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Sumário
Introdução
Capítulo 1 - A Descoberta Do Brainspotting: Abrindo o caminho com
uma patinadora de gelo
Capítulo 2 - Brainspotting de Janela Externa: Lendo os Sinais Reflexos
Capítulo 3 - Brainspotting de Janela Interna, Som BioLateral, e
Brainspotting de um olho: Inovações desde o Início
Capítulo 4 - O Modelo de Recurso de Brainspotting: O Cérebro-Corpo é o
Derradeiro Recurso
Capítulo 5 – Gazespotting: Onde Você Olha Afeta Como Você se Sente
Capítulo 6 - Moldura de Sintonia Dual: Permanecendo na Cauda do
Cometa
Capítulo 7 - Brainspotting como Modelo Integrativo: Não Há Limites
Quando se Trata de Cura
Capítulo 8 - Eixo Z e Brainspotting de Convergência: Brainspotting em
Três Dimensões
Capítulo 9 - A Neurobiologia do Brainspotting: É Tudo Coisa do Cérebro
Capítulo 10 - Brainspotting e o Corpo: O Corpo é Memória
Capítulo 11 - Brainspotting e a Performance no Esporte: Reconstruindo
o Campo Destruído dos Sonhos
Capítulo 12 - Brainspotting e Criatividade: O Mundo Todo é Um Palco
Capítulo 13 - Auto-Brainspotting: Tirando Proveito de Seu Campo
Visual
Capítulo 14 - Brainspotting como Fenômeno Internacional: Ao redor do
Mundo com Brainspotting
Conclusão: O Futuro do Brainspotting
Recursos Sugeridos
Agradecimentos
Sobre o Autor
Glossário
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Introdução
Em 2003, quando descobri o Brainspotting, eu não estava procurando
uma nova terapia, ao menos não conscientemente. A descoberta
simplesmente aconteceu ou, ao menos, parecia assim. Até aquele momento,
eu vinha usando outros métodos teóricos de forma bem-sucedida. Eu fui
inicialmente treinado no início dos anos 1980 como psicoterapeuta
psicanalítico na Sociedade de Estudos e Pesquisa Psicanalítica em Long
Island, New York, onde moro. Em 1993, fui treinado em EMDR
(Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares),
uma técnica de procedimento mente-corpo. Em 1999, fui exposto à
experiência somática (ES), que constitui um método orientado ao corpo.
Integrei a psicanálise, EMDR, e ES, naquilo que chamei EMDR Fluir
Natural, um método terapêutico, que derivava de todas essas três abordagens.
Escrevi a respeito do meu método integrativo em meu primeiro livro, Cura
Emocional em Velocidade Máxima, que foi lançado onze dias antes do ataque
ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
Semanas após o 11/9, eu estava trabalhando com um fluxo contínuo
de sobreviventes do ataque. No curso do ano e meio seguinte, fiz terapia de
trauma com mais de uma centena de sobreviventes do 11/9, inclusive com os
que estiveram dentro e em volta das Torres, os que atuaram no resgate, e
membros das famílias dos que foram mortos pelo ato terrorista. Olhando para
trás, não foi por acaso que descobri o Brainspotting um ano e meio após o
11/9. Meu trabalho no 11/9 me expôs, com grande intensidade, ao fato de
como os seres humanos podem ser afetados coletiva e individualmente pelos
eventos incomuns, avassaladores e terríveis. Fui forçado a reviver a
experiência, repetidamente, de muitos ângulos e perspectivas. É como se a
exposição tivesse me alterado em um nível molecular, como acontece àqueles
que estão excessivamente próximos a uma forte descarga explosiva. No verão
de 2002, eu estava na verdade muito desgastado, e era o último a saber disso.
Buscando minha própria cura, me saí com uma solução criativa para o meu
dilema: escrevi uma peça sobre minhas experiências e dei o título de Eu
Testemunho.
Como testemunha dos horrores de tantas pessoas durante um período
tão concentrado de tempo, meus potenciais de observação já sintonizados
foram aprimorados para um nível muito mais elevado. Tanto de modo
consciente como inconscientemente, aprendi a observar os sinais físicos dos
clientes de forma tão acurada que às vezes quase parecia como se eu soubesse
o que estava para ocorrer antes mesmo de ocorrer. Neste estado elevado de
preparo sintonizado, descobri o Brainspotting.
s dez anos desde o nascimento do Brainspotting até a elaboração
O
deste livro mudaram minha vida. Esses dez anos também mudaram a vida de
6.000 terapeutas em todo o mundo que foram treinados em Brainspotting, e
que agora vêem uma notável cura ocorrendo na frente dos seus olhos todos os
dias. Mas aqueles dez anos mudaram principalmente a vida de incontáveis
clientes de Brainspotting, que tiveram cura profunda e rápida.
Brainspotting é um dos números crescentes de terapias que são
conhecidas como terapias baseadas na mente, tratamentos que vão além da
mente para ter acesso direto ao cérebro. As terapias baseadas na mente são
um fenômeno dos últimos dez ou vinte anos. Historicamente, a maior parte
dos terapeutas se enquadra na categoria de terapia verbal, uma forma de
terapia que pode ser localizada no passado desde a psicanálise de Sigmund
Freud, talking cure (cura pela fala). A maioria das psicoterapias praticadas
atualmente são variantes da terapia verbal. Esses tratamentos são altamente
diversificados, bem desenvolvidos, e geralmente eficientes. A maior parte
dessas abordagens é baseada no aspecto relacional e exige que o terapeuta
esteja altamente sintonizado com o cliente. (Em linguagem psicoterápica,
deve haver um alto nível de sintonia relacional, o que significa dizer que o
terapeuta deve prestar atenção estreita não apenas ao cliente, mas também às
dinâmicas do relacionamento entre ele e o cliente, o que reflete e revela a
experiência do cliente com os cuidadores primários em sua infância,
especialmente a mãe) O problema é, e tem sido, que a maior parte das
terapias verbais tende a ser desfocada, e leva muitos meses ou anos de
sessões para obter alívio e mudança.
A maior parte das terapias técnicas, inclusive EMDR, coloca a ênfase
primária nos procedimentos que o cliente deve seguir. Esses procedimentos
são técnicos e não relacionais porque requerem que o terapeuta conduza o
cliente através de passos especificamente estabelecidos. O grau de atenção à
técnica desvia a atenção da essência do relacionamento entre cliente e
terapeuta. Sendo o EMDR eficaz, ao utilizá-lo, a relação do terapeuta em
sintonia com o cliente não recebe atenção suficiente.
Por contraste, Brainspotting está construído num modelo em que o
terapeuta simultaneamente se sintoniza com o cliente e com os processos da
mente do cliente. Com o Brainspotting, nem a sintonia relacional nem a
sintonia com os processos mente-corpo precisam ser sacrificados um em
função do outro. De fato, quando as duas sintonias são entrelaçadas, o
processo de cura é muito mais poderoso e duradouro. Tendo sido um
terapeuta verbal com sintonia no relacionamento muito antes de ser
apresentado aos modelos de terapia baseados na mente, talvez não seja
surpresa que o Brainspotting combine com as sintonias de ambos os tipos de
terapia. O Capítulo 6 explora em detalhe como esta “sintonia dual” é
trabalhada no Brainspotting e como faz o Brainspotting tão eficaz.
O mote do Brainspotting é “Onde você olha afeta como você se
sente”. Se algo o incomoda, o modo como você sente isto mudará
literalmente, dependendo se você mira para a direita ou para a esquerda.
Nossos olhos e cérebro estão entrelaçados juntos, e a visão é a forma primária
que nós, como humanos, nos orientamos no nosso ambiente. Os sinais
enviados por nossos olhos são profundamente processados na mente. A
mente então reflexiva e intuitivamente redireciona onde olhamos, momento a
momento. A mente é uma incrível máquina de processamento que digere e
organiza tudo que experimentamos. Mas o trauma pode sobrecarregar a
capacidade de processamento da mente, deixando para trás partes do trauma,
bloqueados num estado não processado. O Brainspotting utiliza nosso campo
de visão para encontrar onde estamos segurando esses traumas em nossa
mente. Da mesma forma como os olhos naturalmente escaneiam o ambiente
externo para obter a informação, também podem ser usados para escanear
nossos ambientes internos – nossa mente – para informação. O Brainspotting
utiliza o campo visual para voltar o ‘scanner’ para si próprio e guiar a mente
para encontrar a informação interna perdida. Mantendo o olhar focado num
ponto externo específico, mantemos o foco da mente no ponto interno
específico, onde o trauma está alojado, a fim de promover o processamento
profundo que conduz à liberação e à resolução do conflito.
Em minha descoberta inicial do Brainspotting, que exponho no
Capítulo 1, o olhar da cliente ‘travou’ numa posição específica em seu campo
de visão. Eu sabia disto porque vi um poderoso reflexo no olho emergir no
momento em que seus olhos encontraram aquela posição. Desta forma, seu
cérebro mais profundo estava me sinalizando que havia algo bloqueado lá
dentro. À medida que o olhar de minha cliente permaneceu naquele lugar, ela
foi cada vez mais se aprofundando naquele cofre interno onde incontáveis
traumas estavam retidos. Encontrar esse brainspot destravou aquilo que um
ano de EMDR Fluir Natural não havia conseguido.
Nos dez anos seguintes, desde essa descoberta inicial, tenho
desenvolvido uma grande variedade de formas de explorar e aproveitar o
campo visual para destravar e liberar não apenas traumas, mas também um
amplo espectro de sintomas psicológicos e físicos. Cada capítulo deste livro
descreve um aspecto diferente do Brainspotting, inclusive seus diferentes
modelos e como podem ser aplicados.
O Capítulo 2 descreve como nossa psicologia é expressada pelas
partes mais profundas de nosso cérebro e de nossos corpos: nossos reflexos.
Também descreve os processos estabelecidos que são o fundamento de todos
os modelos do Brainspotting. No Capítulo 3, conto como descobri que as
posições do olho se correlacionam com nossa própria experiência corporal
interna e como esta descoberta levou a duas novas utilizações do
Brainspotting.
O Brainspotting pode ser usado com clientes que precisam ser
mantidos centrados durante o processo de tratamento, incluindo clientes com
Transtorno de Estresse pós-Traumático Complexo (TEPT) e aqueles que são
significativamente distanciados de sua própria experiência (aqueles com altos
níveis de dissociação). O Capítulo 4 explica como um colega e eu
descobrimos e desenvolvemos um modelo específico de Brainspotting que
pudesse ser usado com esses clientes.
O Capítulo 5 introduz o Gazespotting, uma variação do Brainspotting
que utiliza nossa tendência natural de olhar em posições particulares do olho
quando pensamos ou quando falamos – em outras palavras, nossa habilidade
de espontânea e intuitivamente localizar nossos próprios brainspots.
O Capítulo 6 indica o cerne da síntese singular da terapia relacional
com acesso direto ao cérebro através do campo visual. Este Modelo de
Sintonia Dual molda a experiência do cliente com o Brainspotting e dá
suporte à cura interna do cliente simultaneamente como ser humano e como
ser neurobiológico.
Diferentemente de muitos métodos psicoterapêuticos, o Brainspotting
é singularmente concebido para ser integrado a outras abordagens. O sistema
mente-corpo é vasto e complexo e precisa ser percebido e atendido em sua
individualidade. Nenhuma técnica, incluindo o Brainspotting, pode alcançar
toda situação do cliente em sua totalidade. O Capítulo 7 descreve como os
terapeutas são encorajados a utilizar os métodos que eles trazem aos
treinamentos Brainspotting de modo a aprofundar e enriquecer seu uso do
Brainspotting.
No Capítulo 8 mostro um modelo específico de Brainspotting
denominado Z-Axis Brainspotting, que pode ajudar os clientes emperrados
bem como aqueles que têm problema com o processo a começarem a
responder e obter cura efetivamente.
O Capítulo 9 examina a centralidade da mente no processo
Brainspotting. Conforme observado anteriormente, o cérebro é o derradeiro
scanner monitorando toda célula no corpo, bem como a si próprio, numa base
24/7. O Brainspotting controla essa habilidade de escanear e a habilidade do
cérebro de processar e de curar a si próprio. O capítulo também explora o
Brainspotting como uma terapia ‘cérebro-sábio’, onde o cérebro que pensa, e
que observa pode ser educado, apoiando o processo de cura.
