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Cecília Helena Magalhães de Andrade

A VIVÊNCIA DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE ABORTAMENTO


ESPONTÂNEO PRECOCE

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo – Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do título de
Mestra em Ciências.

São Paulo
2022
Cecília Helena Magalhães de Andrade

A VIVÊNCIA DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE ABORTAMENTO


ESPONTÂNEO PRECOCE

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo – Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do título de
Mestre em Ciências.
Orientadora:
Profa. Dra. Sue Yasaki Sun
Co-orientadora:
Profa. Dra. Erika de Sá Vieira Abuchaim

São Paulo
2022
Andrade, Cecília Helena Magalhães de

A Vivência de mulheres em situação de abortamento espontâneo


precoce/ Cecília Helena Magalhães de Andrade – São Paulo, 2022.

viii, 85f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola


Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Obstetrícia.

Título em inglês: The experience of women in situation of early


spontaneous abortion.

1. Perda Gestacional precoce. 2. Vivências de perda gestacional. 3.


Processo de abortamento. 4. Cuidados da equipe
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM OBSTETRÍCIA

Chefe do departamento:
Prof. Dr. David Baptista da Silva Pares

Coordenador do Curso de Pós-graduação:


Profa. Dra. Sílvia Daher

iii
Cecília Helena Magalhães de Andrade

A VIVÊNCIA DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE ABORTAMENTO


ESPONTÂNEO PRECOCE

Banca examinadora:

Profa. Dra. Rosiane Mattar

Profa. Dra. Ana Paula Camarneiro

Profa. Dra. Isilia Aparecida Silva

Data da aprovação: 16.08.2022

iv
A todas as mulheres que sofreram a perda
gestacional e que permitiram dividir suas
histórias e validar sua perda.
v
Agradecimentos

À Profa. Dra. Sue Yazaki Sun, minha orientadora, pelas contribuições e por permitir
que esta pesquisa se concretizasse.
À Profa. Dra. Erika de Sá Vieira Abuchaim, pela presença sustentadora que dividiu
seu tempo e saber para que eu pudesse concluir este trabalho. Seus conhecimentos
foram fundamentais no processo. Grata pela amizade e disponibilidade durante todo
o processo.
Ao Ambulatório de Gestação Inicial (AGI), pela acolhida para que fosse possível a
concretização deste trabalho.
A todas as mulheres que participaram do estudo, enfrentando sua dor para dividir
comigo, pois sem elas este trabalho não seria possível.
À Júlia Iuzepe e Taysa Guidio, pela colaboração com as entrevistas nos momentos
em que não pude estar presente.
Às mulheres atendidas no Ambulatório de Saúde da Mulher, da Prefeitura de São José
do Rio Pardo, que me despertaram para um trabalho voltado para suas perdas e
descobertas.
Ao Instituto Gerar, por todo conhecimento na área da perinatalidade e todas as trocas
instigantes e potentes proporcionadas pela turma SUPERID.
Ao Eduardo, por toda ajuda e paciência nos momentos em que não pude compartilhar
experiências, mas, principalmente, por atravessar todo o processo de perda com a
qual viveu comigo, sendo acolhimento nos momentos de turbilhão.
À minha mãe, pela ajuda pessoal e presença.

vi
“Embora saibamos que depois de uma perda
dessas o estado agudo do luto abrandará,
sabemos também que continuaremos
inconsoláveis e não encontraremos nunca um
substituto. Não importa o que venha a preencher
a lacuna e, mesmo que esta seja totalmente
preenchida, ainda assim alguma coisa
permanecerá. E, na verdade, assim deve ser. É
a única maneira de perpetuar aquele amor que
não desejamos abandonar.”
Sigmund Freud (em carta a Ludwig Binswanger)
vii
Resumo

O aborto espontâneo é uma complicação comum durante o início da gravidez e


estima-se que ocorra em 15% a 20% das gestações clinicamente diagnosticadas. A
perda gestacional é compreendida como uma experiência traumática para a maioria
das mulheres, sendo necessárias estratégias de apoio ao luto perinatal que promovam
a saúde mental materna. Objetivo: Compreender a experiência de mulheres que
vivenciam a perda gestacional precoce. Método: Trata-se de um trabalho qualitativo,
realizado no Ambulatório de Gestação Inicial da UNIFESP no período de dezembro
de 2019 a abril de 2021, que adotou a Teoria do Apego e a Análise de Conteúdo de
Bardin como referenciais teórico e metodológico, respectivamente. A população do
estudo foi composta por mulheres com diagnóstico de gestação não evolutiva pela
ultrassonografia e/ou quadro clínico, com ou sem sangramento vaginal, até 12
semanas de idade gestacional. Não foram incluídas mulheres com idade <18 anos,
em tratamento psiquiátrico e que não apresentassem domínio da língua portuguesa. A
amostra estabelecida com 30 mulheres se deu por conveniência. Os dados foram
coletados entre 30 e 45 dias após a resolução do abortamento e o encontro com as
investigadas teve duração média de 30-50 minutos. As variáveis sociodemográficas,
clínicas e do abortamento atual foram coletadas por meio de formulário desenvolvido
especificamente para o estudo. Os dados qualitativos foram coletados, em espaço
privado, por meio de entrevista semidirigida que buscava explorar o processo de
abortamento por meio da pergunta central “Conte-me como foi para você vivenciar um
aborto?”. As entrevistas foram gravadas, transcritas e os arquivos foram salvos na
plataforma Google Drive em pasta protegida por senha. Todas as participantes
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido no início da coleta dos dados.
Resultados: As investigadas tinham idade média de 32 anos, 49% com ensino
fundamental e quase a totalidade com parceiro estável no momento da pesquisa. No
que se refere às características obstétricas e do aborto atual, 76% das entrevistadas
eram multíparas e destas 87% não apresentava história de aborto anterior. A perda
gestacional aconteceu em média com 8 semanas e 66% foram submetidas ao manejo
cirúrgico. No que se refere ao método de manejo adotado, 70% das mulheres
afirmaram ter sido esclarecida acerca dos tipos de tratamento possível, 63% não
escolheram o método e 66% afirmaram se sentir segura com o tratamento adotado.
Dentre as mulheres submetidas à internação hospitalar, 59% compartilharam o quarto
com outra paciente na mesma situação de perda. A análise dos dados qualitativos
desvelou quatro categorias: Descoberta da gestação, Perda, Apoio e Vida após a
perda. A categoria Perda, contou com duas subcategorias: Confirmação da perda e
Resolução do abortamento. Conclusão: A vivência da perda gestacional precoce,
segundo as mulheres investigadas, é uma experiência traumática que se inicia com a
DESCOBERTA DA GESTAÇÃO que, por vezes, coincide com a notícia da PERDA. A
Confirmação da perda e a Resolução do abortamento despertam sentimentos de
tristeza, frustração e desamparo, demandando APOIO familiar e profissional para
elaboração e integração do luto, necessários para promoção da saúde mental materna
e, consequentemente, proteção da VIDA APÓS A PERDA.

Palavras-chave: Perda Gestacional Precoce, Vivências de Perda Gestacional,


Processo de Abortamento, Cuidados da Equipe.

viii
Abstract
Miscarriage is a common complication during early pregnancy and it is estimated to
occur in 15% to 20% of clinically diagnosed pregnancies. Pregnancy loss is understood
as a traumatic experience for most women, requiring strategies to support perinatal
grief that promote maternal mental health. Objective: To understand the experience
of women who experience early pregnancy loss. Method: This is a qualitative work,
carried out at UNIFESP's Early Pregnancy Outpatient Clinic from December 2019 to
March 2021, which adopted the Attachment Theory and Bardin's Content Analysis as
theoretical and methodological references, respectively. The population under study
consisted of women diagnosed with non-progressive pregnancy by ultrasound and/or
clinical status, with or without vaginal bleeding, up to 12 weeks of gestational age. The
study did not include women aged <18 years, undergoing psychiatric treatment and
who did not speak the Portuguese language. The sample was established with 30
women based on convenience. The data were collected between 30 and 45 days after
the abortion was resolved, and the meeting with the investigated lasted an average of
30-50 minutes. Sociodemographic, clinical and current abortion variables were
collected using a form developed specifically for the study. Qualitative data were
collected, in a private space, through a semi-directed interview that sought to explore
the abortion process through the central question “Tell me how it was for you to
experience an abortion?”. The interviews were recorded, transcribed and the files were
saved on the Google Drive platform in a password-protected folder. All participants
signed a consent form at the beginning of data collection. Results: The respondents
had a mean age of 32 years, 49% had elementary education and almost all had a
stable partner at the time of the research. With regard to obstetric characteristics and
current abortion, 76% of respondents were multiparous and of these 87% had no
history of previous abortion. Pregnancy loss occurred at an average of 8 weeks and
66% underwent surgical management. Regarding the management method adopted,
70% of the women stated that they had been informed about the types of possible
treatment, 63% did not choose the method and 66% said they felt safe with the
treatment adopted. Among the women undergoing hospitalization, 59% shared a room
with another patient in the same situation. The analysis of qualitative data revealed
four categories: Discovery of pregnancy, Loss, Support and Life after the loss. The
Loss category had two subcategories: Confirmation of loss and Decision of abortion.
Conclusion: The experience of early pregnancy loss, according to the women
investigated, is a traumatic experience that begins with the DISCOVERY OF THE
PREGNANCY, which sometimes coincides with the news of the LOSS. The
confirmation of the loss and the resolution of the abortion arouse feelings of sadness,
frustration and helplessness, demanding family and professional SUPPORT for the
elaboration and integration of grief, which are necessary for the promotion of maternal
mental health and, consequently, protection of LIFE AFTER THE LOSS.

Keywords: Early Pregnancy Loss, Experiences of Pregnancy Loss, Abortion Process,


Team Care Service.
ix
Sumário

Dedicatória............................................................................................................... v
Agradecimentos...................................................................................................... vi
Resumo.................................................................................................................... viii
Abstract.................................................................................................................... ix

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 01
2 OBJETIVO.............................................................................................................. 03
3 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................. 04
3.1 Aborto............................................................................................................... 04
3.2 Perdas gestacionais.......................................................................................... 05
4 PACIENTES E MÉTODOS..................................................................................... 12
4.1 Desenho do estudo........................................................................................... 12
4.2 População e amostra......................................................................................... 12
4.3 Instrumentos para coleta de dados.................................................................... 13
4.4 Aspectos éticos................................................................................................. 18
5 RESULTADOS.............................................................................................. .......... 19
Categoria 1: Descoberta da gestação..................................................................... 21
Categoria 2: Perda.................................................................................................. 26
2.1 Confirmação da perda.................................................................. 26
2.2 Resolução do abortamento.......................................................... 31
Categoria 3: Apoio.................................................................................................. 33
Categoria 4: Vida após a perda.............................................................................. 37
6 DISCUSSÃO........................................................................................................... 44
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 49
8 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 51
ANEXOS.................................................................................................................... 57

x
1

1 INTRODUÇÃO

O interesse pelo estudo acerca da experiência de mulheres que vivenciam a


perda gestacional precoce tem sua origem na clínica da perinatalidade. A escuta do
sofrimento psíquico e da singularidade de cada processo, somados à experiência
pessoal de abortamento vivido durante o desenvolvimento do estudo, potencializaram
a necessidade e a motivação de dar voz às pacientes.
Engravidar e tornar-se mãe é o desejo de muitas mulheres. No entanto, estima-
se que 15%-20% das gestações sejam interrompidas precocemente.1-,3 A prevalência
de abortamento espontâneo precoce pode ser mais elevada, visto que ao longo da
vida reprodutiva algumas mulheres sofrem abortos sem estarem cientes de sua
condição de gestante.4, 5
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define abortamento como a
interrupção da gravidez antes das 22ª semanas de gestação ou com feto < 500g. É
considerado precoce quando ocorre até a 12ª semana.6 Dentre os tipos de
abortamento, a grande maioria (80%) é classificada como inevitável. 4, 7 No que se
refere à eliminação fetal, 81% dos casos de perda gestacional precoce ocorrem de
maneira espontânea e completa.3
São considerados fatores de risco maternos para aborto espontâneo: idade
materna avançada, menor escolaridade, baixa renda, problemas de saúde
(obesidade, diabetes, doenças autoimunes, distúrbios venosos e cardiovasculares),
estilo de vida (tabagismo, sobrecarga laboral, estresse), menarca precoce, alterações
hormonais e história pregressa de abortamento espontâneo. 8
Na gestação as mulheres experimentam mudanças físicas, psíquicas, sociais,
econômicas e culturais que demandam intenso processo adaptativo. Nesse cenário
considerado, período de crise vital, a vulnerabilidade para o desenvolvimento de
sofrimento psíquico é maior.9 A perda gestacional incrementa o risco de
psicopatologias estando associado a uma experiência de luto que pode ser complexa,
duradoura e prolongada, apresentando sintomas que variam em intensidade e
duração.10
O diagnóstico da perda gestacional coloca a mulher em contato com sua
impotência diante da vida. A ambiguidade dos sentimentos experimentados pela
gestante não se restringe à inviabilidade daquele bebê, mas envolve a perda do ideal
de família, a possibilidade de se tornar mãe, a expectativa de gerar um filho desejado,
2

interrompendo sonhos e a realização de projetos futuros.11, 12


O rompimento de um vínculo significativo, como o experimentado nas perdas
gestacionais, demanda transformações e a busca de novos significados em relação
ao que foi perdido.13,14 Nas situações de abortamento o apego materno pelo bebê,
antes mesmo do nascimento, não é reconhecido socialmente e, portanto, o processo
de luto não é aceito e validado pelo meio no qual a mulher está inserida. A
incompreensão e ou recriminação experimentada frente às manifestações de dor pela
perda do filho se traduz na falta de apoio emocional e assistência de saúde integral,
favorecendo o silêncio acerca da experiência vivida, o adoecimento psíquico e
dificultando, assim, sua elaboração.15
Mulheres em situação de abortamento estão mais vulneráveis ao
desenvolvimento de transtornos mentais, em especial quando apresentam
antecedentes psiquiátricos pessoais e ou familiares; histórico de abortamento, falta de
apoio social e ou familiar, história de violência, nuliparidade entre outros. 16 A
satisfação com a assistência recebida no abortamento e com o serviço de saúde são
aspectos imprescindíveis na elaboração do luto materno, interferindo diretamente na
sua saúde mental.17 Mulheres que referiram estar satisfeitas com os profissionais que
delas cuidaram no processo de perda apresentam menor incidência de luto
prolongado e depressão.17
A dificuldade e, por vezes, relutância das mulheres que sofreram um aborto
espontâneo precoce em compartilhar tal experiência, somada à dificuldade de
encontrar espaços de acolhimento e escuta, pode ser um dos fatores responsáveis
pela lacuna de conhecimento acerca do significado por elas atribuído ao fenômeno
vivido.18
Compreender a percepção da mulher acerca da perda gestacional precoce e
qual o impacto desta experiência em sua vida pode contribuir para o cuidado à saúde
mental, uma vez que neste processo as garantias de não sofrimento e dor não existem
já que complicações podem aparecer independente da conduta tomada, mas pode-se
cuidar para que o impacto emocional diante da perda possa ser menor.
Desta forma, buscou-se neste estudo investigar a experiência das mulheres
que passaram por uma perda gestacional, considerando sua vinculação com o bebê
imaginado e o investimento emocional depositado na gravidez, além de conhecer o
impacto emocional e a singularidade do sofrimento e da dor, aspectos não
mensuráveis.
3

2 OBJETIVO

Compreender a experiência de mulheres que vivenciam a perda gestacional


precoce.
4

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Aborto

O aborto espontâneo, em muitos casos, é de etiologia desconhecida (50%) e,


em sua maioria, tem causa multifatorial podendo ter fatores genéticos ou não, o que
dificulta sua investigação. Torna-se recorrente após a perda de três ou mais
gestações, de forma consecutiva.8
O abortamento precoce é aquele que ocorre até 12 semanas de idade
gestacional. A manifestação clínica mais comum do abortamento é o sangramento
genital. No abortamento espontâneo o sangramento é acompanhado de dor em cólica,
decorrente das contrações uterinas que aumentam de intensidade progressivamente
para levar à eliminação espontânea total ou parcial do “produto” gestacional. Este
processo é desencadeado devido ao não desenvolvimento da gravidez (gestação não
evolutiva ou inviável). Atualmente, devido ao advento da ultrassonografia e da sua
progressiva melhora de qualidade, muitas gestações podem ser diagnosticadas como
inviáveis muito precocemente, antes do aparecimento do sangramento. À
ultrassonografia, a gravidez não evolutiva é caracterizada por cavidade uterina com
saco gestacional vazio ou anembrionado (sem presença do embrião), e gravidezes
com embrião ou feto sem atividade cardíaca. Por vezes, em um primeiro exame
ultrassonográfico é visto o batimento cardíaco fetal e, posteriormente, constata-se o
óbito embrionário ou fetal.
Quando há retenção da gravidez por período superior a 30 dias após a morte
do feto/embrião, temos o diagnóstico de abortamento retido. 19
Quando, por meio da ultrassonografia, é diagnosticada gravidez não evolutiva,
uma das condutas é a expectante na qual espera-se o início natural e espontâneo do
processo de eliminação do embrião/feto (ocorre em 80% dos casos). Quando o
abortamento não se inicia espontaneamente em 30 dias, há maior chance dele ser
incompleto, quando vir a ocorrer. Então, recomenda-se que, após este período, ou em
alguns serviços após 15 dias, seja realizado procedimento cirúrgico, a curetagem
uterina ou AMIU (aspiração manual intrauterina), para retirada dos produtos da
gravidez. Outro tratamento possível é o uso do medicamento misoprostol, que provoca
contrações uterinas para expulsão da gravidez não evolutiva. Não havendo urgência
5

nas situações (sinais de infecção, suspeita de mola hidatiforme, etc.), a mulher pode
optar pelo que considerar melhor. A intervenção cirúrgica pode ocorrer de imediato
quando houver necessidade de prevenir possíveis complicações maternas, como
hemorragia, infecção, choque hipovolêmico e até mesmo o óbito.20
Em pesquisas recentes, realizadas no Brasil com mulheres em idade fértil, e de
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrem no mundo
aproximadamente 73,3 milhões de abortos a cada ano, sendo que 55% são
considerados abortamentos espontâneos.6,20,21
Um estudo feito com mulheres em atendimento pós-aborto, em seis países
latino-americanos, incluído o Brasil, concluiu que 3 em cada 4 mulheres apresentavam
ansiedade e estresse durante a internação; 12,5% afirmaram não ter recebido
explicações sobre autocuidado, e 12,8% relataram não terem tido acesso sobre seus
exames e orientações sobre o tratamento.20
A saúde mental das mulheres após abortamento espontâneo pode ser
influenciada e comprometida por fatores pessoais tais como fatores
sociodemográficos e contextuais como ausência de filhos, idade materna avançada,
histórico de abortamento, falta de apoio familiar e profissional.22
Cerca de 25% dos abortos espontâneos poderiam ser evitáveis se os fatores
de risco pudessem ser reduzidos. Os prejuízos emocionais e psicológicos causados,
e a ocorrência do risco de morte em decorrência de complicações poderiam ser
minimizados, diminuindo o custo elevado para os cofres públicos, que geram o
problema de Saúde Pública.8

