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Tenho preguiça de continuar nesse debate porque acredito que o teatro é feito na pratica por aqueles que

experimentam no corpo a vivencia da cena, por isso prefiro gastar minha energia (esforço físico) em cena,
ensaiando, vivendo o teatro na pratica, e o mais importante, encontrar com pessoas que estão a favor do
teatro.

Bom, presume-se, por sua fala, que nós estamos contra o teatro. Também acreditamos profundamente num teatro feito
por aqueles que experimentam no corpo a vivência da cena, basta ler as diversas críticas que fizemos ressaltando isso
como uma experiência positiva. Nós somos completamente a favor do teatro, tanto que estamos exercendo um dos papeis
mais complexos, o de crítico, daquele que olha de fora, que não se exime de emitir opiniões, possibilidades, que levanta
questões, ideias, premissas que foram ou não bem desenvolvidas na prática. Sempre houve no teatro catarinense um
silêncio, diríamos, ditatorial em relação à crítica. É como se fosse um pecado, uma heresia, uma ofensa pessoal falar de
qualquer espetáculo. Atores, produtores, diretores, dramaturgos perpetram seus trabalhos, espalham suas obras por aí e
querem, no máximo, elogios. Qualquer contrariedade já entra no campo da ofensa pessoal, da infâmia. Enfim, a sua
preguiça parece que também nos contaminou, pois é difícil continuar qualquer debate, discussão, tendo como premissa a
ideia de que é impossível criticar negativamente qualquer obra, sem que isso caia no campo da ofensa.

Mas se o assunto se trata de conceitos, vamos a eles; a expressão chave de maior significado no release (já
que a critica se centra nele) era: ideia principal = “sistema de treinamento atoral”(ou treinamento do ator)
ideia secundaria = “inspirada em autores como bla,bla, bla…” a palavra inspirada eu usei como uma
abstração, aspiração para minha pratica de ator, dessa maneira não se pode esperar ou entender o teatro
igual ou copiado dos autores citados.

O seu release direcionava o seu trabalho, e se o “inspirada em autores como bla, bla, bla” para você não tem importância,
se nomes como Peter Brook, Artaud podem ser substituídos por um “bla, bla, bla”, já nos diz como você trabalha a
fundamentação teórica do seu trabalho: como algo secundário. Não estávamos esperando um teatro igual ou copiado dos
autores citados, mas os autores citados deveriam nortear o seu trabalho, e foi justamente isso que não vimos, agora
sabemos que eles são uma ideia secundária, e que estavam no release apenas para dar um verniz ao seu sistema de
treinamento atoral.

Por tanto, a coerência desse trabalho está enfocada no ator, é dizer, no meu mundo pessoal e físico. O meu
jogo proposto em cena vai nesse sentido, uma almofada, um lençol, um espaço vazio, uma poética de cena
pobre, e o mais importante para esse jogo estava explicito na sinopse: (coisa que vocês nem se interessaram)
“Em uma grande cidade, após a morte de seu pai, um rapaz não sai de seu quarto porque leva horas
procurando conciliar o sono; recordando o pai entre sonhos, e curioso com o que sucede no quarto ao lado, o
rapaz encontra a solução para sua noite de descanso em um possível encontro com o espírito de seu pai”
(essa era a bola do jogo)
Agora eu me pergunto, sendo críticos de arte, não sabiam que na sinopse está à ação principal de toda obra?
Não sabiam que a sinopse concentra o significado global da obra? Porque vocês esperavam assistir Hamlet
ou Hamletmachine sendo que na sinopse estava explicito as ações, o argumento e significado?

Sim, a sinopse contém a ação de toda a obra, no entanto o que isso revela? E a distância entre o escrito na sinopse e o
realizado? A sinopse pode ser instigadora, profunda e o realizado não passar de uma experiência superficial, menor do
que aquilo prometido na sinopse. Nós não esperávamos assistir Hamlet ou Hamletmachine, no entanto, insistimos: se
você se apropria, ou se aproxima desse universo, necessariamente esse universo contaminará o seu trabalho, e
contaminará o olhar do público mais atento, daquele que se prepara ante de ir ver a peça. A sinopse resume a “história”
da peça, nós vimos isso, no entanto as suas escolhas estéticas, a sua atuação não nos pareceu condizente com todo o
proposto na sinopse. Faltou entrega, faltou força, faltou vísceras, ou crueldade, pobreza, antropologias, etc, etc. Se o seu
release fosse menos pretensioso e nos informasse apenas a sinopse, nós iríamos dar mais atenção a ela. No entanto, você
o floreou com informações “secundárias”, o que para nós não é nada secundário. Esse é o ponto do conflito aqui: o
secundário pra você é fundamental para nós. Parece que você subestima seu público, pensa que ele não fará associações,
se deterá na sinopse e esquecerá o cabedal de referências que você mesmo propôs.
Numa coisa vocês acertaram, eu mutilei os textos, ou melhor, eu usei Hamlet como pretexto para dizer o que
tinha necessidade de falar, e achei pertinente usar como referencia Hamletmachine também, tudo isso com
muito respeito a esses autores.
E meus caros, realmente é fácil e conveniente fechar os olhos para aquilo que não se quer ver; e utilizar
partes de um release para fazer uma critica desinformando as pessoas e esculachando os artistas. Como eu
posso brincar no teatro com críticos que omitem a sinopse de um espetáculo?

