Processamento de Produtos Agrícolas

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CAPÍTULO 6

6. HIGROMETRIA

6.1. Introdução

Higrometria é a parte da física que estuda os métodos que quantificam a

umidade do ar.
O estudo da umidade relativa do ar ambiente e do ar existente no espaço
intergranular de uma massa de grãos, constituem elementos fundamentais durante várias
etapas do processamento e armazenamento de grãos (secagem de produtos agrícolas,
aeração de grãos), na climatologia e conforto ambiental.
O ar é composto por uma mistura de gases (H2, O2, CO2, N2O, etc.) os quais
compõem o ar seco, que associados ao vapor d’água, formam a atmosfera conforme
conhecemos.
A quantidade de vapor de água no ar varia entre valores próximos a zero e valores
próximos a 4%, em volume.

Tabela 7 - Composição do ar ambiente

Gás Fórmula Volume (%)

(moles/100moles)
Nitrogênio N2 78,084
Oxigênio O2 20,948
Argônio Ar 0,934
Gás Carbônico CO2 0,033
Outros gases * 0,001
Total * 100,00

6. 2. Propriedades do Ar Úmido

As propriedades do ar úmido estão relacionadas à temperatura, quantidade de

vapor de água, volume ocupado e quantidade de energia contida no ar.
A temperatura do ar esta relacionada à Temperatura do Bulbo Seco, Temperatura do
Bulbo Molhado e Temperatura do Ponto de Orvalho. A massa de vapor de água está
relacionada à Pressão de Vapor, Umidade Relativa e Razão de Umidade. Outras

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propriedades freqüentemente utilizadas nas diferentes etapas do processamento e

armazenamento de grãos são a Entalpia e o Volume Específico.

6.2.1. Temperatura de Bulbo Seco (ºC)

A temperatura do bulbo seco (Tbs) é a temperatura do ar úmido indicada por um

termômetro qualquer. Quando for usado o termo temperatura sem nenhuma
especificação, deverá ser entendido como temperatura de bulbo seco.

6.2.2. Temperatura de Bulbo Molhado (ºC)

A temperatura do bulbo molhado (Tbm), é a temperatura do ar úmido indicada

por um termômetro no qual o bulbo é revestido com uma gaze úmida. O fluxo de ar que
passa através da gaze deverá ter velocidade aproximadamente igual a 4,5 m/s. Esta
temperatura de bulbo molhado é dita temperatura psicrométrica e distingue da
temperatura termodinâmica do bulbo molhado a qual é a temperatura atingida pelo ar
úmido se o ar é saturado adiabaticamente pela evaporação da água. As temperaturas de
bulbo molhado psicrométricas e termodinâmicas do ar úmido são quase iguais.

6.2.3. Temperatura do Ponto de Orvalho (ºC)

A temperatura do ponto de orvalho (Tpo) é a temperatura do ar quando ocorre

condensação durante o processo de resfriamento, sob as mesmas condições de umidade
absoluta e pressão atmosférica. Desta forma, a temperatura do ponto de orvalho deve
ser considerada como a temperatura de saturação correspondente para a razão de
umidade e pressão de vapor do ar úmido.

6. 2.4. Pressão de Vapor (atm, mmhg)

A pressão de vapor (Pv) é a pressão parcial exercida pelas moléculas do vapor

d’água no ar úmido. Quando o ar é totalmente saturado com vapor d’água, sua pressão
de vapor é chamada de pressão de vapor de saturação (Pvs).

6.2.5. Umidade Relativa (%)

A umidade relativa (UR) é a razão da fração molar (ou pressão de vapor) do

vapor d’água do ar e a fração molar (ou pressão de vapor) do vapor d’água do ar
saturado à mesma temperatura e pressão, normalmente é expressa em porcentagem.

6.2.5.1. Determinação da Umidade Relativa

A umidade relativa do ar pode ser medida por meio de instrumentos

denominados de higrômetros. Os mais comuns são: higrômetro de condensação;
higrômetro de absorção; higrômetros elétricos; higrômetros de difusão; higrômetros de
fio de cabelo; e o mais conhecido, o Psicrômetro.
Os psicrômetros, também denominados higrômetros de vaporização, são
formados por dois termômetros iguais colocados juntos sobre um suporte, conforme
representado na Figura 24.
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Bulbo molhado
Bulbo seco

Água destilada
Figura 24 - Psicrômetro formado por dois termômetros .

Um dos termômetros, denominado bulbo seco, é um termômetro comum e mede

a temperatura real do ambiente.
O outro termômetro, denominado bulbo molhado, é envolvido por um tecido
umedecido durante as leituras. Quanto mais seco estiver o ar, mais intensa será a
evaporação da água do bulbo molhado e, como a evaporação é um fenômeno que
necessita de calor para ocorrer, este calor é retirado do bulbo umedecido que, deste
modo, indicará uma temperatura mais baixa.
Quando o ar estiver saturado, não haverá evaporação e, consequentemente, as
temperaturas do bulbo molhado e do bulbo seco serão iguais. Por outro lado, quanto
mais seco estiver o ar, isto é, quanto menor for a umidade relativa, menor será a
temperatura indicada no bulbo molhado. A diferença de temperatura entre os dois
termômetros é chamada de depressão psicrométrica.
A umidade relativa pode ser determinada a partir da temperatura do bulbo seco e
da depressão psicrométrica utilizando-se tabelas apropriadas (Tabela 8).

