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Ciência dos Materiais


MET 1847 - Materiais de Engenharia / aula 4 e Metalurgia

Conteúdo Programático da Aula

3. Transformações Difusionais
3.1 Nucleação e crescimento de cristais;
3.2 Mecanismos de difusão;
3.3 Transformações isotérmicas;
3.4 Transformações contínuas;
3.5 Transformações isotérmicas versus contínuas.
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Relevância do Estudo

O desenvolvimento de determinadas propriedades mecânicas que


irão conferir ao material características de desempenho dependem,
muitas vezes, de modificações microestruturais durante o processamento.
Tais modificações microestruturais são representadas de maneira
conveniente por diagramas que incorporam transformações de fase em
função do tempo e da temperatura de processamento. A aplicação
destes diagramas permite o planejamento e a realização adequada de
tratamentos térmicos, com o objetivo de conferir ao material as
propriedades mecânicas desejadas.
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Figura 1: Esquema temperatura versus tempo de solidificação [3].


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Figura 2: Esquema de solidificação e crescimento de grão em meio líquido [3].


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Figura 3: Influência do superesfriamento térmico sobre a variação da energia livre e


raio crítico de solidificação [3].
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Algumas transformações de fase são importante no processamento


do material e, geralmente, envolvem alterações microestruturais. Se
dividem em três tipos:

– transformações que dependem de difusão*, mas não existe


qualquer alteração no número e na composição das fases
presentes. Por exemplo, a solidificação de um metal puro;

– transformações que dependem de difusão e existem alterações


no número e na composição das fases presentes. Normalmente,
a microestrutura final é bifásica. Por exemplo, a reação eutetóide
apresentada na aula anterior;

* transporte de massa através do movimento de átomos


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– transformações que ocorrem sem difusão, resultando numa fase


metaestável. Por exemplo, a transformação martensítica.
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Figura 4: Mecanismo de difusão por lacunas (a) e intersticial (b) [1].


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A maioria das transformações no estado sólido não acontece de maneira


instantânea, pois alguns impedimentos ocorrem durante a transformação e
a tornam dependente do tempo. Por exemplo:

• a maioria das transformações envolve a formação de pelo menos uma


nova fase, com composição e estrutura cristalina diferentes daquela
que a originou. São necessários rearranjos atômicos, por difusão, para
que a transformação se processe.

• aumento de energia do sistema, como conseqüência do aparecimento


de contornos (fronteiras) entre a fase que está se transformando
(original) e aquela resultante da transformação (nova).
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Microestruturalmente, as transformações de fase se processam em


duas etapas:

• nucleação, que consiste na formação de núcleos (embriões) da nova


fase em meio àquela de se transforma. Estes embriões, se atingirem
um tamanho mínimo necessário a estabilidade termodinâmica (raio
crítico), são capazes de crescer. A nucleação ocorre preferencialmente
nos contornos de grão da fase original.

• crescimento, quando os núcleos estáveis da nova fase aumentam seu


tamanho, provocando a diminuição do volume da fase original. A
transformação atinge seu término se for permitido que o crescimento
prossiga até que a condição de equilíbrio seja atingida.
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Os diagramas de fase não permitem a previsão do


tempo necessário para que a transformação seja
concluída, isto é, que a condição de equilíbrio da nova
fase seja atingida.
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A dependência da fração transformada da nova fase


em relação ao tempo de processamento (cinética da
transformação) é de fundamental importância nas
modificações microestruturais resultantes.
Geralmente, a cinética da transformação é medida
com a temperatura constante (transformação
isotérmica).
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Figura 5: Representação esquemática da cinética de uma reação isotérmica [1].


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Figura 6: Transformação isotérmica da austenita (M) em perlita (P)


no aço eutetóide [4].
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A maioria das transformações de fase exige


um tempo finito para se processar por completo.
A taxa de transformação na condição de
equilíbrio é tão lenta que microestruturas no
verdadeiro equilíbrio raramente são obtidas.
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Para transformações em resfriamentos e


aquecimentos fora das condições de equilíbrio,
as transformações são deslocadas para
temperaturas mais baixas (super-resfriamento)
ou mais altas (sobreaquecimento),
respectivamente, do que aquelas indicadas pelo
diagrama de equilíbrio.
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O deslocamento das transformações depende


da taxa de variação da temperatura. Quanto
mais rápido for o resfriamento ou aquecimento
imposto ao material, maior será o super-
resfriamento ou sobreaquecimento sofrido
pelo mesmo.
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Figura 7: Cinética da transformação isotérmica da perlítica no aço


eutetóide em função da temperatura [1].
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A dependência da transformação de fase em uma


temperatura constante em relação ao tempo é
expressa de maneira adequada por diagramas
de transformações isotérmicas ou diagramas de
transformação tempo-temperatura
(Diagramas TTT).
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Figura 8: Diagrama TTT parcial do aço eutetóide [1].


