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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


Thiago Gomes de Melo Mª 113031 Noturno
LABORATÓRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO I

Capão redondo e Vila Mariana em comparação

O IDEB é um indicador que varia de 0 a 10 utilizado para medir a qualidade da


educação básica a partir do nível de aprendizado dos educandos. Existe desde 2007
e é o produto de dois outros indicadores: a taxa de rendimento (de aprovação),
disponibilizado pelo Censo Escolar e a taxa de desempenho (proficiência na Prova
Brasil), concedido pelo Saeb. A instituição deste indicador tem como horizonte
fornecer um instrumento que possibilite avaliar e comparar os sistemas de ensino
através de unidades amostrais como a escola, regiões, estados, redes de ensino e
localidade (urbana ou rural).

A utilização de instrumentos como este segue uma política unilateral de


responsabilização, colocando sobre os agentes escolares (alunos, professores e
gestores) a responsabilidade de maximizar os seus resultados. Dessa forma, a
forma como o indicador tem sido usado tem recebido inúmeras críticas, sobretudo
de sujeitos da área educacional. O IDEB apresenta muitas limitações, dentre elas a
dificuldade de atingir a totalidade ou a maior parte dos alunos, uma vez que exige o
mínimo de 50% de presença dos matriculados, deixando assim escapar uma parcela
significativa de estudantes, que também significativamente podem interferir nos
resultados. Além disso, o fato de se constituir uma média, o resultado pode
esconder a verdadeira situação de determinados alunos ou grupos, não tendo um
diagnóstico eficiente para saber onde se deve concentrar seus esforços.

Desde que foi inaugurado, a forma como a divulgação dos resultados é feita pelo
Inep, passou por algumas mudanças, sendo munidos de outros aspectos
contextuais que nos ajudam a entender a complexidade por trás da média de
desempenho, como o Índice de Nível Socioeconômico, taxa de complexidade de
gestão, infraestrutura, etc. Além disso, muitos estudos nos ajudam também a
compreender o cenário educacional a partir das desigualdades econômicas,
culturais e sociais revelando que o background dos alunos interferem grandemente
em seus resultados, assim como o impacto do desenvolvimento econômico de uma
região e de um município (ALVES; SOARES, 2013).

Nesse sentido, nesse trabalho pretende-se fazer um estudo de caso a partir dos
indicadores referente a escola que venho estagiando, localizada no bairro do Capão
Redondo, região periférica de São Paulo, fazendo uma comparação com o
desempenho do município, do Brasil e de outras escolas, como a E. E Arcy Major,
situada em Vila Mariana.

Tenho estagiado na Escola Estadual Carolina Cintra, localizada na ​Rua Dr. Luís da
Fonseca Galvão, 226 - Parque Mar​ia Helen​a, São Paulo - SP​, região do Capão
Redondo, acompanhando as turmas de ensino médio no período da manhã. A
escola oferece cinco modalidades de ensino: EF I, EF II, EM, EJA e Educação
Especial e está enquadrada no nível 6 em complexidade de gestão.

Os estudantes que ali estudam são majoritariamente moradores dos arredores da


escola tendo alguns que se deslocam de bairros próximos como Campo Limpo, Jd.
Comercial e Jd. Jangadeiro. Sitiada em uma região periférica a escola atende
estudantes de baixa renda, e se encontra no Grupo 4 do Indicador de Nível
Socioeconômico (Inse).

Esteticamente falando, a escola não se difere do que é comum nas escolas


públicas. Também não o é quanto a infraestrutura. Ela se constitui por dois andares
com salas de aula, um pátio onde os estudantes tem seu intervalo, um refeitório,
uma sala de vídeo onde também se armazenam os livros didáticos, sala de
professores, da coordenação, da direção e a secretaria. As salas de aula comportam
em média 33 estudantes, havendo algumas variações. Além disso, também possui
uma quadra utilizada para as aulas de educação física. No entanto não porta em
suas dependências uma biblioteca, um laboratório de informática nem um de
ciências.

Primeiro ponto observado é a constatação de que existe uma grande diferença entre
os valores do IDEB entre o Ensino Fundamental I e o Ensino Fundamental II,
mostrando que cada modalidade apresenta dificuldades específicas e que nos anos
finais é visível uma queda no indicador.
Figura 1: Ideb dos anos inicias do Ensino Fundamental da E.E. Carolina Cintra

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.)


Figura 2: Ideb dos anos finais do Ensino Fundamental da E.E. Carolina Cintra

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu

cacionais Anísio Teixeira.)


Figura 3: Ideb do Ensino Médio da E.E. Carolina Cintra

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.)

Nota-se que o Ideb da escola para os anos iniciais do ensino fundamental caminhou
de forma crescente, batendo todas as metas para escola de 2013 a 2017. Em 2015
e 2017 tem 6,4 e 6,8, ultrapassando assim o valor considerado referência para o
indicador [6]. Já nos anos finais do ensino fundamental de 2007 a 2017 os valores
do indicador para escola estiveram abaixo das metas estipuladas. Em 2015 ainda
passa por um momento de queda, em relação ao ano anterior. Quanto ao ensino
médio a escola só tem o Ideb divulgado em 2017, com valor 3,0, apresentando
portanto uma discrepância entre o desempenho do ensino fundamental e do ensino
médio.

