, as mudanças e
suas intenções, nos deparamos com vários questionamentos, alguns com um viés
mais prático outros com um seguimento mais burocrático.
Nas salas de aula brasileira encontramos professores engajados no
aperfeiçoamento e aprimoramento de seu material didático, de seu currículo, lançando
mão assim de todos os materiais disponibilizados pelo governo e ministério
competente. Em contrapartida há professores ainda preocupados apenas com a
atividade de forma automatizada que não tem conhecimento das leis e
superficialmente entendem as necessidades dessa demanda de crianças agora mais
novas na faixa etária dos seis anos principalmente com que se refere ao lúdico e sua
importância em sala de aula.
O governo ainda deixa a desejar quando permite que algumas escolas
atendam essa demanda sem estruturas físicas compatíveis ao tempo de permanência
668
Temos que ter atenção em não transformar essa sala em uma pré escola tão
somente rodeada e preocupada com as brincadeiras, os lúdicos e atividades muitas
vezes desprovidas de ênfase pedagógico, o que infelizmente é praticado em muitas
escolas onde é visto como um deposito onde crianças ficam um tempo só para brincar,
e também não podemos por outro lado fazer um exercito de pequenos alunos
confinados e bombardeados de atividades que não tem muitas vezes uma relação
direta com sua realidade, se faz necessário uma investigação por assim dizer, desses
alunos, como por exemplo saber se os pais são alfabetizados, se há um
acompanhamento e uma disponibilidade dos pais ou responsáveis em acompanhar
essa nova fase da criança, levar a realidade de cada um para sala de aula nesse
momento é indispensável, assim essa criança que aos seis anos se vê dentro de um
contexto totalmente novo vai sentir que o que será ministrado por aquela professora
(o) esta acompanhando as mudanças em seu meio social.
De acordo com Perez (2012, p.30):
Assim, a antecipação dos conteúdos do Ensino Fundamental poderá
não ser bem sucedida, se ignorar este fato, e ainda causar o
encurtamento da infância e a diminuição desse tempo de vivências
específicas, em especial, com relação à dimensão lúdica, que se
caracteriza como atividade indispensável para a formação da criança,
especialmente, de sua capacidade simbólica e socialização. Sob essa
ótica, é preciso que essas considerações sejam debatidas por
dirigentes, gestores, professores e ampliadas para a sociedade em
geral, para possibilitar a reflexão. Tomando como a Psicologia da
Educação e, de forma mais recente, os diálogos com a Sociologia da
Infância, é possível atestar a presença e a importância das atividades
lúdicas no contexto do Ensino Fundamental, nas séries iniciais.
Sugerimos, então, que a ludicidade deva se constituir como atividade
indispensável nas práticas educativas, nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Como afirma Faria (2005), a infância continua nas séries iniciais do Ensino
Fundamental, e as descobertas propiciadas por recentes investigações sobre a
condição infantil, que se valeram de categorias diferentes das convencionais, levam-
nos a repensar a educação da infância, inclusive no Ensino Fundamental.
Kramer (2006), por sua vez, aponta que a Educação Infantil e o Ensino
Fundamental são indissociáveis e, para tanto, devem assumir a apropriação da cultura
como suporte para a educação das crianças, respeitando-se, em contrapartida, nas
duas modalidades de ensino, as crianças nas suas singularidades.
Muitas mudanças e adequações ainda estão por vir, muitas pesquisas,
reformas, erros e acertos ainda irão fazer parte do contexto desse novo objetivo, de
levar as crianças de seis anos a terem contato com um caminho de escolarização que
irá se perpetuar por anos.
REFERÊNCIAS
BATISTA, Sara Janaina Alves, ROCHA, Maria Silvia P. de Moura L.da. O ensino
fundamental de 9 anos em dissertações e teses acadêmicas:pesquisa bibliográfica.
2011. ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA,XVI. Anais... 2011.
BRASIL. Lei nº 11.274, 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos art. 29, 30, 32 e
87 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário
Oficial da União. Brasília, 7 fev. 2006.
______. Ministério da Educação. Ensino fundamental de nove anos: orientações
para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília, 2006e.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino
fundamental de nove anos: orientações gerais. Brasília, 2004.
______. Ministério da Educação. Primeiro Relatório do Programa. Brasília, 2004a.
671
INTRODUÇÃO
1Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós- graduação em Educação Doutorado
– eroriz@uol.com.br.
673
buscar na sala de aula o conhecimento empírico desses novos papéis. Pois, afinal, é
na sala de aula que estão contidas as muitas realidades da escola.
Essas são questões que, entre tantas outras, inquietaram e fomentaram em
nós o desejo de pesquisar a sala de aula, para buscar desvendá-la e, com isso,
compreender a escola e suas funções. Para tal, buscamos apoio na Teoria Crítica da
Sociedade de Adorno e Horkheimer e de alguns de seus leitores, como Pucci, Arruda,
Duarte, Zuin, Nobre, Leo Maar e Vilela. Com apoio em Adorno, discutimos a
necessidade de conhecimento real da escola como condição para orientar o trabalho
efetivo de preparação das novas gerações para a vida social plena no seu tempo e na
sua sociedade. Segundo Adorno, “a crítica da sociedade é a crítica do conhecimento
sobre ela e vice-versa” (ADORNO, 1995; p.189). Para isso, é necessário confrontar a
realidade aparente da escola com o que ela realmente é. Nesse confronto entre o que
a escola aparenta ser e o que ela é realmente, nos apoiamos nas Teorias Críticas do
Currículo, pois é na sala de aula que ocorre sua materialização, sendo este o grande
articulador das práticas pedagógicas constituintes do processo educacional. Para os
estudos de currículo, buscamos o aporte teórico nos escritos de Apple, Moreira, Silva,
Goodson e Forquin.
Foi possível comprovar, empíricamente, a perda de legitimidade da sala de
aula como o local de aprendizagem de habilidades preconizadas pelos currículos
escolares como estabelecidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, editados em
1998: acesso e domínio de conhecimento científico e cultural, desenvolvimento da
reflexão e autonomia no processo de busca ou de construção de conhecimentos e
desenvolvimento da liberdade responsável como forma de participação no mundo,
habilidades essas que, nos documentos curriculares, traduzem a meta “formar para a
cidadania”. O debate no campo do currículo reconhece que, no processo de
escolarização, os alunos tenham direito a essas competências e que isso lhes deve
ser assegurado através das atividades e experiências organizadas no currículo.
Portanto, duas dimensões devem se fazer presentes na sala de aula: a lida com o
conhecimento e o processo de formação dos alunos para autonomia.
Iniciamos, sem a pretensão de rigor cronológico, buscando compreender a
função da escola através do estudo das Teorias Pedagógicas a partir da Modernidade.
Nos teóricos estudados, confirma-se que a escola foi pensada e repensada a todo o
momento para a concretização da tríade Educação, Ensino e Formação.
Retomando as Teorias Pedagógicas que embasaram o projeto de educação da
Modernidade, procuramos soluções modernas para desafios contemporâneos, pois
674
tensão existente entre o que foi programado para ser trabalhado e o que realmente é
concretizado durante as aulas. Acreditamos que o prescrito para cada ação
pedagógica que irá constituir a aula é pensado com a intenção de materializar tanto o
Ensino,“abarcando todo o processo de mediação do conhecimento, que é a tarefa
docente, não correspondendo apenas àquele ato do professor de ensinar e passar
informações de conteúdo” (PFLUGMACHER, 2010, p.2); quanto a Educação, cuja
função seria a de ensinar normas de conduta, permitindo não somente ao indivíduo
perceber a situação social na qual está enquadrado, sabendo como se portar diante
dela, mas também tornar possível o “desenvolvimento da autonomia necessária para
se estabelecer como sujeito social, encontrando formas de definir e decidir, por si só o
melhor para ele”(PFLUGMACHER, 2010, p.2). Dessa forma, o educando poderia se
elevar à categoria de sujeito pleno, isto é, ele se eleva como sujeito através do
conhecimento, tanto científico quanto moral. Nesse sentido, o conhecimento
necessário é consequente dos dois processos anteriores, pois sem educação e sem
ensino não se processa a Formação. (PFLUGMACHER, 2010, p.3).
Adorno deu grande importância à autonomia dos indivíduos, à liberdade dos
mesmos em decidirem a respeito dos caminhos a serem seguidos e à capacidade de
viverem de forma independente. Por isso, sempre que se refere à educação, Adorno
mostra-se contrário a qualquer processo de coisificação, de modelagem das pessoas,
à “mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais
do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira” (ADORNO, 2006,
p.141). Viabilizar que a autonomia se processe como uma autoeducação, mas
centrada na realidade social, é o grande desafio para a tarefa educativa a ser exercida
pela escola.
Adorno não pretendeu, em nenhum momento, propor um projeto de educação,
mas a clareza e a pertinência de suas colocações nos fazem refletir a respeito da
importância de se concretizar na sala de aula e, através dela, na escola, a legitimação
de todos os processos que levam ao esclarecimento em todos os níveis, isto é,
acadêmico, psicológico e emocional. E desse modo, por defender a necessidade de se
ter uma formação que privilegie o pensamento e a reflexão, em seus escritos, Adorno
mostra temer os efeitos da semiformação (Halbbildung) como ele identifica as pessoas
destituídas da autonomia que foi suprimida na vida social sob o império da indústria
cultural. Indústria cultural é uma expressão utilizada pela primeira vez por Adorno e
Horkheimer, em 1947, na obra Dialética do Esclarecimento. Ao usar essa expressão, a
intenção dos autores foi a de expor a todos as relações de troca que prevaleciam nas
678
CONCLUSÕES
“Profa: Ó gente!
Profa: Atenção aqui.
Profa: Vamos começar para a gente terminar isso hoje?
Profa: Eu tenho que dar o visto até o final dos 50 minutos.
Profa: Está certo?
Profa: A♂, vamos começar?
7h12 – Interrupção
A1♂: Pode entrar professora?
Obs: Entra um aluno.
Profa: Então vou lá embaixo rapidinho e já volto.
Obs. A professora se retira da sala
7h20 – Obs.: A professora retorna à sala, após 8 minutos de ausência”.
A20♂: Professora?
Profa: Oi.
A20♂: E as doenças?
Profa: Da mesma maneira que tá aqui. Só uma pincelada. Não aprofundou porque isso vocês
já viram nos anos anteriores.
A20♂: É, isso daqui eu sei tudo também. Mas eu tô querendo saber...
Profa: É, da maneira que tá aqui. Só essa visão mais superficial. É porque lá no sexto ano
vocês viram reprodução nas plantas. As doenças eu não vou cobrar nessa prova não porque a
menina da Schering vem fazer um trabalho com vocês sobre isso. Aí, eu vou cobrar parte de
reprodução humana sem falar das doenças. Porque aí, em agosto, ela vem pra fazer isso.
A20♂: Nem da AIDS?
A professora não assume seu papel de despertar o interesse pelo conteúdo e,
também, o de usar da sua competência, esperada pela sua função, para explicitar os
elementos do conhecimento, sempre pedidos pelos alunos. Nas aulas, ela não
conduziu qualquer reflexão para que os alunos superassem sua situação de não
conhecimento. Dúvidas foram ignoradas, várias respostas dadas pela professora
680
foram carregadas de equívocos, tais como, reforço ao senso comum e até mesmo
erros conceituais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
ADORNO, T. Sobre sujeito e objeto. In: ADORNO, Theodor. Palavras e sinais:
modelos críticos. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
COMENIUS, Jan Amos. Didática magna. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006
681
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed & Bookman,
2009.
HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Zahar, 1985
LIBÂNEO, José Carlos. As teorias pedagógicas modernas revisitadas pelo debate
contemporâneo na educação In: LIBÂNEO, José Carlos; SANTOS, Akiko (Orgs.).
Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. Campinas:
Alínea, 2005. p.19-63.
PFLUGMACHER, Torsten. Reconstruões empíricas da aula educativa. Tradução de
Rita Amélia Teixeira Vilela. Título original: Empirische Rekonstruktionen zu
erziehendem Unterricht. Aula proferida em 20/10/2010. Programa de Pós-graduação
em Educação. PUC Minas. Disponível em: www.ich.pucminas.br/pged. Acesso em :30
out. 2010
VILELA, Rita Amelia T. Wilhelm Von Humbold: um estadista e um teórico da
educação. Belo Horizonte. Programa de Pós-graduação em Educação. PUC Minas.
Documento de circulação restrita. 2010.
VILELA, Rita Amélia Teixeira; NOACK, Juliane. A pesquisa sociológica “hermenêutica
objetiva”: novas perspectivas para a análise da realidade educacional e de práticas
pedagógicas. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 31ª, 2008. Anais...Disponível em:
www.anped.org.br. Acesso em: 30 nov.2009.
WELLER, Wivian. A hemenêutica como método empírico de investigação. In:
REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 30ª. GT/17, 2007.Anais... Caxambu/MG, 2007.
WELLER, Vivian. Tradições hermenêuticas na pesquisa qualitativa: a análise de
narrativas segundo Fritz Schütze. In: Reunião Anual da ANPEd, 32ª.GT /14,
2009.Anais...Caxambu/MG, 2009.
682
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
A partir da análise dos dados (Figura 1), nota-se que 100% dos professores
envolvidos no estudo utilizam diariamente o material didático em suas aulas (questão
686
1). Entretanto, 57% dos mesmos acreditam que o embasamento teórico contido neste
material não promove nos estudantes o desenvolvimento de competências para
realizar as atividades práticas propostas nos cadernos do aluno (questão 2). É
indispensável o uso concomitante de outros materiais didáticos para complementar
seus conteúdos e atividades (questão 3).
A maioria dos professores (86%) consegue ensinar os conteúdos de acordo
com a sequência estabelecida pela SEE/SP (questão 4). Acreditam que o material em
questão consegue direcionar o trabalho pedagógico do professor (questão 6).
Contudo, 71% dos participantes sentem a perda de autonomia do professor após a
unificação do currículo das escolas da rede estadual (questão 5). Segundo Ribeiro
(2008), o professor tende a deixar de ser protagonista do seu trabalho e passa a
explicar a seus alunos o conteúdo proposto em um material elaborado sem a sua
colaboração. Uma vez que a aprendizagem avaliada no SARESP (Sistema de
Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) compreende justamente o
conteúdo apresentado no material didático em questão.
Figura 1 –Percepção de sete professores de Ciências quanto à alguns itens que
demonstram como a implantação do novo currículo se expressa em suas práticas
cotidianas
“É um instrumento que ajuda, mas não pode ficar só com esse material, é preciso usar
outras fontes e em alguns casos adaptar.”Resposta dada por uma professora que atua
há três anos na rede estadual.
“Bom, desde que o professor tenha tempo para completar seu trabalho com livro
didático [...]” Depoimento de uma professora que leciona há trinta anos na rede.
“O material trás para a vida dos alunos conhecimentos que antes não eram obtidos no
Ensino Fundamental I, mas em algumas situações, a falta de conhecimento prévio e a
falta de teoria nos cadernos acabam dificultando o trabalho do professor.”Relata uma
professora do Estado, que leciona há oito meses na rede.
“Considero bom, mas necessita de alguns ajustes e mais complementações referentes
ao conteúdo [...]”. Diz uma professora que atua na rede há três anos.
“Existe material de determinadas séries que são bons, mas outros deixam muito a
desejar [...]”. Professora há dez anos em escola pública estadual do Estado.
O currículo propõe, com relação ao uso de recursos didáticos, a utilização dos
cadernos do professor e aluno aliados ao uso de diferentes manuais, livros didáticos,
textos paradidáticos, vídeos (disponíveis nas escolas), acesso aos sites, entre outros.
Contudo, de acordo com uma professora que leciona há vinte e quatro anos na rede:
“A sequência do currículo é boa, mas é extensa e não temos tempo de enriquecê-la
com outras atividades [...] Melhor com uma proposta do que sem nada, mas há muito
que melhorar. Por exemplo, as situações de aprendizagem propõem muitas
pesquisas, de assuntos bastante extensos que o aluno sozinho não consegue e não te
interesse em fazer”.
A partir do exposto, percebe-se a aceitação dos professores de Ciências com
relação ao material didático fornecido pelo governo do Estado. Porém, ressalta-se a
importância de reflexões em torno da proposta curricular, uma vez que a falta de teoria
nos cadernos tem dificultado o trabalho docente, que não consegue aprofundar os
conteúdos com auxílio de outros recursos em tempo hábil para finalizar a sequência
curricular proposta pelo Estado ao longo do ano letivo.
Em seus estudos, Silva e Pino (2010) apontam que as tentativas realizadas
para melhorar a qualidade do ensino nas escolas, geralmente, acontecem por meio de
determinações pensadas fora das instituições de ensino e por pessoas que, embora
qualificadas e bem intencionadas, desconhecem a realidade que é vivenciada no
contexto escolar. Cada planejamento curricular é único e justificado na medida em que
se desenvolve e torna-se significativo ao grupo que o compõe, podendo ter seus
objetivos modificados de acordo com o interesse e necessidade de seus alunos. De
acordo com Sampaio (1998) “A escola pública faz sentido à medida que consiga
realizar seu trabalho específico, de conhecimento e de ampliação de horizontes, de
compreensão do mundo” (SAMPAIO, 1998, p. 22).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
688
salienta-se a necessidade de ampliação deste estudo para que seus dados sejam
corroborados.
REFERÊNCIAS
ACEDO, P. H.; JÚNIOR, N. F. F. Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a
respiração humana. In: XI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Curitiba, 2008.
CAÇÃO, M. I. Proposta Curricular do estado de São Paulo: retorno do discurso
regulativo da Tylerização na Educação Pública. Espaço do Currículo, v. 3, n. 1, p. 380-
394, mar.-set. de 2010.
CARNEIRO, Rafael Tadeu Moravagine. Analise Crítica da Proposta Curricular do
Estado de São Paulo, 2010. Disponível
em:<http://tribunasnalcova.wordpress.com/2010/07/20/analise-da-proposta-curricular-
do-estadode-sao-paulo/>. Acesso em: 24 Mar. 2012.
FIAMENGUI, G. Impactos do Projeto São Paulo Faz Escola no Trabalho do
Professor. Dissertação, Programa de Mestrado em Educação, Universidade Católica
de Santos, 2009.
GOMES, F. E.; CARVALHO, C. Programa “São Paulo faz escola”: uma relação a
ser investigada. Cadernos de Pós-Graduação em Educação, São Paulo, v. 8, p. 179-
184, 2009.
SILVA, A. G. A. Formação inicial do docente da educação básica: principais
fragilidades apontadas na literatura. O saber, revista técnico-científica, ano V, n. 5, abr.
2012.
MOURA, M. R. L. Reformas educacionais e a proposta curricular do estado de
São Paulo: primeiras aproximações. Seminário do trabalho, Anais do VI UNESP,
Marília/SP, 2008.
OLIVEIRA, C. M. S. As implicações da implementação do currículo oficial do
Estado de São Paulo no cotidiano de uma escola. Dissertação, Programa de Pós-
Graduação em Educação, Mestrado da Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP,
Presidente Prudente/SP, 2012.
RIBEIRO, R. A autonomia proposta na LDBEN e a nova proposta curricular das
escolas públicas estaduais de São Paulo. UNESP, Departamento de Ciências da
Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, Araraquara/SP, 2008.
SAMPAIO, M. M. F. Um gosto amargo de escola: relações entre currículo, ensino e
fracasso escolar. São Paulo: EDUC, 1998.
SAVIANI, N. Currículo: um grande desafio para o professor. Revista de Educação, n.
16, p. 35-38, São Paulo, 2003.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de
São Paulo. Disponível em:
<http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/Default.aspx?alias=www.rededosaber.sp.go
v.br/portais/spfe2009>. Acesso em 10/08/2012.
SILVA, D. R.; PINO, J. D. Aulas de ciências na oitava série do ensino fundamental:
uma proposta de projeto curricular como processo em construção. Ciência &
Educação, v. 16, n. 2, p. 447-464, 2010.
690
INTRODUÇÃO
[...] A educação é o modo como as pessoas, as instituições e as
sociedades respondem à chegada daqueles que nascem. A
educação é a forma com que o mudo recebe os que nascem.
Receber é abrir-se à interpelação de uma chamada e aceitar uma
responsabilidade. Receber é criar um lugar: abrir um espaço em que
aquele que vem possa habitar; pôr-se à disposição daquele que vem,
sem pretender reduzi-lo à lógica que impera em nossa casa
(LARROSA, 2006, p. 188).
1Pedagoga, mestre e doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília.
Líder do grupo de estudos “Alfabetização e formação inicial do pedagogo” na UNISUZ (Faculdades
Unidas de Suzano).Contato: unespandreia@yahoo.com.br.
2Pedagoga, mestre e doutoranda em Educação na Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília.
METODOLOGIA
CONCLUSÕES
A organização curricular para a alfabetização resvala em um processo no qual
a linguagem é mediadora das relações é reflexo do que se concebe como linguagem,
700
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei n. 9394/1996. Estabelece as Leis de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília, 1996.
______. Lei n. 11274/06 que altera os artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei n. 9394/1996.
Brasilia, 2006.
______. Decreto n.6094 de 24 de abril de 2007. Brasilia, 2007.
______. Parecer n. 4/2008. Orientações sobre os três anos iniciais do Ensino
Fundamental de nove anos. Brasilia, 2008.
______. Parecer n. 7 de 7 de abril de 2010. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Fundamental de 09 anos. Brasília, 2010a.
______. Projeto de Lei n. 8035/2010. Plano Nacional de Educação (2011-2020).
Brasília, 2010b.
INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Edições anteriores. Brasília: O Instituto, 2011a. Disponívem
em:http://portal.inep.gov.br/web/provinha-brasil/edicoes-anteriores
______.Matriz de Referência para Avaliação da Alfabetização e do Letramento
Inicial. Brasília (mimeo), 2011b. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/download/provinhabrasil/2011/matriz_provinha_leitura.pdf
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita.. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
KRAMER, S. A infância e sua singularidade. In: BEAUCHAMP, J. et al. Ensino
fundamental de 9 anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos. Brasília:
MEC, 2007.
LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
701
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
quais cores estão na capa; como é a quarta capa; se as letras são grandes; como é o
número da página, se há ilustrações; se sim, como elas são. Por meio desse diálogo,
as crianças perceberão as especificidades do livro e as escolhas feitas pelo autor,
ilustrador e editor.
Compreendendo a leitura enquanto um processo dialógico, em que o leitor
participa ativamente daquilo que está lendo, o professor também deve usar estratégias
para desenvolver a criticidade dos seus alunos. Nessa abordagem, é fundamental, ter
em mente que a obra literária é polissêmica, ou seja, possui vários significados. O
professor deve permitir que os alunos façam as suas leituras, não exigindo que todos
tenham a mesma compreensão sobre o que foi lido. Marcuschi (1991) sugere que,
durante as práticas de leitura na escola, seja respeitada a criatividade do aluno, ao
permitir que realize as suas próprias leituras, sem submetê-lo a respostas estanques,
como se um texto só tivesse apenas uma leitura. Uma vez que cada aluno traz
consigo uma história de vida que interfere na compreensão do que é lido e faz com
que um mesmo texto tenha diferentes leituras. Desse modo, o texto não é uma
aceitação passiva, mas, ativa do leitor, sendo a compreensão do texto desencadeada
pelo processo de interação, por meio da leitura de cada indivíduo.
Como a escola visa formar o leitor crítico, é necessário que tal instituição dê
condições aos alunos de exercitarem a sua criticidade. Por meio da leitura de uma
obra literária é possível alcançar tal objetivo. Para isso, é importante atentar para
aspectos da forma e do conteúdo do texto literário: Qual o tipo de discurso adotado
pelo autor? É monológico ou dialógico? Estético ou utilitário?; Há trabalho artístico
com a linguagem?; Qual o ritmo da narrativa?; Quem tem voz: o narrador ou as
personagens?; Como as personagens são apresentadas?; Onde ocorre a história?; O
ambiente interfere no decorrer da narrativa?.
Essas são apenas algumas questões para se pensar no momento de se
trabalhar o texto em sala de aula e, sobretudo, selecionar as obras que permitiram aos
alunos expandirem seus horizontes de expectativa. Só que para distinguir a obra
literária com trabalho estético daquela que visa apenas ao utilitarismo, exige do
professor conhecimentos básicos sobre a forma e o conteúdo dos textos literários.
Também se pode perguntar aos alunos a respeito do título da história antes de
começar a contá-la a fim de que criem hipóteses acerca do conteúdo, à medida que se
narra, perguntar aos alunos o que eles imaginam que pode acontecer e ao final, saber
quais as impressões que tiveram acerca da história, se concordam ou não, se
mudariam alguma coisa. Permitir que os alunos percebam que podem gostar ou não
706
Cuspe (1992); O Conde Futreson (1994); O Disco I: A Viagem (1996); O Disco II: A
Catástrofe do Planeta Ebulidor (1998); O Gordo Contra os Pedófilos (2001) e
Assassinato na Literatura Infantil (2005).
Embora estes doze títulos façam parte de uma coleção, é possível realizar a
leitura das obras aleatoriamente sem comprometer a compreensão do enredo. Apenas
em O Disco II: A Catástrofe do Planeta Ebulidor que o autor faz uma explicação
referente às obras anteriores a fim de situar o leitor. Marinho faz uma pequena
introdução, situando o leitor dentro do contexto geral da série, deixando-o à vontade
para ler antes esta pequena explicação ou recorrer a ela durante a leitura quando
julgar necessário. Não há, portanto, no discurso do autor, a imposição de uma forma
de leitura, mas a abertura para que o leitor aja conforme as suas necessidades.
O local e a data são bem marcados em todas as narrativas, mas não deixa a
obra datada ou descontextualizada. Embora Marinho use vários clichês da época e
produtos do período, a história não é comprometida. Talvez um leitor menor não
identifique esse recurso do autor para mostrar a condição financeira de determinado
personagem ou a ironia ao se referir ao produto em questão. Por isso a mediação do
professor é necessária par orientar possíveis dúvidas que não interferem na obra em
geral. Os conflitos e soluções adotadas pelos personagens são atemporais, podendo o
leitor se projetar e identificar-se com eles em qualquer momento. Fato comprovado
pelo sucesso de suas obras. Mesmo escrito a mais de quarenta anos, O Gênio do
Crime continua atraindo leitores de todas as idades.
Mesmo seguindo a estrutura de narrativas seriadas, mantendo um rol de
personagens, Marinho conseguiu inovar nas suas doze obras que compõem a Turma
do Gordo. Envolvidos nas situações mais diversas, os personagens valem-se dos
recursos tecnológicos da época para vencerem o mal ou dos conhecimentos e
instrumentos de que dispõem.
Marinho inova por adotar um discurso diferente do comum às narrativas para
crianças. Os fatos e pessoas são apresentados de forma carnavalizada, conferindo
originalidade à obra como destaca Zilberman (2005) e revelando aspectos caricaturais
de instituições e personalidades. Sua linguagem envolve a dessacralização de
instituições, pessoas e seus comportamentos. O frade João usa trechos bíblicos para
benefício próprio; a professora Jandira é apresentada de forma erotizada; agentes da
delegacia são corruptos; o gênio do crime na verdade é um bandido; detetive é
desbancado pela inteligência das crianças.
708
o campeonato de futebol entre escolas, em que apenas um time ganhou sete vezes, e
a Turma do Gordo determinou conseguir o tão sonhado caneco de prata.
Marinho preocupa-se com a construção da narrativa, desmontando o modo de
narrar convencional das obras infantis em que há linearidade na história, com começo,
meio e fim. Aparentemente, pareça sem nexo os episódios curtos e envoltos pelo uso
de imagens, há um fio condutor na narrativa. Nesse quesito, entra a participação do
leitor na ordenança dos fatos. O Caneco de Prata permite que o leitor construa o seu
modo de ler e dialogue com o texto. Sobre tal livro, Perrotti esclarece:
na faixa etária dos nove a onze anos possui grande poder curativo. Assim, as vítimas
são levadas para um acampamento em plena floresta amazônica, onde vivem presas
e quando completam onze anos são lançadas ao mar.
A forma de narrar é marcada pelo humor, pelo exagero dos fatos e pelo non
sense, que faz com que as cenas de violência causem o riso. Deve-se enfatizar que
que não há a banalização da violência na obra de Marinho, mas sim uma
representação crítica da sociedade em que se vive.
João Carlos Marinho, além de ser um grande nome da literatura infantil
brasileira, mostra-se acessível aos leitores promovendo encontros com os estudantes
para discussão de suas obras. A Global Editora possui uma página com informações
sobre Marinho e vídeos em que este explica como escreveu algumas de suas
principais obras. Há também outras informações sobre outras obras do autor, inclusive
artigos científicos sobre a produção de Marinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Scipione, 1995.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura a formação do
leitor: alternativas metodológicas. 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4 ed. São Paulo: Duas Cidades; Rio de Janeiro:
Ouro sobre Azul, 2004.
CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias. Uma estética da formação:vinte anos de
literatura juvenil brasileira premiada (1978-1997). 462p.Tese (Doutorado)-Assis, 2000.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Atlas
1991.
HUTCHEON, Linda. Uma Teoria da Paródia: ensinamentos das formas de Arte do
Século XX. Trad. Teresa Louro Pérez. Rio de Janeiro: Edições 70, 1985.
MARCUSCHI, Luiz Antonio.Análise da conversação. 2 ed. São Paulo: Ática, 1991
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Icone, 1986.
ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Literatura infantil brasileira: história e
histórias. 5 ed. São Paulo: Ática, 1999.
João Carlos Marinho. Disponível em:
http://www.globaleditora.com.br/joaocarlosmarinho. Acesso em: 02 mar. 2013.
712
INTRODUÇÃO
Educaçãolucienebtos@ig.com.br
713
De acordo com as características dessa faixa etária, Wallon (1981 apud LIMA,
2005), retrata esse período (denominado Puberdade/Adolescência) como sendo
constituída de grandes conflitos, auto-afirmação, questionamentos, onde se submetem
e apoiam-se nos grupos de amigos, contrapondo-se aos valores ensinados pelos
adultos com quem convivem. No aspecto cognitivo, trata-se de um nível maior de
abstração, possibilitando uma discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e
de sua dependência.
Nos estudos de Lima (2005), uma pesquisa feita com os adolescentes da 8ª
série de uma escola particular, analisou a resposta dos alunos às diversas perguntas,
entre elas, a questão “o que é ser adolescente para você?”. Com as respostas, o autor
ressalta que para esses alunos, o futuro é algo muito próximo, como se pudesse
serdefinido nesse momento. As respostas apontam ainda para uma interpretação de
que, o fato de haver uma ruptura para com o Ensino Fundamental, uma vez que estão
na última série dessa etapa, acreditam que a entrada para o Ensino Médio seja um
momento de definição do ‘saber o que querem’ para o seu futuro. A vida desses alunos
parece assumir uma característica mais séria, de maior comprometimento.
Assim, o objetivo deste estudo é o de entender melhor porque ocorre essa
separação de meninos e meninas durante as aulas de educação física, nas séries 6º e
9º do ensino fundamental e essa fase de transição que estão vivenciando.
Este trabalho tem como objetivo investigar a realidade concreta vivida por alunos de
escolas estaduais, municipais e privada da cidade de Bauru – SP para compreender
porque meninos e meninas são separados por ocasião durante aulas de Educação
Física.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
INTRODUÇÃO
É importante salientar que educar é uma tarefa complexa e, por isso mesmo,
avaliá-la também não pode ser um processo simplificado. No contexto educacional
está envolvida uma enorme gama de atores em diferentes níveis, mas todos
desempenhando papéis relevantes e precisam ser considerados em qualquer
processo avaliativo. Cunha (1999) aponta para o processo de avaliação de
professores direcionados a sua prática em sala de aula. Apontando para os atributos
que acompanham a ideia de “bom professor”, mas são frutos de julgamento individual
e não de fator coletivo pela categoria. Destaca ainda, que existe entre aluno e
professor, um jogo de expectativas relacionadas aos respectivos desempenhos, como
se existisse um consenso sobre os comportamentos que se espera de um aluno e de
um professor, entendendo-se que parte da relação professor-aluno é determinada
socialmente. A autora ainda comenta que para ser “bom professor” é aquele que
caracteriza dominar o conteúdo, escolhe formas adequadas de apresentar a matéria,
tem bom relacionamento com o grupo e entre outros.
Por um lado, a respeito como os professores avaliam seus alunos, nos estudos
de Mantovanini (2001) destaca que estes utilizam uma escala de critérios que segue
uma ordem de prioridades. Para apontar ser um bom aluno é identificado por algumas
características; a primeira pode ser a disciplina, aquele que não tumultua ou perturba a
ordem da classe. A autora continua que os critérios para ser bom aluno é aquele que
se encaixa em comportamentos desejáveis e atitudes em sala de aula, como ser:
disciplinado e assíduo, acatar a autoridade do professor, não tumultuar, ser
independente nas tarefas e afazeres escolares, fazer a lição com capricho, interessar-
se pela aula, não ser disperso e envolvendo todos os níveis de produção escolar das
crianças. Às concepções de “bom aluno” refletem-se as do “mau aluno”, para o qual
são encontradas descrições explícitas de que um é o oposto do outro. Dessa forma,
muitas das queixas docentes a respeito do desempenho escolar das crianças referem-
MÉTODO
Participantes
Participaram deste estudo 16 professoras que indicaram e avaliaram 32 alunos,
sendo 16 com problema de comportamento (PC) e 16 sem problema de
comportamento (sem PC). Os alunos com idade de seis anos estavam matriculados
no 1º ano do Ensino Fundamental. A idade das professoras variou de 23 a 50 (média
de 33,56, desvio padrão de 28,50) e todas tinham formação em Pedagogia. Para
participação, foram utilizados como critérios de inclusão: ser professor efetivo da rede
municipal de ensino e concordar com a participação espontânea.
720
O contato feito entre escola e família foi mais frequente para o Grupo clínico,
talvez devido ao comportamento-problema apresentado por esse Grupo, e os conflitos
aqui apontados também são para o Grupo clínico, ou seja, a família que não aceitou a
queixa escolar por parte da professora.
A estratégia utilizada pela escola para resolver os conflitos existentes nesses
dois casos foi à conversa. Com o Grupo não clínico, o contato não é tão frequente,
então, pode-se afirmar que este contato ocorre quando há comportamento indesejável,
já com o Grupo não clínico, surge somente de forma mais esporádica, em reuniões
escolares.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ACHENBACH, T. M.; EDELBROCK, C. S. The child brhavior profile: II Boys aged 12-
16. Journal of consulting and clinical Psychology, v. 47, n. 2, p. 223-233, 1979.
BIASOLI-ALVES, Z. M. M. Família – socialização – desenvolvimento. Tese (Livre
Docência) em Psicologia. 1995. 254f. Ribeirão Preto: USP, 1994.
BOLSONI-SILVA, A. T. A área das habilidades sociais no Brasil: uma análise dos
estudos publicados em periódicos. In: BANDEIRA, M.; DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL
PRETTE, A. (Orgs.). Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento
interpessoal. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 17-46,2006.
BOLSONI-SILVA, A. T.; CARRARA, K.Habilidades Sociais e Análise do
Comportamento: compatibilidades e dissensões conceitual-metodológicas. Psicologia
em Revista, v. 16, p. 330-350, 2010.
CUNHA, M. I. O Bom professor e sua prática. Campinas: Papirus,1999.
GOLDIAMOND Toward a constructional approach to social problems: ethical and
constitucional issues raised by applied behavior analysis.Behavior and social issues,
v. 11 p. 108-197 (originalmente publicado em 1974), Behaviorism, n. 2, p.1-84, 2002.
MANTOVANINI, M. C. Professores e alunos problema: um círculo vicioso. São
Paulo: Casa do Psicólogo 2001.
OLIVEIA, C.B. E. de; ALVES,P.B. Ensino Fundamental: papel do professor,
motivação e estimulação no contexto escolar. Paidéia, v.15, n. 31, p. 227-238,
2005.
PATTERSON, G. R., REID, J.; DISHION, T. Antisocial boys. Eugene: Castalia
Publishing Company, 1992/2002.
PINTO, F.C.F.; GARCIA. V.C.; LETICHEVSKY, A.C. Pesquisa Nacional qualidade na
Educação: a escola pública na opinião dos pais.Ensaio: aval.pol. publ. Ed. Rio de
Janeiro, v.14, n. 53, p 527-542, out/dez 2006.
STURMEY, P. Functional analysis in clinical psychology. Londres: British Library,
1996.
726
INTRODUÇÃO
1Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Faculdade de Filosofia e Ciências,
Campus de Marília – SP, Departamento de Fonoaudiologia, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia. Agências de Fomento: PROEX - Pró-Reitoria de
Extensão Universitária da UNESP, Fundo de Pesquisa da UNESP-FFC-Marília e FUNDUNESP –
Fundação para o desenvolvimento da UNESP. E-mail para contato: sandragp@marilia.unesp.br.
727
MÉTODO
Este trabalho é parte de um projeto maior, o Projeto AEPAI - Ações Educativas
para Prevenção de Acidentes Infantis: coleta de subsídios, elaboração de estratégias,
aplicação e avaliação, iniciado a partir do Edital 024/2004 do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em parceria com o Ministério
da Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”.
Ambiente
A pesquisa foi realizada no ano de 2012 em três escolas pertencentes à rede
municipal de ensino fundamental de uma cidade do interior do Estado de São Paulo,
com aproximadamente 220 mil habitantes. Foram utilizadas especificamente as salas
de aula do terceiro ano.
Participantes
729
A população participante da pesquisa foi composta por 495 alunos, sendo 51%
do sexo masculino e 49% do sexo feminino, com faixa etária de 7 a 10 anos e que
frequentavam o terceiro ano do ensino fundamental. A amostra pode ser considerada
como amostra não-probabilística, de acordo com Cozby (2003). Os professores das
salas concordaram em inserir a atividade como parte das atividades curriculares e com
a participação dos alunos, bem como assinaram o termo de consentimento.
Material
Foram utilizados termo de consentimento para o professor, folheto avaliativo do
aluno sobre prevenção de queimaduras elaborado por Gimeniz-Paschoal et. al. (2010)
e um teatro de fantoches sobre prevenção de queimaduras infantis.
O cenário do teatro foi elaborado com materiais recicláveis, tais como caixas
pequenas de papelão, meias, frascos de produto de beleza vazios, etc, para constituir
fogão, panela, tigela com pipoca, aparelho de televisão, plugue de tomada, fogos de
artifício, etc. Também fez parte do cenário duas caixas de papelão que foram
colocadas sobre a mesa do professor e um tecido grande que cobria as caixas e toda
a mesa, para ocultar os dois pesquisadores que ficavam atrás do teatro a fim de
manipular os fantoches e verbalizar o texto do teatro.
O folheto era composto por quatro situações ilustradas referentes ao risco e
quatro referentes à proteção para queimaduras, dispostos nas margens de meia folha
de papel A4, as quais deveriam ser ligadas a desenhos na parte central da folha que
sinalizavam respostas indicativas de “certo” (uma mão com o dedo polegar para
cima, em sinal de positivo), “errado” (uma mão com o dedo polegar para
baixo, em sinal de negativo) e “não sei” (um ponto de interrogação). As situações
ilustrando risco à queimadura foram: panela com o cabo para fora do fogão, criança
próxima à tomada da televisão, criança soltando fogos de artifício, panela com cabo
para dentro e criança perto do fogão. As situações ilustrando proteção foram: panela
com o cabo para dentro do fogão, adulto próximo à tomada da televisão, adulto
soltando fogos de artifício, panela com cabo para dentro e adulto perto do fogão.
O cenário do teatro de fantoche era manuseado para retratar de forma lúdica
situações do dia-a-dia no ambiente doméstico com crianças, abordando aspectos de
risco e de proteção para queimaduras infantis. O teatro contava a história de um
menino e sua mãe que estavam em cenas do dia-a-dia e aconteciam situações de
perigo em relação às queimaduras, as quais abordaram entre outras: cabos de
panelas voltados para dentro e para fora sobre o fogão, mexer em tomadas elétricas e
brincar com fogos de artifícios com a presença ou não de adultos. Entretanto, eram
730
PROCEDIMENTOS
RESULTADOS
dentro (sobre o fogão)”, que passou de 64% no pré para 78,9% no pós.A resposta
“Não sei” para uma situação de risco manteve-se no percentual de 08% do pré para o
pós, mas, em todas as demais situações, houve redução dos percentuais, que
alcançou até 4,8%. Assim, aqueles que tinham dúvidas sobre o que é correto ou não,
nas situações de perigo e de proteção apresentadas na atividade, a ação educativa
ajudou a esclarecer.
Tabela 1 – Distribuição das frequências relativas das respostas dos alunos do terceiro
ano do ensino fundamental em 2012, de acordo com as categorias de resposta e
antes e após ação educativa envolvendo teatro de fantoches sobre prevenção de
queimaduras (N=495).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ACKER, J. I. B. V.; CARTANA, M. H. F. Construção da participação comunitária para a
prevenção de acidentes domésticos infantis. Revista Brasileira de Enfermagem, v.
62, n. 1, p. 64-70, Jan/Fev, 2009.
BARACAT, E. C. E.; et al Acidentes com crianças e sua evolução na região de
Campinas, SP. Jornal de Pediatria, v. 76, n. 5, p. 368-374, 2000.
BERNARD-BONNIN, A. et al. Home injury patterns in children: a comparison by
hospital sites. Paediatr Child Health. v. 8, n. 7, p. 433-437, September, 2003.
BLANK, D. Prevenção e controle de injúrias físicas: saímos ou não do século 20?
Jornal de Pediatria, v. 8, n. 2, p. 84-86, 2002.
BLANK. D. Controle de acidentes e injúrias físicas na infância e na adolescência. In:
COSTA, M. C. O.; SOUZA, R. P. de (Org.). Avaliação e cuidados primários da
criança e do adolescente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p. 235-242.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, saúde. Brasília:
MEC/SEE, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Análise de Situação de Saúde. Política nacional de redução de morbimortalidade
por acidentes e violência.Portaria MS/GM nº 737 de 16/05/01, publicada no DOU nº
96 seção 1E de 18/05/01/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Análise de Situação de Saúde. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério
da Saúde, 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Política nacional de promoção da saúde – Brasília: Ministério da
Saúde, 2006.
BRASIL. Decreto nº 6.286, de 05 de dezembro de 2007. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF.
COZBY, P. C. Métodos de pesquisas em ciências do comportamento. São Paulo:
Atlas, 2003.
734
INTRODUÇÃO
1Licencianda em Educação Física, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – FC/UNESP,
Departamento de Educação Física, membro do GEPLE, katycveraldo@hotmail.com
2Professora de Educação Física, membro do GEPLE, patriciamc_paty@hotmail.com
3Doutora em Educação Física, Departamento de Educação – UNESP - Grupo de Estudos do Lazer – GPL
(SBORQUIA; GALLARDO, 2002, p.109). Segundo Belloni (2001) (apud BETTI, 2003)
as mensagens midiáticas sobre as quais as crianças tem livre acesso não atendem as
expectativas educativas e pedagógicas, mas sim a lógica da economia mundial.
METODOLOGIA
etária de três a cinco anos. Nas aulas foram apresentados vídeos e posteriormente
eram realizadas vivências com músicas para que as crianças se manifestassem ao
modo delas, sem intervenção do professor. Nos vídeos e nas músicas haviam
conteúdos de danças veiculadas pela mídia e de danças populares, regionais e
cênicas. Os gêneros apresentados foram: frevo, salsa, valsa, balé, forró, samba de
gafieira, dança de rua, flamenco, tango, funk, axé e sertanejo, além das musicas dos
artistas: Xuxa, Souljaboys, Beyoncé, Eminem e Rihanna. Optamos por esta
intervenção para analisar como as crianças se comportam aos variados tipos/gêneros
de dança.
DISCUSSÃO
de dança. Em relação as músicas da Xuxa, concluímos que este tipo de música esta
dentro da cultura das crianças, fazendo com que elas se manifestassem dançando as
coreografias pré-estabelecidas pela industria cultural. O sertanejo e o funk encontram-
se predominantemente na mídia nos dias atuais, estando mais disseminados na
sociedade, particularmente nesta região do país, fazendo com que as crianças
reproduzam os gestos sugeridos pela música. Em relação a apenas as meninas terem
se manifestado no balé, podemos verificar que o modo como o balé é apresentado na
mídia, respectivamente pela televisiva, tem reforçado a ideia de que a dança em si é
destinada somente as mulheres, este aspecto fica evidente quando nas propagandas
de brinquedos para meninas, as Barbies bailarinas, os filmes das Barbies bailarinas e
nos programas de televisão, o balés românticos aparecem dançados apenas por
meninas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste sentindo Betti (2003), afirma que não se pode ignorar a televisão e as
práticas corporais que ela retrata. Segundo Betti (2003), a cultura corporal se encontra
740
Contudo, tornamos a fazer a pergunta, o que isso tudo tem haver com o projeto
de pesquisa e extensão? Nos estudos de (Sborquia e Gallardo 2002), os autores
relatam que ao percorrer algumas escolas públicas puderam observar que o tema
cultura corporal (dança) nas aulas de Educação Física dificilmente é trabalhado,
relegado apenas eventualmente em datas comemorativas, assim as aulas acabam por
se tornar um espaço para ensaios, reproduzindo danças veiculadas pela mídia, sem
qualquer análise e contextualização. [...] e o professor de educação física não percebe
as implicações que essas ações provocam na educação da sociedade. (SBORQUIA e
GALLARDO, 2002, p. 106).
REFERÊNCIAS
BETTI, M. Educação física e mídia: novos olhares, outras práticas. São Paulo:
Hucitec, 2003.
DALLA COSTA, R. M. C. Cultura de massa e escola: análise da influência da mídia no
cotidiano das práticas escolares.In: Anped Sul, V. 2004, Curitiba. Anais... Curitiba:
Anped, 2004. v. 1. p. 1-10.
FREIRE, I. M.Dança-Educação: o corpo e o movimento no espaço do
conhecimento.Cad. CEDES, Campinas, v.21, n.53, abr. 2001.
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 4.ed.
São Paulo: Scipione, 1997. 224 p.
GONÇALVES, E. SÁ, L. CALDEIRA, M. Estudo de caso. DEFCUL - Metodologia de
investigação – 2004/2005.
LIMA, P. R. F.; FROTA, M. A.Dança - Educação para Crianças do Ensino Público: é
Possível?Revista bras. Ci e Mov. 2007; v.15, n.3: p.137-144, 2007.
MARCELLINO, N. C. Lúdico, educação e educação física. Editora UNIJUÍ. Ijuí – Rio
Grande do Sul, 1999. 230 p.
______. Estudos do Lazer: uma introdução. 4. ed. Campinas, SP:Editora Autores
Associados, 2006. 114 p.
MARQUES, I. A. Dançando na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007
______. Ensino de dança hoje: textos e contextos. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
SBORQUIA , S. P; GALLARDO, J. S. P. As danças na mídia e as danças na
escola.Rev. Bras. Cienc. Esporte.Porto Alegre, v. 23, n. 2, p. 105-118, jan. 2002.
743
INTRODUÇÃO
conta com a participação de 2 alunos bolsistas do curso de Direito e Serviço Social e 1 aluna
colaboradora do curso de Direito da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais- UNESP de Franca.
744
Os direitos humanos, não nos são dados pelo Estado ou construídos a partir da
luta de terceiros. São construídos e representados pelo cotidiano social. Não são algo
estático, determinado pelas Constituições e Tratados, mas estão em constante
mutação, ampliação, posto que são fruto da luta e das tramas coletivas. Não são algo
de caráter universal, não são os mesmos nos diferentes países, e nem o podem ser,
posto que são provenientes de diferentes culturas, cada qual com suas
particularidades. Não devem representar meros objetos de discussão acadêmica, ou
mera utopia, deve-se buscar, incessantemente, sua aplicação prática, sem a qual
esvazia-se de qualquer sentido. Direitos humanos são produto cultural.
A Educação, por sua vez,é um dos mais fundamentais Direitos Humanos. Mas
não falamos aqui da educação castradora e alienante, voltada apenas para as
necessidades de mercado. A Educação como direito fundamental deve buscar formar
verdadeiros cidadãos, críticos, participativos, inquietos e provocadores.
É extremamente necessário que, durante a formação escolar do indivíduo
esteja inserida a temática relativa aos Direitos Humanos.
inserido para que assim, o saber possa fazer sentido, elaborar a crítica e transformar a
sociedade.
Conforme palavras do mestre Paulo Freire (1987, p. 40),
Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo
e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados; Tão mais
desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio.
Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo.
Mas, precisamente, porque captam o desafio como um problema em
suas conexões com os outros, num plano de totalidade e não como
algo petrificado, a compreensão resultante tende a tornar-se
crescentemente crítica, por isso, cada vez mais desalienada.
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
749
dias atuais. Ainda neste módulo, abordar-se-á o processo eleitoral no âmbito histórico
e político e as diferentes formas de representações e poderes.
O módulo IV, intitulado “O Estado Democrático e os direitos fundamentais”, tem
por objetivo abordar a origem dos Direitos Humanos, sua divisão em gerações, bem
como sua influência nos diferentes momentos da história nacional. Para tanto, será
necessário situar os direitos humanos no Brasil no decorrer do século XX, levando-se
em conta a república cafeeira e os regimes ditatoriais desse período, o processo de
redemocratização pós-ditadura e as garantias fundamentais trazidas pela Constituição
Federal de 1988.
Já o quinto e último módulo, “O Direito de Todos”, a ser realizado no mês de
dezembro pelos bolsistas, serão reunidos todos os materiais construídos no decorrer
das aulas e atividades para organização e confecção da cartilha didática pelos alunos
envolvidos no projeto. Na sequência, este material será oferecido aos alunos do Ciclo
II do Ensino Fundamental da escola em que o projeto foi desenvolvido.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1Professora do ICH PUC Minas – Curso de Letras. Ex- coordenadora de área de Letras (2010 a 2012),
atual Coordenadora de Gestão de Processos Institucionais do PIBID PUC Minas.
2Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Minas Gerais, professora supervisora de
Nosso sincero agradecimento à ex-aluna do ensino médio, Rafaela Abreu, pelo depoimento enviado,
com reflexões sobre suas vivências no PIBID, quando da realização do projeto “Memorial”.
4O PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência, da CAPES/MEC) da PUC Minas
começou com cinco áreas – Letras, Filosofia, Ciências Biológicas, Física e Matemática (2010). Em agosto
de 2012, ampliou-se, incluindo-se as áreas de História, Geografia, Ciências Sociais, Educação Física e
Ciências Biológicas (Betim) e Pedagogia; hoje são 298 bolsistas, 11 escolas, sendo 45 professores
supervisores, 240 graduandos, 11 professores coordenadores de área, 02 coordenadores gerais. Com as
novas áreas contempladas, o ensino fundamental I e II também foram incorporados.
754
O ato de narrar sua própria história, mais do que contar uma história
sobre si, é um ato de conhecimento. Através da narrativa, o sujeito
constrói uma cadeia de significantes que estrutura formas cognitivas de
representar o mundo e compartilhar a realidade social, ao mesmo tempo
em que engendra sonhos e desejos, mitos e utopias (PÉREZ, 2002, p.
55).
artístico, para que pudessem sentir-se a vontade para ilustrar o trabalho de acordo
com as afinidades e identificações entre sua produção e a obra. Com o trabalho
concluído, os alunos puderam contemplar, como espectadores, um pouco de sua
própria história.
Concluído o projeto, muitas constatações, uma central: a produção do
memorial trouxe lembranças que desencadearam um processo emocional expressivo.
Os momentos dos registros se transformaram, para todos os envolvidos, em situações
de aprendizagem muito significativas, uma vez que a emoção, de acordo com diversas
teorias propostas por renomados autores, tem papel fundamental no aprimoramento e
fixação do conhecimento. A atividade deixou, além de um belo registro, a certeza de
que outras práticas são possíveis no âmbito escolar, inclusive na esfera pública. Existe
a possibilidade de uma outra escola, que contemple um outro universo, que é o nosso
mesmo – mas tão afastado de nós, pelo caráter volátil que os conhecimentos formais
ganham dentro de contextos em que as prioridades se perdem. Apresentar aos alunos
das licenciaturas esta escola, em que o discente se propõe a um trabalho longo e
árduo e o faz, com propriedade, seria o maior incentivo aos futuros professores.
O projeto desenvolvido reiterou o anseio de fugir do senso comum que permeia
os planejamentos escolares e o desejo de construir com o aluno um universo em que
ele pense, sistematize, conheça, analise, associe e produza, prazerosamente; deixou
o desejo de se apresentar à escola uma forma eficiente de trabalho, que resulta em
envolvimento e resultado. Forma que não é nova e nem mágica, apenas uma
reorganização de conteúdo, em que os conhecimentos formais são o meio e não o fim,
são o suporte para o desenvolvimento de habilidades e competências. Crenças como
“o aluno não gosta de estudar”, “o professor não é um profissional feliz” e “é
impossível fazer com que jovens se formem e ingressem na carreira docente”, na
realização de atividades como memorial acabam sendo abaladas; aprender pode ser
prazeroso se houver sentido evidente. O fato de a escola tratar o conhecimento como
fim em si mesmo coloca os sujeitos envolvidos no processo educacional em posição
difícil de lidar: os alunos pensam ser esse saber elaborado demais e sem objetivos
práticos; o professor, rodeado por planejamentos, currículos e cobranças por vencer
todo o programa, não encontra tempo para fazer um trabalho diferenciado, o que
assusta os licenciandos (muitos até desistem após o primeiro estágio curricular!).
A experiência trouxe a certeza de que é possível propor novos modos de
trabalho com os conteúdos formais, o que se precisa é investir tempo. Ver alunos
produzindo, sem nenhuma expectativa de alcançar uma recompensa (nota), é
761
realmente estimulante e faz com que o professor perceba valor e evolução naquilo que
se propõe. O ofício de ensinar só pode sobreviver se aparecerem os resultados: ver o
outro aprender e saber o que fazer com o que aprendeu é o que elimina a descrença e
dissipa o desânimo. O aprendizado constatado é o fundamento do fazer docente, é
para que ele aconteça que se desenvolvem todos os dias novos estudos, novas
técnicas. É para que se efetive a aprendizagem que se realizam estudos e debates,
propõem-se reorganizações curriculares e se criam estratégias; portanto é desse
processo todo que se alimenta o professor. Por fim, destaco a grande importância do
projeto por ter trazido aprendizado essencial não só aos alunos, mas também aos
demais envolvidos na atividade. Aprendizado este que nos faz percorrer outros
caminhos e fazer novas buscas, apurar a cada dia o nosso olhar para o conhecimento
e para o outro, utilizar o que sabemos para aprender mais, ensinar mais, fazer a
educação progredir.
com signos linguísticos e o sistema de representações que substitui o real. Tal sistema
de representações é construído socialmente5.
O trabalho com o memorial, mais do que pela qualidade do material produzido,
destacou-se pela possibilidade de crescimento pessoal, de ampliação da visão crítica
e reflexiva que o processo ofereceu. E, do planejamento, à monitoração dos trabalhos
e à finalização, os envolvidos puderam se enxergar atores do processo de
"ensinagem" (cf. Alícia Fernandez, 1991), termo que acopla a dupla dimensão do
processo de ensino e aprendizagem (como meio de entendê-los de forma imbricada)...
Alguns gêneros têm lugar cativo na escola (recortando-os da complexidade
constitutiva, os autores de livros didáticos e materiais de ensino deles se apropriam e
o transpõem para o ensino de língua de uma forma às vezes reducionista),
perpassando todo o espectro da educação básica; outros há mais circunscritos, seja
pelo trabalho mais acurado que demandam (como artigos, resenhas temáticas, etc.),
seja pelo grau de autonomia para a pesquisa (bibliográfica, de registros imagéticos e
outros) que exigem. Por tudo isso, no processo de construção do memorial, ficou claro
o quanto a escrita é ferramenta formativa indispensável ao dizer e ao dizer-se, em
qualquer faixa etária, mas, de forma especial, na efervescente adolescência, momento
de conflitos vários.
Magistralmente, Larrosa (2002) revela o valor de que se revestiu o trabalho
com o saber extraído da experiência, das vivências, como o que ora apresentamos:
5VerSouza e Costa (2004) sobre como o intercâmbio social contribui para a construção do pensamento
generalizante, a partir da significação das experiências em categorias conceituais.
763
o eu em sua relação com o outro. São vozes, que se tornam audíveis, de pessoas
concretas, essencialmente históricas, falando sobre si e seu estar no mundo
(BAKHTIN, 2003). O discurso dos jovens a(u)tores do E.M – não inaugural, porém
autêntico e legítimo - passou a fazer parte de um acervo de dizeres cujos sentidos se
constroem/ construíram na relação com o outro e suas histórias rememoradas, numa
relação eminentemente dialógica. O ato de registrar - seja uma história, uma prática,
uma experiência marcante, uma estratégia bem sucedida6 - tem o poder de perenizar
o relatado, de poder ser aproveitado como base de um discurso posterior;
potencialmente, serão interdiscursos que se podem cruzar e consolidar uma maneira
nova de ver ou de fazer algo. E é gratificante perceber o quanto essa práxis da ação /
reflexão mediada pela escrita / ação evidencia gradual construção da autonomia dos
participantes, com mudanças em suas concepções e formas de trabalho com a escrita,
pela autopercepção como escritor...
Rubem Alves (1980) afirma que para se acordar o educador latente no
professor, há que se “regenerar o discurso”, pois é preciso “coragem para dizer em
aberto os sonhos que nos fazem tremer”. Em extensão, também precisamos acordar
os aprendizes em nossos alunos (do EM e da graduação). Como? Falando e
ensinando-lhes a falar. A palavra é nosso instrumento maior...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6Passada esta etapa de fomento à narrativa de si e seus (a)fazeres, como forma de (re)construção
identitária, levada a cabo com os alunos do ensino médio, passamos a uma nova etapa, inaugurada com
o VI Seminário do PIBID (dezembro/2012), cujo mote foi "Professor: essa profissão precisa (se)
dizer". Têm sido gestados os cadernos de relatos e reflexões dos professores da educação básica.
764
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1980.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática na escola pública. São Paulo: Ática,
2001.
INTRODUÇÃO
7Universidade Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP - Campus de Bauru - Faculdade de Ciências.
Departamento de Matemática - Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino - Fomentado pela Pró-Reitoria de
Graduação - PROGRAD.
8Coordenador: Departamento de Matemática/Unesp/Bauru. lfcruz@fc.unesp.br
9Bolsista 2011: Departamento de Matemática/Unesp/Bauru. rafaehuu@hotmail.com
10Bolsita 2012: Departamento de Matemática/Unesp/Bauru. aiara_cristina@hotmail.com
766
METODOLOGIA
na forma de provas dissertativas as quais foram atribuídas notas de zero a dez, o mais
importante foi o acompanhamento dado a eles e o progresso alcançado na
assimilação e aplicação dos conceitos, principalmente perceber que ficaram motivados
para continuarem os estudos em matemática.
Ao final do projeto foi realizada uma cerimônia de entrega dos certificados de
participação aos concluintes e uma reunião de confraternização entre os alunos, os
bolsistas e os orientadores. Sentimos que houve uma integração entre o bolsista e os
alunos e um vínculo de amizade realmente se estabeleceu. Todos muito agradecidos
com a oportunidade que tiveram, manifestando a motivação em continuarem os
estudos, prestarem o vestibular e frequentarem uma universidade. Ser um
universitário, ser um aluno da Unesp é um sonho para a maioria deles.
DISCUSSÃO
Quantidade de alunos
Escolas Públicas
2011 2012
01 E. E. Prof. Francisco Alves Brizola 2 –
02 E. E. Prof. Azarias Leite – 1
03 E. E. Prof. Durval Guedes de Azevedo 2 2
04 E. E. Prof. Guia Lopes 1 1
05 E. E. Irmã Arminda Sbrissia 1 1
06 E. E. Prof. Joaquim Rodrigues Madureira 2 1
07 E. E. Prof. José Ap. Guedes de Azevedo 1 1
08 E. E. Prof. Luiz Castanho de Almeida 2 1
09 E. E. Padre Antonio Jorge Lima 1 1
10 E. E. Prof. Plínio Ferraz 1 2
11 E. E. Profª. Stela Machado 1 2
12 E. E. Prof. Walter Barreto Melchert 1 2
Dos 22 concluintes nestes dois anos a maioria prestou vestibular para área de
exatas, sendo que 13 deles com a primeira opção em matemática. Três foram
aprovados, 3 deles em 2011 e 2 em 2012, e estão cursando o Curso de Licenciatura
em Matemática da Unesp, campus de Bauru. Outros 5 foram aprovados em Cursos de
Matemática de outras Universidades Particulares.
Este projeto foi apresentado em alguns eventos e teve o seu conteúdo
publicado nos cadernos de resumos e/ou anais dos mesmos:I Encontro do Núcleo de
Ensino da Unesp de Bauru, Bauru, 2011; I Congresso Nacional de formação de
professores e XI Congresso Estadual Paulista sobre formação de Educadores, Águas
de Lindóia, 2011; 6º Congresso de Extensão Universitária da Unesp, Águas de
Lindóia, 2011; II Fórum de Extensão e III Amostra de Projetos de Extensão da Unesp
de Bauru, 2012 e 2º Congresso Paulista de Extensão - 2º COPEX, São Paulo, 2012.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
773
REFERÊNCIAS
BIANCHINI, E., PACCOLA, H. Matemática. 3. ed. São Paulo: Moderna, 1995, v.3.
CURY, H. N. Análise de erros: o que podemos aprender com as respostas dos
alunos. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2007.
D'AMBROSIO, U. Educação matemática: da teoria à prática. Papirus, 1996.
GONÇALVES, E. M.; CHUEIRI, V. M. M. Funções Reais de uma Variável Real. São
Paulo: Cultura Acadêmica Editora: UNESP, 2008.
GONÇALVES, E. M.; CHUEIRI, V. M. M. Trigonometria. São Paulo: Cultura
Acadêmica Editora: UNESP, 2008.
FREINET, C. As técnicas Freinet da escola moderna. Lisboa: Estampa, 1975.
FREIRE, P. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez, 2001.
POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 1978.
775
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
ENSINO MÉDIO NO BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
somente a partir de 1772 – eram um sistema não seriado de aulas avulsas, com
professores mal preparados/remunerados e vitalícios no cargo, custeado pelo recém-
criado subsídio literário (PINTO, 2007).
Segundo Romanelli (1992, p. 38), ao final do século XVIII a colônia brasileira
apresentava um quadro educacional deplorável: além de “algumas aulas régias
criadas com a reforma pombalina”, possuía “algumas escolas primárias e secundárias,
em mãos de eclesiásticos”.
No inicio do século XIX, o Brasil passou por importantes acontecimentos
históricos (vinda da família real portuguesa para o Brasil e Independência política /
instauração do Império no país), sem que, no entanto, o modelo agro-exportador
(baseado na monocultura, no latifúndio e no trabalho escravo) fosse alterado e o
quadro educacional brasileiro significativamente modificado ao longo do século.
A partir da chegada da família real, em 1808, são criados os primeiros cursos
superiores (não-teológicos) na Colônia, com a clara função de formar os quadros
militares e administrativos de que a monarquia portuguesa aqui instalada necessitava,
bem como das elites governantes, ficando “os demais níveis de ensino em situação de
abandono total” (ROMANELLI, 1992, p. 38).
O Ato Adicional de 1834, editado no período Imperial, representou um duro
golpe à educação daqueles não pertencentes à classe dominante/dirigente, uma vez
que por tal ato o governo central delegou às Provinciais a responsabilidade pela
educação primária e secundaria. No entanto, as Províncias, inteiramente entregues a
si mesmas, desamparadas financeiramente pelo governo central, pouco puderam
fazer em benefício de tais ramos escolares (HAIDAR; TANURI, 1998).
O caráter elitista e excludente da educação brasileira, cuja gênese remonta ao
início do período colonial, não se alterou durante o Império. Nesse período, temos a
educação das elites (como mera ilustração de poucos ou com a função de preparação
para o exercício das atividades políticas/administrativas) e a educação elementar, para
poucos (que buscavam, sobretudo, status/ascensão social), que não abrangia o
grande contingente de escravos e de brancos pobres.
Assim, ao final do Império, o quadro geral da educação brasileira pouco diferia
da situação herdada do período colonial: “poucas escolas primarias, os liceus
provinciais, em cada capital, colégios particulares, em algumas cidades importantes, e
alguns cursos superiores” (ROMANELLI, 1992, p. 40).
No período conhecido como Primeira República (1889-1930), o campo
educacional brasileiro não sofreu alterações significativas e o binômio “elitismo e
778
exclusão” não deixou de ser a sua forte marca. Como nesse período a população
ainda se concentrava na zona rural, as técnicas de cultivo (arcaicas) não exigiam
nenhuma preparação e os índices de urbanização/industrialização eram baixos, a
escola não despertava, ainda, o interesse da maioria da população. Basicamente,
eram as classes médias e operárias urbanas que procuravam a escola,porque dela
precisavam para ou ascender na escala social ou para obter um mínimo de condições
para consecução de emprego nas poucas fábricas.
Com o advento da Revolução de 1930, a passagem de uma sociedade agrária
para um modelo urbano-industrial é acelerada, impondo a necessidade econômica e
social de escolarização. O modelo econômico em emergência passa, então, a fazer
solicitações à escola: formação de mão de obra para ocupar funções nos setores
secundário e terciário da economia. Um contingente cada vez maior de extratos
médios e, agora, populares, passam a pressionar pela expansão do sistema escolar.
Durante a era Vargas (1930-1945) e no bojo do contexto descrito, importantes
transformações marcam o campo educacional brasileiro, com significativas alterações
no plano da educação secundária (correspondente ao ensino médio de hoje), cuja
organização seriada era uma exceção e até então imperava o regime de “exames
parcelados” para ingresso no ensino superior (ROMANELLI, 1992).
Em 1931, durante o governo provisório de Vargas, teve inicio a chamada
reforma Francisco Campos (ministro do recém-criado Ministério da Educação e Saúde
Pública), a qual organizou, mediante uma série de decretos, o ensino superior,
secundário e comercial.
Apesar de importante, uma vez que, pela primeira vez, atingiu a estrutura do
nosso ensino e incidiu sobre todo o território nacional, tal reforma pecou por não
estabelecer nenhuma articulação entre os cursos profissionais (que não davam acesso
ao ensino superior) e o secundário. Além disso, só “tratou de organizar
preferencialmente o sistema educacional das elites”, deixando “completamente
marginalizados o ensino primário e os vários ramos do ensino secundário profissional”
(salvo o comercial) (ROMANELLI, 19992, p. 143).
Quanto ao ensino secundário, a Reforma Francisco Campos, (Decreto n.
19.890/1931) veio conferir organicidade a tal escolaridade, estabelecendo
definitivamente o currículo seriado, a frequência obrigatória e a divisão do curso em
dois ciclos (fundamental, de 5 anos e complementar, de 2 anos), com duração total de
7 anos. Assim, tal reforma significou a superação definitiva dos exames parcelados.
779
Ensino Médio pelo PNE 2001-2010 não foram alcançados (tal qual noutras
etapas/modalidades de ensino).
Para se ter uma ideia da situação do Ensino Médio no Brasil, na faixa etária de
15 a 17 anos, 1,6 milhões estão fora da escola; segundo dados do Censo de 2009, os
índices de evasão e repetência no Ensino Médio foram, respectivamente, de 11,5% e
12,6%; o índice de distorção idade-série foi de quase 50%; a razão aluno/turma em
2010, na rede estadual (rede que responde por 96% das matrículas públicas do ensino
médio no Brasil) foi de 34 (contra 30 na rede privada e 31 na rede federal); e o valor
médio praticado por aluno/ano do ensino médio nas rede estaduais em 2010 foi de R$
2.843,00 (bem inferior a anuidade média de cerca de R$ 10.400,00 praticada na rede
privada e ao valor aplicado por aluno de educação básica nas instituições federais de
ensino, de cerca de R$ 10.525,00). Em 2010, das escolas estaduais brasileiras com
atendimento ao ensino médio, apenas: 72% delas possuíam quadra de esporte; 67%
contavam com biblioteca; e somente 43% dispunham de laboratório de ciências
(PINTO; AMARAL; CASTRO, 2011).
Tal quadro sombrio nos mostra que no Brasil, apesar de uma rápida expansão
do ensino médio, “não se tem produzido a democratização efetiva do acesso à última
etapa de escolarização básica, mas sim um processo de massificação do ensino,
desvinculado dos interesses dos adolescentes e jovens e em condições objetivas
muito precárias” (KRAWCZIK, 2011, p. 760).
Dos 5,1% de investimento público direto em educação em relação ao PIB
praticado em 2010, apenas 0,8% foi aplicado no ensino médio (no ensino fundamental,
o percentual foi de 3,1%).
Segundo projeções da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a
demanda de matrículas para a faixa etária de 15 a 17 anos para 2016 (prazo final para
implantação da nova obrigatoriedade escolar) é de 1,5 milhões. Para o atendimento de
tal demanda e dos que já contam com acesso a tal escolaridade, com o mínimo de
qualidade (insumos básicos), a Campanha prevê a necessidade de um investimento
adicional da ordem de R$ 3.643.905.000,00, ao passo que o MEC defende a posição
de que não é preciso investir mais nada, além do que já se pratica, para garantir
acesso e qualidade para todos no ensino médio. Trata-se, portanto, de um desafio
nada fácil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
3A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas
anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. (SEVERINO, 2007, p. 122).
788
4A Teoria da Escola Dualista “foi elaborada por C. Baudelot e R. Establet e exposta no livro L´École
Capitalist em France (1971). [...] os autores se emprenham em mostrar que a escola, em que pese a
aparência unitária e unificadora, é uma escola dividida em duas (e não mais do que duas) grandes redes,
as quais correspondem à divisão da sociedade capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o
proletariado” (SAVIANI, 2007, p. 25).
789
5Cada trabalhador é sistematicamente treinado para alcançar o mais alto grau de eficiência e aprende a
fazer espécie de trabalho superior, que não conseguia fazer sob os antigos sistemas de administração; ao
mesmo tempo adquire atitude cordial para com seus patrões e condições de trabalho, enquanto antes
grande parte de seu tempo era gasto em crítica, vigilância e suspeita e, às vezes, franca hostilidade. Este
benefício generalizado a todos os que trabalham sob o sistema é, sem duvida, o mais importante
elemento na questão (TAYLOR, 1990, p. 103).
791
Sabemos também que este período foi marcado pela inserção da corrente
Neoliberal no país “que exige racionalização do uso de recursos finitos, redução da
presença do Estado no financiamento das políticas sociais e aumento da flexibilidade,
qualidade e produtividade no sistema produtivo” (KUENZER, 2001, p. 66). O Estado se
torna mínimo por delegar suas responsabilidades para organizações privadas, como
saúde, educação e segurança, crescendo com isso a prestação de serviços e a
terceirização da mão de obra, “um sem-número de ocupações precárias que embora
ainda sirvam à sobrevivência longe estão de permitir um mínimo de dignidade e
cidadania” (KUENZER, 2000, p. 27). Se já existia a fragmentação do trabalho, com
esta nova opção, as empresas de grande porte eximam-se da responsabilidade sobre
estes trabalhadores, que recebem cada vez menos, e entendem pouco do processo
que estão desenvolvendo.
É o mercado quem define onde o estado deverá investir. Se há uma
necessidade de mão de obra especializada na área técnica, o estado firmará
programas de capacitação técnica, incentivando escolas e institutos a abrirem vagas
de ensino nestas áreas, ele também oferta o ensino, com uma qualidade inferior, mas
a vaga existe.
O ensino sempre chega às famílias da classe popular, um exemplo são os
Liceus de Ofícios da Prefeitura Municipal de Curitiba, instalados nas ruas da cidadania
que passaram a oferecer cursos de qualificação e aperfeiçoamento não estando
sujeito a organização curricular (decreto 2.208/97, art. 4º). Coincidentemente ou não
com o período Imperial estes Liceus também oferecem cursos gratuitos para jovens a
partir de 16 anos que se encontra em vulnerabilidade social. É o Estado servindo ao
capitalismo, incentivando os filhos da classe trabalhadora a se inserir no mercado de
trabalho como operador de tarefas. Quanto aos filhos da elite, a educação é
diferenciada, são formados para o rol dos intelectuais da sociedade, pois oensino
superior não é para todos, “mas sim para dirigentes e técnicos de alto nível, para o
que se exige estudantes bem preparados pela educação primária e secundária, cujos
egressos devem ser rigorosamente selecionados, premiando os que sejam realmente
competentes” (KUENZER, 2001, p. 68).
Muito comum para uma sociedade fundada na meritocracia e “de maior
desigualdade econômica, social, cultural e educacional do mundo, na qual se
legalizam o privilegio e a própria desigualdade. Uma sociedade legalista, mas
profundamente injusta e, portanto, de fraca legitimidade” (FRIGOTTO, 2004, p. 55),
onde todos agem na normalidade frente às discrepâncias sociais, os 10% mais ricos
793
6Graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1984) e doutorado em Ciência
Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (1993). Atualmente é Professor Livre Docente da
Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Economia , com ênfase em Políticas
Sociais e do Trabalho. Atuando principalmente nos seguintes temas: políticas de trabalho.
794
7Devemos aqui ressaltar o duplo sentido de trabalho: “a) ontológico, como práxis humana e, então, como
forma pela qual o homem produz sua própria existência na relação com a natureza e com os outros
homens e, assim, produz conhecimento; b) histórico, que no sistema capitalista se transforma em
trabalho assalariado ou fator econômico, forma específica da produção da existência humana sob o
capitalismo; portanto, como categoria econômica e práxis produtiva que, baseadas em conhecimentos
existentes, produzem novos conhecimentos” (RAMOS apud FRIGOTTO e CIAVATTA, 2004, p. 46).
795
conformados ao meio, para isso a utopia precisa sim brotar e transcender ao mais alto
nível da realidade, admitindo que os avanços e retocessos ainda estão presentes na
educação brasileira e que o Ensino Profissional Integrado ao Ensino Médio pode ser
objeto de mobilização social.
Seguindo o fio da história nos deparamos com a base do preconceito com todo
e qualquer trabalho manual, tudo que fosse delegado a um escravo ou mestiço, seria
considerado um trabalho desqualificado. Sabemos que nossa sociedade se construiu
sobre um regime escravocrata perverso, além disso, não havia um sistema de
educação, já que ao negro não era permitido o acesso às letras, por este não ser
considerado um cidadão de direito.
Quando no inicio de nossas reflexões apontamos que foi preciso reconstruir
este conceito estavamos nos referindo que a educação integrada vai além de um
currículo que admite matérias técnicas distribuídas por quatro anos dentro da grade de
cada curso. Nossos jovens estão sedentos por conhecimento, estão preparados para
serem cidadãos, muitos precisam efetivamente da escola, outros nem tanto, pois as
condições financeiras da família podem suprir as deficiências da escola, mas para os
que não possuem outro recurso a educação profissional integrada pode leva-los à
compreensão das relações de poder que estão implícitas nas divisões de classe.
Várias vezes reafirmamos que a educação não é redentora, ela por si só não pode
fazer revolução e que a desigualdade é produzida na sociedade. A escola pode
contribuir para que o sujeito que dela sai seja capaz de mobilização em busca de
minimização das ideologias dominantes, ou que seja por elas dominado.
Nosso titulo se referia à superação da dualidade estrutural por meio da
educação profissional integrada ou se esta não passaria de uma utopia. O que seria
de nós se não sonhássemos? Ou melhor, o que seria dos desvalidos da sorte se não
houvesse propostas utópicas para lutarmos?
