Você está na página 1de 10

1

O DIREITO COMO DISPOSITIVO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS


SOCIAIS: ALTERNATIVAS, VARIAÇÕES E NUANCES
CONTEMPORÂNEAS1
Alan Dias Duarte
Bernardo Arouck Lourenço Tavares
Douglas Rosa
Fabrício Castro Mendes
RESUMO

Neste trabalho, discute-se como o Direito tem mediado os conflitos presentes na sociedade
brasileira. O objetivo geral da pesquisa é analisar a eficácia do Direito como dispositivo de
resolução de conflitos sociais. Para alcançar este objetivo, pretende-se compreender o papel
das normas jurídicas no processo das mudanças sociais, entender as limitações do Direito na
abordagem dos conflitos sociais e analisar os fenômenos consequentes da atuação do Direito
nos conflitos. O referencial teórico-metodológico se baseia na pesquisa bibliográfica
sustentada pelos autores Barsted (2018), Sabadell (2002), Campilongo (1994), Bauman
(2000) e Chasin(2013). A pesquisa mostra que o Direito tem atuado ineficazmente na
resolução de conflitos sociais, visto que se modifica muito lentamente, não acompanhando as
mudanças ocorridas na sociedade; mostra-se como propagador de padrões de uma classe
dominante e legaliza os conflitos ao ignorar as contradições presentes na sociedade. Devido
essa ineficaz atuação na mediação de conflitos, juntamente com a volatilidade deles em vista
do período atual de pós-modernidade e fluidez nas relações sociais cotidianas, o ordenamento
jurídico perde validade e surgem Estados paralelos com legalidades próprias e sem nenhum
respeito à Constituição Federal. Surge também o pluralismo jurídico como uma forma de
atender às necessidades especificas das comunidades com a aprovação legal por parte do
Estado. Apesar do panorama de crise e dos fenômenos negativos decorrentes dele,
alternativas positivas também surgem.

Palavras-chaves: conflitos sociais; Direito; Estado; fenômeno; crise.

INTRODUÇÃO

Hodiernamente, discute-se bastante sobre os Conflitos sociais presentes


no Brasil, devido a relação íntima deles com o cotidiano dos indivíduos e a vivência
em sociedade. Neste trabalho, discute-se a atuação do Direito nos diversos conflitos
sociais, em vista da ainda vigente crise no estudo jurídico instaurada a partir da
década de 1960 e que levou à perda do papel social desempenhado pelos juristas. O
ex-desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Paulo Dourado
de Gusmão(2003:23), argumenta que atualmente são formados nas faculdades,
“doutores em leis” ao invés de juristas de verdade, ou seja, aqueles capazes de
extrapolar a área jurídica e tratar casos concretos de maneira interdisciplinar e

1Trabalho da disciplina Direito e Sociedade, do Curso de Direito (1o. Semestre vespertino), ministrado pelo
Prof. Dr. Luiz Otávio Corrêa Pereira
2

universal. Dessa forma, é importante trazer mais assertividade e concisão à resolução


dos casos jurídicos, havendo a necessidade de profissionais com o perfil defendido
pelo Dr. Paulo Gusmão como principal alternativa para combater a intervenção
acanhada e muitas vezes ineficaz do Direito nos atuais embates sociais complexos e
multifacetados.

Apesar de ser recorrente, pouco se fala sobre a nuance jurídica dos


conflitos sociais, embora seja imprescindível para o conhecimento geral e para a
tomada de decisões por parte do estado. Em vista disso, este trabalho tem como
objetivo geral analisar a eficácia do Direito como dispositivo de resolução de conflitos
sociais no Brasil. Para alcançar este objetivo pretende-se compreender o papel das
normas jurídicas no processo das mudanças sociais, entender as limitações do Direito
na abordagem dos conflitos sociais e verificar os fenômenos consequentes da atuação
do Direito nos conflitos. A metodologia do trabalho é a pesquisa bibliográfica,
qualitativa, visando trazer leituras e análises críticas de livros, artigos, jurisprudências,
revistas, entre outras fontes de conteúdo reconhecido. O referencial teórico se baseia
nos trabalhos de Sabadell (2002) sobre o modo como o Direito tem atuado na
mediação de conflitos sociais e o, Barsted (2018) sobre o Direito como propagador
das desigualdades presentes no capitalismo, Bauman(2000) sobre a Modernidade
Liquida e as suas nuances na pós modernidade, Campilongo(1994) sobre os
fenômenos jurídicos oriundos da crise no sistema jurisdicional e Chasin(2013) sobre
as considerações acerca do direito a partir dos estudos de Pierre Félix Bourdieu.

