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Objetivos secundários:
1) Apresentar brevemente o escopo teórico da AD-HIL e as suas contribuições para a reflexão sobre o
ensino de LP;
2) Analisar as formas de comparecimento dos componentes linguístico-gramaticais em materiais
didáticos;
Cotejar com o que diz a NGB e a BNCC e o que diz o MD;
3) Depreender o funcionamento e os efeitos do DP sobre a língua no que concerne ao ensino de
metalinguagem; e
4) Discutir possíveis caminhos a serem adotados com vistas a encontrar soluções para a problemática
levantada.
ORGANIZAÇÃO DO MINICURSO
Parte III - Leitura e análise do Manual Didático da coleção Português linguagens – 9º ano
• Linguística estruturalista
• Materialismo histórico
Análise de Discurso de base materialista
• Teoria da subjetividade de
Michel Pêcheux e Eni Orlandi natureza psicanalítica
Gradação do autoritarismo
Ensinar = inculcar → “esmagamento” do outro (sujeito-aluno)
Fatores de inculcação:
1. A quebra, por meio de uma espécie de “mascaramento” (ibid., p. 18) do que Ducrot (1972)
chamou de leis de discurso, quais sejam:
a) Informatividade (conhecimento novo, desconhecido pelo outro);
b) Interesse (legitimidade do que é dito em relação ao interesse do outro a respeito);
c) Utilidade (concepção utilitarista da linguagem a partir da qual todo dizer deve ter uma
utilidade).
DISCURSO PEDAGÓGICO (DP) - ORLANDI ([1983] 2009)
“Mantida a regulamentação para o ato de interrogar e de ordenar – uma vez que o professor é
uma autoridade na sala de aula e não só se mantém como se serve dessa garantia dada pelo
seu lugar na hierarquia –, o recurso didático, para mascarar as quebras das leis de interesse e
utilidade, é a chamada motivação no sentido pedagógico. Essa motivação aparece no DP como
motivação que cria interesse, que cria uma visão de utilidade, fazendo com que o DP apresente
as razões do sistema como razões de fato [língua imaginária]. Ex.: no léxico, o uso das palavras
“dever”, “ser preciso”, etc.” (ibid., p. loc. cit.).
“Em um caso ou em outro – conclui a autora –, temos sempre a anulação do conteúdo
referencial do ensino e a sua substituição por conteúdos ideológicos mascarando as razões do
sistema com palavras que merecem ser ditas por si mesmas: isto é o conhecimento legítimo.
As mediações são sempre preenchidas pela ideologia” (ibid., loc. cit.).
DISCURSO PEDAGÓGICO (DP) - ORLANDI ([1983] 2009)
2. O “é porque é” – as “desrazões” dos fatos do sistema e a projeção de uma ilusão de
verdade da língua [a língua imaginária]
“A apresentação de razões em torno do referente reduz-se ao ‘é porque é’. E o que se
explica é a razão do ‘é porque é’ e não a razão do objeto de estudo”. (ibid., p. 19)
Duas características mais evidentes do DP:
No nível da linguagem, o efeito de referencialidade, sobre o qual nós discorremos
anteriormente, por meio do emprego de dêiticos, repetições e paráfrases que
retornam sobre aquilo que se apresenta como fatos do sistema (língua imaginária); e
No nível da metalinguagem, “definições rígidas, cortes polissêmicos, encadeamentos
automatizados que levam a conclusões exclusivas e rígidas” (ibid., loc. cit.).
Efeito de estranheza
DISCURSO PEDAGÓGICO (DP) - ORLANDI ([1983] 2009)
3. A cientificidade (= informatividade)
a) A metalinguagem
“O professor apropria-se do cientista e se confunde com ele sem que se explicite a sua voz de
mediador. Há aí um apagamento, isto é, apaga-se o modo pelo qual o professor apropria-se
do conhecimento do cientista, tornando-se ele próprio possuidor daquele conhecimento. A
opinião assumida pela autoridade professoral torna-se definitória (e definitiva)”. (ibid., p. 21)
Didatização (SAVATOVSKY, 1995) e efeito de transmitibilidade (DEZERTO, 2013).