REFERÊNCIAS
DOMINSCHEK,D.L. A concepção de ensino pensada por Roberto Mange - a formação
de mão de obra SENAI: a escola do SENAI – PR – In:História & Ensino, Londrina, v.
17, n. 1, jan./jun. 2011
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria (Orgs.). Ensino Médio: ciência, cultura e
trabalho. Brasília: MEC, SEMTEC, 2004.
796
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
[...] o ouvir como meio, implícito nas outras atividades musicais, e o ouvir
como fim em si mesmo. No primeiro caso, o ouvir estará monitorando o
resultado musical nas várias atividades. No segundo, reafirma-se o valor
intrínseco da atividade de se ouvir música enquanto apreciação musical.
(FRANÇA e SWANWICK, 2002, p. 12).
Nos últimos anos, estimulados pelo retorno ‘oficial’ da música aos currículos da
educação básica e da produção cada vez mais constante de bibliografia especializada,
os educadores têm se preocupado em introduzir a apreciação musical entre seus
alunos. Pela experiência que adquirimos no cotidiano do trabalho docente e pelas
respostas dadas pelos professores durante a pesquisa efetuada, consideramos que as
800
iniciativas práticas desembocam, em boa parte dos casos, em algumas das situações
descritas:
a) O professor leva uma gravação musical familiar, de sua preferência pessoal,
para simplesmente afirmar perante a sala: “isso é samba” ou “isso é baião”. Esta
afirmação é feita de maneira simplista e apenas verbalizada, sem exercício algum de
uma escuta atenta dos elementos musicais presentes na obra. Neste caso, o objetivo
nos parece muito mais “ensinar” suas preferências pessoais a realmente introduzir a
diversidade dos gêneros musicais na sala de aula.
Uma abordagem da apreciação que resuma a atividade à mera descrição dos
eventos sonoros – ou apontamentos sobre a forma musical e a estrutura da peça,
poderiam desinteressar facilmente os alunos. Propostas de escuta da paisagem
sonora (SCHAFER, 1991), quando aplicadas de forma descontextualizada e
aborrecidamente “mecânicas”, também acabariam por levar os alunos a rejeitarem os
exercícios de escuta atenta.
Extrapolar a prática do mero inventariado dos elementos sonoros, condensada
na pergunta chave “o que você está ouvindo nessa gravação?” deve ser uma
ocupação constante do educador:
b) O professor traz uma gravação para que seja apreciada durante a aula, com
a finalidade de analisar apenas as letras das canções e toma esta atividade como
referência única e exclusiva do trabalho musical. Obviamente, ler uma poesia que não
tivesse sido ‘musicada’ não garantiria o desenvolvimento de uma educação musical
verdadeira. O fato de associá-la a audição de uma melodia quase ‘acessória’, no caso
das canções, não é suficiente para o êxito de uma apreciação aprofundada da obra.
c) O professor liga o rádio ou aparelho de vídeo durante a aula apenas para
produzir um ruído de fundo, para ‘distrair’ ou ‘acalmar’ os alunos, enquanto estes
realizam outras ações, o que tende a contrariar as propostas para que a música seja
apreciada com atenção e por seu valor intrínseco, não sendo subordinada a nenhuma
801
outra atividade. Evita-se, conforme apontado por Lazzarin (1999, p. 74), o tratamento
da apreciação musical como um exercício de relaxamento ou mero fundo sonoro para
qualquer outra atividade.
d) O professor não admite trazer para a sala de aula gêneros como o rock, o
samba ou o rap, preferindo apenas a música de concerto ou o jazz. Muitas tentativas
de introduzir os gêneros musicais, a despeito do anseio dos alunos em estabelecer
contato com novos materiais, podem esbarrar na resistência de professores que não
desejam explorar outros campos possíveis para a escuta, atendo-se aos gêneros
musicais que consideram artisticamente ‘superiores’ aos demais.
De acordo com a pesquisa, as maneiras de incluir os gêneros musicais nas
aulas poderão ser variadas. Podem organizar-se em torno dos gêneros musicais
dominantes ou mais valorizados em nossa cultura, usando exemplos para fazer
comparações ou fornecer um pouco de variedade a um estudo basicamente
monocultural. Outras possibilidades examinariam mudanças nas tradições musicais
para demonstrar o papel social nestas transformações. É possível ainda abordar a
sequência histórica do aparecimento de certos procedimentos musicais, identificando
práticas comuns e os agentes responsáveis (intérpretes, compositores, críticos de
música). Outra possibilidade seria estruturar o estudo musical em torno de uma série
de conceitos musicais tais como timbre e forma; ou extramusicais, como tópicos sobre
a indústria cultural e fatores sociais ligados à produção e apreciação da música. Essas
possibilidades poderiam ser consideradas através de uma atividade temática, um
projeto ou, especialmente, uma sequência didática.
A diversidade dos gêneros musicais e a busca por elementos de regularidade
entre estes, a fim de dispô-los em uma sequência pedagógica coerente, foi parte do
nosso trabalho de transposição para o campo musical dos autores que vinham
operando inicialmente com elementos textuais. Buscou-se realizar uma “transposição
didática” (CHEVALLARD, 1991), convertendo os gêneros musicais em objetos de
ensino, partindo especialmente de materiais que normalmente não seriam
contemplados pelo currículo escolar tradicional.
Esta proposta apresenta, em resumo, duas características marcantes, pois
constitui uma síntese com objetivos práticos, destinada a orientar as intervenções dos
professores e evidencia as dimensões ensináveis a partir das quais diversas
sequências didáticas podem ser concebidas. (SCHNEUWLY e DOLZ, 1999, p. 11). A
adaptação das sequências didáticas nos modelos propostos por Schneuwly e Dolz
(1999) para o ensino de gêneros musicais mostrou-se efetiva e resultou na produção
802
Sensorial
Materiais
Manipulativo Menor complexidade
Expressão
Expressão Pessoal
Vernacular
Especulativo
Forma
Idiomático
Maior complexidade
CONSIDERAÇÔES FINAIS
de 77% dos alunos do grupo focal passassem dos níveis qualitativos de competência
‘sensorial’ ao ‘vernacular’ e ‘especulativo’ após a conclusão das ações empreendidas
na pesquisa.
REFERÊNCIAS
BAMBERGER, J. S. e BROFSKY, H. The art of listening: developing musical
perception. New York: Harpers & Row Publishers, 1967.
BARTHES, R. O Óbvio e o Obtuso.Porto: Edições 70, 1984.
BASTIÃO, Z. A. Pontes Educacionais: uma proposta pedagógica em apreciação
musical. In: Encontro Anual da ABEM, 13, 2004. Anais. Rio de Janeiro: Abem 2004.
s.n.
BEAUSSANT, P. et al. As Formas e os Gêneros Musicais. In: MASSIN, J. e B.
História da Música Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p.63-97.
BRACKETT, K. Musical Meaning: genres, categories and crossover. In:
HESMONDHALDGH, D e NEGUS, Keith (Org.) Popular Music Studies. London:
Arnold Publishers, 2002. p. 65-83.
CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: du savoir savant au savoir
enseigné. Paris: Ed. La Fenseé Sauvage, 1991.
ECO, U. Apocalípticos e Integrados. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
FRANÇA, C. C. e SWANWICK, K. Composição, Apreciação e Performance na
Educação Musical: teoria, pesquisa e pratica. Revista Em Pauta, Porto Alegre, v.13,
n.21, p.05 - 41, dezembro de 2002.
LAZZARIN, L. F. Ouvir música com um significado: um desafio possível. In: BEYER, E.
(Org). Ideias em Educação Musical. Porto Alegre: Editora Mediação, 1999. p.74 - 87.
LEWIS, B.E.; SCHMIDT, C. P. Listeners Response to Music as a Function of
Personality Type. Journal of Research in Music Education, Reston,VA, n. 39, p.311
- 321, 1991.
LUNDQUIST, B.; SZEGO, C. K. A Music Education Perspective in Music of the
World’s Cultures: a source book for music educators. United Kingdom. ISME, 1998.
MERRIAM, A. P. Ethnomusicology: Discussion and Definition of the Field. Chicago:
Aldine, 1967.
PENNA, M. Música (s) e seu Ensino. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008.
SCHAFER, M. O Ouvido Pensante. São Paulo: UNESP, 1991.
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos
objetos de ensino. ANPED, n. 11, Mai-Ago. Revista da ANPED, 1999. p.05-16.
Disponível em
<http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE11/RBDE11_03_BERNARD_E_JOAQUI
M.pdf> Acessado em 20/06/2009.
SWANWICK, K. Ensinando Música Musicalmente.São Paulo: Moderna, 2003.
THÉBERGE, P. “Plugged in”: technology and popular music. In: FRITH, Simon et al.
The Cambridge Companion to Pop and Rock.Edinburg: Cambridge University
Press, 2001. p.03 25.
805
INTRODUÇÃO
1UNESP/FC/Bauru
2UNESP/FCT/Presidente Prudente - UNESP/FC/Bauru
3UNESP/FC/Bauru- Centro Educacional SESI 358/Bauru
807
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
responsável pelas interações e, vai além da teoria einsteniana, uma vez que propõe
explicar o macro e o micro mundo.
Perante o que foi apresentado, fica claro que o espaço tem um importante
papel na construção do conhecimento físico da natureza, emboraapresente muitas
controvérsias ao longo da história da ciência. Com isso, acreditamos que os livros
didáticos, que tem o papel de fazer uma transposição didática dos conhecimentos
científicos para a sala de aula, devem tratar deste conceito de forma eficaz e
cuidadosa.
METODOLOGIA DE ANÁLISE
livros de física para o ensino médio, dos quais três são do formato volume único e os
demais são divididos em três volumes. Todos serão referidos pela letra “L” seguido do
índice “n” para que a análise seja imparcial, porém criteriosa. Assim, adotaremos a
nomenclatura de L1 a L5 para os livros investigados.
Utilizamoscomo metodologia de análise a modalidade baseada na “Análise de
Conteúdo” de Laurence Bardin que permitiu analisar e diagnosticar as características
de textos escritos (BARDIN, 1977).O trabalho de Bardin sugere que a Análise de
Conteúdo visa orientaro pesquisador a revelar o que está implícito na mensagem ou
na documentação, trazendo a tona o seu significado.
Foram definidas como categorias de análise as próprias regiões ou zonas do
perfil epistemológico bachelardiano que, segundo Bardin (1977), permite a
organização dos trechos a serem analisados em seus devidos lugares, ou seja,
enquadrar essas mensagens e categorias convenientes para análise. Segundo a
autora, categorizar é; de uma forma geral, a passagem dos dados brutos para dados
organizados, a fim de serem decodificados.
Conforme exposto acima, foram analisadas as definições e as discussões
acerca o conceito de espaço, e as categorias de análise amparam-se nas doutrinas
que compõe o perfil epistemológico bachelardiano. Ressalta-se que tais categorias
(com fundamento na epistemologia) fornecem um fértil instrumento de análise do
ensino e aprendizagem de conceitos visando subsidiar o processo educativo
(SANTOS, 2010).
Utilizamos apenas as quatro primeiras categorias de análise dentro das cinco
sugeridas por Bachelard. Essas categorias são “espécie” de gavetas ou pastas onde
podemos classificar adequadamente o conteúdo referente ao conceito de espaço
trazido pelo autor do livro didático dentro da região do perfil epistemológico
correspondente. Eis nossas categorias de análises:
Realismo ingênuo (RE): apresenta um espaço unidimensional, com base em
aspectos da geometria. Localiza o corpo no espaço e é representado com a
letra S. Exemplo: localização da distância de um ponto material, um objeto ou
um corpo; a origem das posições.
Empirismo (E): relaciona-se com a experiência, diretamente relacionado com
os sentidos. Aqui, tem-se uma ênfase no observável e cabe, portanto, a noção
de espaço absoluto se o espaço for considerado como sendo sinônimo de uma
região do cosmo.
812
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Localizamos nos livros didáticos para o Ensino Médio os trechos nos quais os
autores definia o conceito de espaço. Nosso interesse foi conhecer como esse
conceito tão relevante para Física é veiculado nos manuais escolares. Assim, nosso
processo investigativo consistiu, num primeiro momento em transpor, os excertos
extraídos dos livros para o Quadro 1, que elaboramos com essa finalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS;
De acordo com o nosso estudo, fica como primeira constatação que o conceito
de espaço é pouco presente nos livros didáticos, apesar de ter um relevante papel na
história, não só da física, mas da ciência em geral. O apanhado histórico mostrou que
este conceito merece uma abordagem conceitual mais consistente.
As categorias de análise se mostraram eficientes para a nossa proposta de
pesquisa, uma vez que foi possível evidenciar as principais carências dos materiais
analisados. Defendemos que é necessário abordar todas (ou pelo menos a maioria,
dependendo das transformações sofridas pelo conceito ao longo do processo
histórico) as doutrinas bachelardianas, por especificamente dois motivos: a ciência é
um empreendimento inacabado, vive em transformação, de modo que concepções
tidas hoje como banais foram decisivamente importantes na antiguidade, então
resgatar ideias que foram abandonadas é, ao nosso ver, uma das soluções para o
problema do ensino dogmático (nesse sentido concordamos com Martins 2010);
concordamos com Einstein (conforme foi colocado na sessão histórica) quando ele diz
que uma formação em história da ciência é primordial para o bom entendimento de um
conceito. Defendemos ainda, que os professores, não somente os pesquisadores em
ensino, devem estar cônscios destas observações, logo é essencial uma formação
geral em história e filosofia da ciência (HFC).
Em relação a constatação de apenas um livro (do “rol” de livros analisados)
trazer informações sobre física moderna e contemporânea, concluímos que existe um
problema com respeito a atualização dos conteúdos (que transcende o material
didático, indo até os cursos de formação, mas, apesar de se tratar de um problema
grave, não cabe aqui discutir sobre essa temática). De uma forma geral, os nossos
resultados fortalecem a tese de que a HFC tem um relevante papel no ensino, não
somente como instrumento de análise, mas também como estratégia de ensino; e
também que certos conceitos devem ser mais bem explorados, tanto em relação ao
material didático, como em relação a sua abordagem em sala de aula.
REFERÊNCIAS
BACHELARD, G. A filosofia do não. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção os
pensadores)
815
Livros analisados
CARRON & GUIMARÃES. Física. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003. volume único
CALÇADA & SANPAIO. Física clássica. São Paulo: Atual, 1997.
BONJORNO, R. A. et al.Física completa. São Paulo: FDT, 2001.
PARANÁ, D.N.S. Física. São Paulo: Ática, 2003
GONÇALVES FILHO; TOSCANO. Física e realidade. São Paulo: Scipione, 1997.
816
INTRODUÇÃO
E-mail: amanda.branco@ufv.br.
2. Licenciando em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa. E-mail:
ivan.viana@ufv.br.
817
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa aplicada, uma vez que se caracteriza por seu
interesse prático, ou seja, espera-se que seus resultados sejam aplicados ou utilizados
na solução de problemas que ocorrem na realidade (LAKATOS; MARCONI, 2009).
Foram utilizados como métodos a aplicação de questionário escrito (teste de
seleção e pós-teste), intervenção pedagógica e aplicação de quatro jogos didáticos de
Botânica.O público alvo da pesquisa foram quarenta estudantes do terceiro ano do
818
DISCUSSÃO
A média de pontuação dos dois grupos no pré-teste foi de 2,8 pontos. Para o
grupo amostral, que utilizou os jogos didáticos, a pontuação no pós-teste foi de 5,1
pontos. A pontuação do grupo controle, que, em vez de utilizar os jogos didáticos,
realizou exercícios escritos de fixação (similares aos encontrados nos livros didáticos
em geral), foi de 3,8 no pós-teste (Fig. 3). Os dois grupos, como naturalmente é
esperado ao se aplicar uma intervenção didática, tiveram aumento na sua pontuação,
821
5
Médias das Notas
0
Amostral Controle
Grupos
Média de TS Média de PT
com a falta de relação que têm com elas. O fato de as plantas não interagirem
diretamente com oshumanos e serem estáticos, ao contrário dos animais, pode
justificar o distanciamento dos estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao aliar os aspectos lúdicos aos cognitivos, crê-se que o jogo é uma importante
estratégia para o ensino e a aprendizagem de Botânica favorecendo a motivação
interna, o raciocínio, a argumentação e a interação entre alunos. De acordo com
(Kishimoto, 1996, p.37): “A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção
do conhecimento, por contar com a motivação interna típica do lúdico”. Como
disseram alguns dos alunos participantes desta pesquisa: “com o jogo, a gente
aprende brincando”.
Diante do exposto, acredita-se que o jogo didático deveria ocupar um espaço
maior nas práticas pedagógicas de Botânica no Ensino Médio, pois tal metodologia
poderia tornar o conteúdo mais atraente para educandos e professores, além de
diminuir as barreiras cognitivas para esta área do conhecimento. Ao observar a função
educativa dos jogos Perfil Botânico, Caixinhas Botânicas, Baralho Fisiológico e Bingo
Botânico, pôde-se verificar que a metodologia favorece a aquisição e retenção de
conhecimentos, em clima de alegria e prazer.
Diante das demandas sociais atuais é necessário proporcionar aos estudantes
uma educação que contemple além do Ensino e Aprendizagem, a formação para a
cidadania, formação psicológica e afetiva dos estudantes. Nesse sentido a psicologia
do desenvolvimento destaca que o jogo é capaz de desenvolver funções
psicossociais, afetivas e intelectuais básicas no processo de desenvolvimento do
indivíduo (MORATORI, 2003).
De acordo com Libâneo (2010), a escola do futuro deverá ser capaz de cumprir
alguns objetivos fundamentais: garantir o desenvolvimento de capacidades cognitivas,
ou seja, aprender a pensar, por meio dos conhecimentos relacionados á ciência,
cultura e arte, promover bases de cultura geral, que envolve o saber aprender, saber
fazer, saber viver junto e saber agir moralmente, formar para a cidadania de maneira
prática, começando pelas praticas escolares e formar para valores éticos, ou seja, a
escola do futuro precisará ensinar os alunos a pensarem sobre valores.
Todas estas mudanças propostas por Libâneo (2010) são essenciais para que
a escola, o ensino de ciências e mais especificamente o ensino de Botânica façam
823
INTRODUÇÃO
1Professorade Educação Física junto ao Serviço Social do Comércio (SESC) unidade de Bauru/SP.
2Professoradoutora, docente junto ao Departamento de Educação Física/Faculdade de
Ciências/UNESP/Bauru/SP.
826
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Ao adentrar na escola nos deparamos com uma realidade cada vez mais
complexa, repleta de questões a serem refletidas, cuja relevância social não escapa
aos olhos de um pesquisador preocupado com os rumos que tem tomado a educação
dos jovens e crianças nos últimos tempos.
Na escola, as relações que nela se estabelecem, encontram-se fragmentadas,
a comunicação verbal existe apenas dentro de grupos restritos, há um diálogo tímido e
pouco compartilhamento de ideias entre os jovens e as práticas formais da escola.
A comunicação que existe na escola não é capaz de promover a interação e a
aproximação entre as pessoas e os grupos, as salas de aula seguem esta mesma
lógica. A disposição das carteiras dos jovens (em fileiras), não favorecem o diálogo,
tão importante para a construção das relações e do compartilhar de conhecimentos e
experiências.
Para Campolina e Oliveira (2009), tal estrutura de organização escolar, dentre
outras coisas, reflete a forma como se concebe a adolescência, ou seja, como uma
fase de rebeldia, imaturidade, crise e carência, assim, influenciando na forma de
estabelecer regras e comportamentos.
Estabelecendo um diálogo com a realidade observada, a afirmação de
Campolina e Oliveira (2009), de fato, se materializa, sobretudo, nas expectativas que
existem sobre os jovens, nos horários de entrada, nos intervalos, entre as aulas e
durante as mesmas, na saída, pois sempre alguém (inspetor, vice-diretor, por
exemplo) fica encarregado de verificar se tudo está dentro do esperado, ou seja, se os
alunos entraram para as salas, se não estão fugindo às regras. Já nas salas, os
professores pedem para que se organizem, muitas vezes para que se desfaçam dos
grupos, pois há muita conversa, pedem para que não saiam no corredor no intervalo
entre as aulas, mesmo com os jovens demonstrando cansaço e preguiça até para se
levantar da cadeira. Isso foi notado em um dia que houve uma aula “vaga”, sem
829
nesse período, porque depois já não se tornam coerentes com a futura inserção no
universo adulto, cheio de responsabilidades e seriedades.
Como pontua Dayrell (1996), mesmo tendo que lidar com essas juventudes,
pais e educadores não sabem como proceder, ainda alimentam muitas dúvidas a
respeito das suas características e práticas, vistas de forma negativas. O conflito que
emerge das relações entre as gerações são fruto da tendência em se comparar jovens
de hoje com os de outras épocas, de outros contextos, bem diferentes dos de hoje,
onde as juventudes têm a possibilidade de serem vividas de diversas formas.
As culturas dos jovens não são reconhecidas em suas riquezas e
multiplicidades de expressões, como meios de conhecer e se conhecer, a fim de se
construir e construir um universo de relações que serão levadas de alguma forma para
o resto da vida. Uma vez que não vivemos isolados no mundo, somos seres sociais e
culturais, inseridos numa determinada realidade. Se os jovens formam seus grupos e
vivenciam determinadas práticas, tem interesses diferentes dos da escola, possuem
sua importância em si. Como diria Pais (2004, p. 16), “[...] os sentidos podem existir
onde parece reinar sua ausência [...]”.
Segundo relato de alguns professores, o que a escola reprime, mas sem tanto
sucesso, é o uso de bonés pelos jovens, tão popular em seus cotidianos, usado para
compor o visual de muitos jovens atentos a gerirem a própria aparência.
Um dos professores disse a respeito desse fato que “[...] o único problema é o
boné, por tampar mesmo o rosto, às vezes eles querem dormir, sabe, não prestar a
atenção, não sei, enfim eu não vejo problema quanto a isso [...]”
Este docente, cuja relação com os jovens é muito próxima (nota-se no jeito de
se referir a eles, com algumas gírias e na forma de explicar o conteúdo em aula), não
existe mal algum no fato dos jovens utilizarem bonés, acredita que não influencia em
nada na aula, no aprendizado. Se o aluno não quiser prestar atenção na aula, o fará
com ou sem boné.
Outro professor, além de se referir à restrição de uso do boné, também
mencionou a reserva quanto ao chiclete, consumido por muitos jovens em vários
momentos da vida escolar: “[...] a parte dos funcionários acabam se preocupando mais
com outra postura, com uma postura mais correta de comportamento, alguns
costumes que o pessoal tenta manter, como uso de chiclete, boné [...]”
Destaca-se a existência de uma grande preocupação da escola com relação ao
comportamento apresentado por muitos jovens, por saírem muito da sala durante as
aulas, por conversar durante as mesmas, por criticarem o que não lhes agrada, pelo
832
uso de bonés, chicletes, cuja razão específica não foi mencionada, exceto nas aulas
de Educação Física, onde existe o risco de engasgar.
A escola parece ser esse lugar inócuo, difícil de viver, com seus jovens,
professores e demais funcionários, fazendo coisas aparentemente sem sentido algum,
porém, não nos esqueçamos de que onde existem relações, existem significados,
ninguém escolhe algo que não considere minimamente relevante. Escolhemos para
onde vamos, o que vestir, o que e com quem conversar, o que ler, o que jogar, o que
conhecer, o que ouvir, etc. Professores, diretores, coordenadores, secretários,
faxineiros, merendeiros, jovens, crianças, enfim, humanos, influenciáveis e influentes.
Segundo Soares e Meyer (2003), somos várias identidades, vivendo os
mesmos tempos ou tempos diferentes, confrontando-nos ao longo da vida. O corpo é
privilegiado por ser nosso espaço de representações, de concretização de nossa
identidade, construída também por meio da educação, e não somente na escola, uma
vez que a aprendizagem extrapola os muros da escola. Os jovens aprendem sozinhos,
em grupos, com músicas, filmes, literaturas, o tempo todo, vão delineando seus
espaços e seus papéis na sociedade, construindo suas maneiras de viver. Isso tudo,
não quer dizer que a escola perdeu sua importância, seu papel social e político, em
detrimento de outros meios, pelo contrário, alguns tipos de conhecimentos só podem
ser alcançados de forma sistematizada e planejada na escola.
Os jovens demonstraram bastante desinteresse pelas aulas, por não
conseguirem enxergar um significado no que vinha sendo abordado, ou por acharem
incoerentes algumas regras, além de afirmarem que gostavam de vir à escola mais por
ser uma oportunidade de encontrar os amigos e compartilhar experiências, falar sobre
músicas, “baladas”, programas de televisão, internet, relacionamentos, dentre tantos
outros temas que consideram importantes.
Em uma aula observada, muitos jovens alunos se indignaram quando a
professora propôs uma atividade por eles considerada de 2ª série do ensino
fundamental:
“Nada a ver professora!” (Fala de uma jovem aluna durante a observação)
“Professora loca!” (Fala de um jovem durante a observação)
“Isso eu fiz quando estava na segunda série” (Fala de um jovem durante a
observação)
A professora não se importou com as manifestações discentes e continuou
desenvolvendo a atividade, que, segundo ela, teria seu valor no conceito final do
833
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
AMARAL, Mônica do. Culturas juvenis X cultura escolar: repensando as noções de
(in) disciplina e autoridade no âmbito da educação. COLÓQUIO DO LEPSI:
Psicanálise, Educação e Transmissão,VI , FEUSP, 2006. Disponível em:
http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032006000100011&scri
pt=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 2 mar. 2012.
ANDRE, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Papirus, Campinas, 1995.
BODGAN, R. C. e BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
CAMPOLINA, Luciana de Oliveira; OLIVEIRA, Maria Cláudia Santos Lopes de.
Cultura escolar e práticas sociais: episódios cotidianos da vida escolar e a transição
para a adolescência.Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.2, p. 369-380,
maio/ago. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v35n2/a10v35n2.pdf.
Acesso em: 11 out 2011.
COSTA, Antonio Galdino da; PIRES, Giovani De Lorenzi. Moda/indumentária em
culturas juvenis: símbolos de comunicação e formação de identidades corporais
provisórias em jovens de ensino médio. Revista Conexões, v. 5, n.1, 2007. Disponível
em: http://www.labomidia.ufsc.br/publicacoes/2007/15_2007.pdf . Acesso em: 12 fev.
2011.
DAYRELL, Juarez Tarcísio. Escola como espaço sócio-cultural. Múltiplos Olhares
Sobre Educação e Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. Disponível em:
http://pimentalab.net/blogs/estagio1/files/2010/09/Dayrell-1996-Escola-
espa%C3%A7o-socio-cultural.pdf. Acesso em: 20 fev. 2011.
835
INTRODUÇÃO
Ciências/UNESP/Bauru/SP.
837
METODOLOGIA
quero jogar futebol com os outros. E também falei que queria jogar no time que tinha
meus amigos, como o André, o Élcio, o Marcos e a Tânia, pois nesse time tinha uma
menina. Então, depois de tanto insistir, a professora Fernanda falou com eles e
consegui jogar um bom futebol e por fim meu time ainda acabou ganhando a partida.”
da semana, a professora entra na sala e pede para que os alunos comecem a expor
sua pesquisas e cartazes, e em cima de tudo isso ela faz um debate no qual explica o
que é o bullying e o mal que ele faz para as crianças que sofrem esse preconceito em
sua vida escolar. Logo após, ela cita o caso de bullying que ela presenciou durante a
aula anterior. Os alunos inconformados com suas atitudes, no mesmo momento, se
arrependem e começam a pedir desculpas a seus coleguinhas, pois eles não sabiam o
tamanho da gravidade desse tipo de “brincadeiras”, e o quanto isso pode frustrar e
magoar as pessoas. Essa foi uma forma bem sucedida encontrada pela professora
para acabar com o preconceito durante suas aulas. Se ela não tivesse apresentado o
bullying para seus alunos, talvez até hoje eles ainda estivessem vitimando seus
próprios amigos com uma coisa que eles nem sabiam que existia. Hoje seus alunos
com seus já 16, 17 anos, dão palestras e orientam a nova geração que entra
anualmente na escola para que eles não passem pelo o que eles passaram, tanto
como agressores, ou vítimas. Eles fazem cartazes, conversam sobre o assunto
frequentemente, e quando vêem esses tipos de atitudes acontecendo eles interferem,
e explicam que essas ações não são corretas. Disso tudo, podemos concluir que
muitas coisas dessa vida só necessitam que sejam apresentadas e ensinadas, pois
um cidadão é formado de boas ações e caráter, sendo assim, se sempre nos
preocuparmos com o bem estar do próximo o fluxo de vítimas de bullying tende a
diminuir de uma maneira, que em breve estará escasso.”
gorda imprestável! Célia saiu chorando e correndo, então Laura foi atrás dela, a
abraçou e disse: Você não é melhor nem pior que ninguém aqui, volta lá e mostra pra
eles que você é capaz de queimar todos eles! Você não tem que se preocupar pelo
jeito que você é, somente você tem que se aceitar, não dê ouvidos a estas pessoas.
Então ela limpou o rosto e voltou para a quadra e queimou todos os que estavam lá.
Desde este dia ela nunca mais foi deixada de lado, e nunca mais deixou ninguém
desrespeitá-la.”
omitir frente ás questões valorativas, assim, tão importante quanto planejar ações para
eliminar o preconceito, é não se omitir frente as manifestações de discriminação e
exclusão que possam ocorrer em aulas”(p.4).
Vale destacar que os cinco casos analisados aqui foram escrito por meninas
dos quais dois foram considerados pelas autoras como uma situação de fracasso
justamente por causa do preconceito. Podemos considerar que os episódios
contribuíram para o afastamento de tais alunas dos conteúdos da educação física,
pois foi constatado nas entrevistas que após o ocorrido elas passaram a participar
menos das aulas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R.C. E BIKLEN, S. K. Características da investigação qualitativa.
Investigação qualitativa em Educação. Porto Editora, 1994.
GONZAGA, A. M. A pesquisa em educação: um desenho metodológico centrado na
abordagem qualitativa. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E.; FRANCO, M. A. S. (Orgs.).
844
INTRODUÇÃO
1Professora de Ciências da Escola Polo Municipal de Educação Infantil e Fundamental José de Alencar,
localizada no município de Japorã/MS; E-mail: celia_japora@hotmail.com.
2Professora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul-UEMS,
didáticos de biologia do Ensino Médio nos conteúdos referentes à genética, bem como
analisar como se dá essa abordagem.
METODOLOGIA
A obra escolhida para a presente análise foi publicada no ano de 2010 eé uma
coleção que contém três volumes, um para cada ano do ensino médio.Esta obra foi
escolhida pelo fato de ser um dos livros analisados e aprovados pelo PNLDEM
e divulgados no Guia de Apoio Didático de 2011, sendo, consequentemente,
utilizado por várias escolas do Brasil4.
De acordo com a finalidade desta pesquisa, foi analisado o volume 3 da
coleção, o qual aborda o tema Genética em 5 capítulos. Este tema foi escolhido por
fazer parte de uma área que tem apresentado grandes avanços científicos e
tecnológicos que estão presentes no cotidiano, fazendo parte da vida das pessoas e
promovendo várias discussões e debates de ordem religiosa, ética, política, social e,
até mesmo, mudanças na forma de pensar dos indivíduos. Tizioto e Araujo (2008)
exemplificam como a genética está presente nas atuais biotecnologias e como as
aplicações destas estão presentes no cotidiano das pessoas:
4Não será divulgado o nome dos autores do livro didático analisado, bem como da editora que
publicou a coleção por questões éticas.
848
RESULTADOS E DISCUSSÃO
5O nome dos autores do livro didático analisado não será divulgado por questões éticas.
849
naturais causando modificações estruturais e fisiológicas deste e dos seres vivos que
o habitam. As Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionaispara o Ensino Médio (PCN+), direcionadas às Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias, evidenciam a importância de se abordar
em sala de aula as consequências dos avanços da Ciência e da Tecnologia ao
ambiente:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AMARAL, C. L. C; XAVIER, E. S; MACIEL, M. L. Abordagem das relações
Ciência/Tecnologia/Sociedade nos conteúdos de funções orgânicas em livros didáticos
853
INTRODUÇÃO
aluno. Neste Caderno do Professor estava contido os conteúdos de cada bimestre dentro de cada
disciplina, juntamente com orientações para o comportamento do professor durante as aulas.
856
3SARESP - é uma avaliação de múltipla escolha para os: 3º, 5º, 7º, 9º anos do Ensino Fundamental e 3º
ano do Ensino Médio e foi criada pelo governo Mario Covas, em 1996, contempla conhecimentos em
Língua Portuguesa e Matemática e em anos alternativos é incluído Geografia e História e Ciências ou
Física, Química, Biologia para o Ensino Médio. disponível em: www.saopaulofazescola.sp.gov.br.
4
SAEB - foi criado em 1990 e, desde 1995, realiza seu ciclo de avaliação a cada dois anos. O Saeb foi
criado tendo por objetivo central promover uma avaliação externa e em larga escala da educação no
Brasil, visando a construir dois tipos de medidas. A primeira, da aprendizagem dos estudantes e, a
segunda, dos fatores de contexto correlacionados com o desempenho escolar. A implementação da
avaliação em larga escala se constituiu com a intenção de subsidiar os formuladores e executores das
ações governamentais na área educacional em todos os níveis de governo. Com a avaliação se pretende
averiguar a eficiência dos sistemas no processo de ensino-aprendizagem e, também, a equidade da
educação oferecida em todo o país. Disponível em: http://gestao2010.mec.gov.br/
5ENEM - é uma prova realizada peloMinistério da EducaçãodoBrasil. Ela é utilizada para avaliar a
qualidade doensino médiono país e seu resultado serve para acesso ao ensino superioremuniversidades
públicasbrasileiras através do SiSU (Sistema de Seleção Unificada). A prova foi criada em 1998, sendo
usada inicialmente para avaliar a qualidade da educação nacional. Teve sua segunda versão iniciada em
2009, com aumento do número de questões e utilização da prova em substituição ao antigo vestibular.
disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Exame_Nacional_do_Ensino
857
METODOLOGIA
Botafogo etc.
Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das avenidas marinhas sem sol.
Losangos tênues de outro bandeiranacionalizavam o verde dos montes interiores. No outro
lado da baía a serra dos Órgãos serrava. Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas
gostosas. Rolah ia vinha derrapava entrava em túneis. Copacabana era veludo arrepiado na
luminosa noite varada pelas frestas da cidade.
ANDRADE, Oswald de. Memórias sentimentais de João Miramar. São Paulo:Globo, 2004.
Pergunte a seus alunos o que entenderam do texto. Acolha bem as críticas, afinal, é um texto
de difícil compreensão. Concentre, no entanto, o olhar de seus alunos nos neologismos do
texto...
...Anote também alguma situação específica, positiva ou não, que considerar interessante e
que pode ter reflexos no futuro.(Caderno do Professor: Língua Portuguesa, 2ª série, 4º
bimestre, 2008, p. 11)
Atividade 2
Anote na lousa:" Eu vou a festa"(Caderno do Professor:Língua Portuguesa, 2ª série, 4º
bimestre, 2008, p. 18)
Sondagem
Pergunte a seus alunos quem planeja fazer faculdade na continuação de seus estudos. Quem
pretende fazer no futuro imediato, assim que terminar o Ensino Médio, e quem pretende fazer
no futuro próximo, dando uma pausa nos estudos. Mostre genuíno interessem ouvir os seus
alunos. Queria saber que cursos pretendem fazer e por quê. Pergunte sobre onde pretendem
estudar e por quê.
Perguntem-lhes também se têm medo do vestibular. E do Enem?Ao final, explique que esta
Situação de Aprendizagem tem como foco principal os exames de acesso ao Ensino
Superior.(Caderno do Professor:Língua Portuguesa, 3ª série, 2º bimestre, 2008, p. 20)
Atividade 4
Peça à classe para comentar exatamente o que é solicitado ao aluno. O que o candidato ao
exame vestibular deve fazer.Na sua consideração não deixe de perguntar:
O que é uma dissertação?
O que é em prosa?
O que são argumentos?
O que deve ser feito e o que deve ser evitado?
O que é modalidade padrão da língua portuguesa?(Caderno do Professor:Língua
Portuguesa, 3ª série, 3º bimestre, 2008, p. 14-15)
Fica bastante claro a imagem que o professor assume nestes cadernos. Todos
os comandos endereçados ao professor estão no imperativo, o professor apresentado
859
“A analise combinatória trata dos problemas que envolvem a contagem de casos em situações
de agrupamentos de determinado numero de elementos, como calcular, por exemplo, quantos
grupos de 3 pessoas podem ser formados a partir de 6 individuos disponíveis; quantos
gabaritos diferentes podem ser feitos em uma prova do tipo teste com 10 questões e 5
alternativas cada, ou quantas filas diferentes podem ser formadas permutando a ordem de 7
pessoas. Ha infinitas possibilidades de agrupamentos, dependendo das condições a serem
respeitadas pelos elementos do grupo formado”.(Caderno do Professor – Matemática - 2a.
Serie – 3o. Bimestre- 2008, p. 22).
“Solicitação para que os alunos elaborem situações-problema envolvendo calculo
deprobabilidades com base em contextos livres ou determinados pelo o professor.
Essassituações poderão ser trocadas entre alunos para que um resolva o problema proposto
pelo colega e para que, ao final, as resoluções possam ser avaliadas pelo criador.De qualquer
maneira, não ha motivo para esgotar por completo o estudo dos casos deprobabilidade nesse
momento visto que serão retomados adiante no curso, com a inclusão do raciocínio
combinatório”.(Caderno do Professor – Matemática - 2a serie – 3o. Bimestre, 2008, p. 48)
CONTANDO HISTÓRIAS...
OBEDECENDO ORDENS
“Essa nova Proposta tem pontos bastante interessantes, tratando-se da unificação
dosconteúdos, da possibilidade das escolas trabalharem os mesmos conteúdos. Um
pontointeressante acontece quando o aluno muda de escola, muda horário, pelo menos estará
maisou menos vendo a mesma coisa.
Nesse momento, sinto que é dada uma certa abertura, você não precisa seguir o “caderninho”a
risca. Você tem liberdade de retomar algum conteúdo, no caso, se nos percebemos que
essaclasse não esta acompanhando, então, não é necessário utilizar o “caderninho” do
professor eir lá do primeiro ao ultimo exercício.
Eu não vejo assim! Existe liberdade de diversificar, de retomar o que o aluno ouviu, mas o
queme preocupa é o tempo destinado para cada bimestre. É muito complicado
conseguirmoscumprir todo o conteúdo proposto, fazemos muito esforço, mas não conseguimos
nemterminar o jornalzinho do Ensino Médio. O tempo e muito curto!E uma tendência natural
deles (alunos) reclamarem de tudo, e é uma tendência natural dosprofessores no primeiro
momento também reclamarem de tudo, porque vem o materialpronto. Para mim chega até ser
natural reclamar. No primeiro momento todo mundo seassusta, acha que é ruim, que foi
imposto, ninguém quer obedecer às ordens. Isso é natural, não é verdade?”Hortência –
Professora de Matemática
O COMPROMISSO
“O aluno talvez tenha mais facilidade em lidar com o ENEM do que com o SARESP, pois a
segunda opção é uma prova de conteúdos, bastante específicos que assusta um pouco os
alunos. Hoje, fizemos o Saresp e eles reclamam, reclamam muito, a tendência é reclamar.
Falta mesmo é compromisso da parte dos alunos, falta o envolvimento com os conteúdos.
Falando da escola pública, infelizmente, há uma cultura na escola pública envolvendo a maioria
dos alunos, na qual eles não têm compromisso, vão levando. Mas, o Sarespcertamente irá
avaliar se estamos mesmo trabalhando o Caderninho do Professor, acredito que irão colocar
os mesmos exercícios, só para nos testar...”Hortência – Professora de Matemática
A ÚNICA VANTAGEM
“Eu enxergo o caderno assim: antes nós planejávamos, trabalhávamos em cima do
planodeEnsino com cada professor na sua área, claro! Mas os conteúdos diferenciavam um
poucosim! Não dá para ter a mesma direção em todas as séries, porque os alunos são
diferentes.Com a entrada do Caderno do Professor, a única vantagem que alguns veem é
quepodemos trocar experiência com os professores mais antigos na profissão, os mais
novosseguem os mais velhos, e muitos dizem que com o Caderno do Professor estamos
maisdentro do currículo da matemática. Mas, ... as falhas... é que chegam bem depois
doesperado. Trabalhamos outra matéria e depois temos que trocar o conteúdo porquedemora
para chegar o material do professor e do aluno. Além disso, acredito que aindatem muito
conteúdo para pouco tempo. Essa é a desvantagem que vejo ...” Margarida – Professora de
Língua Portuguesa
SOU PROFESSORA
Quando terminei o estagio e fui apresentá-lo, coloquei no meu relatório que iria ser professora.
Tinha decidido ser. Estava decidido para mim, fazer o estágio da maneira que eu fiz. Formei-
melogo, teve o concurso para professor PEB II na rede pública paulista, e eu ingressei. Foi
muitorápido! Nunca fui professora eventual e entrei na escola como efetiva. Tive bastante
dificuldade,quase saí porque o choque foi bastante grande, não tinha mais nenhum professor
para me ajudare era sozinha na sala para lidar com quarenta crianças que eu peguei na quinta
série. Isso meassustou bastante! Fui aprender assim, ainda não aprendi até hoje. Que tipo de
postura oprofessor deve ter? Como tenho que trabalhar? Infelizmente, não é só Matemática
que precisosaber. Preciso saber muitas outras coisas, lidar com o ser humano... essa é minha
história, souprofessora”.Dália – Professora de Matemática
862
DESAMPARADA
“Antes era mais tranquilo, pois devido ao tempo que estou no Magistério, não via necessidade
deestudar muito, pois os conteúdos a serem trabalhados eram conhecidos e o que mudava
sempreeram as estratégias e a metodologia. Hoje estudo muito a Proposta para avaliar o que é
viável ounão, de acordo com a sala e série. Parece que depois da Proposta, não sou mais
professora. Sinto-meum tanto desmotivada, sinto-me impotente nesse novo processo, pois
tenho a sensação de quenão estou cumprindo meu papel de professora, pois os alunos me
escapam de várias maneiras enão tenho a sensação do dever cumprido. Aos poucos fui
ficando assim: “mudei” muito paraacompanhar as mudanças e esse processo sempre vem
acompanhado de dúvidas e sofrimento;contudo as mudanças atuais são mais difíceis, às
vezes, sinto-me desamparada...” Begônia - Professora de Português
SOMOS NADA
“No meu ponto de vista o Caderno veio e está aí. Tem professor que tem leques imensospara
selecionar textos, tem professores que não procuram outros caminhos e acredito queisso foi
prejudicial, não são todos, mas a maioria ficou bitolada. Vou trabalhar somente osconteúdos do
caderninho. Se fosse como antes, você teria que procurar outros apoios enem todos fazem
isto.Quando comecei em 1994 , teve a progressão continuada. Antes nós preparávamos
nossaaula,buscávamos mais conteúdos, depois veio a PC (Progressão Continuada). Nem para
mimnem para os professores explicaram o que era. Todo mundo achava que “fez, passou”
Oobjetivo não era esse, mas foi isso que todo mundo entendeu. Para mim, o que entendo é...
teve avanço teve, mas não foi bem significativo. Essa proposta é igual, nós não
sabemosporque veio, ninguém pergunta nada para o professor. Acho que somos nada”.
Bromélia – Professora de Português
É O MÍNIMO
“Falando em conteúdo, nos caderninhos temos um conteúdo mínimo, o aprendizado devese
atrelar a conteúdos mínimo. Este é o grande entrave desse currículo. A principio percebinos
professores certa resistência, mas eles se acomodaram, infelizmente se acomodaram.O que se
tornou mínimo, ficou mínimo do mínimo, infelizmente porque nem todosconseguem nem dar o
mínimo. Quando eles não estavam atrelados a essa Proposta elesdesenvolviam projetos
riquíssimos, eles aprendiam muito mais do que aprendem hoje e sevocê falar para mim que o
importante são os conteúdos, que através dele é que a criançadesenvolve o seu raciocínio sua
experiência. Precisa sim, ter um conteúdo acadêmico. Osconteúdos estão sendo deixados de
lado para dar o mínimo. A criança não desenvolve comesse mínimo. Bem, eu vou ser sincera
com você em relação a isso, eu como profissionalnunca fiquei atrelada a esse tipo de coisa,
sempre fiquei revoltada com essas coisa, Eutinha muito mais capacidade do que essas
Propostas ofereciam e eu tinha muito mais aoferecer para o meu aluno, do que aquilo que a
Proposta exigia. Passei por várias reformassim, mas por enquanto não vejo nenhum efeito
nisso e estamos vendo que a Educaçãoestá caindo cada vez mais. Então essa proposta em
relação às outras, não trouxebenefício. Aliás a escola ficou mais pobre.” Begônia –
Professora de Português.
DISCUSSÃO
Então foi uma briga, foi muito confuso para nós e para os
professores. Os professores bem formados ficaram fulos da vida,
morrendo de raiva, falaram assim: estão nos chamando de
retardados, de débeis mentais? E os professores mal formados
falaram assim: a gente não entende nada! (Camargo, implementador)
(OKUBO, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, W. O Narrador. In: ______. Magia e Técnica, Arte e Política. 7. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
BRASIL.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, 1999.
CAMARGO, D. A. F. de. O abolicionismo escolar: reflexões a partir do adoecimento
e da deserção dos professores. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Educação.Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:
www.teses.usp.br.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano. Petrópolis,RJ: Vozes, 1994.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiencia e o saber da experiencia. Revista
Brasileira de Educacao, n. 19, Jan/Fev/Mar/Abr, 2002.
LOPES, Alice Casimiro.Discursos curriculares na disciplina escolar química.Revista
Ciência e Educação, v. 11, n. 2, p. 263-278, 2005.
OKUBO, Tânia Cristina de Assis Quintino. Currículo em contextos = permeabilidades
discursivas na proposta curricular do estado de São Paulo (2008). 2012. 154 p. Tese
(Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação,
Campinas, SP, 2012. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000878015>. Acesso em: 12
dez. 2012.
ROSA, Maria Inês Petrucci, et al.Narrativas e Mônadas; potencialidades para uma
outra compreensão de currículo.Revista Currículo sem Fronteiras, n. 1, v. 11,
jan/jun. 2011.
SÃO PAULO (Estado).Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Secretaria
Estadual de Educação – SEE, 2008. Disponível em:
http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/spfe2009/MATERIALDAESCOLA/PROPOST
ACURRICULAR/ENSINOFUNDAMENTALCICLOIIEENSINOM%C3%89DIO/tabid/125
2/Default.aspx.
TORRES, R. M., WARDE, J. M.; HADDAD, S. (Orgs.) O Banco Mundial e as
políticas educacionais.Sao Paulo: Cortez Ed./Acao Educativa/PUC-SP, 1996.
866
INTRODUÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), do Ministério
da Educação, sendo um exame individual e de caráter voluntário com o objetivo de
“avaliar o desempenho do aluno ao término da escolaridade básica, para aferir o
desenvolvimento de competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania.”
(INEP, 1998)
Em 2009 recebeu um reforço especial para se tornar um meio de seleção para
o ingresso no ensino superior do País com a expectativa de muitos de que se torne
único meio de acesso a universidade, como ocorre em outros países com exames
similares. (LUCKESI, 2011). Difere dos vestibulares tradicionais, centrados na
memória, pois foi desenvolvido com ênfase na aferição das estruturas mentais com as
quais construímos continuamente o conhecimento. Assim, suas questões são
interdisciplinares e contextualizadas (ou pelo menos assim consideradas), a partir de
questões-problema em que os alunos são solicitados a aplicar os conceitos.
Até 2008 eram 63 questões de múltipla escolha, sendo o exame realizado num
só dia. De 2009 para cá, são 180 questões realizadas em 2 dias. Segundo
informações do próprio governo, atualmente as questões estão mais curtas e
objetivas, mas conservam, segundo os idealizadores, o seu diferencial em relação a
outros exames similares. O novo ENEMcontém aproximadamente 50 questões, de
cada uma das seguintes áreas: a) Linguagens, códigos e suas tecnologias; b) Ciências
Humanas e suas tecnologias; c) Ciências da Natureza e suas tecnologias; d)
Matemática e suas tecnologias.
Entretanto, apesar de o ENEM ser valorizado, há educadores (CHASSOT,
2001)que tecem críticas à contextualização considerando que o ensino nessa
1
Professor de Matemática doColégio Adventista de Campo Grande/RJ, Mestre em Educação
pela UNIMEP/SP. Apoio Capes. E-mail: nhoquim@gmail.com
2Professora da Pós-Graduação em Educação/UNIMEP/SP. Doutora em Ciências (Tecnologia
perspectiva virou uma espécie de modismo que traz embutido o propósito de avaliar
pura e simplesmente os conceitos científicos.
Outra crítica é para a chamada falsa contextualização. Os alunos são
obrigados a ler um grande enunciado e a informação importante para a resolução do
problema só aparece no último parágrafo. Por isso os alunos são orientados a retirar
o contexto, a aplicação e ir diretamente aos dados necessários para a resolução.
No entanto, há quem acredite de essas informações não são inúteis, pois o
aluno aprende no momento da realização da prova. Se a informação for relevante para
ele, poderá aguçar a curiosidade de aprender mais sobre o tema, gerando outras
discussões (QUADROS et al, 2008).
O conceito de contextualização tem vários entendimentos. Segundo Lopes
(2002), a contextualização, associada à interdisciplinaridade, vem sendo divulgada
pelo MEC como princípio curricular central desde a publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Médio e considerada capaz de produzir uma
revolução no ensino.
De acordo com Tufano (2001, apud FERNANDES, 2010), contextualizar é o ato
de colocar no contexto, ou seja, colocar alguém a par de alguma coisa; uma ação
premeditada para situar um indivíduo em lugar no tempo e no espaço desejado.
Para Duarte (2003), há muitos professores que consideram que contextualizar
é usar como cenário dos exercícios de matemática, palavras e fatos conhecidos da
criança. Assim, nos “probleminhas” aparecem temas como futebol, coleção de
figurinhas da moda, cachorros, gatos, bolas de gude.
Neste trabalho, assumiremos contextualização como toda situação na qual o
conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto, uma relação com os
conhecimentos adquiridos anteriormente tanto na questão prática (cotidiano) como na
questão teórica (conhecimentos matemáticos).
Apesar da importância do contexto não é simples a elaboração de questões
contextualizadas, interdisciplinares, que promovam o desenvolvimento de
competências ao exercício da cidadania, tal qual almejam os idealizadores do ENEM,
sendo que as situações parcialmente reais, em geral, sem abranger aspectos do
contexto social e relações entre Ciência e Tecnologia, são as mais encontradas na
prática, nos vestibulares, nos livros didáticos, ou seja, simplesmente ligadas ao
cotidiano das pessoas, ou ilustradas a partir de situações e palavras conhecidas.
Acreditamos que o movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), pelo
seu caráter inovador, com a perspectiva de compreender melhor a ciência e a
868
tecnologia no seu contexto social (ACEVEDO DÍAZ, 1996), pode oferecer caminhos
para a elaboração de problemas que levem o aluno a pensar por si próprio, com uma
visão crítica da sociedade onde vive.
O movimento CTS, que surgiu por volta de 1970, na Europa e Estados Unidos,
destaca-se por se caracterizar por uma preocupação com temas sociais,
desenvolvendo atitudes que propiciem a reflexão e o julgamento voltado aos
interesses sociais, buscando a compreensão das implicações sociais dos
conhecimentos científico e tecnológico.
Por ter um caráter interdisciplinar Pinheiro (2005, p.53) destaca que o enfoque
CTS afasta o estabelecimento de fronteiras rígidas e excludentes entre os saberes e
assim, leva a um ensino mais reflexivo e contextualizado. Consequentemente, está em
sintonia com esse enfoque que persegue também os objetivos de formar um cidadão
crítico, capaz de interagir com a sociedade.
Seguindo esse princípio, a utilização do enfoque CTS no ENEM pode promover
uma atitude criativa e crítico-reflexiva, em vez de simplesmente ser um processo de
transmissão de informações. Ao dar um enfoque CTS nas avaliações, os avaliados
poderão passar a construir e produzir conhecimentos científicos sujeito a criticas e
reformulações, reconstruindo a estrutura do conhecimento. A educação matemática
pode fazer do aluno um ser pensante e atuante em sua sociedade.
Diante dessas considerações, algumas questões de pesquisa assim se
apresentam: Até que ponto as questões de matemática do ENEM (2009-2011)
atendem aos objetivos propostos pelo Mec de serem modelo de avaliações
interdisciplinares e contextualizadas? As questões, como formuladas, possibilitam uma
formação questionadora sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade, em direção ao
exercício da cidadania?
Ao buscar o que Alves-Mazzotti (2001) chama de pano de fundo da pesquisa,
ou seja, resultados originados de outros trabalhos sobre o assunto constatamos que
há uma série de trabalhos relacionados ao tema desta dissertação, mas não há os que
abordam especificamente a contextualização das questões do ENEM no âmbito CTS.
Já o livro “Aprendendo com o ENEM: reflexões para melhor se pensar o ensino e a
aprendizagem das ciências naturais e da matemática” organizado por RAMALHO e
NÚNEZ, publicado em 2011, os resultados das pesquisas sobre o ENEM apontam
posições favoráveis ao exame, especialmente à contextualização, mas entendida, em
geral, como uma ilustração a partir de um fato do cotidiano. Dessa forma, trabalho tem
como objetivo fazer uma reflexão crítica sobre as questões de Matemática em relação
869
DISCUSSÃO
ENEM 2009
Observando as classificações na tabela 1, é possível notar que a prova de
2009 verifica se o avaliado aplica corretamente o conhecimento matemático e se
utiliza corretamente a matemática para descrever processos e fatos científicos. A
maioria delas (44%) se encaixa no que podemos chamar de falso contexto, pois os
conteúdos matemáticos são apresentados mais como ilustrações de fatos do
cotidiano.
Tabela 1. Frequência de aparição dos contextos na prova do ENEM 2009
Contextos Frequência %
ENEM 2010
As questões de 2010 continuaram se concentrando nas duas categorias
primeiras caracteristicas sendo que a segunda, descrição científica de fatos e
processos, atingiu 51% (tabela 2).
Tabela 2 - Frequência de aparição dos contextos na prova do ENEM 2010
CONTEXTOS F %
1- Aplicação do conhecimento Matemático (AM) 21 47
2- Descrição científica de fatos e processos (DC) 23 51
3- Compreensão da realidade social (CRS) 1 2
4- Transformação da realidade social (TRS) 0 0
Total 45 100
ENEM 2011
872
Contextos F %
1- Aplicação do conhecimento Matemático (AM) 21 47
2- Descrição científica de fatos e processos (DC) 21 47
3- Compreensão da realidade social (CRS) 3 7
4- Transformação da realidade social (TRS) 0 0
Total 45 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
874
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais é perceptível que a dissensão ser humano/natureza traz como
consequência sérias catástrofes e modificações ao “meio em que vivemos”, o que vem
comprometendo a vida das gerações futuras. Reflexões a respeito do assunto devem
ser tomadas, os hábitos e comportamentos do ser humano em relação ao meio
ambiente devem contar, sobretudo, com mudanças de percepção e de valores.
Espera-se que com a educação formal e informal essas novas ideias possam ser
introduzidas na comunidade e alcancem o objetivo de capacitar os cidadãos para
participarem ativamente na defesa do meio ambiente.
A escola é uma instituição social que, historicamente, tem se comprometido
com a formação das crianças e jovens das sociedades modernas. Os conteúdos
escolares ensinados aos alunos são entendidos como fundamentais para que todos
compreendam a realidade à sua volta e adquiram as condições necessárias para
refletir, discutir, debater, opinar e até mesmo intervir em questões sociais, agindo
como cidadãos críticos, autônomos e participativos.
Corroborando ao exposto acima Saviani, (1994) conclui que a educação é a
forma que o homem tem de se apropriar do conhecimento produzido pela humanidade
ao longo da história, tornando os cidadãos capazes de criticar a realidade, perceber e
descobrir como participar das mudanças pelas quais terá condições de lutar.
A Educação Ambiental (EA) é uma dimensão da educação e apresenta como
proposta estudar a educação dentro da categoria da totalidade, nada mais, nada
menos que o próprio mundo (BORHEIM, 1997), isto é, recusar a visão fragmentada
exaltada pela modernidade e buscar a visão da totalidade, cooperando assim com a
formação de cidadãos éticos nas suas relações com a natureza. Por conseguinte, a
EA deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem, tendo os
bianca_paulatti@yahoo.com.br
877
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.2- Se a resposta for negativa, o que você acha que significa Educação
Ambiental?
5- Em quais disciplinas o professor costuma falar sobre o meio ambiente? (Mesmo que
como forma de exemplos relacionados a ele).
6- Sua escola já ofereceu palestras ou oficinas que tinham como tema principal o Meio
Ambiente? Você participou?
Figura 1 - Respostas categorizadas dos alunos das escolas estudadas para a questão
1. Categorias: 1- Preservação e Conservação do meio ambiente; 2 – Meio Abiótico; 3-
Meio Biótico; 4- Sobrevivência; 5- Conseqüência das ações humanas; 6- Outros
40
35.03
35
30
25
%
20 16.24 17.26
14.72
15
8.63 8.12
10
5
0
1 2 3 4 5 6
Categorias
- “[...] faz parte da minha vida [...]”. (E., aluno da Escola A).
- “Futuro, pelo jeito que anda não vai muito longe [...]”.(I., aluna da Escola A).
Dos alunos que já ouviram falar no assunto em questão (EA), a maioria das
respostas obtidas (41,38%) se encontram presentes na categoria 1 (Figura 2). Alguns
exemplos de respostas estão colocadas a seguir:
- “[...] não desmatar mais, não poluir os rios”. (A., aluna da Escola A).
- “Preservar as coisas, bichos, reciclagem, não jogar lixo nas ruas, separar lixo”. (G.,
aluna da Escola A).
- “Por exemplo se retirar alguma árvore tem que planta outra no lugar”.(L., aluno da
Escola B).
- “[...] não deixar a natureza, o ambiente se degrada”. (C., aluno da Escola C).
882
Para aqueles alunos que disseram não ter ouvido falar sobre EA (Questão 4.2),
pode-se observar um conhecimento prévio, talvez proveniente de informaçõesnão
sistematizadas, geralmente obtidas pelos diversos meio de comunicação que eles têm
contato.
Figura 2 – Respostas categorizadas dos alunos das escolas estudadas para a
questão 4.1. Categorias: 1- Atitudes do homem que podem favorecer o meio ambiente;
2- Preservação e conservação do meio ambiente; 3- Conscientização de pessoas
(mudanças de hábitos); 4- Não lembra; 5- Outros
45 41.38
40
35
30
25
%
20 18.1 18.1
15 12.07
10.34
10
5
0
1 2 3 4 5
Categorias
Dentro do currículo o tema Meio Ambiente é transversal e, por isso deve ser
tratado em todas as disciplinas, porém de acordo com as respostas dos alunos
entrevistados não é isso que ocorre (Questão 5), visto que 41,9% dos entrevistados
elegeram a Biologia como a disciplina que mais vincula seus assuntos a temática
ambiental, e em segundo lugar mencionaram a Geografia (21,7%). Disciplinas como a
Matemática, não citada pelos alunos, História e Artes (pouco mencionadas) parecem
enfrentar dificuldades em inserir conteúdos de cunho ambiental em seus
planejamentos de ensino.
Tristão (2005) afirma:
As palavras comuns, frequentemente utilizadas nos discursos sobre
a Educação Ambiental, começam a parecer sem sabor e a soar
irremediavelmente falsas e vazias. Sabor e saber têm a mesma raiz
etimológica. Precisamos resgatar o sabor do saber que está no
desejo de mudar a vida. As linguagens vagas e totalizantes que
impregnam os campos do sentido da Educação Ambiental tornam o
cotidiano estressante e (des)potencializam as práticas dos sujeitos
sociais.
Tenho pensado e observado, em vários encontros com professores e
professoras, educadores e educadoras ambientais, que isso pode
ser o elemento desencadeador da sensação de frustração e angústia
que sentem, às vezes, pelo gigantesco ideal de reverter o quadro de
destruição dos bens naturais e resgatar a relação cultura/ natureza,
sociedade/ meio ambiente. A grande questão não é o sentimento por
essa grande co-responsabilidade, mas, sim, a sensação de um peso
insuportável em que responsabilidade e impotência se confrontam,
883
Ambiental no currículo escolar como conteúdo nas disciplinas do Ensino Básico, seria
uma recomendação para trabalha-la efetivamente de forma interdisciplinar.
O interesse dos alunos pelo assunto é grande e por isso eles participam
regularmente dos eventos relacionados à área ambiental, porém o enfoque ainda é
superficial e a metodologia tradicional. Sugere-se o uso das novas tecnologias com
maior estimulação e incentivo a participação dos alunos, pois a formação de indivíduos
mais reflexivos e críticos nos levará uma sociedade mais igualitária e ambientalmente
saudável.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO
Trajetória pessoal - formação básica e inicial
O professor Gualter Craveiro de Albuquerque nasceu em Tarauacá (AC),
iniciando seus estudos em 1955. Posteriormente a família mudou-se para Rio Branco
onde continuou seus estudos e conheceu os primeiros professores de Educação
Física da cidade: Walter Félix, Ivone Carneiro, José Aníbal Tinôco que ao longo de sua
formação básica lhe deram suporte e exemplo de bons professores. Em 1965 foi
residir em Manaus, onde concluiu o ensino médio. Entrou para o serviço militar
obrigatório, ingressando no Curso de Formação de Oficiais do Exército concluindo em
1970 como tenente. Aconteceu então um evento em sua vida que modificou os rumos
de sua trajetória, levando-o da carreira militar para a docência. A implantação da
Polícia Militar do Acre (PMAC), foi designado para fazer um curso de formação de
policiais militares em Brasília. E junto com oficiais de recantos diversos do país,
iniciaram a criação da PM em Rio Branco. Após seu retorno de Brasília, é nomeado 2º
tenente na primeira turma de oficiais da Polícia Militar, na data histórica para o Acre de
1º. de abril de 1974. Neste contexto, foi designado para a Escola de Educação Física
do Exército/ESEFEX, onde se formou e recebeu o certificado de instrutor de Educação
Física em 1977. Posteriormente, em 1989, obteve a declaração de Licenciatura Plena
(Decreto-Lei n. 5343 de 25 de março de 1943), obtido na Secretaria de Educação
Física e Desportos/SEED - cujo responsável na época era o professor de Educação
Física, Manoel Gomes Tubino - no Ministério da Educação.
Trajetória Profissional
Considera que teve bons professores no curso de Educação Física na
ESEFEX, principalmente nas modalidades de esportes de quadra, atletismo, lutas e
889
futebol. Iniciou sua carreira como professor de Educação Física no Serviço Social do
Comércio (SENAI) em 1978, onde permaneceu até 1982. Em 1982, assume o cargo
de chefe do Gabinete Militar, onde permanece até 1986, sendo reconduzido ao cargo
em 1988. E em 1990 é convidado para assumir o Comando da Polícia Militar do Acre,
onde ficou até 1991. Permanece na PM por dez anos ainda, onde obtém
paulatinamente as patentes correspondentes aos anos de serviço prestado,
encerrando sua carreira militar em 1997, como Coronel.
Em 1995 participou do Curso Internacional de Futebol Brasileiro realizado pela
Academia Brasileira de Futebol. Essa qualificação lhe garantiu convites para treinar
diverso times de futebol em Rio Branco. Exerceu também a função de professor
substituto na Universidade Federal do Acre, ministrando a disciplina de Educação
Física Especial de 1997 a 1998. Neste mesmo ano fez o curso de especialização em
Ciência e Técnica do Desporto na UFAC e retorna à profissão docente, por meio de
concurso público no sistema estadual, onde assume a Escola Raimundo Gomes de
Oliveira onde permanece até 2003.
Em 2001 faz concurso para a UFAC, na função de professor substituto do
Programa de Formação de Professores da Educação Básica/Zona Rural, ministrando
as disciplinas Atividade Física na Promoção da Saúde; Esportes Coletivos I, II e III;
Esportes Individuais; Fundamentos Antropológicos da Cultura Corporal.
Na Escola Estadual João Aguiar teve uma permanência rápida, apenas no ano
de 2003. Na Escola Estadual Gloria Perez ficou apenas o ano de 2004. Em 2005, vai
para sua cidade natal - Tarauacá – onde passa a lecionar na Escola Estadual Djalma
Batista. Em 2007, retorna para Rio Branco e passa a trabalhar na Escola José
Ribamar Batista onde permanece até 2010. Em 2011 pede lotação para o Colégio
Estadual Armando Nogueira: “No CEAN, o destaque é o esporte. Entrei para substituir
um colega que foi chamado para a Secretaria de Esporte, pois, eles sabem que sou
experiente em treinamento e gosto de trabalhar com esportes” (Entrevista:
24/09/2012).
Observação da prática de ensino
Em nosso estudo buscamos também observar aspectos concernentes à prática
de ensino da Educação Física no ensino noturno do CEAN, desenvolvida pelo sujeito
participante de nossa pesquisa - o professor Gualter Craveiro – focando
principalmente sua prática pedagógica, a organização da disciplina no espaço escolar,
as dificuldades enfrentadas e resultados alcançados. Buscamos neste trabalho um
suporte teórico para apontarmos fundamentação ao profissional de Educação Física,
890
entendendo que há uma necessidade de vivência para que se possa ter um contexto
social. Santin (1987, p.46) afirma que: “A Educação Física nem sempre foi
considerada de capital importância, nem mesmo por alguns de seus profissionais,
porque não é posta como uma real educação humana, acabou sendo uma disciplina
dispensável”.
Atualmente, a educação física no Ensino Médio, contemplada na LDB (Art. 26:
3º.), estabelece: “A Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e as
condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Disto
podemos levantar alguns questionamentos: É facultativa para quem? Escola ou aluno?
Que aspectos foram observados pelos legisladores para estabelecer que as aulas de
Educação Física devam ser facultativas aos alunos do ensino médio que o cursam no
período noturno? O ensino noturno é quase sempre considerado nos meios
educacionais como um problema, uma fonte de insatisfação que necessita ser sanada
(CARVALHO, 1998). Ao chegar ao CEAN, o professor Gualter encontrou dificuldades
para dar aulas, pois, a Educação Física não era obrigatória como disciplina, além
disso: “No Plano de Desenvolvimento da Escola tem a equipe gestora que vai discutir
a distribuição dos recursos. Mas, eles nunca perguntam para o professor de educação
física qual a sua necessidade. Quando o professor solicita algum material a equipe
responde: - “Não vai dar, temos outras necessidades”. Eu corro atrás de recursos, de
patrocínio, de amigos, comerciantes. Eu peguei o CEAN numa fase crítica. A coisa é
meio confusa [...]” (Entrevista: 24/09/2012).
O ensino corresponde àquilo que podemos chamar de um trabalho interativo.
Para Gauthier et al. (1998), o trabalho interativo característica fornecer diretamente
aos usuários os serviços que a organização burocrática produz. Para o professor
Gualter, essas condições apresentam alguns complicadores: “Na realidade se fomos
esperar pela direção da escola nunca participamos de coisa alguma, pois, os próprios
colegas [professores das outras disciplinas] não respeitam nosso espaço como
professor de educação física. Em todas as escolas que passei as quadras nunca eram
limpas para que pudéssemos realizar as aulas, pois, esta é a nossa sala de aula. Eu
sempre confrontei isso em todas as escolas que passei, sobre o desrespeito com os
profissionais de educação física. Mas tirando tudo isso a gente enfrenta e vai”
(Entrevista 24/09/2012). De um modo geral, o cotidiano do ensino noturno apresenta
uma característica singular, pois recebe um alunado, que na sua maioria, chega à
escola após uma jornada de trabalho, reprovado pelo cansaço, que se evade e desiste
891
Análise da trajetória
Para organização de nossa análise, tomamos como referencia dois modelos
teóricos que orientam hoje boa parte das pesquisas sobre os saberes dos professores.
No primeiro eixo encontram-se as pesquisas desenvolvidas por Tardif (1999) e Nóvoa
(1992), na qual defendem que o processo de construção dos saberes dos professores
deve ser analisado de forma ampla, ou seja, a partir de suas diferentes fontes (do
currículo e da socialização escolar, da formação inicial e continuada de professores,
da experiência profissional, da relação com os pares). No segundo eixo situam-se as
pesquisas em sentido mais restrito, ou seja, são estudos gerados a partir dos saberes
mobilizados pelos professores eficientes, durante a sua ação pedagógica em sala de
893
aula (na gestão da matéria e na gestão da classe), linha essa representada por
autores como Gauthier et al (1998). Com esse instrumental teórico, estruturamos
nossa investigação ao redor de quatro eixos de análise que se entrecruzam.
No primeiro eixo temos o fato de que boa parte da aprendizagem, neste caso,
sobre o papel a ser cumprido pela educação física e o que seus professores aprendem
durante a socialização pré-profissional, ou seja, uma boa parte do que os professores
sabem sobre o ensino e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida,
principalmente de sua socialização enquanto alunos, cuja imersão em sala de aula
chega a um tempo médio de 16 anos, antes mesmo de começarem a trabalhar. Essa
imersão se expressa em toda uma bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças,
de representações e de certezas sobre a prática docente. Ora, o que se sabe hoje é
que esse legado da socialização escolar permanece forte e estável através do tempo.
No segundo eixo da análise refere-se ao papel da formação inicial. E nesse
sentido, pode-se perguntar: de que maneira a formação universitária contribui com a
formação de professores? Como essa formação participa do processo de construção
das certezas particulares que os professores de educação física constroem acerca de
seus saberes docentes e da sua própria capacidade de ensinar? Para nosso
entrevistado a formação inicial deve ter “bons professores” [como os que ele considera
que teve na sua formação], além disso, acha que todo professor deve fazer cursos
específicos de especialização e atualizações constantes.
O terceiro eixo de análise relaciona-se com o exercício profissional vivido na
organização escolar como um todo. Aqui indagamos: a escola como totalidade
contribui para forjar um conjunto de certezas e dúvidas particulares dos professores de
educação física quanto a sua própria capacidade de ensina? Até que ponto essas
certezas ajudam os professores de educação física a enfrentar os desafios colocados
pela prática? “No CEAN, eu consegui organizar o trabalho de modo que eu possa
atender cada turma em um dia e fazer uma rotatividade entre as turmas e nos
horários. Os alunos já se começaram a gostar das aulas. No dia que você falta os
alunos lhe cobram. Quando os professores das outras disciplinas faltam, a
coordenadora fica com os alunos na sala de aula. Mas, quando eu falto, os estudantes
logo me perguntam no dia seguinte: - “Professor por que o senhor faltou? O senhor vai
repor essa aula? Nós lhe esperamos na quadra”. Assim eu vejo que eles gostam das
aulas, isso para mim é um ponto positivo e gratificante. Lá em Tarauacá, como a
cidade é pequena, se eu faltasse os alunos iam me buscar em casa (risos)”
(Entrevista: 24/09/2011).
894
impossível frequentá-la. Perde com isto o aluno, que acaba passando o ensino médio
sem ter contato com esta disciplina e não podendo usufruir os benefícios que esta
pode lhe proporcionar. Perde o profissional da área, pois vê diminuir o mercado de
trabalho em função da diminuição do número de aulas oferecidas pelos
estabelecimentos de ensino. Diversos esforços pelo país afora e também, como no
caso pesquisado nesse estudo, embates e vitórias da educação física vêm emergindo,
no sentido de legitimar, através de novas práticas pedagógicas a importância desta
disciplina, junto às demais, para a formação integral do adolescente que frequenta o
ensino médio.
Portanto, podemos concluir nossa análise destacando algumas contribuições
aos estudos dos saberes profissionais dos professores de educação física. A primeira
diz respeito ao fato de que o professor pesquisado, mesmo reconhecendo a
importância de se compreender e dominar os conteúdos disciplinares considera que
só este conhecimento não é suficiente para dar conta da difícil tarefa de ensinar. Além
disso, ficou evidenciada que a constituição da cultura docente em relação a este
professor de EF tinha íntima relação com a forma de “acomodação” concreta que essa
disciplina escolar ocupa no currículo. Dentre os saberes tornado centrais ao
desempenho pedagógico do professor pesquisado, alguns se mostraram relevantes: o
saber ouvir, o saber ver, as técnicas de supervisão, a interação humana, a habilidade
para usar espaços e objetos/materiais didáticos, a capacidade de pensar e agir ao
nível do estabelecimento de ensino, as estratégias de conquista dos alunos, o saber
ensinar levando em conta os saberes sociais de referência dos alunos, as rotinas de
trabalho.
Esses saberes mostraram-se ligados a um contexto de ensino onde a ordem e
disciplina mostram-se diferenciadas em relação às outras disciplinas escolares e as
condições dos locais das aulas – por ser ao ar livre, com limites ampliados,
inexistência de mobiliário tradicional – levando à maior interação entre os alunos e
entre o professor e os alunos; o trabalho em grupos se mostrou fortemente recorrente;
a segurança e o cuidado com a integridade física dos alunos surgem como
organizadoras das atividades. Os materiais didáticos são diferenciados – bolas,
coletes, cordas, etc. A avaliação não ocorre com aplicação de provas. O ensino é visto
como tempo/espaço para o desenvolvimento da formação humana dos alunos. E a EF
é vista, pela escola, como um ponto de apoio às atividades “sérias” desenvolvidas nas
outras disciplinas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
896
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
população dessas faixas etárias estão ou passaram pela escola (SOARES; JACOBI,
2000; CARLINI-COTRIM, 1998).
Na região Oeste do estado de São Paulo, destacam-se os estudos por nós
realizados com alunos do ensino fundamental e médio da cidade de Assis em 2000
(GUIMARÃES et al., 2004). Outros estudos foram desenvolvidos em diferentes
cidades brasileiras com metodologia padronizadas, semelhantes a do CEBRID o que
permite uma comparação dos resultados. No quadro 1 são apresentados os dados
referentes à prevalência de consumo das principais substâncias pesquisadas entre os
estudantes
DISCUSSÃO
Masculino Feminino
2000 2010 2000 2010
Drogas
Álcool 69,2 62,6* 68,0 69,2
Tabaco 22,4 16,4* 22,8 14,2*
Solventes 11,0 6,5* 7,3 4,7
Maconha 8,8 9,5 4,5 6,1
Cocaína 2,6 3,8 0,4 2,2
Tranquilizante 2,4 1,7 4,9 6,4
903
CONSIDERAÇÕES FINAIS
significativo nestes índices nos últimos 10 anos. Estes resultados demonstram que é
perfeitamente possível desenvolver estratégias eficazes que possam reduzir o
consumo e os problemas ocasionados pelo uso de drogas entre os adolescentes,
tanto nas escolas, como na sociedade de uma forma geral.
Tal constatação demonstra que o consumo de drogas não está aumentando
em um grau sem precedentes entre os mais jovens, como é alardeado pela mídia e
por muitos setores da opinião pública. Isso possibilita uma visão mais serena sobre a
questão, evitando atitudes e intervenções precipitadas. Os dados também abrem
espaço à reflexão para um planejamento de políticas públicas permanentes e de longo
prazo, a fim de evitar que o consumo de drogas se transforme em um problema com
consequências ainda mais graves para as crianças e os adolescentes.