O trabalho está dividido em 3 seções: a primeira trata dos conflitos sociais


relacionados aos diferentes interesses presentes na sociedade e das limitações que
o direito possui como dispositivo mediador de conflitos sociais; na segunda, são
analisadas as contradições presentes nas normas jurídicas e a deficiência do direito
em promover mecanismos para resolução de conflitos sociais e a terceira seção trata
das consequências da crise na área do Direito, dando destaque aos fenômenos que
surgem no campo jurídico e suas facetas no contexto nacional.
3

1 O DIREITO E OS CONFLITOS SOCIAIS


A teoria marxista do conflito social mostra que em uma sociedade agem grupos
com interesses diversos e, muitas vezes, opostos, organizados por uma hierarquia
que os coloca em posição de desigualdade, fazendo com que aqueles que se
encontram no poder tencionem manter-se em tal posição por meio da propagação de
padrões de comportamento dominantes. Os grupos menos favorecidos, por sua vez,
buscam alcançar o poder. Esse fenômeno gera variados conflitos.

De acordo com Sabadell (2002, p. 75),


A imposição de uma ordem social não se realiza sem que surjam
conflitos relativos às regras sociais. Muitas das vezes estes
conflitos levam a uma alteração da organização da sociedade,
ou seja, a uma mudança social.
Por esta razão a sociologia encontra-se com o direito, cujo
objetivo principal é estabelecer regras explícitas e coerentes,
que visam regular o comportamento social.
Nesse contexto de luta de interesses por poder, o direito desempenha papel
fundamental, pois é o responsável por estabelecer normas de conduta social. Então,
se for considerado que o direito é composto por um grupo selecionado de pessoas
que estão inseridas na mesma classe, ele se torna então uma forma de propagar
padrões de comportamento dominantes, estabelecendo normas que privilegiam
determinado grupo em detrimento de outros. Ademais, o direito possui uma linguagem
própria que exclue grande parte dos cidadãos que, por não o compreenderem,
acabam aceitando colocar-se em posição de inferioridade. Portanto, o direito tem se
mostrado como um empecilho às mudanças sociais almejadas por muitos grupos
sociais, visto que, tais mudanças não são interessantes às elites que se mantém no
poder. Neste caso, o direito tem atuado insuficientemente na resolução de conflitos
sociais.

Outro fator a ser considerado quando se analisa o direito como dispositivo de


resolução de conflitos sociais é a sua capacidade limitada de intervir na sociedade,
posto que, uma norma juridicamente estabelecida perde eficácia se a maioria de
sociedade não concordar com ela. Isso ocasiona um quadro de anomia generalizada,
que ocorre quando uma lei é estabelecida sem considerar a realidade social vigente
e os diferentes pontos de vista presentes na sociedade, fazendo com que a norma
seja rejeitada pela grande maioria da população. Pode-se citar como exemplo a
4

implantação da Lei Seca nos Estados Unidos, em 1920, que proibia a manufatura, a
venda e o transporte de bebidas alcoólicas, com o objetivo de reduzir o consumo.
Porém, a lei não foi aceita pela maioria da população, que continuou consumindo
bebidas alcoólicas, tornando a lei ineficaz. Essa lei também contribuiu para a venda
clandestina de álcool. Como esse produto não era fiscalizado, o consumo do conteúdo
duvidoso causou a morte de muitas pessoas, o que fez com que a lei fosse revogada
em 1933. Com esse exemplo, fica perceptível que o direito, ainda que interfira na
sociedade com o objetivo de punir uma conduta considerada maléfica, não pode fazê-
lo ilimitadamente. Então, “a multiplicidade de valores e de modos de vida causa uma
crise de legitimidade do direito estatal e propicia os comportamentos anômicos”
(HERNÁNDEZ, 1993-a apud SABADELL, 2002, p. 90).