3.2 Perdas gestacionais

Quando uma mulher engravida ela vive um momento de poder e plenitude, ao


mesmo tempo que se sente frágil e ansiosa. O sentimento de onipotência pode trazer
um efeito traumático quando algo não vai bem. Ao falar de perda precoce da gravidez,
embora seja considerada menos sofrida, pode desencadear, em qualquer idade
gestacional, uma reação significativa de luto e despertar sentimentos de tristeza e
angústia, levando-se em consideração o significado da gravidez e sua perda.23-25
Acredita-se que a falta de relatos de tais perdas se dê pela não validação da
mulher e da sociedade que não valoriza e escuta sua dor. Longe de ser um tema que
6

tenha sua abertura em rodas sociais, acaba caindo no esquecimento das pessoas,
embora dificilmente seja esquecido, tendo seu prolongamento e complicações na
elaboração da perda sofrida.26,27
Nos casos de luto perinatal, a confusão entre o que algumas mães vivenciam
como sendo a perda de um filho e o que o entorno é capaz de reconhecer como a
perda de um dejeto, é considerado como estando fora da realidade, pois são elas que
veem primeiro o sujeito onde ainda não há. O que se aponta aqui é que a ilusão que
antecipa o sujeito deve ser pensada tanto em relação dos pais para o bebê, quanto
da cultura que confere a cada bebê o lugar de sujeito ou não, antes mesmo de sua
concepção.9,28
Mulheres que já sabiam da gestação e já se cuidavam lidaram com mais
angústia e sofrimento do que as que desconheciam sua condição. Um investimento
na gestação já havia se instaurado, pois ver imagens na ultrassonografia e ouvir
batimentos cardíacos favoreciam o vínculo dela com o suposto bebê, assim, o que se
perde não são restos ovulares ou concepto, mas um filho que já passou a existir no
imaginário dela. 26,29,30
A forma como cada mulher vivencia a situação pode ser remetido a outros
eventos de perdas já vividas em suas vidas, indo de encontro com o conceito de apego
desenvolvido por Bowlby podendo ser ele seguro ou inseguro. 29,30
Quando, inesperadamente, ocorre o aborto espontâneo, fazendo uma quebra
na sensação de onipotência gerada pela gravidez, há uma tendência a culparem-se
pela perda da gestação. A ruptura abrupta do processo e o grau de investimento na
função materna aponta para aspectos relacionados à ferida narcísica na qual se dá
na reorganização da identidade feminina passando a se ver como estragada e ruim,
sentindo-se vazia e inadequada.27
Nessa interrupção, interrompe-se uma mãe: a mulher que não se torna mãe, o
bebê tão esperado que não vem, o ciclo gravídico puerperal que não se completa. A
mulher passa por transformações, nas relações com o mundo e com a própria
identidade, mas fica impedida de vivê-la devido à sua ruptura. A dor vivida pela
interrupção é sentida não só no físico, mas também na alma por atingir o sentido da
maternidade.30
Na atualidade tem-se evitado questões relativas à morte a fim de evitar a
angústia, negando o sofrimento evidenciado na perda gestacional. Trata-se de um luto
insólito, uma vez que suas características são incomuns, tornando incompreensível e
7

irreconhecível pelo seu entorno, pois há algo nessa perda onde não se vislumbra o
que foi perdido e o contato com essa perda acaba sendo relegado. Assim, quando
uma mulher passa por essa vivência, há que se considerar seu psiquismo, pois a
reação a essa perda é sentida como perturbadora.9,26
Quando a sociedade não enxerga o lugar que o filho perdido ocupa no
psiquismo da mãe, não tendo algo concreto para se chorar, como nos rituais de perda
de entes queridos, há uma tendência a negar a perda dificultando o trabalho interno
que necessita de tempo e validação social para sua elaboração. Coloca-se, assim, em
dúvida o sentido de realidade e sustentação de si, favorecendo a ocorrência de
traumas que são colocados quando se impõe uma percepção diferente daquela que
é sentida: a importância da perda sofrida.9,25
A ausência de sinais e recordações que marquem a presença da maternidade
parece constituir fator complicador no processo de luto. A perda negada socialmente
coloca a fantasia do que poderia ter sido e não será. Se sua existência é negada, o
sentido da dor também o é.25,27
A interrupção da gestação, então, é indesejável para qualquer um e o impacto
direto no caso da maternidade interrompida não pode ser calculado, pois não se trata
somente da mãe, mas de avós, tios, toda rede social em si.23
Quando a mulher pode contar com o apoio da rede social em que está inserida,
ela pode construir significados da experiência vivida mesmo que o processo tenha
sido doloroso, permitindo a ressignificação dos propósitos de vida. E quando a
mulher/mãe não compartilha sua história, ela deixa de ganhar o reconhecimento de
algo que viveu e pode contar/ouvir relatos que mostram que é possível sobreviver a
essa dor.31
O entrave encontrado é que a maioria das pessoas não sabe lidar com as
vivências da perda gestacional seja família, o parceiro e os profissionais de saúde por
não considerar como perda, não validando a situação como um luto. Há mulheres que
embarcam neste olhar, negando seu sofrimento e a marca que esta perda lhe traz.26
Quando a mulher identifica sua perda e a enfrenta, em condições normais,
possivelmente não precisará de intervenção para lidar com seus sentimentos.32
Após perder algo valorizado, seja uma pessoa ou um ideal, o indivíduo passa
por uma crise e se desorganiza33 e, dependendo do cuidado e tratamento dado, o luto
vivido na perda encontra sustentação nos próprios recursos se dando de forma
saudável.34
8

Quando a mulher aceita a perda e pode se reorganizar sem se desvincular


totalmente da figura de apego, descobrindo novas formas de se vincular
simbolicamente com o objeto perdido, considera-se que o processo de luto é bem
vivido integrando-a à nova realidade13. Essa é a resolução psicológica ideal para
perda da figura de apego.34
Alguns fatores devem ser considerados tais como o vínculo criado com aquele
bebê e o que antecedeu a ele, qual a personalidade de quem perdeu, as variáveis
sociais e os fatores de estresses simultâneos, necessitando de ajustamentos externos
e internos, bem como de que forma pretende enfrentar a vida.30,35
O estilo de apego aponta para cuidados mais precisos, possibilitando investigar
o que mudou em sua vida e qual o peso dessa mudança, sendo um importante
indicador para o profissional de saúde.34
Mostrar a importância de se estabelecer e manter o vínculo permitirá ao
indivíduo se desenvolver e enfrentar os desafios que a vida lhe proporcionará,
entendendo que é possível se adaptar e aprender com a experiência e construir novos
significados34,36.
A construção de um modelo operativo interno, proporcionado pelo apego
seguro vivido na primeira infância, possibilita que ela use seus próprios recursos e
reorganize-se diante das experiências, sem que precise se isolar do seu entorno.34
Na vida nos relacionamos e registramos experiências vividas, e quando
perdemos alguém significativo não há como passar ileso às marcas que essa
separação nos traz. A história da perda começa quando se constroem os vínculos e é
sentida de forma individual, dependendo muito de seu contexto.34,37
O modelo operativo interno e o estilo de apego desenvolvido nas primeiras
relações parentais interferem na forma de lidar com a perda, assim quando o apego é
seguro constrói sua autopercepção como sendo boa, digna, competente e amada.
Seus cuidadores, ou mesmo as figuras de apego, respondem apropriadamente às
suas necessidades, sendo sensíveis, carinhosos e dignos de confiança.34
Tendo vivido um apego seguro, a mulher no abortamento torna-se mais
capacitada a enfrentar as adversidades e rupturas advindas dessa perda, sem
desestruturar-se37, diferindo quando o apego se constrói de forma insegura, estando
mais propensa a viver o luto complicado.34
De acordo com a teoria de apego, na perda há um processo no qual o indivíduo
precisa reconhecer e aceitar a realidade e experimentar o que decorre dela 36. As
9

mudanças psicológicas oriundas da perda afetam a visão de mundo e requerem


adaptação e uma ressignificação para dar continuidade aos projetos de vida.34
Sendo assim, é possível compreender a ligação dos apegos com os transtornos
mentais, pois se os cuidados que chegam forem insatisfatórios e de pouca qualidade
poderão trazer um maior risco para o desenvolvimento de transtornos
psiquiátricos.30,39
O luto, quando da morte de um “bebê” que já existia no imaginário da mulher e
que não se tornará real, necessitará de um processo de ajustamento psicológico e até
familiar12 já que um misto de sentimentos como tristeza, raiva, culpa, ansiedade,
solidão, alívio e desamparo podem se fazer presentes. Após passar pela perda, a
mulher pode vivenciar preocupações, confusão mental, isolamento social, choro
excessivo, entre outros.32,35,39
Quando a perda é repentina e inesperada, como acontece com o abortamento,
torna-se mais difícil a adaptação e, dependendo de como a mulher vai lidar com a
situação e da forma como for cuidada, pode desenvolver um luto prolongado.10
Na perda perinatal o sofrimento e o luto vivenciado podem ser comprometidos
pelo histórico de vida da mulher como no caso de abortamentos recorrentes, ausência
de filhos e infertilidade, sendo os recursos encontrados interna e externamente, como
a não validação da perda, a culpa ou autocensura sentida, a falta de memórias para
compartilhar, podendo prolongar-se por mais tempo do que o desejado.10,18
Profissionais de saúde tendem a não ver a mulher no seu processo e o discurso
nas instituições de saúde entendem o abortamento como algo onde não se visualiza
o sujeito9,28. Desta forma, há situações que precisam ser exploradas e colocadas num
contexto sociocultural para compreender os significados e simbolismos, como perder
o senso de pertencimento e não se incluir mais no lugar da maternidade.34
Quando a mulher não tem seu reconhecimento na perda, não tem a permissão
de expressá-los, as relações ficam impossibilitadas de serem empáticas e próximas,
permitindo que ela venha a se isolar intensificando reações emocionais como raiva,
culpa, tristeza, depressão, solidão, desesperança e confusão, que, apesar de serem
esperadas, mostram-se mais intensas, duradouras e disfuncionais, potencializando
complicações e favorecendo crises conjugais, financeiras, afetando a dinâmica de
todos à sua volta.26,33
Considerando que o isolamento social é um comportamento de risco para a
saúde mental ao não se reconhecer, viver e expressar seu sofrimento, a mulher pode
10

ter complicações na vivência de sua perda, comprometendo sua autoestima,


potencializando sensação de fracasso e inadequação.26,34
As mulheres buscam o serviço de saúde de várias maneiras, podendo, nessa
procura, deparar-se com a notícia inesperada de que necessitará de um cuidado e
apoio. São cenários que podem ser devastadores para elas 40, ainda mais quando o
atendimento prestado a elas afeta diretamente em como elas se sentem em relação
ao abortamento.39
A similaridade entre os indivíduos faz com que se perceba que nem todos
precisarão de atenção profissional, considerando os fatores protetivos como estilo de
apego, um bom suporte psicossocial entre outros.30,41
Atualmente, relações têm sido construídas nas redes sociais que, com a
pandemia, consolidaram-se como uma forma de lidar com o processo vivido no
abortamento e no luto, permitindo a essas mulheres encontrar apoio e
reconhecimento, possibilitando a construção de significados, uma vez que ao buscar
esses grupos, enfrentam a realidade.33,34
Todos que já tiveram perdas na vida, já se sentiram desautorizados a expressar
sua dor num momento de luto. Sem essa validação surgem atitudes de não
reconhecimento, desconsideração, desprezo, desaprovação, desencorajamento e
deslegitimação.33
As reações de luto e o reconhecimento da perda sofrem influência da cultura,
da sociedade e suas regras, e a forma de viver a experiência é carregada e moldada
por expectativas sociais. Reconhecer representa admitir como real e verdadeiro.42
Dependendo do que a sociedade estabelece: quando, onde e porquê as perdas são
significativas, podemos ser autorizados a sentir, o que não ocorre no que se refere à
perda gestacional35. Algumas perdas não são consideradas, mas pode acontecer de
serem desconhecidas pela própria pessoa ou, por defesa, para proteger do que elas
provocam.33
A ligação com o objeto, dependendo do estilo de apego, pode tornar o indivíduo
vulnerável para o desenvolvimento de um luto prolongado, bem como para o
desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão, considerando o
enfrentamento de um luto não reconhecido.34,35
Grande parte dos profissionais da saúde recebem treinamentos para cuidar de
seus pacientes, mas a maioria deles não foi treinada para lidar com a morte. Apesar
de se falar muito da humanização, da assistência ao parto, apoio a familiares e
11

pacientes com doenças terminais, pouco se fala sobre os cuidados na perda


gestacional. Não considerando o início da gestação como se tratando de um bebê,
não entendem como a notícia do abortamento pode impactar tanto as mulheres que
descobriram a gestação recentemente.31,39,43,44
Há dificuldade em reconhecer que para a mulher esse bebê já faz parte dela
desde a concepção, iniciando com a experiência obtida através da descoberta da
gravidez33. Os profissionais de saúde, em sua maioria, entendem a relação de apego
somente quando o bebê nasce, tornando esse conceito ainda mais complexo15,28.
Dessa forma, esses profissionais precisam ser preparados para lidar com tais
situações sem se perderem ou se blindarem daquilo que lhes toca.
Para entender um pouco dessa complexidade, a forma como é visto pelos
profissionais da obstetrícia, o abortamento é como um caminho da natureza, sendo
fetos defeituosos que são eliminados, poupando uma dor maior para a mãe de ter
filhos excepcionais. Assim, esse profissional inclina-se a desvalorizar sua dor, não a
legitimando. Ao ouvir algumas falas é como se a mulher tivesse que ser grata pelo
acontecido e, não raro, ela ainda tem que ser lembrada de sua perda quando, após a
curetagem, é colocada para recuperação ao lado de uma puérpera e seu bebê.27,28
Existe uma divergência entre o apoio que as mulheres desejam com os
cuidados que recebem dos profissionais. Muitas delas não recebem informações
sobre o abortamento, nem apoio ou acompanhamento emocional neste momento da
perda45,46. A falta de conhecimento sobre o impacto físico, emocional e social, neste
período, faz com que muitas vezes intensifique-se a dor de quem já está em uma
situação bem vulnerável.
É importante que a equipe médica reconheça a perda sofrida como sendo
significativa e não tentem mascarar ou minimizá-la com um olhar otimista no futuro e
na possibilidade de futuras gestações10. O processo de ajuda pode se dar pela
comunicação sensível e empática, e que estejam cientes de que a família necessita
de um acompanhamento especializado.45
12

4 PACIENTES E MÉTODOS

4.1 Desenho do estudo

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e exploratório, que adotou a Teoria


do Apego e a Análise de Conteúdo de Bardin como referenciais teórico e
metodológico, respectivamente.

4.2 População e amostra

O estudo integra uma pesquisa maior de abordagem quantitativa e qualitativa


acerca do impacto do tipo de tratamento da perda gestacional espontânea precoce na
saúde mental e na percepção das mulheres em situação de perda gestacional
espontânea precoce. A pesquisa foi realizada com mulheres atendidas no Ambulatório
de Gestação Inicial (AGI) da HSP-HU-UNIFESP, após diagnóstico de gestação não
evolutiva pela ultrassonografia e/ou quadro clínico, com ou sem sangramento vaginal,
até 12 semanas de idade gestacional. Todas as mulheres, elegíveis, atendidas no
período de dezembro de 2019 a abril de 2021 foram convidadas a integrar a pesquisa.
Não foram incluídas mulheres com idade <18 anos, em tratamento psiquiátrico, e que
não apresentassem domínio da língua portuguesa.
O AGI atende mulheres provenientes do pronto-socorro de ginecologia e
obstetrícia do HSP-HU-UNIFESP. A média de atendimentos do ambulatório era de
cinco a 10 mulheres/semana até o início de 2020, antes da pandemia por Covid-19.
Criado em 2015, o serviço visa sistematizar o atendimento das gestantes com
sangramento e/ou cólica no primeiro trimestre, em um setor específico, favorecendo
uma melhor assistência, incluindo os aspectos físicos e emocionais. Além disso,
permite conhecer e registrar os desfechos de cada paciente, possibilitando a
realização de trabalhos científicos e, consequentemente, melhoria na assistência às
pacientes. A equipe conta com médicos obstetras e ultrassonografistas, além de uma
psicóloga voluntária supervisionada por docente psicóloga da Escola Paulista de
Enfermagem (EPE-UNIFESP).
O Protocolo de atendimento das gestantes em abortamento no primeiro
trimestre (Figura 1), prevê que as mulheres apresentem eliminação completa
13

espontânea da gravidez, sem necessidade de esvaziamento uterino cirúrgico, ou


sejam submetidas a tratamento cirúrgico segundo indicação médica ou manifestação
de desejo próprio.