Aparentemente, as ações para redução do uso de drogas entre os
adolescentes na atualidade não estão sendo eficazes. Provavelmente isto ocorra
devido ao fato de poucas dessas iniciativas levarem em conta a individualidade do
sujeito, o contexto social e cultural em que esses adolescentes estão imersos e a
complexidade dos vários fatores envolvidos. A elaboração de ações que levem estes
fatores em consideração é um dos grandes desafios para as políticas públicas que
visem à prevenção dos comportamentos de risco entre os adolescentes, entre eles o
consumo de drogas. Para tanto, é amplamente reconhecido que entre todas as
instituições sociais, a escola e a família tem uma influência muito grande na infância e
adolescência, e são consideradas elementos chaves em propostas de intervenção
para estas faixas etárias. A articulação destas instâncias torna-se fundamental para o
sucesso de qualquer iniciativa ou política.
REFERENCIAS
BAUS, J.; KUPEK, E.; PIRES, M., Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso
de drogas entre escolares. Revista de Saúde Pública, v.1,n. 36, p. 40-6, 2002.
BUCHER, R. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
CARLINI-COTRIN, B.; PINSKY, I. Prevenção do abuso de drogas na escola: uma
revisão da literatura internacional recente. Cad. de Pesquisa, n. 69, p. 48-52, 1989.
GUIMARÃES,J.L. et al. Consumo de drogas psicoativas por adolescentes escolares
de Assis, SP. Revista de Saúde Pública, n. 38, v. 1, p.130-132, 2004.
GALDURÓZ, J. C. F.; SANCHES, Z. V. D. M; NOTO, A. R. Fatores associados ao uso
pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras.Revista de Saúde Pública,
n. 44, v. 2, p. 267-273, 2010.
905
1 INTRODUÇÃO
10% das escolas que ofertam o Ensino Fundamental regular são atendidas por
laboratórios de Ciências enquanto que no Ensino Médio regular a situação é um pouco
melhor, mas ainda é insuficiente, com 47,2% de instituições públicas escolares com
estas instalações.
Apesar da falta de laboratórios didáticos na maioria das escolas públicas ainda
é possível que os alunos tenham aulas práticas. Como sugerido por Borges (2002), é
possível executar atividades experimentais fora dos laboratórios, principalmente na
sala de aula, inclusive, alguns tipos de atividades, como aquelas que envolvem a
observações de fenômenos naturais, serão mais enriquecedoras se executadas fora
destes ambientes. Contudo, Krasilchik (2011) lembra que o ensino será tão eficiente
quanto melhor forem as instalações e os materiais disponíveis.
Diante da importância das atividades experimentais e do laboratório didático
para o ensino das Ciências, esta pesquisa teve como objetivo conhecer as condições
dos laboratórios didáticos de Ciências das escolas estaduais e municipais do
município de Viçosa, Minas Gerais, que ofertam as séries finais do Ensino
Fundamental e/ou o Ensino Médio. Além dessa verificação, propôs-se a averiguação
da ocorrência de atividades práticas e o local onde essas são realizadas quando não
há laboratórios disponíveis.
Desta forma, objetivo principal desta pesquisa foi diagnosticar a presença e
levantar dados a respeito da ausência de laboratórios didáticos assim como da
realização de aulas práticas nas escolas públicas estaduais e municipais do perímetro
urbano do município de Viçosa, Minas Gerais, que ofereçam ao menos o terceiro e
quarto ciclos do Ensino Fundamental e/ou Ensino Médio, a fim de gerar informações
que possam contribuir para uma melhor utilização de espaços alternativos ao
laboratório para a realização de atividades experimentais das Ciências de forma eficaz
e segura.
Para tanto, foi proposto que se: levantasse o número de escolas públicas da
rede estadual e municipal que ofertem o segundo e terceiro ciclos do Ensino
Fundamental e/ou Ensino Médio que possuem laboratório didático no perímetro
urbano do município de Viçosa; verificasse se as escolas já possuíram laboratório
didático e qual a expectativa sobre a possibilidade de instalação de um destes
ambientes a curto ou médio prazo; evidenciasse onde são realizadas as atividades
práticas relacionadas às Ciências nestas escolas que não possuem laboratório
didático; e investigasse a existência de reclamações a respeito da ausência do
laboratório didático.
908
METODOLOGIA
Durante os meses de junho e julho do ano de 2012, foi realizada a pesquisa de
campo nas escolas da rede pública estadual e municipal do perímetro urbano do
município de Viçosa, Minas Gerais, que oferecem as séries finais do Ensino
Fundamental (6º ao 9º ano) e/ou o Ensino Médio. Gil (1999) afirma que os estudos de
campo se assemelham aos levantamentos, porém ele não exige a mesma precisão
estatística e o seu planejamento apresenta uma maior flexibilidade.
Durante as visitas às escolas, foram aplicados pequenos questionários aos
gestores de acordo com a presença ou ausência de laboratórios didáticos nas escolas.
Os questionários possuíam questões abertas e fechadas. Tinham como objetivo reunir
informações a respeito da ausência do laboratório, locais de realização das aulas
práticas e sobre a incidência de reclamações, por parte dos alunos ou professores,
relacionadas à falta de espaço apropriado para a execução de atividades
experimentais. Outras observações complementares foram registradas no ato da
visita.
Os dados foram reunidos armazenados, organizados e submetidos à análise
para a confecção dos gráficos e tabelas. Os resultados foram comparados com outros
trabalhos similares realizados no Brasil e a alguns documentos oficiais (BRASIL, 1996;
BRASIL, 2009; BRASIL, 2011; MINAS GERAIS, 2011).
DISCUSSÃO
de 2012 a sua construção foi finalizada. Não havia laboratório no seu projeto original.
Em nenhuma das três escolas há previsão para a construção de laboratório didático
para os próximos anos.
Nas escolas EscMun3 e EscEst6 não existe o laboratório didático, mas
durante a entrevista os gestores apontaram que existe a previsão da sua construção a
médio ou longo prazo, inclusive, a primeira já conseguiu a aprovação da obra pelo
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e a outra ainda o está aguardando.
Isso indica que, apesar das metas propostas pelos governos estadual e federal
estarem longe de serem alcançadas no tempo previsto (BRASIL, 2011; MINAS
GERAIS, 2011), tudo indica que as escolas caminham em direção à obtenção dos
laboratórios didáticos de fato.
As demais escolas pesquisadas nunca tiveram laboratório de Ciências e não
têm expectativa de que a situação mude a curto ou médio prazo. Uma destas, a
EscEst2, tinha em seu plano de ampliação mais recente a previsão de construção de
um laboratório didático, mas foi priorizada uma sala de aula. Essa precariedade na
Educação Básica é conhecida dos brasileiros há muito tempo. Entretanto, cabe ao
governo e a sociedade desenvolver ações que mudem este cenário. Dourado (2005)
aponta que o Ministério da Educação (MEC) vem desenvolvendo ações nesse âmbito,
implementando políticas públicas que contribuam não somente para a melhoria das
condições de infraestrutura das unidades escolares, como também na melhoria dos
processos de organização e gestão da Educação Básica.
Em todas as escolas pesquisadas que não possuíam laboratório didático, os
gestores entrevistados afirmaram que ocasionalmente eram realizadas atividades
práticas. O local mais utilizado para o desenvolvimento de práticas é a própria sala de
aula (100%), porém outros locais também foram citados, como o pátio (30%),
biblioteca (10%) e até mesmo a cantina (10%). Uma das regras básicas de segurança
no laboratório é a não ingestão de alimentos ou água dentro deste ambiente
(KRASILCHIK, 2011), sendo assim, podemos expandir essa regra para os locais onde
são realizadas atividades práticas experimentais, pelo menos em seu período de
execução. Logo, a cantina da escola não deveria ser utilizada para esse fim, com
exceção de pouquíssimos casos, como em aulas sobre a alimentação, por exemplo.
Outra recomendação dada aos professores é que eles mantenham atenção
redobrada, visto que esses ambientes não estarão equipados com os aparelhos de
segurança necessários. Somente uma das escolas afirmou realizar atividades de
natureza prática fora da escola.
912
DISPOSIÇÕES FINAIS
INTRODUÇÃO
MARCO TEÓRICO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
Conteúdo A1 A2 B1 B3 B4 C1 C2
Física Nuclear - - - - - - -
Relatividade Restrita - - SIM - - - -
Efeito Fotoelétrico NÃO - NÃO - - - -
Princípio da Incerteza - - - - - - -
Introd. a Física Quântica - - - - - - -
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1Licenciada em História pela Universidade do Sagrado Coração, Bauru – São Paulo, Mestre em História
Social pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Assis - São Paulo.
Contato: mrs.lisboa@gmail.com
926
2Como qualquer outro tipo de fonte, a música também tem suas limitações e dificuldades de pesquisa.
Moraes apresenta quatro: a linguagem musical; seu código; sua subjetividade e o conceito de popular. O
autor salienta que, por se tratarem de objetos orais, proporcionam “variadas relações simbólicas entre
música e sociedade”, dificultando a análise de suas relações com o conjunto social. Ver em: MORAES,
José Geraldo Vinci de. História e música: canção e conhecimento histórico. Revista Brasileira de
História, vol. 20, n 39, 2000. Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em 09/02/2005.
3 Existe, na historiografia brasileira, uma vertente que vê na música popular uma nova possibilidade de
pesquisa. Não se trata de reconstruir linearmente uma história da música popular, e sim, vê-la como
objeto e fonte de estudos históricos. Trabalhos como a coleção Decantando a música popular:
inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira3, organizados por Berenice
Cavalcante, Heloisa Starling e José Eisenberg; os estudos de Arnaldo D. Contier e Geraldo Vinci Moraes
tentam caminhar por essa nova trilha historiográfica.
927
Revolta da Chibata
No caso desta atividade, ela surgiu de maneira circunstancial. Após a
apresentação do tema pelo professor da disciplina, um aluno veio nos procurar,
dizendo que conhecia uma música “que falava de João Cândido”, líder do movimento,
e se poderia tocá-la na sala de aula para os colegas. No entanto, não conhecia a letra
e precisava de alguém que a cantasse. Ofereci-me para cantá-la, aproveitando o
interesse do aluno. Assim, o aluno sentiu-se não só motivado a tocar a canção, mas
também mais interessado pelo conteúdo propriamente, pois estava mais próximo de
seu universo de interesse: a música.
Na aula seguinte, eu e o aluno apresentamos a música O Mestre Sala dos
Mares, composta por João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina, na década de
1970. Esta canção foi composta para homenagear o marinheiro João Cândido
Felisberto, líder da Revolta da Chibata, ocorrida em 1910. Ao mostrar a composição e
o contexto histórico nela mencionado, os alunos puderam perceber a importância dos
movimentos populares como forma de reação. Não há repressão sem reação, ou seja,
os fatos históricos têm, em sua natureza, as reações.
Depois de cantar, buscamos na internet um vídeo com a versão interpretada
por Elis Regina, na época de sua gravação, em meados da década de 1970, em plena
ditadura militar. Assim, os alunos puderam conhecer o “documento musical” original,
4 FRANCESCHI. H. A casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002. Cinco 5 CDs com
imagens e quatro CDs com fonogramas originais.
928
bem como o contexto de censura presente naquele momento. De maneira geral, esta
atividade, ainda que não prevista originalmente, foi bastante gratificante. Ela aguçou o
interesse da classe pelos conteúdos apresentados, além da percepção de
mecanismos de resistência diferenciados (no caso, a música popular), mas também
ajudou na aproximação com os alunos. Para esta atividade, com duração de 30
minutos, foram utilizados, voz e violão, internet (vídeo com a versão original, com
interpretação de Elis Regina).
deresistência para a população mais pobre, seja por meio de letras cômicas ou
paródias sobre os acontecimentos da época.
Para avaliar a segunda atividade, A Era Vargas e o Rádio, preparei uma
pesquisa, com o intuito de verificar a recepção e compreensão dos conteúdos
apresentados, por meio de comentários escritos dos alunos. Eles responderam a
seguinte questão: Dentre as atividades apresentadas, em sua opinião, qual delas
complementou melhor o conteúdo, e por quê?
Participaram da pesquisa 38 alunos, que fizeram breves comentários sobre os
temas abordados durante o projeto Aulas Musicais. Do total, 37 alunos preferiram a
Atividade 2 (Era Vargas e o Rádio), uma vez que já haviam se familiarizado com este
tipo de documento na Atividade 1. Apenas um aluno disse gostar das duas atividades,
e foi capaz de estabeleceu diferenças de abordagem entre as atividades:
6Uma reflexão um pouco mais detida e aprofundada sobre a importância dos projetos para as atividades
desenvolvidas dentro de uma concepção de interdisciplinaridade pode ser encontrada nos textos A
interdisciplinaridade na escola. Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente, e em ALENCAR,
Mariano B. Projetos e interdisciplinaridade. Disponível em
http://mundojovem.com.br/projetos/pedagogicos/projeto-projetos-e-interdisciplinaridade.php.
931
seus conceitos e características, o que não impede que tentativas neste sentido sejam
feitas.
REFERÊNCIAS
Atividade 2
INTRODUÇÃO
O Projeto Escola e Meio Ambiente foi criado de uma parceria entre uma escola
estadual da cidade de São Carlos e a universidade por meio do PIBID (Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) da Universidade Federal de São
Carlos. Professores da área de biologia, ciências e geografia da escola, com os
pibidianos das áreas de química e biologia da universidade, juntos com os alunos dos
terceiros anos do ensino médio do ano de 2012 visaram à coleta, análise e discussão
dos indicadores de qualidade de água, uso do solo, estudo da fauna e flora
característica da região por meio da exploração da área vegetal da Bacia do Córrego
da Água Quente (BCAQ) da cidade de São Carlos.
De acordo com Tonisi et al (2009):
A cidade de São Carlos, interior do Estado de São Paulo, está
inserida na Bacia Hidrográfica do Rio do Monjolinho, com cerca de 20
córregos e 700 nascentes e divida em treze sub-bacias, dentre as
quais a BCAQ que se localiza na região sul de São Carlos e abrange
cerca de 10 km 2. A BCAQ possui uma população de
aproximadamente 40 mil habitantes que moram em 18 bairros e cerca
de 30 propriedades rurais.O Córrego da Água Quente apresenta
cerca de 6 km de extensão e é formado por dezoito regiões de
nascentes distribuídas ao longo da bacia. É fundamental para a
936
METODOLOGIA
A atividade foi executada em três partes e, em cada uma delas, os dados foram
analisados. Primeiramente, realizou-se o estudo prévio da área visitada com aulas
expositivas e dialogadas, abordando assuntos, como bacias hidrográficas, relevo, ciclo
da água, indicadores de qualidade da água, métodos de análises da qualidade da
água, fatores envolvidos na qualidade de água, entre outros.
Depois, ocorreu a visita à área onde foram coletadas amostras de água, solo,
vegetação de cerrado e vegetação de mata ciliar. As amostras de água foram
analisadas no local, as amostras de solo foram levadas para a Universidade Federal
de São Carlos para posterior análise e as amostras de vegetação foram preservadas
para trabalhos futuros na escola.E, por fim, os resultados da coleta foram levados em
sala de aula para discussão e finalização do projeto.
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
A pesquisa se apoiou em textos analisados, estudados e discutidos na
disciplina Organização e Gestão da Educação Básica - ministrada pela Profa. Dra.
Maévi Anabel Nono, durante o segundo semestre de 2012 do curso de Pedagogia da
Unesp (Campus de São José do Rio Preto) -, cujo enfoque tratou de abordar os
ditames que permeiam a curiosidade e o interesse de docentes e especialistas em
relação aos assuntos da escola. As pessoas entrevistadas para esta pesquisa se
diferem bastante no que diz respeito às suas experiências de vida e idade. O
entrevistado mais experiente de todos possui oitenta anos e pôde colaborar bastante
com o presente trabalho por ter vivido uma rica história de vida. Já com os mais novos,
a idade entre as crianças e os adolescentes transita entre os sete a dezessete anos.
Para os participantes em idade escolar, as entrevistas foram realizadas na aula
de Língua Portuguesa, por meio de questionários e debates para que os alunos
pudessem se expressar também oralmente. Os menores puderam desenhar mais
descontraidamente a escola de seus sonhos. Com os demais entrevistados, também
909
houve questionário, porém alguns relataram suas experiências por e-mails, conversa
telefônica ou pessoalmente.
DISCUSSÃO
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA VIDA DO INDIVÍDUO E AS APRENDIZAGENS
ADQUIRIDAS
Segundo a maioria dos entrevistados, principalmente para os mais velhos, a
escola exerce ou exerceu um papel fundamental em suas vidas. Eles a consideram
um lugar de incentivo, realizações e conquistas. Muitos dos participantes da última
faixa etária, quando relataram suas lembranças e/ou experiências, evidenciaram um
sentimento de nostalgia despertado por suas lembranças, que foram muitas, mesmo
as mais tristes que trouxeram certa tristeza lhes permitiram reviver e olhar novamente
para o passado e perceber o quanto valeu a pena frequentar, passar pela escola,
mesmo que por tempo limitado, já que os mais novinhos ainda a frequentam.
Para que se possa elucidar claramente o que cada entrevistado respondeu em
particular, algumas respostas seguem transcritas. Começaremos com o participante
de mais idade, o senhor A, que tem 80 anos e vive na cidade de Santos, litoral de São
Paulo, com sua esposa. Ambos são naturais de Zamora, Espanha. O senhor A. deu
contribuição muito enriquecedora e especial ao presente trabalho, pois sua educação
se deu de forma bem peculiar em relação aos demais participantes. Filho de mãe
solteira e órfão de pai, que falecera em combate na Guerra Civil Espanhola, em 1938,
o senhor. A. enfrentou todo tipo de preconceito de uma cidadezinha do interior da
Espanha, país considerado extremamente católico e ditador. Quando tinha apenas
cinco anos de idade, ele fora entregue aos cuidados de uma escola cujo regime era
totalmente fechado. Foi nessa escola federal que ele se alfabetizou se letrou e
aprendeu tudo que lhe fora necessário para conquistar seus objetivos, pois ela tinha o
ensino voltado ao tecnicismo. Lá, juntamente com outras crianças órfãs também, ele
aprendeu tudo que alega saber hoje. Para o senhor A. sua educação foi de extrema
valia, assim diz com suas próprias palavras: “A escola teve uma importância máxima
em minha vida, eu não seria nada, ninguém se não fosse a escola. Eu aproveitei
bastante, mas não o suficiente. Reconheço que eu poderia tê-la aproveitado bem
mais.”
Outros participantes também apresentaram respostas peculiares,
particularmente interessantes a este estudo sendo elas: S. M., L. G., D. M., A. P., J. S.,
entre outros. Esses fazem parte de uma turma mais experiente que possui formação
910
mais completa, pois a maioria concluiu o ensino superior. Abaixo seguem algumas
perguntas feitas a eles e suas respostas.
Q1: Qual a importância que a escola teve em sua vida?
A. P.: A escola sempre foi muito importante para mim. Eu sempre fui aquela aluna dedicada,
que gostava de tirar ótimas notas e respeitava muito minhas professoras. Tinha um carinho
especial por elas. As minhas amizades também estavam todas na escola, o que me fazia
gostar ainda mais dela. Em relação aos conteúdos, sempre gostei muito de ler, escrever, e nas
séries iniciais lembro-me que auxiliava as professoras na alfabetização de colegas de sala!
Para mim era uma alegria ajudá-las! Conforme fui crescendo algumas coisas foram mudando,
eu já não gostava tanto assim de TODOS os professores e nem de todas as matérias. Os
amigos ficaram mais selecionados e via pouco significado em aprender tanta matérias. Mas
nem por isso ela deixou de ser importante para mim, tanto que sempre estudei em escola
pública e no último ano do Ensino Médio decidi prestar um concurso de bolsas e fazer o último
ano particular para ter um bom ensino e poder ingressar em uma universidade pública.
D. M.: Teve tudo, fez eu ser quem sou hoje, aprendi através dela buscar conhecimento, aprendi
a ser crítica, aprendi a fazer escolhas e principalmente a ser uma mulher independente, não
precisei a me sujeitar a nada por falta de oportunidade e isso eu devo a escola, só com o
estudo é que podemos fazer a diferença.
J. S.: Aprendi a ler e escrever.
L. G.: A escola me ensinou a entender melhor o mundo e me estimulou a estudar e a pesquisar
mais, tanto que eu me tornei um professor.
S. M.: A importância da escola na minha vida foi a oportunidade de ter frequentado, pois meus
pais eram analfabetos, e na época não se fazia muita questão que os filhos frequentassem
uma escola, e eles me deram essa oportunidade.
Q2: Quais são as recordações que mais marcaram a sua vida na escola?
A. P.: Lembro-me com carinho de alguns amigos, escolas e professores. Alguns episódios são
inesquecíveis, como um dia em que estava levando um sonho para minha professora da
segunda série, Gláucia, e esqueci em casa. Quando me lembrei desabei a chorar na escola.
Eu não me conformava de ter esquecido o presente da minha professora. Em seguida
apareceu minha mãe na escola para me levar o sonho! Alegrou o meu dia! Outra recordação
forte é a sétima série. Tivemos uma professora muito especial, Yolanda, que nos ensinou muito
sobre a vida, família, compreensão, amor... Não me lembro de conteúdos para falar a verdade,
mas lembro-me que ela nos levou para o Festival do Folclore em Olímpia e, antes de irmos ao
recinto, fomos ao Thermas dos Laranjais. Esse passeio foi inesquecível. Há pouco tempo nos
reunimos no facebook e muitos alunos dessa turma têm fotos e lembranças desse dia.
D. M.: A minha participação no grêmio da escola, as aulas de educação física, a dança e
alguns professores e o que mais me marcou na época foi a morte da minha professora de
educação física, dona Cristina ao dar a luz e por ela ser tão nova. Também a saída da escola
por motivo de mudança da minha professora de português, dona Regina, me debulhei em
lágrimas. Também das quatro amigas que Maria, Cintia, Marilice e Sonia que continuam até
hoje, nos vemos raramente por estarmos em cidade diferente, mas sempre busco notícia delas.
J. S.: Foi quando disputávamos um campeonato de futebol interclasse e o premio era umas
medalhas de chocolate. Lembro que a Professora ficou com vergonha de nos dar essa
premiação.
L. G.: Me lembro com saudade de um campeonato de futebol no interclasse, nele fiz um gol de
cabeça que foi decisivo para ganharmos a competição. O resultado foi dessa partida foi 2 a 1.
O legal é que um deles foi meu. Fiquei super famoso e salvei o time!!!! Outra história muito
engraçada foi quando eu comecei a me interessar afetivamente por uma menina da minha
classe. Estávamos na antiga 6ª série, ela era um ano mais velha do que eu. Eu estava
911
adiantado nessa turma por eu fazer aniversário no fim do ano, além disso, eu era o mais nanico
da turma e me sentia um pouco inferiorizado por isso. Mas logo tudo mudou quando ela me
pediu em namoro, fiquei feliz com o seu pedido. Na verdade curti bastante. Logo depois uma
vizinha de bairro também passou a se interessar por mim e eu por ela. Começamos a namorar,
mesmo namorando a outra garotinha, a da minha sala. Nessa época eu morava em Santos e
nos finais de semana eu e minha família íamos sempre à praia. Como éramos bem amigos as
duas garotinhas nos acompanhavam nesses passeios. Lembro-me que eu ia com as duas no
banco de trás do carro e nós brincávamos de competição de beijo na boca. Quando eu beijava
uma a outra reclamava e dizia que também sabia beijar, aí eu tinha que ficar beijando as duas.
Meus irmãos e meus pais achavam graça da situação, mas na verdade nós não tínhamos
noção do que fazíamos. Afinal isso já faz tanto tempo e naquela época as coisas eram bem
mais diferentes do que é agora.
S. M.: As recordações são poucas, não tenho muitas, só um fato marcante que eu nunca me
esqueci. Me lembro até hoje de um colega que morreu 3 dias antes de receber o tão sonhado
certificado.
Q3: Quais foram as aprendizagens mais importantes adquiridas durante o
período escolar que realmente contribuíram para sua formação?
A. P.: Quando se fala em aprendizagens, dificilmente me recordo de conceitos. Sei que minhas
competências de leitora e escritora foram bem desenvolvidas na escola [...]. Mas, na verdade,
o que vem à tona quando se fala em aprendizagem são lembranças relacionadas à
socialização, aos amigos, às convivências, aos sentimentos... Acho que aprendi a me
relacionar com o outro, a respeitar, a perceber as diferenças, a trabalhar em grupo, a ser
responsável. Claro que houve outras aprendizagens, mas que eu só me lembro
superficialmente e se relacionado com algum fato significativo, como uma música em inglês
cantada por uma professora que eu jamais pensava que poderia cantá-la, por ser
extremamente séria...
D. M.: A ser muito crítica e de opinião própria e principalmente o valor do respeito entre amigos
e professores, e por ser assim em uma época em que E.M.C (Educação Moral e Cívica) era
matéria imposta e não concordar muito com algumas coisas sofri muito preconceito, porque
negro, mãe solteira e homossexual nunca foi feio prá mim e isso consegui passar para os meus
filhos, essa foi o papel principal que a escola exerceu em mim, na minha formação.
J. S.: Aprendi a me socializar com pessoas e a trabalhar em grupo.
L. G.: Aprendi a estudar bastante, a ter disciplina nos estudos, a me organizar e a ter seriedade
nos estudo e no trabalho.
S. M.: Os aprendizados mais importantes foram os conhecimentos adquiridos. Tive a
oportunidade de poder prestar concursos, conheci pessoas legais e só.
Já os adolescentes, por mais que reclamem da escola, admitem que ela seja
importante e necessária, principalmente no mundo em que vivemos hoje, pois o
mercado de trabalho está cada vez mais exigente. Quando questionados sobre a
verdadeira razão ou motivo de frequentarem a escola eles respondem da seguinte
forma: “Embora alguns dias eu me sinta obrigada a ir à escola, eu sei que ela contribui
para o meu futuro, na verdade, me ajuda a construí-lo. Eu sei que quem tem formação
e a escola concluída até o 3° colegial tem mais chances de se dar bem do que quem
não tem.”; “Para aprender tudo que é importante para nosso futuro e conhecermos
tudo sobre o mundo para um dia podermos utilizar esses conhecimentos”; “Pelo
aprendizado, para estudar, ser alguém na vida.”; “Por vários motivos, mas em especial
por gostar.”; “Me tornar alguém na vida, ter uma profissão e ser bem sucedida.”;
912
“Aprender para no futuro ter um bom emprego.”; “Para o meu aprendizado.” ou “Hoje
em dia não se consegue nada sem estudos, enfim, para ter um bom trabalho e viver
financeiramente bem”. São poucos os jovens entrevistados que não veem na escola
uma possibilidade real de ascensão social, pois ao responderem as mesmas
perguntas se negam a elogiá-la dizendo que não há razão especial para frequentarem-
na e que só vão à escola porque são obrigados por seus pais. No entanto, quando se
pergunta sobre o sentido que a escola tem para cada um, eles acabam se
contradizendo ao responderem que a escola os prepara para o seu futuro, para eles
serem alguém na vida e terem um bom emprego. Sem que percebam, acabam
reconhecendo a importância da escola em suas vidas, mas não estão maduros para
admitir ou perceber isto.
Para muitos, ainda tem espaço a ideia de que a educação é uma maneira
eficiente de garantir às pessoas que possam melhorar sua situação e sua posição no
meio social. Essa ideia pauta-se num conjunto de princípios que surgiram e foram
difundidos a partir do liberalismo, o qual entendia que a escola teria a capacidade de
desenvolver os indivíduos a partir de suas aptidões.
No Brasil, o liberalismo teve o auxílio de Anísio Teixeira, que contribui para o
fortalecimento da “Escola Nova”, movimento educacional que resumiu seus ideais
teóricos no chamado “Manifesto dos Pioneiros”, de 1932. Por esse Manifesto,
ressaltava-se a educação enquanto projeto pedagógico com a finalidade de capacitar
os estudantes de acordo com fundamentos descentralizados e autônomos, oferecendo
um meio para que a educação se adequasse aos interesses dos educandos. Com
isso, a Escola Nova defendia a realização dos ideais, no Brasil, da escola com moldes
liberais.
A visão liberal no que concerne à educação predominou, no Brasil, entre as
décadas de 1920 e 1960. Conhecida como “pedagogia do consenso” ou “otimismo
pedagógico”, seus defensores entendiam que a escola teria não apenas a função de
contribuir para a melhoria do contexto social, mas, sobretudo, de ajudar na
harmonização dos conflitos em face da sociedade. Em termos gerais,
913
neoliberal fez com que a educação brasileira sentisse efeitos danosos, tais como a
adoção, como critério de eficiência, de uma educação rápida e barata; o oferecimento
de uma educação mais profissionalizante e menos abrangente; a privatização do
ensino público; a aceleração da aprovação a fim de desocupar as vagas disponíveis;
uma autonomia meramente administrativa das instituições de ensino etc.
alunos, sendo uma grande ferramenta pedagógica para a interação e diálogo entre
ambos.
Todavia, por mais equipada que uma escola seja, é evidente a extrema
importância de se ter um espaço aconchegante e prazeroso, com um espaço físico
amplo para que crianças e adolescentes possam interagir. Muitas das crianças
entrevistadas reclamaram da falta de uma área verde, com ambientes adequados para
lancharem e brincarem. São nesses espaços que acabam encontrando prazer na
escola, pois são capazes de perceber que os limites da escola transcende as salas de
aula.
Ao se fazer, aos alunos, perguntas como “Qual seria sua escola ideal?”,
percebemos que as escolas pública e privada enfrentam os mesmos dilemas, pois
ambas ainda não conseguiram cativar de maneira geral seus alunos, mas não
podemos negar que muitos avanços foram alcançados. Contudo, a escola de hoje
definitivamente não é a mesma de alguns anos atrás. Ela está muito bem estrutura e
amparada por leis nacionais que lhes permitem um funcionamento mais amplo e
igualitário para as diferentes camadas da sociedade a fim de se promover um ensino
padrão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização deste estudo, pôde-se avaliar, ainda que de modo incipiente,
a concepção que indivíduos de diferentes faixas etárias têm da escola de hoje e
compará-la com a de anos atrás. Os resultados, obtidos por meio de questionários
aplicados aos participantes da pesquisa, indicam que, de modo geral, a escola é sim
importante para as pessoas, mesmo que algumas delas a neguem ou admitam apenas
parcialmente sua relevância. Observa-se que, para as crianças, a escola ainda faz
parte de um mundo de imaginação e grandes descobertas, pois elas não estão
influenciadas totalmente pelo meio em que vivem e ainda não são capazes de julgar a
escola como boa ou ruim. Eles acreditam que tudo o que vão aprender está na escola
e que seus professores é quem intermediarão essas informações. O ambiente escolar
para eles é de interação social, repleto de descobertas e aprendizagens, é um lugar
considerado por muitos a extensão de suas casas, já que passam a maior parte do
seu tempo lá.
Já para a maioria dos adolescentes, a escola é um lugar enfadonho e chato;
julgam que o conhecimento de que precisam a escola não é a única capaz de lhes
oferecer, já que outros recursos de acesso estão disponíveis para se obtê-lo. Essa
917
concepção deve ser considerada tendo em vista que, na fase em que se encontram,
esses alunos estão descobrindo outros interesses não associados aos da escola. É,
além disso, uma fase em que eles precisam lidar com as mudanças do corpo, com as
cobranças da sociedade, com as suas próprias frustrações e com sua aceitação
perante toda uma sociedade. No entanto, mesmo lidando com essas angústias, eles
de algum modo reconhecem que a escola assume, mesmo que parcialmente, papel
importante sobre suas vidas, porém talvez apenas não estejam maduros o suficiente
para admitir ou perceber isso.
Os resultados referentes aos participantes mais velhos indicam exatamente
que a valorização da escola parece se relacionar diretamente à maturidade pessoal. A
sabedoria atingida na idade madura é que possibilitaria, assim, o reconhecimento do
verdadeiro valor da escola, mesmo com todas as ressalvas que se atribui atualmente a
ela.
REFERÊNCIAS
ANDERY, M. et al. Para compreender a ciência. 13. ed. São Paulo: EDUC, 2004.
BRASIL. Lei n◦ 9394/96. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília:
1996.
BRASIL. Resolução CNE/CEB 4/2010. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de julho de 2004, Seção 1.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
GARCIA, C. M. Pesquisa sobre a formação de professores. In: Revista Brasileira de
Educação. Set/Out/Nov/Dez, 1998, n. 9.
KUHLMANN JR., M. Infância e educação Infantil. Porto Alegre: Mediação, 1998.
LOMBARDI, J. C; SANFELICE, J. L. (Org.). Liberalismo e educação em debate.
Campinas: Autores Associados, 2007.
NÓVOA, A. À escola o que é da escola. In: Revista Nova Escola Gestão Escolar. São
Paulo: Editora Abril, Fundação Victor Civita, ano II, n. 8, jun./jul. 2010, p. 18-20.
______ (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
VIEIRA, S. L. (Org.). Gestão da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
918
INTRODUÇÃO
1Doutora em Educação Matemática pela UNESP – Rio Claro/SP. Líder do grupo de pesquisa FORMEM –
Formação e Educação Matemática. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. E-mail: patricia.pereira@ufms.br
2Mestre em Educação Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Campo
Grande – MS. Membro do grupo de pesquisa FORMEM – Formação e Educação Matemática. Professora
da Rede Municipal de Ensino. Técnica do Conselho Municipal de Educação. E-mail: kelyn230@gmail.com
919
METODOLOGIA
Em nossa pesquisa, fizemos a análise documental dos 22 projetos
pedagógicos de cursos de Licenciatura de Matemática, sendo que apenas dois deles
se destacaram. Porém, devido ao tempo optamos por apenas uma Instituição, onde
realizamos entrevistas com professores e coordenadores.
Assim, para orientar o processo de análise das informações obtidas a partir das
transcrições das entrevistas, adotamos alguns procedimentos organizacionais,
descritivos e interpretativos, indicados nos aportes metodológicos da Análise Textual
Discursiva (ATD), segundo Moraes; Galiazzi (2011).
921
DISCUSSÃO
Neste trabalho, na elaboração dos metatextos, descrevemos e interpretamos
as falas dos entrevistados a partir das seguintes subcategorias: a organização e a
aplicação das PCC, a articulação entre as disciplinas específicas e pedagógicas e o
papel do professor como articulador.
Sabemos que nenhum professor consegue planejar, criar, realizar, agir, gerir e
avaliar situações didáticas eficientes para o processo de ensino e aprendizagem se
não conhecer a realidade escolar, os conteúdos da área de conhecimento de sua
atuação, dentre outros fatores que permeiam o currículo. (VASCONCELLOS, 2007)
Entretanto, com base nas pesquisas sobre a formação do professor, podemos
observar que nem sempre há uma clareza sobre quais conteúdos os futuros
professores precisam saber para ensinar. Assim, faz-se necessário um repensar, pois
a formação de professores não se faz de forma isolada, exige ações coletivas, como
pode ser observado na seguinte manifestação:
A gente lá, na primeira semana, a gente discute, fala, fala, aí, na hora que senta para montar o
projeto, a gente monta, todo ano tem o projeto. Deste ano, teve um projeto elaborado,
montado. (PROF 2)
[...] o que eu participei foram de alguns debates, discussões, em vários momentos. (PROF 2)
Vasconcelos (2007) enfatiza que não basta ter espaço para reuniões, mas que
estes espaços devem ser bem ocupados para que haja uma convivência democrática,
alicerçada na justiça de participação, como pode ser observado nos fragmentos a
seguir. As reuniões devem ser frequentes e corresponder a um desejo e necessidade
do grupo.
Então, os professores que dão aula no 1º ano se reúnem neste momento de planejamento para
um contar para o outro, o que faz e como faz. (PROF 2)
Então, uma coisa muito interessante que a gente tem, nessas reuniões de articulação, é a
discussão, troca do que deu certo e o que não deu e como podemos melhorar. (PROF 1)
923
Então, por exemplo, a 1ª semana de planejamento existe lá, três dias, manhã, tarde de uma
discussão, [...], nos anos que eu já estava aqui, que ela retoma tudo que está no projeto, olha
qual é a matriz do curso, qual é o objetivo do curso, qual é a formação do aluno, o que significa
Licenciatura, o que é essa tal prática, tudo porque, todo ano, vai tendo um pouco, uma
rotatividade de docente, então, ela faz isso todo começo de ano. Aí, depois desse processo do
projeto do curso, aí nós vamos para outro momento, que é o momento dos anos. Porque a
gente trabalha um pouco com o conceito de série, que seria os anos que a gente teria na
escola básica, mas a gente nem acaba dando esse nome, a gente fala de um trabalho feito por
ano.(PROF 2)
Esses fragmentos discursivos ilustram o que Vasconcellos (2007, p. 61) indica
como “finalidade específica do projeto pedagógico”, ou seja, a possibilidade de
“estruturação da identidade da instituição” e a “mobilização e aglutinação das pessoas
em torno de uma causa comum, gerando solidariedade e parcerias”, quando
estabelecem espaço-tempo para refletir, articulando, o que pode ser melhorado e
aprimorado, visando sempre à eficácia da formação do futuro professor.
A seguir, apresentamos trechos de depoimentos de três entrevistados sobre
esse assunto.
“Fizemos uma reunião nesse anfiteatro aqui, no anfiteatro 1, e foi aí que a gente começou,
abriu nosso olhar, e nos fez ver uma série de coisa que a gente percebeu, aquilo que a gente
poderia colocar como atividade de prática como componente, como poderíamos articular o
nosso trabalho”. (PROF 3)
“O projeto que foi construído coletivamente, discutíamos o perfil do egresso, discutimos
objetivo por objetivo, o que nós queríamos para o curso, tudo foi feito no coletivo”. (PROF 4)
“[...] nosso debate foi em cima dessas questões para tentar segurar a principal função dessa
disciplina, desse eixo de prática pedagógica do curso. Que era fazer a discussão na
licenciatura do ser professor”. (PROF 2)
Entendemos que o trabalho coletivo é o “eixo” norteador do processo, no
entanto, pelas reflexões apresentadas, somos da seguinte opinião: não existe um
caminho melhor, o mais correto, ou coisa deste tipo, a grande questão, como afirma
Vasconcellos é o “Método” - postura diante da realidade - de trabalho, qual seja a
924
“[...] articulador, nós demos esse nome por conta da figura do professor articulador, e essa
sacada foi legal. Quer dizer, colocar no projeto pedagógico um professor por ano. Que cuida
dessas práticas. Então, nós temos prática do primeiro ano, nós temos prática do segundo ano,
que é probabilidade estatística, do terceiro ano é Geometria Euclidiana, nós temos, no quarto
ano, informática. Entendeu?” (PROF 1)
925
“[...] olha, a gente não tem critério para a escolha do professor articulador, o que a gente tem
feito é o seguinte: após a distribuição de aulas, nós fazemos uma primeira reunião e,
normalmente, surge um daqueles professores daquele grupo, um do 1º ano, do 2º ano, do 3º e
4º e funciona como professor articulador. (PROF 3)
“Então, por exemplo, os professores do 1º ano, eles são escolhidos a dedo, é muito
interessante. O professor tem que ser um professor que tenha mais paciência. (PROF 2)
“[...] é feita entre nós, professores, não tem definição (PROF 2)
Aí, estes grupos decidem, olha quem de nós vai ser o professor articulador”. (PROF 2)
“[...] é difícil, porque nem todo professor está pré-disposto a esse tipo de diálogo. É um desafio,
o trabalho do articulador. É um desafio”. (PROF 3)
Notamos, nestes fragmentos, que ser um professor articulador não é uma
tarefa fácil, não é uma tarefa que todos os professores querem. Segundo Vasconcellos
(2007), o problema maior não está em fazer a mudança, mas em sustentá-la.
Percebemos que precisa ser explicitada, novamente, a essência da
participação, mesmo que seja uma tarefa difícil ser professor articulador, o planejar
deste grupo é do grupo e não para o grupo. Um dos professores entrevistados afirma
que este professor articulador terá a função principal de:
“[...] fazer a articulação dos demais professores que têm o componente prática, para que a
gente desenvolva um projeto coletivo”. (PROF 2)
Desse modo identificamos a importância deste professor articulador na
articulação não apenas da teoria e da prática, mas na busca de momentos de
reflexões, na busca da práxis. No entanto, este professor precisa realmente “vestir a
camisa”, visto que é um trabalho “árduo” na medida em que não é uma tarefa fácil
estimular o trabalho coletivo. Ele deve, ainda, incorporar os objetivos traçados pelo
grupo, pela instituição, posto que a sua atuação é fundamental conforme dito pelos
entrevistados e, além disso, ele tem o seguinte papel:
926
[...] cobrar, mandar email. Gente, vamos marcar uma reunião! Aí, você tenta com um. Aí, eu
não posso dia tal. Então, o articulador é que faz isso. Então, eu vou dar três sugestões, tem
esse, esse e esse dia. Que dia vocês podem? Há eu posso, aquele eu não posso. (PROF 2)
Então, todos os professores articuladores tinham essa função, o que era discutido, decidido, as
reuniões que eram feitas, a gente fazia tudo para montar o projeto. (PROF 2)
[...] pois o papel do articulador é chamar os professores para reuniões e também acompanhar
o desenvolvimento dos alunos. (PROF 3)
É fazer a articulação, para que o componente de prática aconteça no papel como está no
projeto, e aconteça na prática, na sala de aula. E, aí, essa cobrança, que tem que ser uma
cobrança sutil. (PROF 2)
De acordo com Vasconcellos (2007), existe um elemento que se sobressai
nestas reuniões, a “liderança pedagógica”, aqui, neste momento, representada pelo
professor “articulador”, tendo em vista que a figura deste professor atuará como um
“intelectual orgânico” do coletivo. Como destaca o autor, ele é a figura que está
atendendo a realidade, localiza as necessidades e coloca-as como desafio para o
coletivo, desafios de realmente fazer valer o que está proposto no projeto pedagógico,
ajudando nas tomadas de consciência e na busca de alcançar os objetivos propostos,
visando à formação eficaz do futuro professor, conforme expresso por dois
professores entrevistados.
“[...] vamos supor que a professora ‘X’ não pode vir hoje. Então, eu. como articuladora.
o que nós decidirmos aqui. eu tenho que encaminhar para a professora, o que foi
decidido. Então, a função do articulador é o nome próprio”. (PROF 2)
“[...] promover reunião dos professores daquele ano, para discutir como está os alunos, o
andamento das atividades, o que tem sido desenvolvido, discutirem as diferentes práticas”.
(PROF 3)
No presente caso, o articulador realiza uma das características do trabalho
coletivo, que, na concepção de Vasconcellos (2007), é o “registro”, o que foi estudado,
refletido, as decisões que foram tomadas para, depois, encaminhar para aquele
professor que, infelizmente, não participou da reunião. Concordamos com o autor na
questão do registro, pois, quando não há registro, perde-se a história do grupo.
Dessa forma, conforme dito por um dos entrevistados, o projeto pedagógico da
instituição propõe que o professor articulador seja:
“[...] escolhido entre os professores de cada ano e tem como função: promover a articulação
das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar, com ênfase nos procedimentos de
observação e reflexão para compreender e atuar em situações contextualizadas”. (PROF 4)
A partir deste fragmento, constatamos a amplitude da figura do professor
articulador que, como já explicitado, é escolhido entre os professores das disciplinas
de cada ano e responsável pela realização de reuniões periódicas para discutir
atividades que articulem as diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
927
nesse envolvimento foi o planejamento, visto que, através dele, foi prevista as ações
docentes voltadas para a problemática social, econômica, política e cultural
abrangendo toda a escola. Esses resultados demonstraram o quanto é relevante os
cursos de Licenciatura em Matemática contar com professores compromissados que,
realmente, querem mudança na formação inicial dos futuros professores.
REFERÊNCIAS
CANDAU, V. M. F. (org) Rumo a uma nova didática. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
INTRODUÇÃO
da TV Digital para uma Educação Assistida1 promove a busca para uma formação
continuada corroborando no seu crescimento profissional. Portanto favorece no
desenvolvimento de uma didática específica no Ensino Superior nesta Era Digital,
pois a educação passa por mudanças e parte para uma educação da Era Digital.
Partindo deste pressuposto, encontra-se à demanda da compreensão e o
entendimento de buscar a formação continua e agregar os conhecimentos
pedagógicos e a formação continua dos docentes na era digital. Com este estudo
supõe-se que todo docente é um sujeito que possui uma historicidade e uma visão
subjetiva, criadas em decorrência de processos socioculturais, socioeconômicos e
de escolhas que fazem ao longo de sua vida. Por isso a relevância deste objeto de
estudo.
O professor deve ter competências para atuar nessa nova era educacional, ser
participativo na relação ensino-aprendizagem e na relação de construção professor-
aluno-instituição, principalmente com o avanço tecnológico e a introdução da TV
Digital na educação,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O corpo discente com a era digital passa a frequentar as instituições de ensino
com laptops, tablets, internet e deixando o professor cada vez mais preocupado na
sua preparação para estar diante de uma nova era, e uma nova visão de ensinar.
Surgem então os paradigmas educacionais na era digital, transformando o setor, a
interação e a manifestação do conhecimento, deixando de ser longo à espera, para
ser em tempo real. Sendo assim, os professores entram em nova fase de
aperfeiçoamentos e metodologia de ensino. Pois, este deixa de ser ditador de palavras
para ser um pesquisador em tempo real, e estar atenado às questões e informações
no momento da aula.
1Repórter da Agência Brasil, apresenta a entrevista com o professor Jim Lengel da Universidade de Nova
York. Lengel é formulador do conceito da Educação 3.0.
938
REFERÊNCIAS
939
INTRODUÇÃO
diferente do que era. Para que a escola seja inclusiva, considerando a palavra
inclusão como uma concepção e não como um ato, ela realmente precisa mudar.
A inclusão como um ato tem aos poucos acontecido na realidade educacional
brasileira, sob a forma de matrícula de alunos com deficiência considerando, porém,
que nem todos os tipos de deficiências estão sendo atendidos e não sem resistência
por parte de algumas escolas ou de seus agentes. Ao considerar esse fato como um
ato, me refiro ao fato de que a mudança necessária para que esse aluno com
deficiência tenha as mesmas oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem que
qualquer outro aluno sem deficiência, não tem acontecido de forma efetiva, por falta de
entendimento do que significa tal ação. Desta forma a escola “inclui” sem mudar.
Considerando a inclusão como uma concepção diferente de entendimento da
vida em sociedade, a tarefa escolar fica um pouco mais complexa. Em uma concepção
de escola inclusiva o que está em jogo não é a matrícula de alunos com ou sem
deficiência, mas sim, a abertura da escola para oferecer educação a todos os alunos.
Essa escola ainda não faz parte da nossa realidade porque historicamente a escola
não foi criada e nem desenvolvida para atender a todos, portanto, não sabemos fazer
“inclusão”, pois como concepção implica em mudança de valores e atitudes.
Voltando no conceito de mudança, para que a escola se torne realmente
inclusiva precisa fazer diferente, ou seja, se transformar seguindo outra direção. O fato
é que essa transformação tem que acontecer no processo, pois não dá para zerar e
começar de novo. Lima (2005, p. 90), comenta que esta dificuldade de transformação
da escola que está aí, em uma escola inclusiva, pode ser comparada a uma conexão
no meio de uma viagem. No entanto, não é como descer de um avião com destino
certo e entrar num segundo avião com outro destino definido, mas sim uma alteração
de rota dentro do mesmo avião, com a mesma tripulação, mas sem que a torre de
controle possa dar indicações claras e precisas para onde devemos seguir.
Sabemos no entanto, que essa mudança implica necessariamente em garantia
de acesso, permanência e desenvolvimento de todos os indivíduos na escola. Esse
“todos” engloba a diversidade existente na sociedade sem distinção de nenhuma
natureza, conforme os termos da lei. Por isso uma escola inclusiva, enquanto
concepção não é uma escola que matricula alunos com deficiência, mas sim uma
escola em que alunos com quaisquer características, sejam elas físicas, raciais,
étnicas, religiosas, sociais, econômicas, psicológicas, mentais, etc, além de garantia
de acesso, permanência e desenvolvimento, tenham suas diferenças valorizadas
como meio de promoção de uma sociedade equitativa.
944
METODOLOGIA
O programa seguiu uma metodologia de pesquisa colaborativa por meio da
técnica de grupo focal. A metodologia de pesquisa colaborativa envolve “[...]
proporcionar condições para que os docentes reflitam sobre sua atividade e criem
situações que propiciam o questionamento de aspectos da prática profissional que
preocupam os professores” (IBIAPINA, 2008, p. 20), e além da formação, reflexão e
desenvolvimento profissional, realizada interativamente por pesquisadores e
professores tem como objetivo também a co-produção de saberes. Desta forma,
pesquisadores e docentes em interação, podem construir teoria sobre suas práticas
profissionais quando negociam valores e crenças que embasam a compreensão da
realidade vivida por eles e das escolhas feitas e também de entenderem as
interpretações dos envolvidos. É o cruzamento dessas compreensões que produz a
prática colaborativa de pesquisa sustentada entre pesquisador e professores. Assim
sendo, pesquisar colaborativamente impõe a necessidade de envolvimento entre
pesquisadores e professores em ideais comuns em que o objetivo seja beneficiar a
escola e o profissional docente, é também uma forma de envolver professores da
escola e da universidade em projetos que encarem o desafio de contribuir com
mudanças das práticas escolares e ainda de auxiliar para o desenvolvimento de seus
participantes. Ao considerar que a prática de ensinar é um fenômeno concreto, parte-
se do pressuposto que os conhecimentos são co-produzidos e que este está inserido
num contexto sociopolítico mais amplo. Assim, a pesquisa colaborativa deve “dar
conta da realidade microssocial sem perder de vista o aspecto histórico e político do
macro contexto social, possibilitando aos indivíduos compreender a ligação entre o
que eles vivem e acreditam e o que lhes é dito ou imposto” (IBIAPINA, 2008, p. 26).
Acredita-se com isso que pesquisas constituídas em processos colaborativos auxiliam
tanto na parte teórica quanto nas práticas emancipatórias ao fortalecer a prática
docente. Certamente pesquisas nessa perspectiva não são simples de serem
realizadas se considerarmos que vivemos em uma sociedade contraditória e
competitiva, porém, ao oferecer possibilidades para o desenvolvimento e o
aprendizado da colaboração e da reflexão as dificuldades são minimizadas.
Para efetivação da coleta de dados utilizamos a técnica de grupos focais.
Segundo Powel e Single, apud Gatti (2005), grupo focal é um conjunto de pessoas
selecionas e reunidas para discutir e comentar um tema, a partir de sua experiência
profissional, sendo este o objeto da pesquisa, Segundo Gatti (2005, p.69) à:
949
Assim, utilização de grupos focais como meio de pesquisa permite extrair dos
participantes atitudes e respostas no momento em que são oferecidas pelos
informantes. Por meio dessa técnica o pesquisador lança uma pergunta disparadora,
os participantes apresentam suas concepções, o pesquisador apresenta dados
teóricos sobre o assunto, na sequência há o confrontamento entre as concepções
apresentadas e a teoria e por fim o grupo propõe mudanças.
Além da ampliação de conhecimento e reflexão sobre cada tema levantado
pelas professoras como de interesse, o programa se propôs a realizar estudos de
caso dos alunos atendidos pelas mesmas, a partir de um modelo proposto por
Imbernón (2010, p. 79). Para esse estudo uma professora apresentou o caso
"problema", o pesquisador propôs formas diferentes de recolher informações (estudo
bibliográfico, dados da sala de aula para análise, anamnese adaptada, etc), fomentou
uma discussão sobre os dados, o grupo refletiu sobre propostas de mudanças na
prática pedagógica e após a implantação das mudanças foi feita uma análise do efeito
das mesmas, e assim, houve continuidade do processo de formação a partir da
reflexão e da interação prática-teoria teoria-prática.
DISCUSSÃO
A formação em serviço do professor deve buscar uma mudança de sua prática
com todos os alunos, de um trabalho homogeneizador para um trabalho pedagógico
com recursos instrumentais e metodológicos necessários para o desenvolvimento e
aprendizagem compatíveis com as características individuais de cada aluno. O
professor deve planejar o trabalho pedagógico de forma a garantir a cada aluno aquilo
que lhe é peculiar e que lhe dará acesso ao currículo desenvolvido para classe toda.
As novas demandas da educação inclusiva sugerem que a escola deva buscar novos
caminhos para efetivar uma prática inovadora capaz de responder satisfatoriamente a
todos os alunos. A imposição legal da educação inclusiva não vai por si só gerar
escolas comuns capazes de responder as necessidades de todos os alunos, inclusive
os com necessidades específicas, como num passe de mágica. Essa realidade requer,
entre outros aspectos, mudanças no processo de formação de professores, para que
os objetivos da escola inclusiva, não aquela que matricula alunos com deficiência, mas
aquela que responde educacionalmente a todos os alunos de forma plena e com
950
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desafios atuais da educação brasileira estão pulverizados em várias
vertentes. As mudanças necessárias implicam na elaboração de um novo paradigma
capaz de traduzir uma concepção diferente sobre a diversidade e o outro. No universo
escolar, dentre vários outros aspectos fundamentais para consolidação desse novo
paradigma, a formação em serviço do professor é um imperativo. A realidade tem nos
mostrado que já assumimos o discurso politicamente correto no sentido da inclusão de
alunos com necessidades variadas no ensino comum como um direito, no entanto,
transformar o discurso em prática pedagógica inclusiva, que considere a ação de
aprender, característica tipicamente humana, como algo que não cabe em padrões
estabelecidos previamente e que independe de características físicas, intelectuais,
sensoriais, sociais etc, ainda é um caminho que temos que trilhar. Desta forma,
trabalhos colaborativos na escola, que propiciem tempo e espaço de discussão,
conhecimento, reflexão e mudanças são fundamentais.
REFERÊNCIAS
GATTI, B.A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília:
Liber Livro Editora, 2005.Série Pesquisa em Educação, v. 10.
IBIAPINA, I. M. L. M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de
conhecimentos.Brasília: Líber Livro, 2008.
IMBERNÓN, F. Formação Docente e Profissional: formar-se para mudança e
incerteza. São Paulo: Cortez, 2010.
LIMA, L. Apertem os cintos, a direção (as) sumiu! Os desafios da gestão nas escolas
inclusivas. In: RODRIGUES, D., KREBS, R.; FREITAS, S. N. (Orgs). Educação
Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais. Santa Maria: Ed. UFSM, 2005.
MOITA, M. C. Percursos de formação e de trans-formação. IN: NÓVOA, A. Vidas de
professores. Porto, Pt: Porto Editora: 2000.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2011.
NÓVOA, A. O passado e o presente dos professores. IN: NÓVOA, A. Profissão
Professor. Porto,Pt: Porto Editora, 1995.
PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício do professor: profissionalização e
razão pedagógica.Porto Alegre: Artmed, 2002.
951
INTRODUÇÃO
1Professor Adjunto I – A – Universidade “Presidente Antônio Carlos” – Campus Barbacena, MG. Bacharel
e Licenciado em Geografia (UFJF) e Mestre em Educação – Universidade Federal de São João Del Rei.
bernardjr@bol.com.br.
953
METODOLOGIA
A análise das Diretrizes Curriculares Nacionais foi de certa maneira o pontapé
para o desenvolvimento da pesquisa. Os pareceres e resoluções lidos forneceram
muitas informações intrínsecas às práticas de ensino e assim, compreender às
práticas de letramento, prescritas e desejadas para os cursos superiores. Isto não foi
fácil, pois tais informações em muitos dos casos estão intricadas no contexto de tais
documentos.
O estudo do projeto pedagógico do curso de licenciatura plena foi uma tarefa
necessária para compreender as práticas de letramento desejadas pelo colegiado do
curso e coordenação, no processo de ensino e aprendizagem do curso. Este aspecto
geralmente é pouco contemplado nos PPC’s. Porém no caso do curso em questão,
havia uma consideração razoável sobre as práticas de leitura e escrita desejadas para
o curso, visto que o PPC documentos reproduzia em alguns momentos, textos dos
pareceres e das resoluções integrantes das DCN para a área.
Sobre a pesquisa em campo, foi aplicado um questionário sobre leitura dos
discentes, que foi elaborado para obter dados quantitativos sobre a leitura (26
quesitos). Este instrumento de coleta de dados foi elaborado a partir da leitura e
sugestão de acordo com o INAF (Indicador Nacional de Alfabetismo) e outras
situações observadas sobre leitura, como por exemplo, a relação com os meios de
954
DISCUSSÕES
Diante dos dados e informações obtidos, pode-se entender que as DCN para a
formação de professores contemplam a questão do letramento acadêmico, visto que
em muitas partes do Parecer CNE/CP 009/2001 propõe ações que envolvem a
importância da leitura e da escrita nos cursos de licenciatura, além de relatar a
955
“Então, com relação ao Projeto Pedagógico do Curso, a gente tem aquela noção no sentido
amplo, a gente não tem aqui de fato um estudo específico, detalhado (sic), nos mínimos
detalhes. Mas é o que a gente imagina que contempla: as metodologias, os procedimentos,
tudo ai descrevendo as várias disciplinas”
O docente também manifestou que entende a necessidade de compreender e
auxiliar o desenvolvimento da leitura e a escrita dos discentes, a fim de propor uma
forma de nivelamento para o ensino na graduação:
“De repente uma hora tem de refletir de fato sobre isso, por quê? O porquê dos vários
problemas, os vários déficits de aprendizagem que eles tiveram anterior, seria uma hora de
resgatar tanta coisa, de identificar tanta coisa, do cotidiano do ensino que sofreram
anteriormente, é que eles tiveram anteriormente, vão ver o que detecta o quê que pode trilhar
pra frente, eu penso mais ou menos por essa órbita”.
Assim, conforme relata Marinho (2011, p. 376), “os eventos de letramento que
ocorrem nas salas de aula da universidade constituem matéria-prima importante para
se compreender as práticas de letramento acadêmico”. Diante disso, pode-se
considerar que o docente por meio de suas reflexões busca realizar este exercício de
compreensão.
Diante do exposto, considera-se que as práticas de letramento que foram
caracterizadas neste estudo, evidenciam que há uma articulação entre as políticas,
definidas pelas DCN e pelos PPC, a atuação docente e a compreensão das práticas
desenvolvidas pelos discentes
Conforme aborda Zavalla (2010, p. 90) que “os professores pensam que seus
alunos adquirirão o letramento acadêmico durante os anos de seus estudos de
graduação”. A autora também relata que há um entendimento que o “bom estudante”
da graduação “já é capaz de desempenhar-se da maneira esperada ou pelo menos de
mover-se nesta direção quando ingressa na instituição”.
Marinho (2011, p. 366) também enfatiza que no meio dos docentes, há “o
estranhamento o fato de encontrar alunos pouco familiarizados com a leitura e a
produção de gêneros que sustentam as suas aulas e outros eventos próprios da vida
acadêmica”. Considero que esta visão contribui para que não se aprofunde a
discussão ou fortalecimento de uma concepção da diversidade que constitui o
letramento acadêmico (letramentos), e assim, buscar caminhos para a compreensão
destes contextos de letramento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os tipos de leituras, os campos de interesse de leitura e os meios para a
realização desta leitura refletiram numa diversidade que refletiram a composição
social, cultural e econômica do grupo. Como foi observada, a maioria é mestiça, de
classe média trabalhadora, moradores em cidades do interior, mulheres. Assim, o
957
gosto por leituras disponíveis pela Internet, devido a dificuldade no acesso a livros
acadêmicos (a maioria está na universidade apenas no turno noturno e sobre pouco
tempo para a biblioteca e muitas cidades não possuem livrarias) e a revistas, reflete
um “novo perfil” de leitores universitários, no campo da geografia. O distanciamento de
leituras específicas em geografia pode ser visto como parte deste aspecto, além da
carência no ensino desta disciplina durante a escola básica, conforme apontado por
outros autores (MARTINELLI, 2003, ALMEIDA, 2007, CNE, 2009).
O docente realizou atividades (práticas de oralidade por meio de aulas
expositivas, atividades em grupo de leitura e escrita, escrita no quadro e outras formas
de leitura por meio de mapas e vídeos) que favoreceram o envolvimento dos discentes
com as atividades e contribuíram para observar as práticas de letramento.
Assim, para considerar os resultados sobre o contexto desta pesquisa, pode-se
entender que, conforme relata Street (2010. p. 466), há “vários modos diferentes pelos
quais representamos nossos usos e significados de ler e escrever em diferentes
contextos sociais [...]”. Diante deste aspecto, deve-se pensar que o letramento não é
“uma coisa única”, sendo importante reconhecer “uma multiplicidade de letramentos”,
pois seus “usos das práticas de letramento” estão baseados com “contextos culturais
específicos”, sendo baseadas em “relações de poder e ideologia: não são
simplesmente tecnologias neutras”. Estas afirmações são discutidas num artigo onde o
autor introduz o assunto letramento para demonstrar a variedade de letramentos que
podem ocorrer em diferentes contextos culturais. Porém, estas afirmativas possuem
peso neste momento devido ao fato de que a cultura letrada em um ambiente
acadêmico sofre influências diversas do contexto cultural local, da mídia, do campo
científico onde os docentes atuam e os discentes são inseridos e outras variantes
ligadas à leitura e a escrita como, por exemplo, o gosto pessoal por um ou outro
gênero de leitura e escrita.
Assim, acredita-se que, conforme relata Zavalla (2010, p. 74) que estes
“conflitos e mal-entendidos que emergem entre estudantes e formadores em relação
ao tema letramento acadêmico”, não estão resumidos à escrita ou ao entendimento da
“gramática”, mas “estão relacionados com a identidade e a epistemologia”. Para esta
autora, a “epistemologia” seria concebida a partir das “formas de construir o
conhecimento”, ou seja, que no ambiente acadêmico há uma “necessidade de
desenvolver um pensamento lógico e racional”. E a “identidade” como o aspecto da
aquisição do letramento ligado aos “valores, atitudes, motivações, perspectivas e
958
maneiras de interagir” além das “formas de lidar com as palavras” tanto no contexto de
socialização acadêmica, como na família. (ZAVALLA, 2010, p. 76, 77,81).
Pode-se entender que diante do aspecto epistemológico, definido por Zavalla
(2010, p.76-81) o docente se constitui como importante influência neste momento,
sendo ele uma forma de “promotor” do conhecimento e alicerçando as bases
conceituais da disciplina.
Outro aspecto que chama a atenção é para a leitura específica ao campo da
Geografia. No levantamento sobre leitura, pode-se observar que há um valor tímido às
leituras ligadas ao campo da Geografia.
A leitura realizada em atlas e ou por meio de mapas ainda é um desafio a ser
superado pelos discentes. Para as autoras Almeida e Passini (2006, p. 13), “o mapa
funciona como um sistema de signos que lhe permite usar um recurso externo à sua
memória, com alto poder de representação e sintetização”. Diante disso, a leitura de
mapas é importante, pois “permite ao aluno atingir uma nova organização estrutural de
sua atividade prática e da concepção do espaço”.
Certamente, as interações com estas formas de leitura é um diferencial
importante para a formação profissional em Geografia, visto a necessidade de este
profissional realizar “leituras do espaço geográfico”. Podemos dizer que a Geografia “é
uma ciência que se preocupa com a organização do espaço, para ela o mapa é
utilizado tanto para a investigação quanto para a constatação de seus dados”.
(ALMEIDA; PASSINI, 2006, p. 16).
Porém, as dificuldades e resistências com esta forma de leitura é um “passivo”
oriundo da trajetória realizada na Escola Básica, visto que muitos discentes
manifestaram ter interesse por este tipo de leitura somente após o ingresso no Ensino
Superior. Sendo assim, deve-se estimular a leitura deste tipo de “texto” de maneira
mais incisiva durante a formação em Geografia. Acredito que seja de grande
importância o domínio desta forma de leitura pelo futuro docente de Geografia.
Mesmo sobre as diversas interações que foram observadas, as práticas de
letramento acadêmico ainda estão envolvidas ou são motivadas a partir de um
contexto de “letramento dominante” (STREET, 2012, p.91), pois há observações de
práticas formalizadas como avaliações, leituras de artigos e outros materiais didáticos,
além de se buscar uma escrita baseada nas normas padronizadas da língua. Porém,
ainda observando Street (2012, p. 91), considera-se que estas formas de letramento
acadêmico, baseadas na escrita, “podem variar de acordo com a disciplina, o tema, o
959
período do aluno, dentre outros fatores”, sendo que se observa uma “heterogeneidade
da cultura escrita no contexto acadêmico”. (STREET, 2012, p. 91).
Enfim, diante destes fatos e informações, observa-se uma dualidade entre um
modelo de letramento que deseja inserir os discentes num contexto da cultura formal,
voltada para uma formação superior que atenda às DCNs e outro modelo que busca
inserir docente e discentes em práticas de letramento que atenda às características,
interesses e necessidades do grupo, tanto para a formação profissional como para a
sobrevivência no contexto acadêmico e cultural. Observa-se um papel determinante
do docente ao propor discussões, atividades e conteúdos que atendam às
necessidades do grupo e assim, contribuir com toda a formação que é oferecida neste
contexto cultural.
De fato há uma diferenciação nestas práticas de letramento, caracterizadas
pela interação de todos os sujeitos envolvidos. Além disso, observa-se que a
necessidade de promover “outras leituras”. São ações promovidas neste contexto,
visto a necessidade de estimular a leitura da linguagem semiótica (leitura de mapas),
imagem (exibição de filmes) e também estimular a oralidade.
Diante disso, acredita-se ser viável e possível uma expansão destes diálogos
no contexto acadêmico, cujos benefícios serão positivos para a formação e a inclusão
de todos os que procuram a os cursos superiores.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Assim, o grupo observou que era necessário promover a capacitação dos discentes e
comunidade (interna e externa da instituição) interessados no contexto das
ferramentas de busca de dados e informações, disponibilizadas na rede mundial de
computadores, de preferência em língua portuguesa e que possam ser aplicados no
campo da Educação (ensino de geografia) e da Gestão Ambiental (educação
ambiental).1
As transformações constantes pelas quais o mercado de trabalho vem
passando, exigem dos profissionais maiores qualificações. É crescente o consenso
entre os administradores, especificamente na gestão ambiental, de que a formação, o
conhecimento e o desempenho afetam, profundamente, a qualidade dos serviços
prestados. Para Silva Filho (1994), é necessário aprender a aprender, condição
indispensável para poder acompanhar as mudanças e avanços cada vez mais rápidos.
Neste cenário, o GPGAS estabeleceu a criação de uma atividade de
capacitação profissional durante os sábados letivos a partir do segundo semestre de
2012. Ficou acertado que seria oferecida na modalidade “atividade de extensão”,
aberta aos interessados das áreas e cursos envolvidos com a geografia e a gestão
Ambiental.
A partir da experiência de alguns professores que lecionam nos cursos de
Geografia e Tecnologia em Gestão Ambiental, ficou definido a oferta de uma atividade
que atendesse ao objetivo do grupo, expresso no artigo terceiro, item VI, citado
anteriormente. A atividade foi definida no formato de “Treinamento Profissional”, cuja
intenção é promover uma capacitação em um segmento, bem como desenvolver
habilidades profissionais.
De acordo com Cattani (1997)2, a formação profissional desempenha papel
importante, pois é a via pela qual os profissionais incorporarão conhecimentos
teóricos, técnicos e operacionais. Continuando, o autor informa que esta perspectiva
implica em profundas mudanças no sistema educativo ampliando, consideravelmente,
possibilidades das ações educativas ao poderem incorporar os recursos oferecidos
pelas novas tecnologias.
O objeto e a linha de pesquisa definidos para o treinamento profissional
surgiram a partir da necessidade de realizar pesquisa sobre a existência de dados e
informações regionais e municipais, a fim de atender os anseios dos discentes. Estes
dados e informações deveriam ser obtidos de maneira objetiva e com baixo custo, a
1Texto elaborado a partir das Atas de reuniões do Grupo de Pesquisa “Gestão Ambiental e Sociedade”
(vide referências).
2http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3597/000296048.pdf?sequence=1
963
METODOLOGIA
No segundo semestre de 2012, o (GPGAS), em parceria com a coordenação
dos cursos de Geografia – Meio Ambiente e Tecnologia em Gestão Ambiental,
ofereceu aos discentes uma atividade de Extensão Universitária “Treinamento em
Banco de Dados e Informações Municipais”, com carga horária prevista inicialmente
de 60 (sessenta) horas.
O programa de treinamento profissional teve como objetivo complementar a
carga horária do estágio supervisionado no bacharelado em Geografia, bem como
treinar discentes (que já atuam no ensino de geografia, pois já possuem licenciatura
plena) na elaboração do banco de dados e informações aplicados ao ensino de
geografia e para a gestão ambiental - consultoria ambiental, produção de planos
964
DISCUSSÕES
De acordo com Buzato (2006)1, letramentos digitais (LDs) são conjuntos de
letramentos (práticas sociais) que se apoiam, entrelaçam e apropriam mútua e
continuamente por meio de dispositivos digitais para finalidades específicas, tanto em
contextos socioculturais geograficamente e temporalmente limitados, quanto naqueles
construídos pela interação mediada eletronicamente.
A importância da interação na aprendizagem tem sido debatida entre vários
pesquisadores, a destacar o ensino no meio digital. Para efeito de relacionar o
letramento, ensino de geografia e gestão ambiental, o (GPGAS) inseriu a ideia de um
programa de capacitação em leitura e interpretação de dados e informações
socioambientais como recursos para capacitar gestores, discentes e docentes
1http://www.educarede.org.br/educa/img_conteu-do/marcelobuzato.pdf
966
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades desenvolvidas durante o programa de treinamento profissional
contribuíram para o desenvolvimento de habilidades de leitura e pesquisa, bem como
interpretação das informações e dados obtidos na gestão do território, na produção de
aulas sobre a sociedade e o ambiente local.
967
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3597/000296048.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 12 fev. 2013.
KLEIMAN, A. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In:
____. A., KLEIMAN (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva
sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
MINAS GERAIS. Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Disponível em:
<http://www.almg.gov.br/home/index.html>. Acesso em: set. 2012.
MINAS GERAIS. Fundação João Pinheiro. Disponível em:
<http://www.fjp.mg.gov.br/> Acesso em: set.. 2012.
______. Barbacena (MG). Prefeitura Municipal de Barbacena. Disponível em:
<http://www.barbacena.mg.gov.br/> . Acesso em: ago. 2012.
SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ.
Social, Campinas, v.23, n. 81, 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302002008100008&lang=pt>. Acesso em: 02 fev. 2013.
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTONIO CARLOS (UNIPAC). Ata da Reunião de
Fundação do Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental e Sociedade. Barbacena:
UNIPAC, 2012. 3f.
______. Regulamento e Estrutura de Funcionamento do Grupo de Pesquisa
Gestão Ambiental e Sociedade. Barbacena: UNIPAC, 2012. 10f.
970
INTRODUÇÃO
1Mestranda pela UCB em Educação/Ensino e Aprendizagem, bolsista pela Capes. Professora da Pós-
Graduação e R2 – Formação de Docentes da Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM. E-mail:
rosa.jsilva@catolica.edu.br
2Doutora em Sociologia e mestre em História pela UnB, Especialista em História pela Universidade
METODOLOGIA
A presente pesquisa pautou-se em uma metodologia qualitativa, por entender
que pesquisar em educação é acima de tudo estar consciente que a exatidão e as
confianças são ilusórias e efêmeras e que as atitudes que dão forma ao mundo são
incitadas por crenças e valores de indivíduos e grupos de interesse; admitem a
enredamento dos fatos em seus intercâmbios e conexões, em seus padrões de
energia, e também a inconstância e as múltiplas possibilidades de um fato ocorrer,
tendo em vista as interações no contexto em que está sendo construído.
Para investigar a eficácia das orientações de pesquisas realizadas durante o
curso, e com maior ênfase no Trabalho de Conclusão de Curso, foram aplicados 28
questionários para aluno que concluíram o curso no ano de 2011. A escolha da mostra
foi feita de forma aleatória, os questionários foram enviado a 28 ex-alunos, por e-mail,
e apenas 21 desses alunos deram retorno à pesquisa. Os dados foram tabulados e
analisados, estando apresentados como resultados dessa pesquisa.
As perguntas básicas a serem respondidas nesse texto são: é possível a um
aluno de educação a distância planejar e desenvolver uma pesquisa de campo? Quais
seriam as suas principais dificuldades? Como seria a sua relação como o professor
orientador? Como ele percebe a realização da pesquisa na sua formação?
PESQUISA, O QUE É?
Mas, o que é pesquisa? Como definir esse conceito que será a base de nosso
trabalho? Segundo Minayo et al. (1994, p.17),
972
DISCUSSÃO
PESQUISA EM EAD, UMA INTERLOCUÇÃO POSSÍVEL?
O Decreto Nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, em seu Art. 1o caracteriza a
educação a distância “[...] como modalidade educacional na qual a mediação didático-
pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de
meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”.
A prática da pesquisa nos cursos em EAD na Faculdade FINOM acontece
embasada nesse decreto. A orientação é feita utilizando-se das tecnologias de
informação e comunicação e visa à aproximação entre o pesquisador e o professor
orientador. Sem perder de vista que “a distância, que em si nada tem de educativo,
propriamente, pode facilitar a vida dos alunos, até mesmo dispensando-os de aulas
meramente expositivas, que tende a imbecializa-los, ou inserindo-os em ambientes
mais atraentes e lúdicos” (DEMO, 2003, p. 14).
Para a avaliação dessa prática, foram enviados 28 questionários mistos
contento 07 questões a ex-alunos que realizaram a sua pesquisa para a concretização
974
Precisamos aprender a pesquisar para ensinar, pois o ensino sem pesquisa se torna vazio e
não fornece uma informação precisa. Infelizmente, nós professores, falo pelo meu município,
não temos o hábito da pesquisa. Nós acomodamos com um ensino menos prático e mais
teórico e esquecemos-nos de envolver os alunos na sua própria aprendizagem. Já melhorou
bastante, pois o trabalho nas escolas tem sido voltado para temas que envolva o aluno nos
trabalhos escolares. Observamos que o rendimento dos alunos cresce e muito quando ele é
motivado a se envolver em pesquisa, principalmente quando ele é o próprio a repassar esse
conhecimento. Ele se sente valorizado e capacitado. Percebemos também que eles se sentem
mais responsáveis. (Entrevistada 07)
Em outro momento da entrevista, a mesma professora/aluna afirma que:
A pesquisa hoje não é exclusividade de cientistas qualificados, ela pode com certeza ser
utilizada como instrumento de ensino. O sociólogo Pedro Demo diz que o aluno pesquisador
substitui sua posição de ouvinte e copiador e passa a assumir uma postura ativa que o permita
constituir seus conhecimentos de forma crítica. Ele vê a pesquisa como um instrumento
emancipatório. Ele destaca também a importância da pesquisa teórica que ajuda na capitação
da realidade. Fala sobre a pesquisa metodológica, mostrando que o método não é somente
algo que se aprende, mas que também se cria. A pesquisa tem que ser vista como um
processo social, que faz parte da vida de professores e alunos. Que não pesquisa apenas
reproduz ou apenas escuta. (Entrevistado 20)
A fala do entrevistado coloca em evidência a pesquisa como fator de
construção de autonomia do educando, coincidido com o pensamento de Francisco
Imbernón (2000, p. 27), “o objetivo da educação é ajudar a tornar as pessoas mais
livres, menos dependentes do poder econômico, político e social. A profissão de
ensinar tem essa obrigação intrínseca”.