É importante entender também que o direito muda conforme a sociedade, se


transforma e vai adaptando-se à realidade social de cada tempo. A sociedade se
desenvolve e se modifica em um ritmo bastante acelerado enquanto o direito se
modifica muito lentamente por ser tardio em detectar as necessidades sociais e por
analisar os problemas sociais de um ponto de vista elitista. Desta forma, a legislaçãol
não atende a muitas demandas aclamadas pela população, atuando, portanto, como
um dispositivo de manutenção de normas incoerentes e ultrapassadas quando
comparadas com as mudanças sociais conquistadas por meio dos conflitos, o que
pode configurar-se como a banalização do mal, proposta pela renomada filósofa
alemã Arendt (1999).

Como exemplo do descompasso entre o direito e a sociedade, cite-se o caso


julgado no Brasil em 2017 sobre a tentativa de assassinato ocorrida na cidade de Nova
Era, em que o autor atacou a ex-companheira a facadas por desconfiar que ela estava
envolvida romanticamente com outro homem. A defesa do acusado alegou “legítima
defesa da honra” e o réu foi absolvido. Este acontecimento mostra que o direito ainda
mantém muitos traços machistas em suas normas, denotando sua lentidão em
atender a demandas tão importante para a população e se mostra, em muitos casos,
ineficiente como dispositivo de resolução de conflitos sociais.
5

2 O DIREITO COMO FORMA DE LEGALIZAÇÃO DE CONFLITOS URBANOS

O ordenamento jurídico brasileiro apresenta normas que entram em


contradição quando utilizadas no caso concreto, dificultando o papel do Direito na
resolução de conflitos sociais. Um exemplo são os conflitos associados à luta das
classes populares pela habitação, em que o direito à propriedade e o direito à moradia
se relacionam conflituosamente.

Segundo Barsted (2018, p. 233), “o conflito social depara-se com uma


doutrina jurídica que pulveriza as contradições, não reconhecendo seu caráter
coletivo”. Nesse contexto, a luta da comunidade pela habitação e pelo solo tem
gerado embates que desafiam as regras institucionais que têm em sua
responsabilidade as relações de propriedade. Esses conflitos não encontram lugar
para tratamento dentro do Direito e das instituições jurídicas de uma forma definitiva,
pois há o empobrecimento da classe trabalhadora sem a criação de meios que
possibilitem a esta inserir-se no mercado imobiliário formal, fazendo com que procure
moradia em favelas e antigas invasões. O Direito, por sua vez, opta por fazer
concessões para situações como esta na tentativa de dispersar o conflito.

A cidade, local onde se dão tais conflitos, pode ser entendida então como
um espaço econômico e também como um local de transformações sociais. O espaço
econômico provoca luta de classes, uma vez que o Estado interfere na renda das
classes sociais, aumentando as diferenças entre elas e protegendo os interesses do
capital. Essas lutas de classe geram mudanças sociais na estrutura urbana, passando
esta a ser palco de diversas contradições. Nesse lugar de transformações, há uma
certa fragmentação no nível das instituições encarregadas de lidar com cada problema
que dele surge, ocasionando uma atuação pouco eficiente do Estado. É o que
acontece quando há a remoção de invasores de terra para áreas periféricas na
tentativa de resolver o problema de habitação, mas, em sua grande maioria, eles
abandonam o novo local alegando falta de condições básicas. Com isso, o Estado
revela a superficialidade de suas medidas e também agrava problemas específicos.

As disputas urbanas que acontecem a partir de reivindicações de natureza legal


mostram a função regulatória do Estado e demonstram que o Direito, ao ser usado
para espalhar as contradições urbanas, pode estar as agravando ainda mais. Pode-
se dizer que há uma mobilidade das alianças no espaço urbano que sugere uma
6

flexibilidade tutelar do Direito diante os interesses das classes e do Estado, fazendo


com que classes distintas busquem articular-se em torno das mesmas reivindicações,
agindo contra os interesses do Estado e de frações das classes dominantes. Nesse
viés, o Direito pode configurar-se como um elemento despolitizante dentro da
estrutura urbana ao ignorar as contradições do capitalismo e caracterizar-se como
uma forma de legalização dos conflitos.

3 FENÔMENOS CONSEQUENTES DA CRISE NA ATUAÇÃO DO DIREITO E A


PERVERSÃO DA DEMOCRACIA NO BRASIL NO CONTEXTO DA MODERNIDADE
LÍQUIDA.