O Capítulo 10 trata de como o Brainspotting pode ser utilizado para
reduzir a dor e outras manifestações físicas. Os ferimentos são
simultaneamente traumas físicos e psicológicos ao sistema nervoso que se
tornam inexoravelmente entrelaçados. A habilidade do Brainspotting para
ajudar a desembaraçar os limites das feridas físicas e emocionais tem
implicações no tratamento de condições como fibromialgia, fadiga crônica,
whiplash (efeito chicote) e ferimentos na cabeça. Faz também com que o
Brainspotting seja o tratamento de veteranos de guerra, que frequentemente
sofrem combinações de TEPT e lesões cerebrais traumáticas. (LCT).
O Brainspotting é uma ferramenta extraordinariamente poderosa
utilizada na identificação e liberação de todas as formas de traumas
esportivos. O Capítulo 11 mostra como ele pode ser utilizado para ajudar as
pessoas a superar os traumas decorrentes de traumas do esporte, falhas, e
humilhações, todos que se acumulam no sistema nervoso do atleta. Este
capítulo também introduz o Modelo Expansivo do Brainspotting que pode
ajudar todos os atletas, de amadores a profissionais de alto desempenho a
alcançarem níveis verdadeiramente mais elevados.
O processo de cura do Brainspotting é criativo, e o Brainspotting pode
liberar e expandir a criatividade em artistas. Porque trabalha simultaneamente
com o cérebro direito e o cérebro esquerdo, espelha e integra a arte neural e a
ciência. O Capítulo 12 mostra como os vários modelos do Brainspotting
podem ser usados para ajudar pessoas criativas e informar os terapeutas que
trabalham de forma criativa com seus clientes.
O Capítulo 13 apresenta uma variedade de maneiras com que as
técnicas Brainspotting podem ser utilizadas por qualquer pessoa fora do
consultório do terapeuta, para relaxamento, indução ao sono, e expansão do
desempenho e criatividade.
Finalmente, o Capítulo 14 conta a história de como o Brainspotting se
tornou um fenômeno internacional. O Brainspotting é uma terapia altamente
adaptável e pode ser ajustada à cultura e à linguagem. Tenho treinado
terapeutas na América do Sul, Europa, Oriente Médio, e Austrália, e o
modelo Brainspotting também foi traduzido para seis idiomas por dezoito
treinadores de três continentes.
Embora este livro tenha sido escrito para o público em geral, os
terapeutas e outros profissionais vão achá-lo altamente informativo e valioso
para sua prática. Ao ler este livro, você vai aprender como a mudança
profunda é possível, mesmo que tenha sofrido intensamente por muitos anos.
Entender simplesmente que “onde você olha afeta como você se sente” vai
elevar sua auto-observação e percepção. Os exemplos de casos apresentados
em todo o livro vão levá-lo ao meu consultório e dar-lhe um sentido de como
e para quem o Brainspotting atua. A confidencialidade dos clientes em suas
histórias é protegida, considerando que mudei e disfarcei características
chave que pudessem identificá-los. Provavelmente você vai se sentir
identificado com alguns desses clientes, e esperamos que seja encorajado e
inspirado por suas histórias de cura.
À medida que escrevo, neste exato momento, o Brainspotting
continua a evoluir. O Brainspotting está se tornando cada vez mais
disponível, e muitos novos terapeutas Brainspotting vêm sendo treinados
todo o tempo. Há recursos no final do livro que vão ajudá-lo a localizar um
terapeuta Brainspotting em sua região.
Ao acompanhar minha jornada com o Brainspotting, você pode
embarcar em sua própria jornada. Que a leitura deste livro seja o início de sua
própria experiência com o Brainspotting, para onde quer que o leve. Ofereço
a você a mesma orientação que compartilho com todos meus clientes: “Dê a
si mesmo tempo e espaço, e observe seu processo com abertura e
curiosidade”.
Capítulo 1 - A Descoberta Do
Brainspotting: Abrindo o caminho
com uma patinadora de gelo
Karen era uma patinadora de gelo competitiva com potencial para
participar de campeonatos. Era uma patinadora com muita prática, mas seu
desempenho em competições era precário. Havíamos trabalhado juntos
durante um ano de sessões intensivas, semanais, de 90 minutos. Ela tinha me
procurado com dois sintomas primários: durante seus aquecimentos de pré-
competição e seus desempenhos nos patins, ela sentia que não era capaz de
sentir as pernas, e sentia como se houvesse esquecido seus programas.
Karen também tinha uma história de vida traumática. Ela foi a
primeira criança a nascer numa família caótica. Seus pais brigavam
constantemente, de modo que o barulho e o conflito a cercavam desde a
infância. Quando a irmã de Karen nasceu três anos depois, a estrutura da
família se rompeu; a mãe das meninas se aliou à irmã de Karen, e o pai delas,
à Karen. Esse rompimento estabeleceu um padrão de rejeição que foi
transposto para a prática de patins de Karen. O pai dela apoiou a patinação de
todas as maneiras, levando-a a uma infinidade de práticas, aulas, e até
competições. Sua mãe não se envolveu; ela não comparecia às competições
da jovem Karen. Quando o casamento dos seus pais desmoronou, Karen tinha
oito anos, e sua mãe lhe informou “A família se desfez por causa de sua
patinação!”.
Como se isso não fosse suficiente para estragar seu amor e sua
confiança na patinação, Karen sofreu inúmeros ferimentos no gelo. A prática
da patinação era de no mínimo cinco horas por dia, enquanto a competição
em si era de menos que sete minutos – dois minutos e meio para o que é
chamado um programa curto e quatro minutos para um programa longo.
Assim, um praticante de patinação pode dedicar mil horas de prática para
menos de sete minutos de competição. Diante disto, a maior parte das
contusões acontece na prática. De fato, os patinadores normalmente caem
muitas vezes durante a prática. Embora as quedas e contusões sejam tão
comuns a ponto de serem muito ignoradas, cada queda no gelo acumula um
abalo ao jovem corpo do atleta.
Karen não era diferente de qualquer outro patinador ao sofrer uma
contusão; no entanto, quando passava por um trauma físico, o trauma
emocional também ficava alojado em seu sistema nervoso. Quando ela sofreu
uma séria contusão nas costas, e foi levada à emergência, sentiu de novo a
rajada de frio da rejeição de sua mãe: “É sua culpa. Isto é o que você faz”.
Não era à toa que Karen congelava e entrava em pânico durante os
aquecimentos.
A abordagem terapêutica que estava usando com a Karen era o
EMDR Fluir Natural. A dessensibilização e o reprocessamento através de
movimentos oculares (EMDR) é um método terapêutico descoberto nos
últimos anos da década de 1980 por Francine Shapiro, PhD. O EMDR utiliza
o movimento de olhos esquerdo-direito para estimular os hemisférios opostos
do cérebro, de um lado para o outro. Há hipóteses sobre como ocorre esta
estimulação cerebral bilateral, mas ainda não há uma resposta definitiva. O
uso de EMDR da ação bilateral pode ajudar uma pessoa a obter algum grau
de integração do cérebro esquerdo-cérebro direito. O lado esquerdo do
cérebro controla o lado direito do corpo e o lado direito do cérebro controla o
lado esquerdo do corpo. Nosso cérebro esquerdo pensa, usa a fala, e resolve
problemas. Nosso cérebro direito é intuitivo, emocional, e envolvido em
funções do corpo. Quando estamos sobrecarregados com a emoção e não
conseguimos pensar de forma direta, nosso cérebro direito toma o controle.
Quando estamos muito analíticos e distanciados de nossas emoções, ficamos
presos em nosso cérebro esquerdo. Mas quando estamos nos sentindo
integrados e nos desempenhando bem, nosso cérebro direito e esquerdo estão
interagindo um com o outro de modo eficaz.
Para realizar esta estimulação esquerdo-direito, o terapeuta EMDR
movimenta sua mão de um lado para o outro na frente do campo visual do
cliente no nível da visão, e o cliente acompanha a mão com os olhos. Esta
técnica aparentemente estranha vem para fortalecer e aprofundar a cura de
uma pessoa quando combinada com um conjunto de passos prescritos e
desenvolvidos por Shapiro. O primeiro passo inclui a tomada da história e a
preparação. Então o terapeuta faz o cliente recuperar uma imagem de
memória traumática e dirige o cliente a pensar em crenças negativas e
positivas associadas com a imagem. O cliente é então dirigido a trazer a
imagem e a crença negativa simultaneamente e observar as emoções que
emergem. A intensidade dessas emoções é então classificada numericamente
em uma escala chamada SUDS[1], de zero, a classificação mais baixa, até dez,
a mais elevada. Todos esses passos servem para suscitar ou ativar sofrimento
no corpo do cliente.
A partir daí, começam os movimentos esquerdo-direito do olho. O
terapeuta pausa ocasionalmente para ver o que acontece no interior do cliente.
A experiência interna do cliente é chamada de processamento, e é realmente
uma forma de atenção focada e poderosa. O cliente é levado a observar de
forma não crítica, passo a passo, o que está sentindo, incluindo memórias,
pensamentos, emoções ou sensações em seu corpo. Quando o terapeuta
finalmente traz o cliente de volta à imagem original, para ver como a imagem
e sua carga emocional mudaram, verifica-se felizmente que a intensidade da
memória foi reduzida.
Fui treinado no EMDR pela Dra. Shapiro em 1993 e imediatamente vi
muitos clientes responderem à terapia de maneira intensa. Ainda assim,
alguns ficavam demasiadamente sobrecarregados pelo poder do EMDR, e eu
precisava modificar os procedimentos. Primeiramente, baixei a velocidade
dos movimentos oculares a fim de fazê-los mais suaves. Depois, havia
clientes que se tornavam muito ativados e mudavam sua atenção do lugar do
corpo onde sentiam angústia para um lugar onde se sentiam calmos e seguros.
Finalmente, produzi CDs com sons bilaterais calmos da natureza e música
para uso durante as sessões com o cliente. Esses CDs ajudaram os clientes a
se manterem mais calmos à medida que processavam sua experiência interna.
Chamei a minha versão revisada de terapia EMDR Fluir Natural.
Desenvolvi o EMDR Fluir Natural em um workshop em que
finalmente ensinei a outros terapeutas EMDR em todos os Estados Unidos e
no mundo. Muitos terapeutas que fizeram o treinamento mais tarde me
contaram que, por isto, puderam utilizar o EMDR mais eficazmente com
todos seus clientes.
Achei que o EMDR Fluir Natural foi especialmente efetivo com
atletas que frequentemente fraquejavam sob o holofote da competição. Com
sua vasta história de trauma e severa ansiedade de desempenho, Karen achou
o EMDR tradicional demasiadamente avassalador. Com o EMDR Fluir
Natural, ela permaneceu firme durante e após as sessões. Com movimentos
de olhos lentos e calmos e uma consciência de estar alicerçada naquele
momento, Karen foi capaz de liberar de seu sistema nervoso os traumas de
sua infância e seu tempo no gelo.
Os atletas são grandes pacientes porque eles fazem o trabalho
terapêutico de forma tão diligente quanto fazem o esporte. Karen tinha
investido no EMDR Fluir Natural. Os resultados tinham sido excelentes. Mas
havia uma exceção – ela ainda não conseguia fazer um salto triplo. Este salto
era obrigatório em um dos dois programas, e não importa o que tentamos
fazer, ela continuou ‘pipocando’, e aterrissando após completar somente dois
spins invés de três. Este salto constituía o bloqueio remanescente do
desempenho de Karen, e era crucial. De alguma forma, todas as outras
técnicas que haviam resolvido com sucesso sua inibição e ansiedade nos
aquecimentos e competições não puderam romper a dificuldade com o salto
triplo.
m dia orientei Karen tanto para ver como para se sentir fazendo o
U
salto triplo em câmera lenta, e então congelar a imagem do salto no preciso
momento em que ela sentia que perdia o equilíbrio. Ela seguiu o exemplo
dado e sentiu um aperto no tronco e nas pernas. Consciente da tensão em que
ela estava, usei minha abordagem Fluir Natural à medida que ela
acompanhava meus dedos lenta e calmamente para frente e para trás em seu
campo de visão. Karen relatou que se sentiu presa, porém continuamos o
trabalho.