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Tabela 8. Obtenção da umidade relativa do ar a partir da temperatura do bulbo seco e

da depressão psicrométrica.

Temperatura Depressão Psicrométrica (ºC)

do Bulbo Seco 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 14 16 18 20
(ºC)
0 82 64 48 32 16 2
2 84 69 54 39 24 11 0
4 85 70 56 43 32 19 7
6 87 72 59 46 34 23 15 4
8 87 75 62 50 39 28 18 8 2
10 88 76 65 54 44 33 23 14 5
12 89 78 68 57 48 38 29 20 11 3
14 90 79 70 60 51 42 33 25 17 9
16 90 81 71 62 54 46 37 30 22 14 0
18 91 82 73 65 56 49 41 34 27 20 6
20 91 83 74 66 59 51 44 37 30 24 11 0
22 92 83 76 68 61 54 47 40 34 28 16 5
24 92 84 77 69 62 56 49 43 37 31 20 9 0
26 92 84 77 70 63 57 51 45 39 34 24 14 5
28 92 85 78 72 65 58 53 47 42 36 27 17 8 0
30 93 86 79 73 67 61 55 49 44 39 29 21 12 4
32 93 87 80 73 67 62 57 51 46 41 32 23 15 8 1
34 93 87 81 74 69 63 58 53 48 43 35 26 19 11 4
36 94 87 81 75 70 64 59 54 50 45 37 29 21 14 8
38 94 88 81 76 71 66 61 56 51 47 38 31 24 17 11
40 94 88 82 77 72 67 62 57 53 48 40 33 26 19 13
42 94 89 83 78 72 67 63 58 54 50 42 34 28 22 16
44 94 89 83 78 73 68 64 59 55 51 43 36 30 24 18
46 94 89 84 78 74 69 64 60 56 52 45 38 32 26 20
48 94 89 84 79 74 70 65 61 57 53 46 39 33 27 22
50 94 89 84 79 75 71 66 62 58 54 47 40 34 29 23
Ex: temperatura do bulbo seco = 20ºC. Depressão Psicrométrica = 4ºC. Umidade relativa do ar = 66%

6.2.6. Razão de Umidade (kg de vapor / kg de ar seco)

A razão de umidade (RU), também conhecida como razão de mistura, é a massa

de vapor d’água contido no ar úmido, por unidade de massa do ar seco.
Umidade Absoluta é a relação entre a quantidade de vapor (kg de vapor) e o
volume ocupado pelo ar úmido (m3 de ar úmido).
Umidade Específica é a relação entre a quantidade de vapor (kg de vapor) e a
massa de ar úmido (kg de ar úmido)

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6.2.7. Entalpia (kcal/kg de ar seco)

A entalpia (h) de uma de mistura de ar seco e vapor d’água é a quantidade de

energia contida no ar úmido por unidade de peso do ar seco acima de uma certa
temperatura de referência.

6.2.8. Volume Específico (m3 de ar / kg de ar seco) -

O volume específico (V) do ar úmido é definido como o volume por unidade de

peso do ar seco.

6. 3. Gráfico Psicrométrico

As propriedades do ar podem ser determinadas mediante métodos analíticos que,

além de serem complexos, consomem muito tempo. Para facilitar a freqüente
necessidade de realização de cálculos, foram criados gráficos especiais que contêm os
valores mais comuns das propriedades do ar. Estes gráficos são denominados de
GRÁFICOS PSICROMÉTRICOS.
Existem vários tipos de gráficos psicrométricos, diferenciando-se com relação à
pressão barométrica, temperaturas estabelecidas, número de propriedades e escolha das
coordenadas.
No Brasil, o gráfico mais freqüentemente utilizado apresenta como coordenadas
a razão de umidade, no eixo vertical do lado direito do gráfico, e a temperatura do
bulbo seco, na horizontal.
As linhas de razão de umidade e pressão de vapor constantes cortam o gráfico
horizontalmente (Figura 25).

Figura 25 - Representação das linhas de razão de umidade e pressão de vapor

As linhas de bulbo seco constantes são verticais (Figura 26).

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Figura 26 - Representação das linhas de temperatura de bulbo seco

As linhas constantes de bulbo molhado e de entalpia (também chamadas de

linhas de resfriamento adiabático) são retas que fazem um ângulo discreto em relação
ao eixo horizontal (Figura 27).

Figura 27 - Representação das linhas de entalpia e temperatura de bulbo molhado.

As linhas para a umidade relativa constante são curvas côncavas para cima, com
valores decrescentes a partir do lado esquerdo do gráfico. A curva de saturação é a
curva de 100% de umidade relativa (Figura 28).