Fonte: Elaborado pela autora.


Figura 1. Protocolo de atendimento das gestantes com abortamento

A amostra estabelecida com 30 mulheres, e inicialmente pensada pela


saturação teórica, se deu por conveniência visto que, no decorrer do estudo, a
pandemia Covid-19 interrompeu os atendimentos por um período de 8 semanas,
sendo contactadas as pacientes via telefone, após o qual o número de consultas se
apresentou reduzido. As mulheres, pelo isolamento social e ou medo de se
contaminar, deixaram de comparecer ao serviço após o aborto para finalizar o
seguimento como fariam habitualmente.

4.3 Instrumentos para coleta de dados

A coleta teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. As


mulheres elegíveis foram convidadas a participar do estudo enquanto aguardavam
atendimento na sala de espera do ambulatório. Aquelas que aceitaram, preencheram
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias,
uma retida pela pesquisadora e outra entregue para a investigada (Anexo 1).
Os dados foram coletados entre 30 e 45 dias após a resolução do abortamento,
e o encontro com as investigadas teve duração média de 30-50 minutos. A
pesquisadora principal (psicóloga), ou uma graduanda de medicina ou uma enfermeira
14

por esta previamente treinada, coletava as características sociodemográficas e as


variáveis clínicas do abortamento por meio de formulário desenvolvido
especificamente para o estudo (Anexo 2).
Variáveis do estudo:
Sociodemográficas: Idade: em anos completos; Cor: auto referida; Escolaridade:
refere-se ao último nível escolar frequentado ou em curso categorizada como
Analfabeta, Ensino Fundamental incompleto/completo, Ensino Médio
incompleto/completo ou Ensino Superior incompleto/completo; Situação conjugal
estável: refere-se à situação marital da mulher, categorizada em com companheiro ou
sem companheiro; Profissão: refere-se à ocupação da mulher, categorizada em nível
técnico, médio, superior ou do lar.
Características obstétricas: Gestação: classificada em número de gestação;
Paridade: classificada em número de partos; Abortamento: classificada em número de
abortamentos; Data da última menstruação (DUM): refere-se a data em dia, mês e
ano do primeiro dia da última menstruação antes da concepção. Na gestação atual:
Sangramento: classificada em sim ou não; Ultrassonografia (USG): registrada a data
e classificação sendo Gravidez anembrionada, Morte embrionária (embrião >5mm, até
8 semanas, sem atividade cardíaca na ultrassonografia – concepto nunca apresentou
atividade cardíaca), Morte do concepto (houve documentação de atividade cardíaca
do concepto em exame anterior, mas no exame atual observou-se parada da atividade
cardíaca) ou Imagem de restos ovulares. Manejo do abortamento: classificado em
Tratamento expectante evoluindo com abortamento espontâneo completo,
Tratamento cirúrgico imediato, Tratamento cirúrgico tardio (até 15 dias do diagnóstico,
decorrente da não eliminação espontânea da gravidez) ou Espontâneo completo
imediato.
Percepção da mulher acerca do abortamento: Recebeu informação acerca dos
prós e contras de cada método para tratamento do seu aborto: classificado em sim ou
não; Escolheu o método de tratamento desejado: classificado em sim ou não; Sentiu-
se segura com o método realizado: classificado em sim ou não; Durante a internação
ficou no quarto com: classificada em sozinha, com uma gestante, com mulheres que
tinham tido bebê ou com mulheres com bebê.
Na sequência, em espaço privado, era realizada a entrevista semidirigida que
buscava explorar o processo de abortamento por meio da pergunta central “Conte-me
como foi para você vivenciar um aborto?” (Anexo 3). Perguntas complementares,
15

abertas e subjetivas, foram realizadas visando abordar aspectos como: a história da


gestação atual, recebimento da notícia da perda, sentimentos e emoções frente ao
processo de abortamento, sua compreensão sobre o manejo da resolução do
abortamento, apoio recebido nesse período, como ela estava se sentindo no momento
atual em relação à experiência vivida (após os dias da perda), dentre outros aspectos
que surgiram no decorrer da entrevista.
As entrevistas foram gravadas em aparelho smartphone destinado
exclusivamente para o estudo. Após a transcrição, o áudio foi apagado do aparelho e
os arquivos de voz, bem como sua transcrição integral, foram salvos na plataforma
Google Drive em pasta protegida por senha. Somente a pesquisadora e suas
orientadoras tinham acesso a senha personalizada.
Após a transcrição, a análise dos dados qualitativos seguiu as etapas
preconizadas pela Análise de Conteúdo de Bardin47:
Pré-análise: primeira aproximação do pesquisador com o material selecionado
buscando, por meio da leitura flutuante e integral do texto, buscando identificar pistas
e ideias iniciais que possibilitem formar hipóteses e indicadores que nortearão a
interpretação final. Nesta fase, apesar da análise não apresentar uma organização
sistemática dos dados, deve atender aos seguintes critérios: exaustividade (esgotar a
totalidade da comunicação), representatividade (representação do contexto/universo
pesquisado), homogeneidade (os dados se referirem ao mesmo tema) e pertinência
(material condizente com os objetivos do estudo).
Exploração do material: o investigador procede a codificação do material e a
definição de categorias de análise (classificação de elementos constitutivos de um
conjunto por grau de intimidade, proximidade ou diferenciação, ou seja, classes que
reúnem um grupo de elementos sob grandes enunciados ou título genérico) e a
identificação das unidades de registro (corresponde ao segmento de conteúdo, temas,
palavras ou frases) e das unidades de contexto nos documentos (unidade de
compreensão para codificar a unidade de registro que corresponde ao segmento da
mensagem). Na definição das categorias, o pesquisador deve estar atento ao critério
de exclusividade, garantindo que um elemento não seja classificado em mais de uma
categoria.
Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: nesta fase acontece a
condensação, a síntese e seleção dos resultados analisados, culminando nas
16

interpretações inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica com


fins teóricos ou pragmáticos.47
A Teoria de Apego, referencial metodológico baseado em Bowlby36, discorre
sobre a teoria do apego observando os vínculos estabelecidos entre mães (cuidador
primário) e seus bebês. Ele queria entender as razões das mães se vincularem e suas
reações diante da separação dos seus bebês. Percebeu as reações dessa separação
e nomeou como luto uma sequência de comportamentos.
A ideia básica das teorias de apego entende o apego como um processo que
ocorre para estabelecer um vínculo entre pai e filho, e a representação com o filho
pode ser iniciado antes do contato inicial com o bebê real. Ele consiste em um conjunto
complexo de eventos que incluem não só os concretos, mas, também, a preparação
e adaptação à gravidez, onde se inicia esse relacionamento.
Para Bowlby36 o comportamento de apego seria uma proteção e teria um papel
decisivo para a sobrevivência. Dentre suas finalidades teriam a manutenção do apego
por meio do sorriso, do toque, da sucção e de recuperar o apego através do choro e
da procura. Ele dura por toda a vida, mas quando o bebê cresce é dirigido a outras
figuras para além da mãe e é ativado em situações de perigo e medo.
A partir do momento que se formam os vínculos, que ocorrem nos primeiros 18
meses de vida, modelos operativos internos são construídos, expressados nas suas
ações com a pessoa vinculada. Esses modelos afetam a forma como a criança vai
interpretar os acontecimentos, perceber seu entorno e guardar informações. Através
desses modelos que a criança terá a imagem das pessoas e se considera alguém que
responde às suas necessidades e sua autoimagem. Quando adulta, a forma como ela
se vincula a outras pessoas será influenciada por essas primeiras relações.
A vinculação do bebê com figuras significativas tem um papel de extrema
importância no desenvolvimento social das crianças, bem como nos relacionamentos
futuros que serão construídos, assim a formação, manutenção e rompimento dos
vínculos são considerados as mais intensas experiências que o ser humano vive ao
longo de sua vida.48
As características iniciais do bebê podem influenciar como a mãe cuida dele,
da mesma forma que a mãe do seu jeito de cuidar influenciará na relação com o bebê.
A interação da mãe, por não ser só inata, traz uma complexidade na relação por ter
também influência de uma história de relações interpessoais e a cultura em que está
inserida.48
17

Segundo a Teoria do Apego36, o bebê teria condições de procurar seus pais em


momentos de ameaça e estresse, pois os comportamentos de apego têm como meta
buscar a segurança e a manutenção desta, o que geralmente é proporcionado pela
proximidade com a figura materna.
A qualidade da interação entre mãe e bebê influencia diretamente no
desenvolvimento de uma base segura de apoio que resulta no desenvolvimento de
maior autonomia e independência da criança, favorecendo a confiança em si mesma
e no mundo. Assim, indivíduos que desenvolveram o apego seguro quando em
situações de desamparo e separação como, por exemplo, morte, abandono e a perda
gestacional, tendem a ativar o sistema de apego fazendo com que busquem nas
figuras de vinculação a garantia de sua capacidade de reorganização interna e
recursos de enfrentamento.34
Pais ansiosos, ambivalentes e ou com dificuldade de expressar sentimentos e
manter uma proximidade tendem a criar filhos inseguros, que percebem o meio
ambiente como ameaçador e apresentam dificuldade em encontrar na experiência nas
relações iniciais com as figuras de vinculação, modelos de recursos internos que
permitam o acolhimento de suas angústias. Assim, pessoas que vivenciaram apegos
ansiosos, evitativos ou desorganizados, tendem a apresentar dificuldade de enfrentar
as adversidades da vida e comportamentos de distanciamento afetivo.34
As perdas gestacionais, em especial nos casos de abortamento precoce, são
vividas de forma muito particular pelos envolvidos, visto que resultam no rompimento
do laço estabelecido entre a mulher e a representação de seu bebê, e demandam
tempo e modificações internas para a realização do trabalho psíquico que se mostra
intenso, sofrido e inevitável49. O não reconhecimento dessas perdas pela sociedade
resultam na invalidação da experiência vivida pelas mulheres e, consequentemente,
na dificuldade de elaboração do sofrimento e do luto a ser realizado.13
A intensidade da vinculação da mulher com o bebê imaginário, decorre de um
processo da adaptação a gravidez, fantasias e expectativas de como seria a presença
deste em sua vida e das mudanças a serem experimentadas a partir daí. O grau de
vinculação com o bebê está relacionado com a qualidade da constituição e do tipo de
vinculação da mulher com suas figuras parentais, primitivas49 e podem afetar as
respostas ao luto.
O processo de luto é vivido de maneira salutar quando o enlutado pode se
reorganizar diante da perda sem precisar se desvincular totalmente de sua figura de
18

apego, nesse caso o bebê, destacando que essa reorganização necessita da


aceitação da perda e uma nova forma de se vincular simbolicamente com o objeto
perdido, integrando-o à nova realidade34 . Para que o enlutado possa reassumir suas
atividades anteriores, retomar sua vida e seus relacionamentos, terá que passar por
um processo interno que exigirá de si. E ele só conseguirá fazer isso com sucesso se
for bem assistido no início da vida com um apego seguro.13

4.4 Aspectos éticos

O estudo em questão foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP,


obedecendo à Resolução Normativa 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, que
aprova as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres
humanos, sendo aprovado sob o número 27784819.9.0000.5505. Todas as
participantes preencheram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido no início da coleta dos dados, bem como foram informadas das
características do estudo e preservação do sigilo das informações.
19

5 RESULTADOS

Fizeram parte do estudo 30 mulheres com idade média de 32 anos, 49% com
ensino fundamental e quase a totalidade com parceiro estável no momento da
pesquisa, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Características sociodemográficas. São Paulo, 2021.

Código Idade Escolaridade Cor Profissão Situação conjugal


E1 27 Fundamental I Branca Ajudante geral com parceiro
E2 36 Fundamental II Branca Gerente administrativo com parceiro
E3 33 Ensino médio Parda Enfermeira com parceiro

E4 43 Graduação Branca Bibliotecária com parceiro


E5 42 Fundamental II Branca Cabeleireira com parceiro

E6 22 Fundamental II Branca Consultora jurídica com parceiro


E7 30 Ensino médio Branca Professora sem parceiro
E8 24 não informado Parda Não declarada com parceiro
E9 29 Fundamental I Parda Não declarada com parceiro
E10 32 Fundamental II Parda Do lar com parceiro
E11 37 Fundamental I Negra Faxineira com parceiro
E12 25 Fundamental II Branca Não declarada sem parceiro
E13 34 Ensino médio Branca Do lar com parceiro
E14 41 Graduação Parda Advogada com parceiro
E15 42 Fundamental I Negra Doméstica com parceiro
E16 33 Ensino médio Negra Professora com parceiro
E17 29 Não declarada Branca Não declarada com parceiro
E18 35 Fundamental II Branca Vendedora com parceiro
E19 43 Fundamental II Parda Cozinheira com parceiro
E20 27 Ensino médio Branca Estilista com parceiro
E21 27 Fundamental II Negra Não declarada com parceiro
E22 38 Ensino médio Negra Babá com parceiro
E23 34 Fundamental I Parda Doméstica com parceiro
E24 42 Fundamental I Branca Doméstica com parceiro
E25 21 Fundamental II Negra Auxiliar administrativa com parceiro
E26 38 Não declarada Branca Não declarada com parceiro
E27 18 Fundamental I Branca Do lar com parceiro
E28 27 Fundamental I Branca Auxiliar de vendas com parceiro
E29 23 Ensino médio Branca Gerente de loja com parceiro
E30 42 Fundamental I Branca Não declarada com parceiro
Fonte: Elaborado pela autora.

No que se refere às características obstétricas e do aborto atual, conforme


apresentado no Quadro 2, 76% das entrevistadas eram multíparas e destas 87% não
20

apresentavam história de aborto anterior. A falência gestacional aconteceu em média


com 8 semanas e 66% foram submetidas ao manejo cirúrgico. No que se refere ao
método de manejo adotado, 70% das mulheres afirmaram terem sido esclarecidas
acerca dos tipos de tratamento possível, 63% não escolheram o método e 66%
afirmaram sentirem-se seguras com o tratamento adotado. Dentre as mulheres
submetidas à internação hospitalar, 59% compartilharam o quarto com outra paciente
na mesma situação de perda.

Quadro 2. Características obstétricas e do aborto atual. São Paulo, 2021.


explic
Sema esco segur
gestaç perda classificaç ação
nas sangra lha ança Tipo
Cód ões s ão da man sobre
de mento do do Intern
igo anteri anteri ultrassono ejo os
gesta (dias) mét métod ação
ores ores grafia métod
ção odo o
os
sem
E1 5 0 11 7 D B Sim Não Sim
registro
E2 2 0 9 1 A B Sim Não Sim D
E3 4 1 6 6 B B Sim Sim Sim D
E4 9 8 6 2 D C Sim Não Sim D
E5 4 1 7 7 B C Não Não Não B
E6 2 1 9 7 D B Sim Sim Sim D
sem
E7 1 0 8 0 B C Sim Sim Sim
registro
não se
E8 2 0 7 20 D A Não Não não
aplica
não se
E9 2 0 8 10 E A Não Não Não
aplica
E10 2 0 5 15 A C Sim Não Não D
E11 4 0 11 3 D C Sim Não Não D
E12 1 0 9 2 D B Sim Não Sim D
não se
E13 4 1 11 6 A A Não Não Não
aplica
não se
E14 1 0 11 10 A A Sim Sim Não
aplica
não se
E15 4 0 10 5 B A Sim Não Não
aplica
E16 5 1 7 1 D C Sim Sim Sim A
não se
E17 1 0 8 5 A A Não Não Não
aplica
E18 3 0 9 7 B B Sim Sim Sim D
E19 2 0 8 0 B C Sim Não Sim E
não se
E20 3 1 7 0 B A Sim Sim Sim
aplica
não se
E21 4 1 8 1 D A Sim Sim Sim
aplica
21

E22 5 1 8 1 D B Não Não Sim C


E23 5 0 8 5 D B Sim Não Sim D
não se
E24 1 0 9 3 A A Não Não Sim
aplica
não se
E25 1 0 6 2 B A Não Não Sim
aplica
sem
E26 2 0 6 0 C C Sim Não Sim
registro
E27 2 1 7 4 D C Sim Sim Sim E
E28 3 0 9 10 D B Sim Sim Sim A
E29 1 0 11 5 B C Não Não Sim D
E30 4 0 6 0 B C Sim Não Não C
Fonte: Elaborado pela autora.

A análise dos dados desvelou quatro categorias: Descoberta da gestação,


Perda, Apoio e Vida após a perda. A categoria Perda, contou com duas subcategorias:
Confirmação da perda e Resolução do abortamento.

Categoria 1: Descoberta da gestação

A maternidade é um sonho para algumas mulheres e seu planejamento parece


incluir o período mais adequado para engravidar e a época certa de suspender os
métodos contraceptivos. Contudo, a gestação pode não acontecer conforme o
esperado, pode surpreender, ou seja, acontecer antes ou demorar um pouco mais do
que o almejado pela mulher, pelo casal ou mesmo pela família de origem, que não
raramente passa a cobrar a presença de um novo membro.