Foi perguntado aos ex-alunos como foi a experiência de pesquisa para a
realização do TCC. Embora relatando dificuldades, formam unânimes em afirmarem o
crescimento pessoal e profissional proporcionado pela mesma:
Foi ótima, envolvi muito no assunto em questão e cresci muito em conhecimento. (Entrevistado
08)
Para mim, trouxe uma série de conhecimentos que serviram para refletir sobre como trabalhar
com um aluno de inclusão. No começo achei bastante difícil e pensei que não iria realizá-la
com sucesso, mas à medida que ia lendo e investigando tudo se tornou mais fácil e acredito
que o produto final obteve boa qualidade. (Entrevistado 11)
Foi muito proveitosa, pois despertou a necessidade de registro constante do trabalho de sala
de aula, o que induziu a avaliação permanente e formativa. (Entrevistado 14)
A realização da minha pesquisa foi muito gratificante, pois tive oportunidade de trabalhar com
opiniões e questionamentos de pessoas do meu cotidiano e conhecer a realidade da escola
que trabalho. (Entrevistado 15)
As principais dificuldades encontradas pelos alunos pesquisadores foram as
seguintes:
[...] o professor que apenas dá aula não sabe fazer o aluno aprender.
Atrapalha o aluno. Como vítima de didática passiva, geralmente
imposta na (de)formação de origem, reproduz o que lhe foi
“ensinado”. Literalmente ensina, não sabe educar. É claro que o
efeito manipulador exacerbado que o professor exerce sobre o aluno
se deve a ter sido, ele mesmo, manipulado no tempo de sua
(de)formação. Como não sabe aprender a aprender, não alcança sair
deste beco, que é cópia da cópia. O próprio professor não é capaz do
esforço reconstrutivo permanente, e por isso supervaloriza o mero
repasse de conhecimento. O aluno é enganado redondamente,
porque vai descobrir, mais cedo ou mais tarde, que está
despreparado para a vida, já que esta lhe exige criatividade, não
simples reprodução. Aí, de pouco adianta esperar a solução
repassada por outros, porque isto, por definição, é falta de solução.
(DEMO, 2002, p.04)
No questionário foi solicitado ao aluno que avaliasse a orientação da pesquisa
oferecida pela faculdade. Os dados foram tabulados e se apresentam no gráfico
abaixo:
Gráfico 1: Avaliação da orientação oferecida pela faculdade.
978
A avaliação feita pelos alunos foi extremante positiva, indicando que a pesquisa
em educação, quando feita na modalidade a distância, em nada é pior ou melhor do
que as realizadas na modalidade presencial. 52% dos alunos entrevistado consideram
a orientação como excelente e 48% como ótima. Nenhum aluno considerou a
orientação regular ou péssima.
Também foi pedido a esses alunos que fizessem uma auto avaliação do
processo de pesquisa:
Series1, regular,
9.53%, 9% Series1,
exelente,
43.00%, 43%exelente
ótimo
regular
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das entrevistas realizadas, acreditamos que seja possível que um aluno
de educação a distância planeje e desenvolva uma pesquisa de campo, embora a
distância em si não seja pedagógica as tecnologia de informação podem auxiliar na
execução dessa tarefa. A Investigação também apontou na direção de que uma
pesquisa na realizada em curso na modalidade em EAD não apresenta dificuldades
diferenciadas das enfrentadas por alunos dos cursos presenciais. As principais
dificuldades elencadas pelos alunos de cursos de formação de professores na
modalidade EAD da faculdade FINOM, podem ser assim descrita: dificuldade de lidar
com ABNT e até mesmo com o computador; acesso restrito a bibliotecas; falta de
tempo para realização de pesquisa de campo; inexperiência de graduando que faz
uma pesquisa pela primeira vez.
Quanto à relação como o professor orientador, todos os alunos responderam
que por meio das tecnologias de informações é possível se aproximarem e estreitarem
as relações, portanto eles consideram a orientação muito positiva, sendo categorizada
por eles de ótima ou excelente.
Finalmente, através da investigação realizada foi possível perceber que todos
os alunos entrevistados atribuíram grande importância a realização da pesquisa, como
forma de preparação para o exercício do magistério.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Este texto tem por objetivo primeiro convidar para uma reflexão sobre os
aspectos que as narrativas trouxeram a um grupo de alunos de Licenciatura em
Ciências Biológicas ao cursarem a disciplina Laboratório de Ensino de Ciências I, no
curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alfenas (MG).
Mais do que uma atividade avaliativa, as narrativas tiveram como finalidade
apurar o olhar dos licenciandos sobre a realidade vivenciada em uma sala de aula.
Existem muitos sentidos para o ato de “narrar”; podemos entendê-lo como um
sinônimo de “história”, quando reproduzimos um conto, ou um evento ocorrido no
cotidiano. Na literatura, especialistas apontam a narrativa como a estrutura de uma
história.
Em educação, por onde caminhamos, a narrativa assume um significado mais
abrangente, que objetiva desvelar as ações realizadas pelos atores durante os
momentos de aprendizagem, com todos os motivos e sensações que levaram o autor
a eleger aquele momento para compor sua narrativa (CONNELLY; CLANDININ,
1988; ELBAZ, 1983, 1991 apud REIS, 2008). Utilizada como instrumento de reflexão
em disciplinas pedagógicas dentro dos cursos de licenciatura, as narrativas ensejam
modificar o olhar dos alunos para a realidade do “chão-da-escola”, fugindo do formato
“relatório de estágio”, que os colocava como analistas de estruturas escolares.
O formato tradicional, dos relatórios de estágio, tornava a análise objetiva e
impessoal, transformando o licenciando em simples observador de aspectos
consagradamente deficitários (estrutura física, número elevado de alunos, falta de
materiais, etc.); as narrativas humanizam as análises realizadas pelos licenciandos,
sendo este aspecto apontado por Reis (2008) como uma característica deste
instrumento tanto para a formação inicial quanto contínua de professores:
981
METODOLOGIA
Durante o 2° semestre de 2012 foram coletados vários trechos das narrativas
exigidas na disciplina Laboratório de Ensino de Ciências I oferecida aos licenciandos
do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alfenas-
UNIFAL.
Esta disciplina tem como característica o cumprimento de 75 horas de estágio
observacional no ensino fundamental em escolas públicas ou privadas. As narrativas
analisadas foram produzidas por três turmas durante o cumprimento do 6° período do
curso de Ciências biológicas, na qual era esperado que cada licenciando produzisse
uma narrativa antes, uma durante e outra ao final do estágio.
982
DISCUSSÕES
A IMPORTÂNCIA DAS NARRATIVAS
Dois aspectos foram destacados nas produções da maioria dos alunos. O
primeiro diz respeito à importância das narrativas como instrumento de reflexão para
os professores em formação:
“Narrar as experiências foi um exercício que me proporcionou autoconhecimento, pude ver com
mais clareza as experiências pelas quais eu passei. Hoje posso usá-las para melhorar minha
maneira de me posicionar diante destas situações. Durante a produção destas três narrativas
avaliei de uma forma mais crítica todas as experiências pelas quais passei”. (Aluno 1)
“Observar e fazer narrativas oferece ricas linhas de pesquisa, dentro da própria sala de aula é
um campo vasto de vivências e dados”. (Aluno 2)
As narrativas se mostraram uma alternativa muito interessante para a formação
inicial. Ao elaborarem suas narrativas os licenciandos foram se percebendo como
agentes ativos do processo de ensino, fator imprescindível para que apreendam seu
papel social dentro da escola como formadores de cidadãos politicamente ativos, por
sabedores de seus direitos, pela liberdade que só a educação proporciona.
reflexiva e, portanto, acaba fazendo uma autoanálise que lhe cria novas bases de
compreensão de sua própria prática (CUNHA, 1997).
A utilização de narrativas como instrumento de relato do estágio observacional
foi uma forma de instigar a reflexão sobre os acontecimentos da sala de aula. Quando
os licenciandos são convidados a escreverem textos em que destaquem seus
sentimentos perante determinadas situações, a escrita se dá de forma mais reflexiva.
E este é um primeiro passo para a percepção de que as mudanças podem acontecer,
são necessárias, e de que são eles, os licenciandos, que vão propor estas mudanças
em um futuro breve. “Penso que a única forma de intervenção é a descrição da escola.
Se você é capaz de descrever bem o que acontece na escola, o que é a escola, você
é capaz de mudá-la um pouquinho”.Segundo Hébrard (2000, p. 7), a descrição da
escola é um instrumento de reflexão:
As narrativas demonstram de que forma os licenciandos interpretam os
acontecimentos de sala de aula e que significados atribuem aos diferentes fenômenos
gerados por estes acontecimentos. Cada situação narrada está carregada de
reinterpretações sobre a docência e todas as suas nuances na sala de aula. Como
destaca Cunha (1997, p. 4), “[...] as apreensões que constituem as narrativas dos
sujeitos são a sua representação da realidade e, como tal, estão prenhes de
significados e reinterpretações.”Ao narrar, o individuo recria o acontecimento e cria
uma nova situação na qual há possibilidades de interferência, pois determina os limites
da ação e permite o exercício da inovação.
Dentro da proposta da disciplina, que prevê que os alunos cumpram um
estágio observacional em escolas de ensino fundamental (75 horas), solicitava-se aos
licenciandos que procurassem participar ativamente do estágio, dentro do permitido
pela instituição de ensino onde estavam sediados. Como orientação para a
observação da escola, a professora solicitou que os licenciandos se detivessem mais
nas relações estabelecidas entre os diversos atores que participam do processo de
ensino e aprendizagem: professores, alunos, funcionários. Entendemos que todas as
relações que se estabelecem dentro do ambiente escolar influenciam o aprendizado,
daí a importância em levar os licenciandos a perceberem quais são estas relações.
O estágio observacional não é muito bem visto pelos licenciandos e muito
menos pelas escolas, sejam elas públicas ou privadas. Por um lado, os licenciandos
reclamam de um não-lugar: sentem-se inúteis ao permanecerem na sala de aula sem
uma função definida; os alunos ficam curiosos e os professores reclamam que isso
dificulta a organização da sala. Por outro lado, os professores sentem-se vigiados e
984
ficam receosos sobre o que os licenciandos irão relatar ao final do estágio e para que
finalidade será utilizado este relato. Parece ser uma falta de comunicação entre ambas
as partes: escola e universidade. Mas isso é debate para outra ocasião.
Para minimizar os problemas advindos de uma presença desconfortável dos
licenciandos na escola, foi feita a proposta para que eles se envolvessem nas
atividades tanto de sala de aula quanto da escola como um todo para conhecer o
funcionamento e diminuir a resistência da escola na sua acolhida. Como resultado, os
licenciandos tiveram participação mais ativa no estágio, ministrando aulas de reforço,
comparecendo a reuniões de planejamento, assembleias de indicativo de greve, entre
outras atividades. As narrativas demonstram o que foi apreendido pelos licenciandos
nestes vários momentos e a reinterpretação que fazem para compor sua identidade
docente.
“Ao ajudar uma professora no reforço, me chamou atenção o modo paciente que ela explicava
a matéria, fiquei imaginando quantas alunas iam passar por ela, cada uma com a sua
dificuldade e um ritmo de aprendizado. Acho que o desafio é conseguir fazer com que estes
alunos continuem a acompanhar a turma mesmo necessitando de uma atenção especial.”
(Aluno 3)
O COTIDIANO ESCOLAR
É evidente, na leitura das narrativas, a importância atribuída ao cotidiano
escolar pelos licenciandos e a reflexão sobre qual a influência destes acontecimentos
narrados no processo de ensino. As práticas cotidianas na escola se organizam
conforme o andamento dos acontecimentos, não se tratando de um sistema
organizado; portanto, provocam situações singulares. Estamos entendendo práticas
cotidianas como descritas no primeiro pressuposto de Certeau (1985, p. 4): “são
maneiras de pôr em prática, ou seja, são comportamentos que se repetem em rituais,
maneiras pelas quais as pessoas colocam em prática suas vivências e suas
referências em relação a determinadas situações”.
Os licenciandos, ao se propor a dinâmica do estágio, sempre levantam pontos
negativos sobre a acolhida na escola, relembrando momentos diversos onde já
estiveram na situação de solicitar a aceitação no estabelecimento. Isso causa uma
resistência dos licenciandos em procurarem escolas diferentes das que já conhecem.
Mas o olhar deles sobre o cotidiano custa mais para apurar, para aprender a “olhar”
para o indivíduo e não para o sistema. A apreensão das relações sociais produzidas
nestas escolas é fundamental para compreender como funciona o sistema de ensino
nos diferentes estabelecimentos citados pelos licenciandos.
Ao observarem as relações que ocorrem na sala de aula, os licenciandos
entraram em contato com algumas situações que deixam entrever como se dá o
985
processo de ensino. Muitas situações foram levantadas, mas para este artigo focamos
as práticas em sala de aula na relação professor-aluno.
Estas práticas constituem a cultura escolar - como Chartier (2009) define -
entre duas famílias de significados “que aponta as práticas comuns através das quais
uma sociedade ou um indivíduo vivem e refletem sobre sua relação com o mundo,
com os outros ou com ele mesmo” (CHARTIER, 2009, p.34). Para os licenciandos fica
clara a relação entre a cultura da escola e a aprendizagem dos alunos: as práticas da
sala de aula se refletem diretamente no rendimento dos alunos.
“Achei que a aula estava um pouco confusa, pois a professora falava palavras
aleatórias e tentava fazer com que os alunos dissessem com que letra escrevia.
Assim, ela foi tomando a leitura de alguns, quando um menino não estava lendo junto,
ela simplesmente bateu com o cabo da vassoura na carteira dele.” (Aluno 4)
Segundo Certeau (1985), existem três elementos que constituem as práticas
cotidianas: o aspecto estético, o ético e o polêmico. Na escola as práticas mesclam
estes três aspectos, e o olhar de observadores dos licenciandos detecta estes
elementos e os leva para suas narrativas. Podemos perceber que em alguns
momentos os licenciandos atribuem valores às práticas muito diferentes dos
professores, sem ponderar sobre quais as intenções que levam a tomar esta ou
aquela atitude.
O caráter estético da prática escolar, que podemos entender como a maneira
pela qual o professor utiliza determinado instrumento ou ação na sala de aula,
segundo Certeau (1985), é a arte de fazer. Neste sentido, a reflexão dos licenciandos
em relação à pertinência ou não de determinadas atitudes precisa ser vista com o viés
da expectativa por uma escola mais acolhedora, sem pensar nas heterogeneidades
encontradas na escola. Isto por que, como bem explica Certeau (1985, p.15), “as
práticas cotidianas seguem itinerários heterogêneos, diferentes uns dos outros, e que
se trata de encontrar, entre esses itinerários, entre estas práticas, conexões, mais do
que uma linguagem comum”.
“A professora não gosta de nenhuma interferência dos alunos na explicação, mesmo que seja
para perguntar, então os alunos que demoram mais a entender só tem sua dificuldade
diagnosticada pela professora na hora de resolver o exercício. Outro detalhe importante que
reparei é que, aparentemente descontextualizado, a professora “puxa um gancho” em matérias
já abordadas, aproveitando-se de detalhes da rotina na escola. Por exemplo, ela parou um
momento para tomar o café oferecido pela servente, cita o paladar e pergunta se os alunos
lembram quais são os órgãos de sentido”. (Aluno 5)
O caráter estético deixa entrever o “estilo”, na perspectiva de Certeau (1985),
como uma maneira de utilizar. No caso em questão, os professores têm seu próprio
986
estilo para manejar uma prática de sala de aula que os confere legitimidade frente aos
alunos e à escola. São as marcas do trabalho docente que se colam à sua prática.
Portanto, este caráter estético, que se traduz em arte de fazer, não segue algo
definido, mas se constitui no ato de ensinar e como o professor entende que seja este
ato.
Kenski corrobora esta afirmação:
“O que observei na totalidade das salas que freqüentei é uma indisciplina muito grande
de alguns alunos em relação aos seus professores. E os professores, no geral, não sabem
como lidar com esta indisciplina. Todo e qualquer problema que fuja do controle na sala de
aula é encaminhado para a supervisora do período (não sem que antes a professora tenha
soltado meia dúzia de gritos), que quase sempre discute e ameaça o aluno na frente de todos.
Algumas vezes presenciei a professora humilhando alguns alunos, inclusive com um toque de
racismo”. (Aluno 6).
Encontramos em Hébrard (2000) uma explicação pautada na Nova História
Cultural. Para este autor, o problema existente entre professores e alunos é a
dificuldade de entendimento de códigos culturais entre ambos. O aluno inicialmente
era tratado pela escola como um sujeito passivo no processo de ensino, cuja única
importância era absorver os ensinamentos do professor sem questionar (até o final
dos anos 1950, início dos anos 1960); depois começa a assumir papel de protagonista
no sistema escolar. Este fato acarreta duas conseqüências visíveis até hoje: o embate
professor-aluno e a baixa estima entre os professores.
“Você percebe que o ser humano tem características encontradas na vida adulta desde que se
é criança, pena alguns educadores não conseguirem perceber isso (...) tentando manipular
uma forma de uniformizar todos os alunos como uma série de brinquedos que deveriam
funcionar da mesma maneira. O estágio me mostrou algo saliente para minha formação
profissional, mostrou-me o quanto pode ser péssimo ensinar quando não se consegue; e como
pode ser ótimo ensinar quando se sabe - quando se sabe não o conteúdo, e sim o ato de saber
ensinar.” (Aluno 7).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato de se perceberem agentes de uma possível mudança no sistema de
ensino, com o olhar na formação do indivíduo consciente de seus direitos, é a forma
de estabelecer códigos sociais pensando na diversidade de saberes dentro da sala de
aula. Talvez esse seja o mais importante resultado conseguido através deste
instrumento: a percepção da importância em refletir sobre o ato de ensinar.
As narrativas se mostram um instrumento muito importante para a formação
inicial de professores. Para alguns licenciandos, a dificuldade inicial está em se expor
nas narrativas. Acostumados, em grande parte do curso, a realizar relatórios fechados
com pouco espaço para expressar opiniões próprias, modificar o olhar e assumir a
perspectiva de analistas reflexivos sobre os atos educacionais é, a princípio, sem
sentido. A ciência nos cobra objetividade; a subjetividade não é facilmente
reconhecida com a seriedade formativa. Mas, ao realizarem o exercício da narração,
reconhecem a importância e passam a aceitá-la como instrumento útil para a formação
de suas identidades profissionais.
Não basta, no entanto, para mudar a opinião sobre a escolha da área de
atuação. Continuamos necessitando repensar as licenciaturas e a inserção dos alunos
na escola. Qual o formato de estágio mais interessante para nossa formação? As
narrativas iniciam a reflexão sobre este aspecto. Quando escolhemos cursar
licenciaturas, temos claro qual o papel que desejamos exercer na sociedade?
Esperamos que este artigo nos leve, realmente, a refletir sobre aspectos que
as narrativas apontam sobre a escola e como isso pode reverter nos cursos de
licenciatura.
989
REFERÊNCIAS
CERTEAU, Michel de. Teoria e Método no Estudo das Práticas Cotidianas. In:
SZMRECSANYI, Maria Irene. (Orgs). Cotidiano, Cultura Popular e Planejamento
Urbano. São Paulo: FAU/USP, 1985, p. 3 - 19. (Anais do Encontro)
CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica,
2009.
CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora! As Narrativas como alternativas
pedagógicas na pesquisa e no ensino. Rev. Fac. Educ., v. 23, n. 1-2, São Paulo:
Jan 1997. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
25551997000100010&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 27/11/2009.
GUEDES-PINTO, Ana Lúcia. Narrativas de práticas de leitura: trajetórias da
professora-alfabetizadora. In KLEIMAN, Ângela B. (org.). A formação do professor:
perspectivas da lingüística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 2001.
HÉBRARD, Jean. O objetivo da escola é a cultura, não a vida mesma. In: Presença
Pedagógica. Belo Horizonte: Dimensão, maio/junho 2000. v.06, n.33.
REIS, P. As narrativas na formação de professores e na investigação em educação.
Rev. Nuances: estudos sobre educação. 2008. pp. 15 (16), 17-34. Disponível em
http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/174/244. Acessado em:
23/02/2013.
990
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem sido crescente a produção científica e amplas discussões
no cenário acadêmico referente à História e Educação Matemática, e dos possíveis
usos didáticos da História da Matemática e da História da Educação Matemática no
Ensino de Matemática.
Como esse reflexo é possível observar o grande número de pesquisas e
publicações em periódicos sobre História da Matemática ou História da Educação
Matemática, no que se refere ao Ensino Médio, Educação Superior e as diversas
pesquisas e núcleos dos programas de pós-graduação strictu sensu. Por outro lado é
possível também encontrar de forma tímida, a inclusão de textos e imagens da História
da Matemática em alguns livros didáticos dos anos finais do Ensino Fundamental,
porém de forma bem artificial, ou melhor, ornamental, sem muito significado ou
contextualização.
Com referência a História da Matemática, para os primeiros anos do Ensino
Fundamental, a produção de material didático e cientifico, ainda é muito pouca, com
poucas intervenções.
A História da Matemática constitui um dos capítulos mais interessantes do
conhecimento, que permite compreender a origem das ideias que deram forma à
nossa cultura, o desenvolvimento e evolução das civilizações e da própria matemática.
O uso da História da Matemática pode auxiliar no conhecimento matemático, ajudando
a compreender métodos e fórmulas usadas hoje na matemática.
A utilização da história no processo de aprendizagem da matemática possui
suas variáveis: como seleção e constituição de sequências adequadas de tópicos de
decisões e, portanto, desenvolve uma ampla capacidade para lidar com a atividade
matemática.
O movimento da Educação Matemática no Brasil reconhece apenas como
educadores matemáticos ou matemáticos os profissionais licenciados em Matemática
por instituições de ensino superior, atuando em salas de aulas com disciplina
especifica (Matemática) e seus conteúdos afins.
No Brasil a formação dos profissionais que atuam na educação infantil e séries
iniciais do Ensino Fundamental, ocorre conforme a LDBEN nº 9.394/96,
preferencialmente em nível superior nos cursos de licenciatura em pedagogia ou
normal superior, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de
educação ou ainda em curso normal nível médio.
A formação de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental tem
ocorrido de diversas modalidades de cursos: à distância, regulares, de formação em
serviço, de nível médio ou superior, mantidos por instituições publicas ou privadas,
organizados em parcerias com secretarias de educação.
Porém, a maioria dos professores, ou futuros, licenciados em Pedagogia e/ou
Normal Superior para ministrarem aulas na Educação Infantil e nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, não possuem conhecimentos sobre a Historia da Matemática
nem metodologias de como utilizá-la como uma ferramenta pedagógica sem sala de
aula.
Os PCNs, para o Ensino Fundamental, destacam que os professores, em sua
formação inicial e continuada, precisam conhecer a história dos conceitos
matemáticos, precisamente “para que tenham elementos que lhes permitam mostrar
aos alunos a matemática como ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e
imutáveis, mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de novos
conhecimentos” (BRASIL, 1997, p. 38).
Nos cursos de formação de professores para os anos iniciais do Ensino
Fundamental, os cursos de Pedagogia e/ou Normal Superior, normalmente possuem
em suas matrizes curriculares as disciplinas Metodologias do Ensino de Matemática I
e II, não possuindo uma disciplina designada somente para a aprendizagem da ou
conteúdos específicos à História da Matemática, o que seria viável nos cursos de
formação de professores, como mais uma alternativa para a atuação como docente
nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
O Conteúdo de História da Matemática apresenta-se com uma grande riqueza
de informações e percepções a cerca do conhecimento matemático de várias
994
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL,
1997), entende-se que a História da Matemática é uma importante ferramenta
pedagógica para o ensino de Matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental,
mediante a um processo de transposição didática, que podem oferecer uma
importante contribuição ao processo de ensino e aprendizagem, entende-se, portanto,
que as escolas precisam definir-se politicamente e assumir o seu papel real e
verdadeiro, favorecendo a integração de novos significados aos conhecimentos
matemáticos prévios dos alunos.
A partir desse breve estudo, defendemos que devem fazer parte da formação
inicial de professores que ministram aulas de matemática nos primeiros anos do
Ensino Fundamental as reflexões acerca das possíveis contribuições da História da
Matemática em diferentes níveis de ensino.
Nesta perspectiva, a análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs
(BRASIL, 1997), mostra que, para alcançar essa nova proposição do Ensino de
Matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental é necessária que haja um
consenso na elaboração dos currículos escolares que contemplem a História da
Matemática com diretrizes pedagógicas coerentes, históricas e sociais, voltadas para
as necessidades reais dos alunos de forma que seja uma ferramenta pedagógica para
o professor que ensina matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental de
modo a promover o ensino e aprendizagem dos alunos no ensino de matemática.
Mas há a necessidade também de uma revisão nos currículos dos cursos de
formação de professores, em especial aos cursos de Pedagogia e Normal Superior, de
modo geral, considerando que não existe um modelo ideal de incorporação da História
da Matemática na formação inicial do professor a ser seguido por todos os cursos,
mas sim a possibilidade de abordagens, estudos e reflexões sobre a História da
Matemática e a constituição de conceitos matemáticos a serem utilizados na
aprendizagem dos alunos em sala de aula, nos primeiros anos do Ensino
Fundamental.
REFERÊNCIAS
998
INTRODUÇÃO
se educam mutuamente. Mas, nem todos os militantes têm como função ensinar, mediar o processo de
ensino-aprendizagem. Este é um ofício, o ofício de mestre (ARROYO, 2000). Então, temos educadores e
educadores-professores.
1000
METODOLOGIA
Fizemos a análise do Projeto Político-Pedagógico e 04 trabalhos de campo
relacionados ao Curso Especial de Graduação em Geografia (Presidente Prudente e
Guararema). Por meio da observação participante, nestes trabalhos de campo,
fotografamos e entrevistamos - utilizando a metodologia das fontes orais com questionário
semi-estruturado - os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento dos Cursos:
educadores-professores, educandos (estudantes-camponeses), coordenadores dos
Cursos, monitores etc. Entrevistamos da experiência do CEGeo, 41 estudantes do total de
46 formandos.
Então, a escola ela é uma escola do Estado, mas que a gente trabalha
com a proposta de educação do MST. Todas as escolas de
assentamento do norte do Espírito Santo a gente trabalha através do
plano de estudo, que é a metodologia da proposta de educação do MST
na escola, e a gente trabalha através dos temas geradores. E aí esse
plano de estudo a gente tem que abranger não só os educandos na
escola, mas também as famílias, esse é a proposta do setor de educação
do MST. [...]. (RONIMÁRCIA, ENFF, jul. 2010).
com relação ao técnico-geógrafo o mesmo deve, além de ter um domínio técnico sobre
pesquisa e planejamento, saber lidar com as pessoas e conhecer a dinâmica da
sociedade. Com relação, especificamente, à formação do licenciado em geografia é
necessário o domínio simultâneo de dois grandes campos do conhecimento: a Geografia
e a Educação.
Com a intenção de relacionar o bacharelado, a licenciatura e a especificidade da
Educação do Campo, então, o Curso de Especial de Graduação em Geografia inclui, além
da estrutura do Curso Regular, alguns componentes curriculares que se remetem aos
objetivos dos cursos superiores do Pronera, bem como à demanda dos movimentos
sociais camponeses. Além, da alternância entre tempo-escola e tempo-comunidade, os
componentes curriculares específicos são: Desenvolvimento Territorial Rural e
Alternativas Produtivas para o Campo Brasileiro; Geografia dos Movimentos Sociais;
Políticas Públicas e Direito Agrário; Trabalho de Campo: a relação cidade-campo e a
processualidade sócio-cultural;
Os objetivos dos cursos em nível superior do Pronera são de garantir a formação
profissional para qualificar as ações dos sujeitos e disponibilizar, em cada área de
Reforma Agrária, recursos humanos capacitados que contribuam para o desenvolvimento
socialmente justo e ecologicamente sustentável (BRASIL/PRONERA, 2011). Para
alcançar estes objetivos, os cursos devem contemplar a realidade dos assentados. É
necessário ter uma consistente formação possa estabelecer uma relação entre teoria e
prática para que ao mesmo tempo em que os educandos-camponeses se formam,
encontrem também soluções para os problemas existentes na realidade da qual se
encontram inseridos. Conforme está escrito no Manual de Operações do Pronera: “Os
cursos devem possuir uma sólida formação teórica e contemplar as situações da
realidade dos assentados a fim de que os educandos encontrem soluções para os
problemas e, simultaneamente, capacitem-se”. (2011, p. 72, grifo nosso).
A partir dessa compreensão o curso está sedimentado em 05 princípios
fundamentais referentes à sua proposta pedagógica: a docência como princípio
articulador das atividades pedagógicas, a sólida formação teórica, o compromisso
profissional com a realidade e a experiência prática como princípio articulador das
atividades, a pesquisa como princípio formativo e a educação como estratégia para o
desenvolvimento sustentável.
Os conhecimentos adquiridos no bacharelado e licenciatura objetivam formar
1008
[...] Acho não, tenho certeza que o curso não é só uma formação pra
professor, ele é uma formação no âmbito do conhecimento político,
econômico [...]. [permite] Ajudar não só a escola itinerante que eu estou,
mas todas as (doze) escolas itinerantes do Estado do Paraná... porque
eu posso não só trabalhar na escola como educador de Geografia, eu
posso trabalhar nos cursos de formação que a gente tem com os próprios
educadores dali. (ENFF, jul. 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação de professores construída no CEGeo se enquadra no contexto da
Educação do Campo defendida pelos movimentos sociais. Os professores formados a
partir desse contexto estarão comprometidos com um ensino de geografia diretamente
relacionado com a realidade territorial camponesa, a fim de auxiliar na construção de uma
Educação do Campo adequada à lógica material e simbólica de reprodução da
territorialidade do campesinato e que auxilie em seu processo de luta contra a
desterritorialização provocada pelo agronegócio.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1ApoioCAPES/FNDE
2Doutoraem Educação Especial – Professora do curso de Psicologia – Universidade Federal da Grande
Dourados - veronicapereira@ufgd.edu.br
3Acadêmicos do curso de Psicologia – Universidade Federal da Grande Dourados – Bolsistas do
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os 28 professores participaram do PHS, que teve como duração uma média de
20 encontros semanais. A leitura dos diários de campo, resultou na seleção de 21
diários, com relato de 15 diferentes histórias. Em apenas uma das intervenções a
contação de histórias não se mostrou efetiva para o desenvolvimento de
comportamentos habilidosos.
Para a contação de histórias é importante destacar que os monitores
precisavam sempre: 1) ler a história previamente. 2) reestruturá-la a partir de
exemplos do cotidiano das crianças; 3) pautar-se apenas nas figuras, mostradas de
forma dinâmica (caminhando pela sala, apontando, solicitando informações e
sugestões da turma) e encontrar uma maneira de chamar atenção, tornando a história
divertida (dramatizações, música, fantoches, participação ativa das crianças entre os
personagens). Essas habilidades requereram novas competências não só das
crianças como também dos monitores, sendo requeridas em todas as histórias
utilizadas no PHS.
Contribuíram para o desenvolvimento da estratégia de contação de histórias as
observações de Abramovich,1997. O autor aconselha a utilização de breves
descrições, favorecendo a imaginação e abstração e evitando o cansaço. Orienta
1014
Esta história foi trabalhada na escola E6, com alunos do 3º, 4º e 5º ano, sendo
mais efetiva com crianças do 5º ano.
Certo homem estava para ganhar o concurso do coração mais bonito. Seu
coração era lindo, sem nenhuma ruga, sem nenhum estrago. Até que apareceu um
velho e disse que seu coração era o mais bonito pois nele havia muitas marcas. Vários
comentários surgiram, do tipo: Como seu coração é o mais bonito, com tantas
marcas? O bom velhinho, então explicou que por isso mesmo seu coração era lindo.
Aquelas marcas representavam sua vivência, as pessoas que ele amou e que o
amaram. Finalmente todos concordaram, que o coração do moço, apesar de lisinho,
não tinha a experiência do velho. (VERSURI, 2012).
Ao final da contação os alunos discutiram sobre a importância dos
relacionamentos interpessoais e da convivência com os colegas e da gratificação que
isso gera no ambiente escolar. Após a discussão os alunos confeccionaram corações
com folha de sulfite e dentro colaram figuras de revistas representando sentimentos e
pessoas que consideram importantes.
História 12. O homem que amava caixas (KING, 2006):
Esta história foi utilizada em duas escolas, com seis diferentes turmas, sendo
mais efetiva em uma delas (alunos de 4º e 5º ano). A história fala sobre um homem
que demonstrava o amor à sua filha construindo diferentes caixas para ela. Buscou-se
favorecer condições para a participação de todos os alunos durante a contação das
histórias, utilizando falas: o que vocês acham que aconteceu? Será que ele não sabia
fazer carinho? Se fosse você, como se sentiria? As questões possibilitaram reflexões
sobre as diferentes formas de expressão de afeto e demonstração de carinho, dando
origem a outras dinâmicas, como: o que você gostaria de oferecer ao amigo que não
precisasse comprar. A partilha dos presentes, escritos ou desenhados em papel,
possibilitou a expressão de sentimentos entre os pares, monitores e professoras.
Quando os alunos não sabiam como expressar, os monitores davam exemplo,
escreviam na lousa, pediam sugestão ao amigo.
Ao final, os monitores solicitavam que essa troca de carinhos fosse estendida
também a amigos e familiares fora da escola.
CONCLUSÕES
A contação de histórias no ensino fundamental mostrou-se como instrumento
efetivo para o desenvolvimento das habilidades sociais previstas no PHS proposto
pelo grupo. Embora o PHS em seu modelo originalmente previsto não tenha se
restringido a contação de histórias, a análise das histórias selecionadas pelos
monitores aponta ser possível trabalhar as habilidades de socialização, comunicação,
expressão de sentimentos, auto-advocacia e colaboração. Considerando que o PHS
visou também empoderar o professor em sua prática educativa para o
desenvolvimento de habilidades sociais e melhora de desempenho acadêmico, a
contação de história, entre todas as vivências realizadas, é a que mais se aproxima da
prática docente, sendo um ótimo ponto para o professor, no momento em que os
monitores não estão mais em sala de aula.
Na medida em que os monitores provocavam discussões sobre diferentes
contextos sociais, tiveram a oportunidade de valorizar e promover os comportamentos
habilidosos que deveriam ser estendidos também a outros ambientes. Essa
generalização, em futuros trabalhos, poderá ser avaliada, referendando o alcance da
ação.
As histórias se mostraram efetivas para chamar a atenção dos alunos,
desenvolvendo a habilidade de ouvir, interpretar, manter-se concentrado, discutir,
fazer apontamentos com o cotidiano e analisar o próprio comportamento. Aos
1022
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F.Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,
1997.
BARBOSA, C.J.; SANTOS, L.R. da S. Contação de histórias para crianças dos anos
iniciais. Revista FACEVV, Vila Velha, n 3, p.23-33, jul/dez 2009.
BARCELLOS, G. M. F.; NEVES, I. C. A hora do conto: da fantasia ao prazer de ler.
Porto Alegre: Sagra, 1995.
BELLI, R. A raposa e O galo. La Fontaine-coleção fábulas encantas. Blumenau-SC:
Editora Todolivro, 2009.
DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. Psicologia das relações interpessoais:
vivências para o trabalho em grupo. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
DEL PRETTE, Z. A. P. et al. Tolerância e respeito às diferenças: efeitos de uma
atividade educativa na escola. Psicologia Teoria e Prática, v. 14, n 1, 168-182, 2012.
FEELY, J. Ouvindo. São Paulo: Ciranda Cultural, 2008.
GREISLER, L. A. Se os objetos falassem. Campo Grande: Lori Alice Gressler, 2002.
KING, S.M. O homem que amava caixas. São Paulo: Brinque-book, 2006.
LEGRAND, A. Desculpe-me. Belo Horizonte: Editora Soler, 2007. (Coleção
pequenas lições)
LLEWELLYN, C. É meu! Não empresto! Aprendendo sobre generosidade. Tradução
Irami B. Silva. São Paulo: Scipione 2002.
NEVES, I. C. B.; SOUZA, J. V. et al. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas.
Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999.
ROSAS, A. Bibi! Compartilha suas coisas. São Paulo: Editora Scipione, 2010.
ROCHA, R. A pantera e a raposa. São Paulo: Editora moderna, 2010a
ROCHA, R. A raposa e as uvas. São Paulo: Editora moderna, 2010b
ROCHA, R. O leão e o rato. São Paulo: Editora moderna, 2010c
ROCHA, R. O Lobo disfarçado. São Paulo: Editora moderna, 2010d
1023
ROCHA, R. O rato do campo e o rato da cidade. São Paulo: Editora moderna, 2010e
ROCHA,R. Tenho medo mas dou um jeito, São Paulo:Editora Salamanca. 2009.
VERSURI, J.C. Coração partido. Disponível em
http://dinamicasinterpessoais.blogspot.com.br/2008/07/dinmicas_14.html. Acesso em:
10 mar. 2012.
1024
INTRODUÇÃO
A globalização é um fenônemo, caracterizado por grandes transformações a
nível mundial, nas relações entre os Estados-nação, na economia e na revolução
tecnológica, de forma gradual em diferentes espaços. O processo da globalização nos
mostra que estamos diante de uma realidade multifacética, de dimensões econômicas,
sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas relacionadas entre si de modo
complexo. Com isso é possível identificar que as explicações mono-casual e as
interpretações monolíticas desse fenômeno são inadequadas. As reflexões acerca das
tranformações originárias do processo global, contribui para analisar e compreender o
papel da educação enquanto formadoras de cidadãos que atuarão de forma crítica e
consciente na sociedade
METODOLOGIA
Este estudo constitui-se de uma revisão de literatura especializada, realizada
no período de janeiro de 2012 a março de 2013, através de livros e periódicos, além
de utilização de artigos publicados on-line através de acesso à internet.
Os critérios utilizados para inclusão dos estudos foram a abordagem da
educação no conceito de globalização.
Em seguida, foram estudados e analisados os principais parâmetros no
advento da globalização, no contexto social, econômico e político, e suas influências
no âmbito educacional.
DISCUSSÃO
Para Santos (2003), a globalização não deve ser reduzida apenas na sua
dimensão econômica, é de suma importância analisar de forma igual às dimensões
sociais, políticas e culturais. Para ele o conceito de globalização diz respeito aos graus
de intensidade produzidos no conjunto das relações sociais e na intensificação das
interações transnacionais, sejam elas práticas interestatais, práticas capitalistas
globais ou práticas sociais e culturais transnacionais.
1rosangelaramos33@hotmail.com
2vanilino_@hotmail.com
1025
Nas últimas três décadas à atenção sociológicas tem uma base empírica bem
específica. Acredita-se que a intensificação dramática de fluxos transfronteiriços de
bens, capital, trabalho, pessoas, ideias e informação originou convergências,
isomorfismos e hibridizações entre as diferentes culturas nacionais, sejam elas estilos
arquitetônico, moda, hábitos alimentares ou consumo cultural de massas. Contudo, a
maior parte dos autores sustenta que, apesar da sua importância, estes processos
estão longe de conduzirem a uma cultura global.
Sob as condições da economia mundial capitalista e do sistema interestatal
moderno, parece haver apenas espaço para as culturas globais parciais. Parcial, quer
em termos dos aspectos da vida social que cobrem, quer das regiões do mundo que
abrangem. Nas atuais circunstâncias, só é possível visualizar culturas globais
pluralistas ou plurais.
A pluralidade de discursos sobre a globalização mostra que é imperioso
produzir uma reflexão teórica crítica da globalização e de fazê-lo de modo a captar a
complexidade dos fenômenos que ela envolve e a disparidade dos interesses que
neles se confrontam.
A proposta teórica apresentada por Santos, (2003) confere a esse período
histórico três contradições numa especificidade transicional:
A primeira contradição é entre globalização e localização. O tempo presente
surge-nos como dominado por um movimento dialético em cujo seio os processos de
globalização ocorrem de par com processos de localização. De fato, à medida que a
interdependência e as interações globais se intensificam, as relações sociais em geral
parecem estar cada vez mais desterritorializadas, abrindo caminho para novos direitos
às opções, que atravessam fronteiras até há pouco tempo policiadas pela tradição,
pelo nacionalismo, pela linguagem ou pela ideologia, e freqüentemente por todos eles
em conjunto. Mas, por outro lado, e em aparente contradição com esta tendência,
novas identidades regionais, nacionais e locais estão a emergir, construídas em torno
de uma nova proeminência dos direitos às raízes. Tais localismos, tanto se referem a
territórios reais ou imaginados, como a formas de vida e de sociabilidade assentes nas
relações face-a-face, na proximidade e na interatividade.
A segunda contradição é entre o Estado-nação e o não-Estado transnacional. A
análise precedente sobre as diferentes dimensões da globalização dominante mostrou
que um dos pontos de maior controvérsia, nos debates sobre a globalização, é a
questão do papel do Estado na era da globalização. Se, para uns, o Estado é uma
entidade obsoleta e em vias de extinção ou, em qualquer caso, muito fragilizada na
1028
sua capacidade para organizar e regular a vida social, para outros, o Estado continua
a ser a entidade política central, não só porque a erosão da soberania é muito seletiva,
como, sobretudo, porque a própria institucionalidade da globalização - das agências
financeiras multilaterais à desregulação da economia - é criada pelos Estados
nacionais. Cada uma destas posições capta uma parte dos processos em curso.
A terceira contradição, de natureza político-ideológica, é entre os que vêem na
globalização a energia finalmente incontestável e imbatível do capitalismo e os que
vêem nela uma oportunidade nova para ampliar a escala e o âmbito da solidariedade
transnacional e das lutas anticapitalistas. A primeira posição é, aliás, defendida, tanto
pelos que conduzem a globalização e dela beneficiam, como por aqueles para quem a
globalização é a mais recente e a mais virulenta agressão externa contra os seus
modos de vida e o seu bem estar. Estas três contradições condensam os vetores mais
importantes dos processos de globalização em curso.
Portanto, Santos (2003) propõem a globalização como um sistema mundial em
transição, onde contém em si o sistema mundial velho em processo de profunda
transformação, e um conjunto de realidades emergentes que podem ou não conduzir a
um novo sistema mundial, ou a outra qualquer entidade nova, sistêmica ou não.
Para Giddens (1993, p.69), a globalização é “a intensificação das relações
sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que
acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de
distancia e vice-versa”. Destaca que se trata de um processo dialético, pois “os
acontecimentos locais podem se deslocar numa direção anverso às relações muito
distanciadas que as modelam”.
Nas discussões suscitadas por ele, contém duas perspectivas teóricas: A
primeira delas são as relações internacionais, onde os Estados-nação são atores,
envolvendo-se entre si na ordem internacional. A segunda é a teoria do “sistema
mundial” esta parte de uma distinção entre a era moderna e a pré-moderna.
Compreende que as economias mundiais existiam antes do tempo moderno. Contudo,
“estavam centradas em grandes estados imperiais e desde o início dependente das
relações entre estados” (p. 72). O advento do capitalismo gera uma ordem
genuinamente global em seu objetivo, baseada mais no poder econômico que no
político.
As Dimensões da globalização na economia capitalista mundial, Giddens
destaca que se os Estados-nação são os principais atores dentro da ordem política
global, as corporações são os agentes dominantes dentro da economia mundial.
1029
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
A educação no Brasil iniciou-se com um objetivo catequético, seu conteúdo
cultural transportado de Portugal para a Colônia brasileira era destinado a uma minoria
dos donos de terras e senhores de engenho, excluindo-se desse público as mulheres
e os filhos primogênitos, os quais deveriam assumir a direção dos negócios da família.
Até então, a educação era humanista, destinada a dar cultura geral básica, sem
preocupação em qualificar para o trabalho e se manteve fechada e irredutível ao
espírito crítico e de análise, à pesquisa e à experimentação. De cunho literário e
humanista, a educação servia apenas para dar brilho à inteligência dos desocupados
sociais, ou seja, não tinha utilidade prática para uma sociedade fundada na agricultura
e no trabalho escravo.
Mais tarde, na segunda metade do século XIX, o capitalismo industrial sente a
necessidade de levar conhecimento a camadas cada vez mais numerosas, sendo esta
a condição de sua sobrevivência, já que carecia de operários com condições mínimas
de concorrer no mercado de trabalho e de consumir. Assim, a educação toma impulso
e abrangência. Porém, é nessa massificação acelerada da educação brasileira que
pode estar à gênese de seu fracasso, acompanhando, por conseguinte o processo de
desprofissionalização docente. Alguns autores atribuem à feminilização do magistério
a culpabilidade pela desvalorização profissional, outros, porém já não o fazem
alegando que esse fenômeno não se pode atribuir a uma única causa.
A explicação para esse processo possivelmente transcenda à questão de
gênero, podendo ser explicada também pelo fato de que o magistério passava, cada
vez mais, a ser uma profissão que atendia à população de baixa renda, desvalorizada
na ótica capitalista. Não necessitando, portanto, de qualificações específicas para
desempenhar tal função, descaracterizou-se totalmente a profissão. Alguns autores,
como Enguita, (1991) alegam que os professores vivem uma luta estabelecida entre o
profissionalismo e a proletarização; outros, como Kreutz (1986) e Wenzel, (1994),
afirmam que este fator está diretamente relacionado com o capitalismo e com a
divisão do trabalho no interior da escola. O trabalho ora apresentado discute uma
1vanilino_@hotmail.com
2Rosangelaramos33@hotmail.com
1036
METODOLOGIA DA PESQUISA
O trabalho ora apresentado foi pesquisado em fontes secundárias, sendo,
portanto uma pesquisa descritiva, teórica e documental.
O primeiro passo foi definir conceitualmente as variáveis teóricas para em
seguida estabelecer o marco teórico especifico. As dimensões ou bases se referem a
Marx e Engels que se sustentam na teoria de proletarização e divisão do trabalho além
de outros autores contemporâneos que fazem análises comparativas com a classe
docente atual.
DISCUSSÃO
A massificação da educação no Brasil, a partir do século XIX trouxe consigo
algumas das razões para a precarização do trabalho docente. Sua expansão nesse
período provocou grande número de contratações de profissionais desqualificados,
desvalorizando assim o trabalho do professor. Essa aceleração pode estar entre as
razões do fracasso educacional, bem como a feminilização do magistério, que
segundo alguns autores é a principal razão para a desvalorização ou proletarização da
classe. Ademais o reflexo das mudanças politicas e econômicas como ingresso de
inovações tecnológicas e organizacionais no processo produtivo, no final do século XX
1037
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não tem sido fácil deslindar as diversas faces da problemática que envolve a
precarização do trabalho docente, suas condições históricas carecem de
problematização e reflexão sistemáticas realizadas pelos próprios agentes envolvidos
nesse processo e articuladas com outras categorias de trabalhadores.
Além da nossa avaliação incipiente de moralidade sobre os docentes que
aderem e reproduzem esse sistema, o que torna mais difícil a tarefa de desmistificar o
produtivismo é o fato de que ainda não compreendemos plenamente esse
comportamento como uma das mais fortes dimensões da precarização do trabalho em
geral e do trabalho docente em específico. Nesse contexto é de suma importância
compreender os processos de precarização das condições objetivas e subjuntivas do
trabalho docente na educação básica brasileira. Tal produtivismo representa a perda
da autonomia intelectual, e do controle sobre o processo de trabalho, a forma atual da
subsunção do trabalho intelectual à lógica do capital. O Brasil atualmente vive
momentos de insegurança na educação, experenciando cotidianamente a
desvalorização do trabalho docente. A politica neoliberalista vem a qualquer custo
impondo seus valores e jugulando os profissionais por meio de leis e regulamentações
que tiram a autonomia desse trabalhador. A política da meritocracia, a exigência de
altos índices educacionais, baixa remuneração, e falta de cumprimento das leis
trabalhistas, obrigam o professor a filiar-se aos sindicatos em busca do cumprimento
das obrigações governamentais, se comparando aos operários. É nesse contexto, que
se faz relevante conhecer o processo histórico de profissionalização docente no Brasil,
para que se compreenda a atualidade das categorias de profissionalização,
1041
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e a negação do
trabalho. São Paulo: Boitempo, 2001.
APPLE, M.W. Trabalho docente e textos: economia política das relações de classe e
de gênero em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
______. Política, cultura e educação. São Paulo: Cortez, 2000.
ARROYO, M.G. Mestre educador, trabalhador: organização do trabalho e
profissionalização. Tese. (Professor Titular) - Faculdade de Educação da UFMG, Belo
Horizonte, 1985.
BOGDAN, B. BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Portugal: Editora.
Porto, 1994.
BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no
Século XX. 3. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 1974.
BUENO, B., CATANI, D.B., SOUSA, C.P. (Org.) A vida e o ofício dos professores.
São Paulo: Escrituras, 1998.
COSTA, M.C.V. Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995.
ENGUITA, M.F. A ambiguidade da docência:entre o profissionalismo e a
proletarização. Teoria & Educação, Porto Alegre, n.4, p.41-61, 1991.
FONSECA, S.G. Ser professor no Brasil: história oral de vida. Campinas: Papirus,
1997.
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas
sobre o saber docente. Ijuí: UNIJUÍ, 1998. 457p.
GIROUX, H. Teoria crítica e resistência em educação: para além das teorias da
reprodução. Petrópolis: Vozes, 1986.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. 2. Ed. Rio de Janeiro: Recorde, 1997.
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (Org.).
Vida de professores. Porto: Editora Porto, 1992
HYPOLITO, A. M. Processo de Trabalho na Escola: algumas categorias para analise.
Teoria & Educação, Porto Alegre, n.4, 1991.
HYPÓLITO, A.M. Processo de trabalho docente: uma análise à partir das relações
de classe e gênero. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, 1994, Belo
Horizonte: UFMG, 1994.
JAÉN, M.J. Os docentes e a racionalização do trabalho em educação:elementos para
uma crítica da teoria da proletarização dos docentes. Teoria & Educação, Porto
Alegre, n.4, p.74-90, 1991.
KREUTZ, L. Magistério: vocação ou profissão? Educação em Revista, Belo
Horizonte, n.3, jun. 1986.
LOURO, G. L. Magistério de 1º grau: um trabalho de mulher. Educação & Realidade,
Porto Alegre, v.14, n.2, p.31-39,jul/dez. 1989.
1042
INTRODUÇÃO
O profissional de Design é responsável pela definição das características
funcionais, estruturais e estéticas de um produto, de um sistema ou de um meio de
informação. Seu trabalho situa-se entre as demandas dos empresários e as reais
necessidades dos usuários. Essa função requer do designer competência ao organizar
um conjunto de conhecimentos no desenvolvimento de novos projetos. O ensino
superior de Design no Brasil é considerado recente, tendo em vista que possui como
marco inicial simbólico a criação da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI –
no Rio de Janeiro em 1963. O currículo proposto para a ESDI se tornou um paradigma
para o ensino de Design (COUTO, 2008, p.21) influenciando na criação do currículo
mínimo pelo Conselho Federal de Educação em 1968.
Atualmente, o Ministério da Educação – MEC – estabelece nas Diretrizes
Curriculares (BRASIL, 2004, p.02) que o curso de graduação em Design deve prover
ao formando a capacitação para produzir projetos que observem “o ajustamento
histórico, os traços culturais e de desenvolvimento das comunidades bem como as
características dos usuários e de seu contexto sócio-econômico e cultural”.
Juntamente com os objetivos estabelecidos nas Diretrizes, o Projeto Pedagógico do
curso e o Plano (ou Programa) de Ensino, são parâmetros determinantes na formação
dos profissionais desejados e por consequência no perfil do curso oferecido. Assim, a
formação é resultado de um processo integrado, que envolve um percurso de
aprendizagem desenvolvido nas disciplinas. No caso do estudo de uma determinada
disciplina, o Plano de Ensino contém as informações específicas a serem
investigadas, desde as metas e os conteúdos aos aspectos operacionais do
planejamento pedagógico.
METODOLOGIA
Para este trabalho optou-se pela pesquisa participante ou pesquisa-ação, o
modelo adotado segue as ideias de Demo (1995, p.231) apud Shuclz (2003, p.204):
“Não fazemos aqui distinção entre pesquisa participante e pesquisa-ação, porque nos
parece que o compromisso com a prática é o mesmo em ambos”.
No contexto da pesquisa de participação, as observações e o registro das
aulas na disciplina foram realizados durante o segundo semestre de 2012, relativos ao
estágio docência de um aluno de doutorado da mesma instituição de ensino e com o
efetivo envolvimento do docente responsável pela disciplina.
Com o acesso ao Projeto Pedagógico do curso e ao Plano de Ensino foi
possível conhecer os objetivos dos conteúdos propostos, e estes forneceram o
direcionamento das discussões, centradas nas estratégias didáticas. Tendo em vista a
complexidade do registro integral de todos os aspectos das mais de 30 horas de aulas
ministradas definiu-se como unidade de análise cada conteúdo do Plano de Ensino da
disciplina.
Por meio dos referenciais teóricos selecionados identificaram-se as estratégias
utilizadas para o ensino nos diferentes conteúdos. Durante a descrição houve especial
atenção aos seguintes critérios estabelecidos: conteúdo, estratégias, recursos,
interação. E posteriormente a adequação dessas estratégias a luz dos objetivos do
Plano de Ensino foram discutidas. Para a obtenção dos dados, além da observação
1048
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De um modo geral, percebeu-se que os alunos concluíram o curso capazes de
desenvolver projetos gráficos de livros, ou seja, atendeu-se aos objetivos principais
visados: a capacitação projetual. Entretanto, essa aprendizagem mostrou-se efetiva
nos momentos de execução e exposição de projetos. O que revelou que em um curso
com 32 horas-aulas ministradas, os discentes mostraram-se motivados em menos da
metade dessa carga horária.
Apesar da natureza prática da disciplina, os métodos utilizados pelo professor
visaram contemplar os aspectos teóricos envolvidos por meio de uma estratégia pouco
adequada ao perfil do curso e, principalmente, às novas gerações de discentes (cada
vez mais dispersivos). Acredita-se que a opção pela redução de horas-aulas
disponíveis para o ensino prático da técnica em favorecimento da formação teórica
pode ter causado a tímida participação dos discentes em grande parte do curso, fator
este que pode ser aliado ao emprego da “tradicional” estratégia de aula expositiva. A
1053
opção por diferentes estratégias pode reverter essa realidade. Todavia, superar o
tradicional modelo centrado na fala do professor, não é uma tarefa simples, ainda mais
quando se trata de uma área do conhecimento na qual os docentes atuam em sua
maioria pela experiência empírica, reproduzindo modelos consolidados.
Além do conhecimento didático necessário, reitera-se a necessidade da
reflexão do docente sobre sua prática. Postura que resultará na avaliação e crítica dos
métodos de aula utilizados. Por fim, espera-se que essa publicação contribua para o
conhecimento das dificuldades, e para o futuro desenvolvimento de estratégias
adequadas aos objetivos e conteúdos e à realidade dos alunos de Design.
REFERÊNCIAS
BARREIRO, A.C.M. A prática docente na Universidade. In: MALUSÁ, S.; FELTRAN,
R.C.S. (orgs). A prática da docência universitária. São Paulo: Factash, 2003. p. 39-
98
BRASIL. Conselho Nacional de Educação – CNE. Resolução nº 5. Aprova as
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design e dá outras
providências. Brasília: 08 mar. 2004.
FORESTI, M.C.P.P. Sobre a prática pedagógica, planejamento e metodologia de
ensino: a articulação necessária. In: PINHO, S.Z. (coord.) et al. Oficinas de estudos
pedagógicos: reflexão sobre a prática do Ensino Superior. São Paulo: Cultura
acadêmica/UNESP, 2008. p. 105-118.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 35. ed, São Paulo: Paz e Terra, 2003
GIL, A.C. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2010.
LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
MALUSÁ, S.; FELTRAN, R.C.S. (orgs). A prática da docência universitária. São
Paulo: Factash, 2003.
MINGUILI, M.G.; DAIBEM, A.M.L. Projeto pedagógico e projeto de ensino: um trabalho
com os elementos construtivos da prática pedagógica. In: PINHO, S.Z. (coord.) et al.
Oficinas de estudos pedagógicos: reflexão sobre a prática do Ensino Superior. São
Paulo: Cultura acadêmica/UNESP, 2008. p. 119-136.
PIMENTA, S.G.; ANASTASIOU, L.G.C. Docência no ensino superior. São Paulo:
Cortez, 2002.
PINHO, S.Z. (coord.) et al. Oficinas de estudos pedagógicos: reflexão sobre a
prática do Ensino Superior. São Paulo: Cultura acadêmica/UNESP, 2008.
PROGRAMA de Ensino: disciplina Produção Gráfica III. Bauru: Universidade
Estadual Paulista – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – Departamento
de Design, 2012.
UNESP/FAAC. Projeto Pedagógico. Bauru: Universidade Estadual Paulista –
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – Departamento de Design, 2006.
SCHULZ, A. Pesquisa-ação: uma metodologia de mediação entre teoria e a prática da
ação docente universitária. In: MALUSÁ, S.; FELTRAN, R.C.S. (orgs). A prática da
docência universitária. São Paulo: Factash, 2003. p. 199-226.
1054
INTRODUÇÃO
A ética parece ter se tornado assunto permanente nas discussões atuais. Não
há esfera de atuação humana que o tema não tenha sido debatido ou até mesmo
tomado como expediente para se tentar compreender o existir do homem. Essas
tentativas vêm sendo marcadas e determinadas decisivamente pela questão da
alteridade. A filosofia e, de modo geral, todo campo de pensamento, a educação
inclusive, viu-se na obrigação de responder adequadamente a esse problema – o da
alteridade – em seus diversos aspectos. Assim, ao tornar-se a alteridade um dos
temas por excelência em nosso mundo - um problema maior em termos teóricos -, a
principal decorrência é a de que o outro adquiriu, com isso, paulatinamente, o papel de
grande personagem das principais definições no campo da ética, delimitando em
grande medida os contornos das relações humanas do mundo contemporâneo.
A questão da responsabilidade, dos direitos humanos, da moralidade, da
diversidade cultural, do cuidado, da defesa das minorias, do respeito, do diálogo, tudo
isso, ao longo do último século e nos primeiros passos do atual, foi, por diferentes
pensadores e em diferentes áreas, redefinido e reinvestido à luz da figura do outro (ou
do Outro) - da alteridade.
Desse ponto de vista, o reconhecimento da alteridade será sempre menos, será
sempre uma emoção e uma aquisição afetiva menor em intensidade e em importância
do que fazer um amigo. Entender o outro, compreender o outro, aceitar o outro pode
ser, talvez, sempre fundamentalmente menos valioso do que fazer um amigo. Pois,
afinal, eticamente, qual o projeto mais importante e fundamental: o de conseguir
reconhecer e representar-se esse outro que, de todo modo, se apresenta e se
fabicolombani@hotmail.com
3Licenciada em História pela Unesp/Assis. E-mail: beta_historia@hotmail.com
1056
METODOLOGIA
A pesquisa ocorreu a partir da leitura de textos referentes à amizade, à
educação, e a ética, bem como textos que fazem a interface entre esses temas.
Nessas leituras, após reflexões teóricas, destacamos as ideias dos autores sobre a
relação entre a amizade, a educação e a ética, intencionando a reflexão sobre os
problemas da formação de professores e de sua prática pedagógica contemporânea,
com a finalidade de construir posteriormente propostas para a ação educativa. Essas
propostas foram explicitadas a partir de questões éticas de nossos tempos que são
experimentadas no processo de formação e nas relações humanas e sociais, tendo
em vista suas repercurssões na sala de aula. A partir das ideias colhidas, uma escola
pública foi selecionada, e um pré-questionário sobre amizade foi aplicado.
A partir da análise dos dados colhidos com o pré-questionário foi elaborado um
novo questionário. Este foi aplicado para 53 alunos e 41 professores. Foi realizada a
sistematização e a interpretação dos dados coletados e das leituras, visando
diagnosticar, avaliar e comparar os conteúdos morais que orientam as relações entre
alunos e professores, e a influência dessas relações na educação do ponto de vista
ético, tendo como fio condutor o tema da amizade.
À luz das leituras realizadas anteriormente, os dados colhidos nos questionários
foram primeiramente tabelados, descritos e posteriormente analisados. A seguir
fazemos a discussão dos resultados da pesquisa realizada, sem antes fazer uma
reflexão téorica sobre o que se apresenta sobre o tema da ética e da amizade nos
discursos filosóficos.
DISCUSSÃO
Ética e os valores
Haveria um desejo no mundo contemporâneo em fazer brotar elementos
propícios e respostas que possam colaborar nas decisões e no sentido que atribuímos
às nossas formas de comportamento e de vida, enfim, à nossa própria existência. Por
isso, muito se tem falado, escrito e debatido sobre ética. Sofremos uma violenta
inflação do termo “ética”. Tanto o grande público, como os especialistas, têm falado e
interrogado demasiadamente sobre quais os valores ou doutrinas são tomados hoje
1058
1Segundo Aristóteles, podemos falar em três teorias sobre a amizade, diferenciando-se somente pelo fim
visado: aquela dirigida ao bem, ao agradável e ao útil. A amizade fundada na utilidade considera apenas
o benefício ou o proveito que pode ser tirado, isto é, a afeição pelo outro está nas vantagens que são
esperadas, tendo em vista o interesse próprio, o que denota não uma reciprocidade, mas um amor a si
próprio. A amizade agradável, por seu lado, está inspirada no prazer que o outro proporciona, tendo em
vista apenas o deleite pessoal. Em ambas, a “amizade nasce somente de circunstâncias acidentais e não
de qualidades essenciais do indivíduo amado. Não se ama o outro pelo que ele é, mas pelo que ele pode
proporcionar, oferecer. A amizade assim construída pode ser reconhecida como frágil” (ARISTÓTELES,
1988, p. 33-4).
2A pesquisa intitulada “Ética e Educação: a experiência da amizade na sala de aula” teve a participação
experimentação de novas formas de vida. Isso significa uma nova postura ética – de
professores e alunos.
Ao pensarmos numa nova experiência de prática docente, sobrelevando para
tanto a dimensão ética nas relações humanas na escola, sobretudo na sala de aula, a
ideia ou pergunta que rapidamente vem a nossa cabeça é se há possibilidade de uma
relação amical, nos termos que tratamos aqui, entre professor e aluno, por exemplo. É
certo que possibilidade de amizade entre professores e alunos põe-nos diante de uma
questão pertinente ao nosso tempo. Se a amizade é ter uma vida em comum, que
elemento une os dois personagens? É evidente que há uma diferença entre ambos, na
vestimenta, no vocabulário, na idade, nos interesses, etc. Essa experiência,
aparentemente estranha, pois baseada entre pessoas diferentes, é o que faz da
amizade uma virtude, possibilitando a revelação de pontos de vista, de crenças,
desejos, sentimentos e utopias distintas. A barreira hierárquica pode ser superada, em
que professores e alunos tenham o ato corajoso de circularem, de “voarem” no terreno
um do outro, de recriar uma espécie de sociedade, de comunidade, sem demagogias
e hipocrisias. Desta forma, acreditamos ser possível a diminuição das lacunas que
causam os conflitos educacionais.
Um dos grandes estudiosos da filosofia – e também professor – pode nos
sugerir reflexões e elaborações de práticas renovadas no campo da ação docente.
Numa entrevista Jean-Pierre Vernant nos ensina:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ideias trazidas nesse texto tiveram a preocupação não somente de articular
ética, amizade e educação, mas, sobretudo, pensar que saídas são imagináveis para
problemas que insistem em permanecer habitando o ambiente escolar. A partir do
momento que olharmos para outras dimensões da vida humana, ampliando o nosso
horizonte, de maneira que o outro seja levado em consideração como elemento
constitutivo de nossa existência, favorecendo a invenção de novas práticas
pedagógicas, mas mais do que isso, inovando as nossas posturas e atitudes. Aqui
1064
defendemos que os discursos filosóficos sobre a amizade podem ser tomados como
exortações que nos conduziriam, no mínimo, a uma pré-disposição para aceitar o
outro, a uma disponibilidade para conhecê-lo, para agradá-lo, de maneira também a
sermos bem-vindos e bem aceitos. Nessa direção, a amizade, como disposição de
caráter, nos termos compreendidos, por exemplo, por Aristóteles, cuidaria de
estabelecer um pacto de reciprocidade, de afeição e de generosidade no sentimento;
como se, acompanhadas por amigos, as pessoas se revelassem mais capazes para
melhor agir. A amizade, assim compreendida, acarretaria o reconhecimento de si nos
atributos do outro.
Dito de outra forma, e com os dados das pesquisas indicaram, a criação de
novas de formas de vida, e de novos estilos de existência, é uma possibilidade que
circula no meio escolar. Portanto, o professor deveria estar atento para responder aos
apelos – nem sempre verbais - que emergem no ambiente da sala de aula. Essa
responsabilidade significa que ele deve ir além dos conteúdos, transportar-se para
além da sala de aula, abrindo-se para a dimensão ética que, via amizade, nos conduz
e nos leva ao outro.
Nesse sentido, pensar ou exercer uma nova relação entre professor e aluno, já
na sala de aula, tomando o tema amizade como elemento provocador, pode colaborar
na formulação de saídas significativas para, por exemplo, a violência, a indisciplina e
os conflitos que se manifestam no ambiente escolar. Isto nos permite concluir que a
sala de aula pode ser lugar de encontro ético-político e de instauração de atitudes
novas e, com isso, edificar novos vínculos com o Outro, reconhecendo-o como o
nosso amigo que, como o fim de nossos sentimentos, crenças e desejos, pode
contribuir na elaboração e experimentação de significados diferentes ao nosso existir.
Deste modo, a escola torna-se um espaço de crescimento, onde as práticas, também
docentes, se configuram em bases democráticas, humanizadoras e plurais.
REFERÊNCIAS
Rodolfo Langhi 1
Rosa M. F. Scavi 2
Janer Vilaça3
INTRODUÇÃO
Uma breve análise sobre o contexto histórico da evolução da Educação em
Astronomia em alguns países aponta para a profunda influência que associações,
sociedades, clubes de Astronomia, observatórios astronômicos, universidades e
grupos de pesquisa na área de ensino de Astronomia exercem sobre mudanças de
programas e currículos escolares oficiais nacionais.
Por exemplo, a American Association for the Advanced of Science (AAAS)
desenvolveu o Project 2061, cujo objetivo é o ensino interdisciplinar das Ciências e
Matemática em todos os níveis de todas as escolas dos EUA. Os trabalhos da AAAS
incluíram discutir a falta de conteúdos de Astronomia nas escolas, tentando manter
canais de comunicação dos administradores escolares e professores com órgãos
fomentadores de formação continuada de docentes sobre este tema (HOFF, 1990).
Na Alemanha, cursos específicos de Astronomia e Astrofísica são oferecidos
constantemente por observatórios, clubes e associações de astrônomos profissionais
e amadores, além de oferecerem seu espaço durante os eventos e encontros para os
professores interessados. Estas ações têm gerado uma grande contribuição para a
educação em Astronomia neste país (NEUMANN, 1990).
Na França, conforme Gouguenheim et al (1990), até 1970 não havia conteúdos
de Astronomia nos programas escolares do ensino fundamental e médio, mas
posteriores reformas educacionais proporcionaram a sua inserção, graças a
intervenções de associações de Astronomia, como o CLEA (Comité de Liaison
Enseignants Astronomes), criado em 1976, envolvendo articulações entre educadores
e astrônomos. Devido ao interesse crescente de crianças e jovens pela Astronomia, na
época, alguns astrônomos franceses conseguiram, do Ministério da Educação, a
introdução do tema nas escolas.
METODOLOGIA
A Educação em Astronomia no Brasil está presente em sete grandes campos:
educação básica, graduação e pós-graduação, extensão, pesquisa, popularização
midiática, estabelecimentos, materiais didáticos, segundo classificação efetuada por
Langhi e Nardi (2009). Conforme estes autores, o campo “pesquisa” está subdividido
em: a) eventos e encontros específicos em Astronomia, eventos e encontros
científicos de áreas afins, revistas específicas (RELEA – Revista Latino-Americana de
Educação em Astronomia e o Boletim da SAB, Sociedade Astronômica Brasileira); b)
teses e dissertações que contemplam a pesquisa sobre este tema, as quais totalizam,
até 2011, 62 dissertações de mestrado e 9 teses de doutorado desde a primeira
produção em 1973 (BRETONES, 2012); c) publicações ocasionais sobre ensino de
Astronomia em revistas científicas de áreas afins.
No presente estudo, porém, delimitamos nossa amostra de análise ao último
subcampo acima descrito: o da produção científica materializada nos textos publicados
em artigos de qualificadas revistas acadêmicas de áreas correlacionadas (ensino de
Ciências e Matemática), a fim de se efetuar um levantamento sobre as características
que um eventual projeto de ação nacional poderia assumir.
Pesquisas e levantamentos sobre artigos que levam em conta o ensino da
Astronomia já foram realizados anteriormente, por exemplo, por Marrone Júnior (2007)
e Iachel (2009). Marrone Júnior (2007) mostra 70 produções de um total de 1638
artigos (desde o ano de disponibilidade do artigo on-line do periódico até 2005),
publicadas em cinco revistas principais divulgadas pela ABRAPEC (Associação
Brasileira de Pesquisa em Ensino de Ciências). No entanto, o autor mostra que
somente a partir de 2000 estes artigos passaram a assumir uma postura de estrutura
científica em sua redação normativa. E Iachel (2009) identifica 1999 como o início de
publicações anuais sobre o tema.
Apoiando-se nos estudos e levantamentos destes autores, limitamos a nossa
amostra por efetuar a procura por artigos publicados entre 1985 e 2008, que
abordassem o tema sobre Educação em Astronomia, dentro do universo de toda a
literatura de circulação nacional da área de Ensino de Ciências e Matemática
1071
(identificada pela extinta “área CAPES 46”), avaliados com Qualis A e B (para a época
em que esta consulta está considerando, constavam-se registradas 61 denominações
diferentes de revistas, de acordo com a classificação de periódicos, anais, revistas e
jornais do sistema nacional que avalia a produção científica com notas A, B e C,
denominado de WebQualis ou Qualis, da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, CAPES).
Encontramos um total de 95 artigos em cinco dos 61 periódicos, que
representariam a produção nacional sobre ensino e divulgação da Astronomia. Destes,
89 artigos são dos periódicos Revista Brasileira de Ensino de Física e Caderno
Brasileiro de Ensino de Física, dois artigos da Revista Brasileira de Pesquisa em
Educação em Ciências, três da Revista Ciência & Educação e um artigo da Revista
Investigações em Ensino de Ciências (estes 95 artigos estão reunidos em uma tabela
on-line, em Langhi (2012b), a qual permite o acesso direto por meio de um link em
cada título dos artigos). Um levantamento mais recente, mas ainda em andamento,
revela pelo menos 133 artigos publicados em periódicos de Qualis A e B, de 2001 a
2011 (LANGHI, 2012a).
Assim, estes 95 artigos constituem-se na representatividade da produção
científica nacional acerca da Educação em Astronomia por ocasião da redação e
submissão deste estudo, os quais compõem a amostra desta pesquisa, cuja análise se
deu mediante os princípios encontrados em Bardin (2000), denominada de Análise de
Conteúdo Categorial. Conforme esta metodologia de análise, o texto documental
fornece indicadores qualitativos que permitem inferências da parte do analista. As
fases da Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2000), foram respeitadas neste
trabalho, desde a escolha dos documentos (em nosso caso, a amostra dos artigos
acima descritos) até a exploração do material por meio de leituras flutuantes e
formulação de indicadores e índices que conduzem às categorizações e a realização e
interpretação das inferências.
DISCUSSÃO
A Análise do Conteúdo da amostra de artigos, acima descrita, conduziu a uma
categorização de elementos resultando num lastro relativamente expressivo de
características ou parâmetros que podem subsidiar futuras propostas de ações que
promovam a educação e a divulgação da Astronomia em âmbito nacional, envolvendo
as comunidades escolares (professores, alunos, famílias), comunidades científicas
(universidades, pesquisadores, astrônomos profissionais, observatórios profissionais)
1072
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ações unificadoras desta natureza, movimentando-se em sentido contrário à
dispersão e pulverização de esforços locais destes estabelecimentos (porém, sem
intenções de excluí-los), colocam-se em favor do desenvolvimento da Educação em
Astronomia e de sua pesquisa. Além disso, ações de âmbito nacional, que levem em
conta os parâmetros aqui elencados, justificam-se pelo fato de a Astronomia
desenvolver o importante papel em promover no público o interesse, a apreciação e a
aproximação pela ciência, pois normalmente surgem questões de interesse comum
que despertam a curiosidade das pessoas, tais como buracos negros, cosmologia e
exploração do sistema solar, conduzindo-as a uma Educação em Astronomia, seja ela
formal, informal, não-formal, ou no âmbito da popularização e da alfabetização
científica e cultural, apoiada nas atividades formativas de âmbito nacional envolvendo
as instâncias de astrônomos profissionais, amadores e a comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Portugal: Edições 70, 2000.
BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em
nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Parecer CNE/CP nº
1076
Rodolfo Langhi 1
Roberto Nardi 2
Janer Vilaça 3
INTRODUÇÃO
Resultados de pesquisas da área de Educação em Astronomia apontam para a
necessidade de atuação no desenvolvimento profissional de professores com relação
a conteúdos de Astronomia. Alguns trabalhos usam como objeto de pesquisa a
formação de professores e até sugerem a continuidade formativa dos profissionais do
ensino para o trabalho com Astronomia em sala de aula. No entanto, há carências de
estudos neste sentido, conforme atestado pelo escasso material produzido no período
de 1973 a 2008, totalizando apenas 36 pesquisas, distribuídos em 20 dissertações de
mestrado, 10 dissertações de mestrado profissionalizante, e 6 teses de doutorado
(LANGHI, 2009).
Quanto à formação inicial de professores, divulga-se, entre os pesquisadores
de formação docente, a existência de falhas gerais durante esta trajetória formativa.
Por exemplo, mostrando resultados de avaliações sobre a formação inicial, Garcia
(1999) apresenta diversos relatos negativos da parte de professores principiantes.
Nóvoa (1992) também comprova carências na formação inicial, ao que ele denomina
“deficiências científicas” e “pobreza conceitual”. Especialmente na Astronomia, esta
falha na formação de professor é bastante constatada nas pesquisas, conforme
Bretones (1999), Maluf (2000) e Kantor (2001).
Além desta problemática das necessidades formativas de professores de
Ciências ou de Física em conteúdos e metodologias de ensino em Astronomia, outras
questões ainda precisam ser pensadas, tais como: a carência de material bibliográfico
disponível aos professores sobre este tema, conforme Camino (1995) e Bizzo (1996);
a persistência dos erros conceituais em astronomia nos livros didáticos utilizados pelos
professores, conforme Leite e Hosoume (1999) e Paula e Oliveira (2002); a
disseminação, entre alunos, professores, comunidade, e a mídia sensacionalista, de
Educação. Faculdade de Ciências. Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências. Apoio: CNPq - email:
nardi@fc.unesp.br
3Coordenador do Polo Astronômico Casimiro Montenegro Filho/Programa PTI C&T/FPTI-BR; Foz do
METODOLOGIA
Esta pesquisa, predominantemente qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) na
área de Educação em Astronomia, abrange o tripé: pesquisa, ensino e extensão. A
coleta de dados se deu por meio de entrevistas coletivas, observação de campo e a
produção e aplicação de planos de aula por professores que participaram de cursos de
Astronomia em um ambiente não escolar como amostra, o Planetário do Polo
Astronômico Casimiro Montenegro Filho, da Fundação PTI C&T/FPTI-BR, Foz do
Iguaçu (PR). Desde o início das atividades de formação neste local até a elaboração
deste texto, participaram 755 professores da rede pública regional e, devido ao limite
1082
DISCUSSÃO
Os questionários abertos diagnósticos e avaliativos, elaborados segundo
orientações de autores que abordam a metodologia científica, como Gil (1996),
possibilitaram a caracterização e o reconhecimento da amostra de professores antes
do início das suas atividades de formação no planetário, e também durante e após o
processo. Além disso, o uso de um Diário do Pesquisador para registros de
observação, segundo Flick (2009), possibilitou o recolhimento de fatos importantes,
que poderiam ficar perdidos na interpretação, na generalização, na avaliação ou no
registro a partir de outras técnicas.
