Participando de um encontro de ufologia em Serra Negra – SP (a curiosidade leva-
nos por caminhos diversos), eis que surge um jovem com cara de hippie tardio, cabelos longos, bata indiana e alpercatas, distribuindo um folheto para todos os que estavam ali. Ao pegar o folheto, percebi que um tipo muito assustador presente na internet, geralmente protegido pelo anonimato ou por perfis fakes, se materializava na minha frente: um desses jovens conhecidos como “mascus”, seguidores de Olavo de Carvalho, que acham que o comunismo está dominando o mundo e a arma que está sendo usada é o marxismo cultural. O texto começa com uma advertência: “Perigo! Marxismo Cultural. Atenção! Todos os partidos, toda a grande mídia brasileira e americana, incluindo o cinema, são esquerdistas e subversivos. Saia da Matrix, caia na Real!”. Para eles, o marxismo cultural (seja lá o que isso for) está destruindo a educação, pois os alunos estão sendo doutrinados pelo marxismo; destruindo a cultura pois a “alta cultura” está sendo “destruída” pela cultura de massa, algo que, segundo os defensores dessa linha de “pensamento” é uma estratégia para construir uma sociedade marxista. Além disso, eles atacam o feminismo e os movimentos gays e sociais e acreditam que o nazismo seja um movimento de esquerda, talvez por isso eles usem termos como “feminazi” ou “gayzismo”. Enfim, foi meio assustador, num evento que falava de vidas extra-terrestres, ver alguém tão jovem disseminando ideias como “ O feminismo está destruindo a natureza feminina, (…) destruindo a família e destruindo a sociedade.” Trata-se de alguém, que vive as benesses de uma democracia (por mais frágil que seja) e que quer Jair Bolsonaro para presidente do Brasil. Após ler o panfleto, uma pergunta me ficou: será que o jovem que diz ter saído da Matrix, sabe que um dos criadores do filme é um transgênero? Como será que ele resolve esse paradoxo na sua cabeça visivelmente perturbada? O problema é que essas ideias estão por aí, ganhando força e se disseminando muito rápido, por isso, é preciso estar atento para que tais ideias não saiam do campo do absurdo, do patético, daquilo que provoca risos em quem tem um mínimo de bom senso.