Nós estávamos tentando já fazia um ano. E simplesmente a gente não


conseguia (...) (E1)

Não foi uma gravidez planejada, mas eu sempre tive o sonho de ser mãe.
(E7)

Minha família já estava “tanto tempo já né, já tava na hora”. (E1)

(…) Fiz o teste achando que não estaria. Eu estava tentando engravidar, tinha
parado de tomar o anticoncepcional tinha um mês... que tinha parado de
tomar anticoncepcional, não achei que seria tão rápido, engravidei e fiz o
teste. (E26)

Quando já existe outro(s) filho(s), o desejo de aumentar a família é justificado


pelo querer do(s) irmão(s) ou pela vontade materna de que seu filho(a) possa ter um
companheiro dentro de casa. Novos relacionamentos conjugais também se mostram
22

como fonte de desejo para novas gestações, antes do encerramento da vida


reprodutiva dessa mulher.

Quando eu descobri eu queria ter também, um que eu e meu namorado já


somos quase casados e nós estávamos querendo ter outro. Já tenho uma de
12 anos já, então eu queria ter muito. (E1)

...Eu estava querendo, estava esperando minha menstruação parar de vir e


estar grávida. Meu filho pede muito.(E9)

...ficamos felizes porque eu tenho uma filha pequena e a gente queria ter mais
outra criança para fazer companhia para ela, para não crescer sozinha. E para
encerrar a fábrica, porque meu esposo já tem 2 filhas anteriores ao
casamento, então seriam 4 crianças, não daria mais.(E2)

A demora em conseguir engravidar é sentida, e temida, como uma


impossibilidade reprodutiva por algumas mulheres, que não raramente recorrem à
benção divina para lhes conceder a graça de poder ter um filho e ser mãe.

(…) Disse para o médico que eu queria muito, que se Deus quisesse e me
desse outro eu ia ser a mãe mais feliz porque eu estava doida pra ter outro
filho. (E1)

(...)não poderia engravidar (problema renal) então essa gravidez ela não foi
planejada aconteceu porque tinha que acontecer. (E31)

A percepção de que as coisas parecem estar diferentes, em especial as


emoções e a sensação de bem-estar físico, sugerem para a mulher e seu entorno,
parceiro(a), amigos e ou familiares, uma possível gestação. Sintomas como inchaço,
cólicas, mastalgia, sono, atraso menstrual e outros, aumentam a desconfiança de uma
possível gestação, principalmente entre as mulheres que já engravidaram
anteriormente. Nesse cenário a confirmação se faz necessária.

(…) Eu descobri porque estava passando mal. Passei muito mal. Igual na
minha primeira gravidez, eu passava muito mal, muito enjoo. Só que dessa
vez foi bem pior, só descobri por causa disso. E já estava atrasado também.
(E8)

_minha menstruação nunca atrasa. Por mais que eu não tomasse nada, ela
vinha com 30 dias certinho. E nesse mês ela começou a atrasar. Ela atrasou
na verdade acho que uns 6 dias só. Só que aí eu sentia as mesmas coisas
da primeira. Sentia o peito muito dolorido, aquela cólica que vinha como se
fosse descer e não descia. (E10)

_senti os seios mais duros (…) Falei para o meu marido que tinha alguma
coisa diferente. (E3)
_e quando atrasou (...) eu já fiquei meio assim, porque eu já estava passando
23

mal uns 15 dias (...)quando já estava perto de voltar pra trabalhar eu fui no
médico e aí descobri tudo. (E1)

Interessante notar que, no momento que a mulher relaciona os sintomas de


desconforto com a probabilidade gestacional, uma inquietação se instaura e a
necessidade da confirmação se faz urgente. O teste rápido, para a maioria delas, é
uma estratégia percebida como íntima, segura e eficaz de descobrir a gravidez.

(...) eu passei na farmácia (…)Aí quando chegou lá (academia) eu tava


enjoada, (...) mas nem passou pela minha cabeça que poderia ser gestação
(…) Fiz o teste no banheiro. Quando eu olhei tinha dado positivo. (E3)

(_.) minha menstruação eu achei que não estava atrasado né, mas aí
coloquei na cabeça e falei a melhor fazer um teste (...) porque pelas minhas
contas eu não tava tão atrasada mas que tava uns três quatro dias só que
minha menstruação sempre foi muito regrada. Fiz o teste de farmácia deu
positivo (E27)

(...) mas eu já sentia que estava grávida, eu me sentia diferente. (E14)

Quando a gestação ocorre num momento da vida interpretado pela mulher


como inadequado, é percebida como um entrave, um problema, uma notícia difícil de
ser aceita e digerida.

(...) ele também é comerciante, então a vida dele é mais louca que a minha.
Ele trabalha com celulares e tal, e ele também não esperava, ele já tem outros
filhos, mas foi tudo tipo… (E15)

Então, no início, eu fiquei um pouco assustada porque eu tenho 4 filhos né.


A gente queria ter o quinto filho, mas não assim agora. Queria esperar um
certo tempo até meu marido se estabelecer no trabalho dele. Até as coisas
acalmarem é… (E24)

Na dependência da expectativa e da emoção despertada pelo resultado do


teste rápido, algumas parecem incrédulas e buscam reafirmar reiteradas vezes, e de
diferentes maneiras, a confirmação dessa gravidez. Realizam novos testes, exames
de sangue, ultrassonografia e consultas médicas antes de anunciar a novidade para
a família.

Quando eu cheguei em casa eu olhava de novo o teste, aí eu peguei e falei


pro meu marido “olha, tenho uma coisa pra te falar, senta pra você não ficar
assustado”. Aí ele pegou eu olhou pra mim assim e falou “já sei” e ficou em
silêncio, não acreditou também. Eu me lembro que a gente foi se falar no
outro dia né, porque a ficha meio que não caiu. Aí no outro dia a gente
24

conversou.(E3)

(…) Bom, eu não planejei, a gente não planejou, eu não planejei. (...) percebi
que eu não estava conseguindo mais acompanhar as atividades, (...)percebi
que também mesmo não comendo muito na pandemia, tentando me manter,
eu estava engordando. E estava engordando muito. E aí, um dia que eu fui
trabalhar (...) percebi que as roupas estavam muito apertadas, e eu me dei
conta que estava com a menstruação atrasada (...) comprei os testes de
gravidez. Eu fiz 3 testes (risos). (...) O segundo deu positivo, e aí eu comprei
um terceiro que era para saber as semanas. (E15)

(…) Eu queria o exame de sangue (…). Ia ser uma notícia feliz para as duas
famílias. Então, eu queria falar para eles de alguma forma bonita, legal.
Montar alguma coisa e dar de presente para os dois avós. E eu queria ter
uma confirmação que não fosse só um palito, sabe. (E13)

A confirmação da gravidez desperta um misto de emoções nas mulheres, e a


ambivalência é expressa por meio de sentimentos de alegria, felicidade, tristeza,
ansiedade, medo, etc.

Quando eu descobri eu fiquei feliz, mas também fiquei assustada. Apesar de


eu já estar planejando, eu não achei que conseguiria engravidar tão rápido,
porque eu tomava remédio desde a última gestação, há 4 anos. (E17)

Assim que eu vi o teste eu entrei em pânico e comecei a chorar(...) no mesmo


momento que eu senti vontade de chorar de desespero e senti uma alegria,
mas assim veio pânico até pela primeira gestação que eu tive, primeiro
relacionamento porque assim eu sofri muito (...) (E27)

(...) foi um misto: uma felicidade assim na hora eu levei um susto depois aí
falei assim uma criança é sempre uma alegria é uma bênção (...) mas ao
mesmo tempo todas as informações do outro lado, seja idade, o problema de
saúde já tudo isso me assustava muito então foi um misto de sentimento
_(E31)

Apesar de surpresas e assustadas com a confirmação da gestação, algumas


mulheres se percebem felizes e atribuem um significado de renovação à nova fase.
Fazem planos e sonham com uma experiência diferente, acreditam ter a vida um novo
sentido, uma oportunidade de renascimento.

(...) foi muito legal assim, foi um momento muito bom e eu senti que a minha
vida tinha um novo sentido, um novo significado. (...) quando eu descobri que
eu estava grávida eu percebi que não eu tinha outras coisas que eu poderia
fazer, que eu poderia ser muito boa nisso. Eu tive uma educação muito boa
então eu sempre achei que conseguiria passar isso muito bem pra frente.
(E30)

Então quando veio a notícia que eu estava gestante, ali parece que eu
comecei a nascer de novo. (E7)

O planejamento para a chegada do bebê é feito, a gestação curtida, sonhos e


25

expectativas são criadas, mesmo que surjam algumas preocupações, sejam


financeiras, de saúde ou familiares, aposta-se no amor que surge pelo bebê que está
por vir.

“Ah vamos ter um filho agora” eu fiquei muito feliz, eu e meu esposo. Embora
tivéssemos algumas dificuldades financeiras, a felicidade era maior. Ficamos
bem felizes com a notícia da gestação. (E2)

_ eu já queria poder fazer uma ultra porque enfim... muito preocupada, eu


ficava muito preocupada se tudo bem porque eu queria muito. queria muito
mesmo. (E26)

O meu ver mas assim é eu fiquei com muito medo quando engravidei não só
pela minha saúde, pelo meu problema de saúde já pré-existente mas pela
criança porque o médico já tinha me orientado que isso poderia dá até algum
problema de saúde para criança ou então (...)perder mais para frente(...)(E31)

Então, no início, eu fiquei um pouco assustada porque eu tenho 4 filhos né.


A gente queria ter o quinto filho, mas não assim agora. Queria esperar um
certo tempo até meu marido se estabelecer no trabalho dele. Até as coisas
acalmarem é (… )(E24)

Medo, preocupação e ansiedade são sentimentos comuns na gestação. No


entanto, quando a mulher apresenta história prévia de intercorrência e ou perda
gestacional, a apreensão de um novo desfecho desfavorável é potencializada.

Quando eu soube que estava grávida eu fiquei feliz, mas ao mesmo tempo
não quis pôr na minha cabeça igual às outras, por causa da mola. Eu já não
estava bem. (E4)

_ eu já queria poder fazer uma ultra porque enfim... muito preocupada, eu


ficava muito preocupada se tudo bem porque eu queria muito. queria muito
mesmo. (E26)

Algumas mulheres encontram dificuldade em aceitar a gestação, percebem na


gestação como algo difícil de ser vivido naquele momento, experimentando
sentimentos de rejeição e/ou pânico, percebidos na falta de suporte e apoio familiar
ou conjugal, sentindo-se sozinhas e assustadas, sabendo ou supondo que
encontrariam obstáculos e adversidades pelo caminho, ao mesmo tempo que sentido
como sendo um pedaço de alguém significativo dentro de si.

(...) Ah foi um baque né, porque eu não queria. Minha filha tem 3 anos, daí eu
fiquei "ai meu Deus o que eu vou fazer?". Uma criança de 3 anos já, já é
difícil. (...) às vezes eu pensava tipo "ah já tenho 1 né, vou ter 2, fazer o que.
Aí depois me dava uma loucura né, "meu Deus do céu, o que eu vou fazer
com 2 crianças?". (E8)

E aí meu marido não queria, ele não queria nem o segundo (...) e as pessoas
26

o apoiavam. (E5)

_tudo isso com medo que eu tava sentindo (de criar o filho sozinha) foi muito
complicado lidar com isso (não aceitação da família). Por não morar também
com esse meu atual companheiro acho que é preocupação era até maior
porque assim eu queria gravidez tudo mas assim a gente não tava morando
junto, (...) ao mesmo tempo eu queria mas meio que uma certa rejeição (...)
sabia também que as coisas ia ser complicadas que não ia ser uma gravidez
fácil que não. (E27)

Categoria 2: Perda

A identificação ou a percepção de sinais e sintomas como cólica, sangramento,


entre outros, desperta estranhamento e suspeita de que a gestação pode não estar
evoluindo como esperado. O medo e a necessidade de aplacar a angústia e a dúvida
do risco gestacional levam as mulheres a buscar atendimento especializado. O
processo diagnóstico não tem seu tempo alinhado à urgência e esperança materna
de garantir a viabilidade fetal. A ausência de batimentos cardíacos fetais impõe a
confirmação da perda e demanda a comunicação do óbito fetal e dos sonhos,
expectativas e planos maternos. Na dependência do significado dessa gestação, têm-
se a experiência de dor ou alívio. A resolução se faz necessária e a parceria da equipe
de saúde com essa mulher aponta para a proteção ou risco no processo de luto
materno.

2.1 Confirmação da perda

Ausência de dor e de sangramento, bem como a visualização do feto e a escuta


de seus batimentos cardíacos no exame de ultrassonografia, são sinais interpretados
pela maioria das gestantes como indicador de segurança. Nesse sentido, a
comparação com gestações anteriores, ou com a experiência de outras gestantes do
entorno, é comum e desperta estranhamento quando a maneira que a mulher se sente
ou se percebe está diferente. Algumas mulheres afirmam que, mesmo sendo a
gestação muito precoce, experimentam um pressentimento de que a gestação não
chegará a termo e, tomadas por pensamentos negativos, passam a esperar o
momento de identificar os sinais de abortamento.
27

Só que na minha mente quando eu descobri que estava grávida eu tinha


certeza que eu ia perder. Porque toda vez que eu ia ao banheiro eu pensava
“vai estar sangrando” e nunca estava. (E5)
eu aparentemente todas as gravidezes eu tinha muito enjoo no começo, fazia
muito xixi, e nossa, muito enjoo. E nessa não tinha nada, eu até falei “nossa,
se for uma gravidez mesmo Deus vai me privilegiar nessa. Porque eu não
estou tendo nada, não estou tendo enjoo”. Porque eu não tinha vontade de
comer no início da gravidez, e nessa eu tinha tudo, então estava muito
estranho né. (E4)

liguei pro médico e falei com ele domingo que eu não tava bem, que eu senti
que tinha alguma coisa errada, que eu não sentia meu filho.(E3)

(...) na primeira consulta que eu passei, já sabia, já sentia que não... que a
gravidez não ia para frente, né a primeira consulta que eu passei eu fiz... não
sei explicar o meu sentimento, mas eu sentia como mãe que aquela gravidez
não ia para frente. Que não ia ter essa gravidez, mas mesmo assim eu estava
muito tranquila, estava muito calma, não me desesperei, não estava ansiosa,
né. (E21)

Sensação de cólica e visualização de sangue vaginal assustam a gestante que


suspeita de que algo não está bem, em especial quando a intensidade e a duração do
sangramento intensificam, despertam nas mulheres medo e a necessidade urgente
de buscar ajuda. A urgência de buscar uma resposta, no serviço de saúde para o que
está acontecendo é também a tentativa de aplacar a angústia sentida, mas, por vezes,
o que encontram é a difícil e angustiante incerteza do diagnóstico médico.

Aí quando foi de noite passou quando foi de manhã eu acordei fui usar o
banheiro eu tava tendo sangramento aí eu tava na casa da minha irmã
quando a gente viu foi para o Pronto Socorro (E22)

(...) tava trabalhando comecei a ter sangramento. Aí uma colega de trabalho


tinha acabado de ter um filho então ela falou pra mim que era uma coisa
normal que poderia acabar passando e aí eu cheguei a comentar com meu
parceiro que eu tava com um pouco de sangramento e tal, mas é aquilo sou
uma pessoa extremamente focada no meu trabalho, (...) acabei ficando mais
2 horas no meu trabalho e, passando umas 2 horas eu percebi que não tinha
reduzido o sangramento ai eu fui, acabei indo para o hospital. (E30)
(...) aí eu já sabia que tinha alguma coisa de errado já porque minha barriga
ficou dura e o sangramento começou a aumentar e eu já tinha em mente que
já deveria acontecer algo de errado já tava pensando nisso eu e meu esposo,
então quando eu dei entrada ainda fizeram ultrassom ainda não sabiam dizer
é... se havia a presença do feto porque não tava dando para ver quando
fizeram os exame detalhado tinha presença de feto, mas não tinha os
batimentos. (E22)

(...) mas eu falei: tem alguma coisa errada. E aí passou. Ai, isso foi numa
quinta, no sábado eu acordei com cólica bem cedo. Acordei e fui ao banheiro,
tinha sangue no papel, aquele bem pouquinho. Chamei minha mãe e ela
falou: ah é normal, vamos esperar se aumentar a gente vai ao pronto socorro.
Eu falei “ah tá bom!" Aí tentei voltar a dormir um pouquinho. A cólica
aumentou, aumentou, aumentou, levantei pra fazer xixi depois de umas 3
28

horas e aí já estava saindo sangue vivo. Aí ela falou “não, põe absorvente e
vamos começar a contar quantos absorventes suja e vamos pro ps.”(E18)

O processo diagnóstico é sentido por algumas mulheres como a pior parte da


perda. A espera entre um exame e outro e a incerteza sobre o que está acontecendo,
são experimentados como momentos de tortura. Intenso é o desejo de que o resultado
dos exames venha confirmar sua esperança de que tudo não passa de um engano, e
a viabilidade da gestação está garantida.

(...) aí pra ter certeza (da perda) eu repeti o ultrassom na terça, na mesma
clínica que eu tinha feito o primeiro, aí confirmou. (E3)

Sim. Às vezes a sala tinha 2,3. Um chamava o outro “calma aí, que eu vou
chamar o meu colega”. Aí eu falei “não é possível, já 3 pessoas me deram o
toque e vocês não sabem dar um diagnóstico?”. (...) E aí repetiram o beta, o
beta já estava caindo, aí falaram “volta amanhã”. Aí eu fui no dia seguinte, e
no outro dia, e essa pra mim foi a pior parte, porque nunca davam um
diagnóstico e toda vez que eu ia lá tinham vários médicos me examinando.
(E14)

(...) foi a pior coisa da minha vida.. foi uma tortura emocional porque a gente
não sabe o que tá acontecendo, a gente quer saber ao mesmo tempo... e ao
mesmo tempo não quer saber. Foi difícil. Chorei muito. (E18)

Algumas mulheres descobrem a gravidez no momento do aborto e, em alguns


casos são surpreendidas com a presença do feto em meio ao sangramento. A rapidez
com que as experiências de vida e de morte se apresentam para essa mulher impacta
duplamente no processo de internalização e na capacidade de pensar e se haver com
o que se perdeu.

