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A tradição milenar do teatro de sombras chinesas teve no 6º Fita uma

representante espanhola. Valeria Guglietti trouxe o singelo No toquen mis manos, e


encantou o público. O espetáculo estreou em 2005 e desde lá vem percorrendo o
mundo e ganhando prêmios, inclusive na China, a pátria mãe desse tipo de teatro.
No toquen mis manos é uma desses acontecimentos acima das fronteiras do
idioma. Há apenas uma apresentação inicial falada e depois uma sucessão de cenas
perfeitamente identificáveis por todos. E é justamente aí que está a força dessa peça: a
universalidade. Valéria, que criou, dirigiu e protagoniza o espetáculo, coloca com
perfeição na parede, aquilo que alguma vez na vida tentamos fazer, afinal, quem nunca
brincou com a sombra das mãos fazendo um cachorro, um jacaré, um cisne? Esse tipo
de brincadeira está tão entranhada na infância humana, que podemos até chamá-la de
“natural”. O que Valéria faz com os adultos é levá-los de novo à infância, levá-los
àquele tempo em que fantasia e realidade eram uma coisa só. Já para as crianças,
Valeria mostra como uma de suas brincadeiras pode se tornar arte, teatro. E o diálogo
se efetua ainda mais preciso porque Valeria não se esconde. A sua manipulação dos
objetos e das mãos é presenciada pelo público, que olha seus movimentos e as
sombras na parede e se maravilha. Ficamos divididos entre olhar as mãos que
raramente se tocam,
No toquen mis manos perpassa não apenas as clássicas imagens de animais e
rostos, mas referências a ícones do terror como o vampiro e a bruxa. Há também uma
surpreendente aparição do ET, clássico personagem do cinema moderno, e uma fina
ironia com os “machos” lutadores de boxe. Valéria é como se fosse aquela irmã mais
velha nos ensinando que com uma luz, uma parede e sombras, podemos criar um
mundo.

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