Você está na página 1de 8

O conceito de cultura

“Você tem Cultura?” Um importante antropólogo brasileiro chamado Roberto da Matta


escreveu um artigo que tinha como título esta pergunta. Um antropólogo é um estudioso que
se interessa pela cultura. Opa! Vamos com calma. Certamente você respondeu que sim a
primeira pergunta. Agora vamos pensar em outra questão. Será que você que está no ensino
médio tem mais cultura que um senhor com 70 anos de idade que não teve acesso à escola e
mora no interior? Certamente agora você ficou na dúvida... Bom, para pensarmos sobre estas
questões é necessário se perguntar o que é Cultura? Muitas vezes, no dia a dia, ao falar de
cultura as pessoas costumam pensar que a Cultura está relacionada a ter frequentado museus,
ter lido vários livros, saber falar várias línguas, ter estudado muito. Porém, Cultura não é isso,
ou pelo menos apenas isso. Quando as pessoas usam cultura neste sentido elas estão dizendo
que determinada pessoa é considerada “culta” e ter cultura é muito mais do que isso. Logo de
início já podemos afirmar o seguinte: todos os seres humanos, independentemente de ter
estudado ou não, do local onde mora, da idade, sexo ou cor, têm Cultura! Os antropólogos
como Roberto da Matta citado no início do texto por exemplo, se preocupam em estudar a
Cultura que, para a antropologia, é a forma de viver de um grupo, sociedade, país ou pessoa.
Sua postura corporal, a forma como você se veste, pensa e se relaciona com seus amigos em
sala de aula é Cultura!
Para o antropólogo Edward Tylor (1832-1917), um dos pioneiros no estudo da cultura, a
Cultura inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e todo comportamento
aprendido pelo homem. Tudo que o homem faz ele aprende com seus semelhantes. Isso
mesmo! Imagine você quando bebê. Nos primeiros meses, como ainda não aprendeu a falar,
você conseguia seu alimento através do choro e, gradualmente, foi aprendendo que quanto
mais alto chorava mais rápido recebia o que queria. Também nos primeiros meses foi
aprendendo algumas regras do que pode e do que não pode ser feito; nos primeiros anos de
idade aprendeu a falar e brincar com outras crianças e, à medida que foi crescendo, aprendeu
a se relacionar com seus colegas e professores na escola, aprendendo determinadas regras,
normas e formas de comportamento. Perceba então que tudo o que você é e tudo que você faz
foi aprendido com sua família, seus amigos, na escola, na igreja ou na comunidade em que
vive e é a sua Cultura. Assim, a Cultura são normas, regras, padrões de comportamento,
formas de pensar e agir e por isso não existe povo, sociedade ou ser humano sem cultura.
O homem é feito pela cultura ao mesmo tempo em que a constrói socialmente. Quando
nascemos já encontramos prontas regras, normas e padrões sociais que, embora não tenhamos
criado, aprendemos e são essas regras, normas e padrões que dão significado as nossas ações.
Lembrando que, como o homem também constrói socialmente sua cultura ela também pode
mudar ao longo dos anos. Algumas normas e valores e formas de comportamento mudam ao
longo do tempo. A forma como nossos avós namoravam, por exemplo, é bem diferente da
forma como os namoros acontecem atualmente, concorda?
Quando chegamos ao mundo aprendemos um conjunto de saberes coletivos
compartilhados pelos membros de uma sociedade que nos servem como modelos de formas
de agir e pensar. Todas as sociedades têm padrões de comportamento e compartilham saberes
coletivos tais como a culinária, artesanato, formas de falar, músicas, danças, costumes,
folclore, tradições e isso tudo é Cultura! A língua, os valores, as normas, a religião e os
costumes de determinada região são como uma espécie de herança deixada por gerações
anteriores que é passada as gerações futuras. A esta herança podemos chamar de cultura não
material. Também faz parte desta herança as igrejas, os monumentos históricos, a arquitetura,
instrumentos, máquinas, que podemos chamar de cultura material de um povo. Vamos testar
seus conhecimentos?
Texto extraído e adaptado das atividades autorreguladas da SEEDUC.
Atividade
1 – “O homem é feito pela cultura ao mesmo tempo em que a constrói socialmente”. O que
você, aluno, acha que essa frase quer dizer?

2 - Qual a diferença entre cultura material e imaterial?

3 - Todas as pessoas têm cultura?