Eu acordei com uma dor muito forte. De manhãzinha. Fui ao banheiro,


comecei a vomitar muito. Eu já estava vomitando um pouco antes. E começou
a sangrar demais, demais, demais. Eu estava com muita dor nas costas e na
bacia. Nessa hora já percebi que estava perdendo. (...) Liguei para meu pai
e pedi para ele buscar e me trazer no hospital (...) e eu fui no convênio e falei
“estou tendo um aborto”. Foi bem rápido. E ainda não tinha caído a ficha,
nem de que eu estava grávida. Então a do aborto também estava demorando
para cair, eu estava tranquila. Não estava gritando, não estava chorando, eu
estava assustada só. (E13)

Quando eu me sentei no vaso eu vi que já estava tudo descendo, desceu o


feto, desceu o resto do aborto. ...E aí eu olhei no vaso, quando vi era o feto
mesmo, ele cabia na palma da mão. Comecei a sentir muita dor…(E1)

_descobri numa semana e na outra já tive um aborto (...), mas se falar para
você que eu sofri assim, porque eu não esperava. (...) Então eu descobri
numa semana, na outra já comecei a ter o aborto então não tive nem tempo
para parar e pensar. Eu sofri um pouquinho então. (E29)
29

A maioria das gestantes espera ansiosamente pelo momento de poder ver e


ouvir o bebê pela ultrassonografia. Tudo parece estar bem até que, subitamente, a
mulher é surpreendida com a notícia da perda gestacional. O encontro se transforma
em despedida… A alegria dá lugar à tristeza, à incredulidade e, por fim, ao desespero.
O baque da notícia, por vezes, é tão intenso que as gestantes parecem perder o
rumo… Num profundo silêncio interno param de escutar as informações e orientações
da equipe de saúde. O mundo real não faz sentido, os planos e sonhos de uma nova
família se foram junto com o bebê, sobrando dor e angústia.

(...) a médica achou estranho, fez o toque viu que não estava, tinha alguma
coisa errada. Ai pediu o exame beta, comprovou que eu estava grávida
mesmo, direitinho... ai foi na ultrassom vaginal que ela viu que o bebê não
estava mais desenvolvendo, que ele já estava morto, já tinha muito tempo já
e eu estava correndo risco de vida. (E24)

Aí eu já desesperei já, (...) fiquei em choque, eu não conseguia chorar, não


conseguia levantar da cama... Aí o médico falou e depois que caiu a ficha, …
parecia que o mundo ia desabar. Eu não conseguia me levantar da cama,
não conseguia comer, eu não conseguia fazer nada. Não dava fome. (E5)

(...) nesse momento sei lá... parece que dá um apagão assim na sua cabeça.
Eu já estava na verdade meio que... meio que sabendo o que estava
acontecendo (...)daí eu fiquei muito desnorteada, eu na hora assim comecei
a chorar muito, meu namorado estava comigo é... ele também ficou muito
arrasado com tudo isso (E30)

Meu mundo completamente desabou porque já tinha planejado... já ia...


faltava um dia para descobrir o que era para poder comprar as coisas. Era
planos que realmente desabou. Mundo acabou-se para mim. (E28)

A dificuldade em compreender e aceitar a perda, acrescida do sentimento de


culpa, pode ser percebida no movimento que algumas mulheres apresentam de
buscar uma causa, uma justificativa que possa amenizar tamanha dor. Precisa haver
um culpado, algo ou alguém precisa ser alvo da raiva, da dor e do sentimento
inominável que é a perda de um filho.

_eu caí da escada e comecei a sangrar. Eu fui no hospital no xxx e eles não
me receitaram nada, falou que estava tudo certo, e eu voltei para casa,
normal. (E6)

Estava correndo tudo bem, mas aí eu tenho pressão alta, estava acima do
peso, ainda estou né acima do peso, não tá muito boa ainda o peso. Ai eu
fiquei... acabei tendo covid porque meu patrão teve covid, acabei contraindo
covid... fiquei em casa... ai comuniquei meu médico que não estava me
sentindo muito bem né. E depois eu senti que tinha alguma coisa estranha
porque minha pressão veio alterando bem mais, mesmo eu tomando os
remédios, mesmo ele trocando o remédio... e... ele não deu muita garantia...
nem pediu outros exames nem nada, só pediu a ultrassom. (E24)
30

(...) depois que eu fiz esse ultrassom que foi em dezembro, acho que no
mesmo dia eu tive uma briga muito feia com minha filha. Passamos um final
de ano sem se falar... no começo de janeiro que foi quando eu descobri. Acho
que foi no dia 7 de janeiro eu tive não foi um sangramento fui no banheiro
fazer xixi e veio um corrimento meio amarronzado e por assim ter sido mãe
há muito tempo eu fiquei meio cismada conversei com meu companheiro ele
me orientou, falou melhor você ir no médico para ver se tá tudo OK aí eu
procurei o pronto-socorro e daí foi onde tudo começou(E27)

A necessidade de dar sentido à perda, faz com que algumas mulheres


busquem explicação e consolo na religião. A crença de que a interrupção gestacional
se deu por vontade divina parece amenizar a dor e a tristeza.

Triste. Muito triste, porque a gente queria muito. Mas tudo é da vontade de
Deus. (E16)

então foi um processo...eu vou falar para você que pra mim foi um processo
tranquilo. não foi nada doloroso né claro que chorei _sim, porque é uma perda
né, quando a gente deseja muito algo, mas não me… como que eu vou te
dizer... não me machucou, não me feriu, tanto que eu tô muito em paz por
essa perda, porque eu acredito em Deus, eu confio que tudo é da permissão
dele, tudo acontece do jeito que ele quer, então quando eu perdi eu tive paz.
sabia que não era a hora e pra mim tá tudo bem. (E21)

Saber que outras mulheres já enfrentaram perdas gestacionais, promove em


algumas mulheres a sensação de pertencimento e normalidade. A possibilidade de
tentar uma nova gestação tranquiliza aquelas mulheres que almejam conquistar o
sonho da maternidade.

_ e ai o ginecologista veio conversar com a gente explicou né que é uma coisa


que é meio que normal, que acontece e todas as estatísticas e tudo mais. E
isso acaba deixando a gente um pouco mais tranquila, mas por pensar que a
gente pode tentar de novo e pode dar certo... (E30)

Não, a única coisa que me marcou mesmo foi que eu vou ficar marcada
assim.. porque foi meu primeiro, minha primeira gestação, vai ficar aquele.. a
minha primeira gestação não deu certo. Então vai ficar esse.. não tô falando
um vazio, mas um vazio não negativo. Vou levar comigo uma fase negativa.
Uma fase assim como eu falo...não foi da primeira, mas vou tentar a segunda,
vou conseguir a segunda. (E25)

Algumas mulheres revelam um certo alívio frente ao aborto, em especial


quando a gestação não é desejada ou quando o processo da perda envolve riscos e
ou ameaça de saúde materna ou do futuro bebê, encontrando segurança na conduta
ativa que abrevia o processo da perda.

Como eu já tinha alguns laudos da gravidez molar, eu vim já preocupada na


verdade. Eu cheguei no hospital preocupada, a minha preocupação eu não
sabia se era maior de perder o meu bebê ou de morrer. Eu tinha essa
31

preocupação de morrer. Quando eu vim (...) não tinha certeza de que estaria
viva, que eu iria ver a minha filha. (E2)

(...) quando me disse que estava sem batimento eu senti alguma coisa errada
então assim minha emoção meio que foi, ao mesmo tempo de tristeza, mas
aí eu pensei meio que um alívio de não ter essa criança nesse momento com
toda essa situação conturbada né. (E27)

(...) porque eu estava sangrando muito, eu estava com medo de morrer né,
de tanto que eu estava sangrando. Pingava, era muito sangue. Então tinha
medo de morrer porque tenho meus filhos pra criar. Eu tenho 2 filhos. (...) ai
fiquei desesperada, porque era muito, muito sangue, então o desespero foi
esse… acho que a curetagem foi o menos pior. Acho que foi um alívio pra
mim quando tiraram o que tinha pra tirar e eu ficar bem. (E29)

2.2 Resolução do abortamento

Em alguns casos a mulher pode escolher o tratamento para seu desfecho. Os


motivos que levam cada uma a escolher um ou outro método, procedimento cirúrgico
ou conduta expectante, são subjetivos e variam de acordo com as fantasias que essa
experiência desperta.

Sim (quis a curetagem), porque eu tava sangrando muito, eu tava com medo
de morrer né, de tanto que eu tava sangrando. Pingava, era muito sangue.
Então tinha medo de morrer porque tenho meus filhos pra criar. Eu tenho 2
filhos. (e29)

ai fiquei desesperada, porque era muito, muito sangue, então o desespero foi
esse… acho que a curetagem foi o menos pior. Acho que foi um alívio pra
mim quando tiraram o que tinha pra tirar e eu ficar bem. (E29)

perguntaram se eu queria esperar mais um pouco eu falei já fiz o segundo


exame já percebeu que não tem vida eu vou ficar com ... eu fiquei com medo
de ter até infecção, de demorar muito tempo e acarretar outros
problemas.(E19)

a médica deu 2 opções: ou colocar o comprimido e esperar para sair


espontâneo ou fazer já o procedimento. Eu optei por fazer já porque eu não
queria ficar esperando, aquela ansiedade “será que vai ser hoje? Será que
vai ser amanhã?”.(E7)

Se por um lado a curetagem foi a forma mais rápida que algumas mulheres
encontraram de resolver o sofrimento físico e aniquilar as esperanças, para outras foi
um momento especialmente difícil, pois concretizou a separação de dois corpos
sentidos como únicos… um pedaço da mãe se foi com o filho marcando um desfecho
emocionalmente difícil de ser superado tão rapidamente.
32

_Aí desde então foi muito difícil para mim_ estava perdendo meu pedaço ali
e não consegui superar ainda. (E7)

O mais difícil para mim foi estar deitada naquela maca e estarem tirando
aquele pedacinho de mim ali. Foi a separação, sabe? (E7)

Na perda do bebê eu fiquei até o último minuto, até eu iniciar o processo da


curetagem, eu esperava que talvez fosse chegar um exame com um
diagnóstico diferente, que fosse identificado algo diferente do que os exames
já tinham atestado. Uma esperança, fé_ (E2)
Só quando eu ... Infelizmente... me passaram para sala cirúrgica, a anestesia
eu sabia que era o fim, não tinha mais esperança (choro) (E20)

A opção de poder aguardar o corpo expulsar o embrião foi acolhida por algumas
mulheres de maneira tranquila e não impositiva. Contudo, para outras gestantes foi
uma cena traumática, relacionada a sentimentos de tortura e medo que algo pudesse
se complicar, estragar e colocar sua vida em risco.

Eu queria tirar, porque estava morto já, e aquilo ali estava só perturbando
minha vida. Eu parei minha vida, não fazia nada. Uns falavam “você vai ficar
de repouso” e outros falavam “você não vai ficar de repouso”, e eu fiquei sem
saber o que fazer. Eu queria tirar porque já estava morto. (E5)

Dolorida, (...) você imaginar que você está vendo, você está perdendo muito
sangue, vendo umas coisas estranhas saindo e você fica imaginando, sabe
o que seria, qual parte foi agora. Toda minha família, os meus filhos viram
isso. Então eu acho muito desnecessário ter que esperar o corpo expulsar.
Eu, eu senti isso. (E11)

(...) então a espera na verdade assim... esses 15 dias que eles pedem para
esperar realmente é 15 dias que a gente fica né na expectativa porque como
eu nunca tive um aborto então não sabia como que seria né esse processo.
(E21)

Situações relacionadas ao diagnóstico médico ou a protocolos institucionais


resultaram na imposição do tratamento, apesar do desejo da mulher. Tal cenário
gerou sentimentos de angústia, medo, irritação e choque relacionado à
decisão médica e ao pouco tempo para digestão da notícia. A impotência relatada
ante a impossibilidade de escolher entre a conduta expectante ou a curetagem parece
reiterar a frustração experimentada quando da confirmação da perda gestacional.

A médica me avisou que como ainda tinha material lá dentro, tinha alguma
coisa lá dentro, ela ia precisar fazer um procedimento para tirar e não deixar
infectando. Foi isso. Mais que isso eu não assimilaria. Eu me lembro bem
depois quando eu já tinha acordado que me falaram que me falaram que era
uma curetagem, que me explicaram o que aconteceu. (...)Inclusive eu já
cheguei aqui sem o feto e sem o saco amniótico. Eu lembro disso, dele
falando que dava para ver que era um aborto, o exame veio positivo. Mas eu
já não tinha nada lá dentro, o que ficou para tirar foram outras coisas. (...) Eu
33

não estava em condições de dar os meus documentos. Eles pegaram o


documento da minha carteira. Porque eu não tinha.... “o que que é
documento?”... Eu não tinha condição nenhuma de decidir nada, de falar com
ninguém, nada. (E13)

Aí eu fui trabalhar no outro dia ruim, estava sangrando muito, meio abalada,
um pouco difícil. Até porque tinha que ficar saindo toda hora para ir ao
banheiro, aí você atendendo o cliente e como vai largar o caixa pra sair
correndo? Dá medo de passar uma vergonha também, se você se sujar toda,
sair escorrendo, todo mundo vai ficar sabendo o que aconteceu, vão
perguntar. Aí foi ruim. (E8)

Categoria 3: Apoio

O abortamento espontâneo é uma situação inesperada que coloca a mulher


em contato com sua impotência e vulnerabilidade. Nesse cenário, o apoio do parceiro,
e ou da família, são diferenciais percebidos como fonte de cuidado e segurança
permitindo que esta se sinta acolhida e menos solitária no processo emocional da
perda gestacional.

Sim, graças a deus todos me acolheram, todos falaram (...) principalmente


ele que ficou o tempo todo comigo. Deixou de trabalhar pra ficar comigo o
tempo todo. Minha mãe também ficou o tempo todo, minhas filhas. (E1)

(...) o apoio que eu recebi realmente foi do meu esposo, a mãe dele que nos
ajudou cuidando da minha filha nesse período em que eu estive internada.
(E2)

O silêncio e a incompreensão do entorno frente ao abortamento, a necessidade


de expressar a dor da perda por meio do choro ou do relato das expectativas
frustradas nessa gestação, despertam sentimentos de desamparo, traição e
abandono pelo parceiro e parentes, dificultando a elaboração e integração do luto.

Percebi que as pessoas não perguntavam, tentavam evitar o assunto. (E2)

Tipo, mas é ruim né, porque às vezes ninguém entende. Nunca aconteceu
com ninguém da minha família. Até meu sobrinho ficou brincando “nossa tia,
você é rara!”. Mas não entendem, _(E9)

Eu fiquei com os meus pais. Fiquei na casa dos meus pais. (...) Demorei um
pouquinho, e eu acho que como eles não estavam entendendo porque eu
chorava tanto, eles começaram a ficar irritados. Eu não lembro o que meu pai
falou. Ele falou que… ele falou alguma coisa de vida, alguma coisa que todo
mundo tem sua vida, que está todo mundo vivendo… Aquilo me desmontou.
(E13)

(…) eu fiquei com a cabeça cheia de coisa, emoção de medo, de raiva, de ai


foi bom que tenha acontecido porquê... eu não gostei de ter ouvido o que ele
me falou naquele momento porque foi como eu disse para ele não era o
momento eu não precisava ouvir aquilo naquele momento por mais que de
34

repente o problema tenha sido comigo né. Eu senti que ele queria achar um
culpado e quis colocar a culpa em mim e daí assim até o procedimento,
Depois disso tudo, depois de não ter tido apoio, porque assim a gente
conversava antes de eu ter engravidado e ele falou que ia me
acompanhar tudo nas consultas e não aconteceu isso, então meio que veio
à tona tudo que eu passei na minha primeira gravidez meio que aconteceu
nessa também, algumas coisas, algumas situações, por ele não ter me
acompanhado na primeira consulta por a médica ter pedido exame para saber
o tipo sanguíneo dele meio que ele Ah eu vou mas meio que vou ver quando
dá para ir tipo não deu tanta importância. (E27)

A maneira como a notícia da interrupção gestacional é comunicada pelo


profissional de saúde, bem como o respeito e a consideração com compreensão e a
subjetividade da gestante durante o processo diagnóstico, promove a vinculação da
gestante com a equipe e contribui para o processo de aceitação e luto das mulheres,
que se sentem mais tranquilas, autônomas e confiantes.

A equipe foi muito cuidadosa, eles não falavam nada na nossa frente que
poderia assustar sabe? (...)sugeriram “Olha a gente vai fazer tal exame” para
a gente correlacionar. Mas eles não deram nenhuma notícia assim de uma
hora para outra. Então foi aos pouquinhos né. Eu já tinha ciência do que
estava acontecendo, mas eu não sou médica né. Então eu fiquei esperando
eles me falarem. Eles tiveram todo o cuidado. Não me deram nenhuma notícia
brusca. Eles tiveram bastante cuidado para falar. (E2)

_a equipe que me atendeu me deixou muito segura sabe excelente hospital


a equipe médica maravilhosa sabe todas as minhas dúvidas eles tiraram me
explicaram direitinho, mas é inevitável acho que o medo é do ser humano né
a insegurança de ser humano me deu um pouco de segurança mais não
devido ao hospital equipe que me atendeu insegurança da minha parte
mesmo, (E31)

Eu fui muito bem atendida, fui muito bem acolhida e eu acho que isso faz
toda uma diferença porque você tá num momento muito difícil que você
precisa de pessoas do seu lado e de repente um profissional não te trata bem,
isso te deixa muito pra baixo, te deixa... eu acho que não é uma experiência
boa, você passar por isso e aí você chega e tem mais um problema.. vamos
dizer...mais um problema aí de maus tratos né.. (E23)

A vivência do abortamento pode despertar sentimentos de vulnerabilidade por


ser algo novo e inesperado. Muitas mulheres não entendem o que está acontecendo
e ficam apreensivas e com medo. A falta de manejo mais humano e acolhedor pode
contribuir para que sentimentos negativos e angustiantes surjam e tornem o processo
mais sofrido do que poderia ser.

