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Vou falar dos locais onde Pessoa trabalhou durante a sua vida

RUA DA ASSUNÇÃO, N.º 42, 2.º ANDAR


Localizada no centro da baixa lisboeta Foi a sede da Firma Félix, Valladas & Freitas, Lda.,
onde Fernando Pessoa e Ofélia Queirós, que nasceu em Lisboa, a 14 de Junho de 1900 se
conheceram em 1919.
Ofélia trabalhava como dactilografa (escrevia nas máquinas antigas) enquanto Fernando
Pessoa era tradutor.
Foi provavelmente a única relação sentimental em toda a sua vida. O namoro entre os dois
começou por uma troca de olhares, gracejos e bilhetinhos, e decorreu durante duas fases
(Março a Novembro de 1920 e Setembro a Dezembro de 1929), nas quais foram trocadas
pelos dois inúmeras cartas de amor, contudo não chegou a haver casamento.
Foram publicadas 48 cartas que Pessoa mandou a ofélia em 1978 .

RUA DA PRATA, N.º 71, 1.º ANDAR


No 1.º andar do n.º 71, da Rua da Prata, localizava-se a sede da firma Moitinho de Almeida
& Cia. Comissões, onde Fernando Pessoa trabalhou durante mais de uma década (de 1924
a 1935). Numa máquina de escrever da marca “Royal”, que se encontra actualmente
exposta na Casa Fernando Pessoa, foi escrita por Pessoa, grande parte da obra do
heterónimo – Álvaro de Campos. Por volta de 1928, a Coca-Cola começou a ser
comercializada em Lisboa, sendo a firma Moitinho de Almeida & Cia., a representante do
produto em Portugal, tendo Fernando Pessoa inventado um slogan para publicitar a nova
bebida: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Vou ler um excerto do texto “Depois que as últimas chuvas passaram” que é do semi-
heterónimo Bernardo Soares

Também fiquei contente, porque existo. Saí de casa para um grande fim, que
era, afinal, chegar a horas ao escritório. Mas, neste dia, a própria compulsão
da vida participava daquela outra boa compulsão que faz o sol vir nas horas
do almanaque, conforme a latitude e a longitude dos lugares da terra. Senti-
me feliz por não poder sentir-me infeliz. Desci a rua descansadamente, cheio
de certeza, porque, enfim, o escritório conhecido, a gente conhecida nele,
eram certezas. Não admira que me sentisse livre, sem saber de quê. Nos
cestos poisados à beira dos passeios da Rua da Prata as bananas de vender,
sob o sol, eram de um amarelo grande.
Contento-me, afinal, com muito pouco: o ter cessado a chuva, o haver um sol
bom neste Sul feliz, bananas mais amarelas por terem nódoas negras, a
gente que as vende porque fala, os passeios da Rua da Prata, o Tejo ao
fundo, azul esverdeado a ouro, todo este recanto doméstico do sistema do
Universo.

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