Bom, então refaça o release, esqueça as referências teóricas, já que elas são secundárias, detenha-se naquilo que a sinopse
revela. O que temos se nos detivermos na sinopse? O que vimos foi uma experiência teatral destituída de veemência,
destituída daquela agressividade ritualística, talvez dionisíaca, que todo teatro tem que ter. A sua sinopse revela um
mundo de perda, de ausências, de solidão, de conflitos internos diante da ausência paterna e também materna. No
entanto, o resultado do seu espetáculo fica sempre na superfície desse conflito. O seu trabalho como ator não estabelece o
corte, a ruptura, a ousadia, o enfrentamento físico e álmico necessário para dar conta da sinopse. Acreditamos que seja
justamente porque você trabalha com as referências de forma secundária, na base da aspiração ou abstração. Não há
entrega física real no seu trabalho, há sempre um medo permeando tudo, uma espécie de timidez, de “o que vão pensar”.
O seu trabalho como ator carece da tristeza e da solidão que a sinopse revela, carece da capacidade de nos apresentar esse
personagem como um ser envolto nas angústias da existência, perdido entre o mundo onírico e real, vitimado pela
indiferença da mãe e pelo fantasma do pai. Poderíamos esquecer todas as referências que você colocou no release e nos
determos exclusivamente na sinopse, ainda assim nossa crítica apontaria a falta de força, de contundência na sua
montagem. As perspectivas de sua sinopse são muito boas, trabalhar com Hamlet e Hamletmachine traz uma
intertextualidade interessante, no entanto, ao colocar isso em prática, ao trazer isso para o solo, para a caixa preta
revelou-se uma fragilidade estrutural muito grande, seja na atuação esquemática, seja na concepção primária da peça.

Se vocês leram o teatro pobre, como podem criticar a iluminação?


Eu trabalho sozinho meus caros, eu sou produtor dessa peca também, quando há possibilidades de se fazer
uma boa iluminação, se faz. Gostaria muito de poder ter uma iluminação melhor, mas as condições não
sempre são favoráveis. Isso não é pobreza no teatro? Ou que vocês esperavam? Como podem alegar que não
existe uma partitura corporal se a sequência de movimentos da segunda cena se repete na penúltima cena?
(coreografia) isso é evidente (olha que não estou falando que meu espetáculo é bom ou ruim, o que eu quero
afirmar é que existe uma estrutura coerentemente).

Bom, o Teatro Pobre de Grotowski pode ser considerado um teatro rico, pois trabalha na essência, naquilo que constitui o
cerne do teatro: ator e público. A iluminação foi criticada, não porque é pobre, mas porque é inadequada, não acrescenta
em nada à peça, não traz a força, a violência poética, a contundência que tanto reclamamos a falta, e que a tua sinopse
antevia. Fica naquele campo do constrangimento, da vergonha alheia, não porque lhe faltam os recursos necessários, mas
porque você não consegue trabalhar criativamente com a ausência de recursos. Novamente, o problema aqui é que as
ideias de Grotowski entram como abstração, aspiração, e não como realidade a ser encampada pelo teu trabalho de ator.
Pode até haver uma estrutura coerente, mas você parou para analisar seus gestos? parou para analisar seus
movimentos? Parou para analisar que você está sozinho em cena, com poucos elementos, que tudo o que você tem que
dar ao espectador é seu corpo e o texto. Não um corpo cheio de pudor e falta de ritmo, um corpo que apenas não repita
apenas as cenas, mas que tenha uma partitura corporal de entrega, de mergulho, de aprofundamento de cada gesto,
muito menos um texto piegas, destituído de agudeza, de dor, de poesia. A impressão que tivemos é que você não acredita
em seu personagem, que pode tratá-lo como algo superficial, como algo que não merece um cuidado profundo. A
concepção de seu espetáculo é interessante, no entanto, o que você entrega para o público é muito menor do que aquilo
que promete. Nossa crítica foi severa justamente nesse ponto: há no seu trabalho uma promessa não cumprida, o nosso
trabalho foi de revelar isso. O que podemos dizer é o seguinte: você precisa radicalizar sua proposta, sair da zona de
conforto e verdades onde está estabelecido e arriscar entrar no jogo real, seja aquele apontado pelas referências, para você
secundárias, seja por sua própria criação. Agora, essa peça, como está estabelecida, vai sempre privar o público de uma
experiência transformadora, inquiridora de novos parâmetros.

Por outra parte, não confundam as pessoas meus caros críticos de arte, eu não usei nenhuma palavra
ofensiva, não estou difamando nem humilhando nenhum de vocês, estou no direito de contestar a sua critica
que me difamou, não pensem que falta de respeito e educação existe somente nas palavras de insulto.
Saudações.

Você poderia contestar a nossa crítica respondendo as inúmeras questões que fizemos, como
estamos respondendo as suas questões. No entanto, você preferiu ironizar o fato de entrarmos na
sua peça com cortesias. Nós recebemos um e-mail sobre a sua peça, nos pareceu um convite para ir
vê-la e ir ver a peça a partir do conhecimento desse e-mail nos dava o direito de fazer uma crítica
ao trabalho. Não houve nenhuma difamação, houve apenas um olhar apontando as fragilidades do
seu trabalho. Se para você, tais fragilidades não existem, basta nos dizer, a seu ver, no que estamos
errados. Algo que você já fez em parte nessa resposta aqui, dizendo que nós deveríamos nos deter
na sinopse e não em todo o conjunto de referências que você nos deu. Enfim, o problema é que se
nos determos na sinopse vamos perceber que ela é melhor do que a realização. Ah! Haviámos
esquecido que, para você, dizer isso vai entrar sempre no campo da difamação.

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