Nossa ali meu mundo já desabou, falei nossa que grosseiro. Me senti mal,
saí de lá chorando, fiquei triste, liguei pra minha mãe, falei meu esse posto
de merda, a gente xinga né tudo. Me senti bem mal. Bem mal. É.. ai pus a
roupa, peguei o laudo e fui embora. Ele colocou que não dava pra (...) não
tinha ainda nada. (E18)
35

_ achei que foram grosseiros, assim tipo acontece, acontece com várias
mulheres, mas da maneira que foi, que eu fui recebida eu não gostei. Só
agora, quando eu passei no dia 21, assim, eu vim no dia 20 ai não tinha,
estava horário de uma ultrassom ai mandou eu vim no outro dia, aí nisso…
(E11)

Quando a comunicação do profissional é percebida de maneira não inclusiva,


a mulher se sente exposta e invadida. Ambientes de ensino, que demandam a
discussão do caso entre alunos e professor, por vezes são relatadas como
desagradáveis pelas mulheres que precisam ser examinadas por diferentes pessoas
e que escutam comentários acerca de sua perda de maneira objetiva e distante, sem
considerar o impacto e o vazio que a perda daquele bebê deixa em sua vida.

É, de empatia, né, sei lá. Não importa se era 1 mês ou se eram 8 meses. Era
uma vida. E uma vida que eu estava planejando, estava esperando. Então da
maneira que as coisas aconteceram não foi boa. E aí eles pediram para eu
voltar para casa. Ela viu que eu já não estava bem e ela falou “pode voltar
para casa e você vai abortando no decorrer dos dias”. (E14)

Aí eu me senti assim tipo...Uma rata de laboratório. Para mim isso foi o mais
doloroso. Quando eu cheguei em casa eu chorei bastante (...) (E17)

E eu tomei o remédio e ele “você quer que eu faça a cirurgia em você para
nada? (...) Porque eu fiz o exame e o pessoal que fez o exame, a trans… Veio
um médico, depois chamou outra médica, depois essa médica chamou outro
médico. Aí vai um monte de gente. Aí você fica “oi?”, tipo, uma hora fazendo
isso daqui. E ele falou que não estava conseguindo ver toda a minha tuba
né? Não estava conseguindo ver toda. Aí eu fiquei com medo. (E9)

Conhecer as opções de tratamento e se sentir respeitada na escolha de como


deseja ou não viver essa etapa do abortamento, foi importante para que as mulheres
pudessem sentir um pouco de autonomia diante da impotência experimentada na
perda gestacional. Falta de empatia, compaixão e cuidado foram sentimentos
relatados pelas gestantes que não tiveram a oportunidade de opinar sobre o manejo
do abortamento. Algumas se sentiram não compreendidas e, por vezes, perceberam
a situação como uma imposição de aguardar a expulsão do feto, precisaram conviver
com as limitações, fantasias e tortura de carregar um bebê morto em seu ventre.

(...) então foi tranquilo e tinha a opção também de aguardar o meu organismo
expulsar, mas eu não quis, não quis porque ia sofrer mais (...). (E3)

E aí o médico disse que ia tirar só depois de 30 dias. E aí foi aquela tortura,


todo dia no hospital São Paulo, todo dia eu lá. “Vem amanhã que hoje não
tem vaga”.(...) Eu queria tirar, porque estava morto já, e aquilo ali estava só
perturbando minha vida. Eu parei minha vida, não fazia nada. Uns falavam
“você vai ficar de repouso” e outros falavam “você não vai ficar de repouso”,
36

e eu fiquei sem saber o que fazer. Eu queria tirar porque já estava morto. (E5)

Eu acho essa parte muito, muito desagradável ter que esperar o corpo
expulsar sozinho porque eu acho que eu não deveria ter visto tudo o que eu
passei, tudo, a perda sabe, tudo sendo que depois que eu vim no hospital
mesmo fizeram a curetagem. Eu achei que era muito... já teria feito pra não
vê, não vê... é sofrido, é doído, eu acho, eu achei assim isso fica em mim.
(E11)

Durante o processo de abortamento as mulheres são internadas em unidades


obstétricas resultando em sentimentos ambivalentes que oscilam entre resignação,
frustração e conformismo. Dividir o quarto com gestantes de fetos malformados,
inviáveis, ou com mulheres que também vivenciam uma perda gestacional, neonatal
ou do recém-nascido parece trazer resiliência e sentimento de reconhecimento.

Eu dividi o quarto com uma moça, que estava com o maior problema, maior
do que eu.(E5)
Ela estava de 7 meses, o bebê dela não tinha pernas, não tinha braços e veio
com malformação na cabeça. Então eu acho que esse problema dela é maior
que o meu. E aí me conformou mais um pouco, porque ela chorava
desesperadamente. Eu falava “você chora porque o seu bebê está vivo, e eu
choro porque o meu está morto”. E eu via que o problema dela era tão grave
que me acalmou. (E5)
Eu não fiquei no quarto com nenhuma delas. Eu fiquei com uma que estava
com o mesmo procedimento que eu. Então não tive problema nenhum. (E4)

Após o procedimento cirúrgico algumas mulheres são alocadas em quartos


com puérperas e bebês. O contato com as duplas mãe-bebê é doloroso e desafiador.
Ouvir o choro de um bebê e sair da maternidade com o filho nos braços é tudo que
essa mulher desejava, mas não possui. É assistir, com estranhamento, frustração,
raiva, inveja e vazio o sonho perdido e se haver com o vazio inominável da perda.

Aí eu fiquei internada. Para nada. Não fez nada. Ele falou que eu ia fazer o
exame. Aí que acabou que só fez o exame de sangue. E no outro dia fui para
casa. Aí fiquei lá com as meninas que tinha acabado de acontecer com elas.
(E9)

_internei para fazer a curetagem (...) é um pouco difícil né, porque a gente
está no mesmo andar que um monte de mulher que está recebendo os seus
bebês. (...)é difícil porque a gente vê chorinho de bebê, a gente vê tudo isso.
Então a gente sente falta de entrar no hospital para tentar sair com um filho.
Aí é muito estranho. Mas eu tentei me controlar dessa vez, não senti tanto
não. Eu acho que eu nem controlei. Sentir a gente sente porque é uma
gravidez. (E4)

_acho que o mais difícil de tudo o que aconteceu foi... eu voltei pro quarto
depois do procedimento e aí tinha uma bebezinha do lado, começou chorar.
37

falei: nossa! poderia ser a minha ou o meu. você fica assim poxa poderia
ser(…)eu tomei anestesia passei pelo procedimento todinho que uma mulher
vai ganhar bebê só que uma vem com neném outro não... só isso mesmo
(choro)(...) o sentimento foi que eu vim e não levei, vim tirar. e não levar... só
isso mesmo. (E19)

Categoria 4: Vida após a perda

A resolução física do abortamento, na maioria das vezes, não coincide com a


elaboração psíquica do que é vivido emocionalmente pelas mulheres e suas famílias.
A volta para casa é difícil. A ausência do bebê e da maternidade se impõe no dia a
dia. A nova realidade é enfrentada com resiliência por algumas mulheres, enquanto
se isolam, se fecham para poder viver a dor e o luto.

_eu vou ficar marcada... porque foi meu primeiro, minha primeira gestação,
vai ficar aquele.. a minha primeira gestação não deu certo. Então vai ficar
esse vazio negativo. Vou levar comigo uma fase negativa. Uma fase assim
como eu falo...não foi da primeira, mas vou tentar a segunda, vou conseguir
a segunda. (E25)

_foi aos pouquinhos. Essa consciência, essa frustração não vieram assim de
uma hora para outra. Foi uma perda diária ao longo dos dias. Tinha momentos
que ficava mais triste, tinha momentos que eu ficava mais isolada. (E2)

Sei lá uma dor por dentro da gente que só a gente entende e é uma coisa
que eu não sei se vou superar. (...) A minha experiência com aborto é uma
dor, uma dor que a gente sente que a gente acha que nunca vai passar. Uma
dor inexplicável que só a gente sente, os outros ao lado da gente não sente.
Acha que é coisa passageira. (E28)

E eu acho que a minha rotina ficou diferente, porque eu tenho uma filha que
está com depressão, já tentou suicídio, e essa criança estava dando uma
amenizada na dor que eu estava sentindo. E essa dor voltou. Eu me senti
como se tivesse uma ferida cicatrizada e alguém veio e arrancou aquela
casca e sangrou de novo. Então foi bem difícil. (E17)

O que se perde com o aborto é muito singular e independe do tempo de


gestação. Uma vida se interrompe. A necessidade da cicatrização dessa ferida aberta
pela perda do bebê encontra, na história de vida de cada uma dessas mulheres, a
lembrança de outras perdas, de experiências seguras ou inseguras, que permitam
reconhecer estratégias para enfrentar e superar o aborto.

_já sabia o sexo, já fiz tudo e aí na hora que nasceu eu já perdi. Essa foi mais
difícil do que agora que tinha pouco tempo, mas mesmo assim é difícil.(E1)

Então ela me ajudou bastante e agora do aborto eu sofri, mas não foi tanto
quanto o primeiro porque o primeiro filho a gente tem uma reação totalmente
38

diferente. apesar de eu ter dois e desse agora do aborto eu fiquei, eu também


não sentia mexer nem nada então foi mais tranquilo(E22)

_o que eu percebo é que depois de 2 perda a minha memória parece que


muitas coisas eu não consigo lembrar né não sei se é por ter passado por 2
traumas seguidas então é meio que um bloqueio né porque por um tempo
há muitos anos atrás eu vivi um bloqueio de memória por uma situação que
eu passei e depois de muitos anos e isso foi meio que é...não sei explicar ,
foi meio que uma chave virou e eu consegui lembrar de muitas coisas então
eu percebi que eu tenho, eu tô sentindo um pouco de falta de memória nesse
sentido, mas não é nada que me afetasse a minha saúde ou fisicamente,
emocionalmente (E21)

_eu sofri muito mais com a perda da minha mãe que com esse aborto. Porque
eu perdi a minha mãe há 2 anos, e eu era filha única. Sou filha única, morava
com a minha mãe sozinha e eu não tenho pai, então era só eu e ela. (E15)

Então eu acho que perdi, senti muito mais a perda da minha mãe do que o
aborto agora. E aí eu sou advogada e acabei de montar um comércio
também, uma loja. Então eu estou na esperança de que a loja dê certo. (E15)

Falar sobre o aborto, e no que se perdeu junto com o bebê, é fonte de grande
angústia para as mulheres. A crença de que o silêncio em torno do aborto é um sinal
de força, e de elaboração psíquica, revela a fantasia de que o sofrimento ou a perda
podem ser apagados... Essa estratégia é ineficaz e, cada vez que alguém do entorno
toca no assunto, a dor e o sofrimento vem à tona revelando a manutenção da dor, do
vazio e do desamparo.

Agora eu estou um pouco mais conformada. Mas eu não quero falar sobre
isso com outras pessoas. Eu não gosto quando alguém me pergunta e eu
tenho que ficar toda hora contando a mesma história né. (E17)

Quanto mais as pessoas perguntavam mas aquilo te dói dentro né e .... aí


também aquilo de querer voltar a trabalhar pra ver se você esquece um
pouco, espairecer a cabeça e sai um pouco do foco. _É voltando à rotina
mesmo e deixando o tempo esquecendo, não sei, sei que não é uma coisa
que se esquece lógico mas é voltar a rotina e tentar se habituar ao momento
eu acho que é mais em relação a isso.(E30)

eu prefiro não lembrar dessa parte e como acho que se fosse uma defesa
minha eu tento pensar que eu não eu não passei, sabe assim não é uma
coisa que vai me deixar bem que vai fazer bem então eu prefiro não lembrar
que eu passei por isso eu só lembro quando eu pego os papéis então eu evito
de pegar os papéis só pego quando eu tenho consulta mesmo e aí eu guardei
muito bem guardado eu não vejo isso.(...) é eu prefiro é como eu falei eu
prefiro pensar é como se eu tivesse bloqueado sabe eu não passei por isso
é assim que eu penso para mim não ficar presa(...) mas é assim eu bloqueio
essa parte prefiro passar, pular esses 2 meses aí entre descoberta, perca e
tudo mais. É assim que eu levo. (E31)

O silêncio em torno da perda gestacional revela a dificuldade em falar sobre a


morte e o não reconhecimento desta como uma experiência dolorosa, marcante e que
39

demanda um importante processo de luto. A solidão expressa pelas mulheres revela


a falta de um lugar acolhedor, que as permita falar, falar e falar, repetidamente, sobre
a experiência da perda e de como se sentem. A retomada das atividades diárias por
parte de familiares e amigos, marca a continuidade da vida e, por vezes, não tem
como prioridade a enlutada. Nesse cenário algumas mulheres se sentem
pressionadas e esquecidas em sua dor.

A minha experiência com aborto é uma dor, uma dor que a gente sente que a
gente acha que nunca vai passar. Uma dor inexplicável que só a gente sente,
os outros ao lado da gente não sente. Acha que é coisa passageira. (E28)
(...) eu me senti mal, muito mal, muito mal assim porque passa um mês passa
um mês ninguém mais fala sobre. Não que eu quisesse que alguém falasse
sobre, até ruim de falar sobre assunto, mas esquece. Não tem como eu
esquecer as pessoas esquecem acho que a vida segue. A vida segue, eu sei
que tem que seguir, mas para mim é… luto não é porque eu tava com 11
semanas… Não é porque foi no início da gestação que não vai doer para mim
a dor intensa. (E26)

O contato com outras gestantes, em especial quando se trata de alguém


próximo, é um gatilho doloroso e que a maioria das mulheres que tiveram um aborto
não se sentem preparadas para enfrentar. A barriga proeminente, marca o
desenvolvimento de um bebê vivo em desenvolvimento, desperta tristeza, desespero
e inveja. Constatar que outra mulher carrega o que elas mais desejam naquele
momento e que fazem planos, sonham com um futuro para elas vetado, é um baque
que precisa ser evitado.

Acho que depois que eu perdi, um mês depois eu acho, ela me mandou
mensagem toda feliz, “estou grávida”. Nossa, aquilo para mim foi um baque.
Um baque, nossa! Esse dia eu vi ela duas vezes da janela... Aí da outra vez
eu ia saindo e vi ela lá na portaria, olhei para a cara dela assim e ela falou
“Oi” (...) ai eu falei oi e já sai, já caí no desespero do choro. (E5)
(...)ela mandou mensagem para mim, pra ir comigo na igreja. Eu falei pra ela
se ela tinha percebido que eu não conseguia encarar ela. Ela falou que
percebeu, que até já conversou com a pastora dela sobre isso. Ela disse que
queria me dar um abraço e que não sabia como chegar até mim. Falei pra ela
“agora não vem porque eu não estou preparada. Você percebeu, eu não
estou preparada”. (E5)
Algumas partes eu ainda sinto falta... porque a minha cunhada está no mesmo
tempo que eu, então eu até evito ir na casa dela pra não ver a barriga. (E1)
E aí você começa a ver as outras grávidas na rua, no dia a dia, aí você fica
imaginando o que elas estão pensando, o que estão planejando. Os
procedimentos delas no início seriam fazer o pré-natal. O meu não. Os meus
procedimentos eram totalmente diferentes do pré-natal. (E15)
40

O aborto deixa marcas na vida da mulher que, além de perder a inocência de


que um teste de gravidez positivo é sinônimo de bebê nos braços após 40 semanas,
passa a temer sua capacidade reprodutiva. A angústia e o desamparo são expressos
nas dúvidas de um dia poder ser mãe ou conseguir ter outro filho. O medo de
decepcionar o parceiro e as pessoas significativas do entorno, e se decepcionar,
revela o desamparo e a insegurança frente ao desejo de uma nova gestação.

E me resta a dúvida se um dia eu vou poder ser ou não. (E7)

(...) às vezes eu penso se eu vou conseguir ter outro filho, se não. Às vezes,
ontem mesmo eu fiquei pensando sobre essa consulta que eu vou ter hoje,
que hoje vão falar o que eu realmente tenho. O que realmente está
acontecendo. (E28)

Eu fico pensando: será que eu vou poder ter outro daqui um ano, dois anos,
ou se daqui a 6 meses, 9 meses. (...) a gente não sabe se vai passar ou se
não, se daqui no futuro a gente vai conseguir ou se não entendeu. Muito difícil,
difícil mesmo (E28)

Não ter uma explicação concreta para a causa da perda gestacional leva muitas
mulheres a experimentar sentimentos de culpa, raiva e frustração. A culpa é muitas
vezes expressa e relacionada com a incapacidade de gerar um filho, o descuido com
o corpo e alimentação, o não desejo de ter filhos ou a não aceitação inicial da
gestação. Outras vezes é direcionada a profissionais de saúde acusados de
negligentes por não perceberem os sinais de que algo estava errado. A raiva e a
frustração com a falência gestacional é direcionada para as mulheres que, apesar de
não se cuidarem ou desejarem ter um filho, engravidam, conseguem parir e maltratam
o bebê.