Segundo a análise discursiva de suas respostas, todos se apresentavam
motivados e interessados à aprendizagem da Astronomia. No entanto, condizendo
1083
um grupo de professores, ou seja, formar é muito mais do que dar um curso. Por isso,
as atividades com estes professores foram estruturadas de modo que tivessem tempo
para refletir e exercer a sua autonomia (ZEICHNER, 1993). Segundo este autor, para
uma reflexão adequada, os professores não pensam sozinhos sobre o seu trabalho.
Ao contrário, o desenvolvimento dos professores só pode ocorrer rejeitando-se a ideia
individualista de reflexão, e incentivando-os a se envolver coletivamente, voltado para
a construção da autonomia. Para Giovanni (2000), o uso de práticas coletivas voltadas
para a reflexão e para identificação de problemas, construção de soluções, definições
de projetos de ação, planos de ensino, avaliação dos mesmos, e o estudo dos seus
erros e acertos, junto com a autocrítica, constituem oportunidades formativas valiosas.
De fato, seus discursos, conforme excertos acima transcritos (e outros aqui não
apresentados por falta de espaço), revelaram o reconhecimento pessoal de que
precisariam alterar a sua prática profissional.
Em um momento posterior, os participantes elaboraram planos de aula sobre
temas de Astronomia, abordados durante sua presença no planetário, e os aplicaram
em suas respectivas turmas de alunos. Seus relatos das experiências das aulas foram
então submetidos posteriormente ao planetário para análise, confirmando sua
mudança na prática pedagógica quanto ao ensino de Astronomia. A produção de
planos de ensino diferenciados, após o processo formativo e reflexivo a que foram
submetidos no planetário, demonstram um olhar mais crítico acerca de seu trabalho, e
seus relatos de experiências de sala de aula com relação ao ensino da Astronomia
confirmaram a qualificação e a construção da autonomia docente quanto a este tema.
Seus relatos foram formalizados em apresentações em forma de pôsteres durante um
evento científico (Encontro Regional de Educação em Astronomia) e alguns deles
estão sendo publicados em periódicos com registro de ISSN.
Uma situação que habilitou os professores a classificar sua aprendizagem
durante o processo formativo no Polo Astronômico como “rica” foi a disponibilidade de
instrumentos específicos de divulgação científica e ensino de Astronomia, geralmente
encontrados em ambientes não formais tais como os planetários: “aqui no Polo
Astronômico temos instrumentos p/ ver na prática, tornando mais rica nossa
apendizagem”. Este discurso revela o importante papel destes espaços não só para
uma formação cultural e de divulgação, mas também para uma formação formal, tal
qual ocorreu com o grupo de professores aqui analisado.
Neste sentido, segundo os resultados encontrados neste estudo, seria um
desperdício de potencial pedagógico um planetário atuar unicamente para fins de
1086
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme os resultados deste estudo apontam, o desafio curricular para a
Astronomia na Educação Básica pode ser enfrentado com o uso do pleno potencial
1087
pedagógico que um planetário pode oferecer, desde que atue também na formação
docente, e não apenas para fins turísticos, de lazer ou de divulgação científica. As
suas atividades e ações não estariam atendendo a estes desafios curriculares caso se
embasassem única e exclusivamente na experiência pessoal de seus dirigentes, ou se
seus supostos “cursos para professores” possuírem uma abordagem completamente
conteudista, sem espaço para reflexão e verificação (e avaliação) da mudança da
prática docente. Ações fundamentadas em resultados de pesquisa da área e de
estudos in loco atendem mais amplamente às necessidades formativas do que ações
embasadas em senso comum ou opiniões pessoais do coordenador do planetário ou
outros ambientes de ensino não formal. Além disso, se todo este processo de ensino e
extensão for encarado também como locus de pesquisa, os planetários poderão atuar
enquanto centros de formação escolar, científica e cultural.
Deste modo, há a sustentabilidade do processo, no sentido de o planetário
atuar não apenas enquanto ambiente de ensino formal e não-formal, mas também
enquanto ambiente de pesquisa, fornecendo-lhe retornos constantes para melhorias
do próprio atendimento, além de possibilitar a construção de conhecimento científico
para a área de Ensino.
REFERÊNCIAS
BARRIO, J. B. M. Planetários recuperam as noites urbanas. Astronomy Brasil, São
Paulo, v.2, n.14, p.68-69, junho, 2007.
BIZZO, N. et al. Graves erros de conceito em livros didáticos de ciência. Ciência Hoje,
v.121, n.21, p. 26-35, jun.,1996.
BOGDAN, R. C. e BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação. Portugal:
Porto Editora, 1994.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares
Nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEMTEC, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares
Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental – ciências naturais. Brasília:
MEC/SEMTEC,1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília:
MEC/SEMTEC, 1999.
BRETONES, P. S. Disciplinas introdutórias e Astronomia nos cursos superiores
do Brasil. 1999. 187 f. Dissertação (Mestrado em Geociências)- Instituto de
Geociências, UNICAMP, Campinas, 1999.
CAMINO, N. Ideas previas y cambio conceptual en Astronomía. Un estudio con
maestros de primaria sobre el día y la noche, las estaciones y las fases de la luna.
Enseñanza de las Ciencias, v.13, n.1, p.81-96, 1995.
1088
INTRODUÇÃO
É recorrente, na literatura especializada em formação de professores, seja ela
inicial ou continuada, a ideia de que é preciso formar docentes críticos e reflexivos,
capazes de perceber, interpretar/analisar e modificar continuamente sua prática,
assumindo-se, assim, na qualidade de um professor-investigador de sua própria ação
pedagógica (ELLIOTT, 2000; STENHOUSE, 1993, 1998; CONTRERAS DOMINGO,
1994).
Tal perspectiva, por sua vez, encaminha a necessidade de não apenas
tomarmos práticas pedagógicas concretas como fontes de conhecimentos e análises
(GARCIA 1994, Pimenta e Lima (2005/2006,) como já se exige da formação
profissional, do curso de Pedagogia, uma estruturação curricular e/ou estratégia
interdisciplinar de trabalho, que se ajuste ao entendimento desse âmbito como
potencialmente fértil ao incentivo e desenvolvimento de atitudes investigativas em
práticas docentes.
Em outras palavras, a intenção de se formarem professores-investigadores,
solicita de um curso de Licenciatura uma mobilização curricular que permita a
integração de aspectos frequentemente observados de maneira dissociada, como é o
caso da relação entre teoria e prática, âmbito de produção do conhecimento (as
universidades) e o âmbito prático educativo (as escolas) e entre ensino e pesquisa.
Reside nessa mobilização, pois, a possibilidade de distinção de um âmbito
formativo pautado no modelo de transmissão de conhecimentos, de onde se
depreende o desenvolvimento técnico e abstrato do exercício da docência, de outro
que prima pela capacidade dos licenciandos para o aprender a aprender (MORIN
2001; LIBÂNEO 2003). Para Libâneo (2003, p.1-2) ”a aprendizagem universitária está
associada ao aprender a pensar e ao aprender a aprender [...] O ensino hoje, em
todos os níveis, precisa unir a lógica do processo de investigação com os produtos da
1OInstituto Superior de Educação Orígenes Lessa situa-se na cidade de Lençóis Paulista-SP e funciona
com 10 cursos no período noturno.
1093
1As crianças que frequentam o espaço devem estar previamente inscritas, sem que isso as obriguem a
frequentá-lo todos os dias da semana. Os dias de frequência é critério de escolha apenas dos pais das
crianças. É importante ainda acrescentar que o regulamento do Laboratório da ISEOL determina que a
faixa etária permitida a frequentar o espaço educativo deve ser de 2 a 7 anos de idade. Contudo, no caso
de o grupo contar com um número menor que 20 participantes, é aberta exceção para que crianças com
maior idade possam eventualmente se integrar à turma.
1094
METODOLOGIA
Na nossa concepção, o Laboratório Didático Especializado é, potencialmente,
investigativo, uma vez que nele testamos, avaliamos e reelaboramos procedimentos
pedagógicos com crianças da comunidade, de forma que já agimos/aprendemos a
tarefa docente, mas vivenciando situações concretas, e não com simulações de
práticas – imitação de práticas pedagógicas com a participação apenas dos colegas,
que simulam um público infantil –, as quais, inevitavelmente, favorecem apenas o
aprender a reproduzir, contrário, por sua vez, do aprender a aprender.
Metodologicamente, aproveitamos da instalação e dos sujeitos crianças que
frequentam o “LDE” para agirmos conforme os ensinamentos da pesquisa
participativa, a qual contempla momentos de planejamento-ação-reflexão como
movimento contínuo e elaborado (CONTRERAS, 1994; SCHÖN, 2000; STENHOUSE,
1993, 1998).
No desenvolvimento de nossas disciplinas no ISEOL, os alunos têm contato
com diferentes teorias e informações sobre a prática educativa e, a partir disso, são
convidados a planejar, em grupos, atividades que poderão ser desenvolvidas no
espaço no “LDE” juntamente com as crianças. A intenção é que, subsidiadas pelas
discussões durante a disciplina e com o devido acompanhamento e orientação dos
professores, os licenciandos tenham a possibilidade de pôr em prática suas ideias e
planejamentos, confrontar suas pretensões de ação com as situações inusitadas e as
respostas das crianças.
Após essas experiências, os alunos registram as ocorrências do laboratório e,
novamente em sala de aula, analisamos e discutimos o que foi observado, registrado,
enfim, vivenciado na interação com as crianças. Nessa discussão, nos guiamos por
questões: como foi a experiência? O que foi surpresa? O que foi dificuldade? Como
podemos aproveitar o que as crianças nos mostraram e que nós ainda não sabíamos?
Deste feito, a nossa expectativa é que os acadêmicos sejam capazes de
organizar o que foi experienciado/aprendido e, assim, procederem com a
sistematização de novas propostas pedagógicas a serem novamente testadas no
“LDE”. Neste entendimento, os alunos agem desenvolvendo suas habilidades
necessárias à prática docente, entre elas, a comunicabilidade, a capacidade de
planejamento, observação do ambiente e do contexto de atuação, além da auto-
observação, ou seja, da compreensão das próprias condutas e decisões.
Como bem afirma Oliveira-Formosinho (2007, p.14) “ser profissional reflexivo é
fecundar, antes, durante e depois da ação, as práticas nas teorias e, nos valores,
1096
DISCUSSÃO
É na trilha de Libâneo (2003), que apresenta uma metodologia de ensino
organizada, de modo não linear, em reflexão, análise e capacidade de operar
internamente com o conceito, que buscamos proceder didaticamente com nossas
disciplinas específicas no âmbito da formação de professores.
A metodologia apresentada pelo autor pode ser compreendida respectivamente
como: motivação e orientação da atividade (reflexão), formação de conceitos por meio
de operações práticas, concretas e formação dos conceitos no plano da linguagem
(análises) e, por fim, capacidade de operar internamente com os conceitos
(internalização dos conceitos).
De nossa longa experiência, 20 anos na docência com Educação Infantil, assim
como na direção desta mesma instituição por 9 anos, transferimos para nossa prática
no Ensino Superior o receio de que nossos alunos/licenciados pudessem agir
didaticamente da mesma forma como muitos professores, dos quais discordamos,
agem nos “chãos das escolas”: “ensinando” um conteúdo a partir de seu conceito e
não de sua desconstrução, cujo meio, aliás, é único capaz de envolver as crianças e
permitir que elas participem de sua reconstrução incluindo também os significados que
elas atribuem aos conteúdos pedagógicos.
Como argumenta Formosinho (2007, p. 15) “os saberes pedagógicos criam-se
na ambiguidade de um espaço que conhece as fronteiras, mas não as delimita, porque
a sua essência está na integração”.
No “LDE”, o trabalho pedagógico é bastante diversificado e nos traz intensos
desafios metodológicos. Por essa razão, contamos mesmo com a participação e
auxílio das crianças no estabelecimento de interações entre elas, uma vez que
tratamos no mesmo espaço com diferentes faixas etárias, níveis de
conhecimentos/saberes e até de habilidades motoras.
Em uma situação como a de um jogo mais desafiador, por exemplo, as crianças
menores são motivadas pelas maiores a praticarem atividades consideradas
complexas para sua faixa de idade. Ou seja, com incentivo dos “grandes”, os
pequenos se atrevem até mesmo a pular corda, amarelinha, inventar rimas, enfim, a
transgredir as limitações supostamente próprias de determinadas faixas etárias.
1097
1 De Elias José, por exemplo, trabalhamos o poema“A Casa e Seu Dono”, cuja letra divertida – por
exemplo no trecho: “essa casa é elegante, quem mora nela é o elefante”, provocou a diversão/ludicidade
das crianças e, sem dúvida, também a nossa.
1098
são ofertados através da participação das crianças. A foto a seguir retrata esse nosso
momento, bem como uma das criações das crianças transferida para lousa.
Figuras 1 e 2: Licenciandas e crianças em um contexto de aprendizagem mútua
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observe-se que a rima, como conteúdo metodológico, foi utilizada aqui apenas
como uma estratégia que, no fundo, continha outros valores/conteúdos que mereciam
nossa atenção no desenvolvimento pedagógico no Ensino Superior. O que
precisávamos mesmo, muito mais que apresentar a rima como conteúdo pertinente da
disciplina Linguagem Oral e Escrita, era favorecer aos alunos/licenciandos a
oportunidade de vivenciarem a riqueza que, de fato, compõe um processo educativo
concreto. Ou seja, o importante foi que nossos alunos, futuros pedagogos, puderam
exercitar a ideia de como é ser um professor que investiga continuamente sua própria
prática. Só pode ser investigador, se for no contato/confronto direto com as crianças e
não por meio de simulações pedagógicas, nas quais elas virtualmente estariam
presentes.
Só pode ser um professor investigador aquele que sempre (re)aprende a dividir
com as crianças, reais e singulares, a responsabilidade de uma construção
pedagógica que tenha seja o retrato de todos os envolvidos: a concretização de uma
prática coletivamente significada, inclusive conosco, professores acadêmicos.
Como bem afirma Contreras Domingo (1994), não podemos perder de vista o
entendimento de que conhecer e atuar compõem o mesmo processo investigativo.
Quando nos dispomos, na formação inicial, a relacionamentos com crianças
que, na verdade, são as mesmas que frequentam as escolas da qual tanto falamos no
meio acadêmico, conseguimos “mapear” seus conhecimentos, habilidades,
preferências, medos etc., e, assim, revisar nossos objetivos – inclusive os nossos de
1099
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O estudo que ora se apresenta foi desenvolvido a partir da intenção das
pesquisadoras em conhecer a atuação do coordenador pedagógico3 frente ao Horário
de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) em uma escola pública estadual, uma vez
que este é o profissional responsável pela organização e planejamento dos encontros
semanais com os professores.
O surgimento da função de coordenador pedagógico no estado possui um
caráter histórico, já que foi fruto de reivindicações progressistas dos movimentos dos
professores desde a década de 1970, tendo sido privilegiada pelo processo de
redemocratização do ensino a partir da década de 80, quando a aprovação do
Estatuto do Magistério (Lei 444/85) e a criação do Ciclo Básico permitiram uma
valorização dos aspectos pedagógicos nas escolas. Já na década de 90, as reformas
educacionais garantiram a presença quase total do coordenador pedagógico na rede
pública de ensino do estado de São Paulo, assim como a possibilidade dos
professores participarem dos HTPCs, elementos relevantes para a articulação das
atividades pedagógicas nas unidades escolares.
Sem sombra de dúvidas, estes elementos representaram um avanço para a
organização das atividades pedagógicas nas escolas, mas, por outro lado, a simples
garantia legal da coordenação não é suficiente para a realização de um trabalho
satisfatório. A deficiência na formação profissional, as condições de trabalho adversas,
juntamente com a ausência de uma política de valorização e uma sociedade em
constante mudança contribuíram e ainda contribuem para a desvalorização e para a
fragilidade da carreira do coordenador pedagógico, refletindo-se na ausência de
identidade e de espaços específicos de atuação escolar desse profissional
(CHRISTOV, 2001; FERNANDES, 2009).
que exercem a coordenação pedagógica. Por opção política adotaremos no texto a denominação
“Coordenador Pedagógico”.
1102
METODOLOGIA
O campo de realização da pesquisa foi uma escola estadual localizada em um
bairro periférico de um município do interior de São Paulo. A escola atendia alunos dos
1103
Ciclos I e II do Ensino Fundamental e Ensino Médio, nos três períodos, contando para
tanto com uma coordenadora pedagógica responsável por cada um dos ciclos
oferecidos. O corpo docente era composto por cerca de 60 professores entre efetivos
e eventuais que se responsabilizavam pelas atividades pedagógicas com
aproximadamente 1.000 alunos, sendo, portanto, uma escola de grandes dimensões,
com alto fluxo de pessoas e complexas relações interpessoais nas quais era papel do
coordenador pedagógico intervir como mediador das mais diversas situações, servindo
de “elo” entre professores, alunos, gestão e comunidade.
No que se referiu especificamente ao trabalho da coordenação pedagógica no
ambiente da instituição escolar e na realização dos HTPCs, as ações da pesquisa
direcionaram-se à percepção da dinâmica de trabalho e da articulação do trabalho
coletivo no cotidiano, das coordenadoras dos Ciclos I e II, denominadas
respectivamente como Coordenadora I e Coordenadora II. Para a coleta de dados
foram utilizados os procedimentos de observação das reuniões coletivas e a entrevista
semi-estruturada.
desejado e o real e a maneira com que têm sido conduzidas e organizadas não
contribuem para que ocorram mudanças na prática pedagógica do professor, bem
como para o desenvolvimento dos saberes e competências necessárias para o
enfrentamento dos desafios do cotidiano escolar.
As situações apresentadas divergem das finalidades para as quais as reuniões
coletivas foram criadas, perdendo assim sua essência reflexiva e formativa.
Consequentemente, um momento que deveria ser de formação docente fica tomado
pela burocratização e passa a ser desacreditado pelos próprios professores. Críticas
também são feitas ao material utilizado pelos coordenadores pedagógicos nos HTPCs.
Fernandes (2012) aponta que, muitas vezes o momento de formação é organizado em
torno de publicações oficiais, distanciando-se da proposta de aproximação das
necessidades da escola e de desenvolvimento da autonomia docente.
Diante disso, para consolidar os HTPCs como lócus de formação docente, é
papel fundamental do coordenador pedagógico mediar a reflexão e a articulação entre
teoria e prática, a troca de experiências entre os professores e o consequente
crescimento profissional do grupo. O coordenador pedagógico deve ter consciência da
importância das reuniões na prática docente e assumir seu papel articulador nesse
processo, de modo a mobilizar os professores em torno de atividades reflexivas e
formativas, fazendo do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo um espaço
privilegiado de formação continuada dos professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os esforços investidos no presente trabalho foram direcionados para a
contextualização e a compreensão do papel do coordenador pedagógico no cotidiano
escolar, particularmente na realização do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
(HTPC) numa escola pública paulista, considerando a complexidade dos processos de
planejamento e execução das reuniões coletivas e as condições de trabalho nas quais
as coordenadoras pesquisadas estavam inseridas.
Os estudos bibliográficos realizados permitiram constatar que a função de
coordenador pedagógico possui um caráter histórico, é fruto de reivindicações
1110
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. R; PLACCO, V. M. N. de S. (Org). O coordenador pedagógico e o
espaço da mudança. São Paulo: Loyola, 2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 02 de julho de 1971.
Legislação de Ensino de Primeiro e Segundo Graus, São Paulo, 1985, p. 403-413.
BRUNO, E. B. G; CHRISTOV, L. H.S. Reuniões na escola: oportunidade de
comunicação e saber.In: ______; ______. (Org.). O coordenador pedagógico e a
formação docente. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2006.
1111
INTRODUÇÃO
Para superar “a superposiçãode dois conjuntos de conhecimentos, em que o
aprendizado do saber disciplinar antecede o aprendizado do saber pedagógico”, o
Programa de Formação de Professores da Universidade de São Paulo2, a partir de
2004, propôs a reestruturação das Licenciaturas na USP e propiciou, no caso do curso
de Geografia, a formação do professor de Geografia integrada à formação do bacharel
geógrafo. Assim, dentre as atividades e disciplinas voltadas à Licenciatura no curso de
graduação em Geografia, temos a disciplina de Estágio Supervisionado de Ensino de
Geografia e Material Didático por intermédio da qual se realiza 25% da carga horária
(100 horas) dos estágios obrigatórios que depois é complementada com outras
disciplinas e atividades que envolvem os estágios realizados na Faculdade de
Educação.
A pesquisa “A visão do estagiário na licenciatura” é um subprojeto da pesquisa
“O Perfil profissional do professor de Geografia e a importância do Ensino de
Geografia na Educação Básica” que se realizou junto aos alunos das turmas da
disciplina de Estágio do 1º semestre de 2012 no curso de graduação de Geografia da
USP visando prospectar os diversos sentidos do Estágio para os alunos envolvidos.
Tratamos aqui das interfaces e vinculações essenciais que o estágio obrigatório
possibilita vivenciar e conhecer sobre a situação do ensino de Geografia encontrada
nas escolas públicas e seus efeitos para a formação inicial do professor.
Considerando o estágio como campo de interesse e reflexão no processo de
formação profissional, esta pesquisa de cunho qualitativo procurou caracterizar e
compreender a partir das narrativas dos próprios estagiários os enfrentamentos
cotidianos dos problemas que se verificam no trabalho educacional da escola, e que
apontam a necessidade de questionar, de maneira radical, se a formação de
professores tem garantido a formação de um profissional comprometido com a
Núcleos de interesse para a análise dos sentidos do estágio: a partir das “falas”
registradas em áudio e vídeo e das “imagens de estágio” registradas em fotografias
pudemos sistematizar os diversos núcleos de interesse para a análise nesta pesquisa,
os quais emergiram nas práticas de estágio e que revelam o profundo sentido que o
estágio de licenciatura possui na formação inicial de professores. Consideramos
também que estes núcleos de interesse são importantes para se considerar as
temáticas que podem orientar a reformulação dos programas de formação inicial e
continuada de professores dado os significados relevantes que possuem.
Núcleos de interesse comuns às falas dos estagiários: agrupamos os conteúdos
das falas considerando a ocorrência que tiveram no conjunto das falas registradas.
Assim, temos o seguinte rol de conteúdos identificados com a experiência vivida no
estágio: a recepção enquanto estagiário na escola, o envolvimento com a escola, a
desmotivação dos alunos em aula, as linguagens e tecnologias utilizadas no trabalho
pedagógico em aula, os perfis de professores pela atuação em aula, a falta de
professores de geografia nas escolas, os conteúdos de geografia ensinados nas
escolas, as diferentes culturas das escolas em relação à aprendizagem dos alunos, o
envolvimento do aluno na aula, a interferência dos fatores externos na aula, as
relações da equipe gestora com o professor, a relação do sindicato com o professor e
com a escola, o estagiário como sujeito discursivo, crítica à formação de professores,
as diferentes dinâmicas na sala de aula e o professor como agente transformador da
realidade.
Núcleos de interesse comuns às imagens dos estágios: agrupamos os conteúdos
das imagens de estágio pela quantidade em que aparecem nos itens apresentados a
seguir, a partir do tema/título do banner, da legenda da fotografia e da própria imagem
do estágio, considerando estes indicadores como focos das observações realizadas
pelos estagiários durante o estágio, os quais apareceram simultaneamente ou não nas
diversas fotografias.
SOBRE A ESCOLA PÚBLICA
Grades e câmeras internas como indicadores de insegurança e violência na escola. 08
A escola na periferia: presença do Estado e assistencialismo e as contradições sobre 04
o papel da escola na sociedade.
Permanência de escolas antigas com novos usos. -
Educação e Repressão: ambiente escolar como os de presídio, às vezes. Escola 04
desumanizadora.
Espaços de aprendizagem que favorecem o diálogo: material didático menos 04
importante que o diálogo. Escolas organizadas e com ambiente bom.
Escola como comunidade, alunos participando de ações sociais. 02
SOBRE O PAPEL DO PROFESSOR
1117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento desta pesquisa indicou, de maneira muito especial, a
importância do estágio na formação inicial de professores e também a complexidade
implicada nesta profissionalidade. Do ponto de vista da prática de pesquisa adotada
como estratégia metodológica e didática na disciplina de Estágio Supervisionado de
Ensino de Geografia e Material Didático foi possível desenvolver a relação entre o
plano de estágio e a prática realizada, a relação entre a fala e a reflexão sobre a
prática do estágio e a relação entre as referências bibliográficas e a percepção
individual e coletiva do processo de aprendizagem.
O objetivo de caracterizar e conhecer os enfrentamentos cotidianos envolvidos
no trabalho do professor na esfera da educação pública numa perspectiva crítica foi
alcançado plenamente, conforme se pode verificar pelo registro no documentário
“Educação em transe”.
Quanto a análise da situação do ensino de geografia, ficou muito evidente que
não há apenas situações desfavoráveis no ensino público. Pelo contrário, as falas dos
estagiários revelam as diferentes situações que caracterizam a educação pública
quanto a qualidade do trabalho que é realizado nesta esfera.
Quanto à proposta de realização do registro audiovisual das práticas
discursivas dos alunos sobre as experiências vividas nos estágios, revelou-se
altamente agregadora de valores que impulsionaram a emergência de variados
sentidos para o estágio, além da compreensão sobre a importância do uso de
tecnologias e diferentes linguagens no ensino de geografia.
As falas dos estagiários recobriram escolhas individuais de cada um e puderam
ser confrontadas no contexto das diversas visões que o grupo apresentou indicando a
necessidade de colocar significados novos na educação em geral e no ensino de
geografia tanto na esfera da educação básica como na esfera da educação superior.
Um dos sentidos mais importantes atribuídos ao estágio realizado foi o
estímulo às práticas dialógicas que ao serem realizadas entre pares, foi se
constituindo na própria essência e centralidade das práticas docentes que devem
permear o ambiente da escola em geral e também o ambiente da sala de aula com os
alunos.
1119
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei do Estágio Nº 11.788 de 25 de Setembro de 2008. Artigo 1º, Parágrafo
2º Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11788.htm. Acesso em: 01 Abr. 2013.
CLAVAL, Paul. A Terra dos Homens: a geografia. São Paulo: Editora Contexto, 2010,
p. 137.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 1982, p.139.
MONBEIG, P. Papel e valor do Ensino da Geografia e de sua Pesquisa. In: Novos
estudos de Geografia Humana brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1957, p. 18.
PECOTCHE, Carlos Bernardo González. Introdução ao conhecimento Logosófico.
3. ed. São Paulo: Editora Logosófica, 2011, 252.
SANTOS, M. Geografia: além do professor? GEOgraphia, América do Norte, 13, jan.
2012. Disponível em:
http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/401/311. Acesso
em: 01 Abr. 2013, p. 07.
TOURAINE, Alain. Um novo paradigma: Para compreender o mundo de hoje. Lisboa:
Instituto Piaget., 2005, p.103.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. 2. ed.
São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009, p.241.
ANEXO
1120
INTRODUÇÃO
A reflexão e o debate sobre a Escola Inclusiva tem como base o percurso
histórico de embates e conquistas das Pessoas com Deficiência, Transtornos Globais
de Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação à Educação Especial no
mundo e não obstante, no Brasil. Sabe-se que, especialmente, a partir das últimas
décadas do século XX, as políticas educacionais brasileiras passaram a dedicar maior
atenção aos que necessitam de um atendimento educacional especializado, trazendo
para o centro das discussões sobre educação, a questão da inclusão escolar e
também a formação dos professores para atender aos estudantes com perfil para esse
atendimento. Por isso os movimentos internacionais de integração e de inclusão
escolar do estudante com algum tipo de deficiência, de forma mais palpável a partir da
década de 1990, têm influenciado as políticas educacionais na área da Educação
Especial em vários países, entre os quais, também o Brasil.
Esse processo teve como ápice o direcionamento das Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na educação básica no país (BRASIL, 2003), com vistas à
priorização da educação escolar dos estudantes com deficiência no sistema regular de
ensino, previsto por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDBEN, n. 9.394 de 1996(BRASIL, 1996) e já assegurado na Constituição Federal
(BRASIL, 1988). Após a promulgação da LDBEN 9394/96, outros documentos
surgiram, procurando complementar o que permaneceu como insuficiente ou dúbio na
legislação educacional, por exemplo, a Resolução 02/2001 da CNE/CEB (BRASIL,
2001).
De modo geral, entende-se que a legislação brasileira, mediante a LDBEN
9394/96 e, mais recentemente, o Decreto n. 6.571/08, entre outras, apresenta-se
como um marco bastante significativo no processo de inclusão escolar do país, pois
preconiza a implementação do Atendimento Educacional Especializado (AEE), em
rede pública, aos Estudantes Público Alvo da Educação Especial1 (EPAEE) desde a
Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) ao Ensino
Superior. Portanto, são marcos fundamentais para se pensar uma educação inclusiva,
pois abrem novas perspectivas de acesso e permanência nas instituições de ensino
para esses estudantes.
Assim, Delors (1999) afirma que cabe à escola apresentar ao indivíduo o
mundo real, incluindo suas complexidades e agitações, assim como indicar caminhos
e recursos para percorrer e reconhecer esse mundo. Mas, vive-se, hoje, uma situação
paradoxal, pois o mesmo sistema que luta por uma sociedade justa, igualitária e
inclusiva reproduz mecanismos que favorecem a exclusão, dificultando o acesso e a
permanência do EPAEE no ambiente escolar, limitando as possibilidades de
construção do seu próprio conhecimento.
Dessa forma, partimos da premissa de que uma educação inclusiva pode
garantir a toda e qualquer pessoa os seus direitos de estudar e, acima de tudo, de
aprender. Mas para isso, é necessário que a escola atente para o fato de que todos
têm o direito de nela estudar e, assim, abra-se às possibilidades de parcerias para que
tal direito não se constitua em um peso ou tarefa impossível de ser executada, mas
que se caracterize como uma oportunidade de aprendizagem para todos.
Nesse sentido, no contexto do curso de Licenciatura em Pedagogia
Semipresencial da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) em parceria
com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), cuja primeira
edição está em vigência de 2010 a 2013, o Eixo Articulador: Educação Inclusiva e
Especial foi elaborado considerando o Projeto Político Pedagógico do Curso, que
considera que, ao desenvolver um programa de Formação para Professores em
exercício (para atuarna educação infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental e na
gestão de unidade escolar), deve-se contribuir para que, além do conhecimento
específico de sua área ou nível de atuação, esses professores conheçam e reflitam
sobre os recursos pedagógicos e tecnológicos necessários para que sejam capazes
de desenvolver um trabalho pedagógico que ofereça às crianças as condições
necessárias para que elas possam construir um mundo orientado pela solidariedade e
respeito às diferenças (UNESP, 2008).
Além disso, por se tratar de um programa de formação continuada de
professores semipresencial, a proposta do curso tem como premissa a utilização de
1De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2007)
são considerados Estudantes Público Alvo da Educação Especial (EPAEE) as pessoas com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
1123
Atualmente o curso tem 1005 (um mil e cinco) cursistas que são professores
em exercício da rede estadual de São Paulo ou municipal que tem formação
específica (áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Historia, Ciências, Geografia,
Educação Física e/ou Gestão Escolar). Esses estudantes estão alocados em turmas
de 27 (vinte e sete) pólos/campi da Unesp.
Organizado em três Blocos, sendo que o primeiro deles foi constituído de três
Módulos e os dois últimos Blocos de um único Módulo, o currículo do curso é formado
por Temas e Disciplinas. Esses módulos integram-se por eixos articuladores, que são
blocos de conteúdos que devem ser entendidos como centros geradores a partir dos
quais são trabalhadas as teorias e as práticas educativas em conformidade com os
Temas/Disciplinas distribuídas em cada Bloco.
O Eixo Articulador: Educação Inclusiva e Especial está inserido no Bloco II –
Didática dos Conteúdos, composto por 1.440 h/a (um mil, quatrocentos e quarenta
horas/aula). Constitui assim, 120 horas (cento e vinte horas) separadas em cinco
blocos de 24 h/a (vinte e quatro horas aula) semanais, cujas atividades são realizadas
entre as disciplinas de Conteúdos: Didática Geral, Didática de Alfabetização, Didática
de Língua Portuguesa e Literatura, Didática de Artes, Didática de Educação Física,
Didática de Matemática, Didática de História, Didática de Geografia, Didática de
Ciências e Saúde e, para articular ao próprio eixo, Didática de Libras (Língua Brasileira
de Sinais).
A elaboração do Eixo Articulador foi pensada mediante a demanda de elencar
os conhecimentos sobre o histórico da Inclusão Escolar e da Educação Especial no
Brasil e no mundo, considerando suas características, diferenças, semelhanças,
políticas de ação e possibilidades de atuação profissional. Para de fato articular o eixo
às disciplinas didática dos conteúdos, sua elaboração teve início no ano de 2009,
considerando a necessidade de apresentação dos seus conteúdos sob a forma de
blocos representativos de cada característica abrangida pelas áreas das didáticas. Os
blocos de conteúdo do Eixo são:
1) Política de Educação Inclusiva e Adaptações Curriculares;
2) Trabalho com Projetos e Apresentação de TDIC e Objetos
Educacionais;
3) TDIC para o trabalho com conteúdos específicos das Didáticas de
Conteúdo;
4) Elaboração e aplicação de Planos de Ensino Inclusivos (PEI) e Projetos
articulados aos diferentes conteúdos das Didáticas de Conteúdo.
1125
DISCUSSÃO
A primeira parte do Eixo foi organizada com o sentido de apresentar os
conteúdos e conceitos-chave para compreensão do seu tema, articulado ao
conhecimento construído na disciplina de Didática Geral. Foram organizadas
atividades para iniciar a elaboração coletiva de um PEI tendo por base os conteúdos
estudados ao longo da disciplina Didática Geral. Assim, os estudantes do curso foram
estimulados a aproveitar os conhecimentos construídos nessa disciplina para a
organização de um PEI, baseado em um roteiro específico. Essa atividade, vinculada
a outras atividades de: diálogo participativo, leitura de textos, apresentação das
Políticas Educacionais (Marcos Legais) e resolução de um questionário se
fundamentou na articulação das ideias frente às realidades distintas, apresentadas por
cada membro dos grupos formados, considerando a área de atuação profissional.
Desde esse primeiro momento foi necessário esclarecer que o foco da
atividade prática deveria ser os estudantes, suas necessidades e seu contexto. Além
disso, a orientação inicial era de que pudessem articular seus conhecimentos
específicos para a elaboração de um plano de ensino que atendesse às diferenças de
seus estudantes.
trabalhados, com base nas reflexões feitas durante o período virtual anterior, os
estudantes voltaram ao PEI e acrescentaram os elementos pesquisados e utilizados
nesse momento.
A quarta parte do Eixo foi elaborada no sentido de subsidiar o andamento do
desenvolvimento dos PEI que foram elaborados ao longo das semanas anteriores.
Nas atividades, as estratégias e os recursos conhecidos nas atividades anteriores
foram articulados aos conteúdos propostos pelas disciplinas Conteúdo e Didática de
Educação Física e Matemática. O contato e uso de outros OE na construção e
aplicação dos PEI foi proposto novamente, fundamentando a articulação das ideias de
uso desses recursos frente às realidades distintas, apresentadas por cada membro
dos grupos já formados desde a primeira semana, considerando sua área de atuação
profissional. Nesse momento, foi realizada uma orientação de que o foco é a
aprendizagem do estudante, o desenvolvimento do seu potencial e suas habilidades,
dentro do seu contexto. Também foi proposta a análise de um vídeo sobre um projeto
de AEE junto a estudantes com altas habilidades/superdotação, sinalizando para a
reflexão sobre as necessidades específicas desses EPAEE, visto que na parte anterior
haviam analisado os EPAEE com transtornos globais de desenvolvimento. Diante
disto, foi proposto que os professores-cursistas articulassem os conhecimentos e as
experiências para a elaboração de um PEI que valorize a diversidade humana dos
estudantes e finalmente, executassem a sua aplicação na prática. Essa atividade foi
resgatada e concluída na quinta parte, exposta a seguir.
E finalmente, a quinta parte do Eixo (realizada em outubro de 2012), após as
disciplinas de Conteúdos de Didática de História, Geografia e Ciências e Saúde. Nas
atividades foram esclarecidos os elementos de criação desse espaço de análise sobre
elaboração e aplicação dos PEI realizados ao longo do Eixo e a primeira atividade
proposta foi o compartilhamento dos resultados da aplicação prática dos PEI em sua
sala de aula ou escola. Nesse momento os professores-cursistas tiveram que destacar
e registrar os resultados positivos do trabalho, explicitando as ações e estratégias que
ajudaram a potencializar as aprendizagens dos estudantes. Indicando também, os
desafios que enfrentaram nesse processo, as dificuldades encontradas na
operacionalização da proposta e as angústias.
Em seguida, elegeram, entre os PEI do grupo (aplicados individualmente),
aquele que melhor representar os pontos destacados para a apresentação de um
pôster, guiado por um roteiro específico, que servirá para sistematizar os resultados do
próprio Eixo e proporcionar a troca e reflexão entre as turmas. O momento final da
1128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As estratégias de desenvolvimento do Eixo Articulador: Educação Inclusiva e
Especial compõem a necessidade de compreensão sobre as situações que podem
promover os desafios da escola inclusiva, tendendo a mobilizar professores e gestores
para que revejam e recriem suas práticas a partir de novas possibilidades educativas.
Por isso abordamos as políticas educacionais, apresentamos experiências diversas e
focalizamos o PEI como elemento fundamental no exercício docente para uma prática
comprometida com a construção de uma escola inclusiva.
A possível formação dessa rede de conhecimento e de significações foi
pensada como contraposição a currículos apenas conteudistas, a verdades prontas e
acabadas, listadas em programas escolares seriados. Para isso, buscamos
implementar estratégicas pedagógicas para a construção e integração de saberes
decorrentes da transversalidade curricular, descoberta, inventividade e autonomia dos
estudantes na conquista do conhecimento construído, por meio da prática de
elaboração, sistematização e aplicação dos PEI.
Adicionalmente, procuramos dar a visão ao professor-cursista sobre o papel e
a importância da articulação do Ensino Comum com o AEE, cuja finalidade é a de
auxiliar o professor da classe comum (público-alvo desse curso) e a escola na
construção, e efetivação da escola inclusiva. Dessa forma, almejamos que as escolas
desenvolvam estratégias que lhes permitam ofertar uma organização pedagógica
inclusiva, tornando-se ambientes polissêmicos (GALLO, 1999), favorecidos por temas
de estudo que partem da realidade, da identidade social e cultural dos professores-
1129
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Decreto nº 6.571, de 17 de set. de 2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP,
2003.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de
2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394 de 20 dez. 1996. Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional.
BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
DELORS, Jacques (Org.). Educação: um tesouro a descobrir. 3 ed. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF. MEC: UNESCO, 1999.
GALLO, Sílvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não-
disciplinar. In: ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite (Orgs.). O sentido da escola. Rio
de Janeiro: DP&A, 1999.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO. Curso de
Pedagogia: Projeto do Curso, Ementas e Grade. São Paulo: Univesp/Unesp, 2008.
SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya. Mudanças nas práticas pedagógicas do
professor: criando um ambiente construcionista contextualizado e significativo para
crianças com necessidades especiais físicas. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado em
Educação: Currículo) – PUC-SP, 2000.
1130
INTRODUÇÃO
Planejar é uma ação intrínseca ao cotidiano de qualquer pessoa, o que a leva a
executar melhor suas atividades, pois estas são pensadas e realizadas
metodologicamente. Entende-se planejamento como um processo intencional e
programado que requer algum conhecimento, com finalidades específicas a serem
concretizadas em prazos previamente determinados e que prevê necessidades para a
execução das etapas estabelecidas na sua elaboração.
Nessa perspectiva, tem-se uma visão da essência técnica do ato de planejar,
definido como uma atividade a ser realizada mediante o antever e a racionalidade. De
fato, planejar requer escolhas, tomada de decisões, definição de metas, que estão
intimamente ligadas ao pensamento e ao conhecimento, por isso é racional. Luckesi
(1992) afirma que deve ser um ato comprometido e não neutro, cuja intencionalidade é
estabelecer meios para atingir fins. Planejamento é ainda para ele “uma atividade-
meio, que subsidia o ser humano no encaminhamento de suas ações e na obtenção
de resultados desejados, e, portanto, orientada por um fim” (p. 118).
No planejamento, tem-se em vista a ação, onde decisões são tomadas
anteriormente, para a obtenção dos objetivos esperados. Deve-se “perceber,
claramente, o que é possível fazer para se poder resolver situações, a partir das
intenções teóricas, a fim de se chegar a um agir correto” (MENEGOLLA; SANT’ANNA,
1998, p. 19). Nessa perspectiva, o ato de planejar revela-se como uma tomada de
decisões para ações, frente às inúmeras alternativas, objetivando atingir os resultados
esperados.
Reconhecendo dessa forma a importância do planejamento para as atividades
pedagógicas, este trabalho buscou conhecer as concepções de bolsistas do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/UECE) sobre o ato de planejar,
uma vez que já possuíam total afinidade com a prática docente. Também foi objetivo
do projeto verificar quais concepções são levadas em consideração pelos bolsistas no
momento do planejamento. Para isso, o texto abaixo retoma conceitos e dilemas sobre
propõem, práticas ignoradas pelos professores são repetidas diversas vezes por eles.
Tais fatos levaram Gil-Pérez e Carvalho (1995) a argumentarem que a formação
docente deve ser refletida criticamente, para que seja de fato uma “mudança da
didática” adquirida através de outros professores ou do tempo de estudante e que é
amplamente copiada sem questionamento algum. Nas palavras dos autores, não é
O ensino, nem tão pouco a formação docente devem ser uma transmissão de
hábitos, mas um constante ensejo para a quebra de paradigmas, para a reflexão e a
mudança das ações. Entretanto, não se pode ignorar que as transformações causam
certo desconforto entre os professores, afinal, é mais cômodo e fácil se opor ao novo
do que desconstruir a imagem do velho, do que é preponderante e tradicional. Esse é
um dos desafios a ser enfrentado na prática que se propõe a fazer (PENTEADO,
2003). Enfim,
tendo como pressuposto que só ocorre a mudança de uma
determinada situação quando ao planejar se tem certeza de onde
quer chegar, deve-se ter claro que o ato do planejamento educacional
é muito sério e exige compromisso, é um ato de intervenção técnica e
política, não podendo ser visto como uma simples rotina. Planejar,
também, implica conhecer limitações e possibilidades. (PENTEADO,
2003, p. 2)
É bem certo que não se modifica culturas de repente, mas um dos passos para
se começar a falar em mudanças é a disposição em implementá-las, a vontade ou a
certeza de onde se quer chegar, como colocou Penteado (2003), anteriormente. De
modo semelhante, propondo mudanças significativas no âmbito da formação docente
no município de Itapipoca, o PIBID, especificamente no curso de Ciências Biológicas
da FACEDI/UECE vem contribuir para a quebra de paradigmas e a ressignificação do
planejamento educacional.
METODOLOGIA
Numa pesquisa, a metodologia é considerada o caminho que se percorre para
chegar a determinado ponto, ou seja, os resultados esperados. As técnicas de coleta
de dados ou mesmo de análise, como coloca Severino (2007), são procedimentos
operacionais que servem de mediação prática para a pesquisa. São, portanto, os
instrumentos de que se lança mão para percorrer esse caminho e alcançar os
resultados da forma mais eficaz possível.
Nesta pesquisa, foram elaborados questionários destinados a sete licenciandos
de Ciências Biológicas participantes do PIBID da FACEDI-UECE, com o objetivo de
perceber as concepções de futuros docentes de Biologia quanto ao planejamento
pedagógico e sua relevância para a atuação no ensino da disciplina. Deste número de
licenciandos, somente três puderam ter seus discursos analisados, devido a
dificuldades na devolução dos questionários.
Para identificá-los, na organização dos dados e resultados, foram utilizadas as
letras BP (Bolsista PIBID), seguidas de números naturais para a distinção.
Gil (1991) classifica o questionário como uma das técnicas de interrogação,
que se mostra bastante útil na obtenção de informações, sendo rápido, de custo baixo,
sem muitas exigências e garantindo o anonimato dos sujeitos pesquisados. Além
disso, as mensagens escritas são materiais aos quais se pode recorrer sempre que
necessário.
O questionário propunha analisar o conceito de planejamento, sua importância
e necessidade para a atividade docente, segundo as concepções de cada bolsista.
A análise dos questionários é essencial para conhecer o assunto tratado, uma
vez que se encontra neles, de forma discursiva, o pensamento, as concepções,
percepções e até por vezes, angústias, dilemas e experiências dos sujeitos
pesquisados. Trata-se de uma técnica amplamente utilizada na abordagem qualitativa
e constitui dados intrínsecos para a chegada ou ancoragem dos resultados obtidos.
1135
Através dos relatos dos bolsistas, transcritos em parte neste texto, pudemos
traçar as considerações expostas a seguir e, esperamos que, tais fatos e ideias,
sirvam de norte para discussões futuras.
a formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua
prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias
implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc.,
realizando um processo constante de autoavaliação que oriente seu
trabalho. (IMBERNÓN, 2010, p. 51)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação docente inicial, atualmente renovada com seus projetos voltados
para a valorização do magistério, como é o caso do PIBID, especificamente o PIBID
do curso de Ciências Biológicas da FACEDI/UECE, aparece como verdadeira “luz no
fim do túnel”, incorporando atividades de planejamento em seus saberes docentes,
demonstrando a importância do pensamento e da sistematização de ideias, da
1138
possibilidade de novas funções para uma atividade tão antiga, que não seja somente a
previsão do “com que” e “como” ministrar uma aula.
Qualquer que seja o contexto em que o indivíduo está inserido, ele planeja,
traça metas e formula meios para atingi-las. Contrário a isso, estar o “agir
aleatoriamente” mencionado por Luckesi (1992), onde o ser humano busca construir
resultados sem ter nítido os seus objetivos. A partir dessas atitudes, talvez seja até
possível obter tais resultados, mas não de maneira intencional e elaborada, e sim por
mera sorte ou coincidência. Do mesmo modo, as ações com fins definidos, mas
construídas por meios infundados e com o despreparo, podem não vir a ser
concretizadas e, mesmo que finalizadas, não apresentam o sucesso esperado. Daí a
importância de se planejar!
Para muitos professores, o plano de aula é um documento burocrático e
obrigatório, utilizado pela coordenação como um controle da ação do professor em
sala de aula, uma forma de arbitrariedade, promovendo uma relação vertical entre
gestão e docentes. Tal concepção se dá pela ausência de uma formação que
desmitifique esses conceitos e trabalhe o planejamento como sendo fruto de uma ação
que deve acontecer em conjunto, através da parceria estabelecida entre os sujeitos
que fazem a educação.
O PIBID explorou essa concepção entre os bolsistas, o que gerou uma visão
madura e fundamentada sobre o ato de planejar. O contexto social, a realidade em
que a escola está inserida e o público alvo a que as aulas se destinam foram as
principais preocupações reveladas pelos bolsistas, sendo as primeiras questões a
serem consideradas pela maioria deles no momento de traçarem os seus planos de
aula.
Foi perceptível, nos relatos colhidos, a preocupação com o alcance dos
objetivos, fato que, para os bolsistas, só seria possível através de um planejamento
adequado, onde se pode traçar os meios, avaliá-los e adequá-los, para atingir os fins
desejados. Essa prática, portanto, deve estar presente em toda a ação pedagógica do
professor.
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
FUSARI, J. C. O planejamento educacional. Revista Ande, São Paulo, 8, p. 33-35,
1984.
1139
ITINERÁRIOS DA PESQUISA
O presente trabalho é parte de uma dissertação de mestrado concluída no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense
(UFF), que tem como objetivo geral compreender que concepções de Biologia
estavam em disputa no processo em que o curso de História Natural da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, Santa Maria/RS), é substituído pelo de Ciências
Biológicas. Cronologicamente e em termos de denominação esta mudança de
Histórica Natural para Ciências Biológicas ocorre no curso da UFSM no ano de 1972.
Entretanto, partindo do pressuposto de que isso é um processo contínuo e gradual, e
com base no entendimento de reforma de Popkewitz (1997) e Goodson (1997)3,
definiu-se o período de análise entre 1965, ano em que o curso é fundado na UFSM
com a denominação de História Natural, e 1973, data em que ele já se intitula Ciências
Biológicas e a partir da qual existe material empírico a respeito deste processo.
A opção por investigar o referido curso de graduação da UFSM se deve a
procedência de uma das autoras como egressa do referido curso. Também porque
este é o mais antigo curso, vinculado a uma instituição de ensino superior pública, a
formar professores de Biologia e Ciências Naturais para as regiões Centro, Fronteira-
Oeste e Norte do Rio Grande do Sul. Além disso, nos últimos anos, este curso vem
contribuindo na constituição de outros cursos de Ciências Biológicas no Rio Grande do
Sul, com um modelo de estrutura curricular, e também com recursos humanos
formados pela UFSM. A opção pelo objeto de estudo, isto é, a mudança de História
Natural para Ciências Biológicas e suas implicações para a formação docente, decorre
da relevância deste processo para compreender epistemologicamente o percurso
desta ciência na educação brasileira.
Ressalta-se que a dissertação baliza-se pela seguinte questão: Que
concepções de Biologia estavam em disputa no processo em que o curso de História
Natural, da UFSM, transforma-se em Ciências Biológicas? Partindo deste
QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO
A pesquisa fundamenta-se teórica-metodologicamente nos estudos da História
Nova (BOTO, 1994; BURKE, 1992; LE GOFF, 1998) e da História do Currículo
(GOODSON, 1990, 1997, 2001a, 2001b; POPKEWITZ, 1997), pois estes campos
permitem olhar para o estudo de caso como uma construção sócio-histórica. Isto
significa não se ater à localização da trajetória do curso da UFSM na história geral da
sociedade e do ensino superior, mas sim compreendê-la como uma parte da história,
como uma realidade, que é edificada social e culturalmente e atravessada por
diferentes demandas (BURKE, 1992). Além disso, esse referencial defende que as
decisões dentro da instituição não ocorrem por mera estipulação de diretrizes
nacionais, ou verticalização de poder, mas pelas adesões e resistências dos sujeitos
envolvidos no cotidiano da instituição.
Nesse sentido, pondera-se ainda que cada docente prioriza saberes, valores e
formas de trabalhar, portanto, a construção curricular deve ser vista como uma produção
coletiva resultante do embate de influências e interesses, além de algumas negociações
também, tendo como produto final a ênfase e a legitimação de certas vozes e a omissão
de outras. No âmbito do quadro teórico-metodológico, assume-se o currículo como
central na investigação, tendo em vista o entendimento de que ele não é entendido
como um mero documento prescritivo, mas sim um elemento que percorre diversas
instâncias e processos educacionais de uma dada instituição. Através dele é possível
evidenciar como elementos mais amplos e locais são articulados e legitimam uma dada
formação em nível superior. Isto é, nele estão postos os objetivos sociais do ensino
legitimados pela sociedade, as articulações com as políticas públicas nacionais, as
intenções educativas da comunidade institucional, a seleção e a organização dos
conhecimentos, enfim, como diz Goodson (1997), o currículo é o testemunho das
racionalidades escolhidas e da retórica legitimadora das práticas realizadas.
É preciso considerar também que o documento curricular ao sinalizar
publicamente aspirações, intenções, normas e critérios para legitimar uma dada retórica,
1142
indicia apenas uma parte da história, isto é, a retórica vencedora (GOODSON, 2001a).
Deste modo, a pesquisa trabalhou de modo entrecruzado com fontes documentais
escritas (matrizes curriculares, atos legislativos, atas, relatórios de atividades...) e com
seis depoimentos orais de ex-professores do curso. Cabe lembrar que neste trabalho
apenas algumas destas fontes serão apresentadas, tendo em vista o recorte de análise.
Em suma, com a intersecção das fontes escritas e orais, procura-se
compreender a construção social do currículo dando visibilidade às vozes dos sujeitos
que fizeram parte da história cotidiana do curso de Ciências Biológicas/UFSM.
Segundo Prins (1992), este cruzamento de fontes pode proporcionar a oportunidade
de incorporar à literatura a versão dos sujeitos, cujas opiniões, por vezes, foram
descartadas pela objetividade da história geral, que reina nos documentos oficiais.
4A diferença entre a FIC e a FFCL consistia no fato de que a primeira tinha cursos de Didática, Orientação
Educacional e Cursos Polivalentes de Letras e de Estudos Sociais, enquanto que a segunda ofertava
cursos da área científica (Física, Química e Historia Natural). Em comum, estas Faculdades ofertavam os
cursos de Filosofia, Pedagogia, Geografia, História, Matemática e Letras (Neolatinas e Anglo-Germânicas
na FIC e Francês e Inglês na FFCL).
5O Instituto de Histologia, Embriologia e Genética e o Instituto de Parasitologia e Micologia provêm da
Faculdade de Medicina, anterior à criação da UFSM, o Instituto de Ciências Naturais provém da Faculdade
de Farmácia, e o Instituto de Solos e Cultura foi criado na Faculdade de Agronomia.
1143
conforme relatou o Entrevistado B e como é possível observar na estrutura organizacional da UFSM, a área
pedagógica não tinha um Instituto ou Faculdade que lhe desse suporte. Desta forma, acredita-se que, ou o
Departamento de Educação da FFCL era o responsável pela formação pedagógica, tendo em vista que,
segundo o relatório da UFSM (1967), todos os professores da área pedagógica foram contratados para
ministrar disciplinas na FFCL, ou então a FIC era a responsável, já que tinha cursos de licenciatura antes do
surgimento da FFCL.
8Na Botânica predominou docentes provindos da Faculdade de Farmácia; a área de Biologia contou com um
professor da Medicina da UFSM e dois da História Natural (um da PUC e outro da UFSM); a Zoologia inicia
com um professor da Farmácia da UFSM e contrata professores da UFRGS (Medicina Veterinária); já a
Geologia contou com professores dos cursos de Geologia e História Natural da UFRGS.
1144
Departamento de Biologia, vinculado ao CEB. Defende-se que esse período foi crucial
para uma crescente autonomia do corpo docente no que diz respeito às decisões
sobre o futuro do curso, devido à centralização do corpo docente em um
Departamento, a criação dos primeiros prédios do campus universitário, o que fez com
que os espaços da FIC, assim como seus professores que administravam a FFCL
fossem cada vez menos necessários, e também por causa da criação do CEB, que
designa novos professores para o Conselho de Centro (não se mantém como
anteriormente, isto é, semelhante ao Conselho da FFCL apenas com docentes da área
de Humanas da FIC)9.
Com relação a matriz curricular, observa-se que esta surge em 1965 com base
nos Pareceres CFE 292/62 e CFE 315/62, que estabeleciam, respectivamente, o
currículo mínimo de História Natural, e a parte pedagógica dos currículos mínimos
relativos aos cursos de Licenciatura. De acordo com estes pareceres, o curso de
História Natural deveria ter a duração de quatro anos letivos, e os diplomados
destinavam-se, oficialmente, ao ensino das disciplinas de Ciências Físicas e Biológicas
e Biologia. Consta ainda que ele deveria estar organizado em seis blocos de matérias:
Biologia (Citologia, Histologia, Embriologia e Genética); Botânica (Morfologia, Fisiologia
e Sistemática); Zoologia (Morfologia, Fisiologia e Sistemática); Mineralogia e Petrologia;
Geologia e Paleontologia; Matérias Pedagógicas (Psicologia da Educação, Adolescência
e Aprendizagem, Elementos da Administração Escolar10, Didática, Prática de Ensino sob
forma de Estágio Supervisionado).
Embora, o Parecer n.315/62 sinaliza-se na forma de uma observação que
“cada Faculdade poderá fazer os desdobramentos e acréscimos que lhe parecer
convenientes” (BRASIL, 1962, p.75), a primeira proposta de matriz curricular do curso
da UFSM atendeu quase estritamente os Pareceres n.315/62 e n.292/62, acrescido de
quatro disciplinas complementares: Complementos de Química, Complementos de
Física e de Matemática, Realidade Brasileira Moral e Cívica e Filosofia da Religião.
Constata-se que as áreas tiveram, em alguma medida, a carga horária
ampliada entre 1965 e 1970, com exceção das disciplinas complementares, por causa
de Complementos de Física e Matemática. A área de Geologia foi a que mais cresceu
no curso neste período inicial, em parte pelas posições assumidas pelo Entrevistado
9No período de existência da FFCL o conselho desta teve como diretora a Irmã Consuelo/FIC e a
participação de um acadêmico e sete professores, sendo que cinco eram chefes de Departamentos da
área de humanas, e apenas dois coordenadores de cursos da área científica. Já, o Conselho do CEB
contou com os seguintes participantes: um diretor da área de Humanas; um acadêmico; doze chefes de
departamento; e oito coordenadores de diferentes cursos de humanidades e científicos.
10
Em 1969, muda para Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau.
1145
D, que foi o primeiro professor contratado para a área, era formado em Geologia pela
UFRGS, e assumiu a coordenação do curso de História Natural, em 1965.
Em 1970, o curso teve outro currículo em virtude do Parecer n.107/70, do
Conselho Federal de Educação (CFE). Este dispositivo legal estabelece a nova
denominação do curso como Ciências Biológicas, prevê duas modalidades, a
Licenciatura e o Bacharelado (este na modalidade Biomédica), e propõe modificações
curriculares com relação ao Parecer n.315/62.
Ao abordar sobre o Parecer n.107/70 convém lembrar, inicialmente, que o
processo nacional que culmina com a mudança de denominação de História Natural
para Ciências Biológicas antecede o previsto pelo CFE. Desde 1963, em que é
aprovada a solicitação da Universidade do Brasil sobre o desdobramento do curso de
História Natural em curso de Biologia e curso de Geologia, várias discussões surgiram
com relação à terminologia do curso.
A solicitação tinha como justificativa a existência da profissão de geólogo.
Entretanto, relembra-se que, na década de 1960, o movimento de unificação da área
biológica11 já havia ganhado amplitude, portanto, o campo não comportava mais,
apenas, a História Natural, a Fisiologia e a Anatomia Comparada. Consequentemente,
o termo Ciências Biológicas foi cada vez mais apreciado, pois valorizava o
desenvolvimento de modo integrado de certos ramos da Biologia, como a Genética, a
Paleontologia, a Ecologia, a Citologia, dentre outros.
Acrescenta-se a estes fatores, a criação do curso de Ciências Biológicas, em
1964, vinculado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São
Paulo, que, conforme exposto anteriormente nesta dissertação, é uma instituição de
grande prestígio no cenário universitário nacional e tem relevante papel na trajetória
das Ciências Biológicas no Brasil. Esta instituição, solicita a fixação do currículo
mínimo do curso, “justificando a sua implantação, a partir da “necessidade de melhorar
a formação dos docentes que ensinavam Ciências Físicas e Biológicas no ciclo
ginasial e Biologia no ciclo colegial.”” (WORTMANN, 1996, p.86).
Com base nesse histórico, a Comissão Central de Revisão de Currículos do CFE
aprova o Parecer n.107/70. Este dispositivo legal estabeleceu novos currículos mínimos
que priorizavam o curso de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado na
11Esse movimento de unificação constitui-se numa série de discussões para tornar a Biologia uma ciência
autônoma. De acordo com Ferreira e Selles (2008), defende-se que três eventos se sobressaíram e
contribuíram para que as tensões pendessem a favor da ideia de unificação e autonomização das Ciências
Biológicas. São eles: os esforços para obter o status que a Física já alcançara desde o século XVIII; a
ressignificação do darwinismo em bases genético-mendelianas; e a influência da Biologia Molecular no
fortalecimento da Biologia como ciência.
1146
História Natural12, onde estiveram presentes professores de outros estados do País. Por
outro lado, a matriz curricular sinaliza certa resistência com relação às inovações, já que
manteve bem elevada a carga horária da área geológica, e as áreas de Botânica e Zoologia,
embora tenham sentido algum tipo de mudança, não foram modificadas a ponto de
incorporar a perspectiva ecológica, como é proposto no Parecer.
Apenas em 1972, o curso de História Natural da UFSM entra em extinção e é
substituído pelo de Ciências Biológicas13. Comparando a síntese da grade curricular
do curso de História Natural (1965), com a grade do curso de Ciências Biológicas
(1973), observam-se algumas mudanças e estabilidades. Especificadamente, a
respeito desse processo de História Natural para Ciências Biológicas, na UFSM, as
memórias dos entrevistados sinalizam como fatos mais significativos a expansão de
determinados assuntos como a Genética, a Ecologia e a Evolução, a redução da área
de Geologia, e reformulações nas disciplinas provindas das ações da Reforma
Universitária (1968).
O documento curricular, de fato, evidencia que um dos pontos mais patentes na
mudança é a queda drástica na carga horária da área geológica, de 760 para 240 horas.
Essa redução ocorre pela perda das disciplinas de Mineralogia e Petrologia, e por uma
grande redução de carga horária de Geologia Geral, Paleontologia e Biogeografia.
Como consequência, a Geologia englobou alguns assuntos de Mineralogia e passou a
funcionar no currículo como uma disciplina complementar e de suporte para a
Paleontologia. Essa redução da carga horária geológica gerou um sentimento de perda
na formação do profissional, especialmente, para o futuro botânico e zoólogo, de acordo
com os relatos dos entrevistados.
A área pedagógica foi mais uma que sofreu reduções, pois novamente perdeu
carga horária nas disciplinas de Psicologia da Educação e Prática de Ensino, além de
Estrutura e Funcionamento do Ensino de Segundo Grau. Contudo, considerando todo
o período de 1965 a 1973, constata-se que não ocorreram mudanças significativas na
12Este evento, realizado em 1969, foi um encontro realizado na UFSM para discutir a
estruturação curricular do curso de História Natural e criar um currículo efetivo tendo em vista
que o currículo de 1965 era experimental. Segundo o Entrevistado E, que integrou a comissão
organizadora do evento, este reuniu várias pessoas da UFSM e convidados de Porto Alegre e
de outros locais do país.
13É necessário destacar que houve um período de concomitância entre os cursos, pois ao
entrar em extinção, os alunos do curso de História Natural não foram simplesmente transpostos
para o novo curso. Deste modo, de 1972, quando houve a primeira oferta do curso de Ciências
Biológicas pelo vestibular, até 1974, quando a última turma oficial de História Natural se forma,
os cursos existiram concomitantemente. Considera-se como última turma oficial do curso de
História Natural, na UFSM, a que ingressou em 1971, último ano de oferta deste curso. No
entanto, devido a carência de dados empíricos, não se exclui a possibilidade de haver turmas
em anos posteriores a 1974, pois pode ter havido alunos atrasados, ou que trancaram o curso.
1148
14Recorreu-se ao catálogo de matrizes de 1978, onde estão listadas as disciplinas e as ementas deste ano e dos
anos anteriores. Deste modo, localizaram-se as disciplinas de 1973 por meio dos seus códigos e títulos.
15Unidade Curricular I: tema estudo da célula e ciclo celular; disciplinas: Biologia, Bioquímica, Biofísica,
Fisiologia, Microbiologia e Físico-Química; Unidade Curricular II: tema estudo dos tecidos; disciplinas
Histologia e Embriologia, Anatomia, Bioquímica, Biofísica e Fisiologia; Unidade Curricular III: tema estudo
dos sistemas; disciplinas: Anatomia, Histologia e Embriologia, Fisiologia, Bioquímica, Biofísica.
1149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta pesquisa sinalizaram-se alguns caminhos do curso de Ciências
Biológicas da UFSM, trilhados por sua comunidade acadêmica, com base em um
conjunto de interpretações construídas por meio dos documentos escritos e da história
oral.
Pode-se dizer que as primeiras concepções do que deveria se constituir o curso
de História Natural/UFSM são construídas tendo como ponto de partida a vinculação
deste à FFCL, e à organização desta unidade a partir de outras previamente
consolidadas, a FIC e os Institutos. Considerando a inovação da FFCL, no que concerne
à oferta de cursos científicos, e ao fato de a primeira matriz do curso de História Natural
(1965-1970) seguir, quase que integralmente, o estabelecido nos dispositivos legais da
época, percebe-se que a origem deste curso teve como pano de fundo o atendimento à
carência de professores formados em nível superior, aliado ao movimento de renovação
do Ensino de Ciências, a partir de 1950.
Os diferentes imperativos e condicionantes que atravessam a construção
curricular do curso da UFSM também fizeram com que a mudança de História Natural
para Ciências Biológicas no curso se tornasse uma verdadeira arena social, isto é, um
processo que não ocorre apenas em termos da denominação do curso, mas também
pelas disputas e negociações entre distintas concepções de Biologia.
Nesta arena social, um espaço de disputa identificado ocorreu entre a tradição
médica, a farmacêutica e a naturalista. De modo geral, é possível resumir essas disputas da
seguinte forma: a tradição médica ampliou bastante seu território entre 1965 e 1973
especialmente por meio da área de Biologia, que ganha respaldo no Parecer n.107/70 e
com a implantação do projeto de Ensino Integrado; a área de Botânica pela procedência
e pelo caráter endógeno do seu corpo docente garantiu a presença da tradição
farmacêutica nas matrizes do curso; já a tradição naturalista disputou espaço por meio da
área de Geologia, historicamente estabelecida, mas neste caso, fortalecida no currículo
1150
16Embora, o exercício da profissão de “biólogo”, só tenha sido reconhecida em 1979, pela Lei n.6.684/79,
defende-se que a imagem deste profissional já estava sendo construída antes, especialmente, nesse
processo de mudança de História Natural para Ciências Biológicas.
1151
REFERÊNCIAS
BOTO, Carlota. Nova História e seus velhos dilemas. Revista da USP. Dossiê Nova
História, n.23, set-nov/1994, p.23-33.
BRASIL. Lei n.3.958, de 13 de setembro de 1961. Incorpora à Universidade do Paraná a
Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Paraná e dá outras
providências.Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=113515&tipoDocumento
= LEI&tipoTexto=PUB>. Acesso em: 24 nov. 2011.
BRASIL. Lei n.5.540, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de organização e
funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá
outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5540.htm>. Acesso em: 24 nov. 2011.
BURKE, Peter. Abertura: A nova História, seu passado e seu presente. In: BURKE, P.
(Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992,
p.7-37.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Parecer n.292, de 14 de novembro de 1962.
Matérias pedagógicas para a licenciatura. Documenta. Brasília, n.10, p.95-101,
dez./1962.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Parecer n.315, de 14 de novembro de 1962.
Currículo mínimo do curso de História Natural.Documenta. Brasília, n.10, p.75-76,
dez./1962.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Parecer n.107, de 4 de fevereiro de 1970.
Currículos mínimos do curso de História Natural e de Ciências Biológicas.
Documenta. Brasília, n.111, p.173-179, fev./1970.
FERREIRA, M. S.; SELLES, S. L. Entrelaçamentos históricos das Ciências Biológicas
com a disciplina escolar Biologia: investigando a versão azul do BSCS. In: PEREIRA,
M.G.; AMORIM, A.C.R. (Org.). Ensino de Biologia: fios e desafios na construção de
saberes. João Pessoa: Editora da UFPB, 2008, p. 37-61.
GOODSON, Ivor. Tornando-se uma matéria acadêmica: padrões de explicação e
evolução. Teoria & Educação. n.2, 1990, p.230-254.
______. A Construção Social do Currículo. Lisboa: Educa, 1997.
______. Currículo: teoria e história. 4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001a.
______. O currículo em mudança: Estudos na construção social do currículo. Porto:
Porto Editora, 2001b.
LE GOFF, J. A História Nova. Trad. Eduardo Brandão. 4.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
MOREIRA, A. F.; FERREIRA, M. S. A história da disciplina escolar ciências nas
dissertações e teses brasileiras no período 1981-1995. Ensaio – Pesquisa em
Educação em Ciências. v.3, n.2, 2001, p.133-145.
1152
INTRODUÇÃO
No contexto educacional, especificamente no campo curricular, são intensos os
debates em torno da necessidade de reconhecimento das múltiplas etnias, culturas,
sexualidade, linguagens e outros determinantes presentes na sociedade
contemporânea. Essas discussões tornam cada vez mais evidentes as diversidades
que constituem a sociedade brasileira em geral e, em particular, a Amazônia legal
brasileira, lócus de referência deste estudo.
A diversidade cultural na Amazônia é constituida por “populações indígenas de
diferentes etnias, pela cultura cabocla como os ribeirinhos e trabalhadores rurais que
habitam o campo” (CAVALCANTE; WIEGEL, 2006, p. 02), além de imigrantes
oriundos das diversas partes do país. Esta diversidade cultural se manifesta nas salas
de aula, constrastando com uma concepção de educação afirmadora de uma
hegemonia cultural.
Pode-se dizer que a pluralidade cultural desses povos tem servido como
instrumento de exclusão e marginalização no contexto das escolas orientadas por um
currículo monocultural que despreza a riqueza da diversidade e impõe seu modo de
vida e sua visão social, moral e política a toda a sociedade. As práticas curriculares
neste sentido têm contribuido para o aumento das desigualdades sociais e exclusão
desses grupos dos processos educativos e políticos.
Tal compreensão tem suscitado a adoção de uma nova concepção de currículo
a serviço de um projeto de sociedade democrática, justa e igualitária.Neste sentido, o
currículo escolar, como cruzamento das diversas culturas (CANDAU, 2008), deve
estar diretamente relacionado às expectativas multiculturais, a fim de valorizar e
respeitar as diferenças. Assim, torna-se um elemento potencializador da promoção
política e sociocultural dos sujeitos do processo educativo e não instrumento de
negação do diferente.
Os discursos multiculturais2 em educação objetivam tornar visíveis as
manifestações e expressões culturais dos grupos silenciados de modo a igualar
Hall (2006) afirma que há, juntamente com o impacto “Global”, um novo
interesse pelo “local”. Os processos de comunicação e a tecnologia diminuíram os
espaços-tempo, saberes são compartilhados, houve mudanças nos padrões de
produção e consumo, os quais, por sua vez, produzem identidades novas e
globalizadas. Para o autor “parece improvável que a globalização vá simplesmente
destruir as identidades nacionais. É mais provável que ela vá produzir,
simultaneamente, novas identificações globais e novas identificações locais” (p.78).
1160
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diversidade cultural amazônica tem se apresentado como um desafio para as
práticas curriculares desenvolvidas nas instituições de ensino. Isto porque tem
predominado nas salas de aula um currículo monocultural, sustentado por processos
de dominação e exclusão da cultura dos alunos pertencentes a grupos minoritários,
cujos saberes são negados e silenciados.
Perceber e refletir sobre os mecanismos discriminatórios ou silenciadores da
pluralidade cultural suscita a possiblidade de práticas curriculares fundamentadas na
perspectiva do multiculturalismo. Porém, não se está defendendo aqui o
1161
REFERÊNCIAS
BENCHIMOL, S. Amazônia. Formação Social e Cultural. 3. ed. Manaus: Vozes, 2009.
CANCLINI, Nestor. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade.
4. ed. 3. reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
CANDAU, Vera. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In:
MOREIRA, Antônio; CANDAU, Vera (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e
práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
______. Sociedade, educação e cultura(s): questões e propostas. Rio de Janeiro:
Vozes, 2002.
CANEN, Ana. Formação continuada de professores para a diversidade cultural:
ênfase, silêncios e perspectivas. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48, set.-
dez. 2011.
CANEN, Ana; MOREIRA, Flávio. Reflexão sobre o multiculturalismo na escola e na
formação docente. Educação em debate. Fortaleza. Ano 21, v. 2, n.38, p. 12-23,1999.
CAVALCANTE, L. I. P. WEIGEL, V. A. C. Educação na Amazônia: oportunidades e
desafios. Disponível em www.desenvolvimento.gov.bf/arquivo/sti/publicações. Acesso
em: 02 Fev. 2012.
FRAXE, Therezinha et al. O ser da Amazônia: identidade e invisibilidade. Disponível
em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252009000300012&script=
sci_arttext. Acesso em: 08. Jan. 2013.
GHEDIN, E. Currículo, projetos e avaliação da aprendizagem. Manaus:
Travessia/Seduc, 2006.
GOMES, N. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Belo Horizonte:
DP&A, 2006.
MOREIRA, Antônio. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
MOREIRA, Antônio; CANDAU, Vera (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e
práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
SILVA, Tomaz. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo.
2. ed. 11a reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
1162
Fernanda Rossi2
Dagmar Hunger3
INTRODUÇÃO
A formação continuada de professores(as), que tem como objetivo
contribuir para que mudanças pedagógicas possam ser implementadas no processo
de ensino e aprendizagem nas escolas, configura-se como um elemento
multidimensional que não esgota nas questões acadêmico-científicas, mas incide
também nas dimensões atitudinais e emocionais dos professores.
As mudanças geradas pela participação em ações formadoras podem
advir de diferentes dimensões, como ressalta García (1999). O autor refere que é
possível (e necessário) analisar mudanças decorrentes da formação contínua em
relação aos conhecimentos específicos dos participantes, à utilização das
competências, às opiniões e sentimentos, à capacidade de organização, ao
rendimento dos alunos, entre outros.
Compreendemos, assim, que articuladamente aos conhecimentos
específicos, as concepções dos professores apresentam-se como diferenciadores do
cotidiano educativo, uma vez que diferentes concepções induzem diferenças na ação
pedagógica. Como reporta Richardson (1996 apud MARCELO, 2009, p. 15) “as
crenças influenciam a forma como os professores aprendem e, em segundo lugar,
influenciam os processos de mudança que os professores possam encetar”.
Diante desse quadro, objetivamos analisar as concepções (re)construídas
por professoras pedagogas, participantes de um programa de formação continuada
em Educação Física, no que se refere aos significados e ao processo educativo do
movimento corporal na infância.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida conforme a metodologia qualitativa (ALVES-
1Pesquisa resultante da análise de dados parciais da tese de doutorado defendida no Programa de Pós-
graduação em Ciências da Motricidade, em 2013. Apoio: FAPESP
2Doutora em Ciências da Motricidade/ UNESP/ Rio Claro: e-mail fernandarossi_ef@hotmail.com
3Livre-Docente do Departamento de Educação Física/FC da UNESP/Bauru e no Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Motricidade da UNESP Rio Claro. Bolsista Produtividade CNPq PQ-2.
1164
MAZZOTTI, 1999; ANDRÉ, 1995) e a coleta dos dados ocorreu por intermédio de
observações de campo em um programa de formação continuada, entrevistas
semiestruturadas com catorze professoras Pedagogas da educação infantil,
participantes do programa, e, complementarmente, por observações da prática
pedagógica de quatro professoras desse grupo, contemplando uma turma de crianças
do mini-maternal II, duas turmas do jardim I e uma turma do jardim II.
O referido Programa de Formação foi desenvolvido entre os anos de 2009 e
2011, por uma Universidade pública em parceria com uma Secretaria Municipal de
Educação do interior de São Paulo. Inserido na área da Educação Física, seguiu os
pressupostos da pesquisa-ação (ELLIOTT, 1998), promovendo ações reflexivas a
partir da parceria entre docentes-pesquisadores, professoras escolares e estudantes
da graduação, no universo dos saberes da cultura corporal de movimento.
O projeto de pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética da Universidade
Estadual Paulista – Processo n.˚ 2450/46/01/11 e às participantes foi garantido o
anonimato (os nomes atribuídos às professoras e às escolas são fictícios).
