Você está na página 1de 1

Brasil caboclo

Quando falamos sobre cultura cabocla no Brasil devemos levar em consideração que esta se constituiu
em um contexto em que, de a cordo com o documentário, poderia ser considerada uma outra nação,
tamanha a sua diversidade e complexidade. Vale destacar que essa realidade múltipla, desde muito
cedo, foi alvo de sucessivas tentativas de homogeneização, principalmente a partir do trabalho
catequético jesuíta, que reunia em um único local uma grande variedade de comunidades tradicionais,
impondo-lhes valores e visões de mundo condizentes com os interesses colonialistas. Uma das formas
de apagamento da história e da identidade dessas comunidades ocorreu principalmente por meio da
imposição de uma língua geral, o tupi (também conhecida como nheengatu). Com base nesses
processos podemos dizer que que a constituição da cultura cabocla deu-se principalmente a partir da
negação do passado indígena, embora muito de suas tradições e valores tenham sobrevivido. Vale
destacar que, ainda que em menor proporção, o intercurso entre brancos e negros também a adquiriu
relevância na formação do caboclo, embora este não se identifique diretamente com tais
ascendências. Uma outra questão que vem a complexificar ainda mais a genealogia cabocla diz
respeito ao fato de contemporaneamente não serem eles descendentes diretos de indígenas
amazônicos, mas de cearenses que migraram da região do Cariri.

Tendo se desenvolvido numa região que historicamente foi vista como um paraíso na terra, cercada
de lendas e riquezas, a exploração do território amazônico e, por conseguinte, do trabalho dos
caboclos, ocorreu de forma injusta e predatória, principalmente no que diz respeito ao trabalho nos
seringais, por meio do qual instalou-se o desprezível modelo de aviamento. Nesse tipo de relação
trabalhista, os seringueiros viam-se constantemente endividados na tentativa de compensar “favores”
essenciais para o desenvolvimento de seu trabalho, como alimentação, moradia, ferramentas etc.

De acordo com o documentário, é notável ainda nos dias de hoje a ausência de um modelo
econômico que possa de fato aproveitar os potenciais da Amazônia e de suas comunidades sem
consumi-los até o último recurso, como historicamente vem ocorrendo e tem sido nos vendido como
modelo de progresso. UM caso emblemático apontado pelo documentário, sem dúvida, foi a
construção da Transamazônica, cuja promessa consistiu em promover desenvolvimento e integração
para a região amazônica, mas que, no entanto, agravou problemas ambientais e a injustiça contra as
comunidades indígenas, que se viram desapossadas de suas terras.

Conforme o documentário muito bem destaca, é necessário que se pense um modelo


econômico em favor da região amazônica, pois dela não depende apenas a saúde ambiental de nosso
país, mas do ecossistema planetário. Para tanto, a contribuição das comunidades tradicionais,
ribeirinhos e caboclos sobreviventes ao massacre colonialista é de fundamental importância, uma vez
que eles também representam nossa intelectualidade.

Você também pode gostar