Em primeira análise, muito se confunde atualmente quando se trata do


conceito de crise, em que a definição popularmente difundida é que consiste apenas
em um período de tempo negativo em todos os sentidos, sendo ele repleto de
catástrofes e problemáticas que assolam a sociedade. Entretanto, para sociólogos
como Bauman (2000 apud GORETTI, 2019), que estudam arduamente as relações
interpessoais na sociedade, a crise vai além disso, justamente pelo fato de ser um
momento desafiador e de muita incerteza em que tudo aquilo que funcionava e se
perpetuava no cotidiano passa a definhar. Dessa maneira, há a necessidade de
tomada de decisões, podendo estas serem positivas ou negativas, levando à quebra
de paradigmas na sociedade. Essa é uma concepção mais ampla de crise, basilar
para a elaboração da teoria da modernidade líquida afirmada por Bauman (2000 apud
GORETTI, 2019), já que comprova a dinamicidade de tudo e de todos no contexto da
sociedade, afetando até mesmo o campo jurídico que também vive uma crise de
juridicidade que limita a atuação do direito quanto se trata da gestão e intervenção
nos conflitos sociais, em decorrência das inúmeras nuances de tais conflitos e da
volatilidade destes.

Diante dessa crise do Direito a nível nacional, diversos fenômenos jurídicos


surgem a fim de reagir a tal calamidade, podendo ser positivos ou negativos. Dentre
eles, o rompimento do monismo jurídico e esvaziamento do monopólio Estatal do
direito se destaca, já que diz respeito diretamente às consequências da intervenção
deficitária do governo por meio da legislação/constituição. Esse processo constitui-se
7

basicamente na perda parcial ou total da validade dos aparatos e ordenamentos


jurídicos oficiais do governo, ou seja, é a própria desestruturação do "Estado-
enquanto-lei", assim afirmado pelo renomado cientista político Guillermo O' Donnell,
citado por CAMPILONGO (1994), o que propulsiona a criação de Estados à margem
da União, desenvolvidos em espaços extralegais ou de legalidade atenuada.

Entre as práticas realizadas nesse Estado paralelo, estão: a não aplicação


da lei, sua aplicação seletiva, a instrumentalização da lei para fins diversos dos
oficiais, a não regulamentação de direitos constitucionais e etc. Esse processo
concatena a completa desvalorização dos direitos sociais, civis e políticos já
adquiridos e assegurados pelo Estado democrático de Direito.

Exemplos de Estados paralelos são os instaurados nas áreas de favelas,


principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, como o PCC (Primeiro comando
da capital) e o comando vermelho. Isso denota a realidade não só de crise no sistema
jurídico, mas também na própria democracia representativa visto que os indivíduos
eleitos a cargos políticos, atualmente, pouco se importam em exercer sua principal
função, que é a de representar a população que os elegeu, transformando a
democracia representativa em democracia delegativa, em que o político toma
decisões de maneira arbitrária, sem prestar qualquer conta a população.

Nesse contexto, o Direito tem se mostrado muitas vezes como propagador


de estigmas sociais e como um instrumento de poder das classes dominantes para
oprimir as demais, estando intimamente ligado aos conflitos sociais presentes no país,
intensificando-os, atuando como empecilho ao desenvolvimento social e legalizando
esse processo de perversão da democracia no Brasil, já que, de acordo com os
estudos no campo jurídico redigidos pelo respeitado filósofo francês do século XX,
Pierre Félix Bourdieu, somente quem detém conhecimento acerca da teoria, do
vernáculo e da técnica jurídica _ algo restrito somente à elite _ pode "dizer o direito"
((BOURDIEU, 1989 apud CHASIN,1994), ou seja, apenas essa categoria dominante
controla o processo de legislação. Logo, acaba por se beneficiar na construção do
ordenamento legal e suas atribuições.

Apesar dessa realidade desconcertante que influenciou na geração de


Estados paralelos, outro fenômeno chamado pluralismo jurídico também surgiu.
8

Entretanto, diferente do já citado, ele é extremamente positivo para a sociedade. Esse


processo consiste na elaboração de normas e regras a fim de atender às demandas
de uma comunidade específica, tudo isso com o beneplácito do próprio Estado, já que
essas comunidades frequentemente sofrem da falta de representatividade política, ou
seja, esse fenômeno é de certa forma uma resistência à ineficácia da democracia
representativa e, por conseguinte, do direito elitista atualmente instaurado no Brasil.
Um Exemplo de pluralismo jurídico é liberdade que, até certo ponto, as tribos
indígenas possuem de ditar as regras e tradições em seus territórios, mesmo que às
vezes vá contra a algum princípio jurídico vigente no país.