A investigação que empreendemos e apresentamos neste artigo pressupôs o
diálogo entre a produção acadêmico-científica e os relatos, práticas e saberes das
professoras participantes do estudo. Abordamos, inicialmente, as concepções
(re)construídas pelas professoras em relação ao movimento corporal como forma de
expressão e comunicação, ou seja, como linguagem infantil, e na sequência, a
ludicidade como principal meio de expressão do movimento corporal na infância.
Luana, “[...] na educação infantil a gente tem o hábito de falar na escola: ‘não corre que
você vai cair, não faz isso!’ [...] De ficar taxando a criança, de não deixar ela se
movimentar mesmo, e a gente perde a noção do quanto isso é importante pra ela”.
A professora Gisele criticou a noção de que o corpo em movimento é
inconveniente na escola, embora este seja o comportamento esperado dos alunos por
parte da comunidade escolar:“é mesmo, o corpo é pra ficar parado, porque o corpo
atrapalha!”,e lamenta, que se assim for: “tem uma hora que ele vai se acomodar”.
Como constata Foucault (2006, p. 117) com o advento da Idade Moderna, as
escolas deixam de ser lugares de suplício e de aplicação de castigos corporais para se
tornarem instituições de formação de "corpos dóceis". A docilização do corpo
(imbuídos das relações de poder da sociedade) tem suas vantagens sociais e políticas
em relação ao castigo corporal, pois este enfraquece o corpo, enquanto aquele os
torna produtivos, obedientes e manipuláveis.
Mas, a ação educativa, conforme Neira e Nunes (2007), deve assumir a função
de tornar quem aprende ciente das relações de poder e como as instituições sociais
modelam representações que exercem ação sobre e por meio dos corpos dos sujeitos
da aprendizagem.
A professora Luana compreendeu que o movimento é forma de expressão: “fez
ver que realmente era importante, que realmente precisava trabalhar isso [...] E que
ela [a criança] também pode aprender através do lúdico, ela pode estar executando
movimentos e nem perceber que é através do lúdico que ela está fazendo”. E para a
professora Priscila é a“cultura do corpo, de movimento, que a criança é
essencialmente movimento nessa faixa etária, e da importância de trabalhar isso, de
não ficar aquela coisa maçante em sala de aula”.
Essas são concepções importantes de serem debatidas em ações formativas,
diante da constatação de que
pressa de ver a criança escrevendo, nem que for mecanicamente ali, mas ela tem que
escrever. A mãe tem muita pressa, aí você tem que trabalhar isso, tem que falar pra
mãe que não é um monte de tarefa que tem que levar pra casa. É um trabalho ainda
custoso, eu falo a longo prazo, porque conscientização, mudança demora! Mas eu
percebo que quando a professora tem essa conscientização, tem um resultado mais
rápido [...].
A professora Luciana revelou tal conscientização: “é no brincar que ela [a
criança] demonstra o que ela entende de mundo acima de tudo, e eu vejo na minha
prática o brincar como o mais importante”. Mas tem de enfrentar certas barreiras para
direcionar sua prática pedagógica com a turma do maternal, como contou: [a
coordenação] tirou todo o brincar da minha prática, tirou tudo. [...] agora eu não posso
mais utilizar brinquedos, é só atividade sensorial. [...] Só que como eu sei, sensoriais
para essa pessoa... sensorial seria apenas música, ou musicalização, mas como eu
olho muito mais para o meu aluno do que para os outros, que estão gerindo, eu
procuro mudar o nome da atividade para trabalhar a mesma coisa.
Ao questionarmos sobre a razão para tal iniciativa, a professora explicou que “a
justificativa é que as crianças estavam cansadas de brincar [...] estão cansadas dos
brinquedos, de manhã é brincar e a tarde é brincar, e a criança cansou de brincar,
então tem que modificar isso” (Professora Luciana).
A professora Paula atua com turmas do mini-maternal e jardim II. Entretanto,
sugeriu que nossas observações na escola fossem com a sua turma do mini-maternal,
por considerar que com essa faixa etária tem mais autonomia para desenvolver o
movimento corporal e experimentar os conhecimentos veiculados no programa de
formação continuada, já que com a turma do jardim precisa responder a muitas
“obrigações”, como desenvolver com as crianças inúmeras tarefas nos cadernos,
objetivando a alfabetização e a preparação da criança para o ensino fundamental.
Não raramente, a estrutura escolar supervaloriza certas aprendizagens em
detrimento de outras e fragmenta o conhecimento. Como ressalta Kishimoto (2001, p.7),
“as práticas pedagógicas atribuem maior tempo para atividades intelectuais voltadas
para aquisição das letras e números. Brinquedos e brincadeiras aparecem no discurso,
mas na prática restringem-se ao recreio e momentos de transgressão das normas”.
No tempo do trabalho escolar, com o impacto da obrigação precoce, acelera-se
o presente em busca de um futuro determinado. Lembra Kishimoto (2001, p. 11) que
“com a urbanização, industrialização e novos modos de vida, esqueceu-se a criança,
encurtou-se a infância, a criança tornou-se um precoce aprendiz”.
1170
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos que as vivências, conhecimentos e reflexões veiculados no
programa de formação continuada propiciaram para as professoras novos olhares e
novas possibilidades de trabalho educativo com a cultura corporal de movimento na
educação infantil. As participantes compreenderam o movimento corporal como
linguagem da criança a ser explorada nesta etapa educacional, integrando-o de modo
articulado às diferentes linguagens e expressões da criança para a ampliação das
possibilidades de vivência concreta de uma infância lúdica.
Enfatizou-se a preocupação em superar a aplicação mecânica do movimento
corporal nas atividades educativas e o caráter instrumental normalmente associado ao
movimento na escola, ou seja, superar a concepção de que o movimento corporal é
um suporte para aprendizagens secundárias, desconsiderando a relevância do
movimento como forma de linguagem e da formação ética e estética ao inserir a
criança no universo da cultura corporal de movimento, de modo que ela vivencie e
transforme a diversidade de manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao
movimento construídas e (re)construídas ao longo de nossa história.
Concluímos que as ações desenvolvidas no programa de formação ultrapassou
a esfera dos conhecimentos específicos ou técnicos e configurou a formação
continuada como um espaço de construção e reconstrução de concepções,
propiciando às professoras a mediação crítica do processo de ensino e aprendizagem
ao considerarem a relevância do movimento corporal para a formação plena e integral
da criança.
1173
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresentamos um recorte da pesquisa de Iniciação Científica
desenvolvida durante o período de agosto/2011 a julho/2012 sob o título “As
dificuldades enfrentadas pelo professor de matemática: uma análise sobre a formação
e atuação docente no Estado de São Paulo”. Trataremos, aqui, de algumas das
dificuldades expressadas por professores de matemática do Estado de São Paulo.
A documentação existente na área educacional, oficial ou não, trata apenas de
regulamentações, deixando em último plano os obstáculos enfrentados pelo professor
durante sua formação e/ou em seu trabalho docente. Conhecer esses desafios,
vivenciados por outros profissionais, pode auxiliar na implantação de políticas públicas
de formação de professores que os amenize. Este trabalho, portanto, possui como
objetivo traçar características das circunstâncias vivenciadas pelo professor de
matemática paulista durante sua atuação, trazendo à tona as dificuldades enfrentadas
cotidianamente por esses profissionais.
Esta pesquisa, de cunho qualitativo, iniciou-se com a leitura de depoimentos de
professores de matemática paulistas que foram cedidos aos pesquisadores do Grupo
de Pesquisa “História Oral e Educação Matemática” (GHOEM) em seus trabalhos de
Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado. Após essa primeira etapa de leitura,
composta por quarenta e oito depoimentos, foi realizada uma análise com base em
Lüdke e André (1986). Dos depoimentos, recortes foram retirados e elencados
conforme suas proximidades, gerando categorias de análise que foram mais bem
estudados separadamente.
Analisar os dados qualitativos significa ‘trabalhar’ todo o material
obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as
transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais
informações disponíveis. A tarefa de análise implica, num primeiro
momento, a organização de todo o material, dividindo-o em partes,
relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e
padrões relevantes. Num segundo momento essas tendências e
padrões são reavaliados, buscando-se relações e inferências num
nível de abstração mais elevado. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p.45)
AS DIFICULDADES
Diante da importância e necessidade de conhecer os desafios enfrentados
pelos professores de matemática enquanto se formavam ou atuavam, este texto visa
apresentar algumas das dificuldades relatadas nos quarenta e oito depoimentos que
foram elencados para a realização da pesquisa, colhidos em trabalhos de Iniciação
Científica (MARTINs, 2003), Mestrado (SOUZA, G., 1998; BERNARDES, 2003;
GALETTI, 2004; MARTINS-SALANDIM, 2007) e Doutorado (BARALDI, 2003; SILVA,
2004) dos integrantes do Grupo de Pesquisa “História Oral e Educação Matemática”
(GHOEM).
3“[...] the collapse of the missionary ideals formed during teacher training by the harsh and rude reality of
everyday classroom life”. (VEENMAN, 1984, p, 143, traduçãonossa).
1176
cheque... ‘Você está começando a dar aula agora e está querendo exigir demais. Você
não é muito experiente’. Porque era a primeira vez que eu estava dando aula em
faculdade. – Professora Regina (SILVA, 2004).
Essas dificuldades marcantes do início da docência podem servir para explicar
o benefício da idade na docência, salientado no depoimento da professora Maria Lígia:
“A Cida Bilac, uma educadora famosa de Rio Claro, falou uma vez para mim que a
única profissão em que a idade é um benefício é o magistério, porque os professores
mais velhos são mais respeitados”.– Professora Maria Lígia Venturi Gianotti (SILVA,
2004).
Outra justificativa para essa afirmação da professora está presente no caráter
inconclusivo da formação inicial, ou seja, a formação profissional docente ocorre ao
longo da carreira. “A profissionalização docente ocorre num processo contínuo e
abarca experiências e saberes diversos, que vão garantindo ao professor o domínio do
trabalho e de si mesmo” (COSTA; OLIVEIRA, 2007, p. 25).
No entanto, mesmo com as dificuldades existentes nesse início da carreira
profissional docente, Perrenoud (2002 apud SOUZA, 2009, p. 38) esclarece que esse
período é o de maior abertura para a reflexão e debate, ocasionando mudanças.
Mas mesmo sendo passageira, essa difícil fase do início da docência poderia
ser amenizada se a universidade se aproximasse da realidade escolar. Para tanto,
precisa “ultrapassar a perspectiva certificatória e assumir uma postura mais solidária e
mais comprometida com a escola básica e com o professor que se faz cotidianamente
dentro dela” (COSTA; OLIVEIRA, 2007, p. 43-44).
4O Grupo Escolar era responsável por atender as quatro primeiras séries do atual Ensino Fundamental.
Segundo Souza, R. (1998, p. 32) pode ser definido como um “sistema de organização vertical do ensino
por cursos ou níveis que se sucedem. As características principais da escola graduada são: a)
agrupamento dos alunos segundo um critério nivelador que pelo geral é a idade cronológica para obter
grupos homogêneos; b) professores designados para cada grau; c) equivalência entre um ano escolar do
aluno e um ano de progresso instrutivo; d) determinação prévia dos conteúdos das diferentes matérias
1177
Havia ainda o problema da evasão escolar, afinal “[...] nem sempre a escola se
estabelece como força entre os rurícolas, pois se tratando de sobrevivência material
da família, o trabalho em si é mais forte que a escolarização, o que muitas vezes leva
a família rural em direção oposta à escola” (LEITE, 2002 apud MARTINS, 2003, p. 86).
As faltas costumavam ser frequentes em época de safra, pois os estudantes
auxiliavam os pais na colheita. A evasão era predominante a partir do segundo ano do
ensino fundamental. Essa situação acarretava ao professor o papel de incentivador
dos pais quanto à importância da escolarização.
Outro ponto a destacar referente a escola rural é o seu caráter de “terra de
passagem” (MARTINS, 2003) . A necessidade de acúmulo de pontos6 para uma
melhor colocação no Concurso de Títulos realizado para efetivação transformava a
escola rural no destino procurado pelos professores novatos, devido à baixa
concorrência ocasionada pela dificuldade de acesso. Ainda, a baixa pontuação no
concurso de ingresso “obrigava” o professor a lecionar na zona rural enquanto não
obtivesse uma melhor colocação em um novo concurso. Isso pode ser observado no
relato de uma professora que passou por essa situação, presente no trabalho de
Oliveira e Costa (2007) do qual trazemos a ponderação dos autores:
5Segundo Martins (2003, p. 57), “são consideradas escolas isoladas aquelas em que, dentro de uma área
de 2 quilômetros de raio, haja 40 crianças em condições de matrícula nas sedes municipais, ou 30
crianças, quando se tratar de sedes de distritos ou zona rural”. Eram vinculadas a um Grupo Escolar
urbano, que possuía estrutura completa: salas específicas com turmas – diferente do modelo
multisseriado das escolas isoladas -, direção, secretaria, servente e pátio.
6“Os pontos eram adquiridos pelas substituições que se fazia, pela atuação em cursosnoturnos, pelos
cursos realizados, pelo o número de alunos promovidos e de acordo com asdificuldades de acesso ao
local em que estavam atuando” (MARTINS, 2003, p. 64).
1179
No entanto, sua implantação não foi muito bem aceita pelos professores da
rede estadual, devido ao nivelamento do ensino por baixo, ou seja, os alunos com
maior dificuldade de aprendizagem eram tomados como referência para o ensino dos
demais: “O ensino é dado em função do ‘mau’ aluno, não em função do ‘bom’. O ‘bom’
fica para trás e é igualado por baixo”– Professor Sérgio Pedroso – (SILVA, 2004).
1182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os depoimentos nos permitiram compreender as diversas dificuldades que o
professor era obrigado a enfrentar, seja enquanto se formava ou quando de sua
atuação em sala de aula.
Os professores relatam dificuldade em atender as modificações implantadas
pelas políticas educacionais devido à velocidade em que acontecem. Ainda, em
1183
grande parte, essas mudanças ocorrem sem a preparação do professor que tem de se
“virar” para realizar os objetivos propostos. Outro ponto destacado refere-se à
democratização do ensino e a “promoção automática” que retirou dos professores a
autoridade diante dos estudantes, bem como sua autonomia na realização de seu
trabalho. Esse fator foi considerado, por muitos professores, como responsável pela
queda na qualidade do ensino brasileiro devido ao nivelamento “por baixo” que tem
sido realizado nas escolas e que ocasiona um nível menor de exigência aos
estudantes. O enfrentamento da violência na sala de aula tem sido outro elemento
obstáculo para o professor, que diz não ter formação para essa realidade.
Diante de todos os desafios apresentados, a falta de formação/preparação
adequada aparece como maior causadora de dificuldades. Assim, faz-se necessário
uma política pública educacional de apoio ao professor: seja em questões
econômicas, sociais ou mesmo de estrutura escolar e condições de trabalho.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
No final das últimas décadas do século XX, a educação brasileira passou por
mudanças significativas, a partir de um rico momento de debates, elaboração e
implementação de propostas curriculares, de novos materiais didáticos e do repensar
das práticas educativas no país. Essas mudanças também influenciaram nas
transformações ocorridas no ensino de História, articuladas com um aumento da
produção historiográfica.
De acordo com Fonseca (2003) as mudanças ocorridas no ensino de História
foram estratégicas, uma vez que, não baseou-se apenas na luta pelo rompimento com
as práticas homogeneizadoras e acríticas, mas também na criação de novas práticas
escolares. E assim, o ensino de história passou a ter uma nova configuração, com a
ampliação dos objetos de estudo, dos temas, dos problemas e das fontes históricas
utilizadas pelo professor em sala de aula.
Diante dessa nova realidade, também tornou-se fundamental que as
instituições públicas e privadas investissem na formação de professores, com o
objetivo de reconstruir as relações entre os saberes adquiridos na formação
universitária e a complexidade dos saberes mobilizados no cotidiano da sala de aula.
Nesse sentido, escreve Fonseca (2003, p.60)
METODOLOGIA
Alunos com diferentes dificuldades cognitivas fazem parte de uma realidade
cada vez maior nas escolas brasileiras, exigindo dos educadores novas estratégias
que lhes oportunize uma aprendizagem significativa e, muitas vezes, individualizada.
Essas dificuldades que envolvem o cotidiano escolar e o processo de ensino e
aprendizagem também são realidades bastante visíveis na educação básica dos
municípios do Sul do Estado do Espírito Santo e em especial, dos municípios de
Cachoeiro de Itapemirim e Muqui. Nesse sentido, buscou-se desenvolver o projeto de
intervenção pedagógica, a partir de algumas questões teóricas:
Quais as estratégias metodológicas utilizadas pelos professores de História no
processo de ensino- aprendizagem das escolas parceiras do projeto?
Quais asestratégias de intervenção metodológicas que deveriam ser utilizadas
pelos licenciados para melhoria do desempenho dos discentes das escolas
parceiras, a partir do levantamento das principais dificuldades encontradas
pelos alunos durante o processo de aprendizagem na disciplina de História?
Não pretendemos dar respostas definitivas a essas questões, mas sim,
contribuirmos para ampliar a discussão sobre formação inicial do professor e sua
relação com o processo de ensino – aprendizagem na construção do saber histórico
nas escolas brasileiras. Ressalta-se que o estudo não tem como propósito discutir
todos os enfoques referentes a formação inicial dos professores de História e sim,
analisar uma questão pontual, que é compreender como novas metodologias do
ensino de História facilitam o processo de ensino – aprendizagem na Educação
Básica.
O projeto foi desenvolvido em etapas. Na primeira etapa foram selecionados os
dez alunos do curso de História que participariam do projeto. Utilizou-se com critério
de seleção, alunos que cursavam o quarto período do curso. Na segunda etapa foram
selecionados os supervisores das escolas parceiras que acompanhariam o
desenvolvimento do projeto. Na terceira etapa, alunos e coordenador da área de
História, elaboraram um questionário diagnóstico a ser aplicado nas turmas nas quais
os alunos licenciandos desenvolveriam o projeto. O objetivo da diagnose era levantar
dados referentes às metodologias de ensino utilizadas pelos professores nas aulas de
História. O questionário continha cinco questões. Estes, foram aplicados por
1188
amostragem aos alunos das escolas parceiras. Foram aplicados 200 questionários.
Destes, 153 foram respondidos. Por fim, o coordenador de área e os licenciandos
identificaram, a partir dos dados levantados na diagnose, quais eram as estratégias
metodológicas mais utilizadas pelos professores de História e a partir do resultado,
implementaram ações diferenciadas no projeto de intervenção metodológica nas
escolas parceiras do PIBID/Centro Universitário São Camilo – ES, junto aos discentes
que apresentavam dificuldade de aprendizagem e participaram das aulas do projeto de
reforço.
REFERÊNCIAS
Eliane Mahl1
Fátima Elisabeth Denari2
3A Secretaria de Educação do estado de São Paulo propõe um currículo de todas as disciplinas para os
níveis de Ensino fundamental II e Ensino Médio, a fim de apoiar o trabalho realizado nas escolas
estaduais e contribuir para a melhoria da qualidade das aprendizagens de seus alunos. Este currículo é
intitulado como Proposta Curricular e completa um conjunto de documentos dirigidos especialmente aos
professores. São os Cadernos do Professor, organizados por bimestre e por disciplina. Neles são
apresentadas situações de aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos
disciplinares específicos. Esses conteúdos, habilidades e competências são organizados por série e
acompanhados de orientações para a gestão da sala de aula, para a avaliação e a recuperação, bem
como de sugestões de métodos e estratégias do trabalho nas aulas, nas experimentações, nos projetos
coletivos, nas atividades extraclasses e nos estudos interdisciplinares (SEE/ SP, 2008, p. 09).
4Os Cadernos do Professor de Educação Física tratam da cultura relacionada aos aspectos corporais,
que se expressam de diversas formas por meio dos jogos, da ginástica, das danças, dos jogos e das
lutas. Estes conteúdos estão subdividos por bimestre para cada série do ensino fundamental II. Assim o
professor de Educação Física tem um Caderno para cada série e cada série tem quatro cadernos
(SEE/SP, 2008).
1193
MÉTODOLOGIA
Caracterização da pesquisa
Esta pesquisa caracterizou-se como qualitativa, delineada pelo modelo
transversal5 descritivo e seus dados foram detalhados por meio de análise de
conteúdo.
Justifica-se a escolha pelo enfoque qualitativo quanto ao fato de que este
enfoque fornece maior profundidade aos dados, dispersão, riqueza interpretativa,
contextualização do ambiente, dos detalhes e de experiências únicas, oferecendo
ainda um ponto de vista “recente, natural e holístico” dos fenômenos, assim como
flexibilidade (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 14). O delineamento da
pesquisa processou-se pelo modelo transversal descritivo, pois o mesmo “consiste em
medir, analisar ou situar um grupo de pessoas, objetos, situações, contextos,
fenômenos em uma variável ou conceito [...], proporcionando sua descrição”
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 228).
Para analisar os dados coletados optou-se por utilizar o emprego de análise de
conteúdo, sendo esta compreendia como um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens indicadores que permitam inferência de conhecimentos
relativos as condições de produção e recepção destas mensagens (BARDIN, 2008).
Participantes e instrumentos para a coleta de dados
Participaram desta pesquisa vinte professores de Educação Física da rede
pública estadual de ensino de cinco municípios do interior paulista. Para manter a
integridade dos participantes, suas identidades foram preservadas e as informações
fornecidas por meio da coleta de dados foram utilizadas apenas como fim de pesquisa,
conforme preconiza a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que trata
das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres
Humanos.
5Os modelos de pesquisa transversal coletam dados em um só momento ou em curtos espaços de tempo.
Seu objetivo é descrever variáveis e analisar sua incidência e inter-relação em dado momento (ou
descrever comunidades, eventos fenômenos ou contextos). É como tirar uma fotografia de algo que está
ocorrendo (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).
1194
A partir dessa difícil realidade sobre o tema inclusão na formação inicial nos
cursos de Educação Física, podemos perceber o quanto precisa ser repensado as
questões que abordam esta temática no ensino superior, a fim de encontrar soluções
compatíveis com a urgente necessidade de melhoria das propostas educativas em
nossas escolas, para somente assim poder-se falar de educação para todos, sendo
1198
que, talvez, uma das soluções mais significativas fosse proporcionar desde as
primeiras fases do curso de Educação Física teorias e práticas consistentes que
orientassem o trabalho pedagógico dos futuros professores, oferecendo-lhe condições
necessárias para o ensino e aprendizagem de conhecimentos com relevância social,
vinculados a explicações da realidade social e escolar concreta.
Para isso, Florian, Rose e Tilstone (2009) acrescentam que o ritmo a que nos
deslocamos no sentido da inclusão será inevitavelmente ditado não apenas pela
legislação, mas também pelos meios fornecidos aos professores para que enfrentem
as necessidades mais complexas de alunos que passam de escolas/instituições
especiais para escolas regulares; ou seja, a preparação dos professores para os
desafios educacionais deve começar pela formação inicial e chegar a todo o corpo
docente em exercício, via meios de formação bem planejados, de modo a abordarem
os problemas que o professor irá deparar-se.
Sob este prisma, não queremos dizer que as coisas são simples de serem
resolvidas, mas sim alertar para a necessidade urgente de uma reforma de pensar e
agir frente à formação de professores, visto a complexidade da estruturação e
aplicação das estratégias de ensino para a viabilização de uma aprendizagem que
respeite as diferenças no ambiente escolar e se caracterize como realmente inclusivo.
Nesta senda, voltamo-nos aos participantes da pesquisa, os quais foram
unânimes em mencionar que a formação inicial em Educação Física deveria também
promover a transformação radical de algumas crenças, atitudes e preconceitos frente
às pessoas com deficiências, pois eles próprios antes de atuarem diretamente com a
inclusão de alunos com deficiência em suas aulas valorizavam a limitação do aluno, a
deficiência em si e não as possíveis potencialidades, possibilidades e capacidades de
seus alunos com deficiência.
Os professores participantes da pesquisa relataram ainda que o que os auxiliou
a entender que o processo inclusivo é estarem dispostos a considerar e a respeitar as
diferenças individuais, criando a possibilidade de aprender sobre si mesmo e sobre
cada um dos outros em uma situação de diversidade de ideias, sentimentos e ações
foi a prática pedagógica diária; porém, os cursos de formação continuada, em
1199
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em que se pesem as dificuldade impostas pelo novo ordenamento legal no
campo educacional no que se refere ao processo de inclusão, é comum que os
professores apresentem resistências, medos, angústias, inseguranças e incertezas
frente o acesso de alunos com deficiência no ensino regular, sendo que uma das
reações mais comuns é acabar afirmando não estar preparado para este
enfrentamento, principalmente pelos poucos conhecimentos adquiridos na formação
inicial sobre está temática, como se comprovou nesta pesquisa.
Todavia, quem busca formação na área da educação acabará por descobrir
que é na prática cotidiana dos alunos que a diversidade se colocará de forma mais
evidente e intensa, e assim o professor acabará confrontando-se com a pluralidade,
com as singularidades próprias das diferenças, com a falta de reconhecimento de seus
direitos e dos de seus alunos, com a falta de apoio para o enfrentando dos obstáculos
de uma aprendizagem significativa, dos alunos com e sem deficiência.
6Os professores referiam-se ao curso Adequações Curriculares de Educação Física para alunos com
deficiência, o qual era ofertado pela Diretoria Regional de Ensino.
1200
E mesmo, talvez, sendo uma visão utópica, não se pode deixar de acreditar
que todo ser humano é indispensável e importante para a construção de uma
sociedade mais justa, e como o aluno também adquire valores por meio da
educação, que estes valores venham atrelados ao reconhecimento de que cada ser
humano é único e especial, tendo muito a contribuir com suas diferenças sejam elas
advindas da deficiência ou não.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) é um
programa instituído pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e financiado pela
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) na forma de
bolsas, recursos materiais e participação dos bolsistas em eventos científicos para
divulgação dos trabalhos realizados.
O projeto tem permitido aos bolsistas de iniciação à docência um contato mais
próximo com a realidade escolar; desenvolvendo atividades utilizando metodologias
diferenciadas, em parceria com os professores da escola, não só nas salas de aulas,
mas em diferentes ambientes da escola.
Ele tem como alguns de seus objetivos: incentivar a formação inicial e
continuada de professores; a valorização do magistério e promoção da melhoria da
educação básica (CAPES, 2010).
Um dos eixos do projeto PIBID da UFSCar (Universidade Federal de São
Carlos), é a interdisciplinaridade, visando à integração entre as áreas que atuam na
escola. Esta interação proporciona momentos de interação entre as diferentes áreas
do conhecimento, discussão e reflexão, seja no planejamento, na aplicação e
avaliação dos trabalhos, que envolvem um único tema.
A interdisciplinaridade surgiu na Europa, na década de 1960, a partir de um
movimento estudantil. No Brasil, iniciou-se como um modismo no final da mesma
década, e foi sofrendo sérias distorções (FAZENDA, 1999).
Entretanto, na literatura ainda encontramos diferentes definições para
interdisciplinaridade, não existindo um consenso. Japiassu (1976), um dos pioneiros
no Brasil a estudar o tema, afirma ser a interdisciplinaridade um avanço no ensino
camargo_acqualuz@yahoo.com.br
3 UFSCar. Departamento de Química. São Carlos, SP. jhony.ufscar@gmail.com
4 UFSCar. Programa de Pós-Graduação de Química. São Carlos. CNPq. Orientadora PIBID da área de
Química. andreiaafonso@ufscar.br
1202
METODOLOGIA
A escola estadual onde foram realizadas as atividades interdisciplinares é uma
das cinco participantes do PIBID, na cidade de São Carlos, SP. A escolha das
instituições escolares utiliza como critério o IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica). Escolas com médias muito baixas, comparadas à média nacional,
são selecionadas, visando melhorar o desempenho dos estudantes no processo de
aprendizagem.
Nesta instituição escolar, há bolsistas de iniciação à docência de sete áreas:
Química, Biologia, Física, Letras, Matemática, Filosofia e Educação Física. Uma das
propostas para que ocorresse maior integração entre as áreas e entre licenciandos e
alunos dos Ensinos Fundamental e Médio foi a realização de atividades
interdisciplinares no intervalo.
A escolha do intervalo se deu para mostrar que outros ambientes da escola,
como o pátio, podem ser utilizados para o aprendizado. Os estudantes podem ficar
mais próximos dos bolsistas de iniciação à docência, interagindo, e manuseando os
materiais utilizados nas atividades, com mais liberdade.
As reuniões para planejamento dessas atividades interdisciplinares se deram
de forma organizada, por um grupo de licenciandos de três ou mais áreas distintas
participantes da escola, com foco nos objetivos a serem alcançados.
Elas se iniciaram com a discussão para escolha dos temas mais adequados,
com a ajuda dos docentes da escola. Esses temas estavam voltados para a realidade
dos estudantes, visando uma facilitação na compreensão dos conhecimentos
científicos ensinados. Também, no sentido de mostrar que fenômenos cotidianos
podem ser explicados através de diferentes abordagens, de forma interligada. Tafner
(2005) salienta que, a partir do momento que o educador traz situações com as quais
o educando se identifica, consegue uma das condições fundamentais para o
aprendizado: a contextualização, a interação e diálogo.
A partir daí, foram elaboradas as atividades, com a escolha dos métodos que
pareciam ser mais eficazes.
Para atrair a atenção dos alunos durante o intervalo, a abordagem se dava
através de uma dinâmica, gráficos coloridos, ou experimentos, nos quais se podiam
1204
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D.P. Educational Psychology: a cognitive view. New York: Holt, Rinehart
and Winston, 1968.
BRASIL. Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior,
curso de licenciatura, de graduação plena.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações
Curriculares para o Ensino Médio. Brasília. 2006. 240p.
BINI, L. R.; PABIS, N. Motivação ou interesse do aluno em sala e a relação com
atitudes consideradas indisciplinares. Revista Eletrônica Latu Sensu, v. 3, n, 1, mar.
2008, p.1-19.
CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Disponível em: htpp://www.
capes.gov.br/educação-basica/capespibid. Acesso em: 28 mar. 2013.
CARVALHO, H.W.P, BATISTA, A.P.L., RIBEIRO, C.M. Ensino e Aprendizado de
Química na Perspectiva Dinâmico-interativa. Disponível em:
http://www.if.ufrgs.br/eenci/artigos/Artigo_ID45/v2_n3_a2007.pdf. Acesso em:12 mar.
2013.
FAZENDA, I. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4. ed. Campinas:
Papirus, 1999.
FAZENDA, I.Interdisciplinaridade – transdisciplinaridade: visões culturais e
epistemológicas e as condições de produção. In: ENDIPE: Trajetórias e processos de
ensinar e aprender: sujeitos, currículos e culturas, XIV. Anais... 2008, p.324-335.
GASPAR; A. Oensino informal de ciências: de sua viabilidade e interação com o
ensino formal à concepção de um centro de ciências.Cad. Cat. Ens. Fis.,
Florianópolis, v.9,n.2: p.157-163, ago.1992.
HARTMANN, A. M.; ZIMMERMANN, E. O trabalho interdisciplinar no Ensino Médio: A
reaproximação das “Duas Culturas”. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação
em Ciências, V. 7, N. 2, 2007, P.1-16.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago,
1976.
MELLO, G. N. Formação inicial de professores para a educação básica: uma (re)visão
radical. São Paulo em perspectiva, v.14, n.1, 2000, p.98-110.
MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2000.
TAFNER, E.P. A contextualização do Ensino como fio condutor do processo de
aprendizagem. Disponível em: http://www.icpg.com.br/artigos/rev03-08.pdf. Acesso
em: 09 mar. 2013.
1208
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta reflexões sobre o ensino de matemática no
Ensino Fundamental ciclo II - que compreende do 6º ao 9º ano - bem como sobre a
possibilidade de desenvolvimento profissional docente mediada pela utilização da
Metodologia de Ensino-Aprendizagem através da Resolução de Problemas e sua
importância no processo de ensino-aprendizagem da matemática.
A importância da resolução de problemas no processo de ensino-
aprendizagem é ressaltada na literatura da área de educação matemática e em
documentos oficiais, como as orientações curriculares apresentadas na Proposta
Curricular para o Ensino de Matemática (SÃO PAULO, 2008) e os Parâmetros
Curriculares Nacionais referentes ao Ensino Fundamental - Matemática (BRASIL,
1998), que a prenunciam como perspectiva metodológica de ensino, permitindo a
abordagem de conceitos, procedimentos e atitudes necessários à formação do aluno e
de problemas do cotidiano, relacionando-os a diversos assuntos da matemática.
Dessa forma, a Resolução de Problemas é vista como uma metodologia
alternativa para o ensino-aprendizagem da matemática, uma vez que segundo
Allevato (2005) falar em resolução de problemas é falar sobre métodos, meios e
regras que conduzem à descoberta, inovação, investigação, propondo ao aluno uma
nova abordagem de técnicas e estratégias que exigem pensamentos matemáticos
diversos, podendo promover o gosto pela descoberta da resolução e o interesse pela
matemática.
Assim, tendo a resolução de problemas como um dos temas presente nas
propostas atuais de ensino, considera-se como fundamental a reflexão sobre as
possibilidades do professor adotar essa metodologia, visando à aprendizagem
camposml@ibb.unesp.br
3Professora Doutora. Instituto de Ciências Matemáticas e Computação, USP, Campus São Carlos.
rcgm@icmc.usp.br
1209
METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste trabalho, destaca-se, entre as várias formas que pode assumir uma
pesquisa qualitativa, a pesquisa do tipo pesquisa de campo, visto que essa foi à
escolhida para desenvolver o trabalho porque tem grande potencial para se trabalhar
com questões escolares.
Optamos pela pesquisa de campo do tipo qualitativo-descritivo pela grande
vantagem que esta proporciona na obtenção de dados diretamente na realidade. De
acordo com Soares (2010), sem em nenhum momento desmerecer a pesquisa teórica,
é na pesquisa de campo que as teorias propostas podem ser validadas ou refutadas.
Assim, com a utilização da pesquisa de campo é possível o acúmulo de conhecimento
sobre determinado aspecto da realidade, conhecimento esse que pode ser
comprovado e utilizado por outros pesquisadores.
Participaram da pesquisa professoras do Ensino Fundamental II, licenciadas
em Matemática, que lecionam em escolas públicas estaduais no município de
Pirassununga, interior de São Paulo.
A coleta de dados se deu por meio de questionário, observações e entrevistas
informais semi-estruturadas, com o objetivo principal de identificar e analisar a
compreensão de professores de matemática do Ensino Fundamental II sobre a
metodologia de ensino-aprendizagem de matemática através da Resolução de
Problemas, sua importância nesse processo e suas ações na sala de aula.
As observações foram realizadas com a intenção de buscar uma compreensão
das concepções das professoras a respeito do ensino e aprendizagem a partir da
resolução de problemas e verificar dentro de que perspectiva desenvolvem o trabalho
com a resolução de problemas em suas aulas.
1212
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Resolução de problemas: o discurso e a prática de três professoras
Nas informações obtidas por meio do questionário e das entrevistas, a respeito
da formação das professoras, foram analisadas as respostas referentes aos assuntos
ligados à formação inicial, que de modo geral foram apontadas como tendo sido
bastante teórica e desvinculada da matemática escolar. E que apesar das práticas
terem contribuído para a atuação profissional, são as experiências em sala de aula
que promoveram um verdadeiro aprendizado.
A ausência de relação entre a matemática acadêmica e a matemática escolar
ficou mais evidente, quando as professoras relataram que apesar de reconhecerem
que os conteúdos específicos matemáticos contribuíram de alguma forma para sua
1213
todo o percurso desde a preparação das aulas até os modos como os conteúdos
serão apresentados aos alunos, isto é, envolve as ações práticas docentes para
trabalhar os conteúdos matemáticos.
Ao serem questionadas sobre o contato com a Resolução de Problemas, as
professoras relatam que este vem desde a Educação Básica e que durante a
formação inicial e continuada, a Resolução de Problemas esteve presente nas
demonstrações dos conceitos matemáticos. Em relação às dificuldades em trabalhar
com problemas, elas relataram que a maior dificuldade está relacionada aos
problemas de compreensão das situações por parte dos alunos, além da falta de
tempo e o compromisso de cumprir os cronogramas.
Sobre isso, Floriani e Beatriz D`Ambrozio (2005) apontam que a falta de tempo
do educador leva-o a certos impedimentos de modificar sua prática pedagógica tendo
como referencial um plano que sane as dificuldades diárias. É esse obstáculo na vida
profissional do professor, especificamente o de matemática, que o faz viver em
constante reflexão acerca de quão grande é a problemática.
Esses dados apontam para uma visão da Resolução de Problemas enquanto
conteúdo matemático, que pode ser ensinado por meio de técnicas já pré-
determinadas; e por ser tratado dessa forma, isto é, como conteúdo, pode ter os
mesmos problemas que acontecem com alguns conteúdos matemáticos, a saber, a
prioridade de escolha do trabalho com os conteúdos mais relevantes que cada
professor considera, justificado pela falta de tempo e importâncias atribuídas.
Partindo dessa compreensão, as professoras então foram questionadas a
respeito das dificuldades em introduzir os conteúdos matemáticos através da
Resolução de Problemas. Tal pergunta foi de encontro com o discurso anterior das
professoras e teve como objetivo verificar como elas a responderiam, já que por
considerarem a Resolução de Problemas como conteúdo matemático, certamente
responder essa questão se tornaria difícil.
As professoras defenderam a utilização da Resolução de Problemas após a
introdução formal dos conceitos matemáticos e, justificam esse posicionamento
declarando a ausência de conhecimento prévios dos alunos e suas dificuldades de
compreensão, além da dificuldade de contextualização dos conteúdos.
Como já citado anteriormente, para Onuchic (1999), nem sempre os
professores estão preparados para operacionalizar tal metodologia no processo de
ensino-aprendizagem dos alunos, uma vez que eles acreditando que a formalização
precoce dos conceitos facilita o trabalho com os alunos, seguem uma ordem pré-
1215
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando nossa questão da pesquisa, “Qual a compreensão de professores
de matemática do ensino fundamental sobre a Resolução de Problemas e sua
importância no processo de ensino-aprendizagem de matemática? E quais são suas
ações de ensino envolvendo resolução de problemas?”,verificamos ao longo deste
trabalho que as professoras em seus discursos demonstram já terem tido algum
contato com a Resolução de Problemas enquanto perspectiva metodológica e
deixaram indícios de que a utilizavam em sala de aula.
No entanto, suas ações em nenhum momento mostraram tal estratégia sendo
utilizada. Este fato se confirmou, quando os sujeitos foram questionados a respeito do
1216
momento que os problemas são propostos em suas aulas, onde afirmaram que os
utilizam na introdução de conceitos novos, mas que durante o período de observação
ficou evidente que tal procedimento não ocorreu.
As entrevistas, nesse ponto, só vieram a confirmar tal fato, uma vez que o
trabalho com Resolução de Problemas é defendido após a formalização tradicional
dos conteúdos, contrariando assim, os discursos anteriores. São destacadas ainda,
algumas dificuldades em se utilizar a Resolução de Problemas na introdução dos
conteúdos em sala de aula, a saber, a dificuldade de contextualização (visão utilitarista
da matemática) e a falta de conhecimentos prévios dos alunos. Outros fatores que
também podem ser citados estão relacionados a problemas de ordem institucional,
como a falta de tempo e o compromisso com o cumprimento do currículo.
A Resolução de Problemas, de acordo com Diniz (2001), deve ser
compreendida a partir de três concepções: como meta, como processo ou como
habilidade básica. Contudo, notamos que a concepção dos professores segue apenas
a dimensão da Resolução de Problemas como meta, ou seja, todo o ensino estrutura-
se primeiro em formalizar o conteúdo, para que depois o aluno possa resolver os
problemas a partir das informações e os conceitos envolvidos na resolução.
Trata-se da concepção de que se ensina matemática para resolver problemas.
A Resolução de Problemas é vista como um conteúdo que deve ser ensinado pela
matemática. Assim, esta maneira de ensinar matemática se concentra na resolução de
um determinado problema, rotineiro ou não. Os professores parecem se apegar ainda
à concepção do problema como instrumento para ser utilizado como aplicação da
teoria e isso pode dificultar que ocorram transformações no processo de ensino-
aprendizagem dos alunos.
Contudo, a hipótese de que a Resolução de Problemas pode ser utilizada como
ponto de partida para o ensino da Matemática é considerada pelos professores como
uma prática inovadora e pode ser percebida em vários momentos, pelos indícios que
conseguimos perceber através das respostas do questionário e durante as
observações. Mas, ficou evidente a necessidade de um espaço para a produção de
significações pelos professores e da relevância dessa produção para que eles não
sejam simples aplicadores de conhecimentos produzidos por outros.
As práticas inovadoras, entre as quais acreditamos se encontrar a Resolução
de Problemas como ponto de partida para ensinar Matemática, representam um
desafio e um modelo teórico que ainda é pouco conhecido pelos professores e precisa
ser melhor explorado e compreendido, fato que consideramos ser possível tanto na
1217
REFERÊNCIAS
1218
INTRODUÇÃO
Pensar a formação de professores incita-nos a direcionar nossas inquietações
para as políticas públicas de formação docente, para a estruturação e qualidade dos
cursos de licenciatura, para os investimentos públicos e a criação de bons programas
de formação continuada. Nestes casos pensamos na formação inicial e continuada do
(a) professor (a), conduzida por um currículo explícito e por ações intencionais
direcionadas para o tipo de profissional que se deseja formar. No entanto, além deste
aspecto intencional a formação docente também é constituída por experiências que
fazem parte do dia-a-dia do ser professor (a).
Ao sair dos cursos de licenciatura o (a) professor (a) continua seu processo de
formação em constante diálogo com suas experiências profissionais e os diferentes
discursos sobre e para o professor que circulam em nossa sociedade. Discursos, por
exemplo, da mídia que retrata professores em seus programas e divulga “modelos” de
professores bem sucedidos, pois conseguiram elevar os índices de qualidade
educacional em suas escolas. Premiações são realizadas para que tais professores
sirvam de exemplos para os demais. O próprio MEC criou, em 2005, o prêmio
Professores do Brasil, cujo objetivo, segundo o mesmo, é “reconhecer o mérito de
professores das redes públicas de ensino, pela contribuição dada para a melhoria da
qualidade da educação básica, por meio de experiências pedagógicas bem-sucedidas,
criativas e inovadoras.”2
Quando pensamos nas experiências profissionais vividas pelo professor no
cotidiano escolar, não podemos deixar de destacar também os inúmeros desafios e
surpresas enfrentadas diariamente. As cobranças por bons resultados, a exigência de
maior envolvimento; as relações afetivas com os alunos e seus problemas; a relação
com as famílias dos alunos; as dificuldades enfrentadas pela desvalorização da
profissão, enfim, as situações são diversas e as exigências de enfrentamento por parte
do (a) professor (a) as acompanham.
Desde o ano de 2007 o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
vem fazendo parte do cotidiano dos (as) professores (as) das escolas públicas. Seja
1IFSULDEMINAS/Inconfidentes - paulaicoelho@hotmail.com
2http://premioprofessoresdobrasil.mec.gov.br/
1221
3O IDEB é composto pelos resultados da Prova Brasil, criada em 2005, e aplicada aos alunos de todas as
escolas municipais de 4ª a 8ª série, cujas turmas possuem mais de 20 alunos; e o Saeb, que avalia o
mesmo nível de ensino, mais os alunos do 3º ano do ensino médio, porém, por amostragem. Para cada
escola é atribuído um índice. Os resultados do IDEB são medidos em uma escala de 0 a 10 e, em 2005,
chegou-se ao índice de 3,8. O objetivo do governo é que a educação do país alcance, até o ano de 2022,
a média 6,0, média atingida pelos países desenvolvidos.
4Estes dados foram retirados da minha dissertação de mestrado “OIDEB e a pedagogia da política para a
formação continuada de professores gerada no contexto da reforma educacional dos anos 90: governo e
regulação das subjetividades docentes” defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da UFF
no ano de 2009.
1222
que busca reformar os próprios docentes. Modelos de professores bem sucedidos são
divulgados, tais professores passam a servir de exemplo para os demais, são
convidados a relatar, a falar sobre seu modo de ser professor, de como eram antes e
como se transformaram, porque seu trabalho deu certo, foi destaque, ganhou um
prêmio.
“Eu acho que o IDEB em nossa escola tem relação com a comunidade, falta de participação
dos pais. A família é muito importante, não que tenha culpa, mas que o índice mais baixo na
1224
nossa escola, muita criança com idade avançada nas salas, com crianças pequenas, acaba
atrapalhando. Eu acho que a família é importante”. (Professora 2 ).
“Eu acho complicado assim porque são vários fatores que levam a um resultado desses. A
gente vive numa comunidade muito complicada, difícil, a gente tem pouco apoio da família.[...]
Então, quando se faz uma avaliação dessas, não sei bem como ela é feita, quais são os
requisitos para se fazer uma avaliação dessas, mas a gente, eu não sei se está sendo
analisada a realidade da comunidade, se é levado em conta esse tipo de coisa, porque a gente
trabalhou em outro lugar e a gente vê a diferença, porque aqui é uma comunidade muito
complicada”. (Professora 4 CB).
“Eu acho que essas crianças estão muito mal disciplinadas do que eram antes, a gente sente
muito mais dificuldade de trabalhar, as turmas estão mais cheias, a gente tem muita cobrança,
eu sinto dificuldade em relação a isso, a modificação das crianças entendeu”. (Professora 1
CB).
“[...] há desestímulo até porque a gente vê uma falta de apoio da família, de tentar fazer as
coisas pra desenvolver o nosso trabalho, a gente ta vendo assim que ta tentando fazer outra
coisa pra resgatar um monte de coisa que a gente até dizia que estava perdido, mas a gente
não vê muito apoio da parte da família. Então a gente fica no desespero de tentar fazer a nossa
parte sozinha e não tem outro apoio, não tem outro lado segurando também junto com a
gente”. (Professora 5 CB).
Outra questão abordada pelas docentes refere-se às condições materiais e
estruturais da escola. Antes do resultado do IDEB, por exemplo, a escola não possuía
equipe pedagógica para atender os dois turnos. Esse investimento só veio a acontecer
devido ao baixo rendimento da escola no índice.
“Bom, eles avaliaram em termos de conteúdos, no final do ano passado, o nível das crianças
estava defasado. Essa escola antes não tinha, não era bem vista, no caso não davam atenção
devida pra escola. Estava meio desorganizado, agora desde que fizeram essa pesquisa, não
vai mais existir mais isso. Está bem acima entendeu. Agora estão vendo que a escola, tem a
parte da supervisão que é muito boa, os professores estão assim vestindo a camisa mesmo
pra poder ajudar na escola. Todo mundo buscando o melhor”. (Professora3 CB).
“Eu acho foi o que eu falei pra você ali, a questão da estruturação da escola. Nós não tínhamos
como temos hoje uma supervisora pra cada turno, uma OE (Orientadora Educacional) pra cada
turno, uma direção formada, que hoje nós temos quatro pessoas na direção, uma pessoa só
não da conta, não tem condição, então eu acho que é tudo isso, e esse apoio maravilhoso que
a secretaria tem nos dado”. (Diretora CB).
As professoras consideraram também que o resultado do IDEB consistiu em
uma avaliação do seu trabalho e de suas posturas enquanto professoras. Tal resultado
permitiu-lhes refletir a cerca de como vinham desenvolvendo sua atividade docente.
Consideraram que para melhorar o índice da escola será necessário buscarem mais
enquanto professoras. Novas metodologias, elaborar projetos que despertem o
interesse nos alunos, pesquisar e se atualizar sempre.
“Eu acho necessário, entendeu, pra gente ter uma noção também do trabalho que a gente
desenvolve em relação às outras escolas. Pra gente ter uma referência ao trabalho da gente,
esta avaliação eu acho que foi construtiva. Até porque também depois que a gente foi avaliado
a gente observou que tinha que se fazer mudanças entendeu, pra poder construir um
crescimento, a partir disso a gente tem conseguido um bom trabalho”. (Professora 1 CB).
“É. As formas de trabalhar também, relacionado a isso, a recurso, a um trabalho mais lúdico,
mais dinâmico, a como você dar o conteúdo, entendeu, pra criança estar assimilando com mais
1225
facilidade e você construir esse desenvolvimento. Então eu acho que o IDEB foi bom pra gente
poder ter uma base de como a gente estava trabalhando. Mesmo tendo sido o índice ruim, a
gente teve uma maneira de olhar, ter mais crítica. Com certeza, que o IDEB deu isso pra gente.
Um novo olhar”. (Professora 1 CB).
“Uma reflexão, eu acho que a partir do IDEB a gente fez uma reflexão sobre o nosso trabalho.
Criar cada vez mais, ideias, projetos, pra poder fazer uma boa educação, bons resultados.”
(Professora 2 CB).
“Eu vejo que tem acontecido mudanças sim, o que eu acho que está faltando, na minha
opinião, é mudar mesmo é a nossa postura de professor, se a educação está mudando , a
gente também tem que mudar junto, não adianta eu ter evoluções, progressos, tantas coisas
positivas e a nossa mente continuar... a gente tem que ta sempre buscando, se atualizando,
tentando ajudar os alunos, tem resultados tão diferentes, cada um aprende de uma forma,
então eu vejo dessa forma”. (Professora 1 CB).
“Que o professor seja um eterno pesquisador. Ele sendo um eterno pesquisador, procurando
sempre crescer, eu acho que a educação sempre vai ter bons resultados”. (Professora 2CB).
“Eu acho que acima de tudo a gente tem que trabalhar com muito amor. Porque geralmente as
crianças são muito carentes, então a gente tem que ver essa parte mesmo, trabalhar com
amor, com carinho e estar envolvendo conteúdos, mas sempre visando esse lado psicológico
das crianças”. (Professora 3 CB).
As docentes consideraram problemático o contexto social dos alunos que,
segundo suas avaliações, torna mais difícil a compreensão dos conteúdos escolares e
a adaptação à rotina escolar. Da mesma forma, compreendem que são necessárias
transformações na escola e na forma de ofertar a educação que seja interessante aos
alunos. No entanto, os questionamentos não ultrapassam os limites da escola, do seu
trabalho, dos alunos e suas famílias.
De acordo com Santos (2004), a política educacional brasileira, que tem início
com a reforma educacional dos anos 1990, tem como referência o modelo de
gerenciamento das empresas, fundamentada em parâmetros de eficiência e
produtividade, na qual a qualidade do ensino é medida através de parâmetros
estabelecidos pelo governo e quantificados nos índices de desempenho. Tal forma de
se conduzir a política educacional leva à consolidação, no interior das escolas, de uma
cultura do desempenho, que faz com que os professores conduzam o seu trabalho a
partir dos conteúdos e habilidades a serem averiguados nas avaliações nacionais,
bem como se sintam culpados quando seus alunos não alcançam o que é considerado
um bom resultado.
É que a cultura da performatividade vai sutilmente instalando nos
professores uma atitude ou um comportamento em que eles vão
assumindo toda a responsabilidade por todos os problemas ligados
ao seu trabalho e vão se tornando, pessoalmente, comprometidos
com o bem-estar das instituições. (SANTOS, 2004, p.1153).
Não é outra coisa o que vemos acontecer nesta escola. A falta de investimento
público na educação que gera a precarização das condições do trabalho docente,
questionamentos sobre a finalidade do IDEB, sua repercussão social, não aparecem.
1226
CONCLUSÃO
A problematização gerada pelo baixo rendimento da escola na avaliação do
governo fez surgir algumas fagulhas de crítica ao IDEB e às condições de realização
do trabalho docente nesta escola. As professoras deixaram claro que antes do
resultado do IDEB a escola estava abandonada pelo poder público que, a partir de
então, passou a investir mais equipando a escola com orientadores e supervisores
pedagógicos presentes nos dois turnos assessorando mais cuidadosamente o trabalho
das docentes. No entanto, não podemos deixar de pensar com Saviani que esta
investida do poder público não ultrapassa os limites da “pedagogia de resultados”. São
ações para “apagar incêndio” que não se propõem a dialogar com a escola e a
comunidade sobre suas dificuldades e principais problemas e, a partir de então,
pensar em iniciativas a longo prazo. O que se busca com tais ações é a visibilidade
social de um bom índice e não a reflexão sobre as necessidades e os problemas
enfrentados pelos sujeitos desta escola, professores, alunos e equipe pedagógica.
O foco das ações públicas direciona-se para as docentes, para suas
metodologias que ainda não são tão “adequadas” e para o seu compromisso que
ainda não está visível no resultado do IDEB. As questões referentes aos investimentos
públicos para melhoria das condições materiais da escola e salário do professor que o
possibilite se dedicar integralmente a apenas uma escola não são colocadas. Também
desaparecem questões referentes às condições materiais da comunidade tais como:
há espaços de lazer, cultura e esporte para as crianças e jovens? Há condições de
trabalho para as famílias?
Concluo, portanto, que os questionamentos das professoras constituíram-se,
de forma quase que consensual em uma auto avaliação. As professoras buscaram
respostas para o resultado da escola em seus “erros”, “faltas”, que consideraram seus
e também dos seus alunos. Esta forma de avaliarem a questão está relacionada,
também, à forma como o poder público agiu, nesta escola, para tentar solucionar o
problema do baixo rendimento no IDEB. A prefeitura equipou a escola com mais
profissionais cujas ações estavam direcionadas, especificamente, para “melhorar” o
trabalho das professoras. Foi uma política de responsabilização dos sujeitos da
educação que se concretizou no contexto desta escola.
1227
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DISCUSSÃO
12 2 2 D9 D13,D5
13 1 2 D1 D1
14 2 1 D5 D1,D5
15 5 1e5 D14 D14,D4
De acordo com os dados das Tabelas 1 e 2, ao vincular item com tópico, dentre
as cinco estimativas concordantes com a matriz, para três itens (1, 9 e 10) a
professora indicou corretamente o Tópico 1 e, em continuidade, vinculou também de
modo concordante descritores que pertencem ao Tópico 1. Por sua vez, para os dois
itens restantes (4 e 12), vinculados de modo concordante com os tópicos (3 e 2,
respectivamente), as estimativas com os descritores foram parcialmente concordantes.
Nas estimativas de correspondências parcialmente concordantes entre item e
tópico (itens 6 e 15) verificou-se que o Tópico 1 foi mencionado para os dois itens. De
modo a atestar a predominância do Tópico 1 nas estimativas da professora, nas oito
discordâncias registradas, em sete este tópico foi mencionado. Para as sete
indicações não concordantes, em cinco estimativas o descritor indicado mostrou-se
consistente com o tópico mencionado.
As dificuldades estiveram concentradas em vincular o tópico abordado com o
item, sendo que as filiações entre tópicos e descritores mostraram-se mais
consistentes. Assim, a professora vinculou o Item 7 com o Tópico 1, quando o previsto
na matriz é que o Item 7 trata de temas relacionados com o Tópico 4. Contudo, tendo
estimado o Tópico 1, embora discordante com a matriz que estabelece o Tópico 4, a
professora vinculou um descritor consistente com o Tópico 1, a saber, o D1.
Contudo, análises que priorizam as estimativas dos descritores evidenciam
dificuldades da professora para identificar especificidades dos mesmos em relação
aos exemplos de itens. Assim, para os Itens 5 e 10, os descritores foram corretamente
1236
CONSIDERAÇÕES FINAIS
professora atesta importantes efeitos do contato com o SAEB que podem ser
subestimados diante de metodologias estritamente documentais.
Os dados indicaram que as interpretações elaboradas pela professora estão
distantes de uma mera cópia do material expresso na matriz do SAEB, como
expressão do predomínio de uma racionalidade técnica e instrumental. Em
consonância com prognósticos de um modelo que assinala adesão restritiva da escola
para com dimensões da política pública. Ademais, os resultados não indicam uma
negação e desconhecimento das relações entre item, tópico e descritor, como poderia
sugerir o prognóstico fundado no modelo da insubordinação para caracterizar
incidências do SAEB na escola.
Diferentemente e de modo conclusivo, os resultados salientam dificuldades
impostas na interpretação, pela professora, de dimensões relevantes da matriz do
SAEB que devem ser objeto de investigações posteriores com o propósito de
efetivamente contribuir para que a exposição aos sistemas de avaliação em larga
escala possa favorecer de modo autêntico e emancipatório a melhor qualificação das
condições de ensino e de aprendizagem de conteúdos curriculares na Educação
Básica.
REFERÊNCIAS
BONAMINO, A. C. de. Tempos de avaliação educacional: o SAEB, seus agentes,
referências e tendências. Rio de Janeiro: Quartet, 2002. 192p.
BRASIL, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação:
Prova Brasil. Ensino Fundamental: Matrizes de referência, tópicos e descritores.
Brasília: MEC/SEB-INEP, 2011.
CARVALHO, G.F. da S., MACEDO, M. do S. A. N. Avaliação Oficial: o que dizem os
professores sobre o impacto na prática docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, V.
37, n 3, p. 549-564, set./dez., 2011.
FRANCO, Creso. Quais as contribuições da avaliação para as políticas educacionais?
In: BONAMINO, A.; BESSA, N.; FRANCO, C. (Org.). Avaliação da educação básica.
Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004. p. 45-63.
HORTA NETO, João Luiz. Avaliação externa: a utilização dos resultados do SAEB
2003 na gestão do sistema público de ensino Fundamental no Distrito Federal.
Dissertação (Mestrado em Educação)–Faculdade de Educação, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 2006.
LOCATELLI, I. Construção de instrumentos para a avaliação de larga escala e
indicadores de rendimento: o modelo Saeb. Estudos em Avaliação Educacional,
n.25, p.3-21, 2002.
NUNES, C.M.F. Saberes docentese formação de professores: um breve panorama da
pesquisa brasileira. Educação e Sociedade, v. 22, n. 74, p. 27-42, 2001.
1238
Jonas Fernandes1
Elvira Cristina Martins Tassoni2
INTRODUÇÃO
Trata-se de pesquisa envolvendo um levantamento bibliográfico de teses e
dissertações no banco de dados da CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento
Pessoal de Nível Superior), com o auxílio financeiro do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Teve como objetivo o rastreamento de pesquisas, no período de 2001 a 2011,
que discutiram a formação de professores alfabetizadores no estado de São Paulo,
tendo em vista a construção de um cenário a respeito dos impactos das políticas
públicas de formação continuada de professores alfabetizadores nas práticas
pedagógicas da sala de aula. O recorte temporal teve como referência o Programa de
Formação de Professores Letra e Vida, idealizado em 1999, cujo material foi
produzido em 2000 pelo Ministério da Educação (MEC) e proposto à formação
continuada a partir de 2001.
Temos observado nas últimas três décadas um movimento intenso de
elaboração de Programas de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores,
em prol da qualidade da alfabetização. Neste ponto, nos remetemos a Nóvoa (2009),
que condena a forma de produção de conhecimento voltada para a educação, no que
se refere à voz do professor que raramente está presente – a não ser como objeto-
investigado – enfrentando duras críticas sobre sua prática, onde os louros são
relegados aos investigadores por desvelar a situação vivida dia a dia em sala de aula,
excluindo o profissional da educação das discussões sobre sua própria prática.
Portanto, este artigo tem como objetivo identificar de que forma as
investigações realizadas no estado de São Paulo vêm discutindo as influências das
políticas de formação continuada de professores alfabetizadores nas práticas
pedagógicas de sala de aula.
Assim, foi possível inventariar as pesquisas realizadas no referido período que
tinham por objetivo discutir a formação continuada de professores, sob o ponto de
vista dos mesmos.
CAMINHOS PERCORRIDOS
Este trabalho adotou como técnica de análise e interpretação dos dados a
análise de conteúdo, segundo Bardin (1977) seguindo três fases: (1) a pré-análise,
que consistiu em um levantamento inicial das pesquisas por meio dos descritores:
“Programa Ler e Escrever”, “Formação de professores alfabetizadores”, “Formação
continuada de professores alfabetizadores” e “Letra e Vida”, onde, ainda nessa fase, a
leitura dos resumos das pesquisas selecionadas delimitou o corpus da investigação,
separando as pesquisas por estado onde cada uma foi realizada, podendo identificar
as que foram realizadas no estado de São Paulo. Intencionalmente, optamos por usar
dois descritores que nomeiam dois programas de formação do estado em questão; (2)
a exploração do material coletado, que se caracterizou por um estudo aprofundado a
partir da leitura dos resumos dos trabalhos com foco no estado de São Paulo, para
categorização das informações; (3) e, o tratamento das informações, que nos permitiu
trabalhar com 43 pesquisas com foco no estado de São Paulo, divididas entre 7
pesquisas bibliográficas e 36 de campo. Para atender aos objetivos deste estudo –
com relação às pesquisas de campo, buscamos identificar os sujeitos citados em seus
resumos, a fim de saber quais eram eles e de que forma participavam das pesquisas.
Em nosso trabalho, destacamos 23 pesquisas3 que deram ênfase ao professor
como sujeito, mas, conseguimos apenas 154 trabalhos na íntegra. O que nos
interessava particularmente era investigar o quanto cada uma delas explorava as
influências dos Programas de Formação de Professores Alfabetizadores nas práticas
dos professores.
A problemática que se levantou para nortear as buscas nas pesquisas
selecionadas foi: até que ponto os programas de formação continuada transformariam
as práticas dos professores? Percebemos uma tendência das pesquisas em buscar as
concepções teóricas que norteiam as práticas pedagógicas dos professores
alfabetizadores em sala de aula e, consequentemente, fazer a articulação entre essas
concepções e as influências dos programas de formação continuada, oferecidos pelas
políticas públicas.
Os trabalhos também apontam antigos e persistentes problemas como: o pouco
número de vagas oferecidas para a formação continuada; o formato com insuficiente
3Calil(2008), Castelhano (2008), Chaves (2009), Colus (2006), Danaga (2005), Hernandes (2008), Luna
(2008), Macedo (2008), Meira (2004), Molinari (2010), Oliveira (2009), Pedrino (2009), Peggion (2006),
Pereira (2005), Perez (2002), Rigolon (2007), Ruiz (2009), Sarto (2004), Silva (2008 e 2010), Storniolo
(2006), Teixeira (2010), Tempesta (2009).
4Hernandes (2008), Molinari (2010), Ruiz (2009), Oliveira (2009), Meira (2004), Silva (2008), Teixeira
(2010), Rigolon (2007), Calil (2008), Pedrino (2009), Tempesta (2009), Storniolo (2006), Sarto (2004),
Danaga (2005), Luna (2008).
1241
carga horária dos cursos e a jornada de trabalho que chega a ser cansativa e sem
possibilidade de se parar para refletir sobre as práticas pedagógicas.
Assim, como subsídio para a elaboração de programas de formação de
professores alfabetizadores que venham ao encontro das inquietações do
professorado, destacamos uma das pesquisas selecionadas (MEIRA, 2004) que
apontou para a necessidade de se melhorar a avaliação como retorno aos
idealizadores dos programas de formação continuada, para que estes busquem novas
estruturações a fim de dar maiores subsídios aos cursistas e professores formadores.
De fato, a maioria das 15 pesquisas às quais conseguimos acesso, busca
mostrar a necessidade de espaços de diálogo entre os professores para que esses
reflitam sobre suas práticas pedagógicas e que não fiquem encerrados às ações
solitárias de sala de aula. Damesma forma, percebemos um avanço em relação às
análises acadêmicas de dissertações e teses para a abertura de vozes que insistem (e
devem) ser ouvidas e não apenas julgadas.
Esses trabalhos mostram as influências decorrentes de fatores econômicos,
sociais, políticos e culturais; de valores advindos da prática social, como expressa
Lelis (2008) ao fazer referência às relações sociais inscritas em matrizes que
exprimem valores e atitudes da cultura do professorado como campo.
Atualmente, estamos a ver uma necessidade de capacitação e atualização do
professor como ser humano em formação continuada. Assim, reflete-se em políticas
públicas alguns programas, especificamente para a alfabetização e instrumentalização
por meio de diferentes teorias que surgem no horizonte pedagógico.
Segundo as pesquisas, os programas de formação continuada funcionam (e
devem funcionar) como espaços de reflexão que são desejáveis e necessários
enquanto políticas públicas, assim como a necessidade da parceria entre escola e
universidade.
DISCUSSÃO
As 15 pesquisas que têm como sujeito os professores alfabetizadores,
trataram, de forma geral, dos programas de formação continuada de professores
alfabetizadores e a identificação, apropriação e transformação das práticas
pedagógicas de sala de aula por parte desses cursistas. Exploraram como esses
programas contribuem e influenciam as práticas dos professores alfabetizadores, os
recursos disponibilizados para os mesmos e as escolhas didáticas frente à
problemática do cotidiano escolar.
1242
Esta triangulação é resultado deste trabalho, uma vez que revela, não uma
mudança linear e clara das influências dos programas de formação continuada nos
sujeitos envolvidos, mas uma transformação em espiral, onde os sujeitos e suas
significações devem ser levados em conta para a intenção de se perceber as
transformações no campo da ação pedagógica.
Evidenciamos que as mudanças nas práticas pedagógicas podem se dar de
acordo com a reflexão do professor alfabetizador por meio de discussões levantadas
em aulas propostas pelos programas de formação continuada. Devemos também levar
em consideração as condições de trabalho dos professores, um programa de
formação continuada pode ser de extrema importância para que dialoguem entre os
pares e o professor formador; que seja retirado de uma rotina de jornada dupla, da
mecanização das atividades, pondo-se em um meio para refletir e discutir suas
próprias práticas com os demais.
Das pesquisas de campo, destacamos Celegatto (2008), que nos mostra que
os sujeitos do meio educacional têm uma visão de que um programa de formação
continuada de professores alfabetizadores gera mudanças nas práticas docentes, a
fim de promover alterações relativas ao aprendizado de leitura e escrita e a
ressignificação dos sujeitos envolvidos. Isso mostra essa diversificação nas
significações que cada sujeito imprime, não recebendo passivamente os conteúdos do
programa, e aponta para a necessidade desses programas governamentais
1244
CONSIDERAÇÕES
A partir do levantamento realizado, não podemos inferir que os professores e
seus saberes docentes influenciam a reestruturação dos fundamentos dos programas
de formação continuada. Essa é uma hipótese que cabe levar para futuras análises,
aprofundando-se no campo delimitado de pesquisas com o foco em tal formação e nas
práticas pedagógicas, a fim de aperfeiçoar o cenário proposto de significações dos
sujeitos do meio educacional.
Mas, destacamos que, em meio às impressões dos sujeitos, há sempre uma
transformação, às vezes muito lenta e quase imperceptível, de mudança nas práticas,
de significação dos materiais e dos fundamentos teórico-metodológicos, no âmbito das
relações sujeito-sujeito, e das relações dos sujeitos com o fenômeno educacional. Na
prática do professor, retomamos Mortatti (2010) que nos diz que os métodos nunca
são aplicações puras nas práticas alfabetizadoras. Isso nos ajuda a entender o campo
da ação pedagógica não como um campo ideal, mas de tensões e transformações.
A literatura dos últimos anos (tanto nacional quanto internacional) vem
1245
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO.
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as concepções de inclusão social e
educacional presentes nas políticas públicas nacionais para a formação inicial dos
professores, implementadas a partir de 1988 até o ano de 2010, com recorte nas
direcionadas para a pessoa com deficiência (PD).
O vínculo da concepção de inclusão à PD não quer dizer que a inclusão esteja
restrita somente a este segmento social. No conceito de inclusão, encontram-se todas
as pessoas, independentemente de suas condições e diferenças físicas, intelectuais,
sociais, emocionais, linguísticas e étnicas. Assim, no âmbito da inclusão educacional,
também as crianças originárias de culturas nômades, que vivem nas ruas, que não
são assistidas por nenhum programa social, que são negras, devem ser acolhidas no
espaço escolar. O foco específico na PD, neste estudo, deve-se ao fato de ser uma
área em que permanecem muitos desafios e dilemas, principalmente no que diz
respeito à formação de professores.
O objetivo da presente pesquisa foi o de analisar as relações entre os
princípios de inclusão social e educacional e as metas atribuídas pelo Governo
brasileiro aos cursos de formação de professores para atuar na Educação Básica, e
com a função social da escola brasileira, no período de 1988 a 2010.
A metodologia adotada foi o estudo da legislação educacional e de documentos
oficiais, de âmbito internacional e nacional, particularmente, aqueles direcionados à
formação de professores. No que diz respeito à inclusão educacional, o foco foi dado
às PD.
Os debates e as políticas educacionais, na atualidade, têm privilegiado temas
que representam novos desafios para a formação de professores, tais como, por
exemplo, «inclusão», «diversidade», «diferença», «justiça», «cidadania» e «direitos
1 Professora do Curso de Educação Física – Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão - CAPES
– Brasil – e-mail: lanafl2002@hotmail.com.
2Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade
(cultura, lazer, habitação, saúde, renda mínima, emprego, alimentação, educação) que
lhes assegurem uma vida digna na sociedade, por meio da concretização de seus
direitos, necessidades e potencialidades. É nessa perspectiva que a inclusão assume
centralidade no mundo contemporâneo, sendo assimilada pela linguagem da
legislação e do discurso político. Nos diferentes países, as concepções de inclusão
social e educacional têm sido adotadas como eixos norteadores das políticas públicas
no âmbito da cultura, da política e de práticas inclusivas nos sistemas de ensino.
A dimensão legal, contudo, não assegura direitos, especialmente, numa
realidade em que a educação da PD tem reduzida expressão política no contexto da
educação geral, reproduzindo talvez a pequena importância que se concede a esse
segmento social em nossas políticas sociais. Desse modo, se a legislação
fundamental já está dada, resta fazer cumpri-la. Incluir não se restringe apenas a
inserir uma criança ou jovem com deficiência numa escola ou sala do ensino regular,
conforme estabelecem as leis. É preciso que lhes seja assegurado, pelo menos, um
ambiente adequado para recebê-los e profissionais qualificados e aptos a exercer tal
função.
A formação de professores configura-se como a base para a inclusão das PD
na Educação Básica, nível de ensino considerado prioritário pela Conferência de
Jomtien (1990), no sentido de garantir a todas as pessoas, no mínimo, as
necessidades básicas de aprendizagem (NEBA).
Esta é a justificativa para centrar este estudo na formação de professores para
atuar na Educação Básica, junto aos alunos com deficiência. Apesar da existência de
muitos estudos sobre a inclusão e a formação de professores, em nível nacional e
internacional, as razões que levaram à rápida adoção de termos como «inclusão»,
«inclusão social e educacional», bem como sobre possibilidades de se concretizar a
escola inclusiva, ainda não foram suficientemente esclarecidas. Além disso, o estudo
de conceitos e princípios de «inclusão social e educacional», em seus aspectos
históricos, sociais, culturais e políticos, é fundamental à compreensão não só do que
está implícito na inserção da criança e do jovem com deficiência na escola regular,
como também nas metas e diretrizes para a formação inicial de professores.
A delimitação temporal deste estudo relaciona-se ao fato de que o movimento
de inclusão educacional se inicia nos países desenvolvidos na segunda metade dos
anos oitenta do século vinte, embora de forma incipiente. Toma impulso nos países
subdesenvolvidos na década de noventa do século passado e se fortalece em todos
os países nos primeiros dez anos do século XXI. A partir desse período, a
1252
todos os cidadãos consigam se apropriar do saber. Para que cumpra tal função,
alguns aspectos, que ainda se fazem presentes na realidade educacional brasileira,
precisam ser superados, para que a escola atue efetivamente na perspectiva inclusiva,
como por exemplo, a manutenção da exclusão por dentro de seus muros, por meio de
metodologias descontextualizadas e descompassadas, programações lineares,
temporalidade inflexível e categorias como de sucesso e insucesso, normalidade e
anormalidade, atraso e fracasso escolar.
Além desses aspectos, que acabam por dificultar uma efetiva implementação
da perspectiva inclusiva na escola, deve ser considerado o processo de formação de
professores que é considerado por pesquisadores como Glat e Ferreira (2003), Denari
(2006) e Freitas (2006) como um elemento que ainda não tem conseguido atender às
necessidades da escola inclusiva. Isto porque a formação inicial, ofertada na maioria
das IES brasileira, ainda segue um modelo tradicional, desatualizado e inadequado
para que possa suprir as necessidades da escola que atua na perspectiva inclusivista.
Mesmo existindo uma legislação que afirma a necessidade de que no processo de
formação desse profissional sejam garantidos conhecimentos acerca, por exemplo, da
PD, ainda são poucos os cursos que inseriram em seus currículos conteúdos,
disciplinas ou atividades que sobre o tema das pessoas com deficiência mesmo tendo
ocorrido uma série de reformulações curriculares nesses cursos, após a aprovação da
LDBEN de 1996 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de
professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de
graduação plena (2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos elementos que de certo modo dificultam efetivar a inclusão na
sociedade, e, em específico na escola, ao se pensar se há ou não a possibilidade da
instituição escolar (passando pelas instituições de ensino superior até as escolas de
educação básica e secundária) pode ser inclusiva numa sociedade extremamente
concentradora de riquezas que, por consequência, produz o desemprego, a miséria e
a exclusão, é possível afirmar que não se pode esperar que a escola consiga sozinha,
alcançar esse objetivo. Entretanto, compreendida como uma instituição democrática e
um espaço de disputas políticas, ela tem o papel desenvolver ações que contribuam
para uma mudança cultural na sociedade.
Além disso, há que se considerar que uma escola inclusiva numa sociedade
excludente e desigual sempre haverá processos de discriminação e exclusão que
estarão constantemente a ser refeitos. Porém, deve ser considerado que existem
1258
campos de atuação que contam com certa autonomia e abertura para que os
segmentos da sociedade reorientem, optem e façam política. No âmbito da sociedade
e, especificamente, da Educação não existe nunca uma determinação, pois os
processos sociais não são de determinação. Eles delimitam campos de ação e
recursos, mas há opções para a construção de novos espaços de ação.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O tema sexualidade começou a ser abordado nos anos vinte e trinta do século
XX, onde a maior preocupação da escola estava relacionada com a vida sexual dos
alunos. Sendo que esse tema sempre foi abordado com extrema dificuldade, tanto
pela sociedade quanto pelos professores. A escola, neste contexto, pode se mostrar
um ambiente tanto liberal quanto conservador, dificultando abordagens de temas desta
natureza. No entanto, nos anos de 1960 movimentos GLSs (Gays, Lésbicas e
Travestis) tomou força no sentido de contrapor o governo ditatorial e os preconceitos
éticos e raciais preconizados na época, produzindo discussões sobre o que a escola
deveria ou não ensinar sobre o tema (CÉSAR, 2010).
O tema gênero e sexualidade foram surgindo nas escolas a partir da
compreensão histórica e social do indivíduo, onde existe um padrão de conduta e de
comportamentos diferenciados para homens e mulheres ditados pela sociedade. E, os
movimentos feministas com cunho político, também, deram força a todas essas
discussões (SILVEIRA, 2010).
A mesma Autora acima citada, ainda defende que além da família, o professor
tem um papel importantíssimo na educação entre meninos e meninas. Por isso, deve
ter acesso a informações atuais e que impeçam ações de preconceitos, sexismo e
racismo, proporcionando então uma educação de qualidade a todos.
Para que possamos compreender melhor os passos trilhados nesta pesquisa,
consideramos necessário inicialmente definir o conceito de gênero, dentre tantas
definições encontradas na literatura. Vale ressaltar que a proposta é apresentar o
conceito e ao mesmo tempo, nos tópicos a seguir, apontar o que mais se adequa a
esta pesquisa. Para tanto, elucidamos que este trabalho visa em um primeiro
momento analisar como os conteúdos gênero, diversidade e homofobia são vistos
pelos futuros professores do ensino fundamental das séries iniciais.