Dizer = saber (a voz do saber passa a falar no professor)
“Nem sempre existiram livros didáticos, nem sempre os livros didáticos comportavam um manual para o
professor. Nem sempre a língua portuguesa era ensinada nas escolas em solo brasileiro (...) Todos estes
“fatos” têm história, têm memória e produzem sentidos. Dizem de nossa prática escolar e atuam em
nossa prática do professor de língua portuguesa” (ibid., p. 49).
Reforma pombalina:
Diretório dos Índios (maio/1757) – instituição da obrigatoriedade do ensino em língua portuguesa em
todo o território da colônia e a precedência do estudo da gramática do português ao da gramática
latina.
Alvará Régio (junho/1759) – determinação da expulsão imediata e compulsória dos jesuítas das
terras brasileiras e instituição da criação de um sistema escolar que estivesse a serviço do Estado.
Dedução Cronológica (1765) – instauração do cargo de Diretor Geral dos Estudos, ao qual deveriam
se subordinar professores, na esfera pública e particular do ensino; imposição da obrigatoriedade de
exames para todos os professores que desejassem ser aceitos como tal, além da obrigatoriedade da
licença do Diretor Geral de Estudos para o ensino público e particular; e proibição da utilização pelos
docentes em suas atividades de ensino de alguns materiais didáticos.
MANUAIS DIDÁTICOS - MEDEIROS E PACHECO (2009)
“São medidas que incidem sobre a língua portuguesa (no caso, com a obrigatoriedade do ensino
da língua portuguesa nas colônias), sobre a forma de ensino (deve ser estudada a gramática da
língua portuguesa), sobre o lugar da língua portuguesa (deve-se estudar a gramática portuguesa
precedendo a gramática latina), sobre as instituições de ensino (as medidas preveem a criação
de um sistema escolar a serviço do Estado, preveem também a criação de cargo de Diretor Geral
dos Estudos e, por fim, a sujeição dos ensinos públicos e privados a esse Diretor Geral), sobre o
professor (na medida em que prescreve orientações a serem seguidas pelo professor e na
medida em que impõe exames para a incorporação de professores aos recintos escolares), e,
finalmente, sobre o material didático (livros são proscritos e instaura-se a necessidade de criação
de materiais outros). São medidas, portanto, que configuram um saber – língua portuguesa – e o
institucionalizam. São medidas, enfim, que funcionam como dispositivos regularizadores da
língua portuguesa e de seu ensino.” (ibid., p. 51)
MANUAIS DIDÁTICOS - MEDEIROS E PACHECO (2009)
Marco do início do processo de disciplinarização da língua portuguesa no Brasil: criação, via Decreto
Imperial, o Colégio Pedro II, em 1837.
1. Num primeiro momento, “a gramática da língua portuguesa é incluída sob a forma das disciplinas
Retórica e Poética”, sendo incorporada, posteriormente, como “Gramática portuguesa”;
2. é criado, em 1871, o cargo de professor de Português;
3. e os professores ocupantes de cargo passam a produzir materiais didáticos para utilizarem em suas
aulas e também para obterem progressões de carreira, já que “nenhum professor poderia ser
promovido sem ter elaborado um compêndio gramatical” (ibid., p. 52).
Efeito: os materiais produzidos pelos professores do CPII “se inscrevem fortemente na memória
discursiva pedagógica brasileira dado o longo período em que foram utilizadas nas escolas e o seu
grande número de (re)edições” e “têm como efeito estabelecer [e legitimar] a posição-sujeito
professor trabalhada a partir da posição-autor de gramático brasileiro”. (ibid., loc. cit.)
Modificação: implementação da NGB (1959)
“impõe-se uma nomenclatura que vai servir de “modelo” às gramáticas que vão sendo
elaboradas a partir daí. As gramáticas anteriores à NGB deixam de ser reeditadas e as
posteriores passam a seguir a padronização imposta pela nova nomenclatura. Com isso as
gramáticas pós-NGB passam a descrever o fenômeno lingüístico a partir da terminologia
imposta pela NGB. Ficam, pois, destinadas a explicar e a repetir uma terminologia. Perde-se,
assim, a posição-autor de gramática tal como funcionava no século XIX.” (ibid., p. 61).
