Você está na página 1de 2

Pelotas, 23 de maio de 2022

Olá represente do movimento social quilombola. Como estão todos? Espero que bem ^^ Hoje vim
te contar sobre dois filmes que assisti: "Terreiros do Brincar" e "Disque Quilombola". Os dois filmes
abordam o brincar, mas cada um de seu jeito e em comunidades específicas.

O "Terreiros de Brincar", retrata a participação das crianças em vários grupos de manifestações


populares em alguns estados brasileiros, e inicia com alguém explicando o que significa a palavra
"terreiro", muitas vezes associamos essa palavra com algo religioso, coisa que pode ser ou não,
mas o que de fato faz um terreiro ser terreiro, é a vivência íntima da comunidade. O terreiro
quando falado no universo de festas populares, pode ser qualquer espaço em que a intimidade da
comunidade esteja presente, muitas vezes de comunidades que foram perseguidas e escravizadas,
e infelizmente, acabam tendo que buscar espaços específicos longe das vistas das pessoas, um
lugar onde não serão julgados.

O que mais achei interessante nessas festas, é a relação entre o adulto e a criança. A criança é
totalmente integrada nas festas, onde normalmente se fala "vai lá na rua brincar", aqui, a criança é
acolhida e ativamente participativa, se sentindo parte do coletivo. Ela aprende brincando e
observando o adulto, aprende as danças típicas, as músicas que são sempre cantadas, aprendem
também como tocar os instrumentos. O filme nos conta e mostra o quão importante é a cultura,
eles a compararam com o leite materno, algo que é necessário.

Durante o filme, foram retratadas algumas manifestações culturas (expressões de um povo, de


seus rituais e celebrações) como: Bumba meu Boi, Festa do Divino e Nego Fugido. Muitas dessas
festas retratam temas que são tabus pela sociedade, e que ali, são relembrados. Não posso negar
que a festa do "Nego Fugido" foi a que mais me deixou desconfortável... Fiquei pensando na
história por trás de toda aquela manifestação cultural.

Uma das coisas que me chamou atenção foi o relato de um homem que estava participando da
manifestação cultural “Nego Fugido", onde ele nos conta que quando estava na escola sentia que
não tinha liberdade para se expressar, tinha que ficar sentado e quieto ouvindo a professora falar, e
nessa festa encontrou um lugar em que conseguia e podia se expressar, se mexer, colocar tudo o
que sentia para fora e assim, conseguia relaxar. Além de que isso estimulava a curiosidade dele:
Por que estamos fazendo isso? Por que rolamos no chão? Por que pintamos a cara?

Enquanto assistia e prestava atenção nas festas, comecei a reparar que era tudo extremamente
colorido, com músicas muitas vezes animadas, crianças, adultos, idosos, homens e mulheres, todos
reunidos num só lugar e com o mesmo propósito. Achei super legal e interessante, e acabei
lembrando do Carnaval.

Agora falarei do outro filme que assisti, o "Disque Quilombola", achei a ideia do curta super
interessante, a maneira em como usaram uma brincadeira (Telefone com Fio) para a conversação
das crianças que moram na comunidade quilombola com as crianças do Espírito Santo foi
surpreendente.
O curta é feito através de conversações entre as crianças das duas comunidades, onde elas trocam
informações, experiências, contam como é a comunidade onde vivem, quais suas comidas
favoritas, as músicas que escutam, as danças tradicionais, as brincadeiras que mais brincam, etc. E
nisso, acabam comparando sua realidade com a da outra, vendo as coisas que são iguais, coisas
diferentes, e isso atiça a curiosidade delas.

Uma coisa que pude notar, é que as brincadeiras estão sempre relacionadas as coisas do dia a dia e
sempre acontecem ao ar livre. Conseguimos perceber a ligação entre as crianças e a natureza, algo
realmente incrível!

Gostei dos dois filmes, muitas vezes não estamos dispostos a pesquisar sobre coisas que não estão
em nosso dia a dia. Mas quando somos apresentados a esse tipo de coisa, acabamos ficando
curiosos e muitas vezes com medo do desconhecido. Não lembro de ter estudado sobre algo do
tipo enquanto estava na escola, lembro somente do Bumba meu Boi por estar em livros de
folclore. Compreendi também que devemos inserir as crianças em nossas coisas, e o quão
importante enquanto ela cresce...

Atenciosamente,

Larissa Miranda

Você também pode gostar