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Resumo da Exposição Reviravolta no MAES

Alanis Gude Torres – Teorias Psicanalíticas

A exposição audiovisual Reviravolta está concentrada em dois lugares: uma parte na


Galeria Homero Massena e a outra no Museu de Artes do Espírito Santo, sendo somente
esse segundo lugar objeto de pesquisa para esse resumo. As obras são vídeos com
depoimentos ou com uma experiência imersiva que conta com diversos artistas que
possuem os mais distintos pontos de vista.
Essa exposição retrata o modo como as minorias massacradas pela história, ou melhor,
pelas autoridades ao longo dos tempos. Tribos indígenas mostram seus rituais – uma delas
explica detalhadamente um processo de fortalecimento de seus integrantes. Mulheres,
jovens e crianças são chicoteados pelos próprios membros da tribo, não como força de
opressão, mas para que conheçam altos graus de dor e adquiram força para que não sofram
nas florestas com bichos ameaçadores ou para que não sintam dor quando precisarem
fazer as tatuagens pertencentes àquela tribo.
Há um mostruário no museu que estão expostos calendários em que alguns indígenas
faziam suas anotações, algumas embalagens de produtos que tem seus nomes originários
de palavras indígenas e diversos animais esculpidos em madeira. A cultura indígena é
realmente ampla e rica em detalhes, mas foi, durante muito tempo, marginalizada e
ridicularizada.
Porém, de todas as obras que pude ver, uma chamou minha atenção bem mais do que
todas as outras. Havia 4 vídeos com o mesmo conceito, um homem que ficava andando
em círculos ao redor de 4 árvores que ficavam em lugares diferentes do estado de Minas
Gerais, mas ele andava para trás, de costas. A descrição dessa obra refletia sobre um ritual
da época de escravidão. Os escravos eram obrigados a fazer tal coisa como simbolismo
de regressão de memória. Ao andarem para trás ao redor de um objeto central, suas
memórias seriam apagadas.
O que mais percebi nesses vídeos foi que em 3 ele estava sozinho durante o ato, mas em
um deles muitas pessoas passavam por ele e ninguém sequer olhava para o que ele fazia.
Nesse momento eu só consegui me recordar das milhares de vezes em que eu vejo o
nascer ou o pôr do sol em algum lugar e fico fascinada admirando e as pessoas à minha
volta nem sequer o notam e, quando me notam, me olham de forma estranha, como se eu
estivesse enlouquecendo, ou melhor, não agindo conforme o script robotizado que a
sociedade hoje em dia segue.
Isso só me fez perceber o quanto as manifestações artísticas e até as da natureza são
completamente esquecidos e considerados insignificantes. Muitos dos relatos que ouvi ali
são de extrema importância para serem ouvidos por todos e esteve disponível por 3 meses
de forma gratuita, mas muitas pessoas nem se interessavam em saber. Cada dia que passa
somos mimados por tudo ao nosso redor para que só vejamos e ouçamos coisas que nos
convém, aquilo que gostamos e não somos mais desafiados a encarar o diferente, o que
nos estranha e isso nos restringe, nos segrega e nos obriga a fechar a mente sobre o
diferente.
Reviravolta traz essa visão para nós, uma visão que não temos. Nós fomos os
perseguidores e essas tribos, essas minorias, eles precisam e devem se expressar e serem
ouvidos, mas até onde estamos dispostos a ouvir sem julgar ou sem compará-los ao que
nós somos e vivemos?
Essa exposição me mostrou que existe muito mais para se ver além dos meus olhos e
percebo que o mundo tenta me mostrar isso o tempo todo, mas já estou domesticada para
ver e ouvir só o que quero, só o que é interessante e semelhante à minha cultura. Porém,
acima de qualquer coisa é necessário o respeito pelo outro e pelas suas vivências. As
pessoas pensam diferente, vivem à sua maneira e cada um tem o direito a isso sem ter que
sofrer julgamentos o tempo todo. Já passou da hora dos opressores pararem de falar e os
oprimidos receberem o que é deles por direito, incluindo seu espaço na sociedade.

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