Instituição da Linguística (estruturalista) como disciplina científica:
“Após a imposição da NGB, por decreto, a Linguística adquire prestígio (científico) perante a
Gramática. Com a elaboração de sua metalinguagem, a Linguística produz um efeito – no
plano do conhecimento da língua – sobre a gramática tal como era concebida no século XIX. A
Gramática – via esforço terminológico da NGB impossibilitada por um decreto do Estado –
persiste no entanto no ensino escolar, produzindo efeitos sobre o conhecimento da língua, ao
lado do conhecimento linguístico e da sua metalinguagem (...)” (ORLANDI, 2002, p. 194)
Efeito: distinção entre o lugar do professor-gramático e o do cientista-linguista [quadro descrito
por Orlandi)
MANUAIS DIDÁTICOS - MEDEIROS E PACHECO (2009)
Democratização do acesso à escola:
“Gradual e paulatinamente vão sendo introduzidos nos livros didáticos instruções aos
professores para que façam delas uso em sua prática docente. Inicialmente, as orientações do
autor do livro didático se consubstanciam através das notas de rodapé, depois vão sendo
incluídas nas páginas do livro do aluno, em letras de fontes e cores diferentes, a seguir, em
função de seu aumento gradativo, as instruções vão sendo publicadas em um anexo incluído ao
final do livro didático. É desse modo que o manual do professor vai se constituindo como parte
integrante do livro didático: do rodapé para o corpo do livro didático, para, finalmente, constituir
corpo próprio” (ibid., p. 63).
Provocação final:
“materiais didáticos se apresentam como uma necessidade na sociedade (cabe lembrar que
escola, pais, alunos e professores não querem e/ou não podem abrir mão de materiais
didáticos), manuais para professores também seguem a mesma direção, daí a necessidade de se
refletir sobre o lugar do professor na relação com estes dispositivos para pensar o ensino” (ibi., p.
loc. cit.).
DO OBJETO DE ANÁLISE
Discurso pedagógico sobre a língua e ensino de matalinguagem.
Materialidades a serem analisadas:
Corpus principal:
Português: Linguagens (10ª edição, 2018) – 9º ano – William Cereja e Carolina Dias
Vianna
Unidade 1, capítulo 2, seção referente à abordagem das orações subordinadas
substantivas.
Corpus secundário:
NGB (recorte sobre orações subordinas)
BNCC (recorte sobre competências, Análise Linguística)
Textos diversos sobre o PNLD
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DO CORPUS PRIMÁRIO
1. A aprovação na avaliação do Plano Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) triênio 2017-
2019 (Anos finais do EF2).
2. A aceitação editorial da obra (tempo de circulação e número de edições).
3. A importância da obra nas diferentes regiões do Brasil – verificado por meio do relatório de
investimento feito na compra de exemplares para distribuição em todo o país pelo PNLD, nos
anos de:
2017 (1º lugar de 6 obras aprovadas: 1.255.918 livros do aluno e 30.315 manuais do
professor)
2018 (1º lugar de 6 obras aprovadas: 336.619 livros do aluno e 3.024 manuais do professor)
2019 (1º lugar de 6 obras aprovadas: 321.537 livros do aluno e 2217 manuais do professor).
4. A relevância da obra para o ensino de LP.
RANKING DAS COLEÇÕES MAIS DISTRIBUÍDAS EM 2017
Imagem 2 – Coleções mais distribuídas - PNLD 2017 / Anos finais do ensino fundamental – Língua Portuguesa (fonte: fnde.gov.br)
O PNLD
Imagem 7 – Nomenclatura
(fonte: PNLD 2020: língua portuguesa – guia de livros didáticos – MEC)
AVALIAÇÃO DA COLEÇÃO PORTUGUÊS LINGUAGENS NO
PNLD 2020
COLEÇÃO REPROVADA!
Carta aberta dos autores:
Protestam contra “o modo como se deu a condução do processo de avaliação
do nosso livro didático no PNLD” e expressam sua “indignação frente ao
descaso e desrespeito com que nossos argumentos foram respondidos”
(CEREJA; VIANNA, 2019, on-line)
Motivos da reprovação: não atendimento a todas as competências da BNCC e
excesso de propagandas.