Ah, eu estou triste! Queria saber onde foi o problema. A gente se sente, nossa
eu não fui capaz” que esquisito! (...) Ta vendo pode ter sido culpa minha
também... risos. Não me cuidei. (...) É um turbilhão de sentimentos ao mesmo
tempo. Aí você começa a culpar: putz e se tivesse um convênio? Será que a
primeira vez que cheguei lá no hospital, que o médico viu, ele podia ter feito
alguma coisa? Ter dado um comprimido para parar de sangrar, não sei. (E18)

(...)me senti uma pessoa é infeliz, uma pessoa que... incapaz ... uma pessoa
incapaz de ser mãe, incapaz de segurar um bebê. Eu me senti e até hoje eu
me sinto culpada, eu digo que não, mas eu me sinto culpada. Eu às vezes eu
fico sozinha em casa, fico pensando que eu no momento eu me senti culpada.
Eu pensei que meu marido que ia me culpar eu mesma me culpei. (...) Eu
me senti culpada porque o primeiro foi de uma discussão que eu tive e o
segundo, o segundo não, mas mesmo assim eu me senti culpada. Eu me
senti culpada porque era uma vida que tinha. Eu pensei que eu que tinha
causado mas não porque eu não fiz nada, mas mesmo assim eu me senti
culpada entendeu. (E28)
41

É, até porque no começo assim eu não queria, quando eu descobri. Aí depois


que aconteceu eu fiquei imaginando né, "nossa, eu não queria, e agora eu
perdi". (...) Ah eu fiquei me sentindo um pouco mal né, ia ter uma outra
criança. No começo eu meio que não queria, mas depois que perde né você
fica... sei lá, se sente um pouco culpada. (E8)
Tem tanta gente que nem quer, que maltrata e consegue tão fácil.(18)

Para as mulheres que vivenciaram algum tipo de complicações no


abortamento, o sentimento de estar viva e poder aproveitar sua família gera felicidade
e tranquilidade. Gratas, aproveitam para se cuidar mais e correr atrás de outros
planos.

Então foi um momento mais de reflexão, mas em contrapartida eu estava


muito feliz porque eu recebi um livramento, porque eu estava viva. Embora
não tivesse o meu bebê ali para segurar eu estava viva para cuidar da minha
família, para cuidar da minha filha que é bem pequena ainda. Então eu estava
grata a Deus por isso, sabe? Eu estava viva, apesar de ter sofrido uma perda.
(...) _foi descartado esse diagnóstico de mola que já era muito grave, então
foi um fardo que saiu_ (...) Hoje eu não consigo ponderar o que era maior
(preocupação/medo) dentro de mim, se era de perder o meu bebê, que não
estava no meu alcance, ou de vir a óbito. Eu não consigo mensurar o que era
maior. (E2)

Essa vez eu fiquei com muito medo porque assim eu quase morri (...)fiquei
entre a vida e a morte no momento que cheguei no hospital. Falei “poxa vida
eu tenho uma filha de 6 anos”. Praticamente deixei a Laura órfã de mãe (...)
Era uma gravidez que todos nós queríamos, apesar de não ser planejada,
todos nós queríamos, mas eu me senti muito mais abalada da possibilidade,
(...) no caso de eu ter morrido. Poderia ter morrido e ela ficado desamparada,
assim sem mãe mas... isso me deixou bem abalada. (E23)

O aborto, para algumas mulheres, é uma experiência traumatizante. O terror e


o desamparo vividos é de tal ordem que elas precisam, em especial quando
apresentam problemas de saúde, evitar uma nova gestação para se proteger da dor
e da possibilidade de passar por um novo processo de perda.

Falei pro médico que se tivesse que fazer uma operação (…) A laqueadura
porque se for pra eu ter outro e ser desse jeito. Nossa, não aguento. (...)Eu
não quero mais ter filho. Não quero passar por isso. (E9)

(...) eu tenho medo eu acho que quem passou por isso tem muito medo depois
eu tenho medo de ter uma outra gravidez eu tenho medo de passar por isso
de novo _ (E26)

(...) colocaram DIU tudo eu aceitei imediatamente, de aceitar pra não passar
por tudo que eu passei eu aceitei porque se eu viesse a engravidar de novo
e eu viesse a perder novamente .. a ter todo um todo o meu projeto, tudo o
que eu pensei que um novo filho (E11)

(...) eu sinto que não quero ter mais filhos. Já tenho 2 e não quero passar por
42

isso de novo… sei lá se vai acontecer o que aconteceu de novo, tenho medo
de acontecer isso de novo, então… Acho que fico com medo de engravidar e
acontecer o aborto de novo sabe. Não quero passar por isso de novo não.
(E29)

Após o tratamento e o retorno para casa, algumas mulheres buscam integrar a


perda à sua vida. Comparando como se sentiam durante o abortamento e como se
sentem depois do procedimento, acreditam estar melhor e, apesar de lembrar do bebê
que se foi, começam a fazer novos planos para suas vidas. Acolhendo sua dor e
tentando aceitar a perda, algumas buscam a espiritualidade para dar um sentido à
experiência e trazer perdão e tranquilidade.

(...) cheguei triste naquela condição, mas aí comparei o que eu passei e hoje
como estou bem melhor. Não sei quanto tempo vou levar para talvez não
pensar tanto no bebê, deixar Deus trabalhar. Mas eu estou muito feliz de
voltar para casa, de olhar para a minha filha. (...)Estou bem melhor do que
antes, graças a Deus. (...) Agora eu vou me programar para voltar ao mercado
de trabalho, fazer alguma atividade física, porque eu pensava em mil coisas
“vou fazer atividade física, vou mandar currículo”. (E2)

Hoje eu estou bem, eu me sinto super bem. Fiz uma viagem agora com meu
marido e minha filha, já estava planejada e eu me sinto bem, me sinto
feliz...(E23)

Então, eu estou me sentindo melhor(...)então eu acho que agora eu já voltei


a fazer as atividades físicas, então já estou me sentindo melhor. (E15)

Até a hora que eu cheguei aqui eu estava bem. Porque eu consegui me apoiar
bastante na religião e nos meus pais. Muito, muito mesmo. E a gente é uma
religião que acredita em vida após a morte, em carma, e enquanto eu estava
grávida antes do COVID, a gente foi até um local sagrado, a gente comeu a
comida que foi oferecida a Deus. Então isso me ajudou a entender que talvez
fosse a hora dessa alma, dessa entidade. Era só esse tempo que ele
precisava passar aqui. Dói. Mas está tudo bem. (E13)

Para algumas mulheres a perda trouxe alívio, já que não se sentia vinculada
àquela gestação ou, ainda, o momento não era percebido como ideal para ser
mãe. Por outro lado, o processo da perda pode ser tão intenso e demorado quando
não aceito, gerando muita apreensão, principalmente quando não se finaliza e o
sentimento vivido demora a passar e o luto se prolonga.

Sofrimento também né. Pela perda do bebê em si.. Também, eu sofri um


pouquinho porque, (...) acho que não tinha nem um mês na época, não
chegava nem a um mês. então a gente não criou aquele vínculo ainda né.
quando a gente tá de 2 meses … uma semana descobri que tava grávida, já
tinha um filho. A gente ia aceitar tranquilamente, mas logo em seguida eu
perdi. Então não criou aquele vínculo que a gente cria quando tá grávida né.
Acho que se eu tivesse com 2 meses eu ia sofrer bem mais… ai já começa a
43

criar um vínculo né. (...) Não vou falar que tô sofrendo, porque acabei de ter
um bebê recente né. (E29)

Eu nunca estive grávida, mas eu acho que minha gravidez ia ser um pouco
desconfortável. Porque eu estava sentindo muitas dores desde o início,
estava me sentindo muito inchada, não conseguia fazer quase nada do que
eu faço no dia a dia. Muita coisa que eu faço no dia eu não estava
conseguindo fazer. (...)Eu estava reclamando de dores nas costas, dores nas
pernas, sem vontade de fazer algumas coisas desde o início. (E15)
44

6 DISCUSSÃO

O desejo de ter um filho e maternar é uma realidade para muitas mulheres, e a


gestação é a maneira mais comum e almejada para satisfazer tal expectativa. O
planejamento acerca do momento ideal para a chegada desse bebê nem sempre
corresponde à realidade e a DESCOBERTA DA GESTAÇÃO surpreende,
despertando sentimentos positivos ou negativos na dependência da situação de vida
socioeconômica e/ou conjugal dessa mulher.
A gestação é uma fase de intensas mudanças e adaptações biopsicossociais,
perdas simbólicas e reajustes das relações intra e interpessoais, sendo considerada
um período de crise na vida de qualquer mulher. Sentimentos ambíguos e
contraditórios frente à DESCOBERTA DA GESTAÇÃO, independente de seu
planejamento, são uma realidade, e as expectativas da mulher em relação à criança
que vai chegar e à demanda por reorganização dos papéis sociais exercidos para
conciliar a maternidade geram ansiedade, medo e insegurança. 23,50
O investimento libidinal no bebê imaginário, que não corresponde ao feto real,
se intensifica nas primeiras semanas de gravidez e as idealizações maternas em
relação ao futuro do e com o filho são comuns e ligadas à satisfação imaginária dos
desejos e fantasias de sua própria infância.9,51
Para muitas mulheres, em especial àquelas que nunca abortaram, a gravidez
é um processo natural e previsível que se renova a cada dia com a constatação de
uma vida que desabrocha no corpo até seu curso final: o nascimento. O abortamento
marca o imprevisível, a impotência e a ausência de garantias nesta jornada. O que
era esperado se desespera, o ciclo da vida se inverte: morre-se antes de nascer.52
A PERDA de um bebê, independentemente da idade gestacional, é um evento
de vida complexo e traumático, podendo impactar negativamente na saúde mental
dessa mulher. Ainda que o abortamento não seja traumático para todas, estudos
revelam que, em maior ou menor grau, o sofrimento psíquico está presente e, quando
não acolhido, pode favorecer o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na VIDA
APÓS A PERDA.23,26,53
O impacto emocional do abortamento na saúde mental materna vem sendo
estudado e os resultados mostram que essa experiência torna as mulheres mais
vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos ansiosos, depressivos e de estresse
45

pós-traumático, merecendo especial atenção àquela com história de abortos de


repetição, antecedente psiquiátrico, sem rede de apoio e sem prole
constituída.1,10,17,18,54,55,56
Quanto maior a expectativa em relação ao desejo de um filho, maior é o
sentimento de perda e fracasso experimentado quando ocorre o abortamento. Ser
capaz de engravidar parece garantir a fertilidade dessa mulher, mas não conseguir
levá-la a termo desperta medo e preocupação acerca de sua capacidade reprodutiva.
Nas sociedades em que a identidade feminina está fortemente ligada à procriação, a
falência gestacional promove sentimentos de inferioridade, culpa e
vergonha.12,15,30,57,58
Nos casos em que a PERDA ocorre nas primeiras semanas de gestação,
quando o abdômen gravídico é praticamente imperceptível, o luto materno não é
reconhecido ou validado socialmente, e o APOIO tão necessário para que a mulher
sinta-se acolhida e cuidada, favorecendo um espaço para elaboração simbólica desta
experiência, está ausente.
Ao buscar ajuda profissional para entender o que está acontecendo com a
gestação, as mulheres têm consciência de que precisam de avaliação clínica e
realização de exames para definição de um diagnóstico, no entanto,
inconscientemente, o que desejam é uma resposta imediata, rápida e objetiva, de que
o bebê está vivo e a salvo. Esse descompasso entre a demanda pelo cuidado e o
desejo de não precisar dele se faz presente nos relatos de tortura e padecimento
durante o processo de Confirmação da perda.
Durante o processo diagnóstico a discussão do caso e seus achados é uma
prática comum nas instituições de saúde mas, por vezes, alguns profissionais não se
atentam para o efeito negativo do raciocínio clínico realizado na frente da gestante. A
falta de cuidado nesse sentido, expõe a mulher que se sente ignorada, desrespeitada
e assustada frente ao desconhecimento dos termos técnicos escutados, como visto
em alguns relatos.55,59
Outro aspecto a ser considerado é o sentimento de impotência dos médicos no
abortamento do primeiro trimestre e a dificuldade de falar que não existe tratamento
para evitar esse processo. Nesse sentido, alguns médicos acabam por orientar
tratamentos ineficazes e sem comprovação científica como o repouso, o que é ruim
porque quando a gestante não consegue repousar sente-se culpada pela perda.
Experiências como as citadas acima, podem adicionar estressores a uma
46

experiência por si só traumática. Nesse cenário, as mulheres experimentaram a falta


de APOIO daqueles que supostamente deveriam considerar os aspectos emocionais
envolvidos no abortamento e acabam se sentindo sozinhas e não ouvidas enquanto
vivenciam momentos de confusão e medo.24,26,59,60
A constatação do óbito fetal e a necessidade de comunicar a má notícia para a
mulher e sua família não é uma tarefa fácil para os profissionais de saúde que, assim
como as gestantes, almejam encontrar nos exames obstétricos um embrião/feto vivo.
Ser o profissional responsável por dar a má notícia é um ônus. Treinados para a vida,
os médicos não são treinados para entender a morte como uma possibilidade e, dessa
perspectiva, poder abordá-la com naturalidade.
Existem inúmeros protocolos de comunicação de más notícias, que deveriam
ser apresentados e, sistematicamente, trabalhados com os médicos. O
estranhamento e os mecanismos de enfrentamento acionados quando do
recebimento da notícia da falência gestacional, somados à dificuldade dos
profissionais de saúde em dar a notícia, podem resultar em interpretações maternas
distorcidas e despertar sentimentos de raiva, descuido e desrespeito. Assim,
profissionais de saúde sensíveis e bem treinados para uma boa comunicação evitam
mal-entendidos, ajudam as mulheres a entender e processar as informações
essenciais e evitam sentimentos de isolamento como os relatados pelas
investigadas.44,57,60,61
A qualidade do cuidado no abortamento é consideravelmente melhor quando o
profissional valida a perda a inclui a gestante na tomada de decisões acerca do
manejo do abortamento.59
No local do estudo, existe um protocolo que orienta os médicos a oferecer à
mulher, sempre que viável, a escolha da Resolução do abortamento. Informações
acerca de cada um dos métodos, do preparo necessário e ou do desconforto que ela
pode experimentar em cada um deles e os cuidados a serem prestados pela equipe,
desde o início do processo, é fundamental.1,55,59
A maneira como essa decide lidar com o processo é singular e movida por
expectativas prévias. Quando não compreende as opções, por dificuldade própria ou
dos profissionais em esclarecer os manejos, podem encontrar dificuldade em decidir
de forma segura e experimentar sentimentos de imposição, mesmo que este não
tenha acontecido de fato.
Para algumas gestantes a opção pelo manejo cirúrgico parece estar baseada
47

na percepção da conduta expectante como angustiante, pois envolve esperar que a


natureza promova o desfecho do qual não se sabe ainda o resultado, uma vez que a
finalização pode se dar através da curetagem. Desta forma, ficam impotentes diante
da espera de algo desconhecido. Para outras mulheres, a preferência por uma
resolução natural pode advir do medo das intervenções cirúrgicas, assim a espera
pode trazer mais segurança.
A chegada em casa após o aborto é um momento difícil. O vazio deixado pela
partida do bebê é denunciado em cada canto da casa. A necessidade de falar sobre
o aborto é inerente ao processo de integração do luto e o APOIO familiar necessário
para que a VIDA APÓS A PERDA não seja marcada pelo isolamento e a solidão.
Quando as estratégias de enfrentamento falham e as mulheres não possuem
fatores de proteção e recursos emocionais para lidar com a perda, sentimentos de
desespero e desamparo se instalam. Mulheres que receberam a intervenção de luto
relataram níveis 50% mais baixos de desespero em comparação com aquelas que
não a obtiveram. O oferecimento de terapia de luto para todas mulheres que passam
por uma perda gestacional precoce pode ser benéfico na redução de luto prolongado,
da ansiedade e ou da depressão.59
Observa-se que a falta de apoio e de profissionais qualificados para lidar com
a perda torna pior o processo do luto e, desta forma, a mulher não encontra alguém
de referência para falar sobre suas dúvidas e angústias frente ao abortamento.55
O apoio psicossocial neste cenário é de suma importância para prevenir riscos
de morbidade psicológica, já que o índice de mulheres que passaram por sintomas
psiquiátricos são elevados chegando à metade, sendo aumentado com a ocorrência
de novas perdas.62
Grupos de apoio têm surgido possibilitando um espaço de escuta a essas
mulheres, o que tem ajudado a encontrar um sentimento de pertencimento, porém
cuidados primários, junto à equipe de saúde, podem fazer um diferencial neste
cuidado.
Falar sobre suas experiências na perda pode ser uma forma de encontrar apoio
para seu sofrimento e um meio de tornar ela mais reconhecida socialmente,
minimizando seu sentimento de solidão e incompreensão. Algo desafiador, mas
imperativo para aumentar a conscientização sobre o abortamento espontâneo, seria
levar o tema à comunidade em geral e às unidades de saúde.54
Diante do estudo apresentado, pretende-se que haja maior compreensão do
48

processo, de forma ampla, e um olhar para os pontos destacados a fim de possibilitar


uma reflexão do que pode ser feito para garantir recursos necessários para que
serviços nessa área sejam melhores aplicados.
Pesquisas contendo uma amostra maior, relacionadas a métodos de
intervenção na assistência, podem ser um norteador para a busca de melhoria na
saúde mental dessas mulheres, que sofreram a perda precoce da gravidez.
49