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Em relação a figura anterior:

• as duas linhas cheias marcam o início e final da transformação


isotérmica (no exemplo 675ºC).

• a linha tracejada representa 50% da transformação concluída.

• a temperatura eutetóide está indicada por uma linha horizontal.

• para uma temperatura acima da eutetóide, para qualquer tempo,


existe apenas austenita .

• abaixo da temperatura eutetóide a austenita fica instável.


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• a transformação da austenita em perlita ocorre somente com


o super-resfriamento do material.

• o início e final da transformação dependem da temperatura


de processamento.

• em temperaturas imediatamente abaixo daquela eutetóide,


isto é, pequenos super-resfriamentos, a taxa de reação é
muito lenta. Por exemplo, a 700ºC são necessários longos
tempos (10**5 s) para que 50% da reação ocorra.
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• para maiores super-resfriamentos (por exemplo 540ºC) a


cinética da reação aumenta consideravelmente e em apenas
3 s, 50% da transformação austenita → perlita está completa.

• nesta temperatura, a taxa de transformação é controlada pela


taxa de nucleação, que aumenta com o aumento do super-
resfriamento.

• em temperaturas mais baixas, a transformação é controlada


pela difusão, o que reduz novamente a velocidade da
transformação.
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Figura 9: Formação de perlita isotérmica no aço eutetóide [1].


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Em relação a figura anterior:

• um resfriamento brusco (AB) antecede o início da


transformação perlítica.

• a transformação perlítica se inicia no ponto C (~ 3,5 s)


e se processa isotermicamente, estando concluída no
ponto D (~ 15 s).

• aparecimento de perlita grosseira e perlita fina.


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Em relação a formação da perlita isotérmica:

• a espessura das camadas de ferrita e cementita na


estrutura lamelar da perlita dependem da temperatura
de formação.

• temperaturas imediatamente abaixo daquela eutetóide


produzem camadas relativamente espessas, tanto para
a ferrita como para a cementita, numa microestrutura
denominada de perlita grosseira.

• Com a diminuição da temperatura, existe a redução da


espessura das camadas, originando a perlita fina.
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Figura 10: Micrografia de perlita fina (a) e perlita grosseira (b) [1].
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Figura 11: Dureza de aços comuns em função da quantidade de carbono


e microestrutura [1].
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Figura 12: Ductilidade de aços comuns em função da quantidade de carbono


e microestrutura [1].
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Figura 13: Quantidade de constituintes em função da quantidade carbono


de aços comuns recozidos [6].
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Importante

A Figuras 5 e 6 se referem somente ao Diagrama


TTT do aço eutetóide. Para outros tipos aços, as
configurações do diagrama serão modificadas.
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Para aços com composições diferentes da eutetóide,


uma fase pró-eutetóide (ferrita ou cementita) existirá
conjuntamente com a perlita. Portanto, curvas que
correspondam a estas transformações também
devem ser incluídas nos respectivos Diagramas TTT.
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Figura 14: Diagrama TTT de um aço hipoeutetóide [7].


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Figura 15: Diagrama TTT de um aço hipereutetóide [6].


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Deve ser enfatizado que os Diagramas TTT


representam transformações isotérmicas. Sendo assim,
os mesmos não devem adotados para prever
transformações que ocorram sob condições de
resfriamento contínuo, isto é, que apresentem uma
continuidade no resfriamento durante as
transformações (transformações contínuas).
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É possível a modificação dos Diagramas TTT para que


se consiga prever as transformações de fase durante
os resfriamentos contínuos. A modificação dos
Diagramas TTT resulta nos diagramas de
transformações em resfriamento contínuo
(Diagramas CCT).
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Figura 16: Superposição dos diagramas TTT e CCT do aço eutetóide [1].
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Figura 17: Formação de perlita durante resfriamentos moderadamente


rápido e lento [1].
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Tudo isto acontece em transformações no equilíbrio


(isotérmicas) ou perto do equilíbrio, isto é, transformações
contínuas relacionadas com resfriamentos lentos (recozimento)
ou moderadamente rápidos (normalização) !!!!!
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Importante

Resfriamentos em condições de equilíbrio ou


perto do equilíbrio resultam em microestruturas
estáveis.
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1. W. D. Callister Jr., Ciência e Engenharia de Materiais: uma


Introdução. LTC Editora, Rio de Janeiro (2002).
3. M. P. Campos Filho e G. J. Davies, Solidificação e Fundição de
Metais e suas Ligas. LTC / EDUSP, Rio de Janeiro (1978).
4. R. A. Higgins, Propriedades e Estrutura dos Materiais em
Engenharia. DIFEL, São Paulo (1992).
6. R. M. Brick, R. W. Pense and R. B. Gordon, Structure and Properties
of Engineering Materials. McGraw-Hill Kogakusha, Tokio (1992)
7. R. W. Honeycombe, Steels: Microstructure and Properties. Edward
Arnold, Cambridge (1992).

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