Figura 28 - Representação das curvas de umidade relativa

Os valores das temperaturas de bulbo molhado e ponto de orvalho são indicados

na curva de saturação.

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As linhas de volume específico são retas que seguem obliquamente o gráfico

fortemente inclinadas, distinguindo-se das linhas de entalpia e bulbo molhado (Figura
29).

Figura 29 - Representação das linhas de volume específico.

Apesar de ocorrerem diferenças nas relações entre as propriedades do ar com a

variação da pressão atmosférica, o gráfico é padronizado para a pressão a nível do mar e
é satisfatório para os estudos de processamento e armazenamento de grãos.

6.4.1. Uso do Gráfico Psicrométrico

Para se utilizar o gráfico, inicialmente deve-se identificar o ponto de estado do

ar. A sua identificação depende do conhecimento de pelo menos duas característica do
ar. Uma vez identificado o ponto de estado, as demais propriedades do ar serão
conhecidas pela leitura dos valores indicados pelas linhas que passam através do ponto.
A seguir é apresentado um exemplo de identificação do ponto de estado
utilizando a temperatura do bulbo molhado e a temperatura do bulbo seco
Considere que se tenha dado os valores de Tbs e Tbm. A partir do valor de Tbs
traça-se uma linha perpendicular à linha abcissa.
A partir do valor de Tbm, traça-se uma linha paralela às linhas inclinadas que
partem da escala de entalpia.
O ponto de cruzamento dessas duas linhas indica Ponto de Estado (PE) (Figura
30)

Bulbo molhado

* PE

Bulbo seco

Figura 30 - Representação do Ponto de Estado (PE)

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6.4.2. Alterações do Ponto de Estado

a) Aquecimento e resfriamento sensíveis

Durante o aquecimento ou resfriamento sensíveis do ar, sob razão de umidade

constante, o calor é adicionado ou retirado por intermédio de superfícies chamadas de
“trocadoras” (aquecimento) e “evaporadores” (resfriamento).
Este processo é indicado pela movimentação do Ponto de Estado (PE),
paralelamente ao eixo horizontal, provocando alterações nos valores de Tbs, Tbm,
Entalpia, Volume específico e na Umidade Relativa. Neste caso, quando o ar for
aquecido, o Ponto de Estado (PE) será deslocado de A para B. Quando o ar for
resfriado, partido da condição inicial A, o PE será deslocado para C. Não são
modificados, neste processo, os valores de razão de umidade, temperatura do ponto de
orvalho e pressão de vapor (Figura 31).

C A B

Figura 31 - Mudanças no Ponto de Estado por aquecimento e resfriamento sensíveis.

b) Secagem e umedecimento

A adição ou retirada de umidade do ar, sem adicionar ou retirar calor, leva o

ponto de estado a se deslocar sobre a linha de entalpia constante. No caso de adição de
umidade , o ponto de estado desloca-se para cima, e mediante a retirada de umidade,
este ponto desloca-se para baixo (Figura 32).

C
A
B

Figura 32 - Mudança no Ponto de Estado por secagem com umedecimento e

Resfriamento abiabático
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c) Resfriamento com desumedecimento

No processo de resfriamento dos grãos, o ar é resfriado freqüentemente em uma

temperatura abaixo da temperatura do ponto de orvalho (Tpo), pela sua passagem por
evaporador. Uma vez que o ar é saturado quando atinge o ponto de orvalho, a água
condensa logo que a sua temperatura seja reduzida abaixo da Tpo. A razão de umidade
será reduzida bem como as temperaturas de bulbo seco, bulbo molhado e de ponto de
orvalho, além da entalpia e do volume específico.

6. 5. Mistura de Massas de Ar com Diferentes Propriedades

Freqüentemente, durante a secagem de grãos, dois fluxos de ar com diferentes

velocidades de fluxo de massa, temperaturas e razão de umidade são misturados. A
condição resultante da mistura poderá ser determinada diretamente no gráfico
psicrométrico.

m1

m3

m2

Considerando dois sistemas de ar com taxa de fluxo de ar m 1 e m2, temperaturas

T1 e T2 e razão de umidade RU1 e RU2. A condição de Umidade resultante terá
velocidade de fluxo de massa m3, temperatura T3 e razão de umidade RU3 . Os balanços
de massa e energia para o processo são:

m1 + m2 = m3 (kg/min)
m1 RU1 + m2 RU2 = m3 RU3 (g/min)
m1 h1 + m2 h2 = m3 h3 (kcal / min)

A condição de Umidade dos dois fluxos de ar, encontra-se numa linha reta que
une os pontos de estado do ar nas condições 1 e 2 no gráfico psicrométrico.
O fluxo de massa de ar (m) será determinado a partir da vazão do ar e do
volume específico do ar para cada condição.

Assim,
m=Q / V
em que,
m - fluxo de massa do ar ( kg/min);
Q - vazão do ar (m3 / min);
V - volume específico (m3 de ar / kg de ar seco).

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