Etnocentrismo e Relativismo Cultural


Conhecer as diferentes formas de viver, agir e pensar dos diversos povos e grupos é
muito interessante. Comparar a nossa forma de viver com culturas diferentes nos ajuda a
compreender melhor a nossa própria cultura. Vamos então falar um pouco mais sobre isso?
Escrevendo sobre a diversidade cultural, o antropólogo Roque de Barros Laraia faz as
seguintes comparações:
“Qualquer um dos leitores que quiser constatar, uma vez mais, a existência dessas diferenças não
necessita retornar ao passado, nem mesmo empreender uma difícil viagem a um grupo indígena,
localizado nos confins da floresta amazônica ou em uma distante ilha do Pacífico. Basta comparar os
costumes de nossos contemporâneos que vivem no chamado mundo civilizado.
Esta comparação pode começar pelo sentido do trânsito na Inglaterra, que segue a mão esquerda; pelos
hábitos culinários franceses, onde rãs, e escargots (capazes de causar repulsa a muitos povos) são
considerados como iguarias, até outros usos e costumes que chamam a atenção para as diferenças
culturais.
No Japão, por exemplo, era costume que o devedor insolvente praticasse o suicídio na véspera do ano-
novo, como uma maneira de limpar o seu nome e o de sua família. O haraquiri (suicídio ritual) sempre
foi considerado como uma forma de heroísmo. Tal costume justificou o aparecimento dos ‘pilotos
suicidas’ durante a Segunda Guerra Mundial [...[
A carne de boi é interditada aos hindus, da mesma forma que a de porco é interditada aos muçulmanos.
[...]
Não é necessário ir tão longe, nesta sequência de exemplos que poderia se estender infinitamente; basta
verificar que em algumas regiões do Norte do Brasil a gravidez é considerada uma enfermidade, e o ato
de parir é denominado ‘descansar’. Esta mesmo palavra é utilizada, no Sul do país, para se referir à
morte (fulano descansou, isto é, morreu). Ainda entre nós, existe uma diversidade de interdições
alimentares que consideram perigoso o consumo conjunto de certos alimentos que isoladamente são
inofensivos, como a manga com leite etc”.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. 23. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed, 2009. p. 15-16.

Percebeu a variedade de formas de viver, agir e pensar? Conhecer culturas diferentes


das nossas leva-nos a perceber que a nossa forma de viver é apenas uma entre diversas
culturas nos diferentes países ou até mesmo dentro de um mesmo país. Olhar a cultura do
outro faz com que olhemos para nossa própria cultura e notemos que a nossa forma de ver o
mundo é apenas uma entre milhares possíveis.
A nossa cultura dá significado para as nossas ações, ou seja, nos fornece modelos de
comportamento. Os valores, normas e padrões sociais influenciam a forma como pensamos e
compreendemos o mundo a nossa volta. Podemos dizer que a cultura é como uma lente
através da qual o homem vê o mundo. Bom, se existem diversas culturas, logo há diferentes
lentes, ou seja, diferentes formas de ver o mundo.
O problema é que acabamos olhando a cultura do outro a partir de nossas próprias
lentes. Isso quer dizer que, quando conhecemos uma forma de viver diferente da nossa,
tendemos a achá-la “estranha”, “fora do normal” e até mesmo incorreta. A atitude de julgar os
outros pelo nosso próprio ponto de vista, tomando a própria cultura como a correta chama-se
etnocentrismo. O etnocentrismo faz com que julguemos a cultura do outro como fora do
padrão e consideremos somente a nossa própria cultura, ou a nossa forma de viver como a
“normal”. A atitude etnocêntrica acaba levando ao preconceito e a intolerância já que nos
impede de compreender que a nossa forma de pensar e viver é apenas uma entre milhares.
É natural que achemos estranho o que não nos é familiar e não faz parte da nossa
cultura. Porém, é importante que vejamos a cultura do outro como uma forma diferente de ver
o mundo, tão correta como a nossa. Atualmente, infelizmente, vivenciamos em nossa
sociedade várias situações de intolerância com a forma de viver, agir e pensar do outro que
leva ao preconceito, discriminação e até mesmo a violência. Um exemplo, são os casos de
violência contra homossexuais que sofrem com a intolerância daqueles que não respeitam os
que tem ações diferentes da sua. Outro exemplo de uma atitude etnocêntrica é também a
intolerância religiosa. Devemos evitar o etnocentrismo, que leva a intolerância, ao
preconceito e a discriminação e respeitar as diferenças e as diversas formas de ver o mundo!
Ao olhar para uma cultura diferente da nossa, é preciso compreender o ponto de vista do
outro a partir da sua própria cultura, da sua própria forma de pensar e ver o mundo do outro e
não da nossa. Chamamos esta atitude de relativismo cultural, quando percebemos que os
pontos de vista são relativos ao contexto cultural, ou seja, dependem da cultura a qual o
indivíduo faz parte.