Após cerca de um minuto, no momento em que meus dedos passaram
pela linha média do nariz dela, os olhos dela tremeram e então travaram no
lugar. Minha mão ficou presa junto. Parecia que alguém tinha agarrado meu
pulso e o tinha prendido no lugar!
Pelos próximos dez minutos, os olhos de Karen permaneceram
‘travados’ em meus dedos paralisados. Os olhos dela ficaram parados em
meus dedos imóveis. Ela observava e relatava a respeito de um fluxo de
imagens e sensações físicas que pareciam vir não se sabe de onde. Ela
observava, de olhos arregalados, à medida que os traumas que não tinham
emergido durante o ano de terapia intensiva vieram agora à tona e se
apresentavam. Karen rapidamente processou através das memórias, um por
um. Ela reviveu sons e imagens de brigas familiares, insultos e doenças na
infância, e a morte de uma avó à medida que todas as memórias surgiam e
pareciam desaparecer. Mas o que mais me chamou a atenção foram as
memórias dos traumas de Karen, que pensei terem sido totalmente resolvidos.
Agora elas reabriram e de alguma forma processaram através de uma
resolução mais profunda. Nunca havia testemunhado algo assim em meus
vinte e cinco anos de prática.
Após dez minutos, a torrente gradualmente diminuiu, e os olhos
travados e a oscilação desapareceram. Retomamos os movimentos oculares, e
a sessão parecia encerrar como todas as outras haviam encerrado. A resposta
de Karen foi tão inesperada e confusa para ambos que nenhum de nós fez
qualquer comentário.
Na manhã seguinte, Karen me chamou animada ao telefone
diretamente do ringue de treinamento para relatar que tinha repetido o salto
triplo, sem qualquer problema. Percebi logo que alguma coisa nova e
diferente havia ocorrido na sessão do dia anterior. Imaginei se eu havia sido
testemunha de um progresso que transcendia meu trabalho com Karen.
Observei de perto cada cliente que eu vi naquele dia, à medida que
lentamente rastreava seus olhos através de seu campo visual. Toda vez que
espiava uma irregularidade no olho, eu suspendia o movimento da mão, de
forma que o cliente olhasse para minha mão parada. E então eu observava e
esperava. Virtualmente toda vez, o processo mudava. Com alguns clientes, se
aprofundava e com outros, acelerava. Alguns clientes pareciam não notar
minha mudança de técnica e fluíam. Outros me perguntavam o que eu estava
fazendo. Mas todo o feedback era convincente. Ouvi comentários como “Ei,
isto parece diferente”, “Isto parece mais profundo” e “Sinto isto tudo de volta
na parte de trás da cabeça”. Para minha grande surpresa, esta nova abordagem
parecia ainda mais eficiente que aquela que eu já vinha usando. A abordagem
integrativa, EMDR Fluir Natural, que eu já havia usado até aquele tempo
tinha sido altamente bem-sucedida; assim, a descoberta de algo
significativamente mais eficiente foi profundo.
Este foi o início do Brainspotting.
Sendo um Terapeuta Sênior amplamente conhecido em minha
comunidade profissional, quase a metade dos meus casos é constituída por
terapeutas, muitos dos quais praticantes do EMDR. Dessa maneira, ao testar
minha nova técnica com eles, isto lhes chamou a atenção. Assim que
experimentaram tanto o poder quanto a novidade deste olhar, eles me
assediaram com perguntas. “O que é isto? ” “Como foi que você apareceu
com isto?” “Que tipo de resultados você está obtendo?” – as perguntas
vieram de todos os lados. Respondi descrevendo minha experiência com
Karen. A maior parte dos clínicos tendem a ser curiosos e experimentais, e os
meus clientes que eram terapeutas levaram minha nova técnica para sua
prática e me trouxeram seus relatos. Animadamente, contaram-me sobre
avanços e mudanças inesperadas, mesmo de seus clientes menos responsivos.
Enquanto isto, continuei usando meu novo método com meus
próprios clientes. Após um mês, através de meu trabalho e das experiências
de muitos outros terapeutas, eu havia acumulado um grande número de
provas do poder e eficácia de minha nova abordagem.
As pessoas começaram a me perguntar “Como você chama isto?”, e
eu não tinha resposta. Pesquisei um grande número de nomes em potencial,
tais como Eyegazing, Eyefixation, Brainvision, e outros que são muito
embaraçosos para citar aqui. Finalmente, enquanto dirigia de minha casa em
Long Island ao meu escritório em Manhattan, veio à minha cabeça:
Brainspotting.
À medida que os meses passaram, eu expandi o uso do meu novo
método, da mesma forma como meus colegas fizeram em número cada vez
maior. Eles perguntavam se eu iria fazer um treinamento Brainspotting, mas
eu sentia que ainda era prematuro. Ainda estava explorando a variedade das
respostas dos clientes que vinha observando. Ao mesmo tempo, à medida que
o Brainspotting estava focando os clientes para uma cura maior, abria novas
portas de exploração potencial. A técnica era simples, mas a resposta era
complexa. Eu também descobri que a oscilação dos olhos e a parada dos
olhos não eram apenas reflexos que revelavam a presença de traumas
profundamente escondidos no cérebro; observei muitas outras reações
quando parava o movimento das mãos, tais como múltiplas piscadelas ou
piscada longa e olho mais aberto ou mais fechado. Qualquer reflexo da face
(ou em última instância do corpo) parecia se manifestar quando os olhos
chegavam a uma posição de relevância. Eu experimentei parar minha mão
quando observava uma tosse, um profundo inalar ou exalar, um movimento
de engolir mais difícil, lamber dos lábios, inclinação da cabeça, narina
dilatada, ou uma mudança na expressão facial.
Cada vez, o processo parecia mudar de forma notável. O que quer que
o cliente estivesse experimentando mudava. As imagens e as memórias
vinham mais rapidamente. As emoções e a experiência do corpo iam mais
fundo e se moviam mais rápida e facilmente. Os clientes também começaram
a observar o processo enquanto estavam nele. O processo era fascinante e
ainda é.
À medida que eu procurava pelos marcadores reflexos no campo
visual do cliente, percebi a sutileza e destreza necessárias para ajudá-lo a
encontrar e mantê-los no lugar. Era como uma dança de conexão e sintonia
entre cliente e terapeuta, muito mais que um processo mecânico. Os clientes
sempre perguntavam como eu sabia a hora de parar minha mão no ponto em
que eu parava. Quando eu perguntava se eles tinham alguma ideia sobre
porque eu parava, eles pareciam não ter qualquer ideia – mesmo quando era
seu próprio movimento de cabeça que me havia feito parar! Eu sentia que o
sistema reflexo do cliente estava me dando sinais para algo em pontos-chave
de seu campo de visão.
É dito que o freguês tem sempre razão. Acredito que também seja
verdade que o cliente está sempre certo. Os clientes sabem o que sentem no
seu interior, enquanto os terapeutas, olhando do lado de fora, são bem
limitados. Assim, quando meus clientes me direcionavam aos brainspots do
lado de dentro enquanto eu estava procurando do lado de fora, eu prestava
atenção. Quando olho para trás, parece óbvio que os clientes saberiam onde
os brainspots estão por aquilo que sentem dentro, mas honestamente, àquele
tempo, não era óbvio assim. Em minha experiência, os terapeutas são
ensinados de que deveriam saber como diagnosticar e tratar os clientes a
partir de sua observação do lado de fora. De certo modo, eles podem fazer
assim. Mas a vastidão dos sistemas neurais e a singularidade de cada
indivíduo implicam menos certeza do que os terapeutas admitem.
Neste espírito, tenho trazido o princípio da incerteza ao Brainspotting,
respeitando quão pouco realmente sabemos sobre causa e efeito internos. O
princípio da incerteza vem do trabalho do médico Werner Heisenberg. Em
1927, Heisenberg publicou pela primeira vez seus conceitos, e eles foram
uma descoberta crucial no desenvolvimento inicial da Teoria Quântica. No
domínio da Física, o princípio da incerteza propõe que quanto mais
precisamente uma propriedade é mensurada, menos precisamente a outra
pode ser controlada, determinada ou conhecida. O mesmo se aplica à
dinâmica humana e o que transpira no consultório de terapia. A maior parte
do que vai dentro de uma pessoa é incognoscível, e quando os terapeutas
intervêm em seu sistema, o verdadeiro resultado é, da mesma forma,
incognoscível. Se é assim, como um terapeuta tem a deixa de como intervir?
Logo que me dei conta de que o sistema humano é tão vasto a ponto
de ser incognoscível, eu me rendi. E esta rendição não foi uma derrota – foi
uma libertação. Não mais tentei conhecer o que não poderia conhecer e, no
lugar disto, comecei a procurar o que poderia conhecer, por escasso que
fosse.
Nos treinamentos Brainspotting, os treinandos são ensinados que
qualquer e todos os brainspots de Janelas Externas funcionam. Sei que isto é
verdade a partir de minhas próprias observações. No entanto, eu sempre
imaginei o que na verdade estava acontecendo, quer fosse sutil ou profundo,
em cada brainspot. Eu sabia que algumas respostas reflexas eram mais
significativas que outras, mas nunca pude determinar a razão com alguma
consistência. Gostaria de ter clientes conectados a alguma máquina que
pudesse me fornecer um feedback de maneira a fazer meu trabalho mais
preciso. A chegada da Janela Interior me forneceu aquele feedback – sem
qualquer exigência de escanear o cérebro ou o corpo.
Em vez disto, percebi que ao cliente auto observado faltava sentido
em prosseguir. Sensação Sentida (‘felt sense’) é um termo atribuído ao
terapeuta e filósofo Eugen Gendlin, que desenvolveu um método terapêutico
chamado Focusing, embora eu tenha também ouvido o termo “sensação
sentida” utilizado em aulas de teatro também. Quando os clientes começaram
a me dirigir para seus próprios brainspots, me contando: “Eu sinto isto por
ali,” “Me senti apertado aqui dentro”, ”Me senti mais ansioso ali”, e “Eu
sabia disto”, dei-me conta mais tarde de que esta sensação sentida vinha de
reflexos, exatamente como aqueles que eu estava identificando do lado de
fora na Janela Exterior do Brainspotting. Em outras palavras, a intensificação,
aperto, ou “eu sabia disto”, lá dentro era também uma resposta a um
estímulo, como a oscilação e o bloqueio do olho da patinadora Karen. E o
estímulo também foi uma posição específica do olho. Com algumas pessoas,
o ponto era tão preciso que eu continuava a perder contato com o ponto
quando eu levemente movia a ponteira fora da posição.
Brainspotting é uma ciência de observação; a chave para o
Brainspotting de Janela Externa é a habilidade do terapeuta em observar de
perto, e pegar de forma acurada nos sinais reflexos do cliente. Imaginava se
que o Brainspotting de Janela Interna, que confiava nas habilidades de
observação do cliente, seria tão eficiente quanto o Brainspotting de Janela
Externa. Meus clientes e eu seguimos os mesmos primeiros três passos para
escolher a questão na qual trabalhar e ter certeza de que carregava ativação,
identificando o nível SUDS, e localizando as sensações do corpo. Mas então,
à medida que o cliente lentamente escaneava de forma horizontal através de
seu campo de visão, eu o instruía a me informar onde ele sentia a maior
ativação, ao contrário de observá-lo de perto para sinais reflexos externos. Às
vezes, os clientes eram claros sobre sua sensação sentida e encontravam um
brainspot à primeira tentativa. Para outros, a sensação sentida era mais sutil, e
tínhamos que atravessar o campo visual para a frente e para trás algumas
vezes antes de localizar a posição do olho.
Logo que tínhamos o brainspot da janela interior, eu observava o
cliente de perto para discernir quaisquer diferenças entre os brainspots de
Janela Interior e Exterior– e tenho que admitir, qualquer diferença era difícil
de determinar. Ambos os tipos de brainspots funcionaram de forma
extremamente eficiente embora, talvez às vezes, de forma diferente.
As preferências individuais eram interessantes. Alguns clientes
gostavam do controle consciente dado a eles pelo Brainspotting de Janela
Interna, enquanto outros preferiam passar o controle ao terapeuta com o
Brainspotting de Janela Externa. Com alguns clientes, eu usaria o mesmo
método em todas as sessões; com outros, eu alternaria entre os dois. A
determinação foi feita pela combinação da preferência do cliente e minhas
observações de suas respostas. Às vezes a escolha era estratégica, e outras
vezes era intuitiva. Por exemplo, se o processamento do cliente parecia estar
genuinamente preso no brainspot de Janela Interior, posso então procurar o
brainspot da Janela Exterior, e a mudança, às vezes, reavivava as coisas.