CONCLUSÃO

É importante compreender as limitações que o Direito possui enquanto


sistema jurídico capaz de intervir nos conflitos sociais a nível nacional e internacional.
É notável nas interações sociais uma crescente normalização de problemáticas com
nuances jurídicas, como a Lei Seca, que escancara o limite da atuação efetiva do
Direito no corpo social, evidenciando a ineficácia de alguns instrumentos normativos
quando estão distantes da configuração social a que se propõem regular. Esse
fenômeno ocorre pelo fato de a norma não considerar completamente o contexto
sociocultural que está atrelado à mentalidade dos estamentos do meio social, estando
diretamente ligado à concepção da força normativa que alguns constitucionalistas
defendem. Outro ponto é que esse fato configura-se como a banalização do mal,
conforme defende Hannah Arendt. Essas questões mostram a atemporalidade da
questão levantada e a relevância deste trabalho.

É essencial assumir, portanto, que os conflitos sociais, como Sabadell (2002)


ilustra, são produtos da alta gama de complexidade da vida em sociedade e das
relações presentes nela que, constantemente, promovem fatos que geram efeitos
jurídicos. A participação do Direito com seu papel de regular essas ações e relações,
além de prescrever condutas e aplicar sanções sobre violações, por vezes, acaba por
evidenciar a rigidez que carrega em sua essência ao tomar o caráter estritamente
formal na hermenêutica e na própria aplicação normativa. Em primeira instância,
presume-se que tanto o próprio Direito quanto seus operadores deveriam tomar o
9

caráter despolitizante na aplicação da norma, entretanto, a formalidade jurídica já


citada pode tornar-se instrumento legitimador de poder para uma minoria, que
essencialmente está presente na elite, assim, efetivamente prejudicando o processo
regulatório dos conflitos em sua integridade e propiciando a atuação do Estado
paralelo. É sabido, também, que a corrente do positivismo jurídico, que prega a lei
como fonte primária e unívoca do Direito, tornou-se insuficiente para com o
funcionamento pleno do sistema como um todo. Assim, fez-se necessária a superação
desse pensamento positivista e do exacerbado formalismo para levar em
consideração a órbita social, sem qualquer influência econômica ou de interesses
voltados para o favorecimento de um grupo específico a fim de aproximar o Direito
daqueles a quem se dirige e incentivar o pluralismo jurídico.

Nesse sentido, se reitera que a atuação do Direito, quando não auxiliada pelos
fatos sociais, representa o afastamento entre esses dois polos. Portanto, é evidente a
necessidade de se transmutar, em determinadas situações, os instrumentos
presentes tanto no Direito quanto na sociedade para que haja a devida manutenção
no sistema jurídico e, assim, não torná-lo um modelo obsoleto e ineficaz. Dessa forma,
o Direito, em suas diversas formas, precisa estar alinhado à realidade social de seu
tempo para que não haja o distanciamento e a perda completa de sua efetividade. Só
assim é capaz de ser elemento fundamental para a resolução dos conflitos que prevê
e mesmo daqueles que não pôde fazê-lo.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah Arendt. Eichmann em Jerusalém, um Relato Sobre a


Banalidade do Mal. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999

BARSTED, Leila Linhares Direito, legitimidade e conflito social: estratégias e


impasses. Anuário Antropológico, 9(1), 2018, p. 232–241. Recuperado de
https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6337
CHASIN, Ana Carolina. Considerações sobre o direito na sociologia de Pierre
Bourdieu. In: RODRIGUES e SILVA. Manual de Sociologia Jurídica. São Paulo:
Saraiva, 2013.
10

CAMPILONGO, Celso Fernandes. Crise do estado, mudança social e


transformação do direito no Brasil. São Paulo: Em perspectiva/Fundação Seade,
v. 8, n. 2, p. 15-20, abr./jun., 1994

GORETTI, Ricardo. Mediação e acesso à justiça. Bahia: JusPodivm, 2019

SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica: Introdução a uma leitura


externa do Direito. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002

VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. 2.


ed. São Paulo: Atlas, 2009.
Material da Internet
RIO DE JANEIRO. (Estado). Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Museo da
Justiça. Disponível em: <http://ccmj.tjrj.jus.br/paulo-dourado-de-gusmao> . Acesso
em: 24 abr.2022.

Você também pode gostar