O texto acima foi extraído da Atividade Autorregulada da SEEDUC do segundo


bimestre:
Atividade
1) (ENEM-2002) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara, nos trechos, as
guerras das sociedades Tupinambá com as chamadas "guerras de religião" dos franceses que,
na segunda metade do século XVI, opunham católicos e protestantes. "(...) não vejo nada de
bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera
bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais
atos de crueldade [o canibalismo], mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à
cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o
comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o
queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé, como não
somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é
bem mais grave do que assar e comer um homem previamente executado. (...) Podemos
portanto qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas
nunca se compararmos a nós mesmos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades."
(MONTAIGNE, Michel Eyquem de, Ensaios, São Paulo: Nova Cultural, 1984). De
acordo com o texto, pode-se afirmar que, para Montaigne,
(A) a ideia de relativismo cultural baseia-se na hipótese da origem única do gênero humano e
da sua religião.
(B) a diferenças de costumes não constitui um critério válido para julgar as diferentes
sociedades.
(C) os indígenas são mais bárbaros do que os europeus, pois não conhecem a virtude cristã da
piedade.
(D) a barbárie é um comportamento social que pressupõe a ausência de uma cultura civilizada
e racional.
(E) a ingenuidade dos indígenas equivale à racionalidade dos europeus, o que explica que os
seus costumes são similares.

Cultura e Ideologia

A sociologia tenta explicar a interação de um indivíduo com seu grupo social e


como a sociedade influencia a sua forma de enxergar o mundo e seu modo de agir.
Essa forma de enxergar o mundo é baseada em valores, ideias e práticas que estão
relacionados com o momento histórico que as pessoas vivem. Por exemplo: na Idade
Média europeia, período da história do século V ao século XV, era considerado
pecaminoso emprestar dinheiro a juros às pessoas. A atividade comercial não era tão
valorizada; os comerciantes não tinham liberdade para vender seus produtos pelo
preço que quisessem. Hoje em dia, nossa sociedade tem crédito dos bancos, o preço
das mercadorias é na maior parte livre e a atividade comercial valorizada. Esse breve
exemplo mostra como as práticas, os valores e as ideias mudam nas sociedades. Para
acontecer mudanças históricas muitas vezes tem que haver um grupo de pessoas que
defendam ideias para essa sociedade mudar, como os comerciantes (burgueses)
fizeram na Idade Média e Moderna para sua prática comercial ser mais bem aceita.
Isso tudo mostra que a cultura está também ligada a poder e disputas na
sociedade. Para explicar essas disputas na sociedade, a sociologia usa o termo
ideologia. Ideologia é um termo que costuma ser definido na sociologia como um
conjunto ou sistemas de ideias, pensamentos, doutrinas ou de visões de mundo de um
indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade, mas diferente de cultura, que já engloba
essas questões, está sobretudo associado a poder e disputas na sociedade.
Para autores como Karl Marx, a ideologia teria um sentido negativo, seria uma
forma de falsear a realidade pelas classes sociais dominantes em uma sociedade para a
dominação das dominadas. Em outras palavras, os mais poderosos economicamente
são os que tem mais possibilidade de influenciar na formação das ideias e, para a
manutenção da situação de exploração dos mais pobres, essa visão de mundo ao
“contrário” é disseminada. Quem tem o domínio da produção material tem o domínio
do espiritual (espiritual no sentido de ideias aqui), diria ele. Os mais ricos têm
influencia sobre a imprensa, sobre o mercado editorial (de livros), televisão e até a
internet.
Já o italiano Antonio Gramsci vai dizer que as classes sociais dominantes têm
muita influência na visão de mundo das pessoas, no entanto, não só a classe
dominante da sociedade produz uma ideologia, mas a classe dominada também. Antes
de uma classe se tornar dominante, ela precisa que a sua visão de mundo ganhe na
disputa das ideias, de valores. As diferentes ideologias - aqui no sentido de visão de
mundo, entram em disputa pelo que acham moral, correto e justo, uma batalha pela
hegemonia, no sentido de preponderância de uma visão de um mundo sobre a outra.
Nesse sentido sociológico de Gramsci, todos nós temos ideologia porque todos
nós temos uma visão sobre as coisas do mundo, sobre a sociedade, e temos valores,
ideias e práticas sociais. Essas ideias estão ligadas aos grupos e classes sociais que
existem na sociedade.
Um exemplo de disputa ideológica: No Brasil, desde a colonização portuguesa
até o fim do século XIX, existiu escravidão. No fim da escravidão, para legitimar essa
prática, os latifundiários (grandes proprietários de terra), que usavam mão de obra
escrava, justificavam essa forma de dominação dizendo que se acabassem com o
trabalho forçado seria terrível economicamente para o país, que não havia alternativa
para o trabalho escravo, que a escravidão era justificada pela natureza superior dos
brancos e que o escravo era uma mercadoria como qualquer outra. Obviamente, para
as coisas mudarem, tiveram que surgir movimentos contra a escravidão por parte de
ex-escravos e brancos simpatizantes à causa, como o movimento abolicionista, e
revoltas de escravos. Nesses movimentos abolicionistas houve uma disputa por
ideologias, visões sobre o mundo, valores, sobre o que era correto, com os defensores
da escravidão.
Outro exemplo de disputa de visão de mundo é a Inglaterra do século XIX. Uma
parte expressiva dos donos de indústrias ingleses eram contra a expansão do direito de
voto para os operários que trabalhavam em suas fábricas. Eles argumentavam que os
operários eram menos capazes que eles e que não tinham tempo para refletir sobre
decisões importantes da política, já que trabalhavam muito. Também eram contra uma
legislação trabalhista que limitasse a jornada de trabalho porque isso tiraria a
liberdade de negociação do mercado e a liberdade do operário de trabalhar quanto
tempo quisesse. Portanto, por trás das ideias também estão interesses de classes e
grupos sociais: na nossa sociedade, por exemplo, a fome, o desemprego e a
desigualdade social costumam ser vistos como algo natural ou, muitas vezes, um
problema de infelicidade individual.
As ideias dominantes em uma sociedade costumam ser as ideias dos grupos e
classes sociais mais poderosos; isto significa que quem tem mais força e influência na
sociedade consegue fazer valer mais seus interesses e sua ideologia costuma ser a
dominante. No entanto, os grupos ou classes sociais dominados também produzem
uma visão de mundo ou ideologia e podem transformar a sociedade através dela: os
abolicionistas defenderam a dignidade de todas as pessoas, independente de cor; os
operários das indústrias reivindicaram melhores condições de trabalho; e os
comerciantes conseguiram representação política e prestígio social na Idade Moderna.