Capítulo 9 - A Neurobiologia do
Brainspotting: É Tudo Coisa do
Cérebro
Meu treinamento como terapeuta começou nos anos 1970 na
Universidade Yeshiva de Trabalho Social e se aprofundou no início dos anos
1980 na Sociedade de Estudo e Pesquisa Psicanalítica, onde fui treinado
como psicanalista. O que me impressionou naquele tempo foi que os
professores e terapeutas sempre falaram da mente e nunca do cérebro. Eu
sempre imaginava: “Onde está a mente?” Minha resposta interna era: ”Deve
estar no cérebro”.
Eis que os anos 1990 emergiram como a década do cérebro. O que os
cientistas aprenderam nos anos 1990 levou a uma mudança revolucionária de
como compreendemos o cérebro e como afetava tudo que pensamos,
sentimos e fazemos. Infelizmente, a revolução tem sido lenta para chegar à
prática da psicoterapia. Muito no campo da saúde mental ainda adere a
variantes da terapia verbal sem dar atenção ao imperativo neurobiológico que
orienta o processo da cura.
Em 1993, meu treinamento em EMDR abriu a porta para uma forma
mais técnica de fazer terapia, que incluía o movimento dos olhos, escala de
avaliação, e particularmente, orientação corporal. Quando falo sobre o
cérebro neste livro, também estou me referindo ao corpo, já que o cérebro e o
corpo são uma unidade integrada no sistema nervoso abrangente. Não
acredito na conexão mente-corpo porque eu não acredito que haja qualquer
separação mente-corpo. Como disse antes, o que está no cérebro está no
corpo, e o que está no corpo está no cérebro.
O lugar do corpo na saúde mental, reconhecido há um século por
Pierre Janet e trazido à devida importância nos anos 1920 e 1930 por
Wilhelm Reich, tem recebido o devido valor com as abordagens terapêuticas
tais como a Experiência Somática e a Psicoterapia Sensoriomotora. Contudo,
há ainda muitos terapeutas que nunca perguntam sobre as sensações físicas de
seu cliente. Além disto, os traumas e as dissociações, condições altamente
associadas ao cérebro e ao corpo, são frequentemente ignorados como fatores
que contribuem para as questões psicológicas que levam as pessoas a buscar
a terapia – a despeito do fato de que o campo da traumatologia tem indicado
o papel do trauma na vida de todos nós. Quando deixamos o cérebro e o
corpo fora da equação da terapia, vemos somente uma parte fraturada,
pequena de todo o quadro. O tratamento se torna longo, desfocado, e muito
frequentemente, improdutivo. Alguns clientes são considerados “de baixa
resposta”, e alguns são condenados como sendo “não-responsivos“. As
limitações do processo de tratamento são raramente vistas como contribuindo
para um resultado menos que desejado.
Brainspotting traz o cérebro, e, portanto, o corpo, de volta à equação
da terapia. Brainspotting acessa partes do cérebro que a troca verbal nunca
pode alcançar, muito menos entender, e é isto que o separa da terapia verbal
mais tradicional. O que acontece realmente em nosso cérebro durante o
Brainspotting? Até que tenhamos uma pesquisa definitiva, minhas respostas
são especulativas.
No entanto, The Brain That Changes Itself, um livro de Norman
Doidge, MD, detalha o fenômeno da neuroplasticidade, a habilidade do
cérebro de se modificar através da vida, formando novas conexões neurais.
Pensava-se previamente que na fase adulta o cérebro humano estava
estabelecido e incapaz de mudar. Doidge discorre sobre muitas histórias de
como os cérebros das pessoas mudaram de maneiras que se acreditavam
impossíveis há apenas alguns anos atrás. Sabe-se também que o cérebro é
capaz de criar novas células pela vida toda, um fenômeno chamado
neurogênese. Tem sido demonstrado que os sobreviventes de traumas severos
sofreram redução do hipocampo – uma parte do cérebro envolvido na
formação, organização e armazenamento da informação – mas que as
intervenções terapêuticas eficientes levaram a neurogênese do hipocampo em
sobreviventes de trauma.
Tenho utilizado o Brainspotting por dez anos com cerca de uma
centena de clientes, e tenho visto seiscentos outros terapeutas Brainspotting
terem sucesso igual, alcançando mudanças antes tidas como impossíveis. Os
resultados que tenho observado no Brainspotting me convencem de que ele
muda o cérebro, afetando sua neuroplasticidade e que talvez também
contribua para a neurogênese, o crescimento de novas células cerebrais.
Tenho uma hipótese de que o campo visual é um reflexo dos
processos continuados ocorridos no cérebro e sentidos no corpo. Neste
sentido, acredito que podemos aproveitar este campo visual para ganhar
acesso aos processos neurais e influenciá-los. A localização de brainspots no
campo visual faz o mecanismo de escaneamento massivo do cérebro voltar-se
para si e então o utiliza para começar a curar o cérebro.
Os cientistas sabem que cada cérebro humano contém cerca de 100
bilhões de neurônios. Estas células cerebrais são conectadas através de
160.934 km de axônios que envolvem de 100 trilhões até 1 quatrilhão de
conexões sinápticas. Colocando esses números em perspectiva, a Via Láctea
é feita de somente 100 a 400 bilhões de estrelas. Esses números cósmicos são
um testemunho da vasta, quase infinita complexidade do cérebro.
Por que somos dotados deste mecanismo infinitamente poderoso?
Meu palpite é de que o cérebro possui a capacidade de observar o corpo,
inclusive a si mesmo, até o nível celular e talvez molecular. Este processo de
auto-escaneamento aparece relacionado ao nosso sistema imune, que tanto
identifica quanto resolve os problemas no corpo. Desta mesma forma, o
cérebro tanto observa como corrige anomalias nos sistemas do corpo. Mas
acredito que o cérebro também observa a si mesmo em nível neuronal e
sináptico. A capacidade do cérebro de “conhecer-se a si mesmo”, de Sócrates,
é a derradeira expressão de nossa habilidade de introspecção. Parece-me que
nossa habilidade cérebro-corpo de se observar e se curar é existencial, já que
esta capacidade nos possibilita sobreviver e nos adaptar aos nossos ambientes
internos e externos.
Vamos pôr essas ideias singulares de forma mais simples. Quando
algo importante nos incomoda, ficamos ativados, e há posições em nosso
campo visual que combinam com os lugares em que estamos mantendo esta
ativação em nosso cérebro. Refletir sobre onde sentimos a ativação no corpo
leva a focar nosso cérebro neste lugar. Nos capítulos anteriores, compartilhei
exemplos sobre o que parece uma sessão Brainspotting vista de fora – o que
peço aos clientes para fazer e como eles respondem. Com o próximo
exemplo, vou lhe dar um quadro sobre o que eu penso estar acontecendo
dentro, no cérebro, durante uma sessão Brainspotting.
Donald me procurou com trauma de um acidente de carro que quase
lhe tirou a vida. Ele tinha flashes diários e pesadelos, e toda vez que dirigia
ficava convencido de que outro acidente era iminente. Pedi-lhe que
internalizasse e se ativasse em torno do acidente. Donald informou ver, ouvir,
e sentir o momento do impacto. Fiz com que ele seguisse a ponteira que eu
movimentava pelo seu campo de visão e lhe pedi para que me informasse
onde ele sentia mais. Quando a ponteira alcançou um ponto do seu lado
esquerdo, Donald apontou e disse: “Bem aqui!”.
O que realmente aconteceu no cérebro de Donald quando seus olhos
seguiram a ponteira para a extrema esquerda e encontrou o ponto onde ele
“sentia mais”? Penso que quando pedi a Donald para “ativar-se” em torno do
acidente, seu cérebro intuitivamente buscou em seus infinitos neurônios e
conexões neurais os lugares em que o trauma do acidente estava retido.
Quando ele reviveu o acidente experimentalmente trazendo as lembranças à
sua mente, o resultado foi que vários lugares de seu cérebro se tornaram
ativados. Simultaneamente, as áreas do cérebro de Donald que não estavam
envolvidas na lembrança do acidente não foram ativadas. Os pesquisadores
têm visto estas reações no escaneamento do cérebro, onde partes do cérebro
“acendem” (refletindo aumento do fluxo de sangue) enquanto outras áreas se
aquietam. Creio que o ponto específico que encontramos no campo visual de
Donald combinou, ou correspondeu aos pontos no seu cérebro que foram
ativados. Em outras palavras, quando Donald escaneou seu campo visual, seu
cérebro simultaneamente começou a se escanear para as áreas de ativação.
O cérebro resolve a maior parte dos desafios por si só como resultado
de sua bem-dotada estrutura e funções. Aquilo que os terapeutas chamam
“sintomas psicológicos”, tais como ataques de ansiedade ou flashbacks
aparecem quando o cérebro é incapaz de resolver um problema por si. Ou o
cérebro não pode localizar o problema lá dentro, ou ele sabe onde o problema
está, mas não sabe como desatá-lo. Esses problemas insolúveis são
frequentemente causados por trauma.
Enquanto o olhar de Donald se fixava no brainspot, eu o dirigi para
observar seu processo interno sem julgamento passo a passo, por onde fosse.
Periodicamente, Donald me informava seu processo interno, e se não me
falasse voluntariamente, eu lhe pedia para me contar o que estava
acontecendo. Às vezes, a mente de Donald repassava o acidente de carro, e,
por outras vezes, pulava para outras experiências da vida, algumas das quais
pareciam relacionadas ao acidente e outras, não. Donald às vezes via imagens
invertidas e ouvia sons, enquanto outras vezes, ele sentia sensações no corpo.
Em alguns pontos, sua mente ficou em branco, e em outros pontos, ele
refletia sobre tarefas cotidianas diárias. Não era o conteúdo que era
importante – era o processo. Por que? Porque o cérebro cognitivo de Donald
estava observando os mecanismos do seu cérebro inconsciente.
Olhando o ponto que ele havia encontrado no seu lado esquerdo,
Donald ajudou seu cérebro a manter o foco nas áreas do problema neural e
começar a descobri-los. Esta descoberta, ou desatamento não ocorre de uma
forma linear, cognitiva. É um processo profundo do cérebro, e sua
complexidade está bem além do alcance e da compreensão de nosso
consciente. Os terapeutas chamam-no de processamento, e outros
reconhecem este processo como uma forma de consciência. Conforme
explicado em detalhe no Capítulo 2, o self consciente observa o self mais
profundo de uma maneira não crítica, curiosa, aberta. Este processamento
mindfulness focado é feito num estado que eu chamo ativação focada (ativado
com a consciência corporal no brainspot), então é mais rápido, contido, e
mais ao ponto do que a maior parte das consciências.
Os processos do cérebro profundo são inacreditavelmente rápidos,
complexos e intuitivos. Considerando que refletem os processos que o
cérebro utiliza para regular todas as funções do corpo, eles são um reflexo de
como literalmente vivemos e respiramos. Se nosso cérebro consciente tenta
compreender o fluxo inconsciente que acontece quando estamos focados em
um brainspot, ele falha. No entanto, quando nosso cérebro consciente
sabiamente aceita suas limitações e confia em nosso cérebro profundo, é
levado a um caminho de cura e resolução. Este foi o desfecho final de
Donald. Ele se recuperou do TEPT e não mais sofreu de flashbacks,
pesadelos, e o que os terapeutas gostam de chamar “medo de recorrência”.
om seu vasto poder focado, pela posição do olho, nas áreas de
C
ativação, o cérebro pode verdadeiramente observar-se resolver
neurologicamente seus enigmas psicológicos. Da mesma forma que milhares
de outros terapeutas brainspots treinados pelo mundo podem atestar, o
processo é surpreendente e às vezes, miraculoso.
Capítulo 11 - Brainspotting e a
Performance no Esporte:
Reconstruindo o Campo Destruído dos
Sonhos
Fui atleta e fã de esporte desde os cinco ou seis anos de idade.
Como terapeuta verbal, ocasionalmente trabalhava com pessoas ligadas aos
esportes. Não era, contudo, capaz de fazer a conexão entre meu self atleta e
meu self terapeuta.
Isto mudou quando, nos meus primeiros dias de EMDR, soube que
ele estava sendo aplicado para a performance, especialmente nos esportes.