QUESTÕES NORTEADORAS
Políticas de ensino: “as políticas de ensino – enquanto políticas públicas – configuram possibilidades
de inscrição do sujeito na história” (PFEIFFER, 2011, p. 149) [imagens do aluno e do professor em
circulação na sociedade numa dada conjuntura]
Políticas de “inclusão”: “heterogeneiza-se para homogeneizar” (ibid., p. 150).
Políticas públicas e teorias: “as primeiras não se sustentam sem estas últimas, pelo menos sem uma
pretensa sustentação teórica” (ibid., p. 153). [e, portanto, ideológica]
“Uma pedagogia do ‘aprender a aprender’” (ibid., loc. cit.)
Educação e trabalho: “(...) o emprego e sua manutenção estariam atrelados a uma pedagogia que
ensinasse ao indivíduo, sobretudo, a adaptar-se” (ibid., p. 154).
Educadores: passa a caber “saber melhor quais são as competências que a realidade social está
exigindo dos indivíduos” (ibid., p. 154).
NGB
Enquanto política de ensino, constitui-se como uma medida do Estado que visa à
homogeneização do ensino de língua portuguesa no território nacional por meio da uniformização
terminológica (GUIMARÃES, 1996).
24/4/1957 – Portaria Ministerial No. 152 – Designação da Comissão responsável pela
elaboração do Anteprojeto da NGB: Antenor Nascentes, eleito o presidente da Comissão; Clóvis do
Rego Monteiro; Celso Ferreira da Cunha; Carlos Henrique da Rocha Lima, eleito secretário e
indicado relator; e Cândido Jucá (Filho) − todos professores catedráticos do Colégio Pedro II.
13/8/1957 – Anteprojeto
26/1/1959 – Portaria Ministerial No. 36: Aprovação e recomendação da adoção da NGB “no
ensino programático de Língua Portuguesa e nas atividades que visem à verificação do
aprendizado, nos estabelecimentos de ensino”, e em “exames de admissão, adaptação,
habilitação, seleção” (BRASIL, 1959).
NGB VISTA DISCURSIVAMENTE
Apenas uma lista de nomes, sem definições ou exemplos – ilusão de apagamento das filiações
teóricas
Recomendação → imposição
Censura e apagamento da tradição anterior
Período de interpretação dos termos (BALDINI, 1999)
Período de repetição – estabilização dos sentidos (BALDINI, 1999)
Manifestação de aquiescência subtítulos e prefácios
Apagamento da autoria da NGB
Apagamento da filiação à NGB – naturalização dos termos/ sentidos instituídos – A NGB é a
Gramática (normativa)! – e no manual didático?
Gramática: discurso sobre a língua em primeiro nível
Produto: língua imaginária
NGB: discurso sobre a Gramática e sobre a língua em segundo nível [regula a relação do sujeito-
gramático com o dizível sobre a (meta)língua na gramática.
O QUE DIZ A NGB SOBRE
ORAÇÕES SUBORDINADAS
SUBSTANTIVAS?
Imagem 8 – NGB
(fonte: BRASIL, 1959)
BNCC
“A Base Curricular está inserida em uma rede de significação na qual a LDB de 1996 e os
Parâmetros Curriculares (assim como vários outros documentos) significam fortemente”
(PFEIFFER; GRIGOLETTO, 2018, p. 13).
“Trata-se de um documento de caráter normativo e de referências para que as escolas e os
sistemas de ensino elaborem seus currículos, constituindo-se, também, como um instrumento de
gestão pedagógica das redes de ensino, como parte de uma política de Estado” (SILVA, 2017, p.
321).
3ª versões (2015, 2016 e 2017):
“A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define
o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que
preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE)” (BNCC, 2017, p. 5).
Discurso tecnicista e discurso jurídico
BNCC
A BNCC apresenta “uma lista de competências” (NOGUEIRA, DIAS, 2018).
Cinco campos de atuação: “Campo da vida cotidiana (somente anos iniciais), Campo
artístico-literário, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo jornalístico-midiático e
Campo de atuação na vida pública” (BNCC, 2017, p. 84).
Materialização da relação entre Educação e Trabalho: A língua vista como “modo de construir
uma base comum de trabalho na escola” (SILVA, 2017, p. 328)
O QUE DIZ A BNCC SOBRE O ENSINO DE (META)LÍNGUA?