Atividade

1 - Qual a ligação entre as ideias das pessoas, os valores e o momento histórico


2 - Quais as proximidades e diferenças entre os conceitos de cultura e ideologia para a
sociologia?

3 - Quais disputas ideológicas são citadas no texto?

4 - O que é ideologia para a sociologia?

Indústria Cultural

Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), pensadores


alemães, procuraram analisar a relação entre cultura e ideologia com base no conceito
de indústria cultural. Apresentaram esse conceito em 1947, no texto A indústria
cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. Nele, afirmavam que o
conceito de indústria cultural permitia explicar o fenômeno da exploração comercial e
a vulgarização da cultura, como também a ideologia da dominação. A preocupação
básica era com a emergência de empresas interessadas na produção em massa de bens
culturais, como qualquer mercadoria (roupas, automóveis, sabonetes, etc.), visando
exclusivamente ao consumo, tendo como fundamentos a lucratividade e a adesão
incondicional ao sistema dominante.
Adorno e Horkheimer apontaram a possibilidade de homogeneização das pessoas,
grupos e classes sociais; esse processo atingiria todas as classes, que seriam seduzidas
pela indústria cultural, pois esta coloca a felicidade imediatamente nas mãos dos
consumidores mediante a compra de alguma mercadoria ou produto cultural. Cria-se
assim uma subjetividade uniforme e, por isso, massificada.
Nos mais diversos filmes de ação, somos tranqüilizados com a promessa de que o
vilão terá um castigo merecido. Tanto nos sucessos musicais quanto nos filmes, a vida
parece dizer que tem sempre as mesmas tonalidades e que devemos nos habituar a
seguir os compassos previamente marcados. Dessa forma, sentimo-nos integrados
numa sociedade imaginária, sem conflitos e sem desigualdades.
A diversão, nesse sentido, é sempre alienante, conduz à resignação e em nenhum
momento nos instiga a refletir sobre a sociedade em que vivemos. A indústria cultural
transforma as atividades de lazer em um prolongamento do trabalho, promete ao
trabalhador uma fuga do cotidiano e lhe oferece, de maneira ilusória, esse mesmo
cotidiano como paraíso. Por meio da sedução e do convencimento, a indústria cultural
vende produtos que devem agradar ao público, não para fazê-lo pensar com
informações novas que o perturbem, mas para propiciar-lhe uma fuga da realidade.
Entre todos os meios de comunicação, a televisão é o mais forte agente de
informações e de entretenimento, embora pesquisas recentes já demonstrem que ela
pode ser desbancada pela internet na massificação da informação. Diante disso, pode-
se declarar que a análise de Adorno e Horkheimer, desenvolvida em 1947, está
ultrapassada ou mantém seu poder de explicação?
Observando que o que mudou foi a tecnologia dos meios de comunicação, as
formas de mistificação que adotam e a apresentação e embalagem dos produtos,
podemos afirmar que o conceito de indústria cultural conserva o mesmo poder de
explicação. Os produtos culturais aparecem com invólucros cada vez mais
esplendorosos, pois a cada dia são maiores as exigências para prender a atenção dos
indivíduos. Produtos de baixa qualidade têm a oferta justificada pelo argumento de
que atendem às necessidades das pessoas que desejam apenas entretenimento e
diversão, não estando preocupadas com o caráter educativo ou cultural do que
consomem. Mas isso é falso, pois esses produtos são oferecidos tendo em vista as
necessidades das próprias empresas, cujo objetivo é unicamente o lucro.