Na primeira conferência EMDR a que compareci em 1994, eu muito
animadamente me inscrevi num workshop de EMDR e performance.
Durante todo o seminário, aguardei a iluminada informação dos dois
especialistas psicólogos esportivos que se apresentavam. Fiquei
desapontado, pois o que foi apresentado era muito padrão EMDR, com
aplicação pouco singular e inovadora. Soube depois que os apresentadores
eram terapeutas cognitivos comportamentais, não sintonizados com a
abordagem psicológica profunda que eu estudei nos meus dias de
psicanálise. Os apresentadores também disseram de forma definitiva que
quando “os problemas emocionais surgiam” com seus clientes de
“performance”, eles encaminhavam os clientes para outro terapeuta EMDR
para um trabalho “pessoal”. Quando as questões pessoais eram resolvidas, o
trabalho de performance era retomado. Em outras palavras, os
apresentadores separavam as questões de performance das questões
pessoais.
Embora eu fosse novato em relação ao EMDR e ao trabalho de
performance, esta separação me parecia desprovida de sentido. Eu sabia lá
no fundo que aquela ansiedade de performance era uma ansiedade pessoal
expressada através da performance. Também sabia que os bloqueios de
performance eram bloqueios pessoais ou de natureza dissociativa. A
dissociação vem do trauma, assim é que os bloqueios de performance
devem derivar do trauma também.
Quando comecei a fazer EMDR com os clientes que tinham
bloqueios de performance no esporte e ansiedade, não fiquei surpreso por
surgirem experiências traumáticas mais profundas. Muitos desses traumas
ocorreram durante os desempenhos atléticos dos clientes e durante a prática e
a preparação das performances. Mais tarde eu cunhei o termo Transtorno de
estresse pós-traumático ligado ao esporte (TEPTS) para atletas para me
referir a estas experiências. Mas vários desses traumas vinham de muito cedo
na vida, e eram o mesmo tipo de traumas que eu via em meus outros clientes.
Estes traumas antigos eram o que frequentemente se chama na psicologia de
questões afetivas. Este termo se refere a rupturas em nossas ligações afetivas
com a nossa mãe ou outros cuidadores. Estas rupturas ocorrem antes que
aprendamos a linguagem e pensemos, e assim não podem ser expressas ou
compreendidas; são simplesmente sentidas. Ficou logo aparente para mim
que a performance está no executante e o executante é uma pessoa. Se você
retira a pessoa da execução, não sobra muita coisa, e qualquer trabalho de
performance fica limitado em alcance, duração ou efeito.
Tive muito sucesso com os atletas utilizando o EMDR para resolver
questões de traumas de esporte. Minha transição para o Brainspotting me
ajudou a ser mais focado e bem--sucedido não somente em minha prática
geral de terapia, mas com meus clientes de performance também. Em meu
trabalho posterior Brainspotting com atletas, fiz algumas descobertas que me
surpreenderam.
Capítulo 12 - Brainspotting e
Criatividade: O Mundo Todo é Um
Palco
Eu cunhei um dito, “Não há cura sem criatividade, e não há
criatividade sem cura”. O processo de cura de Brainspotting é altamente
criativo, e Brainspotting também pode soltar e expandir a criatividade dos
artistas.
Como processo terapêutico, o Brainspotting não é dirigido por
protocolo; não há passos ou procedimentos que devam ser seguidos.
Qualquer coisa pré-determinada interrompe e distrai a sintonia intuitiva do
terapeuta com o cliente no momento e interfere no processo de cura criativa
do cliente. Brainspotting trabalha simultaneamente com o cérebro direito e o
cérebro esquerdo, espelhando e integrando tanto o cérebro artístico como o
de natureza científica. Brainspotting iguala a arte na medida em que também
incorpora forma e estrutura, ferramenta e técnica, especialmente na pista
aberta do processamento do cliente dentro da Moldura de Sintonia Dual.
sobrevivência, a resiliência e a recuperação exigem e revelam nossa
A
criatividade. Brainspotting acessa o gênio do cérebro profundo. No processo
de cura Brainspotting, consigo ver como os seres humanos são intuitivos,
inventivos e inteligentes. O processamento que eu observo com os clientes,
ativados e focados em um brainspot, é profundo, rápido e imprevisível. Estou
sempre esperando pela surpresa, e raramente fico desapontado. Surgem cenas
de diferentes acontecimentos da vida, como imagens que se sucedem, para
depois se transformarem em um turbilhão de emoções e sensações fluidas do
corpo. As perguntas vêm ao cliente, e são seguidas por respostas
convincentes que parecem vir não se sabe de onde. Ou então, somente
aparecem como de lugar nenhum, porque as respostas vêm dos locais mais
profundos do cérebro que são normalmente inacessíveis à consciência. De
alguma forma, em resposta ao processamento, o nível SUDS do cliente cai
inexoravelmente para zero, com picos ocasionais na medida em que surge
novo material. Este processo tem como paralelo o processo criativo, onde o
artista recebe e observa o fluxo de ideias que emerge de seu self profundo.
Tenho trabalhado com centenas de artistas de várias áreas, inclusive
atores, dançarinos, compositores, escritores, pintores, desenhistas e
escultores. Tenho usado Brainspotting para ajudar essas pessoas em seus
problemas pessoais e com suas questões criativas. Também desenvolvi o
Brainspotting como método especificamente para treinar atores. Quando uso
o Brainspotting para ajudar os artistas com a expansão da criatividade e para
treinar dentro de suas formas particulares de arte, observei que a cura
profunda ocorre simultaneamente com a abertura criativa e o
aprofundamento. Realmente acredito que a base do aprimoramento criativo é
a cura. Em outras palavras, “não há cura sem criatividade, e não há
criatividade sem cura”.
Muitos artistas, incluindo a gama de atores a pintores e escritores,
acreditam que se forem curados de seus traumas, perderão sua criatividade.
Esta é uma noção equivocada e supersticiosa. A verdade é que o trauma não
gera criatividade; inibe a criatividade. O trauma não garante o acesso à
experiência; bloqueia a experiência com barreiras reflexivas de dissociação.
Os artistas podem criar a partir do trauma, mas seu processo criativo acessa
somente uma faixa estreita da ferida. Uma tela pode ser coberta de riscos em
preto e vermelho, e um ator pode representar uma alma torturada. Quando o
Brainspotting cura o artista de suas feridas, seu espectro de criatividade se
expande dramaticamente. O pintor pode usar todas as cores da palheta, e o
ator pode trazer nuance e esperança mesmo para o mais torturado
personagem. O trauma encapsula a capacidade artística (literalmente no
cérebro), enquanto o Brainspotting libera a criatividade em suas
possibilidades exponenciais.
Algumas pessoas equivocadamente acreditam que os brainspots
somente localizam o trauma no cérebro. Há, de fato, incontáveis pontos em
nosso campo de visão que acessam qualquer e todos os aspectos de nós
mesmos. Os brainspots são pontos de acesso para a criatividade como
também para os ferimentos. Além disso, há uma variedade de brainspots de
criatividade. Um ator que também canta terá provavelmente diferentes
brainspots para conectar suas habilidades como ator e cantor. Um compositor
pode produzir palavras e música para a mesma canção usando diferentes
brainspots. Um escritor que vai da comédia ao drama terá que trocar com
frequência seu brainspot da criatividade. Muitas vezes um artista tem talento
para muitas formas diferentes de criatividade, e assim tem e pode se
beneficiar ao acessar uma variedade de brainspots.
Soren tinha uns trinta e poucos anos quando veio a primeira vez para
as minhas sessões. Ele tinha imigrado de seu país nativo, a Dinamarca, aos
vinte e dois anos de idade. Ele me procurou para ajudá-lo a desbloquear sua
criatividade e superar seus profundos sentimentos de inadequação. À medida
que abria sua história, Soren gradualmente me revelava seus talentos um por
um. No início do tratamento, ele estava trabalhando como primeiro dançarino
na Broadway. Ele não podia deixar de ser gracioso, pois isto estava em sua
natureza. Então me confidenciou que estava também aspirando a ser ator. Em
seguida revelou seus dotes de cantor. E depois me contou que era um
dramaturgo e tinha terminado de escrever uma peça para um musical. Soren
então me disse que também havia escrito as palavras e as letras de um
musical.
Com o tempo, meu trabalho com Soren evoluiu do trauma
Brainspotting ao trabalho de expansão criativa. Soren era de uma família de
quatro irmãos. Sua mãe era um “poço de energia” que ofuscava e
frequentemente diminuía o pai de Soren. Por extensão, ela demonstrava
hostilidade em relação a todos os homens, como gênero. Tanto quanto Soren
podia dizer, sua mãe não parecia notar que ele era do sexo masculino. Parecia
a Soren que sua mãe estava tentando levá-lo a acreditar que os homens eram
rudes e incompetentes. Isto somente plantou as sementes de seus sentimentos
de insegurança e inferioridade. “Não sou bom o bastante” tornou-se o seu
mantra.
Os professores e preparadores de artistas podem ser muito exigentes e
críticos ao ponto de serem abusivos. Os professores de Soren não eram
exceção, especialmente a instrutora-chefe da academia de dança que Soren
frequentara em sua adolescência. Ele era o favorito da professora, mas de
alguma forma aquele papel também fez dele o principal receptor de seu
desprezo. Soren não podia dizer se ela estava exigindo muito dele por conta
de seu talento ou pela falta de talento. Uma vez, em retaliação, a professora
excluiu Soren da apresentação anual da academia. Em vez de brilhar como
estrela da produção, Soren assistiu ao espetáculo sentado na plateia. Embora
soubesse que sua expulsão foi um capricho e injusta, ele não pode escapar do
que seus ouvidos diziam: “Não sou bom o bastante”. Ao mesmo tempo, em
algum lugar lá no fundo, Soren sabia que ele não era somente bom o bastante,
mas especial.
Não é surpresa que além de ser altamente criativo, Soren era
altamente sensível. Os artistas vêem o mundo diferentemente da maioria da
população. De fato, alguns vêem um universo diferentemente da maioria da
população. A percepção deles pode tomar a forma de imagens, sons,
movimentos ou conceitos. Os artistas possuem esta intuição desde seus
primeiros anos. Mas quando os dotados do talento da criatividade
compartilham essa consciência, isto não é normalmente compreendido ou
bem recebido pelos pais, professores, irmãos e colegas. Como resultado, as
pessoas dotadas de talento, a começar na infância, são feridas na área mais
preciosa e, não obstante, mais vulnerável que possuem, que é seu talento. Seu
talento atrai a atenção e o desprezo de outras pessoas. Essas feridas são os
cortes mais cruéis de todos e os mais profundos também. O abuso em uma
área de talento de uma pessoa e suas expressões têm um efeito duplo: fere a
alma, e põe abaixo o fundamento da ansiedade criativa e bloqueia. Em todas
as décadas de prática profissional, meus clientes artistas têm igualmente
compartilhado que sofreram abuso por causa de sua natureza criativa. “Você
não sabe do que está falando,” ”Você é burro,” ”Você está louco,” ”Você é
problemático,” e o sempre presente “Você é sensível demais” são epítetos
normalmente dirigidos ao talentoso. Desta forma, Soren entrou numa concha,
acreditando ser inadequado.
Além disto, os artistas, tais como os atletas, frequentemente sofrem
lesão ao praticar sua arte. Estas lesões são bem conhecidas entre os
dançarinos, que forçam o corpo ao ponto de sentirem dor na prática e na
apresentação. Este processo começa cedo na carreira de crianças que dançam
e dura a vida toda. Os dançarinos atuam na conexão entre a arte e o atletismo
e são vulneráveis tanto a lesões no esporte como na criatividade. Quando
ocorre uma lesão durante uma importante apresentação de palco, isto se
agrava. Soren não estava isento desta cruel realidade.
Mas os dançarinos não são os únicos artistas sujeitos a lesões físicas.