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As perdas fazem parte da nossa vida e uma delas se refere a perda gestacional
a qual algumas mulheres vivenciarão. Percebe-se que, nesses casos, os sentimentos
experimentados contêm certa similaridade em todo o mundo, mas ao mesmo tempo
são vividas de forma singular pela mulher, por perpassar as fantasias do que significou
aquela experiência para ela. Então o que significa para aquelas mulheres estarem
grávidas e o que se perde com a inviabilidade de uma gravidez?
O abortamento é clinicamente de fácil resolução e, talvez por isso, fica no
esquecimento para quem não o viveu. Há uma diferença entre a expulsão fisiológica
de um produto de gravidez com o que é uma vivência da mulher que acabou de
“expulsar” algo representativo para ela, porque o que importa ali não é o produto, mas
o que ele representa, podendo ser o desejo interrompido da maternidade ou ter
significados variados de acordo com o que a perda desperta em si e no seu entorno.
Para algumas mulheres essa perda pode ser sentida como alívio manifesto pelo
não desejo de um filho, mas observa-se que para muitas as marcas e feridas deixadas,
talvez nunca cicatrize, podendo ficar guardadas por muito tempo, não encontrando
um lugar de escuta e validação.
A recusa em falar da perda sofrida, em muitos casos, pode ser decorrente da
falta de um lugar de escuta e validação do que é sentido ou ser considerado por esta
como uma situação já resolvida clinicamente a qual nada mais precisa ser dito. Porém
esse silenciamento acaba favorecendo um adoecimento psíquico quando o luto não é
elaborado.
Percebe-se que há, em algumas mulheres, falta de recursos internos que
dificultam sua elaboração e por encontrar-se em um momento de fragilidade e
vulnerabilidade ela necessita que o profissional esteja ali, preparado para ajudá-la
oferecendo o suporte necessário nessa situação por mais desafiador que possa ser,
devendo buscar recursos, caso não os tenha, para oferecer esse atendimento
cuidadoso e respeitoso que a mulher espera e necessita.
Embora se tenha protocolos de más notícias e os profissionais sejam treinados
para prestar os cuidados necessários, ainda se vê com certa frequência a insatisfação
das mulheres nesse cenário. O desamparo sentido no processo de abortamento se
refere ao tamanho da perda sofrida pela mulher por gerar uma ruptura abrupta que a
50

desorganiza, mas também diz respeito à falta de reconhecimento e cuidado do


profissional quando não compreende o que se perdeu, não reconhecendo sua dor.
Assim, se questiona o que pode ser feito para que se tenha menos prejuízos na
saúde mental das mulheres no que se refere ao cuidado médico uma vez que a
realidade encontrada nos ambientes de saúde ainda se mostra como sendo de
descuido e desvalorização, estando presente nos relatos das entrevistadas como
sendo insatisfatórios.
O que se precisa é entender o que se passa com o profissional que mesmo tendo
o conhecimento técnico e de cuidado humano não sejam atingidos internamente pelo
que o abortamento espontâneo precoce pode suscitar nessas mulheres, não
conseguindo agir de forma mais empática e cuidadosa nesse contexto.
Os sentimentos despertados na perda demandam apoio não só familiar, mas
profissional para elaboração e integração do luto que são necessários para a
promoção da saúde mental materna e, consequentemente, proteção da vida após a
perda.
51

8 REFERÊNCIAS

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57

Anexos

Anexo 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A Sra. está sendo convidada a participar, como voluntária, do projeto de


pesquisa intitulado “LUTO E DEPRESSÃO EM PACIENTES COM ABORTAMENTO
ESPONTÂNEO PRECOCE CONFORME O MANEJO PARA TRATAMENTO”.
As informações abaixo estão sendo fornecidas para esclarecê-la sobre sua
possível participação voluntária neste estudo, que tem como objetivo avaliar a
repercussão do aborto espontâneo precoce na vida das mulheres, de acordo com o
tratamento. Os resultados de várias pacientes na mesma situação serão examinados
em conjunto, mesmo não tendo benefícios diretos na participação, indiretamente você
estará contribuindo para nos ajudar a descobrir o quanto fazer ou não curetagem
uterina para tratamento do abortamento repercute na saúde psicológica das mulheres.
A Sra. foi convidada a participar por estar em acompanhamento no Ambulatório
de Gestação Inicial e participando da pesquisa da psicóloga Cecília Helena de
Magalhães Andrade. O processo ocorrerá no AGI, em uma sala isolada. Durará cerca
de 30-50 minutos e será realizada pela graduanda de medicina.
O estudo apresenta riscos mínimos para sua saúde física, entretanto, se
ocorrer qualquer problema ou dano pessoal ou sentir algum desconforto em relação
aos questionários ou achar que não está apta a responder por motivos emocionais,
poderemos interromper o processo e solicitar atendimento psicológico, sendo-lhe
garantido o direito de tratamento imediato e gratuito na instituição, sem nenhum
prejuízo para seu atendimento médico no Hospital São Paulo.
Sua participação não é obrigatória. A qualquer momento, a Sra. poderá desistir
do estudo e retirar seu consentimento. A recusa, desistência ou retirada de
consentimento não acarretará prejuízo e a Sra. poderá continuar seu tratamento no
ambulatório sem nenhum problema.
A Sra. não receberá nenhuma remuneração pelo estudo e não terá nenhuma
despesa, incluindo os custos referentes a exames e consultas, a participação neste
estudo será feita no dia de consulta, não acarretando custos para a senhora.
Todos os dados coletados serão examinados em conjunto, para nos ajudar a
descobrir como o método de escolha para manejo do aborto afeta a qualidade de vida
das mulheres e a saúde psicológica e seu nome não será identificado.
58

A Sra. tem a garantia de que todos os dados obtidos a seu respeito, só serão
utilizados neste estudo, no qual serão analisadas em conjunto com as de outros
voluntários, não sendo divulgada a sua identificação ou de outros pacientes em
nenhum momento.
A qualquer momento, se for de seu interesse, a Sra. poderá ter acesso a todas
as suas informações obtidas neste estudo, ou a respeito dos resultados gerais. Em
qualquer etapa, a Sra. terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para
esclarecimento de dúvidas. A principal investigadora é a Dra. Sue Yazaki Sun que
pode ser encontrada no endereço: Rua Napoleão de Barros, 715 – oitavo andar ou
pelo telefone 5576-4522 ramal 4105. Se você tiver alguma consideração ou dúvida
sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) –Rua Botucatu, 740, 5º andar – sala 557 – Vila Clementino, São Paulo/SP –
CEP: 04023-900 E- mail: cep@unifesp.edu.br. Telefones: (11) 5571-1062; (11) 5539-
7162. Quando o estudo for finalizado, a Sra. será informada sobre os principais
resultados e conclusões obtidas no estudo.
Caso você concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste
documento, que possui duas vias, sendo uma delas sua, e a outra nossa.
Eu discuti com a Psicóloga Cecília e a estudante de medicina Júlia Izepe
Ferreira, sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim
quais são os propósitos, os procedimentos a serem realizados, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento
qualificado quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo
e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o
mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa
ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

__________________________________ ________________________________
Nome do participante da pesquisa Assinatura
59

“Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária, o Consentimentos Livre


e Esclarecido deste paciente (ou representante legal) para a participação neste
estudo. Declaro ainda que me comprometo a cumpri todos os termos aqui descritos.”

Data: ____/____/____

__________________________________ _______________________________
Nome do pesquisador principal Assinatura
60

Anexo 2 - Ficha de identificação

1-Nome completo
2-RH HSP
3-Idade
4-Cor
5-Parceiro estável: ( )SIM ( )NÃO
6-Profissão
7-Telefone
8-E-mail
9. Escolaridade: Analfabeta (1); I grau incompleto (2); I grau completo (3); II grau
incompleto (4); II grau completo (5); III grau incompleto (6); III grau completo (7); Pós-
Graduação incompleto (8); Pós-Graduação completo (9)

CARACTERÍSTICAS OBSTÉTRICAS
10-Número de gestações incluindo a atual: __________
11-Número de abortos anteriores: _______
Dados da gestação atual:
12-Sangramento: ( )Não ( )Quantos dias de sangramento:__________
13-Classificação da ultrassonografia (completar com o número correspondente):
1-Gravidez anembrionada (desenvolvimento do trofoblasto sem
desenvolvimento do embrião)
2-morte embrionária (embrião >5mm, até 8 semanas, sem atividade cardíaca
na ultrassonografia – concepto nunca apresentou atividade cardíaca)
3-morte do concepto (houve documentação de atividade cardíaca do concepto
em exame anterior, mas no exame atual observou-se parada da atividade
cardíaca)
4-imagem de restos ovulares
14-Manejo do abortamento (completar com o número correspondente):
1-tratamento expectante evoluindo com abortamento espontâneo completo
2-tratamento cirúrgico imediato (D&C ou AMIU)
3-tratamento cirúrgico tardio (até 15 dias do diagnóstico, decorrente da não
eliminação espontânea da gravidez)
61

15- A senhora considera que os médicos explicaram os prós e contras de cada


método, para tratamento do seu aborto? ( )SIM ( )NÃO
Se SIM na questão 20, a senhora ficou com alguma dúvida que não conseguiu
tirar, sobre o tratamento do seu aborto? ( )SIM ( )NÃO
16-Você escolheu o método que desejava: ( )SIM ( )NÃO
Se NÃO na questão 21,
17 - Você se sentiu segura com o método escolhido? ( )SIM ( )NÃO
18 – Durante a internação você ficou no quarto:
1. sozinha
2. com uma gestante
3. com mulheres que tinham tido bebê
4. com mulheres com abortamento

19 – Está em tratamento psicológico/psiquiátrico atualmente:


( ) SIM ; ( ) NÃO
62

Anexo 3 - Pergunta central

Conte-me como foi para você vivenciar um aborto.

Perguntas complementares:

Como se sentiu com a descoberta da gravidez?


Como recebeu a notícia do abortamento?
Como se sentiu durante o processo (notícia, procedimento)?
Você recebeu apoio durante esse período dos profissionais e familiares?
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO PAULO - UNIFESP

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DA EMENDA

Título da Pesquisa: LUTO E DEPRESSÃO EM PACIENTES COM ABORTAMENTO ESPONTÂNEO


PRECOCE CONFORME O MANEJO PARA TRATAMENTO
Pesquisador: Sue Yazaki Sun
Área Temática:
Versão: 3
CAAE: 27784819.9.0000.5505
Instituição Proponente: Escola Paulista de Medicina
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 5.168.027

Apresentação do Projeto:
Projeto CEP/UNIFESP: 0045/2020
Trata-se de emenda (E1) ao projeto: inclusão do objetivo acadêmico (mestrado de CECILIA HELENA
MAGALHÃES DE ANDRADE) e atualização do cronograma

As informações elencadas nos campos “Apresentação do Projeto”, “Objetivo da Pesquisa” e “Avaliação dos
Riscos e Benefícios” foram retiradas do arquivo Informações Básicas da Pesquisa
(PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_1863285_E1.pdf, de 23/11/2021).

BREVE APRESENTAÇÃO DO PROJETO:


O abortamento espontâneo é a principal causa de emergências obstétricas. A abordagem da perda
gestacional pode ser feita cirurgicamente ou de maneira expectante, uma vez que ambas são amplamente
aceitas na literatura e mostraram complicações físicas semelhantes. Porém, por ser um procedimento
relativamente seguro, raramente colocando a vida da paciente em risco, a condição psicológica da mulher é
muitas vezes negligenciada: o abortamento pode influenciar significativamente a saúde mental da mulher,
gerando repercussões emocionais relacionadas ao luto e à depressão. Da mesma forma, não há evidências
de que estas repercussões estejam relacionadas a determinado método de manejo do abortamento
(cirúrgico ou expectante).
Este estudo será do tipo transversal e prospectivo, com abordagem qualitativa, por meio de

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entrevista a ser aplicada em pacientes após abortamento precoce. As pacientes serão recrutadas no
ambulatório de gestação inicial (AGI) do Departamento de Obstetrícia, para o qual são encaminhadas todas
as gestantes atendidas no pronto socorro do Hospital São Paulo, com ameaça de abortamento. A amostra
estimada será de aproximadamente 30 a 35 pacientes.
A coleta dos dados ocorrerá entre 30 e 37 dias após a resolução do abortamento. Com isso, espera-se
conhecer a relação do sentimento de luto e a ocorrência de depressão nestas pacientes, associando os
resultados encontrados com os possíveis manejos. A partir daí, pretende-se encontrar elementos que
auxiliem a assistência do abortamento precoce com vistas a minimizar as repercussões psicológicas. O
presente estudo, é parte de um mestrado em andamento no Departamento de Obstetrícia da UNIFESP, da
psicóloga CECíLIA HELENA MAGALHÃES DE ANDRADE que pretende analisar quantitativamente o luto,
depressão e qualidade de vida presentes em mulheres com abortamento de primeiro trimestre e comparar
suas prevalências conforme o tipo de manejo, aprovado sob número CAAE 158.08418.5.0000.5505.

Objetivo da Pesquisa:
Objetivo Primário:
O estudo apresenta como objetivo avaliar a repercussão do abortamento espontâneo precoce na vida das
pacientes. Neste projeto, serão considerados os aspectos relacionados ao enfrentamento do luto e aos
sintomas de depressão.

Objetivo Secundário:
Além disso, teremos como objetivo analisar se o tipo de manejo do abortamento influencia na repercussão
psicológica. Serão considerados os seguintes manejos: tratamento cirúrgico com curetagem uterina e
tratamento expectante com abortamento completo sem curetagem.Nossa meta é, diante do conhecimento e
experiências vividas e adquiridas com a realização desse trabalho, oferecer para as pacientes com
abortamento precoce uma conduta que implique em riscos reduzidos para sua saúde mental, diminuindo as
sequelas emocionais do pós-abortamento.
Tal conduta poderá, ainda, incluir a possibilidade de atendimento psicológico posterior para as pacientes
que apresentarem esta demanda, a fim de elaborarem e ministrarem seu sofrimento e luto.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:


sem alteração em decorrência da emenda
Mantidos em relação ao projeto original.

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Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:


Trata-se de emenda (E1) ao projeto.
Justificativa para a emenda:
Solicita-se a adição de objetivo acadêmico, mestrado de CECILIA HELENA MAGALHÃES DE ANDRADE,
ao projeto de pesquisa acima especificado, inicialmente Projeto de Iniciação Científica da aluna JULIA
IZEPPE FERREIRA. Caso nossa solicitação seja aceita, a partir dela, iniciaremos a elaboração da tese de
mestrado, com previsão de defesa em março/2022.
CECILIA HELENA MAGALHÃES DE ANDRADE iniciou pesquisa, em setembro/2019, após aprovação do
seu projeto pelo CEP UNIFESP sob número CAAE 15808419.5.0000.5505, intitulado: Luto, depressão e
qualidade de vida em pacientes com abortamento espontâneo precoce conforme manejo para tratamento.
Neste estudo transversal prospectivo estão sendo aplicados questionários de luto, depressão e qualidade de
vida e a amostra estimada é de aproximadamente 310 participantes. No entanto, devido à pandemia por
COVID-19, decretada pela OMS em 18/03/2020, houve diminuição do atendimento de pacientes no
ambulatório, impossibilitando a coleta de dados de 310 participantes, em tempo hábil para término da
pesquisa dentro do prazo de 24 meses, previsto para as teses de mestrado.
JULIA IZEPPE FERREIRA, juntamente com CECÍLIA HELENA MAGALHÃES, realizaram 30 entrevistas de
mulheres após abortamento, de fevereiro a maio de 2020, pois o PIBIC de JULIA IZZEPPE (LUTO E
DEPRESSÃO EM PACIENTES COM ABORTAMENTO ESPONTÂNEO PRECOCE CONFORME O
MANEJO PARA TRATAMENTO CAAE: 27784819.9.0000.5505), foi parte do mestrado em andamento de
CECíLIA HELENA MAGALHÃES DE ANDRADE. Os questionários da pesquisa de mestrado foram
aplicados às mesmas pacientes que foram, em seguida, entrevistadas (projeto de PIBIC).
A pesquisa inicial de mestrado de CECÍLIA permanece em execução e seus resultados serão publicados em
forma de artigo científico.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:


Documentos apresentados para a emenda:
1- Carta justificativa de emenda (CARTA_MUDANCA_OBJETIVO_ACADEMICO.doc)
2- Cronograma (cronogramaV2_23_11_2021.docx)

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:


Emenda aprovada.
Considerações Finais a critério do CEP:

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Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:


Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação
Informações Básicas PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_186328 23/11/2021 Aceito
do Projeto 5_E1.pdf 12:25:40
Cronograma cronogramaV2_23_11_2021.docx 23/11/2021 Sue Yazaki Sun Aceito
12:17:08
Recurso Anexado CARTA_MUDANCA_OBJETIVO_ACAD 23/11/2021 Sue Yazaki Sun Aceito
pelo Pesquisador EMICO.doc 12:02:56
Outros carta_resposta_310120_Julia.pdf 01/02/2020 Sue Yazaki Sun Aceito
17:00:39
Outros aprovacao_CEP_Cecilia.pdf 01/02/2020 Sue Yazaki Sun Aceito
16:59:04
Declaração de carta_anuencia_Cecilia.pdf 01/02/2020 Sue Yazaki Sun Aceito
concordância 16:57:59
Projeto Detalhado / Projeto_ic_091219_1212_26_12_19_31 01/02/2020 Sue Yazaki Sun Aceito
Brochura 01202.docx 16:57:06
Investigador
Outros TERMO_DE_CONFIDENCIALIDADE_E 27/12/2019 Sue Yazaki Sun Aceito
_SIGILO.pdf 20:06:14
Outros COEP.pdf 27/12/2019 Sue Yazaki Sun Aceito
20:04:29
Outros CEP.pdf 27/12/2019 Sue Yazaki Sun Aceito
20:04:04
Declaração de DECLARACAOcoep271219.pdf 27/12/2019 Sue Yazaki Sun Aceito
Pesquisadores 20:03:20
TCLE / Termos de TCLE_26_12_19.docx 27/12/2019 Sue Yazaki Sun Aceito
Assentimento / 19:59:59
Justificativa de
Ausência
Cronograma CronogramaJuliaIzepe.docx 07/12/2019 JULIA IZEPE Aceito
12:45:46 FERREIRA
Folha de Rosto folhaderosto.pdf 03/12/2019 JULIA IZEPE Aceito
20:17:34 FERREIRA

Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não

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SAO PAULO, 15 de Dezembro de 2021

Assinado por:
Ediléia Bagatin
(Coordenador(a))

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