1Profa. Adj. Dep. Biologia Geral – CCB – UEL, Metodologia e Prática de Ensino, Curso de Ciências
Biológicas – Licenciatura, silmara.sartoreto@uel.br
2Discente do Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura - UEL, Bolsita PIBID, paulavandal@hotmail.com
3Discente do Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura - UEL, Bolsita PIBID,
nathalyandreoli@hotmail.com
1260
CONCEITUANDO GÊNERO
De acordo com as diretrizes educacionais formuladas através dos movimentos
feministas vivenciados no século XIX, o conceito gênero foi utilizado para definir o
sexo biológico contrapondo os termos “sexo” e “diferença sexual”, distinguindo a
dimensão biológica da dimensão sexual e, acentuando através da linguagem, o
caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo (SCOTT, 1995
apud SILVEIRA, 2010).
Assim, a definição de gênero deriva da construção social do sexo anatômico
demarcando que homens e mulheres são produtos da realidade social e sua definição
sexual não deve ser pontuada pela anatomia dos seus corpos (SILVEIRA, 2010).
Com a intenção de pontuar as diferenças entre homens e mulheres não apenas
pelas características físicas e biológicas, o termo gênero passa a ser utilizado para
demarcar as construções socioculturais em que estão inseridos (LOURO, 1997;
BRAGA, 2007 apud NOGUEIRA, FELIPE; TERUYA, 2008).
A diferença biológica é apenas o ponto de partida para a construção social do
que é ser homem ou mulher. O sexo é atribuído ao biológico enquanto gênero e é uma
construção social e histórica do indivíduo. A noção de gênero aponta para dimensões
entre as relações sociais do feminino e do masculino (BRAGA, 2007 apud
NOGUEIRA, FELIPE; TERUYA, 2008).
Corroborando com as ideias de Henriques et al (2007), utilizaremos o termo
gênero não se referindo somente a macho ou fêmea, mas de masculino e feminino,
nas suas diversas dinâmicas. Gênero, portanto, remete a construções sociais,
históricas, culturais e políticas que dizem respeito a disputas materiais e simbólicas
que envolvem processos constituição de identidades, definições de papéis e funções
sociais, construções e desconstruções de representações e imagens do indivíduo.
Existe um padrão de conduta e de comportamentos diferenciados, que foram
construídos social e historicamente, para meninos e meninas, homens e mulheres.
Aos homens, cabe o papel de provedores de seus lares, agressivos, fortes. Às
mulheres, o cuidado com o lar, com a reprodução, e com a educação de seus filhos e
filhas. Esses padrões de comportamento pautam-se em argumentos biológicos que
acabam por reproduzir desigualdades sociais relevantes entre os diferentes sexos
(SILVEIRA, 2010).
Ao identificarmos e reproduzirmos atividades e adjetivos diferenciados para
homens e mulheres, estamos construindo um gênero. Essa construção possui marcas
culturais, pois depende da sociedade na qual estamos inseridos, tais como a família e
1261
mental, é um ato real e complexo de pensamento que não pode ser ensinado por meio
de treinamento, só podendo ser realizado quando o próprio desenvolvimento mental
da criança já tiver atingido o nível necessário (PARANÁ, 2010).
O governo estadual possui vários programas que potencializam essas
discussões. Existe um núcleo de gênero e diversidade sexual que disponibiliza um
caderno contendo todos os dados necessários para uma efetiva transmissão de
conhecimentos, sugerindo inclusive a maior participação dos pais e familiares na
abordagem desse assunto e que está disponível aos professores da educação básica
(DIGIOVANNI, 2009).
É comum entre os profissionais da área educacional um posicionamento de
neutralidade sobre o tema. E isso pode ser justificado pela falta de conhecimento, por
fatores sociais ou por esse tema ter o poder de influenciar na vida dos alunos
causando um desconforto por parte dos professores em abordar assuntos
relacionados.
No entanto, de acordo com Louro (1997) é indispensável que reconheçamos
que a escola não apenas reproduz ou reflete as concepções de gênero e sexualidade
que circulam na sociedade, mas ela própria as produz.
A escola ao mesmo tempo é um local onde o conhecimento é disseminado,
também pode ser produtora de desigualdades sociais. Nesse sentido, Furlani (2007)
afirma que em meio a disputas e relações de poder, as muitas instituições sociais,
usando de seus discursos normativos, posicionam certos saberes como hegemônicos,
muitas vezes transformando a diferença do outro em desigualdade social.
A Educação, a Pedagogia e o Currículo devem ser considerados campos de
luta e conflito simbólico, como arenas contestadas na busca da imposição de
significados e da hegemonia cultural (FURLANI, 2007).
O governo federal também expõe as suas proposições para melhorar a
inserção desse tema nas escolas, do mesmo modo que o Governo do Estado do
Paraná, através da distribuição de cadernos informativos.
Os temas abordados são gênero, sexualidade e diversidade sexual, também
voltado para educadores e gestores educacionais. Estes são analisados do ponto de
vista da inclusão social e da sustentabilidade por meio de uma educação de qualidade
a todos. Para isso, pressupõe que: i) a qualidade só é possível se houver eqüidade –
isto é, se a escola atender a todos na medida em que cada um precisa; e ii) todas as
pessoas têm direito de retornar à escola ao longo de sua vida, seja para complementar
1264
Por fim, convém ressaltar que a escola tem duas grandes tarefas: a
alfabetização científica e a socialização das crianças e dos adolescentes. As políticas
de promoção da diversidade sexual e da equidade de gênero não são políticas para
minorias nas escolas. Em outras palavras, elas não são feitas apenas para os meninos
afeminados ou mais sensíveis, para as meninas que gostam de outras meninas, para
os meninos e as meninas que optam por modos transexuais. Existe uma vinculação
clara entre o respeito à diferença sexual e de gênero e a qualidade na aprendizagem
escolar, pois políticas de equidade promovem um ambiente escolar mais sadio para
todos e todas, diminuindo preconceitos e situações de baixa autoestima que
potencialmente podem afetar qualquer aluno, pois temos atributos pessoais que
podem nos tornar alvo de estigma, gerando tensão social, que diminui as chances de
rendimento escolar (SEFFNER, 2011).
Percurso metodológico
Esta pesquisa, de cunho qualitativo, segundo Gil (1991), não segue uma
sequencia rígida na coleta e analise dos dados onde no decorrer do desenvolvimento
da pesquisa, podem originar outros dados podendo também ser utilizada como uma
pesquisa de caráter diagnóstico.
A pesquisa qualitativa se utiliza de um ambiente natural e tem o professor
(pesquisador) como principal instrumento de coleta das informações. Os dados são
descritivos e o processo se torna mais importante do que o produto, já que o
significado que as pessoas atribuem as coisas deve ser levado em consideração pelo
pesquisador e a analise dos dados deve ser indutiva (TRIVIÑOS,1987 apud OLIVEIRA
2008).
O planejamento da pesquisa qualitativa pode ser alterado, negociado, entre o
pesquisador e seus sujeitos ao longo de todo o processo. Porém, Gil (1991) define 9
fases para o seu desenvolvimento. São elas:
1) Fase exploratória: é a preparação para iniciar a pesquisa. O campo de
coleta deve ser investigado, assim como o interesse dos sujeitos.
Discussões devem ocorrer com os envolvidos na pesquisa;
2) Formulação do problema: como a pesquisa qualitativa não se restringe a
solução de problemas práticos, este deve ser decidido com precisão;
3) Construção de hipóteses: devem ser claras e concisas, passiveis de
investigação;
4) Realização do seminário: onde as diretrizes do trabalho são definidas com
o apoio dos participantes;
1266
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Professor D - “Hoje em dia a sexualidade no mundo está muito comum, ninguém tem mais
respeito com ninguém..”
O professor B relaciona gênero com homossexualidade, conforme podemos
identificar no trecho a seguir.
Professor B -“Atualmente está cada vez mais comum esse gênero na sociedade”.
Todos os professores mencionam que a homossexualidade é um tema muito
atual na sociedade, assim como o preconceito e a discriminação. Porém, esses dois
últimos não devem existir, já que defendem o direto de todos os indivíduos de ir e vir e
de se relacionar com quaisquer indivíduos. Verificamos estas afirmações nos trechos a
seguir.
1268
Professor B - “... pois cada um é livre para fazer o que quiser e a sociedade não pode
discriminar. Temos que conviver com as diferenças, como os homossexuais...”
Professor A - “Atualmente está mais comum a relação homossexual, mas ainda, infelizmente,
não estamos preparados para aceitar. O preconceito ainda existe”.
Professor C - “Hoje nós devemos respeitar as diferenças, os sentimentos alheios, sendo cada
vez mais comum na sociedade. Mas não estamos totalmente preparados para essas situações
de homossexualidade”.
Professor A - “Na verdade não entendi a pergunta, e não sei o que é gênero nas ciências...”
No Grupo II, o tema a ser abordado se refere à gênero com enfoque nas
relações sociais dos indivíduos. Os itens a serem analisados foram os mesmos.
Professor B - “Em minha opinião, a traição naquela época era coisa de outro mundo. As
mulheres não podiam trair de forma alguma. ”
Para o desenvolvimento desta atividade, três professores não conseguiram
compreender a pergunta.
Professor E - “Na verdade não entendi a pergunta, e nem qual a relação com as ciências. ”
Professor F - “Não entendi a pergunta, e nem o que tem a ver com ciências. ”
Professor I - “Não entendi a pergunta e não sei o que é gênero. ”
Além desse dado importante, identificamos que dos 9 professores que
participaram desta atividade, 4 citaram termos que não tinham relação com o tema
aqui proposto tais como: traição, violência, comportamento extremo e vingança.
Professor G - “Eu acho que nessa situação o comportamento das pessoas chegou ao extremo,
mas não podemos julgar. ”
Professor H - “Há violência e vingança. E isso gera atitudes violentas..”
Professor D - “Trata de violência, traição. ”
Relação do tema com as ciências
1269
Professor A -“... No meu ver o vídeo pode ser relacionar com as ciências no modo da
reprodução humana. ”
REFERENCIAS
CÉSAR, M. R. A. Gênero, sexualidade e educação. In: SECRETARIA DE ESTADO DA
EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Gênero e Diversidade
Sexual. 2010. Disponível em
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/diretriz genero_
diversidade.pdf. Acesso em: 17 ago. 2012.
DIGIOVANNI, A. M. P. A sexualidade na rede estadual de ensino. In: SECRETARIA
DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Sexualidade. Curitiba: SEED – Pr., 2009.
Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_
tematicos/sexualidade.pdf Acesso em: 17ago.2012.
FURLANI, J. Gêneros e sexualidades no discurso religioso: um exercício
desconstrutivo para Educação Sexual. 2007. Disponível em
http://pt.scribd.com/doc/55489362/Generos-e-Sexual-Ida-Des-Jimena-Furlani Acesso
em: 17 ago.2012.
1270
GIL, A. C.Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1991.
HENRIQUES, R. et al, Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer
diferenças e superar preconceitos. Caderno Secad, Ministério da Educaçao, 2007.
Disponível
em:http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000015505.pdf.Acesso em:
17 ago. 2012.
LOURO, L. G. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes 1997,
NOGUEIRA, J. K.; FELIPE, D. A.; TERUYA, T. K. Conceitos de gênero, etnia e raça:
reflexões sobre a diversidade cultural na educação escolar, 2008. Disponível
em:http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST1/Nogueira-Felipe-Teruya_01.pdf.
Acesso em: 18 maio 2012.
OLIVEIRA, S. S.; Perspectivas de professores dos anos iniciais do ensino
fundamental quanto a sua formação em serviço. Tese (doutorado) Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, Bauru, 2008, 204 p.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educacao Básica, 2010. Disponivel em
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_cien.pdfAcesso
em: em 17 ago. 2012.
RODRIGUES, E., ROSIN, S. M.(Orgs). Infância e práticas educativas. Maringá – Pr.
EDUEM. 2007,
SEFFNER, F. Um bocado de sexo, pouco giz, quase nada de apagador e muitas
provas: cenas escolares envolvendo questões de gênero e sexualidade. Rev. Estud.
Fem. [online]. 2011, v.19, n.2, p. 561-572. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2011000200017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 ago.2012.
SILVEIRA, V. T. Diretrizes Curriculares de Gênero e Diversidade Sexual da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2010 p. 8 e 20 a 29. Disponível em
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/diretriz_genero_diversi
dade.pdf. Acesso em: 18 maio 2012.
SOUSA FILHO, Alípio de. Homossexualidade e Preconceito. 2003. Disponível em:
<http:// www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08/262050.shtml>. Acesso em: 18
abr. 2012
SOUZA, L. C. A.; DINIS, N. F. Discursos sobre homossexualidade e gênero na
formação docente em biologia. Pro-Posições. 2010, v.21, n.3, p. 119-134 . Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
73072010000300008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 ago.2012.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução á pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
1271
Thais Machado4
Rodolfo Langhi 5
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Utilizamos os procedimentos da Análise de Conteúdo como fundamentação
metodológica de análise dos dados levantados mediante a revisão bibliográfica da
área acerca do tema principal deste estudo. A análise de conteúdo (BARDIN, 2000),
se presta de um conjunto de técnicas para verificar se a mensagem recebida por uma
1273
DISCUSSÃO
As revistas analisadas que apresentaram artigos com os termos de interesse
em nosso levantamento encontram-se elencadas na quadro 1, onde também indica a
frequência com que os artigos aparecem para cada categoria, sendo FP: Formação de
Professores, AD: Autonomia Docente, EA: Educação em Astronomia, NF: Educação
Não-Formal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo, Portugal: Edições 70, 225 p., 2000.
BARROS S. G. La Astronomía en textos escolares de educación primaria. Enseñanza
de las Ciencias, v.15, n.2, p.225-232, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares
Nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEMTEC, 1997.
1278
INTRODUÇÃO
Assim sendo, este trabalho tem como objetivo levantar a concepção a respeito
do estágio supervisionado da Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Viçosa (UFV) entre os professores supervisores de estagiários nas escolas
de ensino básico campo de estágio.
METODOLOGIA
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 11 professores de quatro
escolas públicas da cidade de Viçosa, Minas Gerais. Esses professores foram
escolhidos por terem sido supervisores do estágio supervisionado do curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa entre 2009 a
2012.
As entrevistas foram feitas por meio do gravador digital sob a permissão dos
entrevistados. Dentre outras questões, os professores responderam à pergunta: “O
que é o estágio supervisionado pra você?”.
Após sua transcrição, foram submetidas a uma análise de conteúdo. Foi
realizada uma categorização aberta, pela qual as unidades de registro presentes nos
discursos dos sujeitos pesquisados vão surgindo e sendo agrupadas de acordo com a
sua frequência de aparição nos mesmos, estabelecendo-se as categorias (BARDIN,
1977).
Por ser uma pesquisa anônima, os professores serão identificados apenas por
letras do alfabeto maiúsculas e em negrito (A-K).
RESULTADOS
Para facilitar sua visualização, os resultados serão apresentados na Tabela 1 a
seguir. Foram encontradas 31 unidades de registro nos discursos dos sujeitos
pesquisados e estas agrupadas em sete categorias de concepção de estágio
supervisionado, sendo a categoria de maior frequência a denominada Prévia (54%).
1281
DISCUSSÃO
Foram identificadas sete categorias para o tema concepção de estágio
supervisionado entre os 11 professores participantes da pesquisa. Cada categoria
será descrita a seguir.
Dele [o estagiário] saber como que desenvolve uma escola, quais são os fazeres da escola
(Professora B).
É oportunidade que eu acho que eles [os estagiários] têm e que é importante, que realmente
eles vivenciam o dia a dia da escola. [...]. Às vezes a gente fica vendo a escola de uma forma
diferente, a gente fica imaginando de uma forma diferente. Quando a gente chega numa sala
de aula, no início, a gente não está preparado para isso. Não está. É muito distante. Às vezes
até, igual eu estou te falando, que esses meninos com esses termos diferentes, o nível, até
onde eu posso ir com os alunos, a gente tem essas dificuldades todas. E os estagiários eles já
vivenciam um pouquinho dessa realidade. Por isso que eu falo que eles têm contato com a
escola, que eles estão dentro da escola acompanhando uma turma durante um tempo. Não
1282
vou falar que vão sair daqui experientes, mas eles tiveram esse contato, que eu não tive
(Professora E).
E geralmente quando eles vêm pra poder fazer o estágio, primeiro eles passam por uma
observação. Eles sentam na sala de aula, observam eu dar aula, como é que eu dou a aula,
entendeu? Até aonde você pode aprofundar, até onde vai o aprendizado dos meninos, então
isso tudo (Professora I).
Esse último depoimento da professora I encaixa-se no primeiro de três modelos
de concepção de estágio supervisionado identificados por Pimenta & Lima (2011). Na
primeira concepção identificada pelas autoras- Imitação de modelos- a atividade do
estágio supervisionado é descontextualizada da realidade escolar. O estagiário tem
sua ação restrita à sala de aula, à observação do professor e a imitação do seu
modelo de aula, sem uma contribuição transformadora da atividade de ensino
aprendizagem e sem reflexão sobre a mesma. E assim, “sem proceder a uma análise
crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino
se processa” (PIMENTA; LIMA, 2011, p. 36).
Eu acho que é uma contribuição que você dá na formação desse profissional. Então eu quero
que ele saia com uma boa impressão da sala de aula, da escola, da instituição e da
responsabilidade. Tá certo? Que ele tem que desempenhar caso ele venha seguir essa
profissão (Professora B).
Ah, porque eles vão ser futuros profissionais, então seria um preliminar do que eles vão
encontrar pela frente, né? [...] Eu acho que ele tem que por em mente que eu vou ser um futuro
profissional, e ele tem que agir como profissional dentro da escola que ele está estagiando.
Que o estágio é para isso, né? É uma prévia do que vai ser sua vida, dali pra frente, porque
ele, eu já considero estagiário como profissional, porque ele já tá em etapa final do curso
(Professora C).
Aí você vai conseguir realmente ver se você quer seguir a profissão de professor porque é
nessa hora que você é lançado no desafio. Se você gosta, você vai ficar. Se você não gosta,
você vai partir para outra. [...] (Professora D).
O significado que os professores dão à palavra prática pode variar. Teria sido
revelador e complementar, averiguar qual é a concepção de prática dos entrevistados.
Entretanto, é possível perceber que prática pode ser interpretada como a atividade
empírica, o manejo de sala de aula diário, a didática que o professor desenvolve na
sua atividade de ensino aprendizagem, a execução do que foi aprendido na teoria, os
fazeres escolares.
Dessa forma, é possível observar que os professores das escolas percebem a
cisão entre a teoria, apreendida na universidade e muitas vezes desconectada da
realidade escolar, e a prática, adquirida na vivência da escola.
Acho que essa parte é a parte que a pessoa tem que gostar mais, que é a parte prática. Você
não tem que ficar decorando nome de nenhum psicólogo, de ninguém. Aquilo ali é o que você
vê no dia a dia, é o fazer mesmo. São os fazeres escolares. E que deveriam ser interessantes,
né? Não sei porque que não são. [...] É a mão na massa (Professora B).
Isso não se aprende em livro, se aprende na prática (Professora B).
[...] o estagiário quando chega aqui, ele vai mostrar aquilo que ele aprendeu, que foi mostrado
pra ele dentro da universidade, certo? (Professora I).
Essa visão dicotômica na formação de professores está presente na maioria
das instituições de ensino superior brasileiras (PIMENTA; LIMA, 2011). O reflexo disso
está na estruturação dos cursos das licenciaturas nas universidades, onde há uma
concentração das disciplinas tidas como puramente teóricas no início do curso e a
prática, geralmente atribuída às práticas de ensino e aos estágios supervisionados
presentes apenas nos dois últimos anos do mesmo (PIMENTA, 2006). Assim,
TROCA
O Estágio é visto como uma via de mão dupla, sendo importante na formação
do estagiário e também para o trabalho e autoconhecimento do professor,
representando uma contribuição de recurso pessoal, didático e material para a escola.
Essa concepção tem implícito um significado valorativo para o estágio: um caráter
positivo e de reciprocidade.
Ah, para mim acaba sendo uma maneira de discutir essa prática de escola. Porque eles vêm
atrás querendo escutar minha experiência e eu acabo também escutando um pouco da teoria
que eles trazem. E ai discutindo isso, discutindo a situação, e ai às vezes, quando eu passo a
experiência pra eles, eu acabo também me analisando e tentando ver tantas falhas, coisas que
devem ser melhoradas. Se for resumir diria que é uma troca. Uma troca da experiência pela
teoria, né? Que os estagiários trazem. (Professor A).
Tanto é bom pra escola quanto é bom para pessoa que está estagiando, né? Porque é mais
uma fonte de pessoal que você tem. Dá um gás novo na escola, porque a pessoa traz novas
ideias. Você também lembra da época em que você fazia aquele estágio. Então é legal. Eu
acho bem proveitoso (Professora B).
Esta categoria é a única com o foco na relação criada durante o estágio e não
apenas no estagiário, como acontece nas demais categorias. Por esta razão,
considera-se que seja uma concepção de estágio mais elaborada do que as outras por
visualizar no estágio também uma forma de contribuição para a atividade do professor
e para a escola, não sendo unicamente importante para a formação do estagiário.
Baseando-se em Canário (2001), para que os professores desenvolvam esta
concepção de estágio se faz necessário que enxerguem o estagiário como produtor de
saber, assim como a si próprios. Sendo assim, de acordo com a concepção de estágio
como Troca:
Porque você sabe que na teoria lá, você não tem nada de real, né? Você vai pra prática sem
ter [conhecimento], às vezes depois que você assume uma sala de aula, que você vê
realmente o que é uma sala. Porque o estágio não te dá toda essa bagagem, talvez, que a
gente precisaria (Professora G).
Agora, em questão de conteúdo, tudo bem, ele [o estagiário] está preparado. Mas na questão
das matérias didáticas, o que a gente aprende de didática, de psicologia, na universidade, na
hora que você vem pra realidade dentro da sala de aula, é completamente diferente. Então eu
acho que eles estranham na hora que eles pegam essa realidade, que eles entram dentro (sic)
de uma sala de aula e vê realmente, aquela didática que ele aprendeu lá vai funcionar dentro
da sala de aula? Ou a didática que você vai com o tempo adquirindo, que você vai
conseguindo trabalhar? Então eu acho que eles têm essa dificuldade na didática. Porque a
didática, a gente aprende uma coisa, a teoria é uma coisa, a prática é outra. A prática dentro
da sala de aula é outra, com o aluno. Então eu acho que esse déficit da universidade também
acontece. Eu senti isso também e sinto que eles sentem isso, na hora que eles entram dentro
da (sic) sala de aula, sabe?(Professora I)[grifos nossos].
Para falar a verdade, na teoria acho que eles não ensinam a dar aula, vivem em outro mundo.
É na prática mesmo. Aquelas professoras lá [do departamento de Educação da UFV] nunca
tinham ido numa sala de aula, chega na prática, desmonta tudo (Professora J).
Juntamente com algumas unidades de registro pertencentes às categorias
Troca e Contato, esta categoria foi relacionada com o terceiro tipo de concepção
identificado por Pimenta; Lima (2011), denominada Atividade teórica e aproximação da
realidade.De acordo com as autoras, esta concepção de estágio supervisionado é
mais elaborada, pois traz a ideia de que o estágio não é apenas uma vivência prática
para o estagiário, mas também uma atividade de reflexão e de transformação sobre o
contexto escolar e do ensino.
Dessa forma, não há uma cisão entre teoria e prática na atividade do estágio.
Nos discursos dos professores essa concepção pôde ser identificada 13 vezes (42%).
Para mim é que é curricular, tem um professor que é responsável deles lá na universidade, e
eles tem que cumprir exigências do curso, né? Então por isso que eles passam por esse
estágio (Professora C).
Acredita-se que essa significação que a professora C apresenta seja muito
superficial. Interpreta-se o fato de ela ter essa concepção por não possuir um contato
1287
aprofundado com o estágio ainda, sendo esta a primeira vez que supervisiona
estagiários do curso em questão. Entretanto, essa pode ser uma interpretação
errônea, pois o professor A também supervisor por primeira vez apresenta uma
concepção de estágio como Troca, sendo esta concepção considerada aqui como a
mais elaborada.
Outra possível explicação para o depoimento da professora C pode ser a tentativa da
UFV e do Ministério da Educação de regulamentar os estágios supervisionados.
Durante esse processo, os professores das escolas acabam sendo envolvidos e
recebem, por meio de documentos, a regulamentação dos papéis dos diferentes
envolvidos no estágio. Talvez, a professora C tenha remetido o conceito literal do
estágio supervisionado ao qual ela tem contato por meio desses documentos.
Porque é muito fácil eu chegar lá na sua sala e falar assim: "Olha, pô, a escola é uma bagunça,
professor não dá conta, ele só reclama do salário ele só fala que não tem estrutura", mas para
quem fica aqui no dia a dia sabe que não é bem assim. Que tem gente que ama o trabalho,
que corre atrás, que às vezes lida com os próprios recursos que tem, não lança mão dos
recursos da escola. E felizmente, as pessoas que a gente tem recebido nesses dois últimos
anos, elas tem podido ver essa realidade tal como ela é e visto principalmente a carência dos
nossos alunos, que a gente tem e todo o grupamento de causas que desmotivam o ensino,
vamos dizer assim (Professora F).
Eu penso que esse estágio supervisionado é para dar uma visão para o aluno de como é o
ensino, para ter uma ideia, dar uma visão de como é para o aluno o ensino público [...]
(Professora J).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1289
INTRODUÇÃO
O sistema educacional está em crise, a má qualidade da educação é
preocupante, tornando-se foco de muitas pesquisas (BIZZO, 1991). Para Schnetzler,
(2002) o primeiro passo para solucionar os problemas da atual crise é verificar a
qualidade da formação inicial dos professores.
Atualmente, a questão da formação de professores tem ocupado um papel de
destaque nas discussões políticas e educacionais brasileiras, sendo alvo de muitas
investigações científicas (IMBERNÓN, 2000; PIMENTA, 1994; GARCÍA 1999;
MIZUKAMI et al, 2002; FACCI, 2004; TARDIF, 2002). A análise dessas pesquisas
mostra que os atuais cursos de formação inicial apresentam grandes limitações, no
que tange a sua contribuição para a formação de um professor que seja um
profissional competente, criativo e autônomo (ABIB, 2002).
O Ministério da Educação e Cultura - MEC propõe um modelo em formação
que tem por base uma reflexão do professorado sobre a prática docente, que lhe
permita repensar sua teoria implícita do ensino, os seus esquemas básicos de
funcionamento e as próprias atitudes. Segundo Garcia, (1992) esta afirmação introduz
a concepção de uma formação onde se destaca o valor da prática como elemento de
análise e reflexão do professor. Neste sentido, a formação de professores deve
proporcionar situações que possibilitem a reflexão e a tomada de consciência das
limitações sociais, culturais e ideológicas da própria profissão docente (GIMENO,
1990).
As novas diretrizes do Ministério da Educação sobre Formação de Professores
para a Educação Básica (MEC, 2001) convocam os formadores de professores a
refletirem sobre dois aspectos: tornar a formação inicial de professores um efetivo
projeto coletivo, capaz de envolver a instituição formadora e o conjunto de formadores,
e estabelecer uma parceria com a escola, na qual estagiários, professores e
METODOLOGIA
No presente trabalho o método de pesquisa adotado é o qualitativo, que se
preocupa com a análise dos fenômenos.
1292
DISCUSSÃO
As entrevistas foram integralmente transcritas e categorizadas a fim de facilitar
a análise.
As categorias (unidades de significado) que foram elencadas nas respostas
foram as seguintes: “Características necessárias para aplicar a proposta investigativa”;
“Dificuldade de implementação da proposta”; “Conhecimento a ser adquirido para
utilização da proposta”; “Contribuição do método investigativo para os alunos”; “Até
que ponto o minicurso proposto foi investigativo”.
1293
abordagem dos licenciandos, mostrando ter construído algum conhecimento que foi
constatado através de avaliação.
De maneira geral, a avaliação dos licenciandos a respeito das contribuições da
investigação para os alunos foi positiva, mostrando que apesar das dificuldades
encontradas na sua implementação, a proposta é considerada eficiente por parte dos
futuros professores.
Finalmente, os licenciandos foram questionados até que ponto eles
consideravam seus minicursos fiéis a proposta investigativa e as respostas foram: Não
conseguiram aplicar a metodologia e foi investigativa todo o tempo.
A maioria dos licenciandos reconheceram a falta de preparo para implementar
a proposta. Apesar disso alguns destes conseguiram em algum momento desenvolver
a metodologia, desempenhando seu papel como guias do conhecimento. Mesmo a
pouca experiência com a proposta, o que já se esperava, pois a vivencia e aplicação
das atividades se limitaram à elaboração e aplicação dos minicursos, os licenciandos
em algum momento, mesmo raros, conseguiram implementar uma proposta
investigativa, pois agiram como guias na atividade experimental, promovendo o
protagonismo dos alunos.
Já outros, afirmaram ter conseguido aplicar a metodologia com sucesso. Porém
isso não pôde ser observado durante o minicurso, pois o discurso dos licenciandos
não confere com a prática levada a termo na aplicação da propostaem todos os casos.
Isso mostra que os licenciandos não conseguem avaliar a própria prática, não se
mostrando capazes de refletir sobre a própria prática.
Apesar de a proposta vivenciada favorecer a reflexão dos sujeitos, esta se
mostra ainda distante da realidade dos licenciandos o que faz com que se acredite ser
a reflexão sobre a prática um objetivo que para ser alcançado, necessite de
investimentos a mais longo prazo.
Muitos equívocos podem ser identificados através da posterior análise dessas
questões. Destes, os mais evidentes e relevantes para este trabalho são: os
licenciandos demostram terem domínio conceitual acerca da metodologia
investigativa, porém afirmam que não conseguiram aplicá-la com sucesso, enquanto
que outros demostram falta de embasamento teórico, contudo afirmam erroneamente
terem conseguido aplicar a metodologia.
Os equívocos dos licenciandos servem de indicador para que as práticas
formadoras produzam atividades diferenciadas, com sólido embasamento teórico, bem
fundamentadas, aplicando estas atividades em todo o processo de formação, não
1295
somente nas disciplinas pedagógicas, mas no currículo como um todo. A partir daí, os
licenciandos reconhecem as possibilidades que essas práticas podem oferecer e ao
tomar conhecimento delas entram em um processo de reflexão sobre sua aplicação no
ensino (CUNHA, 2009). Por meio desta reflexão sobre a própria prática enquanto
docente, o profissional desenvolve seu conhecimento profissional (CAÑAL,
POZUELOS E TRAVÉ, 2005).
Os registros de vídeo utilizados foram dos minicursos intitulados: Propriedades
Gerais das substâncias e Forças intermoleculares. Primeiramente foi analisado o
minicurso propriedades gerais das substâncias, seguindo como critérios a verificação
das perguntas feitas nas entrevistas, identificando assim confirmações ou contradições
entre eles. Neste minicurso foram abordados os subtemas densidade, ponto de
ebulição, ponto de fusão.
No início os licenciandos levantaram algumas questões relacionadas com o
cotidiano, envolvendo o conteúdo, a fim de verificar o conhecimento prévio dos alunos.
Isto concorda com suas respostas à entrevista, pois a grande maioria enfatizou a ideia
da necessidade deste levantamento. A abordagem do assunto propriamente dita não
se iniciou com uma única questão problematizadora, mas com várias perguntas de
acordo com os subtemas, pois segundo relataram, não conseguiram fazer interligação
dos assuntos.
Concordamos com a visão de Schnetzler (1995), que enfatiza que o professor
deve identificar no aluno suas concepções prévias sobre o conteúdo que está sendo
abordado. Então, em função dessas concepções deve planejar desenvolver e avaliar
as atividades que levem a uma evolução conceitual nos estudantes em direção aos
conceitos cientificamente aceitos, atuando assim como um professor pesquisador.
Seguiu-se propondo alguns experimentos que funcionaram como uma
problematização, sendo que todos eles foram elaborados pelos licenciandos. Porém o
desempenho como guias desses experimentos foi falho, pois as perguntas feitas eram
imediatamente respondidas, não favorecendo a construção do conhecimento do aluno.
Assim o aluno não encontrava tempo para levantar suas próprias hipóteses sobre o
fenômeno em estudo.
De acordo com Zuliani, 2006 quando os alunos são submetidos à proposta de
investigação, e conseguem caminhar de maneira autônoma, sem que o professor
interfira antecipando as respostas, percebem que sua aprendizagem se torna
independente das respostas do professor, e que eles podem buscar as respostas,
ainda que esbarrem em alguma habilidade ou conceito.
1296
CONSIDERAÇÃO FINAL
Com a presente pesquisa foi possível averiguar quais as concepções dos
alunos a respeito da metodologia investigativa e como isto de refletiu em sua prática,
na disciplina Estágio Supervisionado em Ensino de Química II.
Os aspectos mais evidentes que puderam ser observados, analisando-se
entrevista, a observação realizada em aula e a gravação em vídeo estão listados a
seguir:
- Há um grande desinteresse por parte dos licenciandos em relação às
disciplinas pedagógicas.
- Os licenciandos não conseguem reconhecer as próprias dificuldades
pedagógicas e didáticas.
- Possuem apenas embasamento teórico e pouco domínio da prática.
- Os licenciandos não interligam teoria pedagógica a prática docente.
- E por fim, não conseguem elaborar e aplicar atividades totalmente
investigativas.
De maneira geral, muitas contradições entre entrevista e observação puderam
ser detectadas.
Foi possível identificar nos licenciandos a falta de experiência com a prática
docente, bem como um desinteresse geral por ela. Parece-nos que isso pode estar
relacionado principalmente ao desequilíbrio na distribuição das disciplinas
pedagógicas nos cursos de formação (o que acontece no curso a que estes
licenciandos estão vinculados), que acabam por adiá-las para o último ano do curso,
1297
REFERÊNCIAS
ABIB, M.L.V.S. A contribuição da prática de ensino na formação inicial de professores
de Física. In: DALVA, E.;. et al (Orgs.) Didática e práticas de ensino: interfaces com
diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
AZEVEDO, M. C. P. S. Ensino por investigação: problematizando as atividades em
sala de aula. In: CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de ciências: unindo a pesquisa
e a prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, p. 19-33, 2004.
BIZZO, N.M.V Metodologia do ensino de ciências: a aproximação do estudante do
magistério das aulas de ciência no 1º grau. In: PICONEZ, S. B. A prática de ensino e
o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 1991.
CAÑAL, P. et al. Proyecto Curricular Investigando Nuestro Mundo (6-12).
Descripción General y Fundamentos. Sevilla: Díada, 2005.
CAÑAL, P. et al. Investigar en la escuela: elementos para una enseñanza alternativa.
Sevilla: Díada Editora, 1997.
1298
INTRODUÇÃO
O homem é um ser existente para ser feliz, para a busca do bem-estar que só
compactua com os interesses sociais, com as necessidades da cidade, enfim com a
própria natureza da pólis. O homem é, pois, um animal político.
É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que
o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em
sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer
circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um vil ou
superior ao homem. (ARISTÓTELES, 2006, p.12).
Por assim refletir, compreende-se que a Política se configura como uma ação
de realização do ser humano, em que o Bem Comum é um aspecto muito mais
profundo do que o Bem Individual, haja vista que o anseio último do ser humano –
buscado em si mesmo e não em relação a outra coisa (a Felicidade) – só se
concretizará na Pólis, que é o espaço coletivo dos indivíduos. E é nesta coletividade
que os indivíduos são formados pelo processo educativo existente em cada época e a
escola é sua célula edificadora.
Por assim dizer, a escola cumpre sua função social ao desenvolver o processo
educativo. E a presença do professor solidifica as estruturas democráticas através do
cumprimento das legislações e, quando necessário em seu exercício deontológico,
questioná-las, propondo-lhes alternativas.
A legislação regula a educação fixando-lhe seus objetivos e suas diretrizes no
delineamento de propostas da sociedade para si mesma. É o corpo social que deve
protagonizar as legislações. Caso contrário, deixa de ter utilidade pública e passa a ter
caráter oligárquico ou tirânico. Desta forma, a educação deve ser a prática da virtude
que o homem desenvolve em si e a exterioriza com o outro, na cidade e para a cidade.
Este olhar apresentado por Aristóteles fundamenta os Parâmetros Curriculares
Nacionais.
1302
[...] a legislação deve regular a educação e que esta deve ser obra da
cidade. Não se deve deixar no esquecimento qual deve ser a
educação e como se há de educar. Nos tempos modernos, as
opiniões sobre este tema diferem. Não há acordo sobre o que os
jovens devem aprender, nem no que se refere à virtude nem quanto
ao necessário para uma vida melhor. Tampouco está claro se a
educação deveria preocupar-se mais com a formação do intelecto ou
do caráter. Do ponto de vista do sistema educativo atual, a
investigação é confusa e não há certeza alguma sobre se devem ser
praticadas as disciplinas úteis para a vida ou as que tendem à virtude,
ou as que se sobressaem do ordinário (pois todas elas têm seus
partidários). No que diz respeito aos meios que conduzem à virtude,
não há acordo nenhum (de fato não honram, todos, a mesma virtude,
de modo que diferem logicamente também sobre seu exercício).
(ARISTÓTELES apud BRASIL, PCNs, p.48).
romper com o modelo hegemônico em curto prazo. Para tanto, a Lei 9394/96 orienta
que:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:[...]
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
2Por modelo neoliberal compreende-se o reducionismo atual que atinge às esferas sociais (públicas e
privadas) de interesse público – dentre elas a educação – que condiciona o foco de gestão e das práticas
profissionais ao interesse mercadológico, de busca/reconhecimento de status empresarial frente às
efêmeras demandas sociais.
1307
REFERÊNCIAS
1309
INTRODUÇÃO
Nos cursos regulares de graduação, um considerável montante de conteúdos é
exposto no seu decurso e, salvo poucos momentos, o estágio curricular é a única
oportunidade que o graduando tem de experimentar a sua habilidade de elencar
determinado tema dentre aqueles que ele considera importante para os alunos da
Educação Básica, exercitando, portanto, ainda a competência em optar por métodos e
recursos adequados à explanação de dado conteúdo. Neste sentido, o estágio
configura-se numa ferramenta articuladora entre teoria e prática, segundo Barreto
(2002).
Para Kuenzer (2002), o conteúdo básico de Biologia contribui significadamente
para o desenvolvimento intelectual e ético do indivíduo. Para tanto, é necessário levar
o aluno a observar, comparar e classificar fatos e fenômenos, chegando à
generalização e à compreensão.
De acordo com Barreto (2002), é a atividade teórica que possibilita, de modo
indissociável, o conhecimento da realidade e o estabelecimento de finalidades para a
sua transformação. Porém, segundo o mesmo autor, por ação recíproca, a prática dá
origem a novas finalidades para o ser humano, pois “engrena” novas ideias que farão
o homem ver, conhecer o mundo de maneira mais extensa, aprofundada e exata.
Desta forma, teoria e prática são impensáveis de forma isolada, pois a primeira
constitui-se em força motriz da segunda e vice-versa.
Os conteúdos básicos do ensino de Biologia fundamentam-se nos elementos
essenciais do Ecossistema, ou seja, da Biosfera, ressaltando-se a ação do homem.
O ensino de Biologia ministrado em nossas escolas é apresentado como
“matéria descritiva, com ênfase em definições resumidas, as quais são normalmente
retiradas de livros didáticos, que empregam termos técnicos e apresentam
METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado em uma Escola Estadual do Município de Ivinhema,
Mato Grosso do Sul, ao longo do mês de outubro do ano de 2009, e contou com a
participação de 15 alunos, sendo 10 meninas e 05 meninos, de uma turma do 1º ano
do Ensino Médio, do período matutino.
Em atendimento aos requisitos da disciplina Estágio Curricular Supervisionado
em Biologia, que ocorre no quarto ano do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Unidade de Ivinhema, de
acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPP - CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
LICENCIATURA, 2005), foi elaborada uma proposta de desenvolvimento de atividades
de estágio, cujo relatório de foi construído a partir das atividades de regência
desenvolvidas na escola campo de estágio, tornando-se documento oficial do curso.
Para esta pesquisa, foi considerado o relato da regência, onde o aluno
descreve sua impressão sobre sua prática de ensino na escola campo, enquanto
regente das aulas de biologia. A partir destas observações e de conversas com a
professora de biologia da turma estudada, foi então proposta a construção de um
projeto de intervenção no ensino escolar, abordando o tema “Sistema reprodutor,
doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos”.
1313
DISCUSSÃO
A prática do estágio, como espaço de reflexão garante ao aluno a possibilidade
de construção de novos conhecimentos, tornando-os um profissional reflexivo, apto a
construir e organizar novos rumos à caminhada pedagógica.
Para Imbernón (2002), a reflexão pode ser entendida como um processo
mental que auxilia na compreensão da realidade e da ação dos sujeitos apontando
formas de superação e mudança.
Pimenta (2001), afirma que o estágio e disciplinas compõem o currículo de um
curso. Contudo, o estágio é o espaço/tempo no currículo de formação destinado às
atividades que devem ser realizadas pelos discentes nos futuros campos de atuação
profissional, onde os alunos devem compreender a realidade, o que exige
competências para saber observar, descrever, registrar, interpretar e problematizar
e,consequentemente, propor alternativas de intervenção.
1314
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de parecer um assunto já bastante “popular”, enfocado e alvo de muitas
discussões, pode-se perceber através dos questionamentos e comentários dos alunos,
que os mesmos apresentavam pouca ou quase nenhum tipo de informação
cientificamente correta sobre sexualidade.
O estágio é um processo de aprendizagem indispensável a um profissional que
deseja estar preparado para enfrentar os desafios de uma carreira. Está no estágio a
oportunidade de assimilar a teoria e a prática, aprender as peculiaridades e “macetes”
da profissão, conhecer a realidade do dia-a-dia, no que o acadêmico escolheu para
exercer.
A sexualidade, inevitavelmente, invade a escola por meio das atitudes e
pensamentos dos estudantes em sala de aula e da convivência social entre eles.
Assim, faz-se necessária a formação inicial e continuada de professores sobre os
processos de ensino e aprendizagem da sexualidade e a valorização da escola como
um espaço privilegiado para a abordagem da sexualidade de maneira esclarecedora e
informativa, capaz de desenvolver, por meio dela, a ação crítica, reflexiva e educativa
nos estudantes aprendizes. Dessa forma, conhecendo e esclarecendo dúvidas,
desenvolvendo o respeito a si mesmo, ao outro e à coletividade.
REFERÊNCIAS
ALTMANN, H. Orientação sexual em uma escola: recortes de corpos e de gênero.
Cad. Pagu, n.21, p. 381-315, 2003.
ANDRE, M. E. D. A.Tendências atuais da pesquisa na escola. CAD. CEDES, V. 18, N.
43,1997.
BARRETO, Antonio G. O. Estagio de Biologia, 2002. Disponível em: <http://www.
valdeci.bio.br/geraldo_barreto_o_estagio_de_biologia.php> Acesso em: 19 out 2009.
BERTONI, N. et al. Uso de álcool e drogas e sua influência sobreas práticas sexuais
de adolescentes de Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 25, n.6, p. 1350-
1360, 2009.
BRAVERMAN, P.K. Sexually transmitted diseases in adolescents. Med. Clin. North
Am. v. 84, n. 4, p. 869-889.
BRÊTAS,J.R.S. et al. Conhecimentos de adolescentes sobre doenças sexualmente
transmissíveis: subsídios para prevenção. Acta paul. enferm.,v. 22, n.6. 2009.
CERQUEIRA-SANTOS, E. et al.Gravidez na adolescência: análise contextual de
riscos e proteção. Psicologia em Estudo, v. 15, n. 1, p. 73-85, 2010.
1317
INTRODUÇÃO
Apresenta-se algumas reflexões a partir dos resultados da pesquisa
(OLIVEIRA, 2011) que buscou identificar algumas dificuldades enfrentadas por
professores de matemática do Núcleo Regional de Educação de Cascavel (NRE de
Cascavel) em utilizar a informática em suas práticas pedagógicas, e investigar a
avaliação que esses professores fazem do uso da informática na educação. Cabe
ressaltar que o município de Cascavel está localizado na região oeste do estado do
Paraná.
A motivação para o desenvolvimento do referido estudo teve origem em
experiências vividas durante a atuação em cursos de formação continuada que dentre
outras temáticas, abordava o uso das novas tecnologias no contexto escolar. Nesses
momentos, percebemos as angústias, dificuldades e resistências que muitos dos
professores apresentavam diante do computador. Alguns não demonstravam interesse
em lidar com as novas tecnologias, já outros evidenciavam preocupação em como
iriam inserir esses recursos em suas aulas de matemática, pois não se sentiam aptos
para isto. Com isso, percebemos que ofertar um curso de formação continuada
abordando o uso do computador poderia ser uma alternativa para desenvolver nossa
pesquisa, e contribuir para a formação de um grupo de professores.
Inicialmente apresentaremos brevemente a estrutura do curso intitulado “A
informática em Aulas de Matemática: um curso de formação continuada para
professores”, com o objetivo de situar o leitor para o cenário em que a pesquisa foi
desenvolvida. Em seguida traremos os aportes teóricos sobre a formação de
professores no contexto da informática na educação que deram suporte à pesquisa.
Faremos também uma breve descrição das estratégicas metodológicas utilizadas. Por
fim, discutiremos aspectos relacionados aos resultados da pesquisa.
(02) turmas, com nove (09) encontros de quatro (04) horas cada, totalizando uma
carga horária de trinta e seis (36) horas por turma.
A carga horária do curso foi distribuída em uma série de atividades que
pudessem suprir as necessidades e atender as expectativas dos professores. Essas
atividades foram desenvolvidas por meio de alguns recursos de fácil acesso aos
professores, dentre eles softwares livres (Writer3, Calc3, Math3, Impress3, Software
Geogebra4 e Software Maxima5), equipamentos disponíveis nas escolas em que os
professores atuam (TV Multimídia6), e uma metodologia de ensino, chamada
Webquest7. Além disso, no primeiro dia do curso, designamos duas (02) horas, para
discutirmos a importância do uso da informática em aulas de Matemática,
confrontando o senso comum dos professores com pesquisas realizadas na área.
Destacamos que esta pesquisa poderia ter sido desenvolvida em outro cenário,
entretanto priorizamos o curso de formação continuada, para, conforme já
mencionado, poder contribuir para a formação dos professores que de alguma forma
contribuiriam para nosso trabalho.
mídias e, tem como objetivo, proporcionar a inserção e o acesso de alunos e professores da rede pública
de ensino a essas tecnologias. Dentre os projetos, está a TV Multimídia, que forneceu televisores de 29
polegadas – com entradas para VHS, DVD, cartão de memória e pen drive e saídas para caixas de som e
projetor multimídia – para todas as salas de aula das escolas públicas do estado do Paraná, e também
um dispositivo pen drive para cada professor da rede.
7Metodologia que tem como objetivo direcionar o trabalho de pesquisa utilizando os recursos da internet.
1321
O PERCURSO DA PESQUISA
Buscando atingir nossos objetivos, optamos por uma abordagem qualitativa de
pesquisa visto que “[...] a preocupação do pesquisador, nesta abordagem, não é com
a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma
trajetória, etc” (GOLDENBERG, 1999, p. 14).
Goldenberg (1999) enfatiza que na abordagem qualitativa, não existem regras
precisas para seguir, e que o resultado da pesquisa também depende da sensibilidade
e intuição do pesquisador. Complementa ainda, que um dos principais problemas a
serem enfrentados neste tipo de abordagem é a interpretação dos dados. É
necessário um cuidado do pesquisador para que seus dados não se contaminem com
sua personalidade e seus valores. Uma das possíveis alternativas para amenizar esta
1323
situação é “[...] ter consciência de como sua presença afeta o grupo, e até que ponto
este fato pode ser minimizado ou, inclusive, analisado como dado da pesquisa.”
(GOLDENBERG, 1999, p. 55).
Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados questionários que,
segundo Fiorentini e Lorenzatto, “[...] podem servir como uma fonte complementar de
informações [...]. podem ajudar a caracterizar e a descrever os sujeitos do estudo [...].”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2009, p. 117), e observação, que consiste na coleta de
dados enquanto os fenômenos ocorrem naturalmente, ou seja, enquanto as pessoas
estão conversando, ouvindo, trabalhando, estudando, entre outros.
Todos os dados desta pesquisa foram obtidos durante o curso apresentando
anteriormente, oferecido aos professores de matemática da rede pública de ensino
dos municípios jurisdicionados ao NRE de Cascavel. No primeiro semestre (turma I)
contamos com dez (10) professores participantes no curso, já no segundo semestre
(turma II), contamos com onze (11) professores, totalizando 21 professores
participantes da pesquisa.
Para o primeiro encontro do curso, tanto da turma I quanto da turma II,
solicitamos que os professores respondessem um questionáriocomposto por dez (10)
questões abertas, que serão apresentadas posteriormente. Além disso, durante o
curso, todas as falas dos professores, que julgávamos importante para a pesquisa,
eram anotadas, para que posteriormente, pudessem ser remetidas a análises,
juntamente com os dados dos questionários.
ALGUNS RESULTADOS
A análise dos dados foi um processo difícil e cheio de meandros, houve muitas
idas e vindas. Numa primeira análise, procuramos organizar em tabelas os dados
presentes nos questionários e as anotações obtidas durante o curso, para facilitar a
visualização da totalidade, e agrupamos as respostas semelhantes, buscando
elementos para constituir as categorias de análise. Após muitas leituras e releituras,
escritas e reescritas, chegamos a três categorias de análise que emergiram dos dados
obtidos: formação inicial; formação continuada; e as vantagens e desvantagens em
utilizar a informática na educação, na visão dos professores.
Neste artigo são apresentadas reflexões sobre os dados e os resultados que
fizeram parte da primeira e da segunda categoria citada.
1324
FORMAÇÃO INICIAL
Questionamos os professores em relação ao tempo em que estão atuando, e o
ano que se formaram e, pelas respostas, identificamos algumas contradições,
apontando para o fato de que alguns dos professores pesquisados, já atuavam antes
mesmo de ingressarem em cursos de licenciatura.
Quando questionamos qual a formação dos professores, verificamos que
estaríamos trabalhando com um grupo heterogêneo, pois as áreas de formação
variaram entre Licenciatura em Matemática com habilitação em Física, Licenciatura
em Ciências com habilitação em Matemática e Licenciatura em Matemática. Embora
todas as áreas de formação convirjam para a Matemática, cada um dos cursos
apresenta suas especificidades.
Embora durante a formação inicial, espera-se que o sujeito adquira condições
necessárias e suficientes para uma atuação bem sucedida como profissional da
educação, não foi isto que verificamos com as repostas dos professores. Vários
argumentaram que os cursos de graduação que frequentaram não atingiram suas
expectativas, deixaram a desejar em vários aspectos, muitos conteúdos que estão
tendo que ministrar ao longo da carreira, não foram trabalhados durante a graduação.
Um dos professores, nos chocou com sua resposta: “Quando terminei a minha
faculdade não tinha conhecimento algum. A prática em sala de aula é muito diferente
do que se aprende na universidade”. Ao lermos esta resposta, fizemos o seguinte
questionamento: O que será que este professor entende por formação inicial?
Concordamos que exista uma discrepância entre a prática em sala de aula e a
universidade, entretanto não há como o sujeito concluir o processo de formação inicial,
sem adquirir conhecimento algum, visto que durante a graduação, são trabalhados
diversos campos do conhecimento, sob a forma de disciplinas e, algumas dessas
disciplinas, possibilitam que o sujeito reflita sobre suas futuras práticas pedagógicas.
Quando questionamos os professores sobre a forma como eram ministradas as
aulas no período de graduação, observamos que poucos foram os que tiveram a
oportunidade de trabalhar com a informática durante este período. Alguns professores
argumentam que poucas aulas eram ministradas com o auxilio do computador,
entretanto não explicitaram se essas aulas eram voltadas para conteúdos
matemáticos, ou se o computador era utilizado meramente para informatizar os
métodos tradicionais de ensino do quadro e giz.
Consideramos relevante destacar que seis (06) professores que se formaram a
mais de vinte (20) anos, disseram que nunca foi utilizado um recuso informático
1325
FORMAÇÃO CONTINUADA
Embora os professores tenham deixado explícito em suas respostas a
importância de estarem sempre em constante formação, principalmente no que se
refere às tecnologias informáticas, pudemos perceber que uma quantia significativa
ainda não participou de nenhum curso de formação continuada dando ênfase á
informática na educação.
Os argumentos apresentados pelos professores que não utilizam a informática
em suas práticas, convergiram para a falta de formação. Muitos professores se sentem
inseguros diante dos desafios impostos pelas tecnologias informáticas, tanto no que se
refere ao seu próprio conhecimento, quanto ao comportamento que os alunos
apresentam nos laboratórios de informática. Um professor, que esta lecionando a vinte
e nove (29) anos, disse nunca ter utilizado a informática em suas aulas pela falta de
segurança, justificou que esse foi um dos motivos que o levou a participar do curso.
Nesse sentido, podemos dizer, que uma maneira de fazer com que esses
professores adquiram segurança, talvez não a mais eficiente, são cursos de formação
continuada, bem estruturados, que levem em consideração as necessidades que os
professores têm em lidar com as tecnologias informáticas. Porém, é importante
ressaltar, que o curso por si só, não garante a aprendizagem do professor, é
necessário que ele se disponha a utilizar a criatividade e conhecimento técnico, para
1326
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Esta pesquisa foi iniciada com o intuído de investigar a percepção dos
professores quanto ao uso da informática na educação, bem como identificar algumas
dificuldades enfrentadas por eles em utilizar esta tecnologia em sua prática
pedagógica. Para isso achamos necessário, compreender como ocorreu e como tem
ocorrido o processo de formação inicial e continuada dos professores. Com esses
objetivos em mente, iniciamos o planejamento do curso de formação continuada “A
Informática em aulas de Matemática: um curso para professores”, e a elaboração do
questionário que foi aplicado aos professores que participaram do curso. Este curso se
tornou parte fundamental deste trabalho, visto que todos os dados da pesquisa foram
coletados por meio dele.
Os resultados nos fizeram constatar que o principal obstáculo à implementação
da informática na educação é a falta de formação. A falta de preparação para o uso da
informática, não somente como um recurso didático, mas também como um
instrumento de trabalho, tem sido um grande problema enfrentado pelos professores.
Muitos se sentem inseguros diante dos desafios impostos pelas tecnologias
informáticas, e incapazes de utilizá-las em suas práticas. Esses fatos evidenciam a
importância de o professor manter-se atualizado, buscando cursos de formação que
lhes proporcione desenvolver habilidades no domínio das tecnologia e discussões que
promovam o desenvolvimento da prática reflexiva, pois desta maneira, além de
adquirir segurança, frente as tecnologias informáticas, poderá visualizar novos
desafios e perspectivas.
REFERÊNCIAS
BORBA, Marcelo de Carvalho; PENTEADO, Mirian Godoy. Informática e Educação
Matemática. 4 ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2010.
DEMO, Pedro. Educação Hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São
Paulo, SP: Atlas, 2009.
FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sérgio. Investigação em educação matemática:
percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
(Coleção formação de professores).
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas,
SP: Autores Associados, 2009.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em
Ciências Sociais. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
OLIVEIRA, Franciele Taís de. A informática em aulas de matemática: um olhar para
a formação de professores. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Colegiado de
Matemática) - UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2011.
PENTEADO, Miriam Godoy. Novos Atores, Novos Cenários: discutindo a inserção dos
computadores na profissão docente. In: BICUDO, M. A. V. (Org.). Pesquisa em
Educação Matemática: Concepções e Perspectivas. São Paulo: Editora UNESP,
1999. p. 297-313.
PERRIER, Gerlane Romão Fonseca. Formação de Professores e informática: da
falta de teoria à necessidade da prática: o caso de uma escola agrotécnica. 2005.
Dissertação (Mestrado) - Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento científico.
Universidade Federal do Pará, 2005.
TAJRA, Sammya Feitosa. Informática na educação. São Paulo, SP: Érica, 2008.
VALENTE, J. A. (Org.). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas,
SP: Central da UNICAMP/ NIED, 1999.
1329
INTRODUÇÃO
A formação de professores é tema freqüente nos debates sobre a qualidade da
educação na contemporaneidade. Autores como Gatti, Freire, Nóvoa, Arroyo, Tardif,
Lessard, Schon, Zeichner, Pimenta, Alarcão, André e vários outros nos trazem
importantes reflexões sobre este tema nos contextos de formação inicial, formação
continuada e saberes docentes.
Questionamentos mais consistentes e críticos sobre a formação dos docentes
e quais as instituições que seriam responsáveis por formar e preparar esses futuros
profissionais, se iniciam na década de 80 e continuam presentes nos debates
contemporâneos (SAVIANI, 2009; GATTI, 2011). Autores como Perrenoud (2008) e
outros passam a defender a importância das universidades nesse preparo, alegando
que na universidade, realmente preocupada com uma formação de alta qualidade,
está o “cerne da verdadeira profissionalidade docente” (TARDIF; LESSARD, 2008, p.
17).
Na atualidade, o ensino tem características extremamente complexas que
exigem um trabalho especializado (IMBÉRNON, 2006; LIBÂNEO, 2006; SAVIANI,
2009; GATTI, 2011; GADOTTI, 2011). Portanto, os cursos de formação inicial dos
profissionais da educação, têm a responsabilidade de oferecer uma formação básica
sólida e adequada que possa se constituir em instrumentos de atuação, adaptação e
aperfeiçoamento constantes para enfrentar os desafios cotidianos de sua atuação
profissional.
Gatti (2011, p. 158) propõe um “confronto” de saberes entre a universidade e
os profissionais em exercício, com objetivo de contribuir para a construção de
conhecimentos, a articulação de saberes teóricos, saberes práticos, para a
1 Graduou-se em Pedagogia pela USC – Universidade Sagrado Coração (2000). Tem especialização em
Psicopedagogia (2001) e Especialização em Formação de Formadores de Professores (2002), pela USC.
Mestrado em Educação pela FE/UNICAMP (2005). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Educação, da Universidade Estadual de Campinas – FE/UNICAMP - Campinas/SP. Membro do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos – GEPEJA – FE/UNICAMP. Membro do Grupo
de Pesquisa Gênero, Sexualidade e Sociedades – CCH/USC. Professora Assistente, do Centro de
Ciências Humanas, da Universidade Sagrado Coração – USC, Bauru/SP, dos cursos de Pedagogia e
Licenciaturas. Tem certificação internacional de Coaching, Mentoring e Holomentoring - Foco em
Professional, Self & Life Coaching do Sistema ISOR, pelo ICF - International Coach Federation e Instituto
Holos. E-mail: polianasantoscamargo@gmail.com
1330
Significou uma chance de conhecer uma outra realidade na educação. (...) Tive oportunidade
de assumir um cargo em escola estadual (...). Ao mesmo tempo que trabalho no administrativo
tenho relação próxima com o ensino fundamental e médio. E a EJA? Não tinha me passado
pela cabeça. No sentido de realmente trabalhar na área. (...) A escola que trabalho não tem
noturno , muito menos EJA. Sinceramente, se não fosse pela disciplina, provavelmente
demoraria muito a ter contato com essa realidade, ou talvez nem chegaria a tê-la (...) (P. 04).
As visitas significaram muito, pois foi meu primeiro contato com a EJA e modificaram muito a
minha visão, ampliando o meu olhar, e até de certa maneira, diminuindo um certo medo que
tinha. Nós ouvimos muitas histórias sobre a educação de adultos, mas só vivenciando
podemos ter nossas próprias conclusões – e as minhas foram as melhores possíveis (...) (P.
23).
(...) Ao sair das visitas técnicas, sempre comentava com a colega de estágio que também
queria ser professora de EJA, pois deve ser muito gratificante trabalhar com alfabetização de
adultos e lutar por essa causa (P. 17).
aula e todas as atividades que serão desenvolvidas nas classes da EJA. Esta aula é
ministrada na penúltima visita técnica, assim o aluno da Pedagogia tem a
oportunidade de encontrar a turma e a professora da EJA em sua última visita, do
semestre.
Neste sentido, as duas disciplinas apresentam uma aproximação entre a teoria
e a prática, extinguindo, pelo menos neste contexto, um problema anunciado por
Soares (2008):
Outro elemento significativo que merece destaque nos trechos das entrevistas
dos alunos da Pedagogia, é que por meio destas experiências, alguns já declaram seu
interessado em atuar neste campo, demonstrando uma articulação afetiva com essa
modalidade, que se deu pelo conhecimento dessa realidade por meio da disciplina e
das visitas técnicas:
(...) Acredito que com essas oportunidades, podemos ter contato com essa modalidade,
despertando o interesse em lecionar e contribuir com a aprendizagem dos jovens e adultos (...)
(P. 07).
(...) Essa visita técnica me proporcionou um outro olhar diante do ensino da EJA, me fazendo
ter interesse em atuar como professora para esse público (P 18).
Eu tenho gostado muito da classe de EJA que eu estou fazendo as visitas. Os alunos em sua
maioria são idosos e são muito dedicados, a professora é muito atenciosa e ensina com
vontade. Gostei muito do ambiente das aulas. Penso em me capacitar e trabalhar com esse
público (p. 31).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1335
REFERÊNCIAS
ANZORENA, Denise Izaguirre. A formação inicial de professores para a educação
de jovens e adultos: os dizeres dos coordenadores dos cursos de licenciatura. 2010.
183 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional de Blumenau,
Blumenau, 2010.
BEDOYA, Maria Julia Alves; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza Teixeira. Perfil dos
professores da educação de jovens e adultos. Athena - Revista Científica de
Educação, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB n. 11/2000. Dispõe sobre as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Disponível
em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 01 jun. 2010.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de
licenciatura, de graduação plena. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. 2.ed.
São Paulo: Ed,L, 2011.
GATTI, Bernadete Angelina; GARCIA, Walter E. Bernadete Gatti - educadora e
pesquisadora: textos selecionados. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
GONÇALVES, Becky Henriquette. Contribuições da teoria freireana para a
formação inicial do educador de jovens e adultos: uma pesquisa-ação. 2011. 128 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2011.
IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a
mudança e a incerteza. 6.ed. São Paulo: Cortez, 2006.
LEITÃO, Cleide Figueiredo. Buscando caminhos nos processos de
formação/autoformação. Revista Brasileira de Educação. [online]. 2004, n. 27, p. 25-
39, set./out./nov./dez. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n27/n27a02.pdf>
LIBÂNEO, José Carlos. Diretrizes curriculares da pedagogia: imprecisões teóricas e
concepção estreitada da formação profissional de educadores. Educação e
Sociedade, v. 27, n. 96, p. 843-876, out. 2006. Disponível em:
<http://www.cedes.unicamp.br>
1336
Evandro Tortora1
Giovana Pereira Sander2
Nelson Antonio Pirola3
INTRODUÇÃO
Um dos cursos responsáveis por formar professores polivalentes no Brasil é o
curso de Pedagogia. Após ser graduado, o estudante de Pedagogia poderá optar pela
carreira docente nas séries iniciais da Educação Básica, além de poder optar por
torna-se coordenador ou gestor escolar. O pedagogo é classificado como professor
polivalente, pois leciona mais do que uma disciplina específica.
Existem vários universidades brasileiras que oferecem o curso de Pedagogia.
No Brasil, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior),
em parceria com as Secretarias de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, por meio das Instituições de Ensino Superior, implantou o programa
denominado PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação
Básica) por meio do qual oferece a professores em atuação na educação pública a
oportunidade de se graduar em outra licenciatura.
Nesta pesquisa tivemos como participantes alunos do curso de Pedagogia do
programa PARFOR de uma universidade do interior do estado de São Paulo, qual
possui alunos que são graduados em diferentes áreas do conhecimento, como Artes,
Educação Física, Matemática e Biologia.
O currículo do curso de Pedagogia do programa PARFOR foi construído nos
moldes do curso convencional de Pedagogia, sendo assim, os alunos estudam
conteúdos e metodologias de todas as disciplinas a serem ensinadas nos anos iniciais
do Ensino Fundamental e dentre elas está a matemática. Algumas universidades
ainda otam por oferecer disciplinas que envolvam a Educação Matemática na
Educação Infantil e no Ensino Fundamental O lócus da presente pesquisa é uma
dessas universidades.
No âmbito acadêmico, parece existir a crença de que o aluno do curso de
Pedagogia opta por fazer este curso por não gostar da disciplina de matemática, o que
1Univesidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”– Unesp – Campus de Bauru. Mestrando no
Programa de Pós Graduação em Educação para a Ciência. evandro_tta@hotmail.com
2Univesidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”– Unesp – Campus de Bauru. Mestranda no
Programa de Pós Graduação em Educação para a Ciência. giovanapsander@hotmail.com
3Univesidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”– Unesp – Campus de Bauru. Professor do
Departamento do Educação. npirola@uol.com.br
1338
disciplina, por exemplo, antes ele mesmo precisa demonstrar atitudes positivas em
relação à disciplina.
O pedagogo, ou professor polivalente, por ensinar todas as disciplinas nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, precisa ensinar seus alunos a desenvolverem
suas atitudes de forma positiva diante das disciplinas que estão estudando, sendo
uma delas a Matemática. Para isso, o próprio pedagogo precisa desenvolver atitudes
positivas em relação à ela.
De acordo com Brito (1996) “para desenvolver atividades docentes adequadas,
o individuo necessita apresentar atitudes positivas com relação ao ensino, à disciplina
que vai ensinar, aos alunos e à própria escola” (p. 146).
O curso de pedagogia é um curso da área de ciências humanas e, muitas
vezes, os alunos dessa área não apresentam atitudes positivas em relação à
Matemática. No entanto, Brito (1996) aponta autores como De Corte (1995) para
salientar que é o professor um fator central para a construção do conhecimento do
aluno e também desenvolver habilidades, crenças e atitudes. Ou seja, posteriormente,
o pedagogo desenvolverá esses aspectos relacionados à Matemática durante os anos
iniciais de escolaridade em seus alunos, gostando ele ou não da disciplina. O que
definirá essas atitudes serão suas experiências escolares e isso gerará concepções e
crenças em relação ao ensino e aprendizagem de Matemática que influenciarão
diretamente no trabalho do professor em sala de aula (BLANCO; CONTRERAS, 2002
citado por CURY, 2004).
Sendo assim, é importante observar que as atitudes dos professores, por
possuir uma dimensão afetiva podem influenciar na formação de atitudes dos alunos
revelando-se como um importante elemento de sua prática. (PONTE, 2000 apud
ARDILES, 2007).
Algumas pesquisas na área da Psicologia da Educação Matemática
(GONÇALES, 1995; MORON, 1998; ARDILES, 2007) vem investigando as atitudes
dos professores polivalentes em relação à Matemática. Moron (1998) fez uma
investigação com professores de Educação Infantil utilizando a escala de atitudes e
constatou que, ao contrário do que se acreditava, o grupo de professoras apresentou
atitudes que tendem a ser favoráveis em relação à Matemática conclui que “fugir” da
Matemática não é o principal motivo que levou as professoras ao magistério. Ardiles
(2007) procurou fazer uma comparação entre as atitudes dos professores polivalentes
e dos professores de conteúdo específico (ensinavam somente matemática) e chega a
uma interessante conclusão: os professores das séries iniciais tendem a possuir
1341
METODOLOGIA
O objetivo desta pesquisa foi investigar as atitudes de alunos do curso do Plano
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR - em relação à
Matemática, bem como analisar o quanto estas atitudes interferiram na opção pela
carreira do magistério.
Participaram do estudo 13 alunos de um Curso do PARFOR que é oferecido
por uma universidade do Estado de São Paulo.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram um questionário e a
uma escala de atitudes em relação à Matemática. O questionário era composto por
questões abertas e continha as seguintes perguntas 1- Como você descreveria, em
poucas palavras, seus sentimentos pela Matemática? 2- Os motivos pelos quais você
escolheu seguir a carreira do magistério estão relacionados com “gostar” ou não de
Matemática? 3- Quando você pensou em fazer Pedagogia, você se atentou ao fato de
que estaria se formando, também, para ensinar Matemática? 4- Para elaborar seu(s)
Plano(s) de Aula para o estágio que realizará este ano, quais disciplinas e conteúdos
você escolherá para regência de classe? 5- Qual tema você pensa em trabalhar no
seu Trabalho de Conclusão de Curso? Justifique.
A escala de atitudes em relação à matemática utilizada na pesquisa é do tipo
Likert, elaborada por Aiken (1961), revistada por Aiken e Dreger (1963) e adaptada e
validada por Brito (1996; 1998). Esta escala contém 21 afirmações, sendo 10 que
apresentam situações com sentimentos positivos, 10 com sentimentos negativos e
uma afirmação que mede a autopercepção do aluno quanto ao seu desempenho em
Matemática. A cada afirmação, o aluno assinalava uma das seguintes opções:
“Discordo totalmente”, “Discordo”, “Concordo” ou “Concordo totalmente”. Se a
afirmação apresentar uma situação positiva e for assinalada a opção, por exemplo,
“Concordo Totalmente”, é atribuído 4 pontos ao aluno. Se a afirmação for uma situação
negativa, e o aluno assinalar a mesma opção, é atribuído 1 ponto. Feito isso, esses
pontos são somados, gerando uma pontuação por aluno que podia variar de 21 a 84,
1342
sendo que, quanto mais próximo dos 21 pontos, a atitude do aluno se torna negativa e
quanto mais perto dos 84 pontos, se torna positiva. Com essas pontuações foi feita
uma média geral e uma de cada turma. Os alunos que ficaram acima da média,
tenderam a ter atitudes mais positivas e os que ficaram abaixo da média, atitudes mais
negativas.
Ambos os instrumentos foram aplicados durante o período de aula, com a
autorização do Coordenador do curso do PARFOR da universidade em questão.
Quadro 2 - "Os motivos pelos quais você escolheu seguir a carreira do magistério
estão relacionados com 'gostar' ou não de matemática? Comente"
Sim
Gostar - pois em tudo que fizermos passarei pela matemática.
Não
Não estão relacionadas. Estou fazendo Pedagogia por trabalhar a muito tempo com crianças.
Não, escolhi ser professora por que acredito na educação escolar como fator essencial para
transformação da sociedade. Mas como não tenho facilidade na área de exatas, preferi seguir
para humanas e biológicas.
1344
Não. Estão mais voltadas por gostar de crianças, por estar em contato com elas é que decidi
optar pelo curso.
Não estão relacionados com "gostar" de matemática.
Não. A escolha foi por gostar de trabalhar com o magistério mesmo.
Sempre quis trabalhar com alfabetização e sei que nessa faixa etária a matemática é mais
noções, operações no concreto, é algo simples, embora extremante importante.
Não está relacionado em gostar ou não, mas sim para ter formação adequada pois trabalho
em creche.
Não fiz o magistério, mas apesar do medo da matemática, eu gosto mesmo tendo dificuldade.
Não. Nada a ver. Sempre gostei de matemática e faço os meus aos "meus" alunos, é o que
minha mãe dizia: "filhos, quem gosta de matemática é por que gosta de ganhar $".
Não, simplesmente por gostar de ensinar.
Não, nunca vi na matemática obstáculo na minha atuação no magistério. A meu ver, é parte
integrante dele.
Na verdade eu queria cursar artes plásticas, mas quando eu entrei no curso de Educação
Artística da UNESP percebi que sei professor, então decidi que seria professor.
Pelo quadro, podemos notar que apenas um aluno relatou alguma influência do
seu sentimento em relação à Matemática na escolha da sua profissão. Contudo,
podemos perceber que a Matemática influenciou positivamente na sua escolha, sendo
assim, podemos notar que o fato de não gostar de matemática não influenciou
diretamente nenhum dos alunos na opção pelo magistério. Esses relatos contrariam a
crença de que alunos de Pedagogia optam por esse curso a fim de fugir da
Matemática. Nesses casos, a decisão pela careira docente está relacionada,
geralmente, ao fato de gostar do trabalho como professor, estar atuando na área e
precisar de formação específica, querer tornar-se gestor escolar e etc.
Além questionar os alunos sobre a influência da matemática na escolha pelo
magistério, perguntamos se eles se atentaram ao fato de que estariam formando-se
educadores matemáticos em um curso de Pedagogia. Seguem no quadro abaixo as
respostas dos alunos.
REFERÊNCIAS
ARDILES, R. N. de. Um estudo sobre concepções, crenças e atitudes dos
professores em relação à Matemática. 2007. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
BRITO, M. R. F. de. Um estudo sobre as atitudes em relação à Matemática em
estudantes de 1º e 2º graus. 1996. 383 f. Tese (Livre Docência) - Faculdade de
Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.
CURI, E. Formação de professores polivalentes: uma análise de conhecimentos
para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição
desses conhecimentos. 2004. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2004.
GONÇALEZ, M. H. C. de C. Atitudes (des)favoráveis com relação à Matemática.
1995. 147 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, 1995.
GONÇALEZ, M. H. C. de C. Relações entre a família, o gênero, desempenho, a
confiança e as atitudes em relação à matemática. 2000. 171 f. Tese (Doutorado) -
Departamento de Psicologia Educacional, Unicamp, Campinas, 2000.
MORON, C. F. Um estudo exploratório sobre as atitudes e as concepções dos
professores de educação infantil em relação à matemática. 1998. Dissertação
(Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
1998.
MORON, C. F.; BRITO, M. R. F. de. Atitudes e concepções dos professores de
Educação Infantil em relação à Matemática. In: BRITO, Márcia Regina Ferreira de.
Psicologia da educação matemática. Florianópolis: Editora Insular, 2001. Cap. 12, p.
263-277.
1347
UFSCar. kenia.uab@gmail.com
1348
de São Carlos (UFSCar); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Federal do
Paraná (UFPR); Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e Universidade de Brasília (UNB).
1351
Tabela 2: Relação de número de teses por ano (entre 2000-2012), nas IES
pesquisadas
ANO TESES PRODUZIDAS
2000 4
2001 16
2002 29
2003 54
2004 57
2005 94
2006 128
2007 202
2008 234
2009 267
2010 241
2011 183
2012 31
A partir desta categoria buscaram-se as teses que a continham, para que fosse
feito uma apuração das pesquisas realizadas, dentro de seus diferentes enfoques. A
palavra-chave AVA, presente nas teses do Banco de Dados em questão, mostrou que
este ambiente de aprendizagem tem referência a três campos: formação de
continuada, inicial e cursos oferecidos utilizando diferentes recursos.
Com a nomeação da palavra-chave principal, foi realizada a seleção das teses
que poderiam contribuir com o tema do presente trabalho, sendo que os dados foram
sistematizados a partir, primeiramente, na procura de pesquisas que continham a
nossa categoria: Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e, em um segundo
momento, com a leitura de seus títulos e de seus resumos, a fim de comentarmos
sobre os aspectos importantes das pesquisas que estão sendo realizadas sobre este
assunto.
É importante dizer que o AVA, na perspectiva de interação entra diferentes
sujeitos, não será nosso foco de análise, mas será apresentado como pesquisas
desenvolvidas, ligadas ao campo educacional.
passo é apresentar o que os estudos tratam sobre esse ambiente virtual e como se
configura a aprendizagem dos professores e dos estudantes.
11 UFRGS 2008 Princípios da pesquisa científica em Construir princípios que possam auxiliar a Márcia Paul
desenvolver a pesquisa científica para
ambientes virtuais: um olhar Waquil
investigar AVA.
fundamentado no paradigma do
pensamento complexo
12 UFRGS 2008 A interdisciplinaridade na ação de Investiga o fenômeno 'projetos interdisciplinares Silvia Porto
de Ambientes Virtuais de Aprendizagem
projetar ambientes virtuais de Meirelles Leite
(AVA's)', destacando sua recorrência em
diferentes contextos.