Os atores usam e abusam de seu corpo para o palco e a câmera. Para o filme
Touro Indomável, Robert De Niro primeiramente se sacrificou até chegar a
uma incrível forma para representar o lutador de box Jake LaMotta, e então
engordou vinte e cinco quilos para atuar como LaMotta mais velho, nos
últimos estágios do filme. A cantora Idina Menzel, em sua penúltima
apresentação de Wicked na Broadway, caiu em um alçapão e fraturou as
costelas. Uma vez trabalhei com um famoso ator de cinema que sofreu
concussões múltiplas ao trabalhar num filme de ação. Então, quando exposto
a uma luz estroboscópica, ele ficou completamente cego por duas horas. Os
músicos com frequência sofrem com o movimento repetitivo e lesões do
túnel de carpo que podem atrasar ou encerrar sua carreira. Estas mesmas
lesões podem ocorrer com artistas gráficos como escultores e pintores.
Como estas lesões físicas acontecem durante o processo artístico com
lesões psicológicas concorrentes, as duas são retidas indecifravelmente
juntas, exatamente como ocorre com atletas. Os movimentos e a arte são
inseparáveis, e qualquer inibição ao movimento inibe o processo criativo,
trazendo ansiedade.
O trauma mais pernicioso que os artistas enfrentam é a rejeição. Isto
se aplica a toda forma de arte. Para cada aceitação, há centenas, se não
milhares, de rejeições. É de se admirar como algum artista possa sobreviver e
se manter através desta avalanche de rejeição. Audições com frequência são
intencional ou inadvertidamente abusivas. Estas “experimentações” podem
ser alguma coisa entre o banimento e a condenação. Não importa quantas
vezes acontece, ouvir “Próximo” ou “Obrigado!” em meio a um monólogo é
um choque e é humilhante. Às vezes um ator ou cantor recebe uma grande
ovação ao fazer uma audição, mas não recebe a gentileza de uma
comunicação informando-o de que não foi escolhido. Os atores ouvem coisas
assim: “Gostamos de você, mas seus olhos são muito juntos” ou “Não
gostamos de seus ombros”. Com muita frequência, os artistas são isolados
sem qualquer ideia do porquê não conseguiram a participação. Mesmo
quando conseguem o papel, os atores, cantores, e dançarinos frequentemente
sofrem a humilhação e os gritos de diretores abusivos. Alguns artistas são
demitidos por mero capricho nos ensaios ou no set. Trabalhei com artistas
gráficos cujos trabalhos foram roubados ou desfigurados.
Finalmente, o termo ‘artistas morrendo de fome’ reflete acuradamente
como alguns dos mais dotados artistas vivem com rendimentos mínimos. A
meta na arte de atuar não é se tornar uma estrela; é se tornar um “trabalhador
ator”. Esta frase significa simplesmente ser capaz de se manter do seu
trabalho de artista. Com um escritório em Manhattan, tenho o privilégio de
fazer o Brainspotting com muitos artistas que procuram a cidade como uma
meca. Muitas vezes reduzo, até mesmo drasticamente, os honorários
cobrados deles; é minha maneira de ser patrono das artes.
Posso fazer muitas sessões de Brainspotting para curar as profundas
feridas dos artistas. Foi assim o meu trabalho com Soren. Felizmente, ele foi
o que chamo um caso de “alta resposta” ao Brainspotting. Abrigado em
qualquer forma de brainspot, e ouvindo o Som Biolateral através de fones de
ouvido, Soren estava pronto para a batalha. Seu processamento foi tão
surpreendente quanto sua capacidade artística. Gostaria de ter visto as
imagens do trauma até a cura registradas em sua cabeça e que escaparam à
sua descrição. Às vezes eu simplesmente observava com encantamento as
fases de mudança da emoção, realização, e libertação no rosto de Soren. A
cura criativamente dada nas mais criativas formas. Os artistas têm
surpreendentes caminhos neurais, formados pela genética e o constante
desenvolvimento de seu ofício.
Um por um, os traumas de Soren foram liberados à medida que ele se
curava. Era extremamente importante para ele que eu compreendesse a
intrincada criatividade que havia sido tão ferida por toda sua vida. Não
somente não julguei nada, mas também me sintonizei ao seu talento. Posso
ter sido a primeira pessoa a se dar conta de como ele era brilhante e refletir
esse reconhecimento nele. Enquanto segurava a ponteira para focar seu olhar,
eu ficava fascinado ao descobrir novos aspectos de seu talento. Tenho visto
alguns terapeutas intimidados ou mesmo diminuídos por clientes com
habilidades especiais. Para mim, trabalhar com Soren era como uma viagem
para a ‘Disneylândia ideal’. O ideal é quando o terapeuta criativamente
dotado, trabalha com um cliente criativamente dotado.
Gradualmente nosso trabalho se modificou da cura emocional para o
trabalho de expansão da performance. Primeiro, Soren trouxe um monólogo
que ele queria trabalhar para melhorar sua performance. Fiz com que ele lesse
o monólogo uma vez, e então o ajudei a encontrar o “ponto do personagem”.
Orientando Soren com o Brainspotting de Janela Interna, movimentei a
ponteira primeiro para a direita, então para o meio, para a esquerda, seguido
do nível do olho para cima e para baixo. Perguntei: “Onde você sente melhor
o personagem em seu corpo?” Soren, sem palavras, pôs a mão no coração.
Perguntei-lhe: “Que linha do monólogo vem à sua cabeça agora?” E ele
respondeu: “Nunca soube”.
Orientei Soren a observar seu processamento com a noção de que era
o personagem (chamado Charles) que estava processando, não ele, o ator.
Soren tinha uma série de lembranças que apareciam com profunda
ressonância emocional e física. Contudo houve uma reviravolta. As
lembranças não eram de Soren, mas de Charles. À medida que o olhar dele
ficou retido no brainspot, visões, sons, e cheiros todos apareceram à frente de
Soren. Pareciam vir não se sabe de onde, mas eram todos orgânicos para
Charles e o monólogo. Os atores passam horas e dias tentando criar e se
conectar com os personagens, e Soren estava fazendo isto quase que sem
perda de tempo.
Depois de quinze minutos, ele recitou o monólogo. Um arrepio
percorreu minha espinha quando Soren incorporou o personagem justo em
meu consultório. Eufórico, Soren disse: “Não posso acreditar!”
Mas o processo não havia terminado. Quando se leva um ator tão
profundamente ao personagem, não é sábio deixá-lo lá. Então achamos o
ponto de Soren, ou ponto do ‘self’ que o ajudou a se processar para fora do
Charles e voltar a si mesmo. Soren disse: ”Quero segurar um pouco do
Charles para o público”. Então lhe perguntei: “Onde em seu corpo você quer
se apegar ao Charles?” Soren levantou a mão esquerda, e encontramos o
brainspot que levou a transferência a acontecer. Charles lentamente saiu do
corpo de Soren e se ‘escoou’ gentilmente para a mão esquerda de Soren.
Fiz uma sugestão final a Soren: “Antes de sua audição, ponha a mão
esquerda no coração e olhe para a esquerda e para cima e localize o ponto do
personagem em que trabalhamos hoje”.
Soren seguiu minhas instruções e arrebentou na audição. Ele
conseguiu o papel.
A sessão da atuação foi o início do trabalho de Soren comigo em
todos os aspectos de seu processo criativo. Um dia ele apareceu com um
gravador de fita e disse: “Quero trabalhar uma canção”. Eu sabia que Soren
estava tendo aulas de canto, mas sua voz me surpreendeu. Então ele
perguntou: “Pode me ajudar nisto?” E pensei comigo: “O que eu poderia
fazer para esta canção ficar ainda melhor?”
Por meio de meu trabalho com os artistas tenho descoberto que a
criatividade é exponencial. “É impressionante que quanto mais alto você
segue, mais avançado fica seu lado potencial. Durante a sessão, aumentou a
ressonância vocal de Soren e aumentou a conexão emocional à canção.
Noutra sessão ele começou dizendo: “Estou trabalhando em uma
rotina de dança, e estou emperrado num lugar”. Saímos para minha sala de
espera, mais espaçosa, com minha ponteira e começamos a trabalhar.
Consegui ver um outro lado do talento de Soren, e foi estimulante. Ele me
mostrou o movimento com que tinha dificuldades, e me parecia muito bem.
Mas ele sabia onde estava o problema, então localizamos o brainspot que
identificava onde ele se sentia bloqueado. Trabalhamos nisto, literalmente
passo a passo. Soren quase voou pela sala quando terminamos.
No capítulo final da história, Soren entrou em meu consultório com o
script de uma peça. Ele disse: “Escrevi isto” e me entregou. “Você pode ler
para mim?”. Eu havia trabalhado antes como consultor de script de filmes e
peças de modo a assegurar que as histórias tivessem consistência psicológica.
Então peguei o script e respondi: “Claro”. Soren me disse que havia escrito a
peça toda ouvindo os CDs BioLaterais. A peça era sobre um artista de
múltiplos talentos, e eu vi como Soren se colocava no personagem principal.
Ao ler a peça, fiquei impressionado com duas coisas: primeiro, Soren
tinha um senso de humor ácido que ele nunca havia compartilhado comigo.
Segundo: seu inglês escrito, sua segunda língua, era impecável – nenhum erro
gramatical, nenhum erro ortográfico, excelente emprego do idioma norte-
americano. Era perfeito, o que é quase impossível para um estrangeiro. A
peça de Soren, que incluíam uma música e uma letra compostas por ele, era
incrível. Fiz algumas observações positivas quanto à psicologia do
personagem principal, e Soren apreciou muito a minha contribuição.
Soren tinha uma decisão crucial quanto à escolha do diretor da peça.
Ele considerou a possibilidade de ele mesmo dirigir, mas sabia que os
patrocinadores gostariam de indicar o nome do diretor. Tirei minha ponteira e
disse: “Vamos encontrar seu ponto de decisão”. O brainspot era bem no
centro. Soren olhou o ponto por dez minutos, então fechou os olhos. Pude ver
que ele olhava o mesmo ponto lá dentro. Soren precisou de mais dez minutos
enquanto eu esperava pacientemente.
Finalmente ele abriu os olhos e disse: “Vou dirigir a peça”. Soren
também decidiu produzir e coreografar sua peça, e nunca olhou para trás.
Continuamos o Brainspotting em todas as questões criativas e
pessoais que surgiram no processo de tornar sua peça uma realidade. Às
vezes, sob pressão, Soren tinha um lapso temporário de insegurança. Não era
preciso muito Brainspotting, e ele estava de volta ao caminho. Ele fez um
grande workshop de sua peça e está agora no processo de arrecadar um
montante significativo de dinheiro necessário para montar um musical na
Broadway. O mantra de Soren não é mais: “Não sou suficientemente bom”.
Seu mantra evoluiu para: “Sou artista com muito orgulho”.
Capítulo 13 - Auto-Brainspotting:
Tirando Proveito de Seu Campo
Visual
As pessoas sempre me perguntam: “Pode-se fazer Brainspotting em
si mesmo?” Normalmente respondo: “Você está fazendo neste exato
momento”. Então explico que olhando para mim, o interlocutor estabeleceu
uma posição do olho que está relacionada com a ativação em áreas discretas
de seu cérebro. Descrevo como o Brainspotting é profundamente intuitivo, e
em sua maior parte, inconsciente.
Fazemos Brainspotting todos os dias, o tempo todo. Quando
ganhamos consciência de como somos afetados por aquilo que olhamos,
podemos tirar proveito desse fenômeno natural. Ao saber que você está
acessando informação baseado no lugar para onde você está olhando ajuda
você a compreender a si mesmo e a usar as posições do olho
conscientemente. De fato, você está fazendo isto agora à medida que está
lendo esta sentença. Tenha consciência disto. Rastreie seu processo interno
por um minuto quando você olha para estas palavras, e veja para onde isto o
leva.
Não inventei o poder de onde olhamos; simplesmente observei isto.
Na verdade, sempre soube, exatamente como todos sabem, bem fundo de
minha percepção inconsciente. Mas conscientemente reconheci o poder de
uma posição do olho quando vi os olhos de minha cliente Karen tremerem e
sustentei meu dedo firmemente no ponto em que ela estava olhando quando
isto ocorreu. O fato de que Karen não tinha qualquer ideia de que seus olhos
estavam tremendo aponta para a realidade de que ninguém pode fazer por si
mesmo o que pode fazer com a ajuda do terapeuta, especialmente com
Brainspotting. Neste livro, tenho me referido à Moldura de Sintonia Dual –
onde o terapeuta se sintoniza com o cliente em base relacional e neurológica
– como o poder do Brainspotting. Não se pode observar a si mesmo do lado
de fora, então não se pode fazer a sintonia dual num voo solo.