Está tudo dominado?

Várias críticas foram feitas à ideia de que a indústria cultural estaria destruindo
nossa capacidade de discernimento. Uma delas foi formulada por Walter Benjamin
(1886-1940), um companheiro de trabalho de Theodor Adorno. Benjamin achava que
não era preciso ser tão radical na análise e que a indústria cultural poderia ajudar a
desenvolver o conhecimento, pois levaria a arte e a cultura a um número maior de
pessoas. Ele declarava que, anteriormente, as obras de arte estavam a serviço de um
grupo pequeno de pessoas, de uma classe privilegiada. Com as novas técnicas de
reprodução — como a fotografia e o cinema —, essas obras poderiam ser difundidas
entre outras classes sociais, contribuindo para a emancipação da arte de seu papel
ritualístico. A imagem em uma pintura, que tinha unidade e duração, foi substituída
pela fotografia, que pode ser reproduzida indefinidamente. Mas Benjamin não era
ingênuo ao afirmar isso: analisava a questão com mais abertura, sem perder a
consciência de que o capitalismo utilizava as novas técnicas a seu favor.
Que a ideologia dominante está presente em todos os produtos da indústria
cultural é evidente, mas não se pode dizer que exista uma manipulação cultural
integral e avassaladora, pois isso significa declarar que os indivíduos não pensam e
apenas absorvem e reproduzem automaticamente o que recebem. É verdade que
muitos indivíduos tendem a reproduzir o que veem na televisão ou leem nas revistas
semanais de informação, mas a maioria seleciona o que recebe, filtra e reelabora a
informação; além disso, nem todos recebem as mesmas informações.
As relações sociais cotidianas são muito diversas e envolvem laços de parentesco,
de vizinhança, de amizade. Formam uma rede de informação mesclando várias fontes.
Pesquisando a ação da indústria cultural, percebe-se que os indivíduos não aceitam
pacificamente tudo o que lhes é imposto. Exemplo disso é a dificuldade que essa
indústria tem de convencer as pessoas, evidenciada pela necessidade de inventar e
reinventar constantemente campanhas publicitárias.
Fora dessas empresas, há intelectuais que, individualmente ou em organizações,
criticam o que se faz na televisão, no cinema e em todas as áreas culturais. Outros
procuram criar canais alternativos de informação sobre o que acontece no mundo,
desenvolver produções culturais não massificadas ou manter canais de informação e
crítica constantes em sites e blogs na internet. Não se pode esquecer também dos
movimentos culturais de milhares de pequenos grupos no mundo que desenvolvem
produções culturais específicas de seus povos e grupos de origem.

Texto extraído do livro Sociologia para o Ensino Médio, de Nelson Dacio


Tomazzi. Páginas 183, 184, 186. Link do livro disponível em:
http://www.colegiointegracaoassis.com.br/arquivos/noticias/0806161320
2110.pdf

Após a leitura, responda as questões:

1 - Qual a crítica o conceito de indústria cultural faz à qualidade das obras


artísticas?

2 - Como Walter Benjamin vê a indústria cultural? De forma positiva ou


negativa? Quais possibilidades ela traria no acesso à cultura?

3 - Os indivíduos só absorvem e reproduzem o que recebem da indústria cultural?


Explique.

Você também pode gostar