1354
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
1356
INTRODUÇÃO
Muitas teorias fundamentam um diálogo entre os saberes da experiência e os
saberes eleitos para processo de formação de professores. Podemos encontrá-las em
diferentes campos de pesquisa como psicologia, antropologia, filosofia e sociologia.
Destacamos aqui dois autores que fundamentam o presente texto. São eles: Paulo
Freire e John Dewei. Porém, não podemos deixar de destacar Nilson José Machado,
Jorge Larrosa e Marie-Christinne Josso. Nilson José Machado, professor e
pesquisador da faculdade de Educação da USP afirma que todo desenvolvimento de
competências é pessoal. Jorge Larrosa, professor e pesquisador da Universidade de
Barcelona argumenta que a formação é processo no qual a pessoa em formação se
permite influenciar pelos mestres e pelas experiências de vida. Marie-Christinne Josso,
professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Genebra, também propõe uma abordagem de formação experiencial. Em síntese,
todos os autores que tratam do assunto concordam que pensar, refletir e escrever
sobre sua própria trajetória exige do autor um olhar reflexivo sobre toda a
aprendizagem e conhecimentos adquiridos, sobre escolhas profissionais e pessoais.
Esse exercício dá sentido à história narrada. Sabemos existir uma conexão entre a
capacidade do ser humano de narrar sua própria história e suas compreensões sobre
o mundo e sobre si mesmo.
Ao procurar um eixo norteador de suas atividades de educador, o professor de
arte procura o diálogo com a sua própria experiência formativa. Isso deveria colaborar
para seu crescimento pessoal e profissional. Porém, a transitoriedade das políticas
educacionais sobre o ensino de Arte no Brasil dificulta esse diálogo visto que sua
recente história arte nos mostra períodos distintos de preocupações sobre os eixos
que o norteia. Sabemos que houve épocas onde na escola se estudava desenho
geométrico, trabalhos manuais e Música e que com a instituição do componente
curricular Educação artística pela Lei 5.692, de 1971 foi acrescentada as linguagens
1Professor de Arte da rede estadual de ensino da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,
coordenador de arte do Núcleo pedagógico e Integrante do grupo de estudos “Poéticas Visuais” da Unesp
de Bauru - Email; pedropadovini@uol.com.br
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=E9159433
2Professora de Arte da rede estadual de ensino da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
1358
do Teatro, da Música e da Dança além das Artes plásticas atribuindo ao professor uma
formação polivalente. Na década de 90, algumas propostas de ensino inauguram o
trabalho com estímulos geradores usados como elementos desencadeadores de
processos expressivos e de representação. Vários profissionais graduados antes dos
anos 90, a fim de atender as novas exigências pedagógicas, voltaram aos estudos nas
faculdades. Em 2008, o currículo de Arte proposto pela Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo fez a opção por uma prática de ensino elegendo processos
educativos que incluíam novos paradigmas sobre o trabalho com a produção
contemporânea de Arte. Todas essas propostas exigiram dos professores muitos
esforços de estudo e reflexão. É nesse contexto de tendências, mudanças e desafios
que se encontra o professor de Arte. Em muitos casos ainda lutando para se apropriar
das mudanças mais recentes. Diante desse contexto, acreditamos oportuno e
necessário resgatarmos algumas ideias que desencadeiam reflexões sobre nossa
prática docente, nossa formação acadêmica e profissional. Sendo assim, acreditamos
que um processo de formação de professores deverá estar voltado pelas historias
destes mesmos professores e que a aproximação entre os conceitos de experiências
desenvolvidos por pensadores como John Dewey e Paulo Freire pode resgatar e
valorizar as experiências que traduzem as trajetórias de vida dos educadores de Arte.
Paulo Freire (1999) nos remete à possibilidade dada ao homem de refletir
sobre sua prática de forma que, a partir desse olhar crítico, possa construir seu
conhecimento. Afinal, quanto mais saberes esse professor inaugurar a partir de
reflexões sobre a própria prática, mais crítico será sua realidade. Sendo assim, a
escola e a reflexão sobre suas experiências serão os espaços privilegiados de
formação do professor.
O professor reflexivo será aquele que ao investigar a sua sala de aula e a sua
prática, estará mais próximo de formular suas estratégias e reconstruir sua ação
pedagógica. Isso propõe um processo formativo que possibilite situações onde
existam trocas de saberes entre os professores e reflexões sobre suas experiências.
As contribuições de John Dewey apontam para os sentidos da experiência
vivida ou experiência-vida unindo pensamentos numa atitude que gera experiências
reflexivas. Acredita o autor que tais experiências são transformadoras, educativas e
transformadoras.
Objetivando tratar dessa aproximação entre as ideias dos educadores em
questão e relacionando suas contribuições para a formação do professor de Arte
vamos, em um primeiro momento, analisar o pensamento de John Dewey,
1359
seu próprio percurso formador. De certa forma, faz-nos refletir sobre a nossa
existência e sobre a maneira como nossas experiências são capazes de nos levar ao
conhecimento de algo próprio que de alguma forma nos educa enquanto nos identifica.
Ao viver uma experiência específica, que se caracteriza pelos movimentos intelectual,
prático e emocional, incorporamos o conhecimento e nos modificamos a partir dele.
Tais ações ou movimentos significam propor um encontro com nossas incompletudes
e capacidades de mudanças necessárias reveladas pelas aprendizagens. Assim, se
participarmos continuamente de experiências e com elas aprendemos, continuamente
também estamos nos recriando.
No trabalho de trazer para o centro do debate a análise sobre as filosofias
educacionais de John Dewey e Paulo Freire quando tratam de reflexões e
experiências vividas constituídas em diálogos na formação do professor de arte, nos
deparamos com a qualidade das experiências vividas na contemporaneidade visto que
experiências significativas são muito raras. Considerando experiência como aquilo que
realmente nos afeta e as características de uma sociedade marcada pelo excesso de
informação, podemos imaginar poucas chances de nos depararmos com experiências
significativas. Além disso, informação, muitas vezes, é confundida com conhecimento
o que resulta em um distanciamento de uma experiência significativa. É certo que
conhecimento não está relacionado à capacidade de aquisição e processamento de
uma informação (LARROSA, 2002). Mesmo assim, o trabalho pedagógico no ensino
de Arte na escola, onde o professor trabalha com quatro linguagens específicas (Arte
Visual, Dança, Teatro e Música), além das imbricações provocadas pelos modos
contemporâneos de produção artística, exige desse professor pesquisa constante
sobre as especificidades de sua área de conhecimento. Essa dinâmica que gera busca
de respostas imediatas e certezas absolutas geralmente adquire aspectos mecânicos
e, muitas vezes, torna o trabalho um processo inconsciente de maneira que dificulta
uma entrega sensível diante da experiência vivida e significativa.
A qualidade de uma experiência passa a estar contida no ato que ela, a
experiência, nos impele a exercer, ou seja, é nesse experienciar, é nesse mundo
vivido, é no olhar o seu movimento que o ser humano encontra as relações de sentido
entre seus pensamentos e suas ações, tornando-se consciente. O ser consciente de
si, do mundo, das relações, é capaz de construir uma ‘práxis humana’ que é “[...]
unidade indissolúvel entre minha ação e minha reflexão sobre o mundo”. (FREIRE,
1980:26). Nessa orientação, falar de experiências é dar sentido a trajetória de vida
profissional que nos forja em educadores. John Dewey (2010) afirma que a escola é a
1361
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendendo que todo desenvolvimento de competências é pessoal, ou seja, se
encontra sob a jurisdição da pessoa que as desenvolve compreendendo um mergulho
pessoal, intelectual e emocional diante desse desenvolvimento. (MACHADO, 2002).
Diante de tantas tendências, mudanças e propostas há sempre o risco de não
levarmos em consideração nossas próprias experiências, sem nos referirmos a nossa
trajetória, ou seja, a tudo aquilo que nos forjou para atuarmos como profissionais da
educação. Essa dinâmica pode desencadear um processo onde a maior preocupação
1365
se concentra na prática das tendências recentes. Não queremos afirmar, com isso,
que estar à procura pela atualização das práticas pedagógicas sobre o ensino da Arte
resume um aspecto negativo da postura do professor. Porém, se as abordagens
propostas sobre essas práticas não estiverem ancoradas em uma atitude crítica do
professor que leva em consideração suas experiências, um encontro consigo mesmo,
podem provocar uma mecanização que procura atender aquela nova proposta sem
colocá-la em questionamento.
Observamos que a prática de ler a própria experiência não é uma constante
dos estudos na área pedagógica no Brasil, bem como ler as experiências de outras
pessoas, do mundo e autores que se relacionam com essa prática. Observamos
também, que na experiência educativa o pensamento intelectual e emocional é ativo e
participa das ações do indivíduo para que se estabeleçam relações não percebidas
anteriormente. Dessa forma, a experiência é capaz de ampliar conhecimentos ou dar,
a conhecimentos anteriores, outros significados. O hábito de aprender que se remete a
olhar a própria experiência vivida supõe manter condições na vida para que as
aprendizagens aconteçam. Logo, conhecer não é um ato passivo, mas antes uma
conscientização do mundo.
As ideias sobre experiência dos pensadores citados nesse trabalho não se
reduzem ao objeto, motivo da experiência, mas como resultado de uma experiência
estética que atinge um efeito catártico. Decerto são essas experiências que nos tiram
do homogêneo, do comum e do banal, pois ativam nossos afetos, nossa
intelectualidade e nossa prática em uma experiência marcante, promovendo uma
ruptura em nossas formas de ver o mundo. Experiências transformadoras nos ajudam
na constante recriação de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
Acreditamos afinal que ao observar suas experiências formadoras, e refletir
sobre a prática docente procurando observar como experiências vividas podem
contribuir com a prática, o professor de Arte conquista elementos importantes para
transformar sua ação docente.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A. M. John Dewey e o ensino de arte no Brasil. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2001.
_____. (Org.) Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002
DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
______. Experiência e educação. 2. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1976.
1366
A Educação Física deve-se aproveitar dessa mídia e fazendo com que seja
uma aliada, buscando entender o que cada um compreende daquilo que é mostrado
nos meios de informação, educando o aluno para uma reflexão critica, fazendo com
que compreenda o que é mostrado e qual é a real intenção do que está sendo
mostrado, estabelecendo algumas relações do que aparece na tela e a realidade em
que vive. (BETTI, 2001)
A função da Educação Física então é contribuir para que esse telespectador
seja critico perante a mídia, levando em consideração a cultura corporal do
movimento, em que seja feita uma “articulação pedagógica entre vivência corporal/
conhecimento/ reflexão, diferenciando-se à cultura corporal de movimento, poderá ser
frutífera e relacionar-se criticamente com a mídia” (BETTI, 2001, p. 127), não apenas
reproduzindo o que é mostrado na televisão, mas entendendo, criticando, aprendendo,
modificando e adaptando tudo aquilo que é mostrado para a realidade da escola.
A maior dificuldade, segundo Betti (2001) é que a imagem mostrada na TV,
num primeiro momento, tem um grande impacto emocional, portando nessa fase não é
possível apelar para razão. Mas, num segundo momento, deve-se refletir criticamente
a respeito do que foi visto, o problema é que na maioria das vezes essa segunda fase
nunca chega, e muitos professores passam a rejeitar a televisão, e é exatamente essa
segunda fase que deveria ser feita pela Educação.
Nesse contexto as interações educativas aparecem com a função de mediar o
discurso midiático e a concepção que os estudantes têm do mesmo. E dessa forma
estabelecer o diálogo docente-discentes, buscando incentivar a visão critica a respeito
do que é mostrado e também da forma com que essas informações são transmitidas,
a fim de que os estudantes prezem por um consumo, de certa forma, mais consciente
das práticas corporais veiculadas pela mídia.
Este recorte tem como objetivo explicitar as potencialidades dos filmes, dentre
as mídias, como recursos didáticos, em especial na disciplina de Educação Física.
Possibilidade experienciada no Curso Pré-Vestibular da UFSCar, a partir de seu
contexto limitante físico-temporalmente às aulas, posto que tal estratégia desperta não
só o interesse dos estudantes nos conteúdos da área, mas a visualização,
concretização e, concomitantemente, compreensão de interrelações conceituais,
culturais e sociais das manifestações corporais.
Desta forma, visa-se contemplar as dimensões dos conteúdos, conceitual,
procedimental e atitudinal posto que, apesar de não substituir as vivências práticas
das diversas manifestações constituintes da Cultura Corporal de Movimento,
1370
apontadas pelos PCNs como estratégias principais da Educação Física para inserção
e integração ao supracitado objeto de estudo da disciplina, não deixa de se adequar
também às indicações do ENEM, que a inserem na área de Linguagens, Códigos e
suas Tecnologias, posto que melhor se vincula às linguagens visuais, textuais e
corporais.
METODOLOGIA
Este trabalho se pautou na abordagem qualitativa que, segundo Negrine (1999,
p. 61), “trata-se de uma investigação na qual a base analógica se centra na descrição,
análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo investigativo,
procurando entendê-las de forma contextualizada”.
Executada por meio de pesquisa-ação, em especial a pesquisa-ação
estratégica, na qual, de acordo com Franco (2005), o pesquisador também é o ator
principal da intervenção, já que se propõe analisar também a própria função exercida
como “professor”, neste caso de Educação Física no CPV UFSCar. Utilizando-se para
coleta de dados, para descrição das intervenções e análise destas, o método de
análise documental e os diários de aula, como instrumento. Procurou-se evidenciar,
em complementação, a percepção do professor acerca da participação dos estudantes
diante desta nova situação frente à Educação Física, em sua dimensão
majoritariamente conceitual, no CPV UFSCar, este o qual caracteriza-se como o
campo de estudo deste trabalho, que teve como participantes os estudantes de 5
diferentes turmas (de 30 a 40 estudantes cada) que passam por exames de seleção
socioeconômica para estarem ali, apresentando, portanto, alguma variedade de idade,
não se tratando apenas de adolescentes ou jovens.
Baseado em Lüdke e André (1986), os dados foram obtidos por meio de
análise documental de escritos, em parte de fontes primárias, no caso dos
documentos do CPV UFSCar, e em outra parte de fontes secundárias como projetos,
planos de ensino e de aula da disciplina, tal análise “pode se constituir numa técnica
valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações
obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou
problema” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38), ambas funções contribuintes para o
presente estudo.
Além da análise documental, foram utilizados para a realização deste estudo os
diários de aula, dos quais Zabalza (2004) destaca que a definição é aberta, tanto pelo
conteúdo que expressa como pela maneira que é realizado o processo de coleta. Faz
algumas observações a fim de esclarecer sua definição como, por exemplo, acerca de
1371
sua periodicidade, pois sendo feito diariamente exigiria mais tempo e trabalho, porém
como as aulas ministradas pelo autor-professor são todas no mesmo dia, com o
mesmo conteúdo, variando pelo menos de acordo com a dinâmica de cada sala, foram
feitos pelo mesmo um diário para todas as aulas do dia, salientando, com isso, quando
os recursos didáticos e a participação dos estudantes foram mais satisfatórias entre
todas as salas, quando houve dificuldades em algumas, como também em todas.
DISCUSSÃO
Alguns estudos relacionam particularmente a iniciação à docência inserida em
cursos pré-vestibulares populares, mais especificamente ainda, no CPV UFSCar.
Moraes e Oliveira (2006) e Moraes (2008) já inferem, portanto, o contexto deste em tal
aprendizagem formativa. As primeiras apresentam a seguinte consideração:
não o contrário, como indica Betti (2006), caracterizando uma estratégia para melhor
utilização docente desse recurso.
O único filme presente no plano de ensino inicial era “Billy Elliot” para
discussão da questão de gênero ligada às danças e às lutas, apoiado, inclusive, em
Souza Júnior e Ferreira (2009) que já sugeriam o citado filme para tais abordagens
relacionadas à disciplina e ligadas às indicações do ENEM. Porém, a descoberta de
que este instrumento poderia ser mais utilizado veio com a necessidade de transmitir
uma melhor visualização das diferenças entre jogos e esportes, que, em outro
contexto poderia ser demonstrada através de vivências práticas, combinada à
identificação de tal possibilidade a partir do filme americano de comédia “Com a bola
toda” (“Dodgeball”), que girava em torno de um esporte (com toda sua competitividade
e formalidades, contendo um trecho que delimita as regras segundo uma federação, e
estereótipos exacerbados) chamado “dodgeball”, muito pouco difundido no Brasil, mas
que é derivado da “queimada” ou “queima” um jogo típico de extrema tradição e
popularidade em nosso país.
A partir daí foram identificados outros filmes que atendessem às demandas dos
outros conteúdos, variando sua utilização e propósitos segundo estas, aperfeiçoando-
a, como por exemplo o filme “Invictus” de Clint Eastwood, que se baseia na Copa do
Mundo de Rúgbi sediada pela África do Sul pós-apartheid, governada por Nelson
Mandela, na qual pôde-se articular diferentes estratégias, significativas para a própria
aprendizagem do professor, discutindo-se as diferenças culturais, comparando o
futebol e o rúgbi em diferentes países, a função do esporte como ferramenta política e
social e a introdução do tema “Megaeventos Esportivos” que viria a seguir, sendo
muito pertinente a este, visto que a Copa do Mundo de Futebol deste ano (2010)
também foi na África do Sul e a próxima (2014) será no Brasil, que sediará também a
Olimpíada de 2016.
Outro exemplo de diferente uso de filmes foi durante o conteúdo de lutas, para
estimular a identificação de diferentes visões de lutas transmitidas por diferentes
1374
Foi utilizado também o desenho “Wall-E”, que retrata uma visão pessimista do
futuro da humanidade, através do qual pôde-se relacionar sociedade, urbanização,
tecnologia, consumismo e a estética com as transformações das práticas, o lazer, o
sedentarismo e a saúde. Partindo em seguida para a discussão da estética
relacionada a esta última, destacando a influência da mídia, na última discussão que o
presente estudo pôde contemplar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que tal estratégia (como outras também) gerou uma maior
participação dos estudantes, além de servir como instrumento de avaliação para o
professor acerca da apreensão deles dos conteúdos já ministrados, perfazendo,
portanto, uma dialética entre professores e estudantes. Por meio de tais variações da
aula, foi possível observar que houve uma maior aproximação do “professor” e dos
estudantes, auxiliando na relação docente-discente, o que contribuiu para a evolução
da própria fala e desenvoltura do pesquisador atuante no ministrar das aulas, fazendo
parte, portanto da experiência formativa que o projeto visa desenvolver e este estudo
valorizar.
Observou-se nas discussões finais ao fim do ano, mais relacionadas aos temas
transversais, que vinham à tona sempre as discussões que se seguiram dos filmes
utilizados em cada conteúdo. Por exemplo, na discussão da esportivização da
capoeira para as Olimpíadas de 2016 no Brasil, surgiram muitos exemplos da
diferença de jogo e esporte a partir do filme “Com a bola toda”, enquanto na discussão
de gênero surgiram exemplos de estereótipos das práticas, comparando o ballet de
1375
“Billy Elliot” com a luta de “O Último Samurai”. Tendo sido, portanto, estratégias que
geraram mais participação e por meio da qual pôde-se obter avaliações também,
caracterizando muito da iniciação à docência revisada bibliograficamente, como por
exemplo a articulação entre os elementos do modelo de raciocínio pedagógico de
Shulman citado por Ferreira (2005, p. 25).
Pôde-se perceber também, por meio dos mesmos diários de aula, a evolução
do professor, destacada desde a seleção e sistematização de seus conteúdos no
plano de ensino inicial e pela constante adaptação deste, tornando-o um planejamento
dinâmico, para articular as recursos didaticos aos conteúdos, aos instrumentos e,
principalmente, aos estudantes. Caracterizando, portanto, o desenvolvimento do
modelo de raciocínio pedagógico de Shulman citado por Ferreira (2005, p. 25), que
proporciona o encaminhamento da iniciação à docência para um professor reflexivo,
que, constantemente, adquire novas compreensões, segundo o mesmo autor
(SHULMAN citado por FERREIRA, 2005, p. 25) quanto aos propósitos educativos, o
conteúdo da matéria, os estudantes, o ensino e de si próprio, consolidando um novo
entendimento e aprendizagem a partir da experiência anterior.
Pela autonomia, acompanhamento e continuidade de trabalho proporcionados,
como, senão principalmente, pelo caráter de novidade da aplicação da disciplina
nesse contexto de curso pré-vestibular popular, propiciou-se maior liberdade para
selecionar e sistematizar os conteúdos relacionados à Educação Física a serem
trabalhados, possibilitando uma abordagem que praticamente elimina os principais
dilemas apontados pela literatura quanto à disciplina no âmbito escolar, a repudia à
dimensão conceitual desta e o empecilho político-pedagógico das unidades de ensino
quanto a mudanças mais drásticas e quanto aos recursos disponibilizados para a
mesma.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Atualmente, as tecnologias digitais, como softwares e ferramentas de internet,
são cada vez mais presentes na vida cotidiana. As mídias digitais têm sido cada vez
mais utilizadas entre crianças, jovens e adolescentes, já que o acesso a smartphones,
tablets e computadores está cada vez mais fácil e estes aparatos tecnológicos
viabilizam a comunicação. Uma pesquisa realizada pela Fecomércio-RJ/Ipsos em
âmbito nacional esclarece que o percentual de brasileiros conectados à internet teve
um crescimento de 27% para 48%, entre os anos de 2007 a 2011 (ANTONIOLI, 2012),
crescimento estreitamente atrelado à expansão do número de brasileiros com acesso
à banda larga - 79,9 milhões de brasileiros têm acesso à internet (IBOPE, 2012).
Nessa perspectiva, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação
(TDIC), que têm como objeto a informação, contribuem para o processo de
fundamentação do conhecimento e, consequentemente, para a sociedade. Com o
avanço das TDIC, qualquer informação pode ser inserida e difundida no ciberespaço,
e acessada por qualquer pessoa que esteja conectada à internet.
(PIMENTA;PETRUCCI, 2010).
Sendo assim, pode-se dizer que com o advento da internet, a comunicação
mudou, impactando no comportamento das pessoas, das mais diversas camadas da
sociedade (SILVA, 2009). Da necessidade humana de interação, também em
ambientes virtuais, nascem os blogs, que podem, então, ser definidos como ambientes
essencialmente sociais (BRESOLIN, 2011).
A palavra blog é uma contração da expressão weblog – web (do inglês, teia,
também empregada para se referir ao ambiente virtual da internet) e log (do inglês,
diário de bordo) - e, portanto, consiste em um tipo de página pessoal online, em que o
conteúdo é disponibilizado em ordem cronológica. O conteúdo a ser disponibilizado
fica a critério do autor, chamado “blogueiro”, que pode postar textos, imagens e
vídeos. Bresolin (2011) esclarece que as postagens são o espaço onde os mais
egmendes@ufscar.br
1379
variados gêneros circulam. Komesu (apud Bresolin, 2011) acrescenta que o foco, e
também a aparência, dos blogs têm mudado, e atualmente não se reduzem mais
apenas à páginas pessoais, mas se voltam para divulgação de atividades profissionais
e marketing pessoal.
Isso faz com que os blogs não sejam mais tão parecidos com os diários
pessoais, característica comum às páginas criadas há alguns anos atrás, quando
surgiram os blogs. Este tipo de ambientepermite ao usuário que agregue todo e
qualquer gênero textual, imagens, vídeos, animações, o que faz com que os blogs
tenham características de sites pessoais (PRIMO; SMANIOTTO, 2006), já que o
blogueiro tem a liberdade de escolher os conteúdos que irá alimentar sua página.
Os blogs ainda podem ser definidos como um fenômeno de massa, pois
proporcionaram uma significativa mudança na comunicação. Estas páginas permitem
que o cidadão se torne uma testemunha participativa, que tem a oportunidade de
produzir e distribuir informação (SILVA, 2009). Eles proporcionam interação e
colaboração, pois viabilizam que diversos conteúdos sejam divulgados, como textos,
artigos, fotos, vídeos, emissão de opinião acerca de um assunto, entre outros. Além
disso, permitem que outros internautas comentem, opinem e interajam sobre o que
está sendo veiculado.
No que diz respeito à educação, esta é influenciada diretamente pela internet e
suas tecnologias, que começaram a ser utilizadas no século XX (BARDY, 2010) e, na
escola, é necessária para contribuir na formação de um sujeito historicamente situado
(FERREIRA; SILVA, 2011) Como esclarece Fileno (2007), as novas tecnologias de
comunicação proporcionaram novos espaços para o conhecimento, tanto de
professores, quanto de alunos. Os blogs, por sua vez, têm sido bastante utilizados na
educação, tanto como recurso, ou como estratégia pedagógica. Como recurso, os
blogs se caracterizam por permitir que o professor disponibilize materiais, dicas de
leitura, vídeos, enfim, materiais que podem ser utilizados nas aulas presenciais, ou
como uma extensão da sala de aula, em atividades extraclasse. Também permitem
que interajam com outros colegas de profissão, na troca de experiências, atividades.
Como estratégia pedagógica, podem ter a função de um portfólio, em que o aluno
registra as atividades conforme o professor solicita; ou espaço de intercâmbio entre
instituições geograficamente distantes, acerca de um tema em comum; e ainda,
espaço de debate e integração (SILVA, 2010).
1380
RESULTADOS
Os cinco trabalhos elencados foram lidos na íntegra e categorizados quanto à
abordagem do blogpara o desenvolvimento profissional de docentes.
Estas abordagens são: (a) blogspara formação de professores, contribuindo
para a prática pedagógica no processo de ensino e aprendizagem; (b) blog utilizado
como portfólio reflexivo; (c) blog como recurso complementar para as atividades de
formação continuada.
Discussão
A concepção adotada neste trabalho foi o desenvolvimento profissional de
professores, visto que esse conceito é abrangente, e envolve desde a formação inicial,
até a continuada, e também ações para aprimoramento de conhecimentos
(FERREIRA; SILVA). Nessa perspectiva, os blogs têm a possibilidade de serem
utilizados para o desenvolvimento profissional de professores, como constatado na
análise da produção científica dos últimos anos.
No curso oferecido a professores de um município paulista, objeto de
investigação da pesquisa de Nunes (2010), constatou-se que os blogs viabilizaram
que professores refletissem sua prática pedagógica e criassem as páginas de acordo
com sua realidade. Pode-se dizer que a criação dos blogs pelos professores
favoreceram o desenvolvimento profissional, pois tiveram que fazer reflexões acerca
de público alvo (alunos) com que lidavam, a realidade em que estavam inseridos e
quais conteúdos relacionados à matemática priorizariam, o que também ocorreu no
trabalho de Azevedo (2009), em que o blog se configurou como uma extensão da sala
de aula, mediação pedagógica e aprendizagem ativa dos alunos, o que exigiu que os
docentes repensassem a prática pedagógica.
Outro emprego do blog foi como portfólio reflexivo, como suporte à formação
continuada (SANTOS, 2011), ou ainda, como suporte à atividades presenciais
(ANDRADE FILHO, 2011). O trabalho com o registro tendo como apoio o blog
viabiliza a interlocução (ANDRADE FILHO, 2011), e também que os registros ficassem
disponíveis online, sendo acessíveis a outras pessoas. Assim, o professor tem a
oportunidade de se colocar como testemunha participativa (SILVA, 2009), em que
posta nesse ambiente materiais provenientes de suas leituras e reflexões.
Os blogs também podem ser usados como meio de interação e colaboração
online entre professores, pois podem ler diversos textos, refletir, criticar e interagir com
outros professores, de outras redes (MACHADO, 2008).
Essas práticas contribuem para o desenvolvimento profissional do professor,
pois podem levar a mudanças na prática pedagógica, na maneira de buscar
conhecimento e refletir sobre suas ações (ALMEIDA, 2011).
1386
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da produção científica dos anos de 2008 a 2012 mostrou que,
embora os blogs tenham sido criados em 1996, têm sido cada vez mais utilizado em
várias áreas, inclusive no contexto pedagógico, e no âmbito da formação de
professores e seu desenvolvimento profissional. Embora o início do blog date de
meados da década de noventa, e seu foco era voltado para a divulgação de
informações e comunicação, evidenciou-se por meio da análise realizada que este
recurso vem sendo incorporado à educação.
Em relação à formação docente, notou-se que o blog tem sido utilizado como
um ambiente no qual os professores pesquisam, têm acesso à leituras, discutem,
interagem e refletem acerca de suas práticas. Tal reflexão é provocada tanto pelas
leituras, quanto pelo diálogo, interação e troca de experiências com seus pares.
Os dados analisados colaboraram para que fosse evidenciado que existem
diversas vantagens na utilização do blog na educação. Assim, há várias possibilidades
de inserir os blogs no processo educativo, em todas as etapas de ensino e inclusive
para a formação do professor.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Formação de professores para inserção do computador na escola:
inter-relações entre percepções evidenciadas pelo uso do software CHIC. Revista
Educação Matemática Pesquisa, v. 4, n. 2, 2002. Disponível em:
http://math.unipa.it/~grim/asi/asi_03_bianconcini.pdf. Acesso em 09 de agosto de
2012.
ALMEIDA, F. J. O educador, magnamidades e ambiguidades. São Paulo em
Perspectiva, v. 15, n. 2, São Paulo, abr/jun. 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
88392001000200013&script=sci_arttext&tlng. Acesso em 09 de agosto de 2012.
ANTONIOLI, L. Estatísticas, dados e projeções atuais sobre a Internet no Brasil.
Disponível em: http://www.tobeguarany.com/internet_no_brasil.php. Acesso em 08 de
agosto de 2012.
AZEVEDO, M. E. P. A visão de professores sobre o uso pedagógico do blog e a
mediação da aprendizagem do aluno. 2009. 109 p. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, Goiânia.
ANDRADE FILHO, A. C. O uso do portfólio na formação contínua do professor
reflexivo pesquisador. 2011. 294 p. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.
1387
REVISÃO DE LITERATURA
A pesquisa bibliográfica busca enaltecer conhecimentos já produzidos e já
publicados, resultados de pesquisas concretas e de qualidade. Essa modalidade de
pesquisa se realiza a partir do registro de publicações disponíveis, decorrentes de
pesquisas anteriores, em documentos impressos e on line, como livros, periódicos,
teses e dissertações; a fonte bibliográfica é encontrada geralmente em bibliotecas ou
base de dados (SEVERINO, 2007; GIL, 2010). Portanto, a discussão teórica neste
estudo tem sua base em publicações sobre Taxonomia de Bloom, Epistemologia e
Conhecimento, as quais são apresentadas a seguir.
Taxonomia de Bloom
A Taxonomia de Bloom é uma ferramenta criada por Benjamin e sua equipe
com a finalidade de classificar os objetivos educacionais. Benjamin nasceu no dia 21
de fevereiro de 1913 (Lansford, Pennsylvania) e faleceu em 13 de setembro de
1999.Foi professor na Universidade de Chicago onde desenvolveu investigações
sobre os processos de planificação e avaliação no ensino. Bloom (1963) era contra o
1391
EPISTEMOLOGIA E CONHECIMENTO
A palavra “Epistemologia” descende do termo grego episteme que "significa
ciência por oposição a doxa (opinião) e a thechné (arte ou habilidade)". A terminação
logia descende de logus que, em grego, significa teoria, conceito, ou mesmo, ideia e
palavra (JAPIASSU; MARCONDES, 1990, p. 82). Fialho, Remor e Sousa (2012)
definem epistemologia como sendo o campo que estuda o conhecimento científico e
suas implicações no trabalho de pesquisa acadêmica.
A Epistemologia, portanto, é o campo de estudo cujo objeto é o conhecimento
científico. Ela abriga também o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos
resultados das diversas ciências, que se destinam a determinar a sua origem lógica, o
seu valor científico e a sua importância na sociedade do conhecimento.
De modo geral, a ciência estuda os fenômenos físicos ou mentais, com o objetivo de
conhecê-los. Em princípio, o objetivo da ciência é o conhecimento, cujo valor está em
si mesmo. Os produtos específicos da ciência são teorias, como conjuntos de
conceitos ou ideias, que explicam e justificam os fenômenos estudados (FIALHO;
REMOR; SOUSA, 2012).
Em Lecourt (1983), Bachelard enfatiza que em séculos passados, acreditava-
se ainda no caráter empiricamente unificado do conhecimento. A ciência apresentava-
se como conhecimento homogêneo, como a ciência do nosso próprio mundo,
organizada por uma razão universal e estável. Lopes (2007) complementa este
pensamento quando ressalta que o epistemólogo debatia sobre a ciência na busca
constante de rompimento com o monismo metodológico e com as visões mais
arraigadas do positivismo lógico sobre a produção do conhecimento científico. O
1394
objetivo de Bachelard não era ensinar aos cientistas como proceder em seu trabalho.
“Seu diálogo era com os filósofos de seu tempo, questionando uma Filosofia desatenta
às transformações radicais que sofre a razão humana com o advento da ciência
contemporânea” (LOPES, 2007, p. 31). Para Bachelard, a ciência opõe-se
absolutamente à opinião, ao conhecimento vulgar, assim o senso comum é o primeiro
obstáculo a ultrapassar. Para ele, o conhecimento científico é sempre a reforma de
uma ilusão (LECOURT, 1983).
Williams (2001) observa que, no que concerne à epistemologia, para perceber
o que há de diferente numa determinada área teórica, a melhor forma de começar, é
perguntar que problemas são abordados. Desta forma, o autor sugere que se
distingam cinco tipos de problemas, conforme demonstra o quadro 1:
Quadro 1 - Cinco tipos de problemas para analisar determinada área teórica
PROBLEMAS REFLEXÃO
O que é o conhecimento? Como se distingui o conhecimento da
simples crença ou opinião? O que aqui se pretende, idealmente,
Problema analítico é uma explicação precisa ou "análise" do "conceito" de
conhecimento.
METODOLOGIA
O estudo teve como método de pesquisa a pesquisa bibliográfica. Sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito
sobre determinado assunto, permitindo ao pesquisador reforçar suas análises ou
manipulações de suas informações (MARCONI; LAKATOS, 2009).
DISCUSSÃO
Bloom enfatiza que a aprendizagem é hierárquica, considerando que, para
atingir ao mais alto nível de apresendizado cognitivo, que é a criação, ela depende da
realização do mais baixo nível de conhecimentos e habilidades, num processo
evolutivo. Já a proposição da Taxonomia Revisada, apesar de manter o mesmo
desenho hierárquico da original, é flexível, pois considera a possibilidade de
interpolação das categorias do processo cognitivo. A Taxonomia de Bloom fornece
uma base coerente e sólida para a aplicação, análise, avaliação e criação do
conhecimento, e, consequentemente, determina o domínio cognitivo do planejamento
educacional dos docentes e do aprendizado dos alunos.
Anderson et al.(2001) afirmam que a Taxonomia de Bloom revisada possibilita
melhorar a estrutura dos objetivos educacionais, como também auxiliar os educadores
1396
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a Taxonomia de Bloom Revisada é uma ferramenta relevante
para analisar as dimensões do conhecimento que são propostas no Projeto Político
Pedagógico do EGC. Esta ferramenta também contribui para o acompanhamento do
professor quanto aos objetivos educacionais escolhidos para a disciplina, que serão
desenvolvidos pelos alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
favorecendo também o controle da eficiência dos planejamentos executados.
Torna-se evidente que as instituições de ensino que adotam a Taxonomia de
Bloom para planejar e organizar os planos de ensino com vistas ao desempenho e
amadurecimento do aluno, no que se consagra a evolução do conhecimento, obtém
êxito no processo de ensino-aprendizagem, já que definem previamente os objetivos
1397
REFERÊNCIAS
ANDERSON, L. W.; KRATHWOHL, D. R. A taxonomy for learning, teaching and
assessing: a revision of Bloom's Taxonomy of educational objectives: Complete
edition, New York: Longman, 2001.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
LECOURT, D.; BACHELARD, G. Epistemologia: trechos escolhidos. Rio de Janeiro:
Editora Zahar,1983.
BLOOM, B. S.; KRATHWOHL, D. R.; MASIA, B. B. Taxonomia de objetivos
educacionais: domínio afetivo. Porto Alegre: Globo, 1973.
FIALHO,F.;REMOR, J. C.; SOUSA, R. P. Epistemologia e ciência no século XX: o
século XXI e as epistemologias da interdisciplinaridade.UFSC,2012.
FOREHAND, M. Bloom's taxonomy: original and revised, 2005. Disponível em:
http://projects.coe.uga.edu/epltt/index.php?title=Bloom%27s_Taxonomy. Acesso em:
26 ago. 2012.
JAPIASSU, Hilton F. O mito da neutralidade científica. Rio, Imago, 1975.
KIMIZ, D. Knowledge Management in theory and practice. Boston: Elsevier, 2005.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1986.
LOPES, A. C. Currículo e Epistemologia. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2007.
NONAKA, I; TAKEUCHI, H. Criação do conhecimento organizacional. Rio de
Janeiro: Campus, 1997.
PEIRCE, C.S. The essential Peirce: selected philosophical writings. Indianapolis:
Indiana University Press, 1992. v. 1.
POPPER, K.Conjecturas e Refutações. Brasília: UnB,1994.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. São Paulo:Cortez, 2007
TORRES, P.L. (Org.) Alguns fios para entretecer o pensar e o agir. Curitiba:
SENAR-PR, 2007.
1398
INTRODUÇÃO
A inclusão escolar de alunos com necessidades especiais, conforme afirma
Serra (2006, p. 32) trata do “direito à educação, comum a todas as pessoas e o direito
de receber a educação, sempre que possível, junto com as demais pessoas nas
escolas regulares”.
Segundo Sassaki ( 2005), o mundo está direcionado a um processo irreversível
de inclusão e vários âmbitos da sociedade atribuirem valores a inclusão,. Atualmente,
no Brasil, a inclusão escolar é uma realidade, sustentada por dispositivos legais e pelo
discurso oficial.
Alunos com deficiência auditiva, visual, física e intelectual estão matriculados e
frequentam classes comuns em escolas públicas e particulares (BRASIL, 2008). No
período de 1996 a 2003, houve aumento de matrículas de.
210% para alunos com deficiência física, 200% para alunos com
deficiência visual, 165% para alunos com deficiência múltipla, 108%
para alunos com deficiência intelectual, 83, 2% para alunos com
deficiência auditiva e de 77% para estudantes com as condutas
típicas de síndromes (MENDES, 2006, p.398).
Educação Básica (2000) indicam que a perspectiva inclusiva deve ser contemplada no
projeto político-pedagógico dos cursos de licenciatura.
O estudo realizado por Possa e Naujorks (2009) identificou a necessidade de
que o licenciando sabia atuar para a transformação da escola atual em escola
inclusiva.
A formação inicial de professores que saibam ensinar todos os alunos e que
sejam capazes de “conceber e de ministrar uma educação plural e democrática” é
condição para a construção de práticas inclusivas nas escolas (FREITAS et al, 2006 e
MONTOAN, 2003, XI).
Neste contexto, questiona-se: o que sabem e o que pensam futuros
professores sobre inclusão escolar?
Aceitando-se a formação inicial como um momento crucial para a reflexão e a
aceitação da diversidade, das potencialidades e habilidades individuais, sem a visão
clínica focada apenas nas possíveis limitações, buscou-se investigar como futuros
professores de Ciências e de Biologia compreendem a educação inclusiva.
Portanto, identificar e analisar a compreensão de alunos da licenciatura de
Ciências Biológicas sobre educação inclusiva, foi o foco principal do trabalho.
METODOLOGIA
Esta investigação reconhece os alunos da licenciatura como sujeitos,
pertencentes a determinada condição e a um grupo, possuidores de crenças, valores,
interpretações e significados e entende que o estudo de significados e crenças não
pode ser meramente quantitativo, envolvendo o estabelecimento de relações e a
análise e processos (LUDKE; ANDRÉ, 1986; MINAYO, 1998).
O estudo foi realizado com alunos do último ano do curso de Ciências
Biológicas – Licenciatura, dos períodos integral e noturno de uma universidade pública
estadual do interior de São Paulo.
Os dados da investigação foram coletados por meio de questionário, que
continha perguntas iniciais de identificação e sete questões, sendo cinco dissertativas
abertas e duas objetivas de múltipla escolha, envolvendo três aspectos:
-a compreensão de educação inclusiva, de necessidade educacional especial e
das dificuldades para inclusão escolar;
- o contato com a inclusão escolar e
- atuação em contexto inclusivo.
O questionário foi aplicado no final do segundo semestre de 2012, durante uma
aula, após autorização do professor responsável, e participaram do estudo apenas os
1402
Resultados
Participaram do estudo 53 alunos, sendo 25 do período integral e 28 do
período noturno, 35 do sexo feminino e 18 do sexo masculino, com idades entre 22 a
34 anos.
Os alunos são identificados, neste texto, com a letra I (integral) e o número de
1 a 25 e a letra N (noturno) e o número de 1 a 28.
As respostas relativas à compreensão dos licenciandos sobre necessidade
educacional especial indicaram dois focos principais:
- indivíduos – 37 respostas indicaram a necessidade educacional especial
como uma característica própria do indivíduo. As respostas divergiram ao
referirem-se ao indivíduo como deficiente (14 respostas), deficiente e
superdotado (02), com dificuldades ou problemas (08), com necessidades
específicas (06) ou necessidade de atenção ou diferente (07), como
exemplificado nas respostas transcritas abaixo:
I10- “Fornecer modos de ensino específico e tratamento de equidade para alunos que
necessitem de alguma necessidade educacional específica”.
I15- “Quando há necessidade de ter novas estratégias de ensino que aborde alunos que
possuam necessidades especiais desde cognitivos até físicos”.
N27- “Necessidade de diferentes métodos de ensino-aprendizagem”.
1403
“Tudo que numa sala comum não conseguimos lidar com aquela necessidade”.
“Acredito que este seja mais específico e que haja um cuidado mais especial”.
I2- “Uma educação que consiga atender todas as necessidades de todos os alunos”.
I11- “Incorporar pessoas com necessidades especiais em um ensino “normal”.”
N4- “A educação inclusiva visa incluir alunos com necessidades especiais nas salas de aulas
regulares”.
N 7- “Educação inclusiva é aquela que considera todos os estudantes, com ou sem deficiência,
capazes de aprender.”.
As respostas envolveram palavras como “inclui, insere, incorpora, adapta, não
segrega, não exclui”. Uma resposta (N24) referiu-se especificamente a “Uma
metodologia educacional que tenha como objetivo ensinar alunos com necessidades
especiais, igualmente com outros”. Uma resposta do período integral diferenciou-se
das demais por indicar: “A escola tem que se adaptar aos alunos e não os alunos de
adaptarem à escola”.
Em relação às maiores dificuldades para a inclusão, um licenciando indicou
desconhecer as dificuldades e os demais apresentaram respostas diversificadas, que
reuniram duas ou mais dificuldades.
As dificuldades mais indicadas estão apresentadas no quadro 1, a seguir:
Quadro 1- Dificuldades para inclusão
Dificuldades Total de resposta
Despreparado do professor 28
Preconceito 13
Falta de estrutura física (salas numerosas) 8
Profissionais despreparados 6
Falta de recursos equipamentos 5
Dificuldade de acompanhamento do aluno 5
Falta de preocupação dos órgãos - incentivo político 4
Relação entre alunos 3
1404
I7- “Eu acredito que seja tanto a falta de experiência dos adultos (presentes na escola) de lidar
com a inclusão, como a falta de materiais didáticos que auxiliem. E em alguns casos ainda
existe o preconceito”.
I9- “A grande dificuldade é a falta de profissionais capacitados para dar uma atenção maior
exigida pelo aluno especial, salas numerosas impossibilitam o professor de dar atenção
diferenciada a cada grupo”.
I16- “Professores despreparados, classes sem infraestrutura, equipamentos inadequados”.
N12- “A falta de estrutura física, a falta de preparação dos professores e a falta de vontade
política”.
N2- “Acho que a maior dificuldade é enfrentar o preconceito”.
Verifica-se que, de um modo geral, os licenciandos compreendem
necessidades educacionais especiais como relacionado às características do sujeito,
em especial deficientes. A educação inclusiva é entendida como uma educação para
todos e os licenciandos indicaram a preocupação com o a não exclusão, com o
preconceito e com atendimento às necessidades dos alunos. Verifica-se que eles
indicaram uma compreensão mais ampla das dificuldades relacionadas ao processo
inclusivo, reunindo diferentes fatores, sendo, o despreparo do professor apontado por
um número significativo de alunos.
O contato com o processo inclusivo foi investigado em três aspectos: contato
geral, abordagem das disciplinas da licenciatura e contato por meio do estágio. Em
relação ao contato geral, 32 licenciandos indicaram que já tiveram contato com o
processo inclusivo, sendo 15 na licenciatura, oito no ensino básico, um na licenciatura
1405
I8- “Sim, na escola que fiz estágio havia alunos com deficiência intelectual e outros com
deficiência auditiva. Nas aulas do estágio, tentamos adaptar as aulas para esses alunos (com
mais imagens, levamos modelos didáticos, etc), mas não senti que eu estava realmente
preparada par lidar com isso”.
I13- “Sim. Uma estudante de baixa visão na 5ª série, turma que fiquei responsável durante o
projeto temático...”.
I12- “O contato foi com uma garota com DI. Ela fez um cartaz sobre modos de transmissão da
AIDS e eu a ajudei na elaboração”.
Pelas respostas, pode-se considerar que o contato não favoreceu uma
percepção positiva do processo, conforme ilustrado nas respostas transcritas abaixo:
I3- “Sim. Na escola em que escolhi para realizar o estágio supervisionado II há um programa
de inclusão. Apesar da adaptação existente na escola (corredores com rampa, intérprete, etc...)
ainda assim é possível perceber a fragilidade dessa inclusão”.
I17- “Sim, uma aluna deficiente auditiva no 3º ano do E.M. Havia uma intérprete na sala, porém
tive a impressão que o rendimento dela não era satisfatório”.
O contato com o processo inclusivo não parece ser objeto da formação dos
licenciandos. Conhecimentos sistematizados e experiências didáticas não foram
intencionalmente proporcionados durante o processo de formação e não foram objeto
de análise pelos licenciandos. Por outro lado, o contato que existiu não favoreceu uma
percepção positiva do processo.
Em relação à atuação em sala de aula no contexto inclusivo, como professor
de Ciências ou de Biologia, três alunos indicaram não saber o que fazer. Oito alunos
se referiram à inclusão, de um modo geral, e as demais respostas foram organizadas
em cinco grupos, conforme indicado no quadro 2.
Quadro 2- Ações como professor
1406
Respostas Total
Busca por conhecimento 23
Adequação-adaptação das aulas 14
Atenção à inclusão e a não segregação 11
Utilização de novos métodos 6
Utilização de recursos diferenciados 5
Envolvimento de outros alunos 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade denunciada em 1997, por Ferreira e Nunes (apud Camargo, 2008, p.
74), de que: “o professor não discute nos cursos de licenciatura das universidade
brasileiras problemas ligados à relação entre educação alunos com deficiência’’
parece se revelar, novamente, neste estudo.
Essa discussão não envolve apenas a apropriação de conhecimentos
sistematizados sobre inclusão, diversidade e, direitos, mas exige o oferecimento de
oportunidades para que futuros professores durante o processo de formação inicial
possam “refletir sobre as propostas de mudança que mexem com seus valores e com
suas convicções” (MITTLER, 2003, p.184).
Compreende-se que é a partir de sua formação inicial, envolvendo valores,
crenças e conhecimentos, que o professor estabelece sua orientação inclusiva e
1407
define sua forma de agir, pensar e atuar junto à perspectiva inclusiva (SALGADO,
2003). Assim, torna-se central proporcionar na base, ou seja, durante a formação
inicial, experiências e orientações inclusivas.
O desafio está na construção de “culturas, políticas e práticas de inclusão
durante o processo de formação de professores, enfatizando a dimensão pessoal e as
subjetividades que permeiam este processo” (SALGADO, 2003).
Assim como Mittler (2003, p. 189) entende-se que “assegurar que os professores
recentemente qualificados tenham uma compreensão básica do ensino inclusivo e de
escolas inclusivas é o melhor investimento que pode ser feito em longo prazo.
Esse autor propõe que “até que os professores recentemente qualificados de
hoje se aposentem nos anos de 2040, todos os professores devem ser completamente
preparados para ensinar todos os alunos”.(MITTLER, 2003, p. 203)
REFERÊNCIAS
BRASIL - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Política Nacional de Educação Especial
na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em
www.mec.gov.br. Acesso em 20 de março de 2009.
BRASIL - http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/04/18/cresce-inclusao-de-
deficientes-em-sala-comum
BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais, Adaptações Curriculares,
1998.Disponível em: <www.educacaoonline.pro.br>. Acesso em 15/02/2010.
CAMARGO, E. P. de Ensino de física e deficiência visual. São Paulo:
Plêiade/FAPESP, 2008.
FREITAS, M. I. C.; VENTORINI, S. E; RIOS, C.; ARAÚJO, T.H.B. Os desafios da
formação continuada de professores visando à inclusão de alunos com
necessidades especiais. Rev. Ciênc. Ext. v.3, n.1, p.100,2006. Disponível em
http://200.145.6.204/index.php/revista_proex/article/view/365. Acesso em novembro de
2012.
MENDES, E. G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil.Rev. Bras.
Educ. v.11, n.33, pp. 387-405, 2006.
MESQUITA, A.M. A. A formação inicial de professores e a educação inclusiva:
analisando as propostas de formação de cursos de licenciatura da UFPA. Dissertação
(Mestrado) Programa de pos graduação em educação - UFP, 2007. Disponível em:
http://repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/1656/1/Dissertacao_FormacaoInicialProf
essores.pdf. Acesso em: jan. 2013.
MONTEIRO, A. P. H E MANZINI, J.E. Mudanças nas concepções do professor do
ensino fundamental em relação à inclusão após a entrada de alunos com deficiência
em sua classe. Rev. bras. educ. espec. Maríliav.14, n. 1, Jan./Abr. 2008
MITTLER, P. Educação inclusiva-contextos sociais. Porto legre: Artmed, 2003.
POSSA L.B. E NAUJORKS, M.I. – Formação de professores em educação
especial: os discursos produzidos em textos científicos. Disponível em
http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/trabalhos/GT15-5759--Int.pdf. Acesso
em 15 jan. 2013.
1408
INTRODUÇÃO
Há muito tempo o capitalismo se tornou tão dominante que tentamos torná-lo
normal ou natural. A economia de mercado deve ser em todos os sentidos competitiva.
“A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a todos nós consumidores
escolher o que mais nos satisfaz pelo menor preço; e ela faz com que o melhor vença
[...]” (SINGER, 2002, p. 8). Porém, o capitalismo produz verdadeira desigualdade,
polarização entre ganhadores e perdedores. Enquanto os ganhadores acumulam
capitais, galgam posições e avançam nas carreiras, os perdedores acumulam dívidas
pelas quais vão pagar juros, ficam desempregados e acabam se tornando derrotados.
“Vantagens e desvantagens são legadas de pais para filhos e para netos” (SINGER,
2002, p. 8). Esse ciclo acaba produzindo sociedades profundamente desiguais.
Para que isso se revertesse, seria preciso que a economia fosse solidária em
vez de competitiva. Assim, os participantes na atividade econômica deveriam ser
cooperadores entre si ao invés de competidores (SINGER, 2002).
O modo como as empresas são administradas parece ser a principal diferença
entre Economia Solidária e capitalista. Essa última aplica a heterogestão onde a
administração é hierárquica, formada por níveis sucessivos de autoridade, entre os
quais as informações fluem de baixo para cima e as ordens ao contrário (SINGER,
2002). Um Empreendimento em Economia Solidária (EES) aplica a autogestão, ou
seja, ele se administra democraticamente. As ordens e instruções fluem de baixo para
cima, já as demandas e informações de forma inversa. A autogestão exige um esforço
adicional dos trabalhadores, pois além de cumprir as tarefas, cada um tem de se
preocupar com os problemas da empresa (SINGER, 2002).
Nesse contexto de autogestão, a Economia Solidária tem sido entendida como
o “[...] conjunto de atividades econômicas: de produção, distribuição, consumo,
poupança e crédito organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e
trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária” (BRASIL, 2006, p. 11).
possuírem um site em que ela pudesse obter todas as informações e que em algumas
regiões havia um único Curso de Pedagogia instalado em diversos Campi, ela
analisou somente 36 cursos, chegando à seguinte conclusão:
METODOLOGIA
1414
3Esta incubadora tem sede na UFSCar, mas é aberta à participação de pesquisadores de diversas
universidades.
4Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da
USP e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
1415
apontados na introdução deste trabalho. Após essa análise, elaboramos uma proposta
pedagógica com materiais didáticos manipulativos para utilização em curso de
formação de professores do Ensino Fundamental (Ciclo I). Elaboramos uma tábua
com chanfros que pode ser confeccionada com resíduo de madeira. Esta tábua foi
idealizada no grupo de Educação Matemática e Economia Solidária – do qual fazemos
parte – e esteve relacionada principalmente com o projeto de iniciação científica de
dois outros alunos orientados pela segunda autora desse trabalho. A partir da
idealização deste material, começamos a elaborar atividades investigativas para o
Ensino de Matemática da Educação Básica; sendo que o foco desta pesquisa em
particular voltou-se para a formação de professores. A título de exemplificação, neste
trabalho, apresentaremos e discutiremos algumas dessas atividades, as quais serão
incorporadas em uma proposta a ser trabalhada com professores da Educação Básica
(Ciclo I), sendo que caberá ao professor direcionar e orientar o nível de
aprofundamento possibilitado pelo uso do material a partir de sua realidade, ou seja,
de seu grupo de alunos.
DISCUSSÃO
A tábua proposta foi projetada para ser confeccionada em madeira e tem
potencial pedagógico para abordar fundamentos de álgebra e de geometria. Dentre
esses conteúdos gerais, destacamos outros mais específicos para serem trabalhados
por meio de sua utilização para o Ensino Infantil e Ensino Fundamental I, a saber,
cálculo de operações básicas; construção e identificação de formas geométricas,
possibilitando o ensino do perímetro, área, diagonais, simetria, ampliação e redução
de figuras e ângulos; localização espacial; construção de itinerários; entre outros.
No que segue, apresentamos uma sequência didática para alunos do Ciclo 1,
com o objetivo de abordar adição de números naturais:
10. Existe outra representação para esses números? Você consegue reagrupa-los em mais
grupos?
11. De quantas maneiras diferentes, utilizando valores iguais, você consegue reagrupar o
número 30? Demonstre em sua tábua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1417
REFERÊNCIAS
METODOLOGIA DA PESQUISA
DADOS E ANÁLISE
O primeiro aspecto observado nas informações coletadas é sobre o
conhecimento dos professores a cerca da Lei nº 10.639/03.
A busca pelo saber sobre as relações raciais permite que o professor faça a
intervenção pertinente às leituras mal interpretadas da Lei nº 10.639/03 em seu grupo
de trabalho. Um dos professores entrevistados relata como o grupo de professores do
seu ambiente de trabalho compreendeu a implementação da Lei. Diz ele:
Era como se fosse assim, uma lei que a gente tinha que trabalhar. E não uma mudança em
relação aos nossos conteúdos. E, até mesmo a forma como a gente apresenta esses
conteúdos aos nossos alunos. Então, até é uma crítica muito grande dos professores. Mais
uma coisa pra gente trabalhar? Porque assim, não tiveram noção que não é pra se trabalhar a
lei (frisou), levar a lei pra sala de aula e trabalhar, discutir com os alunos aquela lei. É sim, uma
mudança de conteúdos, até mesmo como você vai relacionar com esse conteúdo e apresentar
aos alunos (Professor B).
Eu consegui colocar o tema em 2008, quando vim para a coordenação. E a professora Cândida
veio aqui falar. Aí o pessoal ficou encantado, ela passou aqui e passou aquele vídeo da boneca
[...] daí pra frente abriu caminho. E quando falei no outro ano que tava fazendo o curso, a
resistência foi muito menor (Professor E).
identificar com aquele que o discrimina. Nessa questão, são as formações que
contribuem para o respeito e reconhecimento da pluralidade e diversidade, trazendo à
tona uma verdade até então camuflada (GADOTTI, 2002).
Outro ponto pesquisado foi à busca do relato de discriminação e preconceito no
ambiente escolar. 100% dos entrevistados contam que têm vivido ou assistido a
discriminação e o preconceito, como se pode ler no relato do Professor A: Situações
de preconceito são comuns no ambiente escolar, no que tange a temática. Só que elas
aparecem, em tom de brincadeira, de maneira disfarçada, nunca ou quase nunca
diretamente.
Diante de situações estereotipadas, preconceituosas e discriminadoras, o
grupo pesquisado, sensibilizado pela causa, promove um processo de construção de
ideias e discussões raciais até chegarem ao ponto da elaboração do planejamento,
execução e avaliação do projeto de intervenção.
No próximo depoimento é possível observar a intervenção dos professores e a
preocupação em resgatar a auto estima da criança negra e a própria ação pedagógica,
agora pensada, mobilizada, com vista às relações raciais.
[...] E surgiu então a ideia de fazer o projeto que culminou no dia de zumbi. Surgiu por causa
do que tava acontecendo na sala e apareceram mais outros casos. E os professores
interessaram. [...] Foi o primeiro trabalho na escola sobre relações raciais, que até então, antes
de entrar no curso eu nunca tinha conseguido convencer ninguém de fazer algo, nem parecido
(Professor E).
Muitos professores, contrários ao trabalho, argumentam que o problema é
causado pelos próprios negros, que não se gostam, ficam criando situações, é o que
afirma o professor B:[...] Primeira coisa que o grupo coloca é que o negro é quem mais
se discrimina.
Segundo Brasil (2004), “Outro equívoco a enfrentar é a afirmativa de que os
negros se discriminavam entre si e que são racistas também.”3 Essas ideias devem
ser analisadas no contexto político e social, levando em conta a política do
branqueamento, que trouxe a ideia de superioridade de brancos sobre negros e,
consequente, “marcas negativas na subjetividade dos negros e também dos que os
discriminam.” (MULLER, 2009, p.124).
Nesse momento, o conhecimento e a sabedoria são essenciais, como ditos
anteriormente, para desmobilizar comportamentos racistas que ainda insistem em
permanecer na sociedade
[...] eu tive a oportunidade de conhecer uma colega que hoje faz o curso com a gente na
especialização. E ela na época fez o primeiro curso de extensão do NEPRE e ela estava
trabalhando as diferenças na educação, era um dos temas. Não lembro bem se era isso, mas
acredito que sim. E ela como coordenadora da escola queria desenvolver a lei na prática. E aí,
começamos a desenvolver este trabalho dentro da escola. Foi aí, que começou todo o
processo que é hoje, o curso. Quando ela falou: Professor D eu estou fazendo esse curso na
UFMT. Ela já estava concluindo, até na época tinham umas pessoas do NEPRE lá, assistindo.
Até eu disse: Ah, um dia eu quero fazer, quando terminar minha graduação eu quero fazer uma
especialização nessa área. Professor D
Pode se observar como a presença do NEPRE é importante na vida
profissional dos que participam de cada formação proporcionada. A formação, o
conhecimento é a maior ferramenta que o profissional da educação vem a ganhar com
o curso de especialização em Relações Raciais.
Buscando edificar produções em torno das relações raciais e compreender
como esse processo perpassa entre professores e alunos no ambiente pedagógico
que o NEPRE, instituições educacionais superiores e pesquisadores têm feito estudos
que vem confirmar as mazelas que o afro-brasileiro sofreu e sofre no seu percurso de
vida.
Os estudos de Jesus (2010), Sá (2009), Lando (2007) traz em comum a
trajetória de vidas, os preconceitos e discriminação perpassadas ora em evidência, ora
camuflada, mas a maioria velada, só sentida por quem é afro-brasileiro com ressalva
para a intensidade da cor da pele.
As autoras investigaram a realidade Matogrossense, buscando as vivências
escolares por professores e/ou alunos, denunciando os processos de formação e de
1425
Gomes (2008, p. 151), falando sobre formação concluiu que “nesse processo, é
evidente que não se pode mudar o mundo, já dado, mas é possível buscar por
caminhos para transformar a ordem social ao invés de reproduzi-la”.
A formação de professores em relações raciais permite conhecimentos
pertinentes, reflexão sobre a prática e sem dúvida a transformação da ordem social,
mesmo que lentamente.
Segundo Gomes (2005) para nos orgulharmos da ancestralidade africana no
Brasil, é preciso que conheçamos a História da África e da cultura afro-brasileira, para
então compreendermos a sua contribuição para a vida da população brasileira.
Conhecer nossas origens possibilita a construção da identidade racial, favorece
a valorização ancestral e, consequentemente traz a auto estima de cada ser, segundo
sua história de vida e cultura.
A autora afirma que o fracasso causado pelo racismo será superado com
intervenção, quando a formação dos professores proverem saberes necessários às
ações igualitárias e respeitosa às diferenças.
No sentido de atender às diferenças e às dimensões curriculares, é que a Lei
nº 10.639/03 pretende resgatar a história e a contribuição dos afro-brasileiros, porque
há mais de três séculos lhes foram negados o direito de ter direito, a ver a própria
história, de se identificar como sujeito construtor de história, de se fortalecer como
nação.
Munanga (2008), ressalta a importância do ensino da História da África e da
Cultura Afro-brasileira tantos a brancos quanto a negros, como forma de evidenciar
socialmente a contribuição dos negros para a emancipação nacional do Brasil e
1427
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1429
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Trata-se de um estudo sobre “Trajetória de vida de professoras Negras”, que
integra o Projeto Construindo novas identidades culturais: educação e mulheres em
Mato Grosso, do Núcleo de Pesquisa sobre Relações Raciais e Educação-NEPRE, da
Universidade Federal de Mato Grosso. Pretende-se neste trabalho investigar as
trajetórias de vida de duas professoras negras, atuante da rede pública de ensino da d
Baixada Cuiabana, localizada no Estado de Mato Grosso, buscando evidenciar as
experiências raciais sofridas pelas professoras, as formas de superação e o
protagonismo em busca da ascensão social.
Nesse contexto, objetiva-se especificamente: a) compreender as situações e as
formas de enfrentamento a cerca das discriminações raciais que as professoras
vivenciaram no percurso escolar e profissional, b) analisar o processo de ascensão
social conquistadas por essas mulheres.
O interesse em realizar esta pesquisa se consolidou a partir de dois momentos
importantes: primeiro, a minha experiência pessoal, que como mulher negra, me
deparei com várias situações negativas de preconceito e discriminação que me
impulsionaram para o enfrentamento ao longo da minha caminhada, porém com muita
luta contornei esses obstáculos e concluí um curso superior. Outro aspecto marcante
foi os depoimentos de várias professoras negras nas conversas informais do dia-a-dia
sobre episódios de discriminação racial que sofreram durante seu percursoescolar e
trajetória profissional, sempre enfatizando a superação e a satisfação dos avanços
profissionalmente conquistados.
A discriminação e o preconceito racial são fenômenos construídos e que
marcam negativamente a vida de uma pessoa. Estudar sobre a vida de professoras
negras, através de seus relatos, tornou-se fonte importante de informação para
buscarmos entender as seguintes indagações: como o processo de experiências de
cunho racista e discriminatório nas trajetórias de vida de duas professoras negras foi
história de vida “É o que diz o senso comum, isto é, a linguagem simples, que
descreve a vida como um caminho, uma estrada, uma carreira, com suas
encruzilhadas, seus ardis e até mesmo suas emboscadas [...]”. Assim, a coleta dos
dados será realizada, procurando não interferir nos relatos para não correr o risco de
desqualificar o objetivo da pesquisa.
Para operacionalizar a intenção deste estudo, optei por fazer entrevista do tipo
semiestruturada com as professoras. Embora fossem selecionadas 20 professoras
para a efetivação desta pesquisa, considerou-se necessário para análise neste artigo
o depoimento de apenas duas professoras, uma do município de Cuiabá e outra do
município de Várzea Grande. Para o processo de escolha das entrevistadas, a
pesquisadora levou em consideração os seguintes critérios: mulheres negras
professoras e atuantes da rede pública de ensino.
As duas entrevistadas possuem curso superior com especialização, declararam
serem as principais provedoras de seus lares e oriundas de famílias de camadas
populares e de baixa renda. Como forma de preservar a identidade dasprofessoras,
será aqui identificada com os nomes fictícios de Ana Lúcia e Olga. A professora Ana
Lúcia, tem 53 anos, natural de Rondonópolis/MT, é pedagoga, efetiva da rede
estadual, leciona no município de Cuiabá, possui 27 anos de experiência no
magistério. A professora Olgatem 56 anos, natural de Nossa senhora do
Livramento/MT, é formada em Letras, efetiva da rede municipal de ensino de Várzea
Grande/MT, possui 30 anos de experiência profissional. Ambas trabalham com a
modalidade de ensino fundamental e autodeclararam serem de cor preta.
Os relatos das professoras revelam que suas trajetórias de estudo foram
marcadas por situações de preconceito e discriminação racial, as quais remetiam ao
tipo de cabelo e a cor da pele das entrevistadas. Nesse sentido, Müller (2006) afirma
que em nossa sociedade, a cor de pele, tipo de cabelo e outros traços fisionômicos
são tidos como indicadores de diferenças e desigualdades, ressaltando que quem tem
a pele escura é tratado como se fosse inferior.
Dessa forma, os relatos a seguir, demonstram o exposto pela referida autora:
[…] então todo dia pra isso não acontecer (perseguição dos colegas), eu tinha que ser a
primeira a sair da sala de aula e correr, porque eles vinham atrás de mim me xingando e
falando palavrões até eu passar esse trecho […] ali onde eles moravam, eu passava correndo.
Os xingamentos eram referentes ao meu cabelo, porque na realidade eles procuravam diminuir
minha autoestima fazendo essa relação do feio com meu cabelo […] todo o meu sofrimento,
minha angústia com eles era por causa do cabelo. (Olga, Várzea Grande).
[…] eu passava muita raiva, agora o meu cabelo é assim, curtinho, mas antes ele era um
cabelo gigantesco. Então eu não tinha aquele jeito de arrumar ele. Então eles pegavam
carrapichos, espetava (sic) no meu cabelo que ficava cheio de carrapichos. Para tirar eu
1434
chorava, porque doía, isso acontecia na hora do recreio e na hora de ir embora. (Ana Lúcia,
Cuiabá).
O relato acima mostra uma forte situação de discriminação racial vivenciado
pelas depoentes durante a sua trajetória de estudos. Percebe-se que muitas
situações conflitantes nas relações raciais entre os alunos advêm de brincadeiras
pejorativas, apelidos depreciativos e xingamentos tendo como referência a cor da pele
e o cabelo. Segundo Gomes (2003), nesse processo histórico e cultural brasileiro, as
mulheres negras constroem sua corporeidade num movimento tenso de
rejeição/aceitação, negação/afirmação do corpo, sendo o cabelo um dos elementos
mais visíveis e destacados do corpo, isto é, constitui uma simbologia que difere de
cultura para cultura.
Santos (2007), em sua pesquisa sobre as relações entre alunos negros e não
negros no contexto escolar, destacou que nas relações entre alunos a concepção de
inferioridade caracteriza-se para além da cor, isto é, este deixa de ser num primeiro
plano a marca da diferença, dando lugar ao atributo cabelo. Essa autora constatou
ainda que o recreio para os negros representa um momento difícil a qual são
obrigados a viver sob o signo da ideia de inferioridade a respeito de seu pertencimento
racial.
Essa situação também ocorre na relação professor aluno. Nas escolas
brasileiras alguns professores ainda tratam alunos negros com menosprezo e
inferioridade. Como sintetiza Muller (2009, p. 25) “a cor da pele é motivo frequente de
insulto e também de piadas”.No que se refere à discriminação que as mulheres negras
sofreram por parte de seus professores no ambiente escolar, notamos por meio do
relato da professora Ana Lúcia, o tratamento diferenciado dispensado entre as
crianças brancas e negras:
Lembro que quando eu estudava na roça, eu tinha meus 7 pra 8 anos, a gente pegava água
muito longe, num poço,[...] pra fazer leite em pó.[...] Era só eu, meus irmãos e mais duas
pessoas negras que buscava. [...] E era longe para buscar a água [...]. Trazíamos água na
cabeça, ajudava a professora a fazer o leite, e na hora de tomar o leite, eu nunca esqueci
isso... a gente era o último a tomar o leite, isso se sobrasse. [...] Eu chorei várias vezes. [...]
Isso me marcou bastante (Professora Ana Lúcia/ Cuiabá).
Diante do relato desse episódio, a professora manifestou um sentimento de
mágoa pelo tratamento recebido pela sua professora. Percebe-se que nestas relações,
ela agia de forma inconsciente, cristalizado pelo imaginário social construído ao longo
da história sobre o indivíduo negro. A discriminação racial sofrida pelas entrevistadas
evidencia a existência de um tratamento desigual no ambiente escolar e que as
práticas discriminatórias manifestadas por meio dos insultos advindos pelas
1435
Meu primeiro emprego foi de doméstica. Comecei a trabalhar cedo com 16 anos, ainda no
ensino médio. O trabalho doméstico era a única fonte de renda que eu tinha. Como a gente era
pobre e a expectativa era pouca, era a única oportunidade que me apareceu. Mas eu sempre
falava assim: eu estou como doméstica, mas não quero ser doméstica pra vida inteira, eu vou
estudar pra não ser mais doméstica. (professora Olga, Cuiabá).
A professora Olga, buscou o magistério como caminho possível para ascender-
se socialmente. Isto é, ser professora representou a possibilidade de estabelecer-se
profissionalmente, ter um rendimento e adquirir certo status social.
Fiz o magistério, e inicialmente por questão de sobrevivência, comecei a trabalhar, amei! Tanto
é que não saí mais. Fiz o magistério e isso me segurou no campo da educação. […] era como
o meu pai dizia, eu estava estudando pra ter um emprego bom. (Olga, Várzea Grande).
Para Müller (2003), “entende-se hoje que uma profissão como a do magistério
que exige estudo especializado, promova certa mobilidade social. Ainda mais em se
tratando de cargo público que garante, por si só, uma renda, modesta, porém
1437
constante” (p. 77). Nesse sentido, percebe-se que todas as professoras, sujeitos desta
pesquisa passaram por um processo de educação formal, e dela se apropriam para
desenvolver a formação humana pela profissão que escolheram ou foram induzidas a
escolher.
Durante as entrevistas, as professoras idealizavam a vontade de trilhar novos
rumos, anunciando durante a trajetória escolar e profissional seus projetos de vida,
conquistar uma graduação e garantir condições de vida melhor.Neste estudo,
compreendo projeto dentro de um contexto subjetivo, na perspectiva de realização
pessoal, com propósitos pré-definidos, porém, podem mudar de acordo com as
circunstâncias para atender a um coletivo.
Segundo Gilberto Velho (2003), os projetos individuais existem no mundo da
intersubjetividade, aparece como instrumento básico de negociação da realidade com
outros indivíduos ou coletivos. Para o autor, “o projeto não é abstratamente racional,
mas resultado de uma deliberação consciente a partir das circunstâncias, do campo de
possibilidades em que está inserido o sujeito” (p. 103).
As entrevistadas relataram que já ocuparam cargos de direção e de
coordenação na escola em que atuam ou em outras onde já atuaram, enfatizando que
não foi fácil a permanência no cargo devido à resistência da maioria dos colegas.
Como destaca Gomes (1995), a chegada ao magistério para a mulher negra
constitui a culminância de múltiplas rupturas e afirmações, a saber, a luta pelo
prosseguimento dos estudos, uma profissão que dá garantia de ter espaço no
mercado de trabalho, uma profissão que possibilite dar espaço para atuar em outro
trabalho e ou conciliar às atividades do lar. A autora afirma que o segmento negro para
ascender, tem de enfrentar um caminho espinhoso, tendo em vista que há
mecanismos sociais definidos culturalmente na nossa sociedade, que são utilizados
para inibir o negro e o mulato que ameaçam sair do seu “lugar” e, por isso, é preciso
que o negro encontre mecanismos também sociais de enfrentamento.
A universidade é indiscutivelmente para as mulheres negras a via de acesso
para outras fontes de trabalho mais prestigiados. As entrevistadas relataram sobre os
diversos momentos de superação e conquistas em suas vidas, as quais viram a
possibilidade de concluir um curso superior para avançar profissionalmente.
Para Teixeira (2003), o ingresso na universidade para muitas pessoas marca a
descoberta de um novo indivíduo, que considera ser mais valorizado do que antes.
Segundo a autora,“a educação formal é, de fato, o veículo de ascensão social”. (p.
36). No Brasil, o acesso a uma universidade pública parece ser ainda um gargalo
1438
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No campo que se propõe a pesquisa no sentido de investigar as trajetórias de
vida de professoras negras da Baixada Cuiabana, busco compreender como se deu o
contexto escolar vivenciada pelas professoras negras marcadas pelas relações raciais,
as situações de enfrentamento e busca pela ascensão social.
Discutir sobre o percurso escolar e profissional das professoras negras
possibilitou-nos a dar visibilidade a histórias de vida marcadas pelo silêncio,
ressentimento, aborrecimento, desrespeito, mas também de lutas, enfrentamentos,
resistência e superação.
Permitiu-nos a apreender neste estudo que o preconceito e a discriminação
racial ainda estão presentes na vida de mulheres negras, mas que essas mulheres
contaram com mecanismos para superar os obstáculos e conquistar seu espaço
profissional. Percebeu-se nesta pesquisa que o cenário que envolveu perseguições, a
produção de estereótipos,édecorrente de teorias racistas assimiladas no século XIX e
que foi cristalizado no imaginário da sociedade brasileira. Pode se constatar que a
formação continuada pode contribuir de forma significativa na percepção de docentes,
redesenhando uma nova postura profissional frente às questões raciais no cotidiano
da escola, no intuito de desconstruir esse imaginário.
Muitas mulheres negras em nosso país são rejeitadas no mercado de trabalho
pela questão da aparência, numa atitude extremamente discriminatória, sendo que as
mulheres pretas são as mais atingidas, têm os caminhos mais árduos do que as
pardas, posto que no Brasil conforme vai diminuindo a melanina da pele, vai
1439
REFERENCIAIS
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de
Moraes. Usos & abusos da história oral. 6. Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
CAVALLEIRO, E. Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: racismo, preconceito e
discriminação na Educação infantil. São Paulo: Contexto, 2003.
GOMES, Nilma Lino. A mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte: Mazza
Edições, 1995.
______. Cultura negra e educação. Rev Brasileira de Educação, Rio de Janeiro,
n.23, mai/ago.2003.
GONÇALVES, Vanda Lúcia Sá. Tia, qual é meu desempenho?: percepções de
professores sobre o desempenho escolar de alunos negros. Cuiabá: EdUFMT, 2007.
MINAYO, M. C. de S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 2007.
MÜLLER, M. L. R. Relações raciais nas escolas de Mato Grosso. In: ______.;
PAIXÃO, Lea P. (orgs.). Educação, diferenças e desigualdades. Cuiabá: EdUFMT,
2006.
______. Educação e diferenças: os desafios da lei 10.639/03. In: MÜLLER, Maria
Lúcia Rodrigues, et al. (Orgs). Cuiabá, EdUFMT, 2009.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações sobre a Técnica de Gravador no
Registro da Informação Viva. São Paulo: T. A. Queiroz, Editor, 1991.
SANTOS, Ângela Maria dos. Vozes do Silêncio do Cotidiano Escolar: as relações
raciais entre alunos negros e não negros, Cuiabá: EdUFMT, 2007. (Coleção Educação
e Relações Raciais) v. 4.
TEIXEIRA, Moema de Poli. Negros na Universidade: identidade e trajetórias de
ascensão social no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Pallas,2003.
THOMPSON, Paul. A Voz do Passado – História oral. São Paulo: Editora Paz e
Terra, 1992.
1440