Também não é sábio tentar trabalhar trauma profundo por si mesmo,
porque nunca se sabe o que poderá desenterrar. Quando as coisas emergem
inesperadamente numa sessão Brainspotting, as chances são de que o
terapeuta tenha visto as mesmas coisas muitas vezes antes e sabe muito bem
como ajudar você a se manter centrado e estabilizar. As lembranças e
sentimentos profundos emergem para nós periodicamente, e com ajuda e
tempo, somos normalmente capazes de processá-los e nos reequilibrar.
Conclusão: O Futuro do
Brainspotting
O Brainspotting é diferente de outras psicoterapias e modalidades de
cura por várias maneiras. Utiliza estrategicamente o campo visual do cliente
para acessar o auto escaneamento de seu cérebro e as propriedades de auto
cura. Preconiza que a psicologia é um reflexo de fisiologia e que as
abordagens fisiológicas podem ter consequências psicológicas. Tanto utiliza
como bloqueia intencionalmente o impulso de sobrevivência e adaptação.
No Brainspotting, sabe-se e se aceita que estamos trabalhando num
campo de incerteza, onde sabemos apenas um fio do que existe para saber
sobre o universo interno do cérebro humano. Os terapeutas Brainspotting
sabem que a única solução para os problemas que os clientes levam à terapia
estão dentro deles mesmos. O Brainspotting abrange um amplo espectro de
possíveis intervenções com os clientes, de acordo com suas necessidades,
desde o mais ativado ao uso mais recorrido da posição do olho e experiência
corporal. É destinado específica e intencionalmente para ser integrado com
outros métodos.
Finalmente, o Brainspotting integra completamente a sintonia
relacional e neurobiológica do terapeuta ao cliente. O terapeuta Brainspotting
ouve as palavras do cliente e sua experiência corporal, e observa os olhos, o
rosto e o corpo do cliente enquanto observa os sinais reflexos. O
Brainspotting é baseado na ideia de que o sistema humano é auto curável e
que o papel do terapeuta é colocar e manter uma moldura que promove e
utiliza as capacidades do cliente de se curar.
Brainspotting é concebido para a eficiência. Toda sessão é importante,
e cada sessão vale por si mesma. Gosto de chamar este conceito “wire to
wire”. Este termo, que vem da corrida de automóveis e significa liderar a
corrida do começo até o fim, reflete a importância de cada momento
intencional, focado, desde o começo até o final de cada sessão. A eficiência
como de um laser é possível quando você está processando num brainspot,
prendendo a atenção do cérebro na região específica do cérebro que precisa
de cura.
Outro conceito único do Brainspotting é de que a cura ocorre não
somente nas sessões, mas também entre as sessões. Afinal, há 168 horas na
semana, e apenas uma hora é dedicada a cada sessão. Como pode a mudança
ocorrer numa fração tão pequena de nossa vida semanal? Chamo esta atitude
alternativa em favor do tempo e da mudança na terapia de ‘suporte de livros’
já que as sessões semanais Brainspotting são vistas como ‘suporte de livros’
em cada ponta do processo em curso e a mudança que acontece dentro do
cliente durante a semana. Com esta atitude, as sessões Brainspotting, ou
‘suporte de livros’, são vistas como oportunidades para facilitar a mudança
que vai ocorrer depois que a sessão terminar. A sessão seguinte, ou de
acompanhamento, começa revendo ou reforçando a mudança para a semana
seguinte, provendo, assim, um outro ‘suporte de livros’.
Mas o que faz o Brainspotting verdadeiramente diferente de outras
terapias é que o método é concebido para ser uma estação intermediária e
temporária entre o ponto ao qual chegou o campo da psicoterapia até onde
está se encaminhando. Os avanços realizados pelo Brainspotting, como
abordagem, não têm a intenção de permanecer no campo da saúde mental
para sempre; pretendem abrir novos panoramas teóricos e descobertas
clínicas que possam em última instância tornar o Brainspotting obsoleto.
Como toda história, tudo tem um início, meio e um fim. A topografia de
nosso planeta está sempre fluindo, desde as forças externas da erosão às
pressões internas de elevação e ruptura. A nova descoberta na psicoterapia,
além do Brainspotting, pode ocorrer no consultório de um terapeuta em
algum lugar longínquo do mundo, que terá uma experiência transcendental
como a que tive com Karen, a patinadora. Ou o próximo avanço terapêutico
poderá ocorrer num laboratório de pesquisa ou um hospital, à medida que
pesquisadores estudarem o fMRI (imagem de ressonância magnética
funcional) ou o QEEG scans (eletroencefalograma quantitativo) do cérebro
de pessoas que receberam a terapia Brainspotting.
Dentro do contexto de um projeto de pesquisa, uma equipe de
cientistas do cérebro e eu já dirigimos uma sessão Brainspotting com um
cliente num scanner fMRI num hospital universitário de excelência em
Arkansas. Estamos estudando o efeito Brainspotting no cérebro de
sobreviventes de trauma. Esta primeira experiência produziu resultados
promissores, embora ainda preliminares, e estamos agora pretendendo dirigir
mais experiências com mais temas. O treinador de Brainspotting Thomas
Weber está desenvolvendo um vasto estudo com QEEG e fMRI sobre
Brainspotting no mais prestigiado hospital de pesquisa em Viena. Discussões
estão em curso na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh para
desenvolver um estudo que examinará como as pupilas do olho responde
durante as sessões Brainspotting. Estou animado quanto aos resultados
iniciais de um estudo de pesquisa psicológica internacional comparando a
eficiência do Brainspotting à eficiência do EMDR, um estudo co-dirigido
pelo Dr. Mark Stemmler (presidente do Departamento de Pesquisa de
Psicologia na Universidade de Erlangen, Alemanha) e por mim. Na Escócia,
o Dr. Frank Corrigan escreveu um artigo de jornal bastante profundo
especulando sobre os fundamentos neurobiológicos do Brainspotting. Ele
acredita que o Brainspotting acessa diretamente e promove a cura de uma
área do tronco encefálico (a área entre as partes do cérebro chamadas de
colículo superior e de substância cinzenta periaquedutal, ou PAG em inglês)
que ele acredita conter “a própria essência do ser”.
Meu interesse primário e o de outros no crescimento da comunidade
Brainspotting não são as questões de poder e controle que parecem surgir
virtualmente dentro de todas as estruturas organizacionais. Desde o início de
minha carreira, tenho visto organizações bem-intencionadas perderem suas
finalidades originais e inconscientemente fazerem uma auto-preservação e
ampliação de seus objetivos originais. Na comunidade Brainspotting, meu
interesse primário é relacional; estou interessado na crescente rede de
relacionamentos entre os terapeutas Brainspotting e as comunidades
Brainspotting. O relacionamento é a principal essência tanto do processo de
tratamento entre o cliente e o terapeuta, como na crescente comunidade
global dos terapeutas Brainspotting. As organizações são importantes, e cada
nação onde o Brainspotting é ensinado tem desenvolvido ou está
desenvolvendo sua própria associação Brainspotting. No entanto, estou
trabalhando muito para me certificar que o Brainspotting não caia na
armadilha de se tornar tão estruturada que as organizações venham a ofuscar
o imprescindível aspecto relacional do Brainspotting.
No futuro, esperamos levar o Brainspotting a novos países em cada
um dos continentes onde já temos feito treinamentos. Estamos planejando
levar o Brainspotting à África e Ásia, onde não houve qualquer treinamento
até hoje.
Também estou expandindo as oportunidades de aprendizado tanto
para os terapeutas novos quanto para os terapeutas experientes em
Brainspotting. Embora muito tempo e desenvolvimento têm sido dedicados
aos treinamentos da Fase Básica 1 e 2, estou continuamente renovando e
melhorando essas fases. Em 2011, acrescentei o treinamento Fase 3 para os
terapeutas Brainspotting; trata-se da performance no esporte e a expansão da
criatividade, e inclui as demonstrações com um atleta e um ator que faz a
apresentação de um monólogo antes e depois de um coaching Brainspotting
em atuação. Lisa Schwarz desenvolveu seus próprios treinamentos avançados
no Brainspotting de Modelo de Recurso e suas aplicações para trabalhar com
os traumas mais complexos e distúrbios dissociativos.
Denominei o treinamento mais avançado que faço de “o Intensivo”. É
um período de cinco dias inteiros para no máximo doze terapeutas
Brainspotting. A designação “intensivo” é muito acurada, por ser
pessoalmente desafiadora para os que estão presentes. São doze sessões
Brainspotting experimentais conduzidas no meio do grupo em círculo; cada
participante tem a oportunidade de ser o cliente e o terapeuta Brainspotting
uma vez. Sento-me perto do terapeuta e o oriento a trabalhar da forma mais
aberta, criativa, que chamo de “Brainspotting livre”- da mesma forma que
trabalho em meu consultório. No Intensivo, não somente o aprendizado é
profundo, mas as experiências pessoais de cura também são poderosas.
Conduzi quinze Intensivos no mundo. Minha meta final seria ensinar
Brainspotting numa base curricular, da mesma forma que os cursos são
ensinados no ambiente da universidade. Descobri que é bom expor terapeutas
jovens ao Brainspotting cedo em suas carreiras, considerando que os novatos
são mais abertos e precisam da Moldura de Sintonia Dual.
Para você, leitor, este livro marca o início de uma jornada
Brainspotting que é unicamente sua. Talvez você procure e trabalhe com um
terapeuta Brainspotting para sua cura pessoal ou para seu desempenho ou
expansão da criatividade. Não importa qual seja o próximo passo em sua
jornada, você ficará mais consciente de que “onde você olha afeta como você
se sente”.
Recursos Sugeridos
Livros citados neste livro
Badenoch, Bonnie. Being a Brain-Wise Therapist: A Practical Guide to
Interpersonal Neurobiology. New York: W. W. Norton & Company, 2008
Bergman, Uri. Neurobiological Foundations for EMDR Practice. New
York: Springer Publishing Company, 2012.
Doidge, Norman. The Brain That Changes Itself: Stories of Personal
Triumph from the Frontiers of Brain Science. New York: Penguin Books,
2007.
Grand, David. Emotional Healing at Warp Speed: The Power of EMDR.
New York, NY: Harmony, 2001.
Grand, David and Alan Goldberg. This Is Your Brain on Sports:
Beating Blocks, Slumps and Performance Anxiety for Good! Indianapolis:
Dog Ear Publishing, 2011.
Martinez-Conde, Susana, and Stephen L. Macknik. “Windows on the
Mind.” Scientific American, 297 no. 2 (August 2007): 56-63
Scaer, Robert. The Body Bears the Burden: Trauma, Dissociation, and
Disease. New York: Routledge, 2007.
Scaer, Robert. The Trauma Spectrum: Hidden Wounds and Human
Resiliency. New York: W. W. Norton & Company, 2005.
Siegel, Daniel. Pocket Guide to Interpersonal Neurobiology: An
Integrative Handbook of the Mind. New York: W. W. Norton &
Company, 2012.
Schiffer, Frederic. Of Two Minds: A New Approach For Better
Understanding and Improving Your Emotional Life. London: Pocket
Books, 1997.
Informações Gerais
Brainspotting.com é o website oficial de David Grand Ph.D. Este site
fornece ampla informação sobre o Brainspotting nos Estados Unidos e em
todo o mundo. Inclui vídeos de David Grand e Robert Scaer discorrendo
sobre o Brainspotting, e uma “visão interna”do Brainspotting escrita por um
cliente.
BioLateral.com fornece informação sobre aquisição de CDs e
downloading mp3 do Som BioLateral, Brainspotting Fase I e 2, DVDs de
treinamento, artigos e um áudio do trabalho de David Grand com o
apanhador Mackey Sasser do New York Mets.
Brainspottinginternational.org fornece informação sobre as
organizações Brainspotting na Europa, Oriente Médio, América do Sul e
Austrália. Veja a página do site “Global BSP Organizations” para contato e
links de cada organização.
Agradecimentos
Meus mais profundos agradecimentos à família Sounds True pelo
apoio que recebi para fazer deste livro uma realidade. Obrigado a Tami
Simon por acreditar que valia a pena publicar Brainspotting e por me apoiar
durante todo o processo criativo. Minha profunda apreciação à minha editora,
Amy Rost, pelas incontáveis horas de ajuda despendidas para dar uma forma
fluente e coesa ao livro. A paciência e a capacidade dela em sua excelente
colaboração às vezes eram até mesmo divertidas. Agradecimentos a Jennifer
Holder por captar o fio de um texto final e levar o livro à sua conclusão.
Agradecimentos são devidos à minha assistente, Laurie Delaney, que
apoiou meus esforços com a competência, dedicação, lealdade, e bom ânimo
que traz a tudo que faz. Minha apreciação a Lisa Schwarz que tornou possível
os treinamentos Fluir Natural, que estabeleceu os fundamentos dos
treinamentos Brainspotting. Minha apreciação a Oliver Schubbe, que
apostou em mim e tornou-se um pioneiro do Brainspotting na Europa. Meus
especiais agradecimentos a Pie Frey que de forma abnegada, promoveu o
Brainspotting e fez a região de Rocky Mountain do estado do Colorado, um
bastião desta modalidade. Uma profunda apreciação a Esly Carvalho por
primeiro levar o Brainspotting ao Brasil e então ao Equador, Portugal e
Espanha. Agradeço ao Mario Salvador por seus talentos aplicados ao
desenvolvimento do Brainspotting na Espanha e então levá-lo à Romênia,
Eslovênia e Bósnia. Minha calorosa apreciação ao Fran Yoeli por levar o
Brainspotting a Israel e apoiar seu crescimento na Grécia com Tessa Pratos.
Agradeço a Glenda Villamarin e Santiago Jacome pelo trabalho com
Brainspotting no Equadro e Chile. Minha apreciação a Maria Elena Aduriz
por abrir a Argentina e a América do Sul para mim. Obrigado a Elisabeth
Luitgard-Peer e Thomas Weber por desenvolver o Brainspotting na Áustria.
Obrigado a Philip Dutton e Marie-Jose Boon por levar o Brainspotting ao
Reino Unido e à Holanda. Agradeço a todos os treinadores Brainspotting por
sua dedicação, inclusive nos Estados Unidos: Roberto Weiz, Ruby Gibson,
Ron Schwenkler, e Margot Nacey. Internacionalmente: Margarida Couto,
Luciana Caruso, Contanze Weiland-Horn, Birgit Koenig, Christa Ludwig-
Trendel, Christian Knorr, e Alexandre Reich.
Profundos agradecimentos a Robert Scaer por seu apoio profissional.
Apreciação a Norman Doidge por seu precioso apoio. Obrigado a Uri
Bergmann pela amizade e por me ensinar tudo o que sei sobre o cérebro.
Minha gratidão a Clara Kaufmann por me ensinar o verdadeiro significado de
“coragem”. Minha apreciação a Mark Stemmler por seu vigoroso trabalho na
pesquisa dos fundamentos do Brainspotting. Agradecimentos a Frank
Corrigan pelos estudos na neurobiologia do Brainspotting. Agradecimentos a
Rob Polishook e Alan Goldman pela ajuda com o desenvolvimento do
Modelo de Trauma de Esporte. Agradecimentos à família Brainspotting, que
inclui Christine Ranck, Martha Jacobi, Cynthia Schwartzberg, Deborah
Antinori, Susan Pinco, Kathy Heeg, Alecia Ralston, Tom Taylor, Susan
Dowell, Russ Camarda, Sjoerd DeJongh, Terrie Williams, Elyse Kirsch,
Laura Hillesheim, Earl Poteet, Annette Goddman, Silvia Guz, Andre
Monteiro, Calder Kaufmann, Diane Israel, Iria Salvador, Connie Konikoff,
Cecile Kossman, Petra Riedel, Erica Thorkildsen, e Barbro Andersen.
Os melhores e mais carinhosos agradecimentos a minha esposa, Nina,
que tem estado comigo em todas as situações – inclusive incontáveis horas à
mesa da sala de jantar escrevendo e editando este livro. Meu amor ao meu
filho, Jonathan, por seu humor e inspiração, trazidos de todas as coisas que
sobreviveu. Meu agradecimento ao meu pai pela ponteira, literal e figurada,
que orienta meu caminho.
Sobre o Autor
David Grand, um clínico na área de trabalho social licenciado com
Ph.D da Universidade Internacional, tem um atendimento particular em
psicoterapia em Manhattan. Sua lista de clientes inclui muitos atores bem-
sucedidos de televisão, cinema e teatro; atletas profissionais; líderes no
campo dos negócios; sobreviventes de traumas profundos (incluindo o 11/09
e o Furacão Katrina), e veteranos combatentes das Guerras do Iraque e do
Afeganistão. Ele agora tem passado muitos meses do ano viajando por todo o
mundo, fazendo palestras e treinando terapeutas na utilização do
Brainspotting. Ele é o autor de Cura emocional em Velocidade Máxima
(Harmony, 2001 & EMDR Treinamento e Consultoria, 2013), diretor e
produtor do filme documentário Come Hell or High Water, e autor da peça I
witness. Foi entrevistado na CNN, NBC, no programa Nightline, no Jane
Pauley Show, e NBC Extra, e teve destaque no New York Times, no
Washington Post, O Magazine, Golf Digest, e Newsday. Para mais
informações, por favor, visite brainspotting.com.
Glossário
Observe, por favor, que algumas palavras neste glossário são
empregadas somente na área do Brainspotting, enquanto outras têm um uso
mais geral. Estes termos de uso mais geral normalmente adquirem um
significado específico quando usados em relação ao Brainspotting.
Ativação – Termo genérico, abrangente que representa como percebemos
a elevação tanto das emoções quanto das sensações do corpo quando
trazemos nossa atenção para aquilo que está nos incomodando.
Ativação focada – O estado alcançado pelo processo do Brainspotting
(ativação, avaliação do nível de SUDS, e consciência corporal). A
ativação focada ajuda o terapeuta e o cliente a localizarem o brainspot e
leva à mindfulness focada. Há uma teoria de que a ativação das emoções e
das sensações do corpo que ocorrem em torno de uma única questão ou
situação provoca mais atividade focada do cérebro.
Ativar - Intensificar intencionalmente nosso interior emocional interno e
a experiência corporal focando o que está nos incomodando. Nós nos
ativamos em preparação para encontrar um brainspot.
Brainspotting de Convergência– Movimentando-se para trás e para
frente rapidamente (a cada três a dez segundos) entre perto e longe (no
eixo z) num brainspot. O brainspot de Convergência ativa o reflexo óculo-
cardíaco e leva a processamento rápido e profundo.
Brainspotting de Janela Externa– O modo original de Brainspotting no
qual o terapeuta localiza e utiliza as posições do olho, observando as
respostas reflexas nos olhos, rosto e corpo do cliente.
Brainspotting de Janela Interna– O modo do Brainspotting no qual o
cliente identifica internamente as posições do olho com grande ativação,
tanto horizontalmente (no eixo x) como verticalmente (no eixo y).
Brainspotting de Um Olho - O modo do Brainspotting no qual um olho
é coberto e o outro exposto. Com um olho, o cliente sente o maior nível
de ativação (o Olho da Ativação), e com o outro, o mais elevado nível de
estar centrado com calma (o Recurso do Olho). Quando a diferença está
determinada, o terapeuta Brainspotting pode orientar o cliente a usar o
olho mais apropriado para o processamento, de acordo com as
necessidades únicas do momento.
Campo de visão – Também conhecido como o campo de vista ou o
campo visual, é a extensão do mundo observável que pode ser visto num
determinado momento. O campo visual é onde estão localizados os
brainspots no cliente.
EMDR – Dessensibilização e Reprocessamento através de
Movimentos Oculares, um modelo de tratamento desenvolvido por
Francine Shapiro no final dos anos 1980. Combina os movimentos dos
olhos e outras formas de estimulação bilateral com protocolos específicos.
O EMDR é altamente pesquisado e utilizado eficientemente em trauma e
outras condições emocionais.
Experiência somática (ES) – Um método de acesso e localização de
recursos do corpo para ajudar a curar o trauma. Desenvolvido por Peter
Levine, o a ES utiliza o pêndulo, ou movimento de vai-vem, entre as áreas
de força (o vórtex da cura) e de vulnerabilidade (vórtex do trauma) para
ajudar o sistema nervoso a completar o trauma congelado e a curar.
Mindfulness focada – A forma específica de mindfulness ou
processamento utilizada no Brainspotting, assim chamada porque ocorre
no cliente que está em estado de ativação focada, ou ativada ativado em
torno de uma questão específica ou memória. Ver também ativação
focada e processamento.
Modelo de Ativação – O modelo básico de Brainspotting para clientes
que podem tolerar confortavelmente níveis mais elevados de ativação.
Modelo de Expansão – Utiliza o Brainspotting para promover e melhorar
a performance, a criatividade, e a experiência pessoal. Inerente ao Modelo
de Expansão é a crença de que o potencial de crescimento humano é
infinito.
Modelo do Recurso – O modelo de Brainspotting utilizado com os
clientes que consideram o Modelo de Ativação por demais avassalador ou
intenso. O Recurso Corporal é o fundamento do Brainspotting de Modelo
de Recurso do Brainspotting e é utilizado para encontrar o Ponto do
Recurso. O Modelo do Recurso tem sido grandemente expandido por Lisa
Schwarz.
Moldura da Sintonia Dual – O conteúdo proporcionado para o cliente
pela sintonia simultânea do terapeuta ao relacionamento e ao brainspot. A
moldura permite ao cliente usar com eficiência a natureza adaptável do
sistema nervoso para localizar o que estiver sem cura e resolver isto
internamente.
Olho da Ativação – No Brainspotting de um Olho, o olho que, quando
exposto, estando o outro coberto, provoca o nível mais alto de ativação. O
Olho da Ativação é usado quando os clientes necessitam de mais foco
e/ou ativação mais alta.
Olho do Recurso – No Brainspot de Um Olho, o olho que, quando
exposto com o outro coberto, provoca o nível mais baixo da ativação. O
Olho do Recurso é utilizado quando os clientes necessitam mais
contenção e/ou ativação mais baixa.
Ponto do Recurso - O brainspot que corresponde ao Recurso Corporal
(onde nos sentimos mais calmos e mais centrados no corpo).
Processamento Parassimpático – Processamento que é desempenhado
enquanto o sistema nervoso parassimpático (calmo) é simultaneamente
ativado. O Processamento Parassimpático é utilizado no Modelo de
Recurso com clientes altamente vulneráveis e dissociados.
Processar – Experimentar emocional e/ou neurobiologicamente,
internamente, passo-a-passo, em um período de tempo prescrito, a fim de
afetar uma mudança de percepção ou atitude.
Processo – A experiência interna do cliente, inclusive memórias,
pensamentos, emoções ou sensações no corpo, como observado pelo
cliente, passo-a-passo num período de tempo prescrito. No Brainspotting,
o processo é feito num estado de ativação focada e é assim mencionado
com mindfulness focada.
Recurso Corporal – O lugar onde nos sentimos mais calmos e mais
centrados no corpo. O Recurso Corporal é o fundamento do Brainspotting
doe Modelo de Recurso do Brainspotting e é usado para encontrar o
Recurso do brainspot.
Recurso do brainspot – Ver: Ponto do Recurso
Sensação sentida (felt sense) - Este termo, cunhado por Eugene Gendlin,
se refere a alguma coisa não esclarecida que é sentida no corpo e também
experimentada não-verbalmente.
Sintonia Dual – o terapeuta Brainspotting sintoniza-se com o processo do
cliente no relacionamento terapêutico e com a resposta mente-corpo do
cliente, em um brainspot. Sintonia Dual é o fundamento do processo de
Brainspotting.
Som BioLateral - Sons suaves da natureza e música curativa que é
programada para se movimentar para trás e para frente de um ouvido para
o outro. O Som BioLateral, disponível em CD e downloads mp3, é
utilizado como música de fundo como apoio ao processo Brainspotting.
Trauma de Esporte - Ver: trauma de performance.
Trauma de Performance – Trauma experimentado durante a prática para
uma performance ou durante a performance propriamente dita. Este
trauma pode incluir lesões físicas, erros e humilhações. Os traumas de
performance no sistema nervoso do executante ocorridos na infância
levam a bloqueios de performance e ansiedade.
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ISBN-13: 978-1-941727-38-6
ISBN-10: 1-941727-38-6
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(Nota do Editor: SUDS refere-se à “Escala de Unidades Subjetivas de Perturbação”, em inglês The
Subjective Units of Disturbance Scale)