Fazendo uma comparação do indicador a nível nacional a escola conseguiu atingir


uma nota significantemente maior que a média brasileira no âmbito dos anos iniciais
do ensino fundamental. Em 2017 a escola obtém 6,8 ao passo que a média nacional
para as escolas estaduais é 6. Além disso, como podemos ver na tabela a seguir, a
única rede a não bater as metas referente aos anos iniciais do ensino fundamental
foi a privada, tendo todas as outras atingido os valores estipulados de 2007 a 2017.
Figura 4: Ideb do Brasil
Vemos se repetir a nível nacional a queda do indicador referente ao segundo
segmento do ensino fundamental, e mais ainda ao chegar no ensino médio. De 2013
pra cá podemos observar a dificuldade em atingir as metas nacionais. No caso da
escola Carolina Cintra, nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, o
Ideb esteve abaixo da média nacional para as escolas estaduais que foi 4,5 e 3,5
respectivamente. Já na rede privada, ainda que a média nacional não tenha atingido
as metas, os valores atingem patamares muito maiores, mostrando que o nível
socioeconômico da escola (alunos que atendem) impacta de forma incisiva nos
resultados.

No caso de uma comparação com o município de São Paulo [figura 5], a escola
permanece acima da média nos anos iniciais do ensino fundamental, o que não se
repete nos anos finais e nem no ensino médio.

Figura 5: Ideb do Município de São Paulo


Fonte: Saeb e Censo Escolar.

Fica claro que o Ensino Médio é a etapa escolar que mais encontra dificuldade para
aumentar os seus valores no Ideb. Agora, portanto, vou focar nesse recorte escolar
do ensino médio, fazendo uma comparação com as escolas de mesmo Índice de
Nível Socioeconômico (INSE) da E.E. Carolina Cintra. Notamos na figura 6 que esta
ainda se encontra muito atrás das escolas que pertencem ao mesmo indicador
[grupo 4]. Uma porcentagem de 89.84% delas estão com resultados acima da
escola Carolina Cintra.

Figura 6: Ideb comparado da E.E Carolina Cintra com escolas do município de São Paulo
pertencentes ao grupo 4 do INSE

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.)


Ao comparar com as escolas do grupo 6, nível socioeconômico significativamente
maior, o universo de comparação cai para 7 escolas. Mas neste caso, a Carolina é a
única escola com Ideb menor que 6,6. Portanto, é evidente que existe um abismo
imenso na escala de valores entre os grupos 4 e 6 do indicador socioeconômico
.
Figura 7: Ideb comparado da E.E Carolina Cintra com escolas do município de São Paulo
pertencentes ao grupo 6 do INSE

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.)

Agora analisando a Escola Estadual Arcy Major, localizada na Rua Doutor José de
Queirós Aranha, no bairro de Vila Mariana, notamos também uma diferença
significativa nos valores do Ideb. Para o ensino médio encontramos o seguinte
indicador:

(Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.)


É um valor que não atinge o estipulado como referencial do Ideb, no entanto mostra
um avanço muito maior no grau de desempenho dos alunos dessa escola. A escola
Arcy Major, assim como a Carolina Cintra se enquadra no grupo 4 do indicador
socioeconômico. No entanto, os dados socioeconômicos e educacionais do distrito
de Vila Mariana, bairro de classe média, se difere bastante da condição do Capão
Redondo, onde se situa a escola Carolina.
Figura 9: Distribuição de renda Vila Mariana​ ​Figura 10: Distribuição de renda Capão Redondo

Nas figuras 9 e 10 identificamos uma desigualdade de renda importante na análise


do desempenho dessas duas escolas em comparação. Esse dado, ultrapassa os
limites colocados pelos INSE, que é baseado na indicação meramente numérica das
dependências residenciais e posse de bens do aluno e sua família. Analisar a
distribuição de renda do distrito nos diz muita coisa sobre o capital cultural que
esses sujeitos terão acesso. E também vai reforçar as desiguais configurações
urbanas que vão impactar em diferentes resultados educacionais e diferentes usos
dos sistemas de ensino (PEROSA; LEITE; 2015).

Além disso, também existe o indicador educacional da população deste distrito.


Figura 11: Características educacionais Vila Mariana

Figura 12: Características educacionais Capão Redondo

Esses elementos nos mostram a discrepância entre as características


socioeconômicas, educacionais e culturais desses dois distritos com populações
residentes de perfis muito diferentes. Embora ambas escolas componham o mesmo
grupo de índice socioeconômico do Saeb, estão inseridas em contextos urbanos
muito diferentes, que impactam diretamente no desempenho dos